ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE REPENSAR O ENSINO DE CIÊNCIAS PARA UM PLANETA SUSTENTÁVEL POR MEIO DE REFLEXÕES E DE ATIVIDADES DE SENSIBILIZAÇÃO ECOLÓGICA 1 Marta Barbosa da Silva 2 André Luis de Oliveira Resumo O ensino de Ciências possibilita muitos debates sobre o meio ambiente por meio de seus conhecimentos. É, no entanto, preciso atrelar esses conhecimentos às estratégias metodológicas da Educação Ambiental e, assim, contribuir para a construção de valores e atitudes ecologicamente corretas. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa sobre Educação Ambiental e o Ensino de Ciências está em repensar o ensino por meio de atividades de reflexão e sensibilização ecológica que contribua para a formação de valores ambientais nos alunos de 6ª série. Para tanto, utilizamos dos pressupostos teóricos e metodológicos da pesquisa-ação com o objetivo de ampliar os conhecimentos dos alunos e melhorar suas atitudes em relação ao meio ambiente em busca da sustentabilidade. Assim, verificamos que a utilização de atividades de sensibilização ecológica em sala de aula despertou o interesse e a participação dos alunos em todas as atividades, tendo como resultado o envolvimento e a elaboração de atividades que ampliaram a compreensão dos conceitos ecológicos e das relações entre os seres vivos e o meio ambiente. Além disso, o uso de atividades de sensibilização teve como resultados o despertar do senso crítico em relação aos problemas ambientais juntamente com a falta de sustentabilidade. Palavras-chave: Ensino sensibilização ecológica. de ciências. Educação ambiental. Atividades de 1 Introdução Na atualidade torna-se cada vez mais necessário despertar no aluno uma maior compreensão dos conhecimentos científicos a fim de que participem dos processos, pois que tais conhecimentos estão presentes em seu dia a dia. Para isso cabe aos professores despertar o pensamento crítico do aluno, a fim de desenvolver habilidades cognitivas no que se refere à solução de problemas e a tomadas de 1 Professora da Rede Estadual de Educação, formada em Ciências/Biologia da Escola Estadual "Jorge Nacli", Nova Aurora, 2011. 2 Professor Orientador da Universidade Estadual do Oeste do Paraná / Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. PDE, 2011. decisões. Reigota (1997), ao discorrer sobre a questão ambiental, comenta sobre utopia, autonomia e justiça social. Para o autor, essas instâncias estão relacionadas a uma educação crítica aos sistemas autoritários, tecnocráticos e populistas, buscando justificar na prática a colaboração para a construção de alternativas sociais baseadas em princípios ecológicos, éticos e de justiça para com as gerações atuais e futuras. A relação entre educação e meio ambiente se ancora na preocupação atual do homem no contexto dos seus limites. Corroborando esses indicativos, destaca-se que a Educação Ambiental é um conjunto de ações educativas que têm como objetivo a construção e o estabelecimento de relações conscientes e harmoniosas com o meio ambiente (DIAS, 1998). Nesse sentido, em que medida as atividades de sensibilização ecológica nas aulas de ciências podem contribuir para a formação de valores em Educação Ambiental e, por conseguinte, para sustentabilidade? Entendemos a utilização de atividades de sensibilização ecológica como um recurso didático e um processo significativo e instigador para despertar valores ambientais nos alunos da 6ª série a fim de contribuir com o ensino de ciências para a sustentabilidade. Assim, este estudo justifica-se na perspectiva da educação em valores ambientais, buscando a formação de crenças positivas, valores e atitudes que são a base do comportamento ético responsável em relação ao meio ambiente. Igualmente, reconhecemos a necessidade da formação integral de um sujeito participativo, crítico e consciente da importância de preservação do planeta a partir de conhecimentos básicos de ecologia entrelaçada com a Educação Ambiental. Assim, apresentamos, neste artigo, resultados que permitiram a compreensão do tema de maneira contextualizada, além de revisar atitudes, crenças e valores, possibilitando uma postura mais consciente e permeada por conteúdos de cidadania e reflexões capazes de vislumbrar um planeta sustentável. 2 Considerações Teóricas Quando uma proposta curricular enfatiza a socialização do conhecimento como oportunidade ao mundo letrado, busca-se então a ajuda das relações interdisciplinares que levam a contextualizar os conteúdos disciplinares propiciando a compreensão da “[...] produção científica, a reflexão filosófica e a criação artísticas, nos diferentes contextos em que se constituem” (PARANÁ, 2009, p. 16). Nesse contexto, a Educação Ambiental vem, a cada dia, ganhando importância nas escolas e na sociedade. Mesmo assim, porém, a discussão em torno do assunto não é recente. De acordo com Grun (1996, p. 15): A Educação Ambiental não é algo assim tão novo. Ela efetivou-se como uma preocupação no âmbito da educação há mais ou menos duas décadas. A emergência da crise ambiental como uma preocupação específica da 3 educação foi percebida de certa ecologização das sociedades. Diante desse aspecto, torna-se importante o conhecimento acerca da Educação Ambiental, uma vez que deve ser trabalhado como uma prática cotidiana de sensibilização, buscando desenvolver a conscientização e a mudança de atitudes de todos os envolvidos nesse processo: A principal função do trabalho na escola com o tema meio ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e a atuarem na realidade socioambiental de modo que se comprometam com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. (BRASIL, 1996, p. 67). Diante disso é necessário mais do que informações e conceitos. A escola deve se propor a trabalhar com atitudes, com formação de valores e com sensibilização, e que o ensino e a aprendizagem sejam construídos através de habilidades e de procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. Comportamentos ambientalmente corretos serão estudados na prática do dia a dia na escola – são gestos de solidariedade e de sustentabilidade dos diversos ambientes – e participação em pequenas negociações podem ser exemplos disso (BRASIL, 1996). A importância de trabalhos e atividade de construção do conhecimento acerca de questões ambientais, segundo Travassos (2004, p. 49), “[...] atualmente, se encontram inseridas nas comunidades escolares“. A fragilidade dos ambientes naturais coloca em jogo a sobrevivência humana. Devido a isso, ocorreu o crescimento dos movimentos ambientalistas e das preocupações ecológicas, 3 Termo usado no momento em que o meio ambiente deixou de ser um assunto exclusivo de amantes da natureza e se tornou um assunto da sociedade civil mais ampla. Donald Worster identifica como marco simbólico o início no ano de 1945 nas sociedades ocidentais (GRUN, 1996, p. 15). criando-se condições para o desenvolvimento de um currículo que seja relacionado com esses problemas. Nesse sentido, a questão ambiental tem buscado um lugar na sociedade e na comunidade escolar, levando os alunos e os cidadãos em geral a ter oportunidade de melhores conhecimentos sobre o assunto por meio de atividades de sensibilização em relação ao meio ambiente e a sua efetivação da participação nesse processo. Para tanto, as atividades de sensibilização ecológicas ou de sensibilização são ferramentas para a prática da Educação Ambiental que propiciam a sensibilização ou vivência dos alunos para um determinado tema ambiental, criando momentos para que os alunos reflitam sobre a experiência vivida, de modo criativo, divertido e estimulante. (MENGHINI, 2003, p. 1). As informações sobre as questões ambientais devem preparar e sensibilizar cidadãos para propor, criticar e pensar em prol do meio em que vivem. A sala de aula é de extrema importância, pois é nela que o educando permanece a maior parte do tempo em que recebe conhecimentos já elaborados por meio de estudos e pesquisas. Ao tratar a temática ambiental como um assunto que tem grande ênfase em todos os campos da educação é preciso saber e conhecer o cotidiano dos alunos e dos professores na escola onde o tema será abordado. O conhecimento da realidade da comunidade proporciona conhecimentos que despertam a mudança de atitudes. Outros fatores são importantíssimos para que haja uma interação de sucesso entre docentes e discentes, especialmente tratando-se de Educação Ambiental. É preciso conhecer o espaço, o cenário onde serão ministradas as aulas. É preciso conhecer um pouco do cotidiano dos alunos e professores da escola. (PENTEADO, 1994, p. 20). Diante do exposto, entende-se que todos possuem dificuldades para criar situações que levem o aluno a produzir e construir seu conhecimento, pois Travassos (2004, p.49) aponta que: Educar é uma tarefa de dedicação e envolve criação de planos de ação considerando conceitos, teorias, reflexões e o uso do bom senso, incluindo também o repensar dos currículos escolares e a implantação de uma dinâmica de avaliação contínua e coerente no processo de ensinoaprendizagem. É preciso desenvolver nas escolas o hábito de entender as ações realizadas para o meio ambiente para viver em harmonia, embora entenda que o grande ser vivo Terra seja, em sua totalidade, complexo, ressaltando, dessa forma, que as práticas de educação ambiental podem aproximar a parte teórica com a realidade prática, levando à percepção dos problemas de sua comunidade. Assim, a primeira tarefa do professor em aproximar o aluno ao meio ambiente se refere à sensibilização pelos problemas de sua comunidade, onde alunos e professores deverão ser agentes transformadores. Obara; Oliveira (2008) apontam que a identificação e o conhecimento do ambiente, por meio da educação, desempenham papel relevante na mudança de atitudes, de valores e de comportamentos das várias pessoas envolvidas na problemática do ambiente local. Esse diálogo pode ajudar no direcionamento dos diferentes saberes que podem nortear o contexto da intervenção sobre a realidade em questão. Quando se pensa no planeta Terra e os conflitos que este tem passado a partir do modo de produção capitalista, torna-se oportuno desenvolver conceitos fundamentais com as novas gerações, levando-as a repensar seus comportamentos tendo em vista uma vida sustentável, portanto: A sustentabilidade é para nós um sonho de bem viver; sustentabilidade é equilíbrio dinâmico com o outro e com o meio ambiente, é harmonia entre os diferentes. A sustentabilidade também representa uma esperança, e tal como esta, a sustentabilidade tornou-se um imperativo histórico existencial. (FREIRE apud GADOTTI, 2008, p. 14). Por isso, quando se pensa em sustentabilidade, deve-se pensar em algo que irá melhorar as condições de vida, os conceitos e os valores que, mesmo complexos, são relacionados à questão da sustentabilidade. Para a implementação de uma sustentabilidade ecológica, Gadotti (2008) aponta a necessidade de interação entre o ser humano em formação e o mundo. Nesse sentido, o autor apresenta alguns objetivos descritos pela UNESCO: Integrar princípios, valores e práticas de desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da educação e do ensino. O esforço educacional deve encorajar mudanças no comportamento para criar um futuro mais sustentável em termos da integridade do meio ambiente, da viabilidade econômica, e de uma sociedade justa para as atuais e futuras gerações. (UNESCO apud GADOTTI, 2008, p. 34). Devemos, portanto, tratar a educação como um caminho que conduz as pessoas à compreensão da realidade e, ao mesmo tempo, aprender que as mudanças iniciam na esfera pessoal para, posteriormente, serem aplicadas na esfera social. Assim, no contexto da educação ambiental, esperamos instaurar mudanças e transformação na relação do homem com o ambiente natural, levando-o a conservar, preservar e administrar adequadamente. Por isso Rocha Loures (2008, p. 55) afirma que “a educação deve ser conceituada como um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano”, redimensionando as mudanças que deseja para o desenvolvimento integral do ser humano, por meio das atividades coletivas que contribuem para o fortalecimento da participação crítica e reflexiva do grupo na tomada de decisão. Nesse sentido, Freire (2002) menciona que não há seres educados, mas, sim, graus de educação, que não são absolutos. Educar é um ato social e apresenta características de momentos históricos e da cultura da sociedade, apontando para que o processo de ensino-aprendizagem seja dinâmico e, ao mesmo tempo, apresente modificações de acordo com os valores de cada época. Nesse caso, os valores ambientais e de sustentabilidade possibilitam uma condição de vida melhor para a espécie humana no planeta. A Educação Ambiental vem, ao longo da história, apresentando para a humanidade um importante papel para a melhoria do Meio Ambiente, seja no aspecto social ou moral, contribuindo para a formação de valores indispensáveis ao exercício da cidadania. Nesse sentido, a Educação Ambiental deve ser entendida como educação política, pois os argumentos apresentados procuram fortalecer a ideia do seu papel de educação crítica aos sistemas autoritários, tecnocráticos e populistas. Por outro lado, a sua prática se justifica se ela colabora na busca da construção de alternativas sociais baseadas em princípios ecológicos, éticos e de justiça para com as gerações atuais e futuras. A Educação Ambiental é importante tanto na preservação da natureza quanto para beneficiar a melhoria da qualidade de vida dos seres vivos no planeta. O contexto escolar favorece a aprendizagem, contribuindo com envolvimento do educando, com o tema em estudo, a socialização e o bemestar do aluno. Assim, a Educação Ambiental é algo constante e de grande importância na vida da humanidade. (REIGOTA, 1997, p. 25). Na Educação Ambiental, é possível ainda despertar no educando sensibilidades mais aguçadas na observação de questões próprias da disciplina do ensino fundamental. Esta uma prática sugerida pelos órgãos governamentais e não governamentais, por meio de projetos em termos de conscientização do meio ambiente para a sustentabilidade do planeta (BRASIL, 2001). Em suma, a Educação Ambiental deve ser trabalhada em todas as disciplinas, contribuindo com um processo de ensino-aprendizagem significativa e interdisciplinar. Assim, o conteúdo estruturante „biodiversidade‟ poderá ser trabalhado sob diferentes aspectos, seja do conhecimento científico, social, econômico e tecnológico Para tanto esse conteúdo deve ser enfatizado de maneira inovadora e descontraída, por meio de atividades de reflexão e sensibilização ecológica. É sabido que áreas extensas de terras são desmatadas indiscriminadamente, que a maior parte das águas dos rios, represas e lagos estão poluídas, assim como a poluição do ar atmosférico, do solo com produtos agrotóxicos usados na agricultura, como também o lixo recolhido nas cidades de maneira inadequada, fazem o meio ambiente onde seres vivos e natureza vivam em desequilíbrio ecológico constante, levando a natureza a se rebelar. Precisamos conscientizar esta geração de hoje para não cometer os erros do passado e deixar para as futuras gerações uma nova consciência ambiental. (BRASIL; SANTOS, 2007). Diante desse aspecto torna-se importante o conhecimento acerca da Educação Ambiental, uma vez que deve ser trabalhado com uma prática cotidiana de sensibilização, buscando desenvolver a tomada de consciência e a mudança de atitudes de todos os envolvidos nesse processo. 3 Metodologia da Pesquisa A presente pesquisa se constituiu numa pesquisa-ação e foi desenvolvida com 28 alunos de 6ª série do Ensino Fundamental (de 8 anos) da rede pública de ensino, localizada na cidade de Nova Aurora – PR. Para tanto, foram realizadas atividades de sensibilização ecológica para contribuir com a formação de valores em Educação Ambiental. De acordo com Thiollent (2002), a pesquisa-ação tem por pressuposto que os sujeitos que nela se envolvem compõem um grupo com objetivos e metas comuns, interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam e ali desempenhando papéis diversos: pesquisadores/professores. Constatado o problema, o papel do pesquisador consiste em ajudar o grupo a problematizá-lo, ou seja, situá-lo num contexto teórico mais amplo e, assim, possibilitar o planejamento de atividades para gerar as transformações das práticas escolares. O planejamento da pesquisa-ação difere, segundo Gil (2002, p. 143), dos demais grupos de pesquisas pela sua flexibilidade e também porque envolve a ação dos pesquisadores, dos grupos interessados, ocorrendo em diversos momentos de pesquisa. Assim, portanto, na pesquisa-ação “[...] ocorre um constante vaivém entre as fases, que é determinado pela dinâmica do grupo de pesquisadores em seus relacionamentos com a situação pesquisa”. Dentre várias características marcantes desse tipo de investigação destacamos o fato de o pesquisador intervir na realidade de modo a colaborar na superação de problemas no decorrer do processo, visualizando a pesquisa não como um produto na etapa final, mas como um instrumento de qualificação e melhoria no ambiente escolar, afim de quebrar paradigmas decorrentes do preconceito em relação à Educação Ambiental. Recorrendo a Engel (2000, p. 4), cabe dizer que, no ensino, a pesquisa-ação tem por objetivo de pesquisa “[...] as ações humanas em situações que são percebidas pelo professor como sendo inaceitáveis sob certos aspectos, que são suscetíveis a mudanças e que, portanto, exigem uma resposta prática”. A etapa inicial da pesquisa foi caracterizada pelo levantamento de dados por meio da aplicação de um questionário fechado, que visou diagnosticar os conhecimentos prévios dos alunos acerca dos problemas ambientais da região. Amaro et alii (2004) afirmam que o questionário é um instrumento de investigação que visa recolher informações baseando-se, geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em estudo. Para tal, coloca-se uma série de questões que abrangem um tema de interesse para os investigadores, não havendo interação direta entre estes e os pesquisados. Os demais resultados são decorrentes das atividades desenvolvidas durante a aplicação dos seguintes módulos: ecossistema e preservação do meio ambiente, conceitos de ecologia e de educação ambiental e extinção de espécies nos ecossistemas. As atividades desenvolvidas foram diversificadas, nas quais os alunos participaram individual e coletivamente por meio de diferentes modalidades didáticas, tais como: dinâmicas de grupo, análise de filme, estudo do meio, seminários e interpretações de textos. Os dados da pesquisa foram submetidos a uma análise de conteúdo, de acordo com os pressupostos teóricos e metodológicos de Bardin (1977), que se baseia na junção de técnicas de análises dos relatos, como indicadores que possibilitam a verificação de informações referentes às condições de produção e recepção de tais mensagens. 4 Resultados e Discussões 4.1 Problemas Ambientais do Município Com intuito de perceber o quanto os alunos são informados sobre os problemas ambientais da região, foi aplicado, a 23 alunos, um questionário fechado, composto por oito questões, dentre as quais optamos por apresentar os resultados de três questões que julgamos mais importantes para as discussões. Em relação aos cuidados com o lixo na cidade, 13% do total da amostra consideram de ótima qualidade, 35% acredita que existe um bom cuidado com o lixo e 52% julga regular o serviço de recolhimento do lixo, conforme o Gráfico 1. No que diz respeito aos prejuízos que o mau uso de agrotóxicos causa nos seres vivos em geral, 61% dos alunos afirmaram ter algum conhecimento, enquanto 39% desconhecem os riscos para os organismos vivos, como podemos observar no Gráfico 2. Quanto à qualidade da água, 65% da amostra acredita que está em boas condições de uso pelo homem e outros animais e 35% supõe que a maioria dos rios estão poluídos por agrotóxicos e dejetos, como está representado no Gráfico 3. Gráficos 1, 2, 3: Representações quantitativas dos conhecimentos dos alunos sobre alguns problemas ambientais do município de Nova Aurora – PR. 13% 35% 39% Ótima sim Boa 52% 35% sim Não Não Regular Gráfico 1: Tratamento do lixo no município 61% Gráfico 2: Uso inadequado de agrotóxicos 65% Gráfico 3: Qualidade da água dos rios do município 4.2 Compreensão do Conceito de Ecossistema: estudo do meio A realização de uma pesquisa por meio de uma visita ao campo, ou estudo do meio, se caracteriza, segundo Martins; Lints (2000), como pesquisa diagnóstica, que é um tipo especial de investigação aplicada que propõe explorar o ambiente, levantar e definir problemas. No decorrer da abordagem do conteúdo do presente estudo buscou-se envolver os alunos nos conhecimentos do ecossistema e estimular o pensamento crítico levando a repensar o ensino de Ciências para um planeta sustentável por meio de reflexões de sensibilização ecológica. Para tanto, utilizou-se de uma visita a um ambiente preservado – “Clube Campestre” – que veio a colaborar completamente na aprendizagem, favorecendo o envolvimento entre ecossistema e preservação do meio ambiente, levando os alunos à socialização e ao bem-estar. Essa visita foi feita mediante uma trilha perceptiva para ampliar a interação dos alunos com o meio. Durante o passeio pelas trilhas, os alunos observaram se o local era um ecossistema, para isso levando em conta os aspectos físicos, químicos e biológicos da região, e quais interferências foram realizadas pelo homem, levandoos a reconhecer possíveis impactos ambientais que possam estar ocorrendo. Os alunos revelaram suas compreensões por meio de algumas questões: podemos considerar o local de área verde de pequeno porte, como o “Clube Campestre”, um ecossistema? Por quê? Quanto ao conceito de ecossistema, foi possível perceber que alguns alunos apresentaram uma explicação coerente com o conceito, conforme falas a seguir: Sim, porque tinha plantas que fazem fotossíntese, tem animais e insetos (A-03). Sim, por que lá vivem plantas e animais que vivem e interagem numa determinada região, tem luz, clorofila (A-04). Sim, porque mesmo sendo pequena, é um pedaço do ecossistema, tinha diversos tipos de plantas (A-14). Sim, porque o Clube Campestre tem arvores, plantas, flores, animais, tudo isso pode se considerado ecossistema (A-17). Sim. Porque a mata é nascente dali. E um ecossistema é o lugar aonde tem plantas, insetos, pássaros e outros (A-19). Sim porque lá tem plantas que tem fotossíntese, luz, animais e outros (A-26). A maioria, porém, se ateve aos aspectos naturais do ecossistema, deixando de associar a integração entre seres vivos e não vivos. Perceberam apenas a relação entre plantas e seres vivos. Mesmo assim, não deixaram de perceber que esse ambiente, mesmo pequeno, pode ser considerado um ecossistema. Assim, portanto, “[...] ecossistema é o nome dado ao conjunto de todos os seres vivos e atores não-vivos de uma determinada região” (CANTO, 2004, p. 21). Percebe-se que os alunos conhecem o termo, uma vez que os alunos apresentaram ideias compatíveis com o objeto de estudo. No decorrer da abordagem desde conteúdo, perceberam, por meio dos sentidos da visão, do olfato e do tato, a diversidade de elementos desse ecossistema. Levamos os alunos a responder à seguinte questão relacionada à visita: – Quais fatores químicos e físicos estão presentes no local? E os biológicos? Indicamos as respostas mais significativas: Químico: luz, água, terra, ar, vento, a temperatura e biológicos animais, plantas (A-04). Químicos: terra e físicos: ar, sol. Biológicos: árvores, plantas e animais (A-07). Químico: terra, água. Físicos: temperatura, ar. Biológico: animais, como cachorro, pássaros... (A-14). No local esta presente a temperatura, luz, terra, água, sol, entre outros (A-17) Ar, oxigênio, gás carbônico, etc, animais, plantas (A-26). O aluno reconhece quais são os fatores químicos, físicos e biológicos, porém apresenta certa dificuldade em se expressar com relação aos componentes de cada fator e em reconhecer como um depende do outro no ambiente observado. Perceberam que no local havia algumas mudanças realizadas pelo homem, tais como plantio e corte de eucalipto, construção de piscina, campo de futebol, casas, entre outros. Verificaram ainda que, além das árvores nativas, também foram plantadas outras árvores não nativas, sendo visível que tais mudanças levaram esse local a impactos ambientais, trazendo problemas tanto para a flora quanto para fauna presente. Esses aspectos foram registrados mediante fotografias e vídeo para serem usados em sala de aula com multimídia. Para problematizar essa observação, realizamos a seguinte questão: – O local visitado é natural ou foi modificado pelo homem? – Quais aspectos foram modificados? Sim, plantação de eucalipto, construção de piscina, área de lazer (A-02). Foi modificada pelo homem, eles arrancaram árvores para fazer a piscina, para fazer o campo e eles deixaram várias árvores também (A-03). E natural, mas também é modificado pelo homem pois tem piscina e bares, casas, etc. (A06). Foi modificado pelo homem fizeram piscinas, parquinhos, campos e casa (A-12). Foi modificado um pouco foi colocado campo de futebol parque, piscina ,o clube, eucalipto e muito mais (A-15). Este local é natural e todos os dias ele é visitado e poucas coisas foram modificadas pelo homem árvores eucalipto e palmeiras e casas (A-18). Tem local que e modificado pelo homem: e local que não e modificado é natural (A-20) Foi modificado, a piscina, planto de eucaliptos, o parque, o campo de futebol, etc., a sauna, e outros (A-26). Notamos, nos comentários, de um modo geral, que os alunos detectaram com facilidade os vários impactos ambientais. Mesmo sabendo que a área era de lazer, não deixaram de ver com preocupação a destruição das árvores para a construção de obras que servem de lazer para as pessoas. Ainda reconheceram que o lugar se configura como uma área preservada em sua maior extensão. Com isso sugerimos uma última pergunta: – Esse local pode ser considerado sustentável? – Por quê? Seguem as respostas que melhor retratam a opinião dos alunos: Sim, porque plantas e animais conseguem sobreviver nesse ambiente (A-02). Sim, porque mesmo com a modificação que teve lá, ainda há plantas que nascem, crescem sem ter dificuldade (A-03). Sim, porque lá nasce plantas, e o lugar e bem cuidado mesmo com a destruição e tudo mais o lugar é sustentável (A-04). Sim. Por que é bem preservado tem luz solar (A-05). Sim, porque ele sustenta e planta que nasce e morre lá (A-06). Sim. Existem plantas que nascem, crescem se sustentam sozinhas, animais que conseguem sobreviver lá naquele local (A-08). Sim, pela umidade, pelo adubo da terra, pelo sol nas plantas que não prejudicam nenhuma planta (A-12). Sim por causa das arvores e plantas e animais (A-18). Sim, porque mesmo tendo dificuldades as plantas nascem, crescem, mesmo essas modificações tem condição de as plantas terem o direito de nascer e reproduzir (A-26). Enquanto percorriam as trilhas, os alunos puderam realizar discussões para melhorar as relações com o meio ambiente, o que despertou a sensibilização para a preservação e a compreensão de conceitos, como relações ecológicas, fatores físicos e químicos, ecossistema e seres bióticos e abióticos. Assim, usamos desses recursos para vincular os conteúdos disciplinares às observações realizadas na trilha. Para tanto, as questões discursivas contribuíram para que o aluno pudesse demonstrar o seu entendimento, pois, apesar de ser uma área limitada, reconheceram vários problemas ambientais. Os alunos também realizaram uma pesquisa sobre a biodiversidade encontrada no ecossistema visitado. Além disso, identificaram os ecossistemas do Brasil, caracterizando campos, cerrados, caatingas, florestas, entre outros, possibilitando uma discussão sobre a preservação do meio para um planeta sustentável. As imagens registradas mediante fotografias do local visitado foram apresentadas na TV multimídia, situação que possibilitou a problematização da temática e facilitou a compreensão de ecossistema e seus níveis de organização. 4.3 Ecologia e Educação Ambiental: seus desdobramentos por meio da análise de um filme temático No decorrer da abordagem do conteúdo buscamos envolver os alunos sobre os conhecimentos de Ecologia e estimular o pensamento crítico acerca das relações com a Educação Ambiental, identificando as concepções de meio ambiente dos alunos por meio de atividades de sensibilização ecológica. Para isso utilizamos o filme "Os Sem-Floresta, 2006", visando estimular a discussão sobre Educação Ambiental e Ecologia, levando os alunos à compreensão das relações dos demais conceitos trabalhados durante o filme, como relações ecológicas, desmatamento, consumo, separação do lixo, entre outros. Também trabalhamos o conceitos de biodiversidade, na qual os conhecimentos científicos devem interagir num processo integrado e dinâmico. Os assuntos que foram trabalhados a partir do filme "Os Sem-Floresta, 2006", citados anteriormente, foram de suma importância, pois os alunos se envolveram demonstrando grande entusiasmo e interesse. Além disso, a interpretação do filme permitiu uma sensibilização com o problema socioambiental decorrente de ações humanas na natureza e a relação de tais problemas com o cotidiano. Os alunos manifestaram suas opiniões por meio de um debate e, ao final, foi solicitado que tirassem uma mensagem, informações e apelos referentes ao tema. Para isso, sugerimos a seguinte questão: – Que temas foram abordados no filme? Sobrevivência, meio ambiente, desmatamento, predição (A-02). Meio ambiente reprodução de lixo, ecossistema, desmatamento (A-03). Extinção, desmatamento, casas, falta de comida e suas moradias (A-10). Impacto ambiental. Enquanto os animais, hibernação, desmataram a metade da floresta para fazer um condomínio (A-14). A mentira, a falsidade. Um animal enganava o seu melhor amigo (outro). Lixo na rua (A-17). Predição, amizade e competição (A-19). Do meio ambiente e do desmatamento para fazer condomínio e os animais ficam cada vez mais sem espaço (A-23). O impacto ambiental. Porque o filme relata que vários animaizinhos que estavam hibernando e quando acordaram a floresta tinha praticamente sumido. Porque os humanos tinham desmatado para fazer casas (A-27). Desmatamento, poluição, meio ambiente (A-30). As respostas fornecidas pelos alunos indicam que refletiram sobre alguns valores humanos, tais como de amizade e companheirismo, bem como houve percepção de conceitos ecológicos, tais como hibernação, predação, competição e ecossistema. Além disso, discorreram sobre os problemas socioambientais, tais como desmatamento e produção de lixo. Assim, podemos inferir que os alunos perceberam, por meio da apreciação do filme, as relações entre os seres vivos e seu meio, conduzindo para a compreensão do termo ecologia, que, segundo Odum (1988, p. 434), “[...] é uma ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e destes com o ambiente”. Fizemos também a seguinte pergunta: – Que ideia e sentimentos esse filme despertou em você? Indicamos algumas respostas para análise: Despertou sentimento de família que eles tinham trabalhado em família, grupo (A-01). No começo de egoísmo, mas depois de carinho e afeto (A-02). A mentira, a falsidade, uma pessoa que engana o outro, mais também a amizade o companheirismo (A-05). A idéia de que não podemos desmatar áreas em que vivem animais e devemos plantar mais animais (A-8). De amor, carinho, cooperação e ao mesmo tempo de maldade do guaxinim (A-12). Este filme despertou vários sentimentos através de roubo para mim por que roubou não e uma coisa legal de se fazer ainda mais para um amigo. A idéia que eu dou e pedir e não ser falso as pessoas muito menos a um amigo (A-18). Os humanos tinham que plantar mais árvores e deixar as animais no local que estava (A20). Compaixão e que todos precisam uns dos outros (A- 21). A idéia de ganância e os sentimentos de amizade (A-23). Esperteza, sabedoria e ganância (A-24). Não desmatar mais arvore para o bem do meio ambiente. Tristeza (A-25). Os alunos reconheceram, nos animais do filme, um sentimento de amizade, solidariedade, companheirismo, ou seja, sentimento de família, amor, carinho, afeto, cooperação e que todos precisavam uns dos outros para sua sobrevivência. Entretanto, havia também outro tipo de sentimento demonstrado pelos animais e citado pelos alunos, tais como traição, ganância e o egoísmo, sentimentos abordado no filme no momento em que os animais queriam os alimentos dos humanos e havia um espírito de liderança por parte do guaxinim, mostrando sentimento de ganância, esperteza e egoísmo com os outros animais. Nesse contexto pedimos que os alunos apresentassem exemplos de indivíduos, população e comunidade que aparecem no filme. Seguem algumas respostas: Indivíduo: urso e guaxinim. População: ratos, porco-espinho e humanos. Comunidade: ratos, porco-espinho, gambá, tartaruga, esquilo (A-02). Individuo: gambá, guaxinim, tartaruga, esquilo. População: porco espinho e ratos. Comunidade: porco espinho, ratos, gambá, guaxinim, tartaruga, esquilo (A-03). Indivíduo: o guaxinim, o urso. População: os ratos, família de porco-espinho, as pessoas. Comunidade: a tartaruga, o gambá, os porcos-espinhos, os ratos, o esquilo (A-08). No filme tinha 3 porcos espinhos, uma tartaruga, um esquilo. Tinha o urso o esquilo o gambá, etc (A-16). Animais como tartaruga, guaxinim, gambá, porco espinho, ratos, cachorros, o urso, o ser humano (A-17). Uma família de porco espinho, tartaruga, porco do mato, esquilo, guaxinim e humanos (A30). Verificamos que os alunos demonstraram conhecimento sobre o assunto, mas também tivemos alunos que não conseguiram identificar ou não fazer a relação entre indivíduo, população e comunidade. Na separação das categorias, apenas citou os animais que ali se encontravam, como é possível observar na resposta dos alunos A-16 e A-17. As relações ecológicas foram trabalhadas por meio da percepção dos alunos após a apreciação do filme. Diante da questão sobre quais relações ecológicas podem ser identificadas no filme, tendo que escolher entre predação, competição, parasitismos e camuflagem, a maioria, 64% da amostra, escolheu predação, identificando a relação do urso com o guaxinim e competição pela procura de alimento dos animais. Isto ficou claro para os alunos, ou seja, que as relações estão presentes em todos os ambientes. Com relação aos impactos ambientais, solicitamos aos alunos que citassem os prejuízos correspondentes ao desmatamento e à produção de lixo. As respostas mais significativas foram: Desmatamento: que os animais viviam nessa área desmatada, ficaram sem moradia e sem comida. Produção de lixo: Aumenta o efeito estufa, gás carbônico e causa doença (A-02). Desmatamento: precisamos de árvores para respirar, pois nela tem gás oxigênio e com o desmatamento acaba o oxigênio e nos corremos o riso de vida. Produção de lixo: quando jogamos lixo na rua, entope os bueiros e com a chova acontece as enchentes (A-07). Desmatamento: que os animais que vivem na área desmatada ficaram sem comida e sem casa. Produção de lixo: polui o meio ambiente, causa doença e prejudica a vida (A-08). Desmatamento: eles cortaram as árvores que tinha no lugar e construíram aquele condomínio. Produção de lixo: polui o meio ambiente e forma muitas doenças (A-15). Desmatamento: Derrubaram árvores para produção de uma cidade, e ruim para os animais e o meio ambiente. Produção de lixo: o lixo jogado no chão poluem o ar e os rios (A-30). Desmatamento: falta de alimento dos animais. Produção de lixo: destruir a camada de ozônio (A-31). De acordo com as respostas dos alunos, observamos uma grande preocupação com a destruição de árvores e a poluição do meio ambiente, associadas essas preocupações com outros problemas ambientais, tais como: aumento do efeito estufa, animais fora do seu nicho ecológico, destruição da camada de ozônio e o aparecimento de doenças. Segundo Goettems (2006), aprender a realidade e seus desafios ambientais instiga a capacidade humana a compreender e a superar as suas limitações e contradições. Nesse sentido, a Educação Ambiental exerce um papel fundamental na sensibilização do homem em relação aos cuidados com o meio ambiente. Para finalizar as discussões sobre o filme, os alunos responderam à seguinte indagação: – Em sua opinião, na região onde você mora já ocorreu fato semelhante a alguma situação apresentada no filme? Explique. Seguem algumas respostas: Sim, antes de construir Nova Aurora tudo isso era arvore e floresta (A-01). Sim, as florestas foram desmatadas para construir cidade (A-02). Sim, para criar as casas, lojas... Precisavam cortar as arvores e florestas que existiam (A14). Sim, no Campestre desmataram para fazer o clube (A-19). Em Nova Aurora existiam uma grande floresta mas foi destruída, agora são poucas árvores e muitas casas (A-21). Sim, um grande desmatamento que ocorreu perto da minha casa (A-25). Sim, porque antes Nova Aurora só mato e com certeza existiam vários animais que talvez foram mortos ou ficaram sem comida depois que as pessoas foram chegando (A-27). Diante das respostas dos alunos é possível perceber que a maioria respondeu que houve fato semelhante no local onde reside. Justificaram que antigamente sua cidade tinha muitas árvores e uma ampla floresta que tomava toda a região, que foi desmatada para a construção de casas, lojas, clubes. Em decorrência do desmatamento, ocorreram muitas extinções e migrações dos animais que viviam nessa região. No decorrer dessa etapa do trabalho percebemos que os alunos tiveram um grande interesse, envolvimento e uma posição crítica sobre esse assunto por se tratar da cidade onde residem e, assim, se aproximam dos impactos ambientais que ocorreram e que ainda ocorrem em seu município. Os alunos gostaram muito do filme, pois sabemos que, quando se trata de tecnologias, os alunos têm um grande fascínio. De acordo com este trabalho, concordamos com Ferraz; Justina (2009), ao afirmarem que a temática „Filme‟ é uma questão que tem ocupado grandes espaços em sala de aula e a ela se tem dado muita importância. Para concluir o trabalho, os alunos fizeram uma pesquisa sobre o que o município vem fazendo para melhorar as condições do meio ambiente, especialmente em relação às águas dos rios, aos agrotóxicos usados pelos agricultores e à produção de lixo da cidade. Usamos, para essa discussão, o texto "A Crise Ambiental", extraído de Obara; Oliveira (2008). Nessa pesquisa os alunos formaram grupos de 3 a 4 integrantes e listaram ações que o município vem realizando para a preservação do meio ambiente. Citamos algumas ações identificadas para a melhoria do ambiente pelos alunos (A2), (A-7) e (A-14) sobre essa questão: Mata Ciliar; Projeto Escola no Campo; Plantio direto; Aterro sanitário; Coleta seletiva do lixo; Aterro de galhos com picador de galhos; Tríplice lavagem; Proteção de minas. Outra equipe com os alunos (A-9), (A-13) e (A-25) identificou as seguintes ações: Estão fazendo aterro sanitário; Estão fazendo aterro de galho; Estão fazendo rotações para as nascentes do rio e ajudando os agricultores a preservar a nascente plantando arvores em volta; estão retirando os vidros de agrotóxicos dos rios e levando para o centro de reciclagem. Apareceram outras ações, como aterro sanitário, rede de esgoto e outros. Isso nos mostra que o município está empenhado para melhorar tanto a qualidade das águas dos rios, como também do solo e ar, deixando, assim, um meio ambiente de melhor qualidade para seus munícipes. Para aprofundar um pouco mais esse assunto, fizemos um „Mini Seminário‟ na escola, do qual participaram a direção, a equipe pedagógica, profissionais da área e secretário municipal de Meio Ambiente do local. O assunto abordado foram „As Ações no Município na Área Ambiental‟, ocasião em que os alunos puderam averiguar as ações já existentes e também conhecer o que o município vem fazendo em termos de projetos para o futuro, em prol da qualidade de vida e do Meio Ambiente sustentável, buscando atingir principalmente aquelas melhorias que estão diretamente ligadas com a qualidade da água, do solo e do ar de nosso município. Pudemos perceber que há um empenho, por parte da administração pública, em instaurar um aterro sanitário e rede de esgoto. 4.4 Biodiversidade e Preservação do Meio Ambiente: o aluno como pesquisador Essa atividade visou sintetizar os conhecimentos construídos acerca da temática da ecologia, sendo possível perceber o conhecimento dos alunos nos temas abordados. Assim, os conhecimentos adquiridos no „Mini Seminário‟, por meio da palestra com profissional da área, teve como tema „Extinção de Animais e Plantas no Planeta Terra‟. Esse conteúdo foi abordado sob diferentes formas, tendo em vista as condições do meio ambiente, ou seja, ar, solo e água, assim como as consequências da relação do homem com a natureza. Frente essas questões, pudemos observar, mediante exemplificações, que os problemas ambientais e sociais estão ligados entre si, daí a necessidade de discutir a temática: „Repensar o ensino de Ciências para um planeta sustentável por meio de reflexões e atividades de sensibilização ecológica‟. Foram desenvolvidas aulas expositivas com auxílio das imagens na TV multimídia sobre extinção das espécies, seja no meio ambiente local, seja em várias regiões do Brasil. Os alunos fizeram pesquisa na internet, em livros didáticos, confeccionaram cartazes com colagem de figuras de alguns animais e de plantas extintas mais conhecidas do local onde residem, ou do Brasil e do planeta. Além disso, os alunos realizaram uma entrevista com pessoas com maior tempo de residência no município a fim de levantar as espécies animais e vegetais existentes no passado no município. Seguem as respostas investigadas e apresentadas pelos alunos (A-04), (A-07), (A-27) e (A-31): Tabela 1: Resultados das entrevistas realizadas pelos alunos junto aos munícipes com maior tempo de residência no município. Ano de chegada no município 1960 (A-04) Condições da região 1966 (A-07) Nessa época, tinha bastante mato, muitos bichos (A-07). A cidade era pequena e tinha muito mato, tinha muita peroba e palmito (A-04). Animais encontrados no período O veado, a onça paca, cutia, macaco bugio (A04). Espécies vegetais que se extinguiram da região Canela, peroba, pinheiro araucária, cedro (A-04). Capivaras, paca, macaco, onça, etc (A-07). Araucária, palmito, entre outros (A-07) Relatos de caçadas na região Sim e muito, matava-se para se alimentar e o que mais se matava era paca e veado (A04). Sim, caçavam animais para sobrevivência.Ex.: Paca, veado, anta, pássaros, etc. (A07). 1970 (A-27) 1959 (A-31) Tinha muito mato e não tinha asfalto (A-27). Muito mato, ruim de estradas, atendimento de saúde não tinha (tinha que ir a Cascavel), a produção agrícola era ruim de comércio, sem condições de estudos (A-31). Anta, capivara, paca, pássaros, tatu, quati (A_27). Onça, anta, veado, cateto (caititu), pássaros de muitas espécies, cutia, paca, etc. (A_31). Hortelã (A-27). Sim, havia vários tipos de caçada (A27). Peroba, marfim, Na época era difícil guajuvira, o morador que não canafístula, caçava para o araucária, etc. Como sustento da família muitas espécies e como proteção rasteiras (A-31). dos mais ferozes predadores (A-31). Verificamos que, na região pesquisada, em algumas décadas atrás havia uma biodiversidade rica em fauna e flora. A região também teve outros tipos de cultivo, além da soja e do milho que temos hoje. A hortelã era cultivada para fazer óleo e este era vendido, como fonte de renda, para consumo em outros municípios. Hoje não é mais cultivado, como tantas outras plantas e animais que eram nativas da região e que atualmente se encontram extintas. Verificamos também que foram introduzidas espécies de plantas de outras regiões, como o eucalipto, que se adaptou bem e está sendo utilizado para o consumo a favor do homem. Com relação a essa problemática, fizemos três questionamentos. Vamos citar apenas dois que foram mais convincentes. O primeiro foi: – Quais são os fatores que mais levam à extinção dos seres vivos no planeta? Cite pelo menos cinco. Desmatamento, caça ilegal, tráfico de animais, queimadas, agrotóxicos (A-01). Poluição, falta de espaço, falta de alimento, fatores genéticos, dificuldade na reprodução (A02). Poluição, desmatamento, dificuldade de reproduzir modificação em seu ambiente, falta de alimento (A-05). A poluição, o desmatamento, queimadas de florestas, o tráfico ilegal de animais, e a globalização (A-07). Desmatamento de árvores, poluição derretimento de geleiras, poluição de águas, buraco na camada de ozônio (A-11). Colocar fogo nas florestas, exportação ilegal de animais, desmatamento, caçar animais extintos, a comercialização de animais para fazer tapetes e casacos (A-14). As queimadas, o desmatamento, o porte ilegal de animais protegidos pelo IBAMA, a caça ilegal, a comercialização de animais para fazer tapetes, casacos, etc (A-29). Percebemos que os alunos tiveram uma percepção clara sobre os problemas que aceleraram a extinção de animais e de plantas do ecossistema, reconhecendo assim uma gama de fatores que levam à extinção. Quanto a esses fatores, o ponto culminante, entre a maioria das respostas, foi o „desmatamento‟, que vem sendo acelerado em todo o globo terrestre, causando sérios problemas para a humanidade. A outra questão a que os alunos responderam sobre o assunto foi: – Identifique alguns fatores que podem melhorar o meio ambiente se o homem voltar a reflorestar parte do nosso planeta. Os alunos demonstraram conhecimentos sobre o reflorestamento, como podemos observar em suas respostas: Reflorestar, plantar mata ciliar, separar o lixo (A-01). As árvores evitam ou reduzem a erosão do solo e a contaminação da água. Parar com as queimadas. Limpar os rios para que os peixes não morram, melhorar o ar que o ser humano respira Não jogar lixo no chão para que não polua o subsolo (A-05). Evitar a destruição de seu habitat, denunciar as pessoas quando estão fazendo coisas erradas. Não tirar os animais de sua região para vender, proteger os rios, as nascentes de minas para que possamos ter água limpa (A-12). Não queimar as florestas, jogar lixo no lixo, não desmatar, não caçar animais extintos/exóticos, usar menos agrotóxicos (A-14). Não jogar lixo no chão, não desmatar as florestas, não poluir parando de andar um pouco de carro. Plantando mais árvores, melhorar o ar que respiramos (A-25). Nessa temática os alunos puderam perceber que inúmeros problemas ambientais surgiram nos últimos tempos, acarretando sérios problemas que vêm comprometendo tanto a qualidade do solo, quanto da água, quanto do ar e, por conseguinte, o equilíbrio dos ecossistemas. Podemos perceber, mais uma vez, que o problema é o „desmatamento‟. Para aprofundar o estudo sobre os ecossistemas brasileiros, os alunos buscaram mais informações em livros didáticos, em sites, em revistas e com moradores da região, a fim de conhecer os problemas que vêm ocorrendo nas últimas décadas com relação à destruição do meio ambiente. Procuraram identificar e conhecer melhor as características de cada um dos ecossistemas e identificar seus respectivos animais e plantas, levando em conta as mudanças de clima, impactos ambientais e flora ameaçadas de extinção. Nesse sentido, os alunos finalizaram essa atividade descrevendo um texto com o tema „As mudanças que estão ocorrendo em ralação ao meio ambiente‟. Como exemplo, segue abaixo uma cópia dos textos elaborados pelos alunos (A-06) e (A-14). Texto 1 Está ocorrendo várias mudanças em relação ao Meio Ambiente, como as queimadas, as enchentes, as cheias, a poluição do ar, da água, do solo em relação aos agrotóxicos, o desmatamento, o tráfico ilegal de plantas e animais silvestres. Com o Programa da Prof. Marta me conscientizou que não pode poluir, e eu decidi ajudar o Meio Ambiente, porque se continuar desse jeito o mundo irá acabar logo, logo. Os animais vão morrer as águas de rios, lagos e mares vão secando e as geleiras acabando. A natureza pede socorro, as matas pedem conservação e não desmatamento, os bichos pedem preservação, o ar não quer poluição, a água não quer contaminação, e o homem, Há, Há, não sabe o que é solução. Nós temos que reflorestar esse nosso mundo por que ele está morrendo e junto com ele nós estamos juntos (A-06). Texto 2 Em todos esses trabalhos, pesquisas, eu aprendi que é muito importante cuidar do meio ambiente, que não devemos jogar lixos nas ruas e em nenhum outro lugar, somente em lixos/lixeiras. E também não devemos desperdiçar água, pois ela é muito importante para todos nós. Existe várias espécies de animais e plantas que eu não conhecia, nem sabia que existia, porque mesmo sabendo que estavam em extinção, muitas pessoas cortavam árvores e caçava animais extintos. Se parassem de cortar árvores teríamos um mundo melhor, com um ar um pouco mais fresco e limpo. O veneno que passam faz muito mal a nossa saúde e ao ar. Devemos cuidar muito bem das florestas, água, ruas, ar, e do nosso mundo, pois nossos filhos e netos um dia virão e terão que cuidar muito bem disso tudo também para a próxima geração. Se jogarmos lixos nas ruas, quando chover esses lixos entupirão os bueiros a provocam enchentes. Se quisermos viver em um mundo melhor com ar puro e águas limpas temos que cuidar muito bem do nosso mundo (A-14) Observamos que esta pesquisa foi de grande valia para buscar conhecimentos e conceitos que foram utilizados na elaboração de textos descritos a posteriori pelos alunos. Dessa forma, por meio dessa atividade, percebeu-se o envolvimento e a satisfação de todos ao retratarem os problemas atuais sobre o meio ambiente em que vivemos. 4.5 Análise e Discussão dos Resultados Referentes ao GTR Os resultados apresentados nesta pesquisa foram concomitantemente disponibilizados no curso de formação continuada fornecido pela Secretaria de Estado de Educação (SEED), intitulado Grupo de Trabalho em Rede (GTR), em que participam os profissionais da educação paranaense, sendo desenvolvido por meio de cursos na modalidade de Educação a Distância (EaD), tendo como espaço de estudo o ambiente virtual Moodle. O GTR diz respeito aos Projetos de Intervenção Pedagógica desenvolvidos pelos professores egressos no PDE (Plano de Desenvolvimento Educacional). Assim, todas as ações desenvolvidas neste estudo foram partilhadas na plataforma Moodle, tendo os professores PDE a responsabilidade em tutoriar, desenvolver, avaliar e aplicar todas as etapas pertinentes ao curso. Por isso o título do GTR é o mesmo do trabalho desenvolvido com os alunos: “Repensar o Ensino de Ciências para um planeta sustentável por meio de reflexões e atividades de sensibilização ecológica”. Cinco (5) cursistas participaram do GRT, não havendo desistência, e todos realizaram os módulos do curso com bastante interesse e entusiasmo, fazendo-o pelo conteúdo do Caderno Pedagógico. Assim, cumpriram as atribuições de participação e avaliação, sendo elas: participação e interação no Fórum de Discussão, e realização da tarefa de Diário de Bordo. A participação e interação no Fórum de Discussão foram produtivas e enriquecedoras, bem como propiciaram e favoreceram a troca de informações, opiniões e estudos relacionados ao tema proposto, melhorando o conhecimento acumulado. Quanto às tarefas do Diário de Bordo, os cursistas atenderam às determinações de formatação, bem como os conteúdos apresentados trouxeram importantes subsídios acerca dos estudos propostos. No tocante às atribuições de tutoria, podemos conjecturar que esta foi uma experiência ímpar e gratificante, uma vez que, mesmo virtualmente, foram estabelecidas relações de amizade e de parceria com os cursistas. Enfatizamos que essas relações propiciaram contribuições que validaram os objetivos e as intencionalidades deste projeto. 5 Considerações Finais Por meio deste estudo foi possível perceber que os alunos estão atentos às mudanças que estão ocorrendo com o meio ambiente de sua região. Várias problemáticas ambientais foram apontadas, dentre elas, o tratamento do lixo no município, o uso inadequado de agrotóxico e a qualidade da água nos rios. Quanto aos conceitos ecológicos trabalhados na disciplina de Ciências, a realização deste trabalho proporcionou a contextualização por parte dos alunos. Com o estudo do meio realizado mediante uma visita no Clube Campestre, trabalhamos os conceitos inerentes à ciência da ecologia. Alguns alunos tiveram um conceito coerente sobre ecossistema, porém a maioria se ateve aos aspectos naturais, deixando de associar a integração entre seres vivos e não vivos. Quando indagados sobre os fatores químicos, físicos e biológicos presentes naquele local, os alunos reconheceram os fatores, mas apresentaram certa dificuldade em reconhecer como um depende do outro no ambiente observado. Ademais, os alunos detectaram com facilidade os vários impactos ambientais, pois, mesmo sabendo que a área era de lazer, não deixaram de ver com preocupação a destruição das árvores para a construção de obras que serviram de lazer para as pessoas. No que se referente à Ecologia e Educação Ambiental e seus desdobramentos por meio da análise de um filme temático, buscou-se envolver os alunos sobre os conhecimentos de Ecologia e estimular o pensamento crítico acerca das relações com a Educação Ambiental. Os alunos perceberam as ações humanas que degradam o meio ambiente, tais como desmatamento, produção de lixo em larga escala e consumismo, bem como alguns conceitos ecológicos, mais especificamente os relacionados às relações ecológicas: predação e competição. Os alunos também identificaram, por meio dos personagens do filme, os conceitos de espécie, população e comunidade. Os alunos também conseguiram identificar, no local onde residem, situações semelhantes às demonstradas no filme, especialmente o desmatamento para a construção da cidade e, por conseguinte, a extinção e migrações de espécies animais que viviam nessa região. Com relação aos impactos ambientais, solicitamos aos alunos que citassem os prejuízos correspondentes ao desmatamento e à produção de lixo, problemas mais evidentes em seus registros. Os alunos associaram essas preocupações com outros problemas ambientais, tais como: aumento do efeito estufa, animais fora do seu nicho ecológico, destruição da camada de ozônio e o aparecimento de doenças. Por meio da pesquisa realizada pelos alunos, foi verificado que, na região, algumas décadas atrás havia uma biodiversidade rica em fauna e flora, bem como foram introduzidas espécies de plantas de outras regiões, como o eucalipto, que se adaptou bem e está sendo utilizado para o consumo a favor do homem. Esta pesquisa foi de grande valia para a elaboração de textos pelos alunos, os quais demonstraram envolvimento e satisfação ao discorrerem sobre problemáticas ambientais de sua região e apontamentos de soluções. Assim, a efetivação dessas atividades realizadas com os alunos de 6ª série do ensino fundamental, cursistas do GTR e comunidade permitiu a compreensão do tema Meio Ambiente e Educação ambiental de maneira contextualizada, além de revisar atitudes, crenças, criticas e valores, possibilitando uma postura profissional mais consciente, permeada por conteúdos de cidadania e reflexões filosóficosociais, contribuindo dessa forma para um planeta sustentável. Referências AMARO, Ana; PÓVOA, Andréia; MACEDO, Lúcia. A arte de fazer questionário. (2004). Disponível: <www.jcpaiva.net/getfile.php?cwd=ensino/cadeiras/metodol/>. Acesso em: 5 maio 2011. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 1977. BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais. Meio ambiente. / Brasil: MEC, l996. BRASIL. Parâmetros em Ação. Meio ambiente na escola. Caderno de apresentação. Brasília: MEC, 2001. BRASIL, Anna Maria; SANTOS, Fatima. Equilíbrio ambiental & resíduos na sociedade moderna. 3. ed. 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