Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Comunicação Curso de Jornalismo Trabalho de Conclusão de Curso Análise Crítica do Filme Cinquenta Tons de Cinza: Uma discussão em torno da Sexualidade das Mulheres Autor(a): Jéssica Correia Xavier Orientador(a): Profa Dra. Isabel Clavelin Brasília - DF 2016 JÉSSICA CORREIA XAVIER ANÁLISE CRÍTICA DO FILME CINQUENTA TONS DE CINZA: UMA DISCUSSÃO EM TORNO DA SEXUALIDADE DAS MULHERES Artigo apresentado ao curso de graduação em Jornalismo da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo a Orientador(a): Prof . Dra. Isabel Clavelin Brasília – DF 2016 Aos meus pais, que são coautores da minha trajetória universitária. A eles, que enquanto trilhava meu caminho com letras, trilhavam juntamente, a minha retaguarda, com o suor de seus esforços. Jacineide e Nielton, é por vocês. AGRADECIMENTO Aos mestres da Universidade Católica de Brasília que repassam seu conhecimento, em especial à profa. Dra. Isabel Clavelin que prontamente aceitou me orientar. E ao meu Deus, que me capacitou. ANÁLISE CRÍTICA DO FILME CINQUENTA TONS DE CINZA: UMA DISCUSSÃO EM TORNO DA SEXUALIDADE DAS MULHERES Jéssica Correia Xavier1 a. Prof Dra. Isabel Clavelin2 Resumo Este artigo trata da sexualidade das mulheres e a sua representação para a comunicação de massa. Apresenta a relação feminina com a sexualidade e a indústria do sexo sob a perspectiva de mulheres jovens e universitárias em relação ao filme Cinquenta Tons de Cinza. Aborda o uso da categoria gênero, enfatizando as mulheres como consumidoras de produtos midiáticos e, como figuras protagonistas da sensualidade, avaliação delas por meio de estudo de recepção. Palavras-chave: Mulheres, Sexualidade, Mídia, Cinquenta Tons de Cinza Abstract This article deals with the sexuality of women and their representation for mass communication. Presents the relationship of women with sexuality and sex industry from the perspective of young women and university students in relation to the movie Fifty Shades of Gray. Discusses the use of the gender category, emphasizing women as consumers of media products and, as figures protagonists of sensuality, assessment of them through study of reception. 1 Graduanda do curso de Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília - 2016. Email: [email protected] 2 Orientadora da disciplina Projeto Experimental em Jornalismo II do curso de graduação em Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília Keywords: Women, Sexuality, Media, Fifty Shades of Gray. Introdução Em 13 de fevereiro de 2015, foi lançado mundialmente o longa metragem, Cinquenta tons de Cinza, cujo enredo exalta a objetificação das mulheres como objeto de prazer masculino. Com roteiro adaptado de um romance erótico bestseller e livro homônimo da autora inglesa Erika Leonard James publicado em 2011, o filme retrata trajetória de uma jovem estudante universitária, Anastasia Steele, que, se envolve afetivamente com um jovem empresário milionário Christian Grey após conhecê-lo através de uma entrevista profissional. Na trama, os dois desenvolvem um relacionamento com indícios sádicos ofertado pelo personagem masculino de maneira que apenas a personagem feminina seja alvo dos métodos que proporciona prazer ao seu parceiro. O longa tornou-se um sucesso de bilheteria em sua estreia, arrecadando cerca de 570 milhões de dólares e tornando-se a décima maior bilheteria de 2015. A sexualidade das mulheres é um tema tabu. Na mídia, em geral é abordado de maneira machista ignorando uma autonomia sexual que mais é julgada do que discutida. É rotineira a publicação de matérias, dicas, temas de capas de revistas e até “receitas” que indiquem às mulheres as mais diversas formas de satisfazer seu parceiro, deixando uma interrogação em até que ponto lhe é imposto que esta seja sua obrigação sociológica, abordando a sexualidade feminina como uma dependência que se sujeita ao outro. Diante desse contexto, veremos e analisaremos tais questionamentos a partir da ótica feminina, através de questionário respondido por um grupo focal composto por mulheres universitárias jovens, e da abordagem de autores que discutiram a sexualidade da mulher na literatura como Michel Foucault e as questões envoltas do gênero, como Teresa de Lauretis. A Sexualidade da mulher abordada na história A liberdade sexual das mulheres é uma das frentes de lutas dos movimentos feministas e de mulheres, voltados à sua emancipação. Ao reivindicar o controle de seus corpos e da sexualidade as mulheres definiram os direitos sexuais e direitos reprodutivos como elementos centrais na sua afirmação como sujeitas de direitos. Muitos estudos, em diversos campos de conhecimento têm abordado a autonomia sexual das mulheres. Em busca da ruptura com o machismo inclusive na produção acadêmica, as mulheres forjaram campos como as teorias feministas e estudos de gênero, com vistas a ampliar a produção intelectual acerca das questões de gênero e enfrentar a subordinação e a redução das mulheres como objeto de estudo. Uma das produções intelectuais importantes acerca dos direitos sexuais das mulheres é, no século XX, a castidade e submissão das mulheres e do homem, na obra do filósofo francês Michel Foucault, sendo História da Sexualidade construída culturalmente por meio das relações díspares de poder. O segundo volume da História da Sexualidade, na sua afirmação Foucault (1984) revela uma reflexão questionadora em torno de uma limitação sexual da mulher, em que ele define como uma “estética da existência” que delimita a atividade e os prazeres sexuais a problematização que foram impostas através desse critério. Foucault (1984) responsabiliza os dogmas religiosos, mais precisamente os cristãos, por colocar o prazer na linha comparativa entre a morte e o mal, uma austeridade sexual que gera uma reflexão moral envolvendo uma limitação no uso do corpo da mulher no âmbito sexual aprisionando-as a obrigações que lhes remetem ao homem, atribuindo a eles o poder e o controle sobre as mulheres inclusive sobre os seus corpos e sexualidade. Conforme Foucault (1984) essas questões são forjadas na determinação das relações humanas. Trata-se de uma moral de homens: uma moral pensada, escrita, ensinada por homens e endereçadas a homens, evidentemente livres. Consequentemente, moral viril onde as mulheres só aparecem a título de objetos ou no máximo como parceiras às quais convém formar, educar e vigiar, quando as tem sob seu poder, e das quais, ao contrário, é preciso abster-se quando estão sob o poder de um outro (pai, marido, tutor). (FOUCAULT, 1984. p. 24.) Segundo Foucault (1984), a reflexão moral não é igualitária e não abrange os dois polos, masculino e feminino, e sim converte-se em uma elaboração da conduta masculina feita pelos homens e para os homens. Vemos, então, que criou-se uma regra de conduta conduzida por uma conduta masculina, religiosa e moralista que conduz tal regra à matéria da prática moral, que com grande capacidade influência de relações afetivas à organização política, economicamente social e cultural. O que anteriormente foi definido como austeridade sexual aponta que esta prática é resultado de um controle da conduta, agregado a aprendizagens, memorizações e assimilações a um conjunto de preceitos que direcionam um entendimento teórico e prático, julgador que com bagagem temporal que se arrasta desde antes de Cristo até os tempos atuais. Os gregos, diante de sua crença nos atos da deusa Afrodite, justificaram a função passiva das mulheres no ato da conjunção sexual, denominando-as, “através do papel que a natureza lhes atribuiu, parceiro-objeto”. (ARISTOTELES, Histoire des animaux, IX, 5, 637 a; VII, 1, 581 b.). Conforme Aristóteles, na juventude as mulheres eram submetidas ao que os gregos chamam de aphrodisiasthenai (PSEUDO-ARISTOTE, Sur la stérilité, V, 636 b.) que é a imposição através da violência ao ser objeto (mulheres) do prazer do outro (homens). Desse modo, mulheres deveriam deixar-se penetrar por outro homem em nível conjugal. Platão também registra sua ótica sobre a função progenitora das mulheres no contexto sexual. Se a natureza fez de sorte que os homens e as mulheres fossem atraídos uns pelos outros, foi para que a procriação fosse possível e, a sobrevivência da espécie, assegurada. (PLATON, Lois, 1, 636 c.). O Gênero tecnológico No livro “A Tecnologia de Gênero”, Teresa de Lauretis (1987) faz crítica ao conceito “tecnologia foucaultiana” (1987) e desenvolve a “tecnologia de gênero” elevando-o de debaixo para cima as relações de forma equivalente, tornando por base a produção midiática contemporânea. A diferença sexual é antes demais nada a diferença entre a mulher e o homem, o feminino e o masculino; e mesmo os conceitos mais abstratos de “diferenças sexuais” derivados não da biologia ou da socialização, mas da significação e de efeitos discursivos [...] acabam sendo em última análise uma diferença (da mulher) em relação ao homem – ou seja, a própria diferença no homem. (LAURETIS, 1987, p.207) O gênero é visto como uma representação em produtos da tecnologia social, entre eles o cinema. Segundo Teresa, (1987) Foucault via a sexualidade como uma “tecnologia sexual” evidenciando sua auto apresentação em discursos, epistemologias e práticas críticas institucionalizadas cotidianamente. A Jornalista também pesquisadora sobre sexualidade e gênero Carolina Maia (TERRA, 2016) explica que o gênero trata-se de um conceito cultural e histórico, que é comumente associado a condutas sociais relacionadas ao feminino ou masculino. Já a orientação sexual é o que traz mais variantes compostas por termos como hetero, homossexual, bissexual ou transgênero nos quais, segundo a psicanalista Elizabeth Zambrano (TERRA 2016), gênero, orientação sexual e sexo são componentes da determinação de uma identidade sexual. No qual, abordaremos a sexualidade difundida no universo feminino. Na indústria cultural, estereótipos de gênero são hegemônicos de produções e discursos cujo efeitos são devastadores pela amplificação de tais conteúdos na sociedade, repletos de doutrinações aos comportamentos sexuais A tecnologia sexual criada pela burguesia no século XVIII traça, entre a sexualização das crianças e do corpo feminino, o controle da procriação e a psiquiatrização do comportamento sexual anômalo como perversão, a representação do corpo feminino como locus primário da sexualidade e do prazer visual (LAURETIS, 2016). Esses são alguns dos principais elementos explorados no campo audiovisual conectando as mulheres e a sexualidade como dois polos indissociáveis. Esta questão é ponto de partida das críticas de movimentos feministas e de mulheres mundo afora. No âmbito cinematográfico, em que cada receptor é interpelado pela peça audiovisual, relaciona-se gênero e espectador de maneira que haja uma identificação na estrutura do filme. Contudo, há uma receptividade, talvez gerada pela bagagem cultural que nos foi imposta historicamente, da sexualidade da mulher de maneira majoritariamente definida em relação submissa à masculina. Lauretis (1987) nos alerta que o cinema é construído dentro de uma perspectiva histórica, veiculando discursos e práticas específicas que possuem determinada finalidade social. É comum o sexo e suas fantasias como um terreno prioritariamente masculino (GERUZA, 2015) longe de ter o equivalente para mulheres. Mesmo, inviabilizando o território feminino sendo essa uma bandeira defendida fervorosamente pelas mulheres, prevalecem conteúdos machistas vendidos e amplamente consumidos pela sociedade. Cinquenta Tons de Cinza O filme “50 tons de cinza já ultrapassa US$ 1,5 bilhão em bilheteria global”. Este é o título de uma matéria publicada em um dos portais de notícias sobre economia mais acessados no Brasil, a Exame.com, referindo-se à verba arrecadada um mês após a data de sua estreia, 14 de fevereiro de 2015, dados segundo a Universal, produtora responsável pelo longa. Diante de um fenômeno de público em todo o mundo, atingiu o feito de ser o filme com classificação “R” (16 anos) como o mais visto no mundo. Com orçamento de US$ 40 milhões, ultrapassou com folga em bilheteria os demais filmes que disputavam espaço em cartaz nos cinemas, como “Bob Esponja – Um Herói Fora D’Água” (US$ 237,3 milhões), As aventuras de Paddington (US$ 230 milhões) E “Kingsman – Serviço Secreto“ (US$ 212 milhões), liderando as bilheterias dos cinemas em 2015. No Brasil, os alcances da obra também são alarmantes atraindo um público de cerca de 5,2 milhões de pessoas. Entretanto, Cinquenta tons de Cinza não é um feito apenas cinematográfico. Adaptado de uma trilogia erótica da autora E. L. James, sua obra vendeu cerca de 100 milhões de exemplares muito antes da obra audiovisual ser lançada. O enredo da obra de E. L. James gira em torno do envolvimento, tido como um vício gerado por um abuso sexual sofrido quando criança, do personagem Christian Grey com o sadomasoquismo, no qual submete mulheres em que se relaciona sexualmente, por meio de contrato assinado, a somente através de atos sexuais com cunho de violência sexual, fazendo uso de objetos que estimulam a dor, mantendo total domínio sobre a parceira, no qual ele se refere como “submissa“, em que rende-se espontaneamente ao relacionamento persuasivo. Anastasia Steele é uma jovem, ingênua e virgem, estudante de literatura que ao prestar um favor à sua amiga estudante de jornalismo, com quem divide um apartamento, entrevista o jovem bilionário Christian Grey. Anastasia percebe nele um homem atraente e intimidador que lhe faz despertar o desejo por um romance. Atraído pela beleza e timidez de Anastasia, Grey resolve propor a Ana uma relação segundo suas peculiaridades que facilmente choca a personagem feminina, entretanto, sua atração pelo jovem milionário a leva a aceitar as curiosas experiências sexuais que seu amado lhe propõe. Christian Grey sofrera abusos sexuais com indícios sadomasoquistas em sua infância e adolescência por parte de uma mulher mais velha identificada, no primeiro filme da trilogia, apenas como “uma amiga de sua mãe”. Esses traumas do passado lhe geraram a necessidade de obter o domínio em suas mãos resultando na pratica dos mesmos atos, que outrora era coagido, com toda mulher que quiser e aceitar seus moldes de relacionamento. No entanto, ao longo do conhecimento das práticas sexuais, Anastasia que receosamente aceita o acordo, vê-se assustada e incomodada com os atos violentos, persuasivos e controladores praticados por Christian Grey levando-a a desistir de levar a frente a relação amorosa. Blogs especializados em críticas cinematográficas ressaltam que há uma hiper exposição do corpo da personagem feminina, interpretada no cinema pela atriz Dakota Johnson, e a ausência da nudez do corpo masculino, representado pelo ator Jamie Dornan. “Há, sim, nudez [...] muito mais dela, do que dele, há de se observar o conservadorismo” ressalta o blog Adoro Cinema em sua crítica em referência ao longa. O público feminino chegou a lamentar a ausência de nudez frontal do ator, em contraponto a exploração de diversos ângulos do corpo descoberto da atriz, ressaltando uma necessidade de ter o corpo feminino como vertente de atração à audiência, buscando uma identificação do público feminino com o enredo. Entretanto, houve um público que recebeu bem o enredo da trama e recebeu bem a essência ao fetiche é transmitida inflando as buscas por acessórios eróticos: As vendas das bolas de prazer, utilizadas por Steele em seus jogos sexuais com Grey, dispararam mais de 500%, assim como as algemas e os chicotes” complementa o trecho da matéria publicada no portal do G13 ressalvando no título o “boom“ causado pela produção audiovisual nos brinquedos sexuais. Fetiche Fetiche, do francês Fétiche derivada do português feitiço, é uma palavra cujo conotação refere-se a “objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de qualidades mágicas ou eróticas” (WIKIPÉDIA, 2016). Na derivação da palavra há sua melhor definição, pessoas que possuem fetiche enfeitiçados por atos ou objetos que os excitam. O termo “fetiche” iniciou-se através dos portugueses, no qual referiam-se aos objetos usados em cultos religiosos entre os negros advindos da África Ocidental, popularizando-se na Europa, sendo Charles de Brosses, um francês, o responsável pelo feito em 1757, em que logo começou a ser empregado por sexologistas. O dicionário Aurélio (1985) refere-se ao fetichismo como desvio do interesse sexual para algumas partes do corpo do parceiro, para alguma função fisiológica ou para peças de vestuário, adorno, entre outros (FERREIRA, 1985). Já o dicionário de Psicologia Dorsch (2001) relaciona o termo a psicologia antropológica que designa fé em poder misterioso, supra-sensível e demoníaco de objetos 3 Portal de notícias do grupo Globo de comunicação inanimados. Suas definições se voltam para o oculto, desejos primitivos e assimetrias sexuais. Eventualmente tal palavra não é empregada em programas midiáticos de redes abertas, nacionais ou internacionais, tornando o contexto que engloba o fetiche uma conotação tabu em rodas de discussão e debates transmitidos para receptores da comunicação de massa, entretanto, em revistas que pautam matérias com cunho sexual voltado ao público feminino, não há extinção da expressão. Vejamos algumas chamadas de matérias publicadas nas principais revistas, impressas e digitais, de entretenimento em circulação no país: “Novas fantasias sexuais e fetiches para você realizar em 2014” revista Nova Cosmopolitan4 (2014), “Bondage Meditativo: nova versão do fetiche sexual é indicada para relaxar e aprofundar a relação do casal” revista Marie Claire 5 (2016), “Ex-mórmon vira dominatrix e cria aula fitness de fetiche“ revista Glamour6 (2015). O fetichismo gera ibope devido ao alto consumo do conteúdo por meio do público feminino, orientandoas a usá-lo em favor a relação cabendo-a o papel de “apimentar a relação”. O fetiche gera uma busca pelo alcance do prazer utilizando o corpo do outro e objetos, entre ações e manias que circulam neste universo, o sadomasoquismo é a mais conhecida forma de prazer entre os praticantes do fetichismo. Sadismo somado ao masoquismo, ou seja, alguém buscando prazer através da sensação de imposição sobre o sofrimento físico e moral unindo-se noutro alguém que enxerga prazer no ato da submissão às violências físicas e morais. O sujeito que aceita praticar o ato não necessariamente é considerado um sadomasoquista ou que tenha tendências à prática do fetiche, contudo, é alguém que submete-se a ter contato com o ato sexual. No filme Cinquenta tons de Cinza, o exemplo desta submissão é representado pela personagem feminina Anastasia no qual sequer ostentava uma vida sexualmente ativa denominando-se virgem, antes de conhecer o sedutor Christian Grey, mas que ao ser seduzida e apresentada ao mundo do fetichismo, aceita espontaneamente, ser conduzida por sentimentos de paixão e curiosidade, submetendo-se ao dominador através das práticas sexuais violentas, que após algumas relações fazendo uso de objetos como braçadeiras, chicotes e cintos, lhe 4 Revista feminina publicada no Brasil pela Editora Abril, desde 1973, com tiragem mensal de 400 mil exemplares 5 Revista feminina, desde 1937, publicada mundialmente. No Brasil sua publicação é por meio digital 6 Revista feminina, em circulação no Brasil desde 2012 pela Editora Globo causam um choque cultural e afetam seu psicológico levando-a desistir de executar o sexo praticando o masoquismo. Sexualidade feminina primitiva A submissão das mulheres em diversos papéis que há na sociedade, entre eles o sexual, tem sua relevância histórica. No século V Santo Agostinho defendia uma visão que partia dos princípios judaico-cristã no qual pregava a subordinação e dependência das mulheres para com os homens. Há versões que vão além do que a Bíblia relata sobre a origem da humanidade. Segundo a crença judaica, Deus criou uma companheira para Adão antes da já conhecida entre os cristãos católicos, Eva. A partir do sangue e da saliva de Adão, Deus concedera vida a Lilith, um ser feminino que emanava desejos próprios contestando o sexo com Adão em que lhe impunha ficar por cima nos atos sexuais. Conforme mitologias rabínicas e apócrifas, Lilith rejeita submeter-se ao primogênito de Deus, refugiando-se no deserto encontrando saciedade aos seus desejos sexuais em demônios. Somente após as atitudes desertoras de Lilith, Deus resolve criar Eva, a partir da costela de Adão. Dessa vez, ganhava evidência a figura de mulher submissa e obediente ao seu marido, entretanto, também se inclina a tentações maligna por meio da metáfora da serpente destruindo o relacionamento de Eva e seu marido com Deus. Gerava, assim, o rompimento da moralidade divina da submissão das mulheres o que desencadeou as consequências de sua ruína à humanidade (SICUTERI, 1987), pois “Como a mulher é mais propensa aos prazeres terrenos, por seu caráter cínico e insaciável, torna-se o alvo perfeito das investidas malignas” (LEITE JUNIOR, 2006, p. 157). Portanto, percebe-se nas literaturas históricas e culturais como são construídos os comportamentos adequados e inaceitáveis de mulheres ao longo da história da humanidade. São elementos que fundamenta perversão e perversidade sexual, numa mistura descabida entre liberdade e desejos sexuais incontroláveis e com luxúria (pecado capital). Maneira esta que, inclusive explorada na pornografia, na maioria de seus conteúdos, em que a representação da mulher ativa é de saciar, em geral, as vontades masculinas. Pornografia assistida por mulheres O desejo pela prática do fetiche também rende espectadores. O universo midiático alimenta a gigantesca indústria pornográfica, que não por acaso fatura mais que a gigantesca cinematográfica Hollywood 7 . Isso é aferido na intensa propagação de conteúdo na internet visto que 30% de todo o tráfego é baseado na visualização de conteúdos pornográficos (MARTINO, 2016). Segundo dados das Pink Cross Foundation 8 (2013), nove entre dez dos jovens do sexo masculino e aproximadamente um terço das jovens do sexo feminino consomem pornografia e que o sexo apresentado em filmes pornográficos normalmente está focado no prazer sexual masculino e em seu orgasmo, ao invés de estar igualmente com o das mulheres. Apenas 9,9% das cenas mais vendidas possuem algum tipo de comportamento como beijo, riso, acariciamento ou elogio. A transmissão do sexo por meio de produtos da mídia surgiu com objetivos voltados para o público masculino, no século XIX, nos cinematógrafos localizados em grandes centros urbanos. A peça apresentada aos apreciadores eram imagens de dançarinas com vestimentas provocantes e no século XX iniciou a cultura da produção de filmes com conteúdo erótico denominado stag movies, ou “filmes para homens”. Suas apresentações eram voltadas limitadamente a grupos de homens (ABREU, 1996). Efetivamente, percebemos que houve uma modernização neste público. Ainda que tais dados estampem um lado da pornografia que está explicitamente apresentada aos que a consomem, há entre os consumidores deste conteúdo mulheres, que até então são as personagens mais afetadas pela agressividade cultural deste produto. No Brasil, a população feminina está no topo do ranking mundial, empatado com as Filipinas, como as que mais veem pornografia, segundo uma pesquisa realizada pelos dois maiores sites de pornografia da internet, Pornhub e Redtube. Essa mesma pesquisa contabilizou "o que as mulheres querem" quando buscam por conteúdo erótico, e o resultado foi: cenas lésbicas, sexo a três e squirt (ejaculação feminina), tal levantamento detecta que o interesse neste consumo por meio das mulheres está voltado para a espetacularização do prazer feminino. Pablo Dobner9 afirma que: 7 Onde se concentra as maiores empresas do ramo cinematográfico exerce grande influência na cultura global 8 Organização de caridade pública, dedicada a conceder auxílio emocional e financeiro aos trabalhadores da indústria pornográfica, mantida por Shelley Lubben ex-atriz pornô estadunidense. Disponível em: <http://consciencial.blogspot.com.br/2015/07/pornografia-e-ainda-mais-negativa-do.html>. Acesso em: 02 nov. 2016. 9 Diretor executivo e cofundador do Erika Lust Films, uma empresa baseada em Barcelona que produz conteúdo adulto sob uma perspectiva feminina As mulheres estão buscando mais prazer feminino e reivindicando que o homem não é o único que tem de desfrutar do sexo e que elas também querem sua parte do sexo recreativo, que esteve proibido para elas por tanto tempo. (BBC BRASIL, 2015). Muraro (1992) argumenta que a exposição, o desejo e a saciedade acerca da estrutura feminina, concluindo que o corpo de uma mulher liga todas as mulheres: “Na última instância, que os nossos corpos são a máquina que faz o sistema funcionar, e nossa sexualidade, o seu combustível. E a família, a sua fábrica” (MURARO, 1992). Visto como um recurso usado na busca da satisfação sexual, esta ferramenta é compartilhada entre espectadores masculinos e femininos alcançando graus semelhantes de identificação, consumo, envolvimento etc. Em uma indústria em que as mulheres sustentam a imagem de figura principal das produções, passa a deixar de lado apenas o papel performático, submisso a roteiros e cachês e começa a influenciar a produção de conteúdo, executar e comandar ativamente o mundo business erótico. A Vivid Entertainment 10 concedeu, em matéria a revista VEJA, a seguinte informação que evidencia a ascensão das mulheres ao consumo erótico: Em quase três décadas, a participação do público feminino nas vendas praticamente dobrou, atingindo o número de consumidoras em até 40% do faturamento” (VEJA, 2011) e foi essa adaptação que gerou a criação de uma nova categoria da pornografia: a pornografia feminina. Em crescimento nos últimos dez anos, o erotismo alterna seus polos entre soft-porn e hardcore, algo entre um conteúdo mais naturalista, sensibilizado e embelezado, porém, mantendo a estética extrema do pornô tradicional. Afinal, já destacava Lipovetsky (1983), que a pornografia é a antissedução, ou seja, mulheres tem buscado uma alternativa as produções sexualmente romantizadas que sustentam o padrão do relacionamento moral e da idealização do enamorar. A revista Marie Claire (2016) desenvolveu um projeto intitulado The Porn Project envolvendo cerca de 3 mil mulheres e suas relações com a pornografia. O levantamento concluiu que uma em cada três mulheres vê pornografia sozinha, pelo menos uma vez por semana. Entrevistadas confessaram assistir ao conteúdo para satisfazerem seus desejos sexuais, e em último caso, o buscam para agradar ao 10 Um dos principais estúdios da indústria de conteúdo adulto americana parceiro (a). Outro dado é que 38% das mulheres consultam sites sexuais regularmente. Entre as mulheres que não se satisfizeram em ficar debaixo do “guardachuva” da cultura pornô e resolveu comandá-la, está a diretora Erika Lust, diretora de filmes que se encaixam na categoria pornô feminista. “Pornografia é uma parte enorme da cultura em que vivemos. As mulheres não podem simplesmente ignorar a pornografia, nós temos que participar e discutir esse gênero” (LUST, 2015) atesta Erika, formada em Ciências Políticas pela Universidade Lund na Suécia. Ela aborda em seus roteiros a mulher constantemente como a protagonista da história idealizando a sua busca pelo prazer. Afirmando, assim, sua ótica a respeito deste produto da indústria cultural correlacionado com posição política e reiterando “fazer filmes pornô acompanhado por um discurso político" demonstrando seu diferencial na indústria maioritariamente masculina (LUGAR DE MULHER, 2015). A inclusão de mulheres em papéis ativamente decisórios na execução do conteúdo pornográfico agregou olhares e entretenimento antes voltados somente aos homens, e constata que há o desejo feminino pela sexualidade. Isso envolve uma busca entre exercer e dominar a sexualidade a partir da perspectiva das mulheres independente de rótulos e tabus que a sociedade atual sustenta devido sua herança política e sociohistórica, e que há uma insatisfação da representação erótica produzida por homens para o consumo de todos os gêneros. Metodologia de pesquisa A proposta inicial para a execução da pesquisa de campo era desenvolver estudo de recepção sobre o filme Cinquenta Tons de Cinza sob análise de um grupo focal por meio de sessão fílmica, executada em uma sala, da UCB, com a presença de cinco a dez mulheres de 18 a 29 anos, estudantes ou formadas em cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Católica de Brasília. Após assistirem ao longo, as participantes responderiam ao questionário, elaborado pela autora da pesquisa, com doze questões de múltipla escolha correspondente a questões pessoais e sexuais. Outras oito questões conduziriam uma discussão a respeito do conteúdo do roteiro e a visão que as mulheres têm acerca da sexualidade feminina, sendo respondidas através de debate, e então, extraídos o material para análise. Entretanto, o projeto inicial não obteve êxito devido ao acúmulo de trabalhos acadêmicos das convidadas. Apenas duas pessoas compareceram no local e horário marcado. Diante disso, o questionário online tornou-se alternativa. Criado por meio da ferramenta Google Docs 11 . O link para acesso ao questionário foi divulgado no grupo “Comunicação UCB”, na rede social Facebook12, composto por estudantes e docentes. Logo, oito mulheres com o perfil da pesquisa acessaram e responderam o questionário nos dias 11 e 12 de novembro de 2016, resultando no dados recolhidos e analisados. Resultados da pesquisa O levantamento contabilizou os seguintes dados pessoais, respondidos por opções de múltipla escolha, resultados no dados recolhidos através da participação de oito mulheres jovens de maneira espontânea. (Ver apêndice) A pesquisa foi respondida por mulheres jovens: cinco mulheres com idade entre 18 e 21 anos, duas entre 22 e 2513 anos e apenas uma entre 26 e 29 anos. Todas universitárias possuindo uma graduação, havendo uma jovem com mais de uma graduação. Informações essas, referentes à faixa etária e nível de escolaridade, semelhantes ao momento em que a personagem Anastásia se encontrava quando conheceu e começou a se relacionar com Christian Grey, fases que se iniciam etapas da vida sexual das mulheres. O grupo racial prevalente alcançado pela pesquisa são cinco mulheres brancas, duas pardas e uma negra, conforme se identificaram. Todas correspondem a opção heterossexual. A maioria das participantes não possuíam relacionamento conjugal com cinco declarando-se solteira, duas em um relacionamento estável e uma mulher casada. A respeito da religião que seguem, três mulheres afirmaram ser seguidoras de religiões que doutrinam a preservação do corpo da mulher, a autoridade de homens sobre mulheres e a submissão de sua sexualidade. Um dado importante referente aos ideais de sexualidade. Estes são dados relevantes em que poderemos verificar a relação vida sexual e a influência das religiões, a recepção da trama e questões pertinentes aos direitos sexuais pela visão das mulheres. 11 Pacote de aplicativos do Google 12 Rede social que possui cerca de 1 bi de usuários em todo o mundo 13 Salvo erro de digitação na opção b desta questão que, erroneamente, limita a opção de idade entre 22 e 15 anos. Em contato com as participantes a fim de alertar sobre o erro, somente percebido após conclusão da pesquisa, a informação passada é que foi possível compreender a intenção de definição da faixa etária entre 22 e 24 anos já que a questão seguinte define entre 25 e 29. Portanto, a confusão de números não afeta os dados finais. Apenas uma das oito mulheres não havia iniciado a vida sexual, portanto, houve um domínio dos conhecimentos sexuais nas respostas pela maioria das mulheres. Foi possível perceber o elo de imposições religiosas sobre as atividades sexuais. Duas das três jovens que afirmaram praticar as religiões que seguem linhas de pensamento cristão detalharam não fazer uso de objetos e produtos eróticos e não terem ou praticarem fantasias sexuais. Enquanto todas as mulheres que disseram não seguir nenhuma religião, afirmaram ter e praticar fantasias sexuais, portanto. Metade das jovens cultivam um diálogo aberto com suas amigas sobre relações sexuais, já a outra parte se reserva em relação ao assunto. A partir dessa informação vemos ressaltado o fato da sexualidade das mulheres ser um tema tabu na sociedade atual em que não há liberdade de discussão, uma vez que, há mulheres que não se sintam confortáveis em abordar o tema em seus círculos de amizade. A personagem Anastasia Steele não se sentia à vontade em compartilhar as aventuras sexuais, que passara a viver com Grey, com sua colega em que dividia um apartamento, uma mulher jovem de idade e valores similares a Anastasia. Essa escolha de não comentar sua rotina sexual com ninguém também está relacionado com os atos sádicos no qual a personagem se submetia. A diferença percentual tornou-se maior quando interpeladas se o filme lhes despertou interesses no âmbito sadomasoquista, resultando em seis mulheres afirmando que não e apenas duas que sim. Entretanto, quando questionadas se enxergavam o sadomasoquismo como uma forma de violência contra a mulher metade delas julgaram não ser, afirmando que caso consentido pela mulher é apenas uma expressão sexual. A outra metade alegou ser devido aos machucados e expressões de dor sentidos pela Anastasia. Neste ponto identificamos o contato das mulheres com o produtos sexuais produzidos pela mídia. A liberdade nos atos sexuais as torna livres para usufruir atos julgados pela cultura religiosa e cultural como inapropriados. Assim como Anastasia, parte das mulheres jovens e universitárias, quatro aceitam submeter-se ao sadismo, conivente ao homem, devido o prazer sexual. Anastasia, aceitou submeter-se as práticas que lhe retribuiam o prazer, contudo, em uma das cenas finais em que Christian lhe mostra, à pedido da personagem, o seu mais cruel castigo, Ana sente repulsa e rompe a relação que vivia com Grey. Finalizando a sessão de questões compostas por múltiplas escolhas, indagadas se o filme mudou a percepção que a entrevistada possui a respeito da sexualidade da mulher, a maioria, quatro delas respondeu que sim contra uma parte quantitativa de três mulheres que responderam que não (uma não definiu sua resposta). Essas noções questiona a relação de identificação das mulheres com a personagem feminina Anastasia. Ao se tornar o filme mais visto em salas de cinema com conteúdo erótico explícito (VEJA, 2015) foi gerada uma popularidade em volta da imagem da mulher que se submete a desejos sexuais extremos estando envolvida em uma trama romantizada. Anastasia representa uma mulher jovem que ao se envolver com o universo sexual, submetendo-se ao sadismo, mantém suas características de mulher romântica e sonhadora. Entretanto, nenhuma das respondentes se identificou com algum personagem da trama e todas elas renderam atributos que julgam a submissão de Anastasia (ver apêndice – figura 2). Afinal, as mulheres jovens universitárias do século XXI tem propagado o feminismo (ÉPOCA, 2014) que tem como uma de suas bandeiras de luta a autoridade das mulheres e a igualdade de gênero em todas as áreas. Diante das questões discursivas, de números 13 a 20, proporcionando às entrevistadas a exposição de suas opiniões de maneira escrita, os dados mostraram-se o alcance de similaridades em respostas e, em algumas questões, unanimidade de opiniões. Sete das oitos mulheres que participaram da pesquisa, reconhecem no personagem Christian Grey problemas psicológicos que sobressaem seus atributos físicos. Algumas o definiram como “emocionalmente instável, possessivo, dominador e psicopata”. Já sobre a personagem feminina principal da trama, Anastasia Steele, “ingênua”, “submissa” e “insegura” foram as definições que sete das oito participantes lhe agregaram. A submissão de Anastasia é desenvolvida devido a paixão que Grey lhe desperta, com seu perfil altamente dominador, porém a personagem ao ser rejeitada pelo milionário, no início da trama afirmando não ser o "o cara para ela" devidos seus gostos peculiares e ela se denominar uma mulher romântica, Anastasia questiona o fato de Grey estar a todo momento lhe ditando o que fazer e isso também a incomoda em algumas cláusulas do contrato em que ele a impõe que se submeta. Seguindo a concordância, seis de oito mulheres interpretam que o roteiro do filme Cinquenta tons de Cinza deixa a desejar, se comparado com outros romances cinematográficos, e “interessante“ é o ponto máximo de definição que a trama alcança, com alguns clichês, a trama mantém a interpretação do mocinho protagonista que se interessa por uma mulher que não se enxerga um símbolo sexual e se mantém fora dos padrões de beleza impostos pela sociedade, exemplo este que pode ser assistido no filme adaptado da saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Todas as componentes da pesquisa afirmaram não terem se identificado com ambos os personagens do enredo fictício, obtendo o mesmo número de mulheres que não se veem representadas pela imagem que a mídia expõe da mulher. Uma alta taxa de mulheres, 7 das 8 entrevistadas especificamente, relatam enxergarem a sexualidade da mulher, abordada pelos meios de comunicação de massa, de maneira “preconceituosa” e tendenciosa, e que “sempre privilegiam ao homem”. Curiosamente, cinco de oito mulheres não reconhecem a prática do sadomasoquismo como uma forma de violência contra a mulher, contudo, sete das oito universitárias afirmaram nunca terem sofrido alguma forma de violência sexual. (Ver apêndice – figura 8). Considerações finais É compreensível a evolução do espaço alcançado pelas mulheres no mercado, na política e nos mais diversos planos de ação, e diante disso, com o comportamento sexual também. A atuação feminina na sexualidade e a sua imagem têm sido subordinada a objetificação dominadas pelo machismo. A sexualidade das mulheres é explorada pejorativamente nas produções visuais. É perceptível a representação discriminatória fundamentando uma violência midiática vinculada à banalização generalizada do gênero no universo sexual. Ficou evidente a participação da mulher de maneira opcional e espontânea, desde os primórdios, entretanto seus atos sexuais são executados sem que uma autonomia lhe seja concedida através de igualdade, contrariamente, discriminação e julgamentos permeiam esse âmbito que naturalmente é compartilhado, mas que sobrevém de uma carga religiosa cristã e moral. O trabalho de campo ficou comprometido, tendo em vista a escassez de tempo para a realização da pesquisa qualitativa, a qual teria alcançado melhores elementos se realizada na modalidade presencial por meio de debate entre as participantes da pesquisa. Sem dúvida, teria avançado mais do que as respostas registradas num questionário online. Por meio da pesquisa de campo foi possível verificar que as mulheres jovens e universitárias consomem os produtos que a indústria midiática produz, entretanto, não se deixam influenciar pelas representações atuais de gêneros. As mulheres respondentes do questionário revelaram buscar liberdade em apreciar uma peça erótica, praticar atos sexuais conforme a sua vontade e necessidade e exercer sua religião sem que haja um pré-julgamento da sociedade modulando suas atitudes. Algumas mulheres consomem erotismo e possuem desejos eróticos, submetem-se ao sadismo, mas também possuem desejos masoquistas, ou seja, querem ter a liberdade de exercer quaisquer atos nas relações sexuais que lhes proporcione prazer. A conclusão deste estudo é a de que houve evolução das mulheres no exercício da sua sexualidade, entretanto, ainda há muito caminho a ser percorrido pela indústria midiática, a fim de melhor mostrar a realidade feminina com o seu corpo, escolhas, autonomias, desejos sexuais e visão de gênero. O machismo prevalece nos produtos que são oferecidos à sociedade, a qual tem se caracterizado como receptora dos produtos midiáticos com pouco questionamento. Ainda que boa parte da população feminina não se sinta influenciada pelas direções que a mídia impõe, essa boa parte também não se percebe representada no Cinquenta Tons de Cinza, que se propõe a ser uma obra erótica, nem no filme mundialmente transmitido ou no livro sucesso de vendas. Diferentes mecanismos têm influenciado a submissão das mulheres seja pelas imposições religiosas e ou pela alienação da sua condição de subalternidade. Entretanto, não há muitas variações na forma como é abordada a representação das mulheres, tendo em visto a prevalência de conteúdos midiáticos com estereótipos machistas. A representação midiática das mulheres, em suma maioria, está atrelada ao universo sexual, e ainda que seja assim, não como a consumidora, mas como a consumida por meio da sexualização de seus corpos e desejos. Referências ABREU, Nuno César, O Olhar Pornô, Campinas, Mercado das Letras, 1996. AGOSTINHO, Santo, Confissões, São Paulo, Abril Cultural, 1973. 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Figura 3 – Classificação do roteiro do tema. Fonte: autora. Fonte: autora. Figura 4 – Identificação com personagens. Fonte: autora. Figura 5 – Sexualidade da mulher abordada pela mídia. Fonte: autora. Figura 6 – Sadomasoquismo e violência contra a mulher. Fonte: autora. Figura 7 – Representação da imagem da mulher. Fonte: autora. Figura 8 – Violência sexual. Fonte: autora.