Enfrentamento da Crise da Gripe H1N1 pela Secretaria

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ENFRENTAMENTO DA CRISE DA GRIPE H1N1 PELA SECRETARIA MUNICIPAL DA
SAÚDE DE CURITIBA EM 2009
1
Elaine Grácia de Quadros Nascimento. Enfermeira CCAA, SMS/Curitiba-PR. e-
mail: [email protected] ; [email protected],
Rua Reverendo Paulo Hecke, 455 A, telefone (41)9971-2413 / 3350-9324
2
Neucimary Amaral, Enfermeira, Secretaria Municipal da Saúde SMS/
Curitiba/PR, e-mail:[email protected]; [email protected];
Rua Professor Alberto Piekarz, 297, Alm. Tamandaré, telefone (41) 996625-00 /
3221-8300.
CURITIBA
2010
RESUMO
O controle das infecções nos serviços de saúde envolve toda uma a equipe, e
considera o perfil e peculiaridade dos pacientes, e que tem fundamental importância na
prevenção e controle dessa entidade nosológica. As vias de contaminação existentes nos
ambientes de serviços de saúde podem disseminar doenças infecto-contagiosas. A ausência ou
ineficácia de medidas preventivas e de controle de infecção potencializa os riscos de
contaminação, inerentes às atividades dos profissionais de saúde. Esta contaminação pode
ocorrer através do: ambiente, ar, água e superfícies, sempre tendo como veículo o profissional
de saúde, materiais e instrumentais. A Influenza H1N1, principalmente por causa do
desconhecimento da doença e frente a constantes alterações nas condutas e protocolos do
manejo da doença possibilitou, em determinados momentos do pico da transmissão, polêmica
entre os profissionais de saúde, onde ocorreu certa dificuldade para que todos tivessem a
mesma conduta no enfrentamento da doença. Por se tratar de um evento inusitado, a
Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba criou uma comissão para discussão e avaliação das
ações necessárias. Para atingir o objetivo de diminuir a incidência da doença H1N1 houve
uma abordagem do problema de maneira clara e precisa voltada para a ação dos profissionais
de saúde aliada ao conhecimento que incluem a segurança e a melhoria da qualidade da
assistência ao paciente.
Palavras chave: Epidemiologia. Influenza. Biossegurança. Saúde.
1. INTRODUÇÃO
A epidemiologia aplica-se ao estudo de todas as condições que afetam ou se
relacionam com a situação de saúde de uma população, incluindo-se aí, entre outras: a
ocorrência de doenças de um modo geral (morbidade, mortalidade, incapacidade); o estudo de
relações causais; a distribuição, qualidade e adequação dos serviços de saúde; o nível
administrativo, a supervisão, a avaliação e a vigilância do processo saúde-doença; pesquisas
clínicas; testes terapêuticos e outros.
Para Almeida & Royquayrol (2002, p. 23):
a Epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a
distribuição populacional e os fatores determinantes do risco de doenças, agravos à saúde e
eventos associados à saúde, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou
erradicação de enfermidades, danos ou problemas de saúde e de proteção, promoção e
recuperação da saúde individual e coletiva, produzindo informação e conhecimento para
apoiar a tomada de decisão no planejamento, na administração e na avaliação de sistemas,
programas serviços e ações de saúde.
O método epidemiológico é uma ferramenta de grande utilidade para sanitaristas,
pesquisadores, médicos clínicos, enfermeiros, odontólogos e todas as demais categorias que
trabalham na área da saúde.
Autores como Mac Mahon (1975); Leavel, Clark (1976); Forantini, (1976); Rojas
(1978) e Roquayrol etal.(1988) entre outros, definem epidemiologia de modo bastante
semelhante, tendo como ponto comum o estudo da distribuição das doenças nas coletividades
humanas e dos fatores causais responsáveis por esta distribuição.
Este conceito toma por base as relações existentes entre os fatores do ambiente, do
agente e do hospedeiro ou susceptível. Este conceito engloba desde as características
demográficas pessoais – idade, sexo, cor até comportamentos e hábitos, como o fumar, por
exemplo. O econômico e o social são partes tão importantes quanto os demais elementos
ambientais na gênese das doenças que incidem sobre coletividades humanas.
Outros autores como Laurell (1976); Auroca (1976); Breihl (1980); Ruffino Neto,
Pereira (1986), avançam, no dizer de Rouquayrol (1988), em direção a uma nova
epidemiologia cuja visão dialética se posiciona contra a fatalidade do “natural” e do
“tropical”. Nessa nova epidemiologia, também chamada de epidemiologia social, o enfoque
dado é uma linha de crítica permanente ao capitalismo por considerá-lo patógeno e, portanto
oposto por natureza à prática de uma epidemiologia eficaz em benefício da comunidade.
A epidemiologia social permite ir além do problema de saúde específico, para
considerar a sociedade como fonte de explicação para os problemas e portanto remeter as
soluções para a própria sociedade (LAURELL, 1976).
A epidemiologia é uma só, apesar de que didaticamente, se possa considerar uma
postura clássica e outra social. As duas completam-se, uma analisando o macro universo das
relações saúde-doença, e outra dissecando os micros elementos dessas mesmas relações.
Ambas têm contribuído de modo substancial no esclarecimento dos determinantes do binômio
saúde-doença (LAURELL, 1976).
Pela epidemiologia representar, o instrumento principal para a saúde pública na
indicação das medidas de prevenção e de controle a serem adotadas dentro dos recursos
disponíveis e dos objetivos a serem atingidos, é proposta deste trabalho destacar a importância
de sua atuação ao enfrentamento e impacto de uma pandemia como a Influenza H1N1.
A complexa relação entre microorganismos e os seres humanos, apesar das inúmeras
pesquisas desenvolvidas nessa área, limita nossa ousadia quando se trata da avaliação de
resultados.
A articulação entre a epidemiologia e o planejamento de saúde é um dos temas que
mais tem mobilizado a atenção de pesquisadores, docentes e profissionais dos serviços, no
contexto recente da Reforma Sanitária Brasileira. Isto tem ocorrido tanto a partir de um ponto
de vista estritamente teórico, quanto a partir de demandas e necessidades geradas pelo
processo de implementação de estratégias para a construção de um novo sistema de saúde no
país.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. INFLUENZA H1N1
A transmissibilidade do vírus influencia na velocidade de disseminação, tanto dentro
dos países como internacionalmente. Isso também pode interferir na gravidade, porque a
disseminação rápida pode dificultar a resposta das autoridades de saúde.
O impacto maior ocorreu em certas faixas etárias - maior morbidade e mortalidade em
jovens e com maiores prejuízos sociais e econômicos do que a influenza sazonal que acomete
mais freqüentemente as crianças e os idosos. A vulnerabilidade da população ocorreu
principalmente em pessoas com doenças crônicas e que apresentaria uma maior probabilidade
de desenvolver infecção grave e evoluir a óbito.
A doença Influenza H1N1, foco da nossa pesquisa, consiste em uma gripe causada
pelo novo vírus Influenza A/H1N1 (inicialmente chamada de gripe Suína), o vírus é da
Família Orthomyxoviridae (vírus RNA), constituído por 8 segmentos genéticos, três tipos
antigênicos (A, B, C) e com capacidade de rearranjo antigênico. O vírus foi identificado
primeiramente nos EUA e México em amostras de seres humanos.
É uma doença transmitida de pessoa a pessoa através de secreções respiratórias,
principalmente por meio da tosse ou espirro de pessoas infectadas. A transmissão pode
ocorrer quando houver contato próximo, principalmente em locais fechados, com alguém que
apresente sintomas de gripe (febre, tosse, coriza nasal, espirros, dores musculares). O
principal sintoma de alerta é a febre acima de 38 graus.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), adotou como denominação oficial,
Influenza A (H1N1) em substituição a denominação anterior de influenza suína.
Essa doença, em determinados momentos do pico da transmissão, criou muita
polêmica entre os profissionais de saúde, onde ocorreu certa dificuldade para que todos
tivessem a mesma conduta, principalmente por causa do desconhecimento da doença.
Para o enfrentamento da pandemia, houveram vários momentos de discussão e
capacitação de todos os profissionais de saúde da rede básica e especializada, envolvendo
diversos setores da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), como Vigilância Epidemiológica,
Vigilância Sanitária, Coordenação de Recursos Materiais, Serviço de Urgência e Emergência
de Curitiba, e outros.
3. METODOLOGIA
Foi realizado um questionário aplicado para os profissionais de saúde, auxiliar de
consultório dentário, odontólogo, técnico de higiene dental, enfermeiros, médicos, auxiliares
de
enfermagem,
fisioterapeutas,
psicólogos,
farmacêuticos,
nutricionistas,
auxiliar
administrativo, auxiliar de serviços gerais, das Unidades Municipais de Saúde do DS Boa
Vista (UMS Medianeira, UMS Atuba e UMS Santa Cândida), com o intuito de analisar a
ocorrência e compreensão das informações recebidas o uso de equipamentos de proteção e às
ações desenvolvidas para subsidiar o enfrentamento da Pandemia da gripe A ( H1N1) pelas
equipes de saúde da atenção básica no Distrito Sanitário Boa Vista, do Município de Curitiba.
A população estudada foi a dos profissionais de saúde que atuam nas Unidades de
Saúde do Distrito Sanitário Boa Vista e a amostra a ser estudada será por conveniência que
segundo Dyneiwicz (2007) é “quando o pesquisador delimita a população para que todos os
elementos que comporão a amostra estejam dentro dos critérios de inclusão”. Teremos como
inclusão, todos os profissionais de saúde que atuam nas UMS/Distrito Sanitário Boa Vista, no
município de Curitiba, em todos os períodos em que as UMS estiverem em funcionamento,
foram excluídos os profissionais que se encontravam em afastamento por qualquer motivo.
Este estudo permite verificar se os profissionais sentiram-se seguros e tiveram acesso a
equipamentos de biossegurança para o enfrentamento da pandemia do H1N1, após as
capacitações, materiais didáditos, e outros meios veiculados para esta finalidade de
esclarecimento.
O estudo proposto foi elaborado por meio de uma pesquisa quantitativa, através de
levantamento de dados epidemiológicos de atendimentos realizados por profissionais aos
casos da H1N1.
4. RESULTADOS
Através dos questionários aplicados observamos a adequada tomada de decisão da
SMS/ Distrito Sanitário Boa Vista frente ao preparo das equipes, para enfrentar a crise da
H1N1, apesar de que os profissionais apresentarem mudança de comportamento apenas no
período da crise, conforme mostraremos abaixo nos gráficos em anexo.
Questão
Sim Não Não
responderam
Questão
2
Questão
5
1
45
27
1
100%
20
100%
34
2
43
15
15
75%
15
75%
17
3
66
7
0
50%
2
50%
2
4
61
5
7
25%
0
25%
0
5
67
5
1
15%
1
15%
3
6
10
51
3
Não resp
35
Não
Resp
17
7
38
33
2
8
66
6
1
9
16
53
4
10
63
8
2
11
68
2
3
73
73
Avaliando o impacto das atividades desenvolvidas pela equipe de saúde do Distrito
Sanitário Boa Vista, no município de Curitiba frente à pandemia de H1N1, observamos
através dos dados que 62% dos profissionais participaram de alguma capacitação, e que 92%
utilizou os Equipamentos de Proteção individual preconizados. Observa-se também que 70%
refere não ter tido dificuldades de acesso a informações pertinentes a doença, percebe-se
também que 91% dos entrevistados observou mudanças no comportamento dos usuários
quanto a cuidados de higiene, e 73% nota que esta mudança de comportamento permaneceu
após a pandemia.
Apesar de 97% referir que as Autoridades Sanitárias Locais tiveram participação
direta no advento, e 91% terem recebido informações de algum tipo, seja palestra, folder ou
outro material, 47% destes profissionais não mantiveram as mudanças de comportamento, no
que se refere a cuidados necessários para conter a pandemia, como por exemplo, o uso de
Equipamentos de Proteção Individuais.
5. CONCLUSÕES
O estudo torna-se relevante para se identificar pontos frágeis nas intervenções
realizadas pela SMS/Distrito Sanitário - Boa Vista durante toda a crise da influenza H1N1,
para que num segundo momento, se possa refletir e se necessário e possível, mudar a forma
da prática aplicada.
Através da análise dos dados, observa-se que embora tenha ocorrido a informação para
o enfrentamento em todos os momentos da pandemia Influenza H1N1, e que os profissionais
tiveram acesso ao uso de Equipamentos de Proteção Individual, mesmo assim após o término
da crise, conforme relato dos mesmos, não se mantiveram os cuidados preconizados que se
aplicam em todos os atendimentos visando o auto-cuidado e prevenção de contaminação.
Este é o momento de resgatar o quanto impactou na saúde da população, a mudança de
comportamento/auto-cuidado (principalmente lavagem das mãos) tanto dos usuários, quanto
dos profissionais de saúde. A diminuição de doenças como diarréia, conjuntivites, também
tiveram impacto com estas precauções. Com isto sensibilizaremos estes profissionais no
sentido de manter padrões de higiene e uso de Equipamentos de Proteção Individuais em
procedimentos que os exijam e seus benefícios.
REFERÊNCIAS
Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo de Manejo Clínico e Vigilância
Epidemiologia da Influenza Ministério da Saúde.
Brasil. Ministério da Educação. Tabela de Áreas de Conhecimento. Disponível em:
<http://www.capes.gov.br/avaliacao/tabela-de-areas-de-conhecimento>. Acesso em:
09 mar. 2010.
Curitiba. Secretaria Municipal da Saúde. Protocolo de Urgências e Emergências.
Curitiba: SMS, 2009.
Organização Mundial da Saúde. <http://www.who.int/csr/disease/swineflu/em/index.h
tml>.
ROUQUAYROL, M. Z. ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & saúde. 6 ed. Rio de
Janeiro: Medsi, 2003.
ALMEIDA FILHO, N. ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à epidemiologia. 4 ed. Rio
de Janeiro: Medsi, 2006.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2005.
FORATTINI, O. P. Epidemiologia geral. 2 ed. São Paulo: Artes médicas, 1996.
ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e saúde. 5 ed. São Paulo: Editora MEDSI,
1999.
LAURENT, R. Et al. Estatísticas de saúde. São Paulo: EPU, 1987.
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