PERFIL DAS MULHERES ATENDIDAS NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE ALEGRETE PARA REALIZAÇÃO DO EXAME PAPANICOLAOU SANTOS, Aniúsca Vieira dos1; COSER, Janaina2 Palavras-chave: Saúde Pública. Rastreamento. Câncer cervical Introdução Anualmente, são estimados cerca de 500.000 novos casos de câncer do colo do útero no mundo, e 230.000 mortes de mulheres por essa doença a cada ano. Isso resulta no segundo tipo de câncer mais frequente na América Latina, possuindo alta incidência entre as brasileiras, cerca de 17 casos a cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2011a). Este tipo de câncer manifesta-se em mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos, aumentando rapidamente o risco até atingir seu pico, entre 50 e 60 anos. Além da idade, outros fatores estão relacionados ao aumento do risco de desenvolver esta doença, são eles: sociodemográficos, comportamentais, imunológicos, reprodutivos e sexuais. Mas, a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV) é o principal fator de risco, relacionado ao inicio do processo carcinogênico no colo uterino (BRASIL, 2011a). Na maioria dos casos, a doença evolui de forma lenta, passando por fases pré- clínicas detectáveis e curáveis (CASARIN, 2011). Devido a isso, a realização do exame citopatológico preventivo, também conhecido como exame Papanicolaou, constituiu-se na principal estratégia utilizada para rastreamento de lesões pré-invasoras, permitindo através do diagnóstico precoce, interromper o curso natural da doença (BRASIL, 2011b). Apesar da alta sensibilidade do exame citopatológico, diversos estudos têm demonstrado que há um aumento na taxa de resultados falso-negativos. Dessa forma, é imprescindível garantir a organização, a integralidade e a qualidade dos programas de rastreamento, bem como a conscientização das pacientes quanto à importância da realização do exame preventivo e a periodicidade do mesmo, pois dentre todos os tipos câncer, o câncer do colo uterino é o que apresenta maior potencial de prevenção e cura, se detectado precocemente (AMARAL et al., 2006). Portanto, este estudo tem como objetivo avaliar as características das mulheres que realizam o exame Papanicolaou nas Unidades Básicas de Saúde da cidade de Alegrete, RS. 1 2 Acadêmica do curso de Biomedicina – Universidade de Cruz Alta, Cruz alta, RS. [email protected] Docente do Curso de Biomedicina - Universidade de Cruz Alta. [email protected]. Material e Métodos O presente estudo, caracterizado como observacional transversal prospectivo, foi desenvolvido nas Unidades Básicas de Saúde do município de Alegrete-RS, com mulheres atendidas para coleta do exame preventivo do câncer do colo do útero. Foram obtidos dados epidemiológicos, comportamentais e sóciodemográficos a partir da requisição do exame citopatológico de sete Unidades de Saúde: Posto de Saúde Bairro Macedo, Posto de Saúde Nova Brasília, Posto de Saúde Saint Pastous, Posto de Saúde Vila Piola, Posto de Saúde Vila Prado, Posto de Saúde Nova Brasília, e Posto de Atendimento Médico (PAM). Considerando os aspectos éticos, este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Cruz Alta, através do protocolo nº 01784012.3.0000.5322. Resultados e Discussão No período de março a novembro de 2012 foram coletadas amostras citológicas de 298 mulheres, com idade média de 38,41 anos (±13,78), variando de 15 a 76 anos. Observouse que a maioria das mulheres possui faixa etária indicada pelo INCA para a realização do exame de Papanicolaou, ou seja, mulheres com idade entre 25 e 64 anos que já tiveram relação sexual. A priorização desta faixa etária como a população-alvo justifica-se por ser a de maior ocorrência das lesões de alto grau, passíveis de serem tratadas efetivamente para não evoluírem para o câncer. Segundo a OMS, a incidência deste câncer aumenta nas mulheres entre 30 e 39 anos de idade e atinge seu pico na quinta ou sexta décadas de vida. Antes dos 25 anos prevalecem às infecções por HPV e as lesões de baixo grau, que regredirão espontaneamente na maioria dos casos e, portanto, podem ser apenas acompanhadas conforme recomendações clínicas. Após os 65 anos, por outro lado, se a mulher tiver feito os exames preventivos regularmente, com resultados normais, o risco de desenvolvimento do câncer cervical é reduzido devido sua lenta evolução (BRASIL, 2011b). A avaliação dos dados da anamnese indica que a maioria das mulheres já havia realizado o exame preventivo alguma vez na vida, sendo que para a maioria o último exame foi realizado há um ano (62,7%) (Tabela 1). No Brasil a rotina recomendada para o rastreamento de câncer do colo uterino é a repetição do exame Papanicolaou a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como objetivo reduzir a possibilidade de um resultado falso-negativo na primeira rodada do rastreamento. A periodicidade de três anos tem como base a recomendação da OMS e as diretrizes da maioria dos países com programa de rastreamento organizado. Tais diretrizes justificam-se pela ausência de evidências de que o rastreamento anual seja significativamente mais efetivo do que se realizado em intervalo de três anos (WHO, 2007). Tabela 1. Características das mulheres que realizam o exame Papanicolaou nas Unidades Básicas de Saúde da cidade de Alegrete, RS Características n (%) Faixa Etária (anos) < 25 57 (19,2%) 25 – 34 76 (25,5%) 35 – 44 70 (23,5%) 45 – 54 56 (18,8%) 55 – 64 27 (9,0%) ≥ 65 12 (4,0%) Escolaridade Analfabeta 1º grau completo 1º grau incompleto 2º grau completo 2º grau incompleto Não informado 02 (0,6%) 37 (12,5%) 121 (40,6%) 62 (20,8%) 01 (0,4%) 75 (25,1%) Anticoncepcional oral Sim Não Não informado 118 (39,5%) 173 (58,1%) 07 (2,4%) Último exame Papanicolaou 1ª vez menos de 01 ano 01 ano 02 anos 3 anos ou mais Não sabe Não informado 23 (7,7%) 20 (6,7%) 187 (62,7%) 32 (10,7%) 17 (5,8%) 15 (5,0%) 04 (1,4%) Além disso, a maior parte do grupo apresentava nível de escolaridade de 1º Grau incompleto (40,6%), demonstrando que o baixo nível de instrução não influenciou para a não realização do exame de prevenção contra o câncer do colo do útero, ao contrário de outros achados da literatura brasileira e mundial, que relatam que a realização do exame está geralmente relacionada ao maior nível de instrução (AMORIN et al, 2006 ). Quanto aos métodos contraceptivos, ainda não está estabelecida a verdadeira relação entre o contraceptivo oral e a neoplasia cervical. No presente estudo, a maioria das mulheres (58,1%) não usava anticoncepcional oral (Tabela 1). Presume-se que o uso prolongado por mulheres sexualmente ativas funcione como cofator para o estabelecimento da infecção pelo HPV e desenvolvimento das lesões intra-epiteliais. Porém, este estudo diferentemente dos demais encontrou maior porcentagem de mulheres que não utilizam o anticoncepcional oral como método contraceptivo de escolha (CASTELLSAGUE, MUÑOS, 2003). Conclusão Os resultados apontam que a faixa etária encontrada contempla a indicada para o rastreamento do câncer do colo do útero no município de Alegrete, sendo constatado também que a maioria das mulheres realiza o exame preventivo anualmente, mesmo com baixo nível de escolaridade. Referências AMARAL,R.G.; RIBEIRO,A.A.; MIRANDA,F.A.; TAVARES, S.B.N.; SOUZA, N.L.A.; MANRIQUE, E.J.C.; ALBUQERQUE, Z.B.P., FONSECHI-CARVASAN, G.A. Fatores que podem comprometer a qualidade dos exames citopatológicos no rastreamento do câncer do colo do útero. RBAC, v. 38, n. 1, p. 3-6, 2006. AMORIN, V.M.S.L, BARROS, M.B.A, CÉSAR, C.L.G, CARANDINA, L., GOLDBAUM, M. Fatores associados a não realização do exame de papanicolaou: um estudo de base populacional no Município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saude Publica, v. 22, n. 11, p. 2329-38, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde; Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: 2011a. BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero. Rio de Janeiro: INCA, 2011b. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/Titulos/Nomenclatura_colo_do_utero.pdf). CASARIN, R.M; PICOLLI, E.C.J. 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