COMPUTAÇÃO QUÂNTICA *Ana Carolina de Oliveira **Alceu Renato Teixeira Duarte ** Antonio Eduardo da Costa **Elton Benedito Lazarim **Paulo Messias Leoncio de Sá * Doutoranda em Engenharia Elétrica (UNESP). Mestre em Matemática Aplicada (UNESP). Graduada em Matemática e Física (UNESP). Docente no Ensino Superior (UNORP). ** Aluno de graduação em Engenharia da Computação (UNORP). Resumo: A computação quântica surgiu no início dos anos 80 em resposta às previsões de esgotamento da atual tecnologia da computação até o ano de 2020. A computação quântica é a nova proposta para o processamento de informações que teve início com o físico Richard Philips Feynman (19781982). Ela traz consigo os alicerces da teoria clássica da informação, da ciência da computação e da física quântica, e tem atraído pesquisadores devido à sua potencialidade no uso do paralelismo quântico como ferramenta para resolver problemas matemáticos de maneira eficiente. Palavras-chave: Mecânica Quântica; Computação Quântica; Abstract: Quantum computing emerged in the early 80s in response to predictions of depletion of the current computer technology by the year 2020. Quantum computing is a new proposal for the processing of information that began with physicist Richard Phillips Feynman (1978-1982). She brings the foundations of classical theory of information, computer science and quantum physics, and has attracted researchers because of its potential use of quantum parallelism as a tool for solving mathematical problems efficiently. Keywords: Quantum Mechanics, Quantum Computation; Introdução A Mecânica Quântica é, sem dúvida, uma das mais importantes descobertas do século XX, há 30 anos se uniu com a teoria da computação, originando um novo campo de pesquisa, a computação quântica e a informação quântica, nos quais são manipuladas através das propriedades quânticas dos sistemas. Percebeu-se que a mecânica clássica era incapaz de explicar todos os fenômenos que ocorrem em partículas muito pequenas. Em oposição ao determinismo do mundo clássico, a mecânica quântica é regida por probabilidades e incertezas. São dois os princípios básicos da quântica: A energia é quantizada, apresentando-se sempre como múltiplos inteiros de uma constante. Toda partícula também tem um comportamento ondulatório. Um computador quântico é um dispositivo que executa cálculos fazendo uso direto de propriedades da mecânica quântica, tais como sobreposição e emaranhamento. O fenômeno do emaranhamento quântico por si só tem uma história notável na física - previsto por Albert Einstein em 1935, foi comprovado experimentalmente só nas décadas de 1970 e 1980. Einstein, na verdade, concebeu a primeira teoria do fenômeno para tentar mostrar que a física quântica seria inconsistente. Segundo ele, ela previa que duas partículas de luz poderiam ficar conectadas por uma ―ação fantasma à distância‖, de modo que uma alterasse o estado da outra instantaneamente ao ser manipulada. Paulo Nussenzveig [1] do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, juntamente com outros físicos publicaram recentemente na revista americana Science um artigo mostrando como manipular feixes de laser de três cores diferentes para obter seu ―emaranhamento quântico‖ — ou seja, mesmo separados, eles compartilham propriedades, como se obedecessem a uma espécie de ―telepatia‖. O artigo ganhou destaque no mundo científico, por dois motivos. Primeiro, porque era inédita a verificação do emaranhamento com três cores. Outros experimentos já haviam sido feitos com feixes da mesma cor, ou seja, da mesma freqüência. Depois, porque a equipe da USP também constatou outro fenômeno, a chamada morte súbita do emaranhamento, uma cessação repentina do relacionamento quântico entre os feixes de luz. Essas descobertas podem ajudar a abrir caminhos que levem a tecnologias futuras, como o computador quântico e a transmissão de dados com super velocidade, favorecendo a internet quântica. Teoricamente, computadores quânticos podem ser implementados e o mais desenvolvido atualmente trabalha com poucos q-bits de informação. O principal ganho desses computadores é a possibilidade de resolver, em tempo eficiente, alguns problemas que na computação clássica levariam tempo impraticável, como por exemplo: fatoração e busca de informação em bancos não ordenados. Resultados e Discussões Até o início do século 20, os físicos eram capazes de explicar fenômenos naturais usando duas amplas teorias: as Leis da Mecânica de Newton e o Eletromagnetismo de Maxwell. Em conjunto eles constituem a chamada física clássica: A mecânica de Newton estuda o movimento dos corpos, como as órbitas dos planetas e a trajetória de projéteis. O eletromagnetismo de Maxwell estuda os fenômenos eletromagnéticos, como a luz e as ondas de rádio. O poder da mecânica clássica parecia tão grande, durante os séculos 18 e 19, que um dos sucessores de Newton, Laplace, sugeriu que dado o completo conhecimento de todas as partículas de um sistema num dado instante de tempo e um poder de cálculo ilimitado, seria possível prever o futuro e ―retrodizer‖ o passado. Entretanto, a física clássica não era capaz de explicar todos os tipos de fenômenos. Várias observações experimentais pareciam apresentar resultados contraditórios. Um exemplo clássico é a observação de que a mesma radiação que produz interferência e, portanto, deve se comportar como onda, também resulta no efeito fotoelétrico e, portanto, deve consistir de partículas. As tentativas de descrever eventos atômicos usando mecânica clássica resultavam em contradições, pois átomos e moléculas a distâncias curtas não se comportam segundo as leis da mecânica clássica. Uma nova e consistente formulação teórica começou então a ser desenvolvida na física. Ao final do século 19, o físico alemão Max Planck fez uma descoberta extraordinária. Ele descobriu que a radiação é emitida ou absorvida de tempos em tempos em pacotes de energia de tamanho definido, chamados de quanta. Ele propôs que o conteúdo de energia, E, de um destes quanta seria proporcional à freqüência de radiação, v, com uma constante de proporcionalidade h, conhecida atualmente como constante de Planck: 𝑬 = 𝒉. 𝒗, ℎ = 6,626075 × 10−34 𝐽. 𝑠, Alguns anos depois, em 1905, Einstein confirmou a teoria de Planck usando-a para explicar o efeito fotoelétrico, considerado mais uma ‗anomalia‘ na física: Os elétrons contidos em um metal podem se mover dentro dele, mas não possuem energia suficiente para escapar do metal. O efeito fotoelétrico acontece quando um feixe de luz expulsa elétrons de dentro do metal. Isso ocorre porque a radiação transfere energia para os elétrons presos dentro do metal e, se o ganho for suficiente, um elétron pode escapar das forças que o mantém preso dentro do metal. De acordo com o pensamento clássico, o coeficiente de emissão de elétrons dependeria da intensidade do feixe de luz bombardeando o metal, pois a luz era vista como uma onda eletromagnética. Entretanto, observações experimentais indicaram que a emissão de elétrons dependia da freqüência e não da intensidade da luz. Uma forma de resolver este dilema seria considerar que a luz consiste de pequenas partículas ou quanta, denominados de fótons, com uma energia proporcional à constante de Planck vezes a freqüência. Sob esta perspectiva, um elétron poderia ser ejetado após a colisão com um fóton e depois liberar toda sua energia. A intensidade do feixe de luz influencia o número de fótons emitidos e, portanto, o número de elétrons ejetados, mas apenas a freqüência influenciaria a expulsão de elétrons. Várias outras observações experimentais e teorias contribuíram para o desenvolvimento da mecânica quântica durante o século 20. Coloquialmente costuma-se descrever a Mecânica Quântica como uma teoria na qual nada é o que parece, ou o que o senso comum ou a física de Newton levam a acreditar. As coisas mudam quando se olha para elas. Os objetos se comportam de modo imprevisível. De acordo com o princípio da incerteza, que emerge da teoria quântica, nada pode ser medido tão precisamente quanto se deseja, pois o simples fato de medir afeta o estado daquilo que se mede. Pode-se seguramente afirmar que a Mecânica Quântica é a mais bem sucedida teoria em física. Desde a sua criação até os dias de hoje ela tem sido aplicada em diversos ramos, desde a física de partículas, física atômica e molecular, na astrofísica e na matéria condensada. A teoria quântica representa, em muitos aspectos, uma espécie de generalização da mecânica clássica, fornecendo descrições plausíveis para fenômenos de natureza corpuscular, que ocorrem em escalas microscópicas e sub-microscópicas, tais como a radiação de corpo negro, a natureza das órbitas estáveis do elétron, a origem da energia de ligação de um núcleo, entre muitos outros. A palavra Quântica (do Latim, quantum) caracteriza quão expressiva é uma quantidade; a palavra se refere porém, na mecânica quântica, como sabemos, a uma porção discreta atribuída a certas quantidades físicas, como a energia de um fóton de luz. Foi a descoberta de que as ondas eletromagnéticas podem ser explicadas como uma emissão de pacotes de energia (chamados de quanta) que conduziu à mecânica quântica. Em física, denominamos com a palavra sistema a um ―fragmento‖ da realidade, fragmento este que é ―separado‖ para estudo. Dependendo do caso, a palavra sistema pode referir-se por exemplo a um elétron ou a um próton, a um átomo de hidrogênio ou ao átomo de urânio, a uma molécula isolada ou a um conjunto de moléculas interagentes formando um sólido ou vapor. A especificação de um sistema físico compreende a predição, por meio de uma abordagem teórica baseada em modelos da realidade, de valores numéricos que caracterizem suas propriedades físicas, e a subseqüente ou pré-existente determinação, confirmação ou negação, por meio da experimentação, destas predições. É importante ressaltar que sistemas físicos podem evoluir com o tempo. Isto significa dizer que um dado sistema, submetido à idênticas fases de preparo para uma dada realização experimental, pode dar origem a resultados experimentais distintos, dependendo do instante de tempo em que uma determinada medida é realizada. Essa idéia conduz a um conceito fundamental na mecânica quântica: o conceito de estado. Um estado é uma forma abstrata de representação das propriedades físicas de um sistema em função do tempo. Neste contexto, cada sistema, ou componente de um sistema, ocupa, em um dado instante de tempo, um estado. E às leis da física compete ―regular‖ como o sistema evolui, de um estado a outro, com o passar do tempo. Por outro lado, variáveis que são bem determinadas na mecânica clássica, são substituídas, na mecânica quântica, por grandezas cuja determinação esta associada à uma interpretação probabilística da natureza. Isto porque, no mundo quântico nos deparamos com aspectos que são essencialmente distintos daqueles encontrados no mundo clássico. Dentre estes ressaltamos: a existência de processos não determinísticos e irreversíveis; o fenômeno do entrelaçamento quântico, algumas vezes chamado de emaranhamento, foi o que Albert Einstein chamou de "ação fantasmagórica à distância" - ele permite que as partículas compartilhem informações instantaneamente, mesmo estando fisicamente separadas por grandes distâncias, e as conseqüências do Principio da Complementaridade, enunciado pela primeira vez pelo físico dinamarquês Niels Bohr. Segundo ele, as características de onda e partícula são complementares e nunca se manifestam simultaneamente, ou seja, se fizermos um experimento no qual fique claramente caracterizada a natureza ondulatória de um objeto quântico, suas características de partícula não irão se manifestar; e vice-versa. O poder computacional tem crescido a uma taxa exponencial e isso se deve principalmente ao avanço das tecnologias de fabricação dos componentes que os compõem e à miniaturização do transistor que é o componente básico dos computadores atuais. Quanto menor um transistor se torna, maior é a quantidade desses elementos que podem ser colocados em um único chip mantendo-se as mesmas dimensões. Figura 1: Gráfico exemplificando a Lei de Moore Porém, esse processo de miniaturização está próximo de atingir um limite físico imposto pela natureza. Se o transistor for diminuído até a escala de dezenas de nanômetros, ele deixará de ser um objeto regido pelas leis da mecânica clássica e seu comportamento só poderá ser explicado e previsto através da mecânica quântica (BONK, 2005). A partir dessas limitações em se fabricar chips com números cada vez maiores de transistores é que uma nova tecnologia vem sendo desenvolvida por pesquisadores no mundo todo. A junção de algo que foi tão revolucionário, a computação, e uma das teorias mais poderosas da física, a mecânica quântica, sugere que uma tecnologia que se baseie nesses dois pilares do mundo moderno seja capaz de conduzir a mais uma revolução nas próximas décadas (BONK, 2005). Desde as primeiras idéias sobre computação quântica, vários experimentos vêm sendo realizados buscando a implementação e execução das chaves lógicas e algoritmos quânticos. Conclusão O campo de computação quântica está crescendo rapidamente, uma vez que várias universidades e companhias de computação estão pesquisando este assunto. Espera-se que este ritmo cresça com o fato de que mais pesquisa tem sido feita em aplicações práticas. Apesar de máquinas práticas estarem anos a frente da nossa atual tecnologia, esta idéia antes apenas imaginária e longínqua tem se tornado cada vez mais tangível. Resultados bons já têm sido obtidos, como a construção de uma máquina quântica funcional através da ressonância magnética nuclear (NMR), pela IBM, ou pelos experimentos em pequena escala envolvendo implementações baseadas em fótons. Talvez o mais importante desafio a partir de agora é construir um registrador quântico suficientemente grande com qubits individualmente endereçáveis. O que poderá ser visto em um futuro próximo será computações quânticas feitas em registradores quânticos incrementalmente maiores. Métodos como NMR parecem muito adequadas a tais realizações no atual estágio. Outro desafio seria a concepção de novos algoritmos quânticos. Trata-se de uma tarefa árdua, pois deve-se pensar nas propriedades quânticas da matéria para criar os algoritmos. Ademais, os problemas a serem enfrentados devem ser tais que não exista solução correspondente no modelo de computação clássico que seja eficiente, pois seria de certa forma inútil o esforço empregado em se achar um algoritmo quântico. Enfim, há muito o que ser descoberto na área, que é indubitavelmente promissora, tanto na área de arquitetura de computadores, quanto na teoria de computação. As próximas décadas nos mostrarão os rumos que esta teoria tomará. Em se tratando das vantagens da proteção quântica, o objetivo é o mesmo: enviar mensagens cifradas. Na criptografia comum, usam-se para isso as chaves secretas. A segurança desses sistemas está na dificuldade de quebrar a chave. Há modelos matemáticos bastante desenvolvidos que garantem a complexidade dessas chaves. Se existisse alguém com um computador quântico, essa pessoa poderia quebrar com facilidade todos os códigos de criptografia hoje existentes. A criptografia quântica não se baseia na complexidade do tratamento das informações. Ela se fundamenta numa das estranhezas do mundo quântico: certas propriedades são incompatíveis entre si. Um dos princípios da mecânica quântica diz que se você tenta medir certas propriedades de uma partícula, altera essas propriedades. Assim, quando se enviam dados por criptografia quântica, se alguém tenta interceptar esses dados, por definição os modifica. Portanto, a proteção das informações depende da própria natureza do meio físico. Isso não é 100% seguro, porque nenhum sistema é ideal, mas representa uma substancial mudança de paradigma. Em vez de usar chaves difíceis, posso montar sistemas que usam as propriedades intrínsecas da matéria. Agradecimentos Dedicamos este trabalho a Deus, “Razão de tudo o que somos e fazemos”... Referências [1] Coelho, A.S.; Barbosa, F.A.S.; Cassemiro K.N.; Villar, A.S.; Martinelli, M.;. Nussenzveig, P; Three-Color Entanglement, Science, vol. 326. no. 5954, pp. 823 – 826, 2009. 2 Mosca, G. Tipler, P.A. Física Para Cientistas e Engenheiros Vol.3, Ed. LTC, 3 .Nielsen, M.A; Chuang, I.L.Computação Quântica e Informação Quântica, Ed. Bookman, Porto Alegre, 2005. 4 Nussenzveig, H.M. Curso de Física Básica, Ótica, Relatividade, Física Quântica, Ed. Blucher, São Paulo, 1998. 5 .Oliveira, I.S; Sarthour, S.R. Computação Quântica e Informação Quântica, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Janeiro de 2004. [6] Piza, A. F. R, Mecânica Quântica Editora da Universidade de São Paulo, 2003; [7] Portugal, R. Lavor, C. C. Carvalho, L.M. and Maculan, N. Uma introdução à Computação Quântica, volume 8 of Notas em Matemática Aplicada. Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC), São Carlos. 1st edition, 2004. Também disponível em http:// www.sbmac.org.br