XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Uma proposta de sistema de medição de desempenho aplicado à área de desenvolvimento de sistemas em empresas de serviços financeiros Gérson Máximo Tiepolo (CEFET-PR) [email protected] Marcelo Giroto Rebelato (PUCPR) [email protected] Resumo Existe atualmente um grande número de obras que exploram o tema medição de desempenho empresarial. Como e o que medir é, no entanto, a questão mais difícil para se estabelecer um bom sistema de medição de desempenho. Para os serviços financeiros, pouquíssima literatura se pode encontrar sobre este assunto. Neste tipo de serviço, em que as saídas dos processos são intangíveis, talvez as dificuldades sejam ainda maiores. Este artigo tem o objetivo de propor um sistema de medição de desempenho aplicado à área de informática em empresas de serviços financeiros. Palavras chaves: Medição de Desempenho, Indicadores de Desempenho, Sistema de Medição de Desempenho. 1. Introdução No setor financeiro nacional, a acirrada concorrência ocorrida nos últimos anos proporcionada pela entrada de diversas instituições estrangeiras no mercado nacional, fez com que o nível de competitividade se elevasse drasticamente. Diante disso, as empresas do setor investiram maciça e rapidamente na aquisição de recursos humanos e tecnológicos com o intuito de ainda permanecerem competitivos no mercado. O acirramento da competição faz, naturalmente, com que as organizações busquem novas e melhores formas para produzir e também de medir seu desempenho. Porém, o rápido crescimento do mercado financeiro que se registra recentemente fez com que muitas empresas se preocupassem muito mais em expandir seus negócios, relegando a um segundo plano o investimento necessário ao seu parque tecnológico (hardware, software, pessoas, infraestrutura, etc.). Talvez isso se dê pelo fato de que muitas empresas não sabem exatamente os rumos deste crescimento, nem o que deveriam fazer para controlar melhor seus processos, nem tampouco sabem se os controles internos atuais são eficientes. Isto demonstra a fragilidade da estratégica de negócio e a falta de consistente medição do desempenho da organização. Neste setor de serviços em especial, o papel da área de informática tem grande importância em relação ao sucesso da organização em alcançar seus objetivos estratégicos. É ela quem fornece o suporte operacional para que a organização possa desempenhar o seu papel no mercado como provedora de serviços para os mais diversos segmentos do mercado. Porém, a escolha de quais indicadores medir e monitorar está vinculada a uma decisão anterior sobre a estratégia competitiva da empresa, a qual pode ser de cinco diferentes tipos: custo, qualidade, tempo, flexibilidade e inovação (MUSCAT e FLEURY, 1993). Cada uma destas estratégias será incorporada ao produto/serviço através de atributos do mesmo: preço, design, durabilidade, rapidez de entrega, mix de produtos, etc. Neste contexto, com base numa estratégia competitiva genérica (não definida), este artigo tem como objetivo propor um sistema de medição de desempenho a ser aplicado em empresas de serviços financeiros especificamente na área de desenvolvimento de sistemas. ENEGEP 2004 ABEPRO 1298 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 2. Indicadores de Desempenho e Sistema de Medição de Desempenho (SMD) Uma “medida de desempenho” pode ser definida como uma métrica utilizada para quantificar a eficiência e/ou efetividade da ação, onde a medição de desempenho é o processo de quantificar a eficiência e a efetividade da ação (NEELY, 1995). Os principais indicadores de desempenho das empresas não se limitam apenas aos dados financeiros. Qualidade, satisfação dos clientes, inovação, participação de mercado – medidas como estas geralmente refletem a situação econômica e as perspectivas de crescimento da empresa melhor do que o lucro dos relatórios financeiros. A dependência em relação ao departamento de contabilidade para antever o futuro da empresa deixará a organização desesperadamente atolada no passado (ECCLES, 1991). Entre os especialistas que enfatizam a utilização de indicadores de desempenho, além dos financeiros, destacam-se Kaplan e Norton com o Balanced Scorecard (BSC). O BSC é um conjunto de medidas que dá aos altos administradores uma rápida, porém compreensiva visão dos negócios. É capaz de orientar os administradores na utilização de medidas referentes à satisfação do cliente, processos internos, e a inovação e aprimoramento dos processos (KAPLAN, 1996). A medida de desempenho é vista como uma parte integrante do ciclo de controle estratégico que: ajuda os administradores a identificar bons desempenhos; torna explícitos os trade–offs entre lucros e investimentos; provê um meio de introduzir estratégias individuais; indica aos que administradores corporativos onde intervir (NEELY, 1994). Os indicadores de desempenho são os componentes básicos de um Sistema de Medição de Desempenho (SMD). Segundo Bond (2002), o objetivo geral de um SMD é conduzir a empresa à melhoria de suas atividades , pelo fornecimento de medidas alinhadas com o ambiente e os objetivos estratégicos, de forma a permitir o monitoramento do progresso no sentido de atingir esses objetivos. Essas medidas podem ser vistas como a essência da melhoria de desempenho. Um SMD pode ser definido como “o processo responsável em quantificar igualmente eficácia e eficiência através de um conjunto de medidas de desempenho definidas” (NEELY, 1995). Para este autor, um SMD pode ser investigado através de três diferentes níveis (figura 1): 1. A medição de desempenho individual; 2. O conjunto de medidas de desempenho – o sistema de medição de desempenho (SMD) como uma entidade integrada; 3. O relacionamento entre o SMD e o ambiente com o qual ele opera. A figura 1 mostra que o conjunto das medidas individuais e seus relacionamentos formam o sistema de medição de desempenho. Para Martins (1998), é importante ressaltar que a existência de um sistema de medição de desempenho inadequado pode ser tão maléfico quanto a inexistência de um. O sistema inadequado pode induzir os funcionários a abordarem incorretamente os problemas ou, então, direcioná-los para soluções erradas. Isso pode acontecer quando o sistema de medição de desempenho está desalinhado com a estratégia da empresa. ENEGEP 2004 ABEPRO 1299 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Meio Ambiente Medidas Individuais Sistema de Medição de Desempenho Medidas Individuais Medidas Individuais Medidas Individuais Fonte: (Adaptado de NEELY et al, 1995) Figura 1 – Sistema de Medição de Desempenho 4. Desenvolvimento de um sistema de medição de desempenho aplicado à área de desenvolvimento de sistemas em empresas de serviços financeiros O sistema aqui desenvolvido é aplicável a empresas de serviços bancários, especificamente na área de desenvolvimento de sistemas. Esta é a área que fornece o suporte computacional necessário para que ocorram todos os tipos de transações na empresa como comercialização de produtos, transferências, débitos, créditos, análise de resultados, etc. Estes sistemas são, via de regra, desenvolvidos pelas próprias empresas, conforme sua necessidade. 4.1 Como funciona a área de desenvolvimento de sistemas A seguir, tem-se o modelo operacional utilizado na área de desenvolvimento de sistemas, conforme (figura 2). Meio Ambiente Modelo Operacional Sub-sistema 03 Sub-sistema 01 - Construção e testes iniciais - Análise da viabilidade do projeto e especificação negocial Sub-sistema 04 - Homologação e implantação do sistema. Sub-sistema 02 - Especificação técnica do sistema a ser desenvolvido pela área de desenvolvimento de sistemas Sub-sistema 05 -Análise do sistema após implantação. Figura 2 – Modelo Operacional ENEGEP 2004 ABEPRO 1300 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Depois desta etapa de identificação, segue-se a análise da proposta de serviços para a aprovação, pela diretoria comercial. A aprovação somente ocorre após a verificação do alinhamento do projeto com as estratégias da organização. Nesta etapa o projeto também é analisado pela empresa com respeito à expectativa de ganhos e oportunidades de negócio. No sub-sistema 01 é elaborado um estudo mais detalhado do projeto onde são estimados os esforços necessários e os custos para o seu desenvolvimento. Este estudo é realizado pela área de apoio ao desenvolvimento e gestão de sistemas em conjunto com a equipe de desenvolvimento de sistemas da empresa. Uma vez feito este detalhamento, é realizada a análise de viabilidade técnica do novo sistema, análise dos custos previstos, recursos necessários (pessoas e equipamentos), tempo para execução e capacitações técnicas necessárias. Uma vez identificada a viabilidade do projeto, é realizado um detalhamento de todos os processos necessários para o seu desenvolvimento, com a definição de todas a suas necessidades e características (como padrões a serem adotados, relatórios, gráficos, telas de apresentação, plataforma de execução, volume de informações a serem processadas, disponibilidade das informações, etc.). No sub-sistema 02 são definidas as funções e programas necessários para o desenvolvimento do sistema. No sub-sistema 03 inicia-se a fase de construção do software e testes iniciais. Neste subsistema, a medida em que vão se construindo funções, telas, programas, relatórios, executamse também os testes iniciais para cada processo desenvolvido. No sub-sistema 04 inicia-se a fase de homologação do projeto pela área de apoio ao desenvolvimento e gestão de sistemas. A homologação é um teste sobre a funcionalidade do sistema e a avaliação de sua adequação às necessidades iniciais determinadas. Neste subsistema, todos os processos que compõem o projeto são testados exaustivamente com uma quantidade de informações que possibilite a completa homologação do sistema. Ao final da homologação do sistema, a área de apoio ao desenvolvimento e gestão de sistemas dá um parecer quanto à viabilidade de sua implantação ou não. Com este sinal verde o sistema será implantado. No sub-sistema 05 efetua-se o acompanhamento do sistema após a sua implantação, verificando-se os resultados obtidos. É necessário que o sistema desenvolvido já tenha sido processado um determinado número de vezes para que se obtenha uma certa estabilidade antes da análise final (processamento sem falhas). É importante esclarecer que, para todos os sub-sistemas, existe uma previsão do tempo para a execução de cada processo, feita pela própria equipe responsável. 4.2 Tipos de indicadores utilizados no sistema desenvolvido Conforme sugere Neely (1995), o sistema desenvolvido baseia-se em duas dimensões de indicadores (figura 3): indicadores de eficiência (chamados aqui de indicadores de processo) e indicadores de efetividade (chamados aqui de indicadores de resultados). O objetivo dos indicadores de processo é medir o tempo de execução de cada processo. Este tempo poderá ser comparado, posteriormente, com o tempo previsto. Já o objetivo dos indicadores de resultado é medir a qualidade da saída de cada processo, em termos de erros, definições imprecisas ou omitidas em cada saída. ENEGEP 2004 ABEPRO 1301 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Entradas Indicadores de processo Processo Saídas Indicadores de resultado Figura 3 - Tipos de indicadores utilizados no sistema desenvolvido 4.3 O SMD proposto O SMD desenvolvido possui indicadores de processo e resultado para cada sub-sistema do modelo operacional (figura 4). Indicadores de processo: Tempo – a dimensão tempo é muito importante para todos os processos pois está ligada à produtividade dos recursos. Em cada processo os responsáveis pela sua execução devem medir o tempo para sua realização, que poderá, mais tarde, ser confrontado com o tempo previsto. O tempo é previsto, em cada processo, em função da experiência adquirida. Não há tempo-padrão para cada atividade já que cada projeto é único. Quantidade de recursos utilizados – a quantidade de recursos utilizados é importante, pois está diretamente ligada ao custo operacional. Em cada processo os responsáveis devem medir a quantidade de recursos utilizados em cada processo. A quantidade de recursos efetivamente utilizados poderão ser confrontados com a quantidade de recursos inicialmente previstos. Tal como o tempo previsto, os recursos são previstos com base na experiência adquirida. Indicadores de resultado: Qualidade – os indicadores de qualidade variarão para cada tipo de saída. Para cada processo deve haver um conjunto de indicadores de qualidade distinto. Os indicadores de qualidade, para cada resultado, deverão medir a quantidade de erros, falhas, definições imprecisas ou vagas, ou omissões que o resultado (saída) do sub-sistema possa conter. Assim, quem mede (indica) a qualidade do resultado é o sub-sistema “cliente”, ou seja o sub-sistema 02 é quem dá a indicação sobre o resultado do sub-sistema 01. ENEGEP 2004 ABEPRO 1302 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Modelo Operacional Sub-Sistema 01 - Análise da viabilidade do projeto e especificação do negócio SMD Indicadores Processo Sub-Sistema 02 - Especificação técnica do sistema a ser desenvolvido pela área de desenvolvimento de sistemas de Indicadores de tempo Indicadores de quantidade de recursos Sub-Sistema 03 - Construção e testes iniciais Indicadores Resultado Sub-Sistema 04 - Homologação e implantação do sistema de Indicadores de qualidade Sub-Sistema 05 - Análise do sistema após implantação Sistema pronto Figura 4 – O relacionamento entre o modelo operacional e o SMD proposto 5. Conclusão Nos dias de hoje, com a enorme disponibilidade e capacidade dos sistemas de informação, os investidores exigem maior grau de confiança nas organizações, o que faz da análise aprofundada de informações sobre o desempenho das empresas, uma prioridade, para qualquer decisão de investimento. A empresa, de posse das informações sobre o desempenho ENEGEP 2004 ABEPRO 1303 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 dos processos, pode alinhar com maior eficiência suas ações diante das oportunidades e ameaças do mercado. A pesquisa realizada dentro da literatura mostrou que, na área de serviços financeiros, muito pouco se produziu sobre medição de desempenho e sistemas de medição de desempenho. Este é um setor de negócios promissor, no que diz respeito à pesquisa e desenvolvimento de sistemas de medição de desempenho. O projeto de sistemas de medição de desempenho é principalmente um exercício cognitivo, traduzindo a visão do consumidor e outros interessados nos objetivos do negócio e medidas de desempenho apropriadas (NEELY, 1995). Este foi o princípio norteador do sistema de medição de desempenho aqui proposto. Apesar de limitar-se à área de desenvolvimento de sistemas, o esquema básico proposto para o sistema de medição de desempenho pode ser expandido para a empresa toda. A área de desenvolvimento de sistemas corporativos, em qualquer empresa, trabalha “por projeto”, isto é, está sempre desenvolvendo projetos computacionais com objetivos e aplicações diferentes. Isto faz com que não se tenham parâmetros de desempenho fixos para o desenvolvimento do trabalho. Para cada projeto, as etapas de desenvolvimento são basicamente as mesmas, porém, sua duração e a quantidade de recursos que irá requerer, pode variar enormemente. Mesmo assim, não se pode pensar que a medição do desempenho seja impossível. Para atividades que variam muito em face do seu projeto, é preciso que os indicadores de desempenho sobre o tempo previsto e a quantidade de recursos previstas para o projeto sejam estabelecidas por equipe experiente naquelas atividades. Sem a possibilidade de usar-se padrões de desempenho, as atividades efetivamente realizadas somente poderão ser confrontadas com as previsões feitas, para cada processo. Por isso, é essencial que essas previsões sejam confiáveis, o que só se pode conseguir se a equipe for capaz de fazer previsões com base nas várias experiências anteriores. Mas como saber então se as previsões são confiáveis ou não? Este é um ponto crítico nos sistemas desse tipo. Através da simples confrontação entre o planejado e o realizado (para o tempo de execução, por exemplo) não se tem uma base segura de julgamento. Durante a execução das atividades, ocorrências externas e situações adversas podem impactar no tempo efetivo das atividades, fazendo com que os processos atrasem. Como então confiar nestes tempo tomados para avaliar os tempos previstos? Isto seria uma tolice. É por isso que se constitui num ponto nefrálgico de SMDs para sistemas que trabalham por projetos. As previsões acabam sendo parâmetros muito importantes para qualquer projeto. No entanto, as perturbações ocorridas hoje durante um projeto, podem servir de parâmetros para o estabelecimento de novas previsões para projetos futuros. Referências ECCLES, R. G. The performance measurement manifesto. Harvard Business Review, v. 69, n.1, p.63-74, 1991. BOND, Emerson. Medição de Desempenho para Gestão da Produção em um Cenário de Cadeia de Suprimentos. São Paulo, Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2002. KAPLAN, Robert S. and NORTON, David P. – Using the Balanced Scorecard as a Strategic Management System – Harvard business review January-february 1996. MARTINS, R. A. Sistema de Medição de desempenho : um modelo para estruturação do uso. São Paulo, Tese (Doutorado), Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 1999. ENEGEP 2004 ABEPRO 1304 XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 MUSCAT, Antonio R.N; FLEURY, Afonso C.C. Indicadores da Qualidade e Produtividade na Indústria Brasileira. Revista Indicadores da Qualidade e da Produtividade, p.83-107,1993. NEELY, Andy; GREGORY, Mike; PLATTS, Ken –Performance Measurement System Design. A literature review and research agenda. International Journal of Operations & Production Management, Vol.15 nº 4,1995, pp.80-116. NEELY, Andy; MILLS, John; PLATTS, Ken; GREGORY, Mike and RICHARDS, Huw – Realizing Strategy through Measurement – International Journal of Operations & Production Management. Vol.14 nº3,1994, pp.140 - 152. ENEGEP 2004 ABEPRO 1305