Jose Ferreira de Souza - TEDE2 da UNIVERSIDADE

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
CANTO, ENCANTO E DESENCANTO
Estudo da tensão entre a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais
nas Igrejas Batistas da Cidade de Campinas
por
José Ferreira de Souza
São Bernardo do Campo
Novembro, 2005
2
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
CANTO, ENCANTO E DESENCANTO
Estudo da tensão entre a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais
nas Igrejas Batistas na Cidade de Campinas
por
José Ferreira de Souza
Orientador: Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva
Dissertação apresentada em cumprimento às
exigências do Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Religião para obter o grau
em mestre.
São Bernardo do Campo
Novembro, 2005
3
BANCA EXAMINADORA
PRESIDENTE: ______________________________________________
1º Examinador(a) ____________________________________________
2º Examinador(a) ____________________________________________
4
SOUZA, José Ferreira. CANTO, ENCANTO E DESENCANTO: Um estudo da tensão entre
a prática do Canto Coral frente às novas tendências musicais nas Igrejas Batistas na
cidade de Campinas. São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo,
Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião, Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Religião, 2005. (Dissertação)
SINOPSE
Nesta pesquisa desenvolvemos um estudo focado na convivência conflituosa entre a música
tradicional e a música contemporânea. Foi desenvolvida em um grupo religioso protestante
específico, intuindo investigar a hipótese de que há uma tensão entre a prática do Canto
Coral e as novas tendências musicais representadas pelas Bandas. Como procedimento
metodológico utilizamos uma pesquisa de campo que avaliou a realidade musical em
algumas Igrejas Batistas de Campinas. A partir dos resultados obtidos sugerimos ações
concretas à práxis pastoral. O primeiro capítulo propõe uma retrospectiva conceitual e
histórica do Canto Coral, avaliando sua função antes e depois do processo da reforma e da
nova mentalidade musical desenvolvida por Lutero. O segundo capítulo mostra o
desenvolvimento da pesquisa realizada junto a seis Igrejas Batistas. Tenta mensurar o gosto
musical dos membros dessas comunidades através de um estudo comparativo a partir dos
dois pólos: Canto Coral e Banda, ambos, sendo o específico de um campo maior: Tradição
e Contemporâneo. O terceiro capítulo, partindo dos impulsos obtidos, desenvolve uma
visão crítica sobre os aspectos da tradição, da aceitação à novas tendências, e da tensão
propriamente desenvolvida na convivência entre estilos musicais distintos. Mediante tal
realidade conflituosa, apresentamos um desafio à práxis pastoral no sentido de se obter
possibilidades para uma convivência musical pacífica, considerando a inserção de
elementos da contemporaneidade e da tradição na liturgia Batista.
5
SOUZA, José Ferreira. SONG, ENCHANTMENT AND DISENCHANTMENT: A study of
the tension between the practice of choral singing and new musical tendencies in Baptist
Churches in the city of Campinas. São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista
de São Paulo, Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião, Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Religião, 2005. (Dissertation)
ABSTRACT
The research presents a study of the conflicting relationship between traditional and
contemporary music. The study was based on a specific Protestant religious group, with
the objective of investigating the hypothesis that there exists a tension between the use of
choral music and new musical tendencies represented by bands. The methodology used is
that of field research which evaluated the musical reality of specific Baptist Churches in
Campinas.
Based on the results obtained, concrete actions for pastoral practice are
suggested. The first chapter proposes a conceptual and historical perspective of choral
music, evaluating its function before the Reformation, and after the new musical mentality
developed by Luther. The second chapter discusses the specific research realized in six
Baptist Churches. This research describes the musical preferences of the members of these
communities through a comparative study of the data obtained based on two poles: choral
music and bands. These poles represent the larger context of Tradition and Contemporary.
Bon the research presented, the third chapter offers a critical perspective regarding aspects
of tradition, acceptance of new tendencies, and the tension developed between these distinct
musical styles.
In the face of this conflicting relationship, the research presents the
challenge to pastoral practice of seeking a peaceful resolution of this musical relationship,
considering the insertion of contemporary and traditional elements in Baptist liturgy.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade de viver.
Minha família, mãe e irmãos, que com dedicação e carinho apoiaram- me nos momentos
cruciais da minha vida.
A minha esposa, Eloína, que soube dividir a minha atenção com os compromissos
acadêmicos.
À minha filha, Laryssa, possibilidades de inspiração.
Amigos, tais como: Reginaldo, Natanael, Felipe e Rosimeire, por todas as contribuições
dadas e pelo incentivo à reflexão e à caminhada acadêmica.
Ao CAPES, que me apoiou com bolsa durante todo o curso, o que possibilitou uma maior
dedicação à pesquisa.
À Faculdade Teológica Batista de Campinas, que tem me acolhido como docente e
oferecido sua estrutura para minha pesquisa.
À Universidade Metodista de São Paulo, com seu corpo docente e funcionários, que de
forma dedicada permitiram- me dar este passo tão importante na minha vida acadêmica.
À minha Igreja, Batista Satélite Íris, pelo apoio, incentivo e orações a meu favor.
Ao Prof. Dr. Geoval, pela orientação paciente e tão grande ajuda para o desenvolvimento
desta dissertação. A minha honrosa gratidão.
Finalmente, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o meu sucesso.
Obrigado.
7
DEDICATÓRIA
A meu pai, Antonio Alves de Souza, in memóriam, por ter-me forjado o caráter com seu
exemplo, sua vida e principalmente, seu amor incondicional.
Todas as palavras do mundo não seriam capazes de expressar minha gratidão.
Para sempre...
“MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGO”.
“A QUEM HONRA, HONRA”
8
SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO ........................................................................................................ 01
BANCA EXAMINADORA .............................................................................................. 03
SINOPSE ........................................................................................................................... 04
ABSTRACT ...................................................................................................................... 05
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... 06
DEDICATÓRIA ................................................................................................................ 07
SUMÁRIO ......................................................................................................................... 08
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 11
Capítulo 1 ........................................................................................................................... 16
CANTO CORAL: Da tradição ao Contemporâneo ....................................................... 16
Introdução .......................................................................................................................... 16
Conceito – “Coro” ou “Coral”? ....................................................................................... 16
Agrupamento ...................................................................................... 17
Forma ................................................................................................. 17
Espaço ................................................................................................ 17
Retrospectiva histórica da práxis do Canto Coral ......................................................... 18
Pré-Reforma ....................................................................................... 18
Pós-Reforma ....................................................................................... 22
O Canto Coral no contexto brasileiro ............................................................................. 25
No espaço eclesiástico ........................................................................ 25
Na cultura popular .............................................................................. 26
O Canto Coral no espaço litúrgico Batista e as novas tendências musicais ................. 26
Do Coro e seu encanto ....................................................................... 26
Uma nova consciência musical e o desencanto do Coro .................... 39
Coro como um meio de entretenimento .......................................................................... 41
Conclusões Preliminares ................................................................................................... 43
9
Capítulo 2 ........................................................................................................................... 44
EXPERIÊNCIA MUSICAL: Entre o Coro e a Banda .................................................. 44
Introdução .......................................................................................................................... 44
O formulário ...................................................................................................................... 44
Aplicação do questionário ................................................................................................ 47
Metodologia ....................................................................................................................... 47
Critérios de investigação ................................................................................................... 47
Contexto da pesquisa ........................................................................................................ 48
Região metropolitana de Campinas ................................................... 48
Contexto Estatístico Batista Campineiro ........................................... 49
1ª Igreja Batista .................................................................. 50
Igreja Batista Central .......................................................... 50
Igreja Batista do Cambuí .................................................... 50
Igreja Batista do Taquaral .................................................. 51
Igreja Batista Boas Novas .................................................. 51
Perspectivas ....................................................................................................................... 52
Análise ................................................................................................................................ 52
Dados Gerais da Pesquisa ................................................................................................. 52
Música – Tradição e Contemporaneidade: Coro e Banda ............................................ 54
Música e Reação ................................................................................................................ 58
Coro e Banda - definindo função ..................................................................................... 62
Música e Identidade .......................................................................................................... 65
O estudo de caso e seu desenvolvimento ......................................................................... 69
Conclusões Preliminares ................................................................................................... 70
Capítulo 3 ........................................................................................................................... 72
PERSPECTIVAS A PRAXIS DO CANTO CORAL NA ATUALIDADE ................. 72
Introdução .......................................................................................................................... 72
10
Canto Coral – uma questão de Identidade ..................................................................... 72
Canto Coral – uma questão de Lógica ............................................................................ 78
Coro e Banda – uma questão Dialética ........................................................................... 81
Tentativas de mudanças no culto protestante brasileiro ............................................... 84
Movimento Nacionalista .................................................................... 84
Movimento Gospel ............................................................................. 92
Ação dialética na heterogeneidade .................................................................................. 94
Perspectivas pastorais a práxis musical na contemporaneidade ................................ 102
Práxis da Adoração através da Música ............................................. 103
Práxis da Diaconia através da Música .............................................. 103
Práxis da Koinonia através da Música ............................................. 104
Conclusões Preliminares ................................................................................................. 104
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 105
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 107
11
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa, “CANTO, ENCANTO E DESENCANTO: estudo da tensão entre a
práxis do Canto Coral e as novas tendências musicais nas Igrejas Batistas da Cidade de
Campinas” foi motivada inicialmente pela hipótese de que a prática do Canto Coral se
enfraqueceu dentro do “espaço musical contemporâneo”. 1
A partir desta suspeita e ao observarmos a convivência entre a música tradicional e
a música contemporânea dentro do contexto Batista surgiram fatores importantes que
motivaram a concretização desta pesquisa. A princípio, por estarmos inseridos neste
contexto atuando como Ministro de Música e Pastor, percebemos que há conflitos que se
estabelecem ao empreendermos a aproximação entre a tradição e o contemporâneo.
Esta relação tensa ocorre, por exemplo, no momento da inserção de novas práticas
num culto tradicional. Há uma “nova cultura musical”,
2
neste contexto contemporâneo,
que é vista como incompatível com as manifestações musicais do passado.
Os conflitos podem se dar na forma de desentendimentos ocorridos no âmbito das
Igrejas e passam por: discussões acaloradas entre líderes do ministério de música, disputas
entre músicos e pastores, competição de poder entre grupos com faixas etárias distinta, tais
como, adultos, jovens e adolescentes e, até, por afirmações de que algumas comunidades,
no caso Batistas, estão mudando suas doutrinas ao executarem um outro tipo de música que
não caracteriza a denominação e toda sua tradição musical histórica.
Esta realidade, que permeia algumas comunidades do protestantismo brasileiro, na
visão de Freddi Junior, cria um ambiente que se caracteriza como “um universo confuso e
cheio de conflitos (...) no qual valores institucionais e tradicionais de igrejas protestantes
históricas se encontram desafiadas e enfraquecidas ”. 3
1
Constitui uma terminologia para definir a música praticada hoje por bandas e uma escrita musical mais
funcional.
2
Esta cultura musical hodierna é alimentada por uma nova consciência que sugere a aplicação de aspectos da
cultura musical brasileira ao culto.
3
SERGIO Paulo Freddi Junior. Tendências musicais de Igrejas Presbiterianas da cidade de São Paulo. p.12
12
Tendo como ponto de partida esta realidade, a orientação acadêmica nos
encaminhou para um estudo mais específico. Portanto, o objeto da pesquisa não é o Canto
Coral em si ou a prática de uma nova modalidade musical, mas o entendimento dos
aspectos desta tensão gerada num ambiente eclesial pelo encontro de dois estilos musicais
distintos: Coral e Banda. Estes representam respectivamente a música tradicional e música
contemporânea, coexistindo em um espaço comum, a liturgia Batista.
A preocupação, “a priore”, será através da pesquisa de campo, ratificar a existência
desta tensão e compreender as peculiaridades que a caracterizam. A “posteriore” sugerir
ações à práxis pastoral num contexto marcado pela pluralidade e falta de diálogo.
Para um maior entendimento, se faz necessário definir com mais precisão alguns
termos e conceitos abordados durante este estudo. Objetivamos assim limitar as
possibilidades de interpretações para os termos usados.
Por Igrejas Batistas entenda-se as Igrejas da Cidade de Campinas participantes nesta
pesquisa e que fazem parte da Convenção Batista Paulistana. Todas filiadas a Convenção
Batista Brasileira. Estas igrejas apresentam uma convicção doutrinária comum e estão em
pleno acordo com as diretrizes traçadas por esta Convenção. Apenas a Igreja Batista do
Taquaral apresenta uma estrutura diferenciada já que aderiu à estrutura de “igrejas em
células”. 4 Este fato ocasionou a supressão do Canto Coral e do hinário oficial da
denominação, o Cantor Cristão. Naturalmente, desenvolve uma liturgia fora dos padrões
tradicionais dos batistas, passando a praticar somente cânticos avulsos através de Bandas.
No entender do pastor da comunidade, é um culto mais contextualizado. Por estes fatores
achamos importante nos aprofundarmos na consciência musical desta comunidade.
Para a palavra “tradição”, tomamos emprestado o conceito usado por Denise
Frederico em sua tese, onde ela assevera que:
4
Segundo Paulo César Lima, pastor da Assembléia de Deus, doutor em teologia, é um movimento que propõe
um crescimento das igrejas através de células, com reuniões nas casas a partir de 12 pessoas. Este relato está
no livro “ O que está por trás do G12” do autor acima citado.
13
Por tradição entende-se o acervo de usos e costumes
conservados no decorrer dos tempos por um povo ou
segmento social, transmitido através de sucessivas gerações
(...) o termo aproxima-se dos vocábulos memória e história. O
termo tradicional é tido como a qualidade daquilo que tem
tradição, cuja existência tem história e memória, passando de
geração em geração. Pode eventualmente também designar
algo antigo, velho, do passado. 5
A música tradicional para os Batistas, de um modo geral, é a música herdada de
líderes do passado e tem a ver com um momento histórico-doutrinário e com as raízes da
própria denominação. Neste caso, o Cantor Cristão, sob a designação de hinário oficial e o
Canto Coral representam bem esta tradição.
Optamos neste estudo por não usarmos o termo “música pós- moderna”, levando-se
em consideração as dificuldades conceituais que poderiam surgir. Portanto, para fins maior
clareza decidimos pela palavra “contemporâneo” significando aquilo que se prática na
atualidade. É possível usar palavras cognatas que possuam o mesmo sentido, tais como:
contexto atual, em vigor, cultura hodierna, vanguardista, e outras.
Quanto à metodologia aplicada, baseamo-nos na revisão da literatura existente sobre
o assunto e na aplicação da pesquisa de campo. A população pesquisada teve sua
contribuição mensurada por um questionário e este aspecto da dissertação corresponde a
uma parte importante e fundamental da pesquisa. Através da manifestação das pessoas
pudemos avaliar atitudes, conceitos e preferências. Os resultados foram apresentados
através de gráficos que interpretam a participação do universo consultado.
Temos como referencial teórico: Henriqueta Rosa Fernandes Braga que serviu de
base para o desenvolvimento histórico sobre o coro.
Neste
assunto
localizamos
pouca
literatura
que
pudesse
auxiliar-nos,
principalmente, algo que fosse mais recente e que o abordasse numa perspectiva histórica
tendo como marco referencial, a reforma.
5
DENISE Cordeiro de Souza Frederico. A Seleção de Cantos Para o Culto Cristão: critérios obtidos a partir
do estudo da tensão entre tradição e contemporaneidade na história da música sacra cristã ocidental. p. 19
14
O estudo de Antonio Gouvêa Mendonça foi importante para termos uma visão mais
abrangente do inicio e desenvolvimento do protestantismo no Brasil e as influências que
tiveram na formação de hinódia brasileira. Israel Belo de Azevedo deu- nos uma base
histórica-teológica significativa sobre a formação do pensamento Batista no Brasil.
O primeiro capítulo, após uma tentativa de conceituação de termos, traz um enfoque
histórico da prática coral, explicitando a sua funcionalidade e propósito antes e depois da
reforma. Traz também um panorama desta prática em nossos dias, percebendo-o tanto no
contexto eclesial, quanto em âmbito secular.
Obviamente que a música, de forma geral, sempre esteve atrelada ao seu contexto
social, filosófico, teológico e religioso. Partindo deste pressuposto, podemos detectar
possíveis tensões que servirão de base para a análise da prática musical hodierna.
Por exemplo, na idade média o povo não tinha o direito de participar diretamente da
liturgia. A música, em âmbito eclesial, era privilégio de um grupo previamente escolhido e
para o qual se destinava a sua execução. Em meados do século XVI, já estabelecida a
reforma, a música coletiva adquire novos contornos. Surge o coral como estrutura musical e
possibilita a livre participação dos fiéis no ato litúrgico. Em ambos os casos, a prática
musical é coerente com o seu contexto teológico.
O segundo capítulo trata da pesquisa de campo, metodologia na qual buscamos
apoio. Esta foi realizada em algumas Igrejas Batistas da Cidade de Campinas e será
importante no sentido de comprovar a realidade musical destas comunidades.
O questioná rio proposto tratou de temas relativos ao gosto musical dos
entrevistados; sobre a importância e o papel do coro e da banda na igreja; e também
pontuou diretamente a questão do conflito, tentando investigar a percepção das pessoas
sobre prováveis incompatibilidades.
Os entrevistados estão reunidos em dois blocos com faixas etárias distintas, a saber:
1º bloco – pessoas com idades entre 7 a 30 anos e o 2º bloco – idades a partir de 31 anos.
15
O terceiro capítulo, partindo dos enfoques dados tanto no primeiro quanto no
segundo capítulo, tenta buscar orientações pastorais que possam contribuir com as
comunidades Batistas que estejam vivenciando momentos de instabilidades. Entendemos
que este estudo é importante e passa necessariamente por uma reflexão teológico-pastoral
com visão abrangente de TEMPO – PESSOAS – IGREJAS.
Em épocas distintas da história surgiram tensões no contexto eclesial que de alguma
forma eram alimentos por uma perspectiva ideológica, teológica ou filosófica.
Conseqüentemente, buscou-se soluções que levaram em considerações as características do
seu contexto histórico. Cabe, portanto, aos personagens da história atual, fazerem uma
releitura da nossa época e encontrarem possibilidades que suscitem soluções para os
problemas das igrejas contemporâneas.
Tecidas todas estas considerações, finalizamos com a reflexão de que, apesar de ser
um estudo que delimita sua pesquisa num grupo denominacional específico, os fenômenos
religiosos aqui descritos, situados no campo da tradição e da contemporaneidade com suas
(in)compatibilidades, representam um universo mais abrangente que atingem outros grupos,
sobremodo os do universo protestante de cunho histórico-tradicional. Portanto , a reflexão
também pode ser estendida para além do contexto batista.
16
CAPÍTULO I
CANTO CORAL: Da Tradição ao Contemporâneo
“A música é um dos magníficos e deleitáveis presentes que Deus nos tem dado”.
Martin Luther King
Introdução
O que pretendemos neste capítulo é dar um panorama geral a respeito do Coro, sua
prática e desenvolvimento dentro e fora do contexto eclesial. Começamos por definir
conceitualmente alguns termos, que embora os diferencie, reconhecemos que no uso
popular não existe quase distinção. Procuramos também demonstrar o pensamento que
alimentou a prá tica coral antes e depois da reforma, considerando que este evento se tornou
um referencial de inovação para a musicalidade da igreja protestante.
Finalizamos o capítulo fazendo uma aplicação da prática coral ao contexto Batista
que é o universo religioso onde foi realizada a pesquisa.
“Coro” ou “Coral”?
Com freqüência esse questionamento sobre a terminologia é feito tentando decifrar
o uso correto dos termos. Coro e Coral algumas vezes são usados, principalmente por
coralistas, referindo a mesma coisa, ou seja, ao grupo de pessoas que executam uma peça
vocal. Entretanto, no meio acadêmico, costuma-se fazer uma distinção, a saber: “Coro”
como substantivo e “Coral” como adjetivo, mas até esta designação também não é muito
precisa.
Ambos os termos podem ser encontrados se referindo a três blocos de significado
que são: agrupamento, forma e espaço.6
6
ANDRÉ Daniel Lichtler. O Canto Coral na Comunidade Cristã: reflexões e conclusões a partir de uma
pesquisa social. p. 48
17
Agrupamento – Coro
Grupo de cantores que se apresentam juntos, na distribuição de vozes tradicional
(...) o termo é normalmente usado com qualitativos (p.ex., coro misto, coro feminino, coro
masculino, coro de ópera etc). Em português, CORAL também é sinônimo de coro, mas
sem uma distinção muito clara no uso das duas palavras; em Inglês, a palavra “choir” é
usada para os grupos de cantores eclesiásticos, ou os grupos menores de profissionais,
enquanto a palavra “chorus” é preferida para os grupos grandes e seculares; em alemão,
todos os coros são “chor”, exceto o eclesiástico, que é “Kirchenchor” (“coro de igreja”).7
Forma - Coral
Aqui a palavra freqüentemente usada é Coral para designar uma forma de
composição musical que se desenvolveu a partir do século XVI por ocasião da reforma,
sendo o próprio Lutero um dos grandes compositores e representantes desta forma musical.
O termo coral (em alemão choral) possui entre os germânicos duas diferentes
acepções: canto gregoriano dos católicos-romanos (cantus choralis) e canto congregacional
dos protestantes (choral-styl). A partir da segunda metade do séc. XVI, o coral luterano,
como canto congregacional, teve seu uso generalizado. 8 Esta estrutura musical é conhecida
e executada ainda hoje nas igrejas protestantes.
Espaço - Coro
Aqui se refere ao lugar onde atua os coros. Na igreja, o espaço reservado ao coro
(grupo de cantores) é por vezes chamado de coro. Esse espaço pode ser junto ao altar- mor
ou, num balcão. O espaço sobre o balcão ocupado por grupos instrumentais (coro
instrumental) ou pelo órgão é, também, chamado de coro. 9
7
Dicionário Grove de Música, p.225
HENHIQUETA Rosa Fernandes Braga. Do Coral e sua Projeção na História da Música. p. 9
9
ANDRÉ Daniel lichtler. O Canto Coral na Comunidade Cristã: reflexões e conclusões a partir de uma
pesquisa social. p. 50
8
18
Retrospectiva histórica da práxis do Canto Coral
Pré-reforma
O coro pode ser considerado como um dos mais antigos agentes sonoros coletivos,
mesmo que não possamos comprovar com farta documentação, principalmente a era
conhecida como pré-histó rica, a não ser por hipóteses formuladas a partir de gravuras em
pedras e desenhos de instrumentos, os quais nos dão pistas de que:
Entre as culturas primitivas e semiprimitivas até as velhas
culturas da Antigüidade, a prática da música em conjunto
aprese ntava características especiais em relação aos
executantes e ouvintes. Era o agrupamento em torno de um
centro “.
O centro torna-se o germe de toda a potência rítmica. É o
lugar onde se encontra o chefe. A condução é feita pelo chefe
que canta e bate inicia lmente os ritmos a serem usados, sendo
depois repetidos pelos outros. Já encontramos, aqui, os
primeiros vestígios de regência (...) coral. 10
No mundo antigo, documentos do Egito e Mesopotâmia sugerem a existência de
uma prática coral ligada aos cultos religiosos e às danças sagradas. 11
Na Grécia, os grupos corais desempenhavam papel importantíssimo, mesmo porque
havia música para todas as ocasiões e diversos deuses representavam cada um desses
momentos. Há indícios de coro que datam dos séculos III e II a.C. e que têm sua
composição considerada a Eurípides. “Este coro é um stasimom , uma ode cantada com o
coro imóvel no seu lugar na orquestra, zona semicircular entre o palco e a bancada dos
espectadores”. 12 Outros exemplos que podem ter sido executados com a participação coral
são: hino a Hélios, hino à musa Calíope, hino a Nemésis de Mesomede de Creta e outros.
Os relatos históricos dão conta de que os coros eram dirigidos por um Chóregos.
Um tipo de coordenador musical que usava alguns movimentos corporais para comunicar
ao coro sua intenção quanto à interpretação da música.
10
Encontrada em folhas avulsas onde não foi possível identificar o autor.
EDUARDO Fonseca. História do Canto Coral. p.1 www.luteranos.com.br/coral/artigos4.htm– 11/02/2003
12
DONALD J. Grout e CLAUDE V. Palisca. História da Música Ocidental. p.31
11
19
Nos calçados havia lâminas de metal para ampliar o ruído. Havia também a
utilização das mãos nos movimentos ascendentes e descendentes para dar ao grupo coral a
claridade sobre o tempo forte do texto. 13
Entre os judeus, no contexto bíblico, há referências de grupos corais fazendo parte
do culto judaico. Nos dias do rei Salomão, nas festividades, como a celebração da páscoa,
os levitas - antiga tribo guerreira (Gen 49. 5-7) que se tornou uma casta sacerdotal responsabilizavam-se não só pela educação musical instrumental e vocal, mas também
pelas escalas de cultos para todas as cerimônias religiosas da época. (1Cr. 13. 7-8; 15.12;
19; 25.1-6; 2Cr. 5.13; 14; 29.28). 14
Quanto à mensagem que estas músicas expressavam, Bentzem afirma que parte da
poesia lírica apresentada na Bíblia está diretamente relacionada com a guerra, produzindo
assim, motivações que caracterizavam os hinos, tais como: hinos de vitórias, hinos de
lamento, hinos de confissão. 15
Von Rad também coaduna com esta posição afirmando que Javé escolheu um povo
e estabeleceu com ele um diálogo per manente. Parte deste diálogo deu-se na forma de
louvores 16 entoados musicalmente através de hinos. Estes podiam ser colocados dentro de
categorias que expressavam tanto a realidade espiritual do povo, quanto esta relação Javé Israel. 17
Segundo Von Rad, a forma mais antiga de louvor era o canto de vitória. Um
exemplo disto é o cântico do Mar Vermelho (Êxodo 15) onde se rememorava o livramento
do povo israelita frente às tropas egípcias.
13
EMANUEL Martinez. Regência Coral, Princípios Básicos, p. 16-19
DENISE Cordeiro de Souza Frederico. A Seleção de Cantos Para o Culto Cristão: critérios obtidos a partir
da tensão entre tradição e contemporaneidade na história da música sacra cristã ocidental. 83
15
AAGE Bentzem. Introdução ao Antigo Testamento. p.155
16
Louvor tem sua origem no verbo hôdâh e significa na realidade, “confessar, reconhecer, aprovar”
17
GERHARD Von Rad. Teologia do Antigo Testamento. p. 342
14
20
Neste evento a profetisa Mirian, irmã de Arão, tomou um tamborim e saíram em
coro, todas as mulheres com tamborins, e diante dela, entoavam: “Cantai ao Senhor, porque
gloriosamente triunfou, e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro”18 .
A partir da prática judaica, outras formas musicais podem ser concebidas como:
canto de confissão; canto da criação e canto de ações de graças. Todas em sua essência
dando plena razão a Javé.
19
O livro de I Crônicas nos capítulos 23 e 25 traz-nos uma noção exata quanto à
estrutura Coral e as exigências que existiam para a sua prática e funcionamento. O relato
bíblico mostra que o Coral era distribuído em 24 pequenos grupos, cada um contendo 12
coralistas e que, provavelmente, revezavam-se acompanhando os sacrifícios. Os relatos
bíblicos de II Samuel 6.5 e I Crônicas 13.8 indicam que havia uma participação musical
efetiva por ocasião das procissões. (ver Êxodo 32.18; Isaías 30.9; Neemias 12.27-43). 20
É provável que nestes grupos criados oficialmente para a execução do culto só
houvesse a participação de homens e que necessariamente fossem bem treinados e tivessem
idades a partir de 30 anos, sendo, portanto, proibida a participação feminina. Algum tempo
depois foi incorporado ao coro, grupo de meninos que faziam as vozes mais agudas.
Atualmente esta é uma prática comum na Inglaterra.
Mesmo sendo bem preparados na parte técnica, não há menção de que haja, nesta
estrutura, diversificação vocal. A música provavelmente era entoada em uníssono e os
instrumentos faziam um acompanhamento igualando-se as vozes. 21
Alguns séculos depois, com o advento do cristianismo, surgiu o coro cristão nas
catacumbas de Roma sob o nome de “cantochão” (cantus planus). Entretanto, por não ser
uma religião oficial a música cristã não podia ser entoada com liberdade.
18
JOHN D. Davis. Dicionário da Bíblia. p.407
GERHARD Von Rad. Teologia do Antigo Testamento. p. 342-344
20
AAGE Bentzem. Introdução ao Antigo Testamento. p.169
21
Ibid. p.83
19
21
Como percebemos, o contexto de cada época influencia diretamente na forma e no
conteúdo musical executado. No início da Igreja Cristã, devido ao contexto de
perseguições, havia no cerne de cada canção a evocação divina que objetivava:
[pedir] o auxílio para a sua causa, e coragem para a luta sem
tréguas onde o ideal cristão haveria de vencer. Os primeiros
cristãos não conheciam uma melodia capaz de expressar a
pureza de seus sentimentos, nem tão pouco um som que se
prestasse às suas preces.22
Entretanto, a música ocupou uma importantíssima função no espaço cultual cristão,
pois, mesmo sofrendo fortes influências da cultura grega, aos poucos vai definido uma
estrutura religiosa-doutrinária bem peculiar se fazendo distinta de outras práticas musicais.
Estas peculiaridades vão influenciar diretamente na formação do pensamento musical
cristão ocidental através de um legado hinológico substancialmente importante.
A tradição coral ocidental que começa com o cristianismo primitivo, é percebida
nos escritores patrísticos os quais fazem referência ao canto de antífonas e responsórios nos
sécs. II e III
23
. No séc. IV apareceu o Rito Ambrosiano que era um cantochão entoado na
forma de responsos, a dois coros, ainda hoje chamado de decani e contoris. 24
Em toda a Idade Média há indícios de que já havia cânticos com execução coral,
mas foi a partir da consolidação da polifonia, após 1430, que os grupos corais se efetivaram
com maior participação.
Nas igrejas e mosteiros medievais, a exemplo da tradição grega, os coros eram
inteiramente compostos por homens, às vezes com meninos, devido à proibição da
participação de mulheres no canto das igrejas. Um típico coro de catedral podia reunir de
quatro a seis menino s e de dez a treze homens. 25
22
EDUARDO Fonseca. História do Canto Coral. p.2 -www.luteranos.com.br/coral/artigos4.htm – 11/02/2003
Dicionário Grove de Música, 1994, p. 226
24
ANSELMO Silveira. Música Antiga – História Completa – www. victorian.fortunecity.com/brutalis.
25
Dicionário Grove de Música, p. 226.
23
22
No renascimento (Séc. XIV-XVI), a polifonia – música cantada a várias vozes –
definiu-se estruturalmente a quatro vozes, ou seja, aproximando-se da concepção moderna
de coro composto por: soprano, contralto, tenor e baixo. As partes do soprano, até o séc.
XVI eram em geral destinadas a meninos, quando cantores castrati foram introduzidos nos
coros da Igreja Católica Romana. 26
No período barroco, há indícios de vários grupos corais, p.ex., festa de S. Petrônio,
em Bolonha, 1687, com um grupo coral de 65 integrantes; nos funerais de Haendel, em
Londres, em 1759, onde três coros se reuniram; no final deste período, S Marcos de Veneza
tinha um coro de 36 vozes. 27
Neste contexto musical da Antigüidade os conflitos existentes partiam de um
aspecto conceitual. A Igreja tendenciosamente desclassificava toda e qualquer manifestação
musical que acontecia fora do âmbito eclesial. E isto estabeleceu uma oposição entre a
música religiosa e a música popular, pois para o clero:
a maior parte desta música estava associada a práticas sociais
que a igreja primitiva via com horror ou a ritmos pagãos que
julgava deverem ser eliminados: Por conseguinte, foram feitos
todos os esforços não apenas para afastar da igreja esta
música, que traria tais abominações ao espírito dos fiéis,
como, se possível, para apa gar por completo a memória
dela.28
Esta separação entre as coisas sagradas e profanas perdurou por toda a história do
cristianismo, mas em diversos momentos, apesar da polarização, uma vai influenciar a
outra.
Reforma
Para entendermos adequadamente o desenvolvimento e a função da prática coral na
reforma, faz-se necessário rememorarmos o contexto religioso desta época que data do
século XVI.
26
Dicionário Grove de Música. p 226
Idem. p.226
28
DONALD J. Grout e CLAUDE V. Palisca. História de Música Ocidental. p.16
27
23
Na visão de Matinho Lutero, 29 havia algum tempo que a igreja vinha se
distanciando de sua verdadeira vocação ministerial. Cedia espaço cada vez maior para uma
outra ideologia que fazia com que ela se tornasse irrepugnante e carnal. Tanto que dentre os
fatores que impulsionaram a realização da reforma, estão:
A secularização da igreja, a influência dos humanistas, os
privilégios escandalosos administrados pela nobreza, os
abusos do clero, e a falta de esclarecimento em questões de fé
paralelame nte à cobrança das indulgências. 30
Lutero insurgiu sobremodo contra estas indulgências,
31
que pareciam representar a
prova mais concreta de fé. Sobre tal pensamento discordava com grande veemência e isto o
levou a engajar-se, mesmo contra a sua vontade, no que ficou conhecida como a “Reforma
Protestante”, a qual trouxe modificações significativas para o culto.
Segundo Sasse, Lutero foi um reformador muito conservador, mas, rejeitou
radicalmente tudo que representasse contradição a Escritura. Por isso que gradativamente
ele abandona pontos de doutrina e praxe católicas tais como: a realização da missa, os
sacrifícios realizados pelos sacerdotes em favor dos vivos e dos mortos e o emprego de
língua estrangeira na missa.32 Estes pontos constituem-se importantes na formatação de
uma nova estrutura litúrgica.
Compreendendo que o ser humano tem possibilidades de estabelecer relação direta
com Deus, Lutero reduz o culto a dois elementos básicos: a pregação da palavra e a
celebração da Ceia.33
29
Martinho Lutero nasceu no ano de 1483 em Eislebem – leste da Alemanha. Tornou-se advogado e mais
tarde se formou em Teologia quando entrou para os frades agostinianos em Erfurt. Foi um profícuo escritor
tendo entre seus escritos mais famosos as teses que desencadeou o processo da reforma protestante. Sua morte
data do ano de 1545.
30
DENISE Cordeiro de Souza Frederico. A Seleção de Cantos Para o Culto Cristão: critérios obtidos a
partir do estudo da tensão entre tradição e contemporaneidade na história da música sacra cristã ocidental.
p. 136
31
O que a igreja entendia por indulgência era a remissão total ou parcial das penas que cada um devia sofrer,
na terra ou no purgatório, depois de ter obtido no sacramento da penitência a absolvição dos seus pecados e a
remissão do castigo eterno. In, DANIEL-ROPS. A Igreja da Renascença e da Reforma I. p.266
32
HERMANN Sasse. Isto é o Meu Corpo. p. 62-65
33
Ibid., p.314
24
O clericalismo que até então detinha todas as funções do culto, inclusive a da
prática musical, perde a sua força e abre possibilidades para a participação do povo no ato
cúltico.
Dentro deste novo contexto eclesial e como fruto do raciocínio teológico luterano, a
música passa a ter função estratégica, tanto como meio de aproximação das pessoas com
Deus, quanto de propagação da própria teologia luterana.
No aspecto musical percebemos que o sentido de coro é ampliado, tanto em seu
conteúdo, quanto em sua forma e função. Neste novo cenário religioso, Lutero estende ao
povo o privilégio de participar do momento litúrgico e estabelece o canto congregacional
como sendo um reflexo do seu conceito teológico de sacerdócio universal.
Portanto, o coral neste contexto se desenvolve como uma estrutura especifica de
música, e por ter sido organizado por Lutero, é até hoje designado pelo seu nome. Enquanto
canto congregacional, teve seu uso generalizado na segunda metade do séc. XVI, quando,
após um período de evolução, fixou a sua estrutura (...) e alcançou sucesso e larga
divulgação, integrando-se na vida religiosa, comunal e doméstica alemã, não apenas
naquela época, porém ainda nos séculos seguintes. 34
A partir de então, tanto o coro, como grupo de pessoas, quanto o coral, enquanto
forma musical se tornaram populares. Saiu dos recônditos das igrejas e ganhou as ruas,
como manifestação cúltica dominical e eram executados num clima festivo em frente das
casas dos crentes. Esta expansão se verificou não apenas nas regiões protestantes; mas da
parte católica, também foram adotados os corais usando-os tal qual, quando o texto podia
servir- lhes.
35
Neste contexto da igreja reformada, há vários fatores importantes a serem
observados, mas vale ressaltar que houve a quebra do abismo que existia entre a igreja e o
povo. Este distanciamento acontecia tanto pela sacralidade dos ofícios e oficiantes, quanto
34
35
HENRIQUETA Rosa Fernandes Braga. Do Coral e sua Projeção na História da Música. p. 9
Ibid., p.10
25
pela incapacidade do povo entender o que era falado e cantado, já que a parte cúltica era
oferecida em latim.
O que Lutero fez foi usar a música, através do coral, para estabelecer uma nova
relação entre comunidade e igreja. Ele partiu do pressuposto de que as pessoas deviam
entender o culto que praticavam.
O propósito da música e, conseqüentemente do Canto Coral, esteve diretamente
voltado à realidade e necessidade religiosa do povo. Mesmo sendo estimulada pelos reis,
pelo clero e pelas pessoas mais abastadas, visava sempre manter as festividades locais,
disseminar doutrinas religiosas, além de atrair e integrar fiéis às igrejas. 36 Ou seja, de
alguma forma inserida nas necessidades coletivas.
Mesmo intimamente ligada à vida religiosa, a música teve sempre como pano de
fundo a cultura de sua época e assim, como nos dias atuais, se tornou objeto de dissensão e
controvérsia provocando cismas e influenciando na história da igreja e do próprio
protestantismo.
O Canto Coral no contexto brasileiro
No espaço eclesiástico
No contexto brasileiro, mesmo com fortes indícios de que já no início da
colonização portuguesa em 1549 havia a presença de protestantes, 37 não se tem registro de
prática coral neste período, mesmo porque no período colonial não havia tamanha liberdade
religiosa 38 que propiciasse uma expressividade cúltica mais abrangente, inclusive com
música.
36
39
EDUARDO Fonseca. História do Canto Coral. www.luteranos.com.br/coral/artigos4.htm – 11/02/2003
ANTONIO Gouvêa Mendonça. O Celeste Porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. p.18
38
Segundo Mendonça, desde a colonização portuguesa (1549) até 1823 quando por ocasião da constituinte de
1823, foi debatida a questão da liberdade religiosa, há algumas tentativas de estabelecimento do
protestantismo no Brasil, mas sempre com fortes restrições pela igreja oficial, a Igreja Católica Romana, tanto
que em 1720, uma lei proibiu que qualquer pessoa chegasse a solo brasileiro, a não ser que fosse a serviço da
coroa ou da igreja. In, ANTONIO Gouvêa Mendonça. O Celeste Porvir: a inserção do protestantismo no
Brasil. p.17-21
39
Ibid., p.18
37
26
É possível que o Canto Coral só tenha aportado aqui por ocasião da chegada da
corte européia e, certamente, estando ligada diretamente à igreja. As músicas de então
mostram uma elaboração propícia a grupos vocais que talvez participassem das missas.
Como o Brasil era só um receptor das tendências européias, a prática coral por aqui,
desenvolvia o que se fazia por lá. No âmbito protestante o coral surgiu somente alguns
séculos mais tarde, o que trataremos adiante.
Na cultura popular
Fora dos limites da religião, o que sabemos sobre o Canto Coral, com projeção
nacional, veio através de um grande músico brasileiro Heitor Villa Lobos (1887 – 1959).
Além de grande compositor de obras corais, foi o idealizador de grandes concertos com
grupos escolares. Foi ele o responsável pela implantação do canto orfeônico 40 na grade
curricular das escolas, o que permaneceu até a década de 1970. Após isto vieram as
reformas educacionais que sacaram a prática da música como disciplina obrigatória e a
incorporaram como um assunto a ser estudado na disciplina de Educação Artística.
O Canto Coral nas Igrejas Batistas e as novas tendências musicais
Do Coro e seu encanto
O Canto Coral no meio dos Batistas se tornou uma prática extremamente comum a
partir de 1931, por meio do regente de coro Artur Lakschevitz. Oriundo da Letônia
Lakschevitz se to rnou uma referência forte à música sacra no Brasil. Chegou aqui no dia 24
de junho de 1923, residindo em Bauru e mais tarde em São Paulo.
Anos mais tarde casou-se com a brasileira Iracema Fernandes e passou a se dedicar
a organização de grupos corais. Durante 14 anos regeu o coro da 1ª Igreja Batista do Rio de
Janeiro, depois também por alguns anos foi regente na Igreja Batista do Méier e da Igreja
Batista Itacuruçá.
40
Canto Orfeônico é a designação que se dá à sociedade cujos membros dedicam-se ao canto coral, com ou
sem acompanhamento instrumental. Uma outra designação mais comum para canto orfeônico é coro.
(Dicionário Aurélio)
27
Em 1931, lançou uma coletânea de músicas para coro com o título de Coros Sacros
e este fato ajudou na propagação de grupos corais por todo o Brasil a ponto de ser
popularizado entre os Batistas. A contribuição de Lakschevitz também é notada na área
acadêmica, pois foi professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e do Colégio
Batista Shepard, no Rio de Janeiro. Através da docência trabalhou a consciência de seus
alunos sobre a importância da música e em especial, do Canto Coral.41
A história do compositor Batista mais importante, em termos de Coral, serve para
demonstrar a influência que a hinódia protestante brasileira sofreu em sua formação. Esta,
que tem o seu início e desenvolvimento a partir do século XIX, desde sua origem foi
construída fundamentada no pensamento teológico europeu e americano. Os missionários,
assim como Lakschevitz, estabeleceram um protestantismo missionário e ortodoxo. Eram
também impulsionados por um sentimento expansionista que emergiu primeiro na
Inglaterra e depois na Alemanha. Mais tarde, originário s dos Estados Unidos, chegaram os
avivalistas que:
apresentavam uma voracidade por crescimento numérico e
usavam uma forma sentimental de culto que refletiu
diretamente na produção musical das igrejas reformadas. A
música servia como apoio para um texto apelativo, com
objetivo conquistador ou sedutor. 42
Então, podemos afirmar que o Canto Coral foi um reflexo desta teologia e foi,
naturalmente, usado como apoio para se alcançar os fins teológicos estabelecidos. Esta
afirmação é ratificada por Mendonça ao defender a indissolubilidade entre hinologia e
teologia no culto protestante brasileiro. Ele afirma que “a hinologia é o reflexo da teologia
da Era Missionária, assim como a mentalidade de base das igrejas brasileiras é o reflexo de
sua hinologia”. 43
41
ARTUR Lakschevitz. Coros Sacros: Hinos Especiais Para Coros. p.2
SERGIO Paulo Freddi Junior. Tendências Musicais de Igrejas Presbiterianas Independentes na Cidade de
São Paulo. p. 33
43
ANTONIO Gouveia Mendonça. A Crise no Culto Protestante Brasileiro. p. 55
42
28
Os primeiros indícios da prática coral protestante no Brasil vêm dos anglicanos em
meados de 1800. Uma das músicas mais entoadas neste período teria sido o hino Holy,
Holy, Holy Lord God Almight
44
.
Mas tarde a Igreja Luterana, também através de seus primeiros missionários
alemães, trouxeram o coro como prática tradicional em seus cultos.
Portanto, o Canto Coral nas Igrejas Batistas sofre influências diretas destas
denominações e é certo que Lakschevitz vai desenvolver seu compêndio baseado no
repertório coral destes hinários anteriores e já em uso nos cultos brasileiros.
Um destes hinários pioneiros, que pode tê- lo influenciado, é o Salmos e Hinos
desenvolvido pelo casal Kalley. Supomos que tenha sido o primeiro hinário com uma
estrutura a quatro vozes permitindo assim a execução de suas músicas por um grupo de
pessoas com maiores habilidades musicais.
Mendonça faz um paralelo entre estes dois hinários, Coros Sacros e Salmos e Hinos
e estabelece, a partir daí, uma aproxima ção encontrando pontos em comum quanto ao seu
conteúdo. Este fato ratifica as influências que Lakschevitz sofreu ao estruturar a hinódia
Batista brasileira. Mendonça diz que:
O que se nota desde logo, no Coros Sacros, é o mesmo
sincretis mo encontrado nos Salmos e Hinos, isto é, as várias
tendências teológicas que, desembocando no final do século
XVIII, se expressam na abundante hinologia européia do
século XIX. O arranjo dos hinos nos volumes é desordenado,
aparentemente sem nenhuma preocupação litúrgica. A
teologia reflete a mesma índole do Salmos e Hinos; é
predominantemente pietista/individualista. 45
Portanto, além do diálogo teológico há nítida semelhança entre estes dois hinários
na sua estrutura musical, pois ambos propiciam o estabelecimento do coro nas igrejas.
44
Este hino, bastante entoado pelos coros nas Igrejas Batistas, é o de nº 9 do Cantor Cristão e possui vários
arranjos para a execução Coral e tem sua tradução como (Santo, Santo, Santo, Senhor Deus Onipotente).
45
ANTONIO Gouveia Mendonça. A Crise no Culto Protestante Brasileiro. p. 48
29
O fato é que pela escas sez de pessoas qualificadas musicalmente, parece que, com o
tempo, o coro se tornou um grupo musicalmente diferenciado na ig reja até mesmo pelo
papel de liderança e pela qualidade que apresentava na execução das músicas. Assim, a
participação do grupo coral no culto era estratégica sendo considerada uma preparação para
o sermão e depois uma preparação para o apelo pastoral. Durante algum tempo nas
comunidades Batistas, o coro também tinha uma função pedagógica de ensinar novos hinos
para a congregação. Porém pressupomos que o encantamento do coro na prática batista,
tenha se dado primordialmente a partir de fatores: circunstanciais, temporais e teológicos.
O primeiro estaria na gênese do protestantismo brasileiro e nas condições
encontradas aqui pelos missionários para a estruturação do culto. É importante lembrar que
os missionários que chegaram da Europa e Estados Unidos usaram os recursos que tinham.
Musicalmente se desenvolveram a partir dos conhecimentos e dos materiais que adquiriram
em seus respectivos países. É o caso do casal Kalley que construiu o primeiro hinário
evangélico, o Salmos e Hinos obviamente fazendo uso dos conhecimentos adquiridos
anteriormente.
Este hinário, desde suas primeiras edições, já apresentou uma estrutura musical
propícia à expansão da prática coral, já que continha suas músicas a quatro vozes. Logo,
passou a ser uma referência muito forte para o culto brasileiro, como assevera Mendo nça,
a história do material de culto no Brasil gira, essencialmente,
em torno do Salmos e Hinos e (...) serviu de base para os
demais que foram, com o correr do tempo, aparecendo. 46
O Cantor Cristão veio um pouco depo is, mas manteve as mesmas características dos
Salmos e Hinos. O certo é que se tornou uma referência musical para a prática Coral
Batista.
O segundo fator preponderante parece estar exatamente no “tempo de uso”, visto
que este hinário completou mais de 100 anos de uso nas Igrejas Batistas do Brasil. Suas
músicas sempre foram fontes inspiradoras para prática Coral.
46
ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p. 46
30
Dentre os vários hinos, muitos arranjos foram feitos para coros e orquestras e por
toda a tradição que os envolvem, são até hoje executados em eventos importantes da
denominação. Mesmo com as reedições, o Cantor Cristão manteve-se durante todos esses
anos, integralmente fiel à sua origem. Ou seja, o tempo contribuiu para a perpetuação de
uma tradição. Dentre as músicas do Cantor Cristão que se tornaram peças corais muito
executadas, estão as que expomos abaixo. A estr utura musical destes hinos tem a mesma
forma concebida pelo próprio Lutero e traz possibilidades de execução a quatro vozes.
31
32
33
47
47
Castelo Forte é uma das músicas mais executadas por coros em todo o Brasil e foi composta por Martinho
Lutero estando também presente na hinódia Batista desde a origem da denominação.
34
O terceiro fator favorável ao encantamento da prática Coral entre os Batistas está na
tipologia teológica expressa. Este legado é uma herança dos movimentos que
caracterizaram o expansionismo evangelical dos quais os Batistas surgiram enquanto grupo
denominacio nal aqui no Brasil.
Percebemos a interação entre música e teologia numa análise mais criteriosa de
algumas doutrinas musicadas pelos Batistas. Tomamos emprestada uma tipologia
desenvolvida por Uipirangi em sua dissertação48 . As músicas analisadas a seguir foram
extraídas do HCC (Hinário Para o Culto Cristão) e CC (Cantor Cristão). Ambos hinários
em uso atualmente nas comunidades Batistas.
TEISMO – Deus é pessoal e interage pessoalmente com suas criações. A vontade
de Deus é relacionar-se com suas criaturas, que possuindo valores individuais, precisam
permitir esse relacionamento.
HINO 25 HCC – TÚ ÉS FIEL
Letra: Thomas Obediah Chisholm, 1923
Música: Willian Marion Runyan, 1923
Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste;
Pleno poder aos teus filhos darás.
Nunca mudaste, tu nunca faltaste:
Tal como eras, tu sempre serás.
Tu és Fiel, Senhor, tu és fiel, Senhor
Dia após dia, com bênçãos sem fim.
Tua mercê me sustenta e me guarda;
Tu és fiel Senhor, fiel a mim.
Flores e frutos, montanhas e mares,
Sol, lua, estrelas no céu a brilhar:
48
UIPIRANGI Franklin da Silva. Palco, Música e Ilusão, 2003
35
Tudo criaste na terra e nos ares,
Todo o universo vem, pois, te louvar!
Pleno perdão tu dás, paz segurança;
Cada momento me guia, Senhor.
E, no porvir oh, que doce esperança!
Desfrutarei do teu rico favor.
BIBLICISMO – A Bíblia é a palavra revelada de Deus e deriva dela os
fundamentos para a teologia Batista, sua devoção pessoal e para as decisões que tomam no
campo moral e da ética.
HINO 214 HCC – É DIVINA, SÁBIA E PURA
Letra: Desconhec ido
Música: Natalie Sleeth, 1986
É divina, sábia e pura a palavra do Senhor;
E corrige a vida impura do perdido pecador.
Do Senhor a majestade nesse livro posso achar,
Fonte viva de verdade os meus passos vem guiar.
São prudentes os conselhos do meu Mestre e Salvador
E me mostram, como espelhos, que sou mau, sou pecador.
Mas que o sol resplandecente, os preceitos de Jesus
Iluminam nossas mentes com radiante e clara luz.
Livro santo, verdadeiro, que me ensina o amor de Deus!
É preciso companheiro na jornada para os céus.
Nele sempre meditando, quero a Cristo obedecer;
Os pecados evitando seus ensinos vou viver. 49
49
Esta última estrofe foi composta por João Soares da Fonseca em 1990.
36
CONVERSIONISMO – O homem totalmente corrompido carece da ma nifestação
da graça de Deus em sua vida para que seja salvo. Essa salvação é individual, intransferível,
portanto, é de responsabilidade pessoal para a aceitação ou recusa dessa salvação.
HINO 259 CC - A ÚLTIMA HORA
Letra e Música: João Diener, 1911.
Ao findar o labor desta vida,
Quando a morte ao teu lado chegar,
Que destino há de ter a tua alma,
Qual será no futuro o teu lar?
Meu amigo hoje tu tens a escolha,
Vida ou morte, qual vais aceitar?
Amanhã pode ser muito tarde,
Hoje Cristo te quer libertar.
Tu procuras a paz neste mundo,
Em prazeres que passam em vão.
Mas, na última hora da vida,
Eles já não te satisfarão.
Tens manchada tua alma e não podes
Contemplar o semb lante de Deus.
Só os crentes com corações limpos,
Poderão ter o gozo nos céus.
Se decides deixar teus pecados
E entregar tua vida a Jesus,
Trilharás, sim, na última hora
Um caminho brilhante de luz.
37
CONTRACULTURALISMO – Os Batistas crêem que os valor es de Deus são
superiores e opostos aos valores humanos. Decorrente deste conceito, acreditam que
precisam abandonar os costumes anteriores à experiência da conversão.
HINO 256 HCC – QUE MUDANÇA ADMIRÁVEL
Letra: Rufus Henry McDaniel, 1914
Música: Charles Hutchison Gabriel, 1914
Que mudança admirável na vida provei,
Pois Cristo minha alma salvou!
Tenho a luz do céu que eu tanto busquei,
Pois Cristo minha alma salvou.
Oh, Cristo minha alma salvou!
Sim, Cristo minha alma salvou!
Mesmo ali sobre a cruz, foi que Jesus
Da morte minha alma salvou
Já deixei de trilhar as veredas do mal,
Pois Cristo minha alma salvou.
E feliz eu desfruto o favor divinal,
Pois Cristo minha alma salvou.
Sobre o vale da morte já brilhou uma luz,
Pois Cristo minha alma salvou.
E eu avisto meu lar, no porvir, com Jesus,
Pois Cristo minha alma salvou.
38
SALVACIONISMO – Deus sempre desejou salvar a humanidade. A partir dessa
compreensão, os Batistas consideram-se responsáveis por cumprir esse desejo, chamando
todos os homens para um encontro pessoal de reconciliação com Deus, através do método
da evangelização.
50
HINO 439 CC – ORAÇÃO PELA PÁTRIA
Letra: William Edwin Entzminger
Música: Emiline Willis Lindsey, 1916
Minha pátria para Cristo eis a minha petição
Minha pátria tão querida, eu te dei meu coração;
Lar prezado, lar formoso, é por ti o meu amor;
Que o meu Deus de excelsa graça te dispense seu favor.
Salve Deus a minha pátria minha pátria varonil
Salve Deus a minha terra, esta terra do Brasil
Quero, pois, com alegria, ver meu povo tão gentil
Aceitando o evangelho nesta terra do Brasil.
“Brava gente brasileira, longe vá temor servil”.
Ou ficar a Pátria salva, ou morrer pelo Brasil.
O resumo da teologia Batista presente nas peças corais pode ser visto da seguinte
forma: O amor de Deus por toda a humanidade, o perdão divino tão graciosamente dado
por meio da fé, o sacrifício expiatório de Jesus Cristo, e a regeneração visível da ética do
mundo e a expectativa da vida eterna no céu.
Estes fatores acima descritos certamente contribuíram para o encantamento do Coro
no culto Batista brasileiro, como também a causa de sua duração por tantos anos.
50
UIPIRANGI Franklin da Silva. Palco, Música e Ilusão, 2003
39
A formação de uma nova consciência musical e o desencanto do coro
A partir da década de setenta aconteceram algumas transformações musicais no
cenário evangélico e teve a ver com o desenvolvimento da tecnologia nos meios de
comunicações, como por exemplo, o aperfeiçoamento dos recursos de áudio e vídeo. Houve
também um aperfeiçoamento nos instrumentos musicais. Os acústicos deram lugar aos
eletrônicos.
Na década anterior, o rock roll ditava o ritmo e chegou como “expressão musical da
contracultura, isto é, como contestação e ruptura com a tradição musical Ocidental, seja
erudita ou popular”. 51
A influência deste movimento começou a ser percebida nas Igrejas Batistas
brasileiras no final da década de setenta. Nesta ocasião, algumas igrejas permitiram a
introdução, em seus cultos, da bateria, da guitarra, do órgão eletrônico e do contrabaixo.
Como complemento, vieram outros equipamentos eletrônicos.
Algumas mudanças também aconteceram nos ritmos e na estrutura musical. As
cifras passaram a ser usadas com mais freqüência. Os cânticos começaram a ganhar
popularidade nos cultos e o coro passou a dividir o espaço com esta nova manifestação
musical.
Com a inserção das bandas e dos “grupos de louvor”, a função desempenhada pelo
coro, gradativamente foi se transferindo para estes grupos. É provável que tenha sido a
partir deste evento que se desencadeou um processo de desencanto da prática coral.
Conseqüentemente, diante deste contexto inovador há notadamente uma mudança na
preferência musical, principalmente entre jovens.
Quanto à funcionalidade do coro, Mendonça entende que este se estabelece no culto
brasileiro seguindo duas vertentes: uma se refere ao grupo coral enquanto manifestação
estética.
51
NELSON Mathias Silva. A Música na Experiência Religiosa. p. 198
40
“Nesta circunstância, o coro começa e termina em si mesmo, ou seja, não tem
necessariamente implicação litúrgica, vez que seu papel é narrativo. Seu papel é o de
expressar musicalmente a história da fé cristã em estilo épico ou romântico”. 52
O Coro, percebido nesta função, teria um caráter performancista, passando a
depender exclusivamente da técnica e do bom desempenho mus ical. Este aspecto pode ter
contribuído para a perda de espaço da prática coral visto que a técnica instrumental das
bandas sobressaiu principalmente para os meios de comunicações.
A outra vertente que pode explicar a função do coro segundo Mendonça é a de
expressão coletiva, na qual o coro faz parte de um todo e é entendido dentro de um contexto
litúrgico inter-relacionados. Mendonça afirma que:
Se quisermos entender a função do coro na liturgia temos de
recordar sua origem no teatro clássico em que o coro era um
conjunto harmônico de atores que, como representantes do
povo junto aos personagens principais, declarando e cantando
narravam a ação, e comentavam, e freqüentemente nela
intervinham com ponderações e conselhos. No culto o diálogo
evolui em duas direções assimétricas: ora entre o povo e o
oficiante, ora entre o povo e Deus. O diálogo entre o povo e
Deus pode ser direto através das orações coletivas e dos
cânticos congregacionais, e indireto através dos atos do
oficiante e da participação do coro. É neste sentido que a
função do coro se torna semelhante à do teatro clássico: ora
faz declarações divinas em resposta às orações do povo,
através dos responsos e intróitos por exemplo, ora do povo ao
chamado de Deus, como nos finais e améns; expressa,
também, o sentimento coletivo de louvor e adoração através
das doxologias, e assim por diante.53
Esta função interativa, anteriormente desenvolvida pelo Coro, é agora,
desempenhada pela Banda que possibilita um maior envolvimento das pessoas durante os
cultos.
52
53
ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p.47
Ibid., p. 47
41
Outro fator que pode também ter contribuído para o desencanto da prática coral na
maioria da s comunidades Batistas é que as peças corais em sua maioria ainda são
adaptações ou traduções de coletâneas americanas. Esta influência musical ainda é muito
forte no culto protestante brasileiro.
Entretanto, a música gospel apresenta uma possibilidade de aproximação com a
cultura brasileira. Isto é perceptível no uso de instrumentos musicais regionais e em
músicas que descrevem mais da realidade brasileira através de repertórios nacional.
Atualmente, a função do coro, nas comunidades que ainda o preservam, não é clara
e depende do tipo de liturgia que é praticada naquele grupo.
O Coro como meio de “Entretenimento”
O entretenimento pode ser considerado como uma terceira função a ser
desempenhada na prática coral e não estar relacionada diretamente com as outras funções
descritas por Mendonça. O coro de entretenimento não tem objetivos religiosos e não há
necessariamente uma exigência de performance, visto que boa parte de seus regentes é
voluntária sem tantos conhecimentos musicais.
Esta constatação veio da experiência que tivemos como regente do coro da Empresa
Telefônica de Campinas. Neste contato percebemos que, ao contrário das Igrejas Batistas, o
coro tem tido uma aceitação considerável fora do contexto eclesial. Obviamente que, como
já dissemos, a motivação do Canto Coral neste contexto segue outras vertentes sem
pretensões religiosas.
O importante a ser observado é que Canto Coral deixou de ser exclusivo da igreja e
se expandiu para os diversos campos da sociedade, como é o caso das escolas, que como já
dissemos, teve seu desenvolvimento no maestro Villa-Lobos. Mas também tem sido uma
prática comum em empresas públicas e privadas, onde exerce uma função muito importante
de socialização. O Canto Coral passou a existir como forma objetiva de integração entre
funcionários de diversos setores seculares.
42
O educador musical Antônio Sérgio afirma que:
no dia-a-dia de trabalho, muitas vezes as pessoas se interage m
superficialmente, pois cada um leva em consideração os seus
próprios problemas. No ensaio coral, todos se unem para
desenvolver uma mesma atividade. No grupo, o cargo que
cada integrante exerce na empresa deixa de ter importância.
(...) A música e a convivência entre os participantes
despertam a sensibilidade de todos não só para as questões
relacionadas às áreas de atuação de cada um, mas também
para assuntos das organizações como um todo, através do
coro.54
Na cidade de Campinas, existem várias empresas que oferecem aos seus
empregados a oportunidade de participar de coros, como é o caso da: Telefônica, Tim,
Bosh, EPTV, Pirelli, Lucent, Cica, DPaschoal e outras.
Nas apresentações destes coros, as empresas querem levar até a comunidade a sua
preocupação com os aspectos culturais e educacionais. Além disso, transformam o coro
num trabalho de marketing, já que estes grupos levam a marca de suas empresas e chegam
ao público de forma acessível. Neste aspecto ele é comercial, mas muito mais de
entretenimento.
Vladimir Silva vê com bastante otimismo este novo quadro musical, pois para ele
“um dos pontos mais importantes e positivos dessa expansão tem sido, incontestavelmente,
a geração de novos empregos. O mercado vem sendo sensivelmente modificado e podemos
ratificar nossa afirmação quando assistimos, num encontro de coros, a grupos com distintas
denominações e finalidades. 55
Uma outra constatação quanto à força do Canto Coral, fora do contexto eclesial, dáse ao acessar a Internet. Numa rápida busca podemos encontrar uma variedade de grupos
oriundos de todo país, reunidos tanto em associações como atuando de forma independente.
54
Esta citação foi encontrada numa folha avulsa sem possibilidades de constatação de fonte.
VLADIMIR Silva. Mão e Contra -Mão: Os (Des) Caminhos do Canto Coral Brasileiro.
www.pianoclass.com
55
43
Existe uma associação brasileira de regentes de coros com publicação periódica
desde o ano de 2002 que abrange todo o território nacional e é apoiada pelo ministério da
cultura. A segunda edição desta revista, chamada “Canto Coral”, traz uma relação de
atividades corais, tais como: festivais, congressos, workshop seminários e convenções,
tanto nacional, como internacionalmente. Isto nos dá uma visão da abrangência desta
prática não vinculada à pratica eclesial.
Conclusões Preliminares
A formação de uma nova consciência musical no meio Batista, certamente provocou
um certo desencanto na prática coral, pois tanto a função estética, quanto a função
interativa educacional, anteriormente atribuída ao coro, passou a ser melhor desempenhada
pela banda.
Há uma comprovação de que houve mudanças na preferência musical. O grande
problema que surge a partir desta realidade é que se estabelece uma tensão no âmbito das
Igrejas Batistas – em particular as igrejas pesquisadas na cidade de Campinas – provocando
uma série de mudanças no comportamento cúltico destas comunidades. No bojo destas
mudanças existe a discussão sobre a contextualização da liturgia e a música atual seria um
dos fatores que justificaria o abandono de práticas mais antigas, dentre as quais, o Canto
Coral.
Entretanto, se por um lado esta música é capaz de falar com mais intensidade para
uma faixa etária mais jovem, por outro é vista por uma parcela de pessoas mais adultas,
como uma tipologia que se distancia dos ideais Batistas, seja pela ótica do tradicionalismo,
ou seja, pela perspectiva teológica.
44
CAPÍTULO 2
ESTUDO DE CASO: Aplicação e mensuração do questionário
“Sem música, a vida seria um erro”.
Friedrich Nietzsche
Introdução
Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa realizada em
seis Igrejas Batistas na cidade de Campinas. A interpretação dos dados obtidos possibilitounos esclarecer com mais exatidão a existência de uma tensão gerada a partir de conceitos e
práticas que envolvem a música tradicional e a música contemporânea.
O formulário
O objetivo do questionário foi verificar a importância e a influência que a música
exerce sobre as pessoas. Acreditando que tanto o Coro quanto a Banda podem conduzir as
pessoas a diferentes experiências, os pesquisados tiveram que expressar seus sentimentos
em relação a estas duas expressões musicais.
O formulário apresentado aos pesquisados é o que segue abaixo.
FORMULÁRIO DE PESQUISA CIENTÍFICA
I – DADOS PESSOAIS
Nome do pesquisado:__________________________________________________
Idade: _____ anos
Sexo ( ) F
( )M
Igreja a que pertence: _________________________________________________
Qual a sua escolaridade? _______________________________________________
II – COMPOSIÇÃO DO QUESTIONÁRIO
1 - A sua igreja possui coro?
( ) Sim
( ) Não
45
2 - O que isso significa para você?
( ) É Bom
( ) É Ruim
( ) É indiferente
3 - A sua igreja possui banda?
( ) Sim
( ) Não
4 - O que isso significa para você?
( ) É Bom
( ) É Ruim
( ) É indiferente
5 – Qual é a prioridade musical para a sua igreja?
( ) Ter um coro
( ) Ter uma banda
( ) Os dois
6 - Que tipo de reação a música coral desperta em você?
( ) Introspecção
( ) Emoção
( ) Bem estar
( ) Indiferença
( ) Nada acontece
( ) Não respondeu
7 - Que tipo de reação a música de uma banda eletrônica desperta em você?
( ) Introspecção
( ) Emoção
( ) Bem estar
( ) Indiferença
( ) Nada acontece
( ) Não respondeu
46
8 - Que função a banda deve desempenhar no culto?
( ) Didática
( ) Performance
( ) Louvor
( ) Adoração
( ) Louvor e Adoração
9 - Que função o coro deve desempenhar no culto?
( ) Didática
( ) Performance
( ) Louvor
( ) Adoração
( ) Louvor e Adoração
10 - Que tipo de música mais se identifica com os Batistas?
( ) Coro
( ) Banda
( ) Os Dois
( ) Não Sei
11 - No culto Batista, o que é mais envolvente?
( ) Musica Coral
( ) Cânticos
( ) Os Dois
12 – A relação entre a música tradicional (coro, hino) e contemporânea (banda,
cânticos) no culto Batista é:
( ) Conflituosa
( ) Compatível
47
Aplicação do questionário.
As entrevistas foram aplicadas através do questionário tendo como objetivo a
obtenção de dados qualitativos para se chegar a descoberta de “motivações, crenças,
atitudes e sensações”
56
sobre a música como expressão da tradição e/ou da
contemporaneidade.
Os dados recolhidos correspondem a 92% dos formulários entregues, visto que 8%
dos entrevistados decidiram não participar da pesquisa.
Metodologia
A metodologia adotada está baseada no método comparativo, por entender que é o
melhor instrumental teórico para a realização desta pesquisa. Segundo Lakatos, o método
comparativo:
Realiza comparações com a finalidade de verificar similitudes
e explicar divergências (...) é usado tanto para comparações
de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os
do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes
estágios de desenvolvimentos. 57
Através da interpretação dos dados colhidos na pesquisa de campo, procuramos
identificar os possíveis pontos de tensão entre a música Coral, representando a tradição e a
Banda como expressão musical contemporânea.
Critérios de Investigação
Para entender com mais exatidão a aceitabilidade da pesquisa, procuramos defini- la
através de três critérios:
Por faixa etária
Por gênero
56
57
NARESH K. Malhotra. Pesquisa de Marketing: Uma Orientação Aplicada. p. 163.
EVA Maria Lakatos. Metodologia Científica. p. 92
48
Por nível de escolaridade
A pesquisa foi desenvolvida com pessoas que, de alguma forma, estão ligadas à
música, participando em Coros ou em Bandas. Essas pessoas têm uma influência direta nas
programações da igreja local e participam em muitas decisões, sobremodo no aspecto
musical.
A maior participação de pesquisados está na faixa etária que vai dos 16 a 30 anos,
com 44%. Em seguida a idade dos 31 a 45 anos, com 27%, e depois, pessoas com idade
acima dos 46 anos, com 16%. Por último, a idade dos 7 aos 15 anos, que representou 13%
do universo pesquisado.
Contexto da pesquisa.
Região Metropolitana de Campinas
Campinas é hoje um dos maiores centros do país, sendo considerada a maior cidade
interiorana do país, com aproximadamente 1 milhão de habitantes. Segundo a revista
Metrópole, 58 só nos últimos cinco anos mais de duzentas mil pessoas migraram para a
região, elevando sua população num ritmo muito rápido. Isto por ser uma forte expressão
tanto no comércio, indústria e lazer, como no turismo e pesquisa. A cidade, que aniversaria
em 14 de julho, surgiu na primeira metade do século XVII.59
Tanto a cidade quanto a região que está próxima a Campinas, apresentam diferentes
expressões e manifestações culturais, religiosas, turísticas e artísticas. E no campo
religioso, há uma diversidade de práticas, que por sua vez, expõe um cenário inovador no
aspecto musical.
Constatamos a existência de várias escolas de música de maior e menor expressão, e
com maior repercussão, os cursos de graduação oferecidos pela Universidade de Campinas
58
A revista Metró pole é uma edição que circula sempre aos domingos incorporada ao jornal local Correio
Popular. A que serviu de fonte para esta pesquisa data de 17 de março de 1997.
59
LISTEL Publicar, 2005, p. 6-11
49
– UNICAMP. Acreditamos que todos estes fatores, de alguma forma, influenciam na
prática musical das Igrejas Batistas campineira.
É neste contexto desenvolvimentista que os Batistas têm procurado se inserir,
contando hoje com mais de cinqüenta igrejas só no perímetro urbano. Há mais de vinte
anos, funciona o FTBC (Faculdade Teológica Batista de Campinas) que incorpora, além do
curso teológico, um curso de música sacra.
A proposta é desenvolver a pesquisa considerando toda esta estrutura e o contexto
apresentado, principalmente no aspecto musical.
Contexto Estatístico Batista Campineiro
Segundo dados da própria denominação, encontrados na agenda da Convenção
Batista de São Paulo, (CBESP), 60 os Batistas na cidade de Campinas e adjacências são
aproximadamente 7.000 membros distribuídos em duas associações, compostas por mais de
60 igrejas e com uma média de 70 pastores.
As igrejas pesquisadas e identificadas abaixo são representações destas associações.
As igrejas pesquisadas estão inseridas nestas associações e são as primeiras comunidades a
se estabelecerem na cidade. Portanto, as que têm mantido por mais tempo a prática do
Canto Coral e um culto mais conservador.
Outro fator importante, é que o autor da pesquisa atua como pastor e ministro de
música em uma dessas associações e é professor da Faculdade Batista lecionando
disciplinas que se aproximam do assunto pesquisado.
1ª Igreja Batista
Rua: Andrade Neves, nº 1848 - Bairro do Castelo/Campinas-SP
Pastor: Carlos Walter M. da Silva
60
CBESP - Convenção Batista do Estado de São Paulo, é o órgão que reúne todas as igrejas e congregações
do estado, sendo filiada a CBB – Convenção Batista Brasileira que é a instância máxima da denominação.
Tanto as convenções estaduais quanto a nacional se reúnem uma vez ao ano para tomarem decisões de ordem
administrativas, eclesiásticas e teológicas.
50
Ministro de Música: Helena Teixeira
Data de fundação: 03 de outubro de 1907
Hoje a Igreja conta com 500 membros ativos
É uma comunidade de classe média
Possui uma banda e três coros: coro misto, coro jovem e coro
Infantil.
Igreja Batista Central
Rua Dr. Quirino, nº 930 – Bairro Centro/Campinas-SP
Pastor: Leandro Borges Peixoto
Ministro de Música: Wanilton Mahfuz
Data de fundação: 14 de dezembro de 1957
Hoje a Igreja conta com 1.237 membros ativos
É uma comunidade de classe média alta.
Possui quatro bandas e cinco coros: Coro misto, jovem,
adolescente, 3ª idade e coro infantil.
Igreja Batista do Cambuí
Rua Vieira Bueno, nº 20 – Bairro Cambuí/Campinas-SP
Pastor: Isaltino Gomes Coelho
Ministro de Música: Afrâneo Tadeu
Data de fundação: 1º de janeiro de 1931
Hoje a Igreja conta com 325 membros ativos
É uma comunidade de classe alta
Possui uma banda e três coros: Coro misto, adolescente, infantil
51
Igreja Batista do Taquaral
Av. Júlio Prestes, nº 288 – Bairro Taquaral/Campinas-SP
Pastor: Agostinho Césa r Martins Soler
Não tem mais Ministro de Música
Data de fundação: 19 de abril de 1970
Hoje a Igreja conta com 280 membros ativos
É uma comunidade de cla sse média baixa
Possui duas bandas, um grupo de coreografia e não possui mais
coros.
Obs.: Esta igreja apresenta uma realidade litúrgica diferente pois adotou um
sistema eclesiástico denominado G12. Esta condição provocou mudanças em sua prática
musical levando-a a supressão da hinódia tradicional Batista.
Igreja Batista Nova Canaã
Rua: Almirante Richard, nº 364 – Bairro Chácara da
Barra/Campinas-SP
Pastor: Rúbem Cleviton Lota
Ministro de Música: Moisés Cantus e Rúbens Daminelli
Data de fundação: 27 de outubro de 1985
Hoje a Igreja conta com 150 membros ativos
É uma comunidade de classe média
Possui uma banda e dois coros: coro misto e coro infantil
Igreja Batista Satélite Íris
Rua: Pastor Samuel de Campos Chiminazzo, 129 – Satélite
Íris/Campinas-SP
52
Pastor: Mário Gomes de Barros
Diretor de Música: Luzier Tavares
Data de fundação: 27 de outubro de 1985
Hoje a Igreja conta com 280 membros ativos
É uma comunidade de classe baixa
Possui uma banda e dois coros: coro misto e coro infantil
Perspectivas
A elaboração do questionário teve uma escolha criteriosa das questões diante das
inúmeras possibilidades que o tema apresenta. Foi necessário sintetizar o assunto para que
através da especificidade se extraísse o maior número de informações possíveis e relevantes
a esta pesquisa. Portanto, as perguntas presentes no questionário são específicas de campos
mais abrangentes, conforme apresentado abaixo:
1. Música – tradição e contemporaneidade: coros e bandas
2. Música e Reação
3. Música e Função
4. Música e Identidade
Análise
Dados Gerais da Pesquisa
53
Os 8% dos formulários não respondidos correspondem a membros que
simplesmente não quiseram participar da pesquisa, devolvendo-os em branco.
As crianças com idade acima de 7 anos que responderam a pesquisa,
são
participantes de coros em suas respectivas igrejas. Objetivamos com a participação delas
mensurar, além do gosto musical a influência da música tradicional e/ou contemporânea
sobre elas.
Em todas as igrejas a participação feminina é perceptivelmente maior em quase
todas as atividades musicais da igreja.
54
Somente três das igrejas pesquisadas possuem um nível social mais elevado. Nestas
foram encontrada quase a totalidade dos 36% de pessoas cursando ou já com formação
superior. É comum perceber a participação em coros de: médicos, engenheiros, dentistas,
universitários e outros.
Música – Tradição e Contemporaneidade: Coros e Bandas
Nas questões de 1 a 4 foi investigada a preferência dos crentes em relação a música
Coral e/ou Banda. Eles escolheram entre as opções: bom, ruim e indiferente, para
conceituar a presença destes dois estilos musicais no culto. Dos entrevistados, 91%
possuíam coros em suas respectivas igrejas e apenas 9% não contava com a participação
coral em seus programas musicais.
55
Onde a participação coral é efetiva, 98% responderam que é “bom” que a igreja
mantenha esta forma de musicar. Apenas 2% foram contrários à manutenção do grupo
coral. Vale ressaltar que as igrejas pesquisadas são comunidades que possuem uma tradição
forte na prática coral.
Na única igreja pesquisada onde não existe mais coral, 40% se dizem desencantado
e acham “bom” o fato de ele não existir. Entretanto, outros 40% manifestaram opiniões
contrárias, apontando para a opção “ruim”. Os outros 20% se dizem “indiferentes” a
presença ou não do Canto Coral.
56
Na igreja mencionada acima há somente duas bandas e um grupo de coreografia.
Segundo o líder da comunidade, o Coro já não responde aos anseios musicais
contemporâneos, principalmente dos jovens e adolescentes.
Quando a indagação se referiu à Banda, 100% dos entrevistados afirmaram ter pelo
menos uma em sua igreja.
Há um percentual de 93% dos entrevistados que estão encantados com a música
executada pelas Bandas eletrônicas e somente um grupo de 7% se mostraram
“indiferentes”.
57
A presença deste grupo de 7% de “indiferentes” explica-se pela grande quantidade
de pessoas há anos participando de coro. Destes, pelo menos de 16% estão com idade
acima dos 46 anos, que visivelmente preferem as músicas mais tradicionais. Entretanto,
referente à Banda, ninguém apontou para a opção “ruim”.
A tensão que se percebe nestas primeiras questões está no fato de que igrejas de
cunho tradicional61 e com um discurso lógico-tradicional, 62 têm no decorrer dos tempos
modificado sua forma de culto, diante de um encantamento cada vez maior desta nova
modalidade musical, chamada “gospel”. Entretanto elas conservam traços da tradição tanto
na estética, quanto na estrutura litúrgica.
Nestas igrejas, o órgão e o piano ainda fazem parte de um cenário que nos remete à
tradição. Ambos são colocados numa posição estratégica para melhor percepção dos
movimentos do regente, do coro e da congregação. Entretanto, este cenário tem se
modificado para dar lugar à bateria, ao teclado, à guitarra, ao contrabaixo e uma quantidade
considerável de instrumentos de percussão. Portanto, há uma disputa de espaço também se
referindo à estética dos templos.
A questão 5 considera o aspecto da “prioridade”, entre a Banda e o Coro. Todavia,
durante a pesquisa um grupo de pessoas sugeriu uma terceira alternativa, que seria a
manutenção prioritária dos dois.
Para este item, o resultado ficou assim estabelecido: a maioria, 40%, coloca como
prioridade para o culto a presença de uma “banda”; 38% acha que o aspecto musical
prioritário seria o “coro”, entretanto, 22% opta pela manutenção dos “dois”.
61
Refere-se à igreja que mantém traços de uma tradição litúrgica estabelecidas há mais de um século e fazem
parte de um grupo de igrejas denominadas históricas.
62
Quisemos dizer por discurso lógico, um discurso onde a manifestação da emoção não é enfatizada ou de
certa forma precisa ser controlada.
58
Pela estrutura das igrejas pesquisadas, um fato perceptível é que há um investimento
por parte da liderança na denominada “música sacra”. Parece ser uma tentativa de manter a
tradição musical peculiar dos Batistas. Elas remuneram o “ministro de música”; investem
em instrumentos caros, como é o caso do piano e do órgão de pedal; além de
desenvolverem uma estrutura litúrgica que favorece a presença da música mais tradicional.
Apesar dos esforços envidados neste sentido, o que a questão 5 confirma é que há
uma nova consciência musical formada e que as prioridades, em termos musicais, são bem
distintas dentro da igreja.
M úsica e Reação
As questões 6 e 7 foram inseridas no questionário com o intuito de investigar o tipo
de reação desenvolvida pelas pessoas durante a audição ou a participação do Coro e/ou da
Banda.
É inegável que a música interfere de forma direta na vida das pessoas fazendo com
que elas não fiquem indiferentes psicologicamente ao ouvi- la ou ao cantá- la. Ou seja, a
música sempre despertará algum tipo de reação no indivíduo. Por isso que Rosileny dos
Santos, em sua pesquisa sobre a função terapêutica do canto congregacional, afirma que a
59
música ocupa uma função psicológica importante. Às vezes, traz paz e outras vezes
provoca até mesmo a angústia. 63
As opções sugeridas no que stionário não têm a intenção de fazer uma investigação
mais aprofundada a partir do aspecto psicológico, porque não é esta a proposta deste
trabalho, mas é importante observar de que maneira a música coral e a música
contemporânea, com suas diferentes características, podem desenvolver reações nas
pessoas em momentos distintos durante o culto.
Ao se referir à música coral, a reação mais forte que envolve as pessoas é a
“introspecção”, com 38,3%. Entenda-se introspecção como a reação que leva as pessoas a
pensarem muito mais sobre a sua condição interior; a refletirem sua espiritualidade e a
criarem imagens internas relacionadas com formas mais profundas de percepção do
sagrado. 64
A segunda opção indica que em 36,3% dos pesquisados, a música coral vai ser
desencadeante de outros tipos de sentimentos, seja de alegria, entusiasmo, euforia, choro e
outros mais e que, em 23,6% traz uma sensação de bem estar.
63
64
ROSILENY dos Santos Cândido Machado. A função Terapêutica do Canto Congregacional. p.68
Ibid., p.67
60
A questão 7 investigou as reações mais importantes que a música contemporânea
desperta nas pessoas. Observamos então que 54,6% consideram a “emoção” o sentimento
mais forte. Se considerarmos que a “emoção” pode conduzir os crentes a outras reações
como, explosões de alegrias e choro, este fato se constituirá como um ponto de tensão,
visto que, para as Igrejas de culto tradicional as reações emocionais são controladas.
As outras respostas para esta questão ficaram assim definidas: “Emoção” aparece
com 54,6%; outros 30,4% têm um sentimento de “bem estar”; 9,6% são levados à
“introspecção”; 3,6% afirmam que “nada acontecem”; e 1,8% mostraram um sentimento de
“indiferença”.
A fim de obtermos mais informações para esta pesquisa, decidimos participar de
reuniões com a predominância de um público jovem. Este tipo de programação geralmente
denominado de “culto jovem”, acontece aos sábados em algumas das igrejas pesquisadas.
Chegamos à igreja escolhida por volta das 19h20 e já estava repleta de jovens. Às
19h45 o líder da juventude começou o culto. Houve uma breve saudação e logo em seguida
iniciou-se o período musical sendo acompanhado por uma banda que se compunha de:
bateria, contrabaixo, guitarra, violão, teclado, percussão, sax, e trompete. As pessoas
participaram de uma forma fervorosa durante trinta e cinco minutos de músicas
61
ininterruptas. Percebemos que todas as músicas eram cânticos que fazem parte deste novo
repertório gospel.
Neste primeiro período, as músicas executadas definiram dois momentos
específicos: um bem ritmado e um outro bem mais calmo. Em ambos, as pessoas se
comportaram com reações próprias de cada momento. Quando as músicas foram
aceleradas, além da ênfase nos instrumentos de percussão, houve a participação com
palmas e danças. Era um clima de euforia que partia do próprio ministrante. Quase s empre,
ao final de cada música ouvíamos gritos de “Amém”.
Porém, as músicas calmas levaram- nos a outra direção. Neste momento percebemos
pessoas emocionadas com as mãos levantadas, olhos fechados e lágrimas. Veio após isso
uma reflexão pastoral, que durou uns 45 minutos, sendo finalizado o culto com outro
período musical de menor duração.
A saída das pessoas se deu num clima bastante fraterno com beijos e abraços.
Talvez possamos dizer que entre aqueles jovens havia uma sensação muito grande de bem
estar, pois é exatamente este sentimento que aparece na pesquisa, como sendo o segundo
mais vivenciado, com 30,4% dos que se encantam com a Banda.
Voltamos a esta mesma igreja no dia seguinte, ou seja, no domingo, agora para
participar do culto da noite o qual aconteceu liturgicamente bem diferente da noite anterior.
Neste, as pessoas chegavam e sentavam de imediato ao som do piano. O culto começou
com uma oração, vindo logo a seguir a execução de hinos do hinário oficial Batista
precedido pela participação do Coro. O mais característico deste momento foi, além da
técnica do coro, um silêncio apropriado após um pianíssimo 65 no último fraseado musical.
Daí, talvez, a explicação para o item “introspecção” como sendo o sentimento mais
vivenciado por ocasião da música Coral.
Neste ponto da pesquisa a tensão que pode haver está relacionada, tanto com o
estilo desenvolvido em cada culto, quanto pela liberdade ou não de expressão desenvolvida
65
Se caracteriza pela suavidade do som musical principalmente na parte final da música.
62
em cada progra mação. As atitudes, sentimentos e posturas são significativamente distintas..
Os jovens que na noite anterior podiam extravasar seus sentimentos, agora estavam
contidos e tendo que participar de um culto com aspectos mais racionais. A liturgia
desenvolvida lhes direcionava a um comportamento mais reflexivo. É importante frisar que
na noite anterior, percebemos a ausência quase que total de adultos no “culto jovem”.
Esta distinção litúrgica, no contexto Batista, acontece a partir dos anos oitentas,
quando a juventude passou a exigir um espaço exclusivo. Este espaço deveria lhes permitir
uma maior liberdade em suas expressões musicais. A participação dos jovens em cultos
direcionados a sua faixa etária, ao mesmo tempo em que representava um tipo de
renovação, trazia insegurança para muitos pastores “desconfiados” e “desacostumados”
com este novo momento. Entretanto, preocupados com a evasão dos jovens para outras
comunidades, aos po ucos os pastores foram permitindo espaços para esta nova participação
musical.
Coro e Banda - definindo função
Como já frisamos anteriormente, esta discussão é muito antiga na história da música
e na própria história do cristianismo. Pois desde a Antigüidade existia a preocupação de se
definir a função apropriada para a música, dentro e fora do espaço litúrgico. Podemos
afirmar que as expressões musicais desenvolvidas no passado tinham limites estabelecidos
para o seu funcionamento desde os aspectos estéticos até a sua execução. Estas exigências
estavam diretamente relacionadas com a função que a música desempenhava.
Relembremos então Mendonça já que ele admite duas possibilidades funcionais
para a música, seja ela uma expressão do Coro ou da Banda. Ele define como “função
narrativa” e/ou “função interativa”, ou talvez possamos traduzir estes termos como sendo
“função não litúrgica” e “função litúrgica”.
A “função não litúrgica” dá a estes grupos (Coro e Banda) um caráter mais estético.
Na realidade teriam uma função interpretativa, e neste caso, se faz necessário uma
preparação tecnicamente apropriada. A preocupação última seria a de desenvolver uma
performance a mais perfeita possível. Para isso faz-se necessário o aprimoramento de
63
técnicas adequadas requeridas para cada estilo. A música assim praticada, segundo
Mendonça tem uma função em si mesma. 66
O Coro desenvolve esta função quando prioriza o aprimoramento e refinamento de
técnicas presentes, como por exemplo, nos oratórios, missas e cantatas. A boa interpretação
coral, segundo as técnicas de regência, considera o estilo do compositor e a sua respectiva
época. Os regentes que procuram por uma boa performance tentam se aproximar ao
máximo do pensamento que estes compositores tiveram ao escrever suas obras. Para as
bandas, no atual contexto, este caráter performancista ocorre pela habilidade e rapidez com
que cada músico executa os movimentos em seus instrumentos.
Na função litúrgica, o papel do Coro e por extensão, da banda, é interativa, pois
segundo Mendonça durante o culto se estabelece um diálogo entre o povo e Deus evoluindo
de forma direta ou indireta. 67 Neste caso, o coro e/ou a banda leva o povo a um diálogo
indireto com o seu Deus, mas é necessário que estejam inseridos dentro de um contexto
litúrgico.
As questões 8 e 9 tentam investigar exatamente esta função partindo da percepção
dos pesquisados. Qual a função primordial a ser desempenhada tanto pelo Coro, quanto
pela Banda dentro do contexto cúltico? Por acreditarmos que pelo fato destes grupos
estarem participando do culto não significa necessariamente que há o estabelecimento de
interatividade, inserimos a opção “performance”.
Nos dados obtidos pelo questionário a “Adoração” aparece como a principal função
a ser desempenhada pelo Coro, com 48% das indicações. A Banda é indicada para a mesma
função com 49%. Para a opção performance, ninguém a indicou como sendo função do
Coro e apenas 2% acredita ser esta a principal atribuição da banda.
66
67
ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto Protestante no Brasil. p.47
Idem., p.47
64
Segundo Nelson Bomilcar, um dos principais líderes da denominação Batista na
área de música, Adoração é diálogo. É um momento de conversa e comunhão íntima com
Deus, conhecendo seus propósitos e sua vontade. 68 Concluímos então que as pessoas
acreditam que, tanto o Coro quanto a Banda podem direta ou indiretamente levá- los a uma
íntima relação com seu Deus.
68
NELSON Bomilcar. Ministério de Adoração na Igreja Contemporânea. p.27
O autor é pastor, compositor e músico, e tem trabalhado na adoração e música cristã nos últimos 30 anos,
ministrando e pastoreando músicos batistas, tendo produzido inúmeros cantores e grupos do Brasil. É membro
da Associação dos Músicos Cristãos (AMC) do Brasil.
65
Segundo a percepção deles, mesmo sendo de estilos diferentes estão dentro de uma
perspectiva interativa. A tensão que pode acontecer aqui se relaciona com a discussão sobre
quem tem mais possibilidades de levar os crentes a maior envolvimento na “Adoração”.
Música e Identidade
Como já afirmamos, os Batistas chegaram em solo brasileiro a partir da segunda
metade do século XIX como resultado do plano expansionista americano. Desde a chegada
dos primeiros missionários, houve a preocupação de se construir um pensamento teológico
genuinamente Batista.
Dentre os formadores desta teologia estão teólogos e musicólogos, tais como:
Antonio Teixeira de Albuquerque, Zachary Taylor, Theodoro Rodrigues Teixeira, Salomão
Luiz Ginsburg e Willian Edwin Entzminger, sendo estes dois últimos considerados os
maiores compositores Batistas e formadores da hinódia Batista brasileira.
Estes líderes, no decorrer daqueles primeiros anos, trabalharam preocupados com a
construção de uma doutrina coesa que representasse em sua plenitude o verdadeiro “jeitode-ser” Batista. Portanto, a produção literária, a liturgia, as prédicas e principalmente a
hinódia, foram fatores de definição para esta identidade. O Cantor Cristão representa este
legado e é até os dias atuais, considerado por alguns, o mais fiel representante do
pensamento musical Batista brasileiro. “Nada é mais parecido com os Batistas do que nosso
hinário”. Afirmação “apaixonada” de um dos fiéis.
Foi neste contexto de definição que o Canto Coral se incorporou como umas das
práticas musicais ma is importantes na estrutura cúltica dos Batistas.
Esta afirmação se concretiza na questão 10 da pesquisa onde 55% acham que o
Coro ou a música coral é, dentre as atividades musicais, a que mais se identifica com a
denominação. Enquanto que 27% apontam para a Banda.
66
Com a inserção das Bandas, de novos ritmos e de uma hinódia mais popular, esta
preocupação pela identidade tornou-se ponto de debate entre os Batistas. Provocou até
mesmo uma reflexão mais abrangente sobre a liturgia Batista por toda a América Latina.
Adveio destas inquietações a realização do I Congresso Latino Americano Batista de
Adoração. Este evento aconteceu no Rio de Janeiro, na Igreja Batista de Niterói, nos dias
15 a 18 de março de 2000.
O Congresso promovido pela Aliança Bat ista Mundial teve como enfoque o debate
sobre o culto Batista latino-americano. Uma das preocupações explicitadas num manifesto
ao final do congresso foi: a transformação, com muita freqüência, do culto em “show” e
exibição de beleza musical ou de talento retórico, como seu objetivo principal. O que para
alguns dos congressistas desvirtua a postura teológica Batista.
Nas palavras de um dos preletores, Antô nio Silvino, é perceptível a tensão gerada a
partir da crítica que este direciona a esta nova forma musical contemporânea. Assim ele
diz:
...mas recentemente, graças ao retoque que os cursos de Música Sacra
vem dando às ordens de culto, os cultos de adoração receberam
tratamento mais elaborado e novas nomenclaturas. Em contraponto,
ao culto litúrgico, surge o culto pop, influenciado pela música
evangélica popular, que entrou pelas janelas das igrejas, por principal
via radiofônica, e conseguiram um mercado competitivo e
67
comercialmente estimulador. As formatações de adoração passaram a
ser comandadas pelos instrumentos de cordas com sons estridentes, e
de percussão. Deu-se lugar às partituras cifradas dos corinhos.
Fechou-se o Cantor Cristão por considerá- lo ultrapassado (...)
Inaugurou-se a era do “louvorzão”, culto jovem, com a resistência
dos adultos taxados de tradicionais e conservadores.
Estes pouco a pouco vão se acomodando ao novo contexto, talvez por
falta de opção ou pela habilidade de seus pastores que conseguem
justificar um novo culto, para os novos tempos, para segurarem os
jovens na igreja, pois os jovens emigrariam para as igrejas/culto pop
ou iriam para o mundo, comprometendo desta forma o futuro das
igrejas Batistas.
Aceleradamente ao novo ritmo os cultos vão tomando formas
coreográficas, consideradas por alguns mais radicais como sessões
aeróbicas ou de danças, uma conjugação adorativa do espírito no
balanço do corpo conduzindo o espírito, ou vice- versa, o espírito
conduzindo o corpo.
Seria esta a adoração Batista, brasileira, que veio pra ficar? Será este
o futuro da adoração Batista? Ou será esta uma formatação
ecumênica, globalizante, pós- moderna, flutuante, que se dissolve no
ar, influenciada pela força da mídia? O futuro da adoração Batista já
chegou, ou é mais um modismo, mas uma expressão característica de
uma época, um protesto aos ce m anos de rosto enrugado de uma
adoração legada “pelos nossos pais americanos”? 69
Podemos perceber que esta é uma manifestação de um líder com uma visão mais
tradicional e que, com veemência rechaça os aspectos contemporâneos que são realidades
presentes no culto protestante brasileiro inclusive entre os Batistas.
Apesar desta perspectiva de Silvino, quanto a esta nova consciência musical,
comandada pelas Bandas, a questão 11 da pesquisa faz uma revelação contundente, a qual
aponta exatamente para este novo estilo, como sendo aquele que mais envolve as pessoas
no ato da adoração.
69
SILVINO Neto. Texto apresentado por ocasião de um painel do I Congresso latino-americano Batista de
Adoração. In, Revista Louvor, vol. 3 nº 84, 3t2000, p.24
68
Dos entrevistados, 64% concordaram que a Banda tem maior capacidade de tornar a
liturgia mais participativa, outros 18% vêem no coro esta possibilidade.
Finalmente, a 12ª questão quis saber em que grau as pessoas percebem no culto
Batista a (in)compatibilidade entre a música tradicional e contemporânea. Tiveram como
parâmetro o Coro e os hinos dos hinários oficiais, e a música contemporânea que tem nas
Bandas e cânticos os seus maiores referenciais.
Dos entrevistados, 89% afirmaram que há compatibilidade entre os dois estilos
enquanto apenas 11% percebem conflito. Entretanto, nas respostas anteriores percebemos
preferências distintas tanto que os jovens, em sua maioria, optam pela música de aspecto
contemporâneo. Na faixa etária adulta, a preferência é pela música mais tradicional.
Esta compatibilidade que representa 89% das respostas não é perceptível na liturgia,
visto que há cultos distintos permitindo diferentes manifestações musicais. O culto jovem,
por exemplo, é realizado aos sábados, o que é uma prática comum de quase todas as igrejas
Batistas. O culto de cunho mais tradicional se realiza quase sempre aos domingos à noite.
69
Diríamos que atualmente o conflito entre o tradicional e contemporâneo acontece
uma forma mais silenciosa diante da abertura que estas igrejas mais tradicionais
promoveram em suas liturgias. Esta concessão em alguns casos não se deu na inovação do
culto ou na substituição de repertór io, mas na permissão de outras manifestações musicais.
Entretanto, sendo realizadas em momentos e espaços diferentes, como é o caso do “culto
jovem”.
O estudo de caso e seu desenvolvimento
O estudo de caso foi desenvolvido seguindo basicamente quatro momentos:
1 – Fase aberta e exploratória
2 – Coleta de dados através do questionário (para líderes e membros das igrejas
citadas)
3 – Análise e interpretação de dados
4 – Elaboração do relatório
70
No primeiro momento, objetivamos mostrar através do questionário os pontos de
tensão que porventura existissem e que fossem perceptíveis nas respostas sugeridas pelos
entrevistados.
O questio nário foi aplicado nas igrejas que possuem ou já tiveram uma estrutura
musical organizada e que nos permitiu uma melhor percepção do grau de influência,
compatibilidade ou incompatibilidade entre a música tradicional e contemporânea,
coexistindo num mesmo espaço litúrgico.
A grande questão pertinente era investigar se há uma tensão gerada a partir dos
diferentes aspectos presentes na música tradicional e contemporânea e de que maneira esta
tensão se processa nas ações das pessoas e, principalmente, na estrutura litúrgica das
igrejas.
Esta fase permitiu, através do questionário, explorar diferentes conceitos, vontades e
ansiedades das pessoas que semanalmente estão nas igrejas participando do culto e que nem
sempre manifestam de forma direta seus sentimentos.
O segundo momento foi a coleta de dados e para uma melhor delimitação,
procuramos definir pontos específicos de investigação, tais como: preferência, prioridade,
função e identificação. Todos estes pontos estão atrelados à música tradicional e/ou à
música contemporânea, como campo ma ior de investigação e podem estar exatamente
nestes pontos as possibilidades de tensões.
O terceiro momento – a análise e interpretação dos dados – é o que vai resultar no
capítulo relatório onde estão os gráficos a serem mensurados.
E o quarto momento surge dos comentários exploratórios das informações obtidas
no questionário e que foram analisados de forma objetiva tentando fazer uma aproximação
com o tema e sua relevância.
71
Conclusões Preliminares
Nestas duas últimas décadas, os Batistas tiveram que conviver com grandes
transformações que chegaram até mesmo a desafiar antigas estruturas eclesiásticas e
obrigá- los a uma revisão de suas práticas musicais até então consideradas apropriadas com
suas diretrizes teológicas. Sendo um grupo de forte ênfase no púlpito, ou seja, na prédica,
de repente se vêem bombardeados por uma forte “onda musical” e que a rigor traz ao
cenário, aspectos estranhos à cultura musical da denominação.
Contextualização tem sido a palavra mais cogitada nos últimos tempos para
justificar as tentativas de mudanças no cenário musical Batista. Mas tem acontecido sob o
protesto de muitos que prevêem o enfraquecimento da tradição e o abandono de antigos
valores que nortearam por muito tempo o pensamento Batista brasileiro.
Mesmo que as inovações sejam necessárias, ou mesmo que façam parte da história
humana, o seu estabelecimento quase sempre se dá de forma conflituosa; gera-se uma
tensão que propicia grandes discussões e acaba por nutrir ambientes desconfortáveis, climas
favoráveis à cisões e uma instabilidade na unidade do grupo.
O entendimento desta tensão em nossos dias é necessário para gerar na igreja uma
reflexão adequada que resulte numa práxis atualizada e inserida em um contexto, seja
teológico, litúrgico ou musical. Entretanto, as renovações não podem perder de vista
valores sólidos do passado, considerados pelas denominações históricas um “legado de
conquista”.
Para os Batistas, dentre estas conquistas, está a identidade da denominação
estabelecida por uma riqueza de princípios que emergiram no decorrer da história. Para
Darci Dusilek, entretanto, “esta se encontra empaledecida, devido ao estado de subnutrição
histórica e teológica do nosso povo”.70 E sobre este assunto trataremos no capitulo a
seguir.
70
ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 6
72
CAPÍTULO 3
PERSPECTIVAS DA PRÁXIS DO CANTO CORAL NA ATUALIDADE
“A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre
as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem
exigências.”
Theodor W. Adorno
Introdução
Pretendemos neste último capítulo, sugerir ações à práxis pastoral que oriente a
prática musical num contexto de pluralidade. As sugestões aqui apresentadas partem de um
princípio de diálogo como possibilidade de aproximação entre aspectos distintos, tanto da
práxis teológica, quanto da práxis litúrgico- musical e cultural
Partimos da hipótese de que há uma tensão gerada entre a música tradicional e a
música contemporânea e que isto se dá, em parte, pelo distanciamento existente entre
ambas, não só no aspecto temporal, mas também no aspecto estético. O nosso objetivo foi a
de provocar uma aproximação que possibilite às igrejas um equilíbrio vivencial entre a sua
hinódia tradicional e as novas manifestações musicais.
Canto Coral – Uma questão de identidade
Durante a pesquisa vislumbramos um fato importante que emergiu dos contatos e
dos dados obtidos através do questionário e sintetiza bem um sentimento de autodefesa
entre os Batistas. Ficou claro que no bojo de tantas discussões sobre o aspecto litúrgico, há
uma
preocupação
relativamente
importante
sobre
a
identidade
denominacional.
Obviamente que num contexto de pluralidade religiosa, e particularmente, num cenário
plurimusical, algumas vezes, como diz Freddi Junior “as preferências estéticas se
confundem com os pensamentos teológicos e ideológicos causando conflitos que,
73
freqüentemente, debilitam as igrejas locais e, por conseqüência, a denominação como
instituição”. 71
Mediante estas possibilidades, os Batistas têm se mostrados preocupados com sua
identidade. Aliás, este sentimento existe desde os primórdios da denominação aqui no
Brasil. É portanto, uma herança deixada pelos primeiros missionários que, na ocasião se
mostravam cuidadosos com a influência de outras correntes teológicas.
Com aparente dificuldade de conviver na pluralidade, os primeiros Batistas
brasileiros
desenvolveram
um
pensamento
antiecumênico,
antidenominacional e,
enfaticamente, anticatolicista, beirando quase o isolacionismo.
Como diz Azevedo, até a década de setenta os Batistas tinham uma forma bem
particular de se auto -denominarem. Expressavam-se numa frase de impacto que resumia a
sua auto-compreensão religiosa. Assim diziam: “EU NÃO SOU CRENTE BAT ISTA, EU
SOU UM BATISTA CRENTE”. Para ele esta afirmativa era um reflexo do pensamento
pioneiro Batista expresso através de Bagby72 em 1884, o qual enfaticamente afirmava que:
Uma Igreja Batista não pode estar em absoluta fraternidade
com instituição alguma fora de outra Igreja Batista.(...)”.
Devemos estar em paz e boas relações para com igrejas e
outras instituições fora da nossa denominação, mas somente
quando for possível, e até onde for possível. É preciso que a
pessoa, instituição ou igreja se harmonize primeiro com o
evangelho, para que assim pos sa estar em completa e absoluta
relação com as Igrejas Batistas. 73
A formação do pensamento Batista brasileiro nasce então buscando uma coesão
doutrinária e preocupada em firmar uma identidade forte que, além de protegida de
qualquer influência externa fosse claramente distinta de qualquer outro grupo.
71
SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência? p. 194
O pastor Bagby e família chegaram ao Brasil no dia 02 de março de 1881 e residiram em Santa Bárbara
d’Oeste. Ele assumiu o pastorado no dia 25 de maio do mesmo ano. JOSÉ Pereira Reis. Histórias do Batistas
no Brasil. p.472 – Reedição ampliada e atualizada.
73
BAGBY, W. B. Carta à Foreign Mission Board, 29.8.1884,mss. In, ISRAEL Belo de Azevedo. A
Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro. p.212
72
74
Alimentados por este cuidado, anos mais tarde foi editado um documento que se
tornou oficial na denominação intitulado de “Declaração de Fé dos Batistas brasileiros”.
74
Neste documento estão condensadas as convicções e crenças que devem nortear a vida do
povo Batista no Brasil.
Segundo edito da denominação esta declaração é uma formulação doutrinária que
concretamente está fundamentada e autorizada na Bíblia. Sendo ela (Bíblia) a única fonte
de onde partem as sistematizações conceituais sobre a antropologia, soteriologia,
eclesiologia, dentre outros aspectos considerados importantes para a formação do
pensamento teológico da denominação.75
Em concordância com a perspectiva teológica, e buscando uma unidade doutrinária,
a hinologia 76 Batista, é desde a sua primeira edição em 1891, através de seu hinário mais
tradicional, o Cantor Cristão77 , um instrumento estratégico de propagação e sustentação
desta identidade.78 Israel afirma que, de certo modo, o pensamento dos protestantes
brasileiros [está] menos nos livros dos seus teólogos e mais nos hinos que (muitos) cantam
(...).
79
74
Refere -se a um documento editado pela Convenção Batista Brasileira que é o órgão máximo representativo
da denominação no país e se realiza uma vez por ano. A CBB teve seu início em 22 de junho de 1907. In,
JOSÈ Pereira Reis. História dos Batistas no Brasil. Reedição atualizada e ampliada. p. 142
75
ISRAEL Belo de Azevedo. A Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro .
p.259
76
Segundo Mendonça, a hinologia protestante brasileira foi desenvolvida como um instrumento apropriado à
expansão conversionista, ou seja, era o pano de fundo de sustentação para a teologia da era missionária. Como
ele mesmo ratifica: “A profusa produção hinológica dos séculos XVIII e XIX, de todas as procedências
imagináveis (...) traz, em profundidade, a marca dessa poderosa teologia. Salvo por poucas exceções, essa
coleção de hinos que constitui a base da hinologia protestante brasileira, situa-se no plano de apoio à
pregação conversionista central. A maioria absoluta dos hinos traz a marca de universalidade teológica
Wesleyana e Pietista: o individualismo (na maioria são escritos na 1ª pessoa do singular), o voluntarismo (o
apelo para a decisão) e a pedagogia e o emocionalismo pietitas (as extensas letras expõem a doutrina da
salvação e o apelo emocional do Crucificado). In, ANTONIO Gouvêa Mendonça. A Crise do Culto
Protestante no Brasil. p.36”.
77
O CC foi um hinário que surgiu da iniciativa do missionário Batista Salomão Ginsburg, vindo ao Brasil a
convite do casal Kalley, fundadores do trabalho congregacional no Brasil. A primeira edição do CC data de
1891 sendo reeditado em 1894. De lá para cá já passou por outras reedições. In, JOSÈ Pereira Reis. História
dos Batistas no Brasil. Reedição atualizada e ampliada. p. 98
78
ISRAEL Belo de Azevedo. A Celebração do Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro . p.
207
79
Ibid., p. 154
75
Assim a prática litúrgica Batista se desenvolveu dentro de uma estética própria que
no decorrer dos anos se tornou uma especificidade da denominação. Caracteristicamente
sempre foi um culto marcado pela forte presença musical através dos hinos e da prática
coral definindo portanto um “jeito-batista-de-ser”. Com o tempo estas práticas passaram a
se confundir com a própria história doutrinária.
A partir da década de sessenta, surgem alguns movimentos renovacionistas que vão
influenciá- los exatamente nestes aspectos considerados peculiarmente Batistas, ou seja, em
sua teologia, liturgia e música. Passaram a ter sérias dificuldades em manter uma unidade
em torno de suas diretrizes eclesiásticas, tanto que nas décadas seguintes o que se
testemunha é a ocorrência de alguns cismas importantes 80 . Estes acontecimentos
desencadearam uma série de discussões traze ndo à tona mais uma vez a questão da
identidade e unidade denominacional. A rigor parece não ter sido suficiente para estancar
muitas mudanças que viriam a ocorrer na estrutura do grupo, fragmentando assim a tão
desejada coesão.
Passados mais de 120 anos de história Batista no Brasil a realidade atual mostra que
no mínimo se alimentam antigas preocupações. Não só por causa dos persistentes
movimentos renovacionistas, mas também devido a esta pluralidade que caracteriza a vida
religiosa brasileira hodierna e que pode influenciar nas estruturas denominacionais.
Atualmente, diferentemente de um passado exclusivista, os Batistas experimentam
uma convivência conflituosa na pluralidade. Há uma diversidade nas práticas cúlticas, nos
estilos musicais e até mesmo no aspecto teológico.
80
A primeira grande divisão sofrida no Brasil pelos Batistas data de 1965 lideradas pelos pastores Enéas
Torgnini e Rego do Nascimento, de onde se originou a Convenção Batista Nacional, contando hoje com mais
de 400 igrejas. Posteriormente, outras divisões aconteceram através de Valnice Milhomes, da qual surgiu a
Igreja Batista El Shadai, depois com Átila Brandão de Oliveira e Agnaldo Leito do Sacramento, de onde
surgiu a Igreja Batista Shalon, e em Campinas com o Pr. João Batista Martins de Sá de onde se originou a
Igreja Batista Àgape. Sem contar as diversas igrejas que têm se desligado dos batistas pelo movimento G12.
76
Para alguns de seus líderes, existem aspectos nesta diversidade que são
completamente dissonantes com os princípios que nortearam a formação do grupo desde
1609. 81
Marcílio de Oliveira Filho formatou, a partir de uma pesquisa de campo uma
tipologia que expressa a diversificação presente nas Igrejas Batistas na atualidade.
Inevitavelmente algumas destas expressões cúlticas pressupõem um princípio teológico
próprio. Este aspecto é traduzido como uma ameaça concreta à unidade e identidade da
denominação. Portanto, partindo de um aspecto teológico e litúrgico podemos encontrar as
seguintes designações de igrejas, conforme observa Marcilio :
1. Igrejas Batistas Históricas
São igrejas com características conservadoras, nas quais os
programas de educação seguem literatura e estilos
denominacionais, não havendo aberturas para a introdução de
inovações. Os cultos e programa musical são conservadores.
O repertório segue estritamente a linha proposta pelo hinário
oficial. No caso do Brasil, limita-se exclusivamente ao Cantor
Cristão, utilizando coros, conjuntos instrumentais e orquestra,
quando possível.
2. Igrejas Batistas Contemporâneas
São igrejas que procuram um programa totalmente novo. Não
seguem a literatura oficial e buscam público alvo específico.
Os cultos e o programa musical são inovadores, buscando
interação com as tendências do novo século. O repertório é
baseado em cânticos, abandona ndo os hinários oficiais.
Uma das preocupações na liturgia é a dos cânticos verticais,
buscando no adorador uma identidade e aproximação com o
adorado. Há a exclusão quase total dos coros, dando-se ênfase
ao louvor congregacional, às bandas e aos pequenos grupos
vocais.
81
Os relatos históricos dão conta de que mediante um contexto de extrema perseguição religiosa da igreja
oficial anglicana, através da monarquia inglesa, no início do século 17, surge a primeira igreja batista, em solo
holandês, visto que seus dois principais líderes, Jonh Smyth e Thomás Helwys, tinham fugido de sua terra
natal por serem considerados como traidores, rebeldes, arrogantes e foras da lei, ou mesmo maiores inimigos
do governo (...) ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses.
p. 29
77
3.
Igrejas Batistas Renovadas ou Carismáticas
São igrejas que vivem uma busca de experiências crescentes
ou avivamento. Seguem uma literatura própria e seus temas
são geralmente os dons e as manifestações do Espírito Santo.
Os cultos e o programa musical são conservadores. Portanto,
o repertório é tradicional, seguindo geralmente o estilo
histórico, usando o Cantor Cristão (Brasil) como fonte
principal ou, em outros países, os hinários mais antigos.
Uma das preocupações na liturgia é a busca por experiências
espirituais, levando a um crescente envolvimento das pessoas
na dinâmica do culto. Curiosamente, encontramos também
igrejas renovadas que não aceitam o repertório tradicional e
hinários, utilizando cânticos de comunidades ou de outros
grupos de neopentecostalismo, com características rítmicas
mais fortes e que alguns chamam de “cânticos de batalhas”.
4.
Igrejas Batistas Abertas
São igrejas que buscam, no equilíbrio entre as tendências
acima, um estilo novo para conviver com as diferenças. Não
estão preocupados com um estilo só e buscam, nessa
convivência com as divergências, organizar um programa
alternativo. Os cultos e o programa musical são flexíveis, ora
utilizando os hinos tradicionais com uma roupagem mais
contemporânea, ora utilizando os cânticos verticais e até os de
batalha. A literatura do programa educacional é voltada para
as diversas idades, mas nem sempre segue a temática
denominacional. A ênfase do trabalho prioriza as pessoas e
não a estrutura, procurando envolvê- la em grupos pequenos,
células ou Koinonias”. 82
Todas estas possibilidades são encontradas dentro do núcleo Batista pertencente a
Convenção Batista brasileira. Ou seja, percebemos inseridos na mesma denominação
diferentes raciocínios litúrgicos e teológicos.
82
MARCILIO de Oliveira Filho. Convivendo com as Diferenças. p. 25 . In, Revista Louvor 2T2002
78
Como já dissemos, em março de 2000 na cidade de Niterói- RJ, aconteceu o último
congresso Batista em nível internacional. O encontro propôs a discussão sobre a natureza e
a importância da adoração e as implicações da pluralidade sobre a identidade Batista
brasileira. 83 Como resultado deste encontro surgiu um documento que inicia exatamente
falando desta realidade e afirmando que os Batistas brasileiros “estão conscientes da
situação que vivem algumas (...) igrejas e convenções para as quais a adoração tem sido
tema de debate, razão de conflitos e causa de lamentáveis divisões.”84 .
Entretanto, fica transparente que, a rigor, a liderança Batista ainda não encontrou
alternativas concretas que possam solucionar este estado de tensão e conflitos. Condição
esta que oferece possibilidades de enfraquecimento das estruturas e conseqüentemente, da
identidade.
Partindo deste cenário conflituoso podemos indagar: Quais são as lógicas que
predominam neste universo Batista? Quais seriam as possibilidades das praticas
tradicionais, como o Canto Coral, diante de uma igreja em transição, coexistir num espaço
comum com outras manifestações contemporâneas sem que isto necessariamente seja
entendido como abandono aos pilares da doutrina?
Canto Coral – Uma questão de lógica
Entendemos que do ponto vista da prática religiosa Batista, existem duas lógicas
que podem ser percebidas neste contexto conflituoso e que ambas procuram estabelecer um
tipo de identidade, mas é claro, cada uma emergindo de sua própria ótica e pratica.
83
O I CONGRESSO LATINO -AMERICANO BATISTA DE ADORAÇÃO, aconteceu no mês de março, de
15 a 18, no templo da PIB de Niterói (RJ). O objetivo foi o de conhecer e compartilhar aspectos da adoração e
do culto Batista com líderes, pastores e ministros de música de muitos lugares do Brasil e de outros lugares.
Foi promovido pela Aliança Batista Mundial (ABM) e pela União Batista Latino-Americana (UBLA). Teve a
participação de preletores representando variadas correntes de cultos presentes na América Latina. Este
evento aconteceu à semelhança do Congresso Mundial de Adoração, ocorrido em Berlim, de 15 a 18 de
outubro de 1998. Artigo da Revista Louvor, Ano 23, vol. 3 - nº 84. 3T2000.
84
I CONGRESSO LATINO-AMERICANO BATISTA DE ADORAÇÃO, Revista Louvor, Ano 23, vol. 3 nº
84. 3T2000. p. 23
79
Consideraremos uma como “lógica exclusivista” e a outra como “lógica dialética”.
A lógica exclusivista se caracteriza pela persistência na manutenção de antigas prá ticas e
diretrizes considerando-as como sendo verdades universais e exclusivas. O exclusivista
relaciona a identidade de sua denominação diretamente com a tradição de suas práticas.
Diríamos que na hinologia esta lógica está fortemente presente na defesa incondicional dos
hinários oficiais, das músicas do passado e da prática coral.
Os aspectos da tradição, segundo a lógica dos exclusivistas, são os que realmente se
identificam com a sua denominação. Geralmente as pessoas que se encaixam neste perfil,
são irredutíveis em suas posições e nutrem um sentimento de posse muito forte.
A ênfase da identidade para os exclusivistas dá-se muito mais pela tradição de uma
práxis eclesiológica do que pelo conhecimento das doutrinas, teologia e da própria história
denominacional.
Segundo Moreira, este é um aspecto problemático para os Batistas, pois cerca de
95% dos fiéis, incluindo pastores e outros líderes da denominação, sabem pouco ou quase
nada de suas doutrinas, seus princípios, sua origem, conhecimento da vida, obra e caráter
dos seus precursores
85
Diante da falta de conhecimento de sua própria denominação
Dusilek 86 diz que as pessoas procuram estabelecer tal identidade somente a partir da práxis
eclesiológica, sem qualquer vínc ulo com a sua própria história 87 e complementa citando
Hegel que diz “quem não conhece a sua história está condenado a viver sem a direção e
perspectiva que ela oferece (...) aqueles que desconhecem a história estão condenados a
viver sem a luz de sua memória”. 88
85
ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p.13
Darci Dusilek é mestre em Ciência da Informação, tem vários outros cursos de graduação e pós-graduação e
trabalha como pastor batista, professor universitário e escritor. Foi Presidente da Convenção Batista
Brasileira; Pastor da igreja Batista de Itacuruçá, na cidade de Rio de Janeiro, e Professor do Seminário
Teológico Batista do Sul, além de exercer outras atividades na denominação. Por 10 anos atuou como Diretor
Executivo da Visão Mundial para o Brasil.
87
ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 18
88
Ibid., p. 17
86
80
Os Batistas exclusivistas se identificam mais com determinadas práticas do que
propriamente a seus princípios bíblico-teológicos. E neste caso o Canto Coral é uma destas
práticas tradicionais que reforça a identidade, segundo a lógica exclusivista.
Uma outra lógica é entendida como a “lógica dialética” e se caracteriza pela
capacidade que possui em se aproximar e dialogar com aspectos distintos num contexto
plural. Com tantas possibilidades que o contexto contemporâneo oferece, os Batistas do
século XXI têm pela frente o desafio da pluralidade. Estabelecer uma identidade nestas
condições parece não ser uma tarefa fácil. Faz-se necessário sair do isolacionismo ou
exclusivismo e redefinir a identidade a partir do diá logo com as várias possibilidades sejam
teológicas, litúrgicas e musicais.
A “lógica dialética” aplicada ao aspecto litúrgico- musical vislumbra uma identidade
a partir do diálogo, como por exemplo, com a cultura local. Neste caso, abrem-se
possibilidades de inserção no contexto eclesial de manifestações da cultura popular que por
vezes a religião rechaçou com veemência.
Entretanto, num processo dialético há o desencadear de um outro desafio que é o da
aceitação, pois a tensão entre valo res do passado e do presente caracteriza-se certamente
pela não aceitação da realidade de ambas as partes. Há uma rigidez que promove um estado
de conflito e impede o diálogo.
Um dos pilares de sustentação da doutrina Batista é exatamente o da liberdade de
consciência religiosa. Como diz Langston:
Os Batistas são um povo que tem a coragem das suas
convicções. Crêem num indivíduo livre, numa igreja livre,
num estado livre; crêem na competência da cada alma tratar
diretamente com Deus da sua própria salvação; crêem nos
direitos iguais para todos e privilégios especiais para
ninguém; crêem numa democracia política, religiosa, social,
econômica e educativa(...) 89
89
LANGSTON. A. B. Verdadeira Democracia. p. 70 In, Israel Belo de Azevedo.
Indivíduo: a formação do pensamento Batista brasileiro. p. 263
A Celebração do
81
Este conceito de liberdade, segundo Moreira, exposto como confissão de fé Batista,
foi se expandindo com o tempo e hoje pode ser entendido como algo que vai muito mais
além da livre expressão de pensamentos. Deve ser entendido como um sentimento de
tolerância em relação às manifestações e interpretações diferentes. 90
Este princípio doutrinário parece dar suporte à “lógica dialética” ao colocar em
relevo o fator tolerância. No mínimo deveria permitir com mais naturalidade o intercâmbio
entre os aspectos da tradição e da contemporaneidade sem maiores sobressaltos.
Banda e Coro – Uma questão dialética
Vemos na aproximação entre o Coro e Banda uma possibilidade de diálogo. Na
pratica musical dialogar significa mesclar estilos, cruzar arranjos entre a música tradicional
e a música contemporânea. De repente, tirar o velho órgão e colocar a Banda para fazer o
acompanhamento de um grupo coral, ou possibilitar que uma banda execute clássicos
corais e assim por diante. Maraschim falando sobre a inovação cúltica, diz que “são
inúmeros hoje em dia os pensadores cristãos empenhados em romper com a rigidez dos
nossos livros de reza e dos nossos hinários tradicionais. Entretanto, nem sempre temos
sabido o que oferecer em seu lugar”. 91
Esta compreensão de “substituir” parece ser um outro fator de tensão que acaba
dificultando o processo de contextualização.
Como diz Denise Frederico, a tradição pode ser considerada um patrimônio “cuja
existência tem história e memória, passando de geração em geração”. As pessoas que se
identificam com a música do passado, além de ressaltar o seu gosto pessoal, relacionam o
seu próprio ato de culto a este estilo. Portanto, dificilmente aceitariam mudanças, daí a
importância de se pensar na contextualização partindo do diálogo ao invés da substituição
total e radical.
90
ZAQUEU Moreira de Oliveira. Liberdade e Exclusivismo: ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 22
JACI Maraschim. É no Corpo que somos Espírito. p. 112. In, Estudos de Religião, ano XVII, nº 24, junho
de 2003, São Bernardo do Campo, SP, Universidade Metodista de São Paulo.
91
82
Mas nesta direção existem implicações que se referem à própria gênese do
protestantismo brasileiro, pois os primeiros missionários estabeleceram aqui um culto
caracterizado pelo distanciamento da práxis religiosa com a práxis cultural. 92
Desde o início fomos doutrinados a olhar para as manifestações fora da igreja como
inaceitáveis e assim estabelecemos no decorrer da história evangélica brasileira um
progressivo enrijecimento entre os aspectos culturais e religiosos. Ou seja, não
desenvolvemos a prática do diálogo.
Segundo Magali:
As culturas evangélicas no Brasil, desde seus primórdios no
século XIX, assentaram-se sobre as bases da negação das
manifestações culturais autóctones e da supervalorização do
americam way of life e da cultura religiosa anglo-saxã; do
autoritarismo, presente no forte clericalismo; da intolerância
religiosa e do antiecumenismo de uma visão de mundo dua l
em que o sagrado e o profano são antagônicos, concretizados
no dualismo igreja-mundo, alicerces de um sectarismo; de um
anti-intelectualismo, baseado em uma fé de certezas;
de uma religiosidade racional, com pouca ênfase na
emoção; de um modo de vida rural, inserindo práticas e
costumes rurais nas formas de institucionalização
e
organização; de uma ética restritiva nos costumes, fundada no
moralismo puritano (não dançar, não beber, não fumar,
guardar o domingo, adotar indumentária sóbria são exemplos
de costumes a serem cultivados). 93
Este distanciamento, que dá-se em dimensões mais abrangentes como sagrado e o
profano, contribuiu para que o culto protestante brasileiro se desenvolvesse fazendo clara
distinção entre passado e presente, entre tradição e contemporaneidade.
92
Segundo Raymond Williams a cultura é o processo social de dar e receber sentidos, um lento
desenvolvimento de sentidos comuns, formados por aquelas direções já conhecidas com as quais os sujeitos
estão acostumados, mas também pelas novas observações e os novos sentidos que são recebidos e testados.
RAYMOND Williams. Culture is ordinary. In, MAGALI do Nascimento Cunha: Consumo: novo apelo
evangélico em tempos de cultura gospel. p.54. – In, Estudos de Religião – ano XVII, nº 26, junho de 2004,
São Bernardo do Campo, SP: UMESP.
93
MAGALI do Nascimento cunha. Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p. 55. In,
Estudo de Religião – Ano XVII, nº 26, junho de 2004, São Bernardo do Campo, SP – UMESP.
83
Deste modo, quando as igrejas brasileiras pensam numa renovação, logo surge a
impossibilidade de diálogo que acaba por inviabilizar o processo. Maraschin ratifica esta
proposição dizendo que:
...a necessidade de renovação (...) levou muita gente a pensar
que só se renova na medida em que se abandona o passado.
Ou melhor, que só se renova se conseguirmos abandonar as
melhores tradições da igreja. Nada mais falso. Por outro lado,
há muita gente que tem medo das “inovações” porque lhes
parece ameaçadoras da paz eclesiástica e, portanto, do
progresso da igreja. 94
Entender contextualização a partir de um processo de substituição, parece facilitar
um clima conflituoso e neste caso Freddi Junior adverte que sem o diálogo:
As igrejas locais são terrenos (...) fecundos para estes
conflitos, pois nelas as divergências surgem em diferentes
pontos, como nas questões etárias – jovens x adultos - nas
preferências estilísticas, tendências tradicionais ou
renovadoras, como também inclinações eruditas ou populares
e nas discussões teológicas e ideológicas, nas quais a postura
se dá numa relação vertical, homem e Deus, ou em condutas
horizontalistas, sociedade, cultura, etc. 95
As igrejas identificadas com a tradição sentirão dificuldades de abandonar sua s
expressões cúlticas históricas, seus hinários e suas músicas as quais se confundem com a
própria história do grupo. Por isso que promover o diálogo entre o Coro e Banda pode ser
uma possibilidade de aproximação entre tradição e contemporâneo tornando a
contextualização um processo facilitado.
Nestes últimos anos, alguns esforços foram envidados no sentido de promoverem
mudanças no culto protestante brasileiro. A partir do aspecto musical propôs-se a repensar
uma estrutura litúrgica na qual pudesse se promover um diálogo com a cultura brasileira.
Estas iniciativas, mesmo sendo ações individualizadas, representaram um sentimento que a
rigor estava presente em todos os segmentos religiosos de cunho histórico.
94
95
JACI Maraschin. A Beleza da Santidade: ensaios de liturgia. p. 19
SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência? p.41
84
O que faremos a seguir é analisar dois movimentos que são considerados pioneiros
e importantes no processo de contextualização do culto protestante brasileiro.
Tentativas de mudanças no culto protestante brasileiro
Movimento Nacionalista
Um dos movimentos que surgiu foi o “nacionalista”, 96 considerado assim pela
tentativa de abrasileiramento da liturgia 97 introduzindo aspectos da cultura local na
estrutura do culto. A contextualização aqui era entendida a partir da inculturação, tanto que
musicalmente houve uma ênfase muito forte nos ritmos considerados brasileiros, tais como:
o samba, o maxixe, o baião. Também no aspecto teológico foram observadas algumas
mudanças, pois as letras falam mais a partir de um contexto sócio-cultural brasileiro
expressando a nossa realidade.
Os exemplos a seguir são composições consideradas bem brasileiras, pois são
harmonizadas em ritmo e melodia nordestina, no caso, o baião.
96
É importante pontuar que os músicos participantes dos Vencedores por Cristo e de outros grupos estão em
atividades até hoje exercendo funções em suas respectivas igrejas. Dentre estes estão: João Alexandre,
Guilherme Kerr e Nelson Bomilcar.
97
Liturgia aqui entendida, segundo Maraschin, como a realização mais perfeita da experiência da vida da
Igreja com Deus. Move-se, pois, entre o espaço da experiência e o espaço da revelação. Nesse movimento,
estão presentes a história, portadora da tradição, a cultura, que expressa os des ejos humanos, e a arte,
manifestação do poder criativo do ser humano. In, JACI Maraschin. Na Beleza da Santidade. p. 67
85
.
86
87
88
89
Este movimento, pelo menos no contexto Batista, não se tornou uma iniciativa tão
abrangente e permanente, mas, foi notável a sua influência na liturgia da denominação.
Alguns grupos musicais contribuíram nesta tentativa de mudanças no culto protestante
brasileiro, tais como os: Vencedores por Cristo, Milad, Novo Som, Grupo Elo.
Talvez como fruto deste movimento surgiu no contexto Batista, o HCC – Hinário
para o Culto Cristão - após 100 anos de um mesmo hinário o CC – Cantor Cristão. Este
novo hinário surgiu, a princípio, com uma proposta de renovação que se aproximasse da
realidade brasileira, entretanto ainda trouxe um repertório miscigenado e com uma maioria
absoluta de músicas americanas e européias. Mas houve abertura significativa dando
oportunidade a compositores brasileiros.
Outras
manifestações
que
emergiram
se
localizaram
em
outros
grupos
denominacionais, com é o caso do Projeto Canteiro da Igreja Presbiteriana Independente, o
Nova Canção da Igreja Anglicana e o Novo Canto da Terra. Este último movimento
musical, foi o resultado dos esforços de um grupo de músicos e teólogos de várias origens
protestantes. 98
Estas iniciativas, porém, parecem não ter logrado o êxito desejado, pois se por um
lado faltou continuidade no processo, por outro a música americana e européia continuou
ditando o tom da música protestante e dominando o espaço litúrgico brasileiro.
Deste modo, suspeitamos que qualquer movimento dentro do protestantismo
brasileiro que busque uma identidade musical própria, tentando dialogar com a cultura
local, esbarre-se em pelo menos duas tarefas difíceis. A primeira provavelmente seria a de
caráter estético e advém da dificuldade de se formular um conceito preciso de música
brasileira. Devemos considerar que o Brasil, desde a sua colonização, tornou-se um país
culturalmente miscigenado, fruto da presença e influência de africanos, indígenas,
espanhóis, portugueses, italianos, ingleses e outros.
98
SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência. p. 51
90
Tinhorão aponta para as dificuldades de se falar na existência de ações musicais nos
primeiros duzentos anos de colonização. Ele afirma que neste período as manifestações
musicais genuinamente brasileiras seriam somente os cantos e danças ritualísticas dos
indígenas acompanhados por instrumentos de sopro. 99 Porém, este tipo de música parece
nunca ter sido percebida.
Outras manifestações que se constituíram em algo representativamente popular e
brasileiro, tais como: a modinha, o lundu, o maxixe, o choro, o frevo, o samba e até mesmo
o baião, chegaram até nós através do processo de colonização. É da fusão destas cantigas e
danças que se originou o que hoje é conhecido de base da música popular brasileira. Como
diz Freddi Junior “...esta música não contém uma tipologia pura. Fruto de influências e
misturas, o perfil desta arte é um leque de opções, criado em território brasileiro, de caráter
sincrético...”100
Se a cultura musical brasileira é tão rica em influênc ias importadas, quais os
aspectos desta música poderiam ser considerados importantes para a formação de um
pensamento musical evangélico e puramente brasileiro? E por quais critérios se definiriam
estes aspectos? Diante destas indagações a tarefa de formatar um conceito de música
brasileira tornou-se um desafio que requer ações interpretativas eficazes.
Um segundo desafio para a implantação de uma identidade musical própria mais
próxima do contexto brasileiro seria de caráter teológico. E se refere à “polarização entre o
sagrado e profano”. Uma dualidade que veio na bagagem dos missionários pione iros. Para
Magali do Nascimento, esta teologia dualística nasceu com o protestantismo do Brasil e se
caracterizou pela forte ação proselitista, como também, pela racionalidade, pela restrição
aos costumes e pelo estabelecimento de uma dualidade entre: bem- mal, igreja-mundo,
sagrado-profano. 101
99
JOSÉ Ramos Tinhorão. Pequena História da Música Popular. p. 5
SERGIO Freddi Junior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência. p. 49
101
MAGALI do Nascimento Cunha. Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p. 58. In,
Estudos de Religião. Ano XVII, nº 26, São Bernardo d o Campo – SP: UMESP.
100
91
Um aspecto importante deste raciocínio teológico não é a supremacia de um dos
pólos sobre o outro, mas o permanente estado de tensão entre eles. 102
No aspecto musical, esta separação, justificada pela igreja, remonta a uma antiga e
longa história de discussões, preconceitos e disputas. A musicalidade do povo sempre
transitou numa linha tênue entre o sagrado e o profano 103 e o protestantismo brasileiro
herdou e desenvolveu com grande eficácia este aspecto teológico medieval.
Maraschin sugere que a igreja promova uma renovação litúrgica dando espaço para
o que ele considera de aspectos musicais mais próximos da realidade de nossas igrejas. Ele
assim diz:
A liturgia precisa se libertar da tirania dos hinários(...)
herdados e do tipo de música alienígena que trouxeram para
nossas igrejas (...) desmitizar o órgão. Mostrar a sacralidade
maravilhosa do violão, dos tambores, dos pandeiros e das
cuícas (...) experimentar a beleza do nosso samba, da nossa
marcha-rancho, do nosso xaxado. 104
Mas, tanto os instrumentos quanto os estilos musicais citados por Maraschin são
considerados profanos por uma grande parte dos evangélicos, associado-os à ma nifestações
profanas. Os tambores, por exemplo, estão associados ao candomblé; os pandeiros e cuícas
a rodas de sambas e bonitas mulatas: o próprio samba remete ao carnaval onde há um
afloramento de todas as “manifestações carnais” possíveis.
102
MARCELO Ayres Camurça. Novos Movimentos: entre o secular e o sagrado. p. 49
O conceito de sagrado relacionado à música estava ligado diretamente ao fato de ela ser uma criação dos
deuses, a exemplo da antiga Grécia onde o venerado Hermes era tido como o deus da música, o mensageiro
divino, e por esta razão a musicalidade estava associada à vida religiosa do povo, adequando-se aos diversos
momentos sociais. Mas se encontra também em outras culturas essa atribuição lendária e mitoló gica, sempre a
invocar a interferência dos deuses, tais como: no Japão cantavam cânticos à deusa do sol quando ela
“amuava” e se escondia na sua gruta. Ainda hoje, os japoneses entoam cantos antigos quando há um eclipse
solar; na América do Norte, uma tribo acreditava que a música era uma prenda do deus Tezcathipoca; aos
assírios apareceu um deus que os ensinou a ler e a escrever e depois lhes ofereceu a música; na mitologia
germânica, a música é representada por Wodan, protetor dos cantores e dos músicos, pois ele também o era;
na idade média acreditava-se que a música tinha sido criada por Jubal, filho de Caim. Já o conceito de profano
aparecia todas as vezes que a música era usada para o deleite do corpo e da sexualidade, como é o caso da
música no contexto romano, onde era desvencilhada completamente da ética para dar lugar à sensualidade,
onde principalmente o corpo feminino era usado para divertimentos particulares e públicos, nos banquetes e
circos. MÚSICA RENASCENTISTA. http:/neh.no.sapo.pt/documentos/música_renascentista.htm
104
JACI Maraschin. A Beleza da Santidade: ensaios de liturgia. p. 135
103
92
O conceito de sagrado desenvolvido entre os Batistas, talvez, de uma forma geral se
aproxime desta visão e isto se constitui um grande desafio ao movimento inculturador. Um
avanço nestes conceitos, provavelmente significaria um rompimento no distanciamento
entre a tradição e o contemporâneo.
Movimento Gospel
Este movimento surgiu no início da década de noventa e pode ser considerado como
um dos maiores fenômenos religiosos ocorridos nestes últimos anos, tanto pela influência
quanto pela sua inserção em todos segmentos religiosos brasileiros. A grande característica
deste movimento é a supervalorização da música como um veículo eficaz de aproximação
ao sagrado.
Entretanto, antes de haver este boom musical que marcou estes últimos quinze anos,
a década anterior já propunha algumas mudanças no comportamento musical brasileiro. Na
ocasião surgiu um movimento musical de menor expressividade que ficou conhecido de
“louvorzão”.
Conforme Justino:
[O louvorzão foi] promovido inicialmente pela missão
Vencedores por Cristo. Voltado mais para os cristãos, eram
(na verdade, ainda são) movimentos que reuniam jovens em
grandes locais (igrejas e até ginásios) para momentos de
louvor e meditação na Palavra de Deus: aprendiam novos
cânticos, via-se uma nova forma de culto, aprendiam-se
maneiras de liderar a congregação e até de falar em público.
Este movimento se expandiu e muitas igrejas adotaram esta
forma em suas atividades normais, usando-se até hoje com
nomes similares, como por exemplo, Noite de Louvor.
Os jovens voltaram a encontrar uma razão para ir à igreja aos
sábados, encontrar-se com os amigos e alimentar-se da
Palavra de Deus. 105
105
EMIRSON Justino. Os Estilos de Culto no Brasil. p. 171. In, PAUL Basden. Estilos de louvor
93
Se considerado como o prelúdio para gospel, o louvorzão se diferenciou
basicamente pela ausência direta da grande mídia, mas que em alguns pontos assemelhamse, principalmente no fato de ambas serem produtos de importação dos Estados Unidos.
Mas é a partir do movimento gospel que percebemos realmente uma grande inovação no
culto protestante brasileiro com influências até mesmo no catolicismo roma no através do
movimento carismático. De acordo com Magali, o gospel, que se tornou sinônimo de
música religiosa contemporânea 106 chegou ao Brasil através da Igreja Renascer, mas se
expandiu em todas as denominações, como também chegou em outros setores da vida
religiosa.
Atualmente este movimento reflete-se na literatura, na forma de vestir, nos meios de
comunicações e em outros objetos de consumo, tais como: chaveiros, marcadores de
bíblias, bolsas e camisetas. Criou assim um estilo próprio e é visto por alguns
pesquisadores como um tipo de cultura que impregnou a vida do povo, passando assim à
condição de “cultura gospel”.
Magali se refere a este movimento afirmando que:
A cultura gospel (...) está presente em todas denominações do
campo religioso e no campo católico-romano, e o transpõe,
pois essa expressão cultural religiosa é vivenciada mesmo por
pessoas que não possuem vínculo religioso. Ela é errante ou
desterritorializada, porque “flutua livremente” ao ser medida
pelo mercado, pela mídia e pelos sistemas de comunicação
globalmente interligados. 107
A gospelmania surgiu com força capaz de abalar as bases eclesiológicas e as
diretrizes do protestantismo tradicional brasileiro. Por isso tem causado conflitos em
diversos grupos religiosos, obrigando-os a repensarem seus cultos ou levando-os a um
rompimento total com suas antigas estruturas.
106
MAGALI do Nascimento Cunha. Consumo: novo apelo evangélico em tempos de cultura gospel. p.59 In,
Estudos de Religião. Ano XVII, nº 26, São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo.
107
Ibid., p. 63
94
Os Batistas estão vivendo um momento de readaptação, procurando talvez um
estado de equilíbrio onde possa ancorar com firmeza os seus princípios teológicos sem, no
entanto, deixar de responder as indagações do mundo contemporâneo. Como diz Justino:
Temos vivido momentos de incerteza quanto ao rumo que a
igreja deve tomar. Líderes batistas têm observado que as
formas de culto adotadas nas igrejas da denominação em todo
o mundo têm evoluído, deixando de ser estáticas e frias para
tornar-se mais dinâmica e envolvente (...) o que se quer
destacar é que, mesmo entre as culturas tradicionalmente mais
“frias” o culto chama do Batista tem se diversificado. 108
O movimento gospel não é entendido como uma expressão que emergiu a partir da
cultura brasileira e nem tão pouco para a cultura brasileira. Também parece não ter surgido
objetivando um diálogo direto com a cultura local.
Ação dialética na heterogeneidade
Como nos últimos anos se intensificou a cobrança por uma prática cúltica
fundamentada na cultura brasileira, esta temática tem sido debatida em congressos,
seminários e grupos de pesquisas nos mais diversos grupos religiosos e é apresentada pela
expressão “contemporização”. Percebemos através disto os esforços no sentido de tornar os
cultos mais expressivos e atualizados, o que não significa necessariamente “abrir mão” das
heranças do passado.
Ocorre que vivemos numa pluralidade que atinge todos os setores da vida moderna
e de forma especial, a religião. Qualquer processo inovador deve considerar este aspecto
pensando sempre na condição de diálogo.
Na base do discurso da contextualização está a tríade “teologia- liturgia-cultura”,
cada uma, de forma independente e dentro de suas similaridades, apresenta um cabedal de
importantes possibilidades, ao mesmo tempo em que, aponta para uma série de dificuldades
de leitura interpretativa.
108
EMIRSON Justino. Os Estilos de Culto no Brasil. p.160. In, PAUL Basden. Estilos de Louvor:
95
Por exemplo, a teologia109 encontra-se acuada diante da heterogeneidade de
posições e óticas das quais se pode perceber o sagrado. Como diz Cláudio Carvalhaes, os
vestígios de Deus, ou do sagrado, estão espalhados em diversos lugares e expressos por
diferentes vozes.
110
Camurça afirma que, diante dos novos movimentos religiosos, dos movimentos
místicos, dos neo-esotéricos e da new age, além da revivescência de tradições e
fundamentalismos, no seio das religiões institucionalizadas, existem para os interlocutores
religiosos deste novo milênio diversas possibilidades interpretativas e classificatórias da
ação do sagrado neste contexto sócio -cultural contemporâneo. 111 Este aspecto plurireligioso exige das diversas denominações e em particular dos Batistas brasileiros, uma
reformulação nítida dos princípios teológicos que lhes dão sustentação, sob o risco de terem
suas estruturas eclesiásticas ameaçadas.
No aspecto litúrgico encontramos também um campo fértil, tanto para as antigas
quanto para as novas manifestações. Basden formata uma tipologia litúrgica que caracteriza
com propriedade as diversas possibilidades e tentativas de mudanças ocorridas na história
do cristianismo. Ambas imprimem de uma forma ou de outra suas influências na praxis
religiosa atual. Para descrevê- las ele toma como referencial o contexto americano, posto
que todas estas expressões estão em uso atualmente, mas que pode também ser situada no
contexto brasileiro. Segundo Basden a liturgia desenvolveu-se dentro dos seguintes estilos:
1 . Estilo litúrgico
(...) é, de longe, o mais tradicional de todos os estilos. Ele
reivindica a mais antiga herança, com raízes no solo dos
patriarcas da igreja e na era medieval.
109
A desfiguração ininterrupta do sagrado e a linha confusa que separa o divino e o secular na pósmodernidade confrontaram a produção da teologia, abalando os fundamentos, desafiando seus pressupostos,
carregando-a novamente com novos conteúdos ou com impossibilidade de conteúdos, fornecendo outras
ferramentas para a sua reelaboração ou mesmo para a sua impossibilidade. CLAUDIO Carvalhaes. Rastros
dos deuses nos estudos pós-modernos de teologia e religião. p. 124. In, Estudos de Religião, ano XVII, nº 24,
junho de 2003, São Bernardo do Campo – SP: Umesp
110
Ibid., p. 117
111
MARCELO Ayres Camurça. Novos Movimentos Religiosos: entre o secular e o sagrado. p. 49. In, Estudos
de religião – ano XVII, nº25, dezembro de 2003, São Bernardo do Campo, SP - Umesp
96
Este estilo de culto continua sendo praticado pela maior parte
das igrejas alinhadas ao protestantismo histórico e com a
igreja católica Romana, chegando a ganhar popularidade entre
algumas igrejas evangélicas. (...) O clima do culto litúrgico
reflete um equilíbrio entre a contemplação e a majestade (...)
valoriza muito a reverência (...) é muito bem planejado e
completamente estruturado (...) O estilo litúrgico reflete
exatamente o modo como muitos cristãos adoravam tanto na
igreja primitiva e nos tempos medievais como em várias
manifestações da igreja reformada.[Como antecedente
histórico] tem a igreja primitiva a partir do ano 100 de nossa
era, coincidindo com a morte do último apóstolo original de
Cristo e o fechamento do canôn do Novo Testamento (...)
durante os séculos quarto e quinto, esse tipo de culto se
firmou ainda mais nas grandes catedrais e santuários.
3 – Estilo Tradicional
Apesar de ser claramente menos formal que o estilo litúrgico,
o culto tradicional também segue uma ordem planejada e
estruturada (...) originou-se nos Estados Unidos na época em
que os pioneiros cruzaram os Montes Apalaches em sua
peregrinação rumo ao oeste e ganhou um lugar permanente na
adoração protestante depois que as fronteiras foram
estabelecidas. O estilo tradicional é por isso uma mistura do
culto litúrgico como o reavivamento da fronteira. [Como
antecedente histórico] o culto tradicional surgiu logo após o
término da Idade Média. Foi uma correção do estilo de culto
medieval, visando corrigir seus abusos. [A reforma a partir do
século XVI] desenvolveu um estilo litúrgico modificado,
tanto na Suíça quanto na Inglaterra.
4 – Estilo Avivado
O estilo avivado que vemos atualmente espelha-se nos
modelos desenvolvidos nas fronteiras dos Estados Unidos
durante o início do século XIX. Caracterizado pela
informalidade, exuberância, entusiasmo e pregação agressiva,
esse estilo de culto busca levar o pecador perdido ao Deus da
misericórdia. O clima entusiástico dos cultos causa impacto
direto nas emoções, de modo que as pessoas venham a
“sentir” a presença de Deus durante os momentos de
adoração. Apesar de os cultos avivados serem considerados
antilitúrgicos, geralmente a ordem de culto ainda é planejada
e estruturada com antecedência. [Como antecedente histórico]
Huldreich Zwuinglio, que viveu de 1484 a 1531 (...) ficou
97
conhecido por sua decisão radical de romper com Lutero, em
1529 (...) expurgou dos cultos em Zurique toda referência a
coisas físicas, incluindo imagens, música e instrumentos (...)
até mesmo destruía órgãos de tubo todas às vezes eu os via
nos santuários e nas catedrais pelos quais passava; Os
Quakers, ou Sociedade dos Amigos, representam outra
expressão do movimento das Igrejas Livres da Inglaterra.
Fundado por George Fox (1624-1691), foi a mais radical de
todas as tentativas de reforma. Fox e seus seguidores
rejeitavam o clero, os livros usados nos cultos, os sacramentos
visíveis, a pregação, os corais e os órgãos. Sem “evidências
exteriores”, seus cultos eram marcados apenas pelo silêncio e
por eventuais reflexões; Metodistas (...) constituiu-se na
última expressão das igrejas livres. Foi fundado pelos irmãos
João Wesley(1703-1791) e Charles Wesley (1707-1788) (...)
pode ser considerado um movimento de contracultura dentro
da igreja anglicana, o qual enfatizava cultos entusiásticos,
marcados por cânticos vibrantes e pela pregação bíblica,
freqüentemente feita por leigos.
5 – Estilo Louvor & Adoração
Identificado, de modo pejorativo e errôneo, como
“pentecostal”, o estilo de hoje é popularmente conhecido
como contemporâneo ou “louvor & adoração” caracteriza-se
por um culto vivo, informal e com muito som, no qual a
congregação busca ativamente a presença imediata de Deus
(...) É comum vermos nesse estilo
claras tendências
carismáticas, como falar em línguas, interpretação de línguas
e expulsão de demônios. [Como antecedente histórico temos
duas expressões na história americana] o culto negro que
existe há mais de três séculos como uma realidade dinâmica e
poderosa dentro da grande igreja cristã (...) A primeira
característica comum ao culto negro é o amor pelos sermões
que abordam passagens da Bíblia que atingem as estruturas
sociais responsáveis pela opressão ou marginalização dos
afro-americanos. Os sermões do falecido pastor Martin Luther
King Jr. – revestidos de poderosas citações proféticas do
Antigo Testamento e temperados com apelos de amor e
perdão do Novo Testamento – são um excelente exemplo de
ousadia e beleza da pregação dos negros. Uma Segunda
característica é a reação alegre e espontânea dos adoradores
enquanto o sermão é pregado; [outro antecedente histórico é]
o culto pentecostal [que] seguindo a “liderança do Espírito
Santo”, os líderes rejeitam o formalismo e abraçam a
98
espontaneidade, tanto no conteúdo quanto na seqüência do
culto.
6 – Estilo Facilitador
(...) O conceito do culto facilitador alcançou reconhecimento
no final da década de 80 quando Bill Hybels, pastor da Igreja
Comunidade de Willow Creek, no subúrbio de Chicago,
recebeu destaque da imprensa nacional em vários jornais e
revistas americanas (...) É um culto evangelístico, breve e
alegre, criado especialmente para os “interessados”, ou seja,
não cristãos que estão procurando Deus (...) Escolhe-se o
melhor dia para os interessados comparecerem (Domingo pela
manhã), a música é aquela de que eles mais gostam (todas em
estilo contemporâneo) e procura-se responder às perguntas
mais profundas (...) A atitude informal e o estilo não litúrgico
escondem, na verdade, o fato de culto ser extremamente
planejado e estruturado pelos ministros, talvez até mais do
que em qualquer outro estilo. (...) O movimento do culto
facilitador tem promovido um fantástico crescimento
numérico nas igrejas. Para se ter uma idéia dessa proporção, a
igreja de Willow Creek atrai atualmente uma média de quinze
mil pessoas a seus três cultos facilitadores por final de
semana”. 112
Todas estas perspectivas nos dão conta tanto da historicidade quanto dos caminhos e
descaminhos percorrido pela liturgia. Como diz Nelson Kirst, neste assunto não estamos
sozinhos pois antes de nós há um longo período milenar que cobre mais de dois mil anos de
culto cristão e anterior a isto, mais de um milênio de liturgia judaica que certamente
influe ncia a prática litúrgica hoje. 113
Sabemos que dentre as atividades de uma comunidade, a ação litúrgica requer uma
atenção especial, pois é através deste evento (...) que as pessoas têm acesso às próprias
verdades teológicas e confessionais e como dizia o papa Pio XI (...) o culto é precisamente
aquela mediação que faz a passagem da doutrina para a vida.
114
Assim cada denominação
precisa reformular também com atenção a sua liturgia.
112
PAUL Basden. Estilos de Louvor. p. 45-100
NELSON Kirst. Liturgia: O Culto, Rancho na Roça da Comunidade Cristã. In, Teologia Prática no
Contexto da América Latina. p. 119
114
Ibid., p. 140
113
99
Em nenhum outro aspecto da práxis eclesiológica há tantas possibilidades de se
firmar uma identidade denominacional.
No campo cultural o que temos é uma representação diversificada de conceitos que
caminham para uma mesma direção. Ambas tentam traduzir comportamentos, idéias e
costumes presentes em grupos, povos e raças de todas as partes do mundo.
Os antropólogos trouxeram um grande benefício para o conceito de cultura, quando
além de ampliarem o seu conceito, desvencilharam- na do juízo de valores, tais como bom
ou mau, a qual estava submetida sobremodo a partir da ótica da religião.115 Esta libertação
trouxe maiores possibilidades de diálogo entre religião e cultura.
O Brasil, devido a sua miscigenação, tem em todas as regiões do país uma riqueza
de manifestações, seja através da música, da culinária, de comportamentos e costumes. São
aspectos que representam diversos países e que de certa forma já estão assimilados pela
cultura local. Além disso, através dos nossos índios, podemos constatar uma riqueza
cultural extraordinária que se manifesta em parte no aspecto musical.
Como já afirmamos anteriormente, o início do protestantismo no Brasil foi marcado
por um estado de preconceito e exclusivismo. A igreja evangélica sempre rechaçou
qualquer manifestação da cultura local, e partindo de uma ótica teológica equivocada
manteve-se quase que totalmente afastada. Este era um tempo no qual se pregava que
mudar de vida representava uma ruptura total, social e culturalmente, em prol de novos
valores.
Há indícios, felizmente, que nos últimos anos tem aumentado a consciência no
contexto religioso, como um todo, da importância de aproximação do evangelho com a
cultura. 116
115
PAUL G. Hiebert. A Cultura e as Diferenças Culturais. In, RALPH D. Winter/STEVEN C. Hawthorne.
Missões Transculturais: uma perspectiva cultural. p. 445
116
Cultura é a expressão da globalidade da vida de cada grupo humano (etnia, povo, nação), que se subdivide,
para fins de compreensão, em três subsistemas: o material, o social e o interpretativo. (...) [Assim] a cultura
diz respeito ao modo de ser e viver. (...) [sendo] um conjunto de bens, significados e normas (condutas)
produzidos coletivamente o espaço da experiência cognitiva e material, no território reflexivo e consciente,
livre e tutelado. Cf. PAULO Suess. Cultura e Religião, in: ID (Org.) Culturas e evangelização. p. 41-47
100
Vários seminários, conferências, artigos e livros têm se proposto a discutir o assunto
procurando pontuar as implicações efetivas que uma pode ter sobre a outra. É provável que
a partir destas reflexões consiga-se ame nizar a falta de diálogo que marcou os primeiros
séculos de cristianismo brasileiro.
O anteprojeto elaborado pela Associação dos Músicos Batistas sobre os
Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, sugere que além da tolerância,
os Batistas brasileiros acenem para a possibilidade de um diálogo entre passado e presente e
com isso mantenha para o futuro uma herança musical consistente e alicerçada na história e
nos princípios teológicos da denominação. Eis aqui a transcrição literal de alguns trechos:
A música sacra nas Igrejas Batistas é uma herança recebida no
passado e será uma herança que está sendo desenvolvida para
o futuro.
Assim como a teologia Batista não é só nacional, assim
também seria difícil pensar numa hinódia somente batista,
exclusivamente nacional e contemporânea. A herança vem de
longe e de muitos países.
Os hinários (...) contém também as expressões do passado que
ainda falam, ensinam, edificam e trazem à memória a atuação
de Deus através dos séculos (...).
Deve-se evitar a posição extremada de substituir toda a
música de outras culturas. (...) Esta herança deve ser
alicerçada no passado e firmada no presente, para que os
filhos na fé possam ter uma base musical e hinoló gica
profunda, correta e segura. 117
Principalmente em tempo de globalização, torna-se muito difícil pensar em
exclusivismo, pois como diz Eudora “...nenhum povo está isento de receber influências
externas, como costumes, arte culinária, expressões idiomáticas (...) que, com o tempo,
acabam incorporados aos costumes e à linguagem do povo e, pela insistência do uso, até
de forma definitiva”.
117
118
ASSOCIAÇÃO dos Músicos Batistas no Brasil. Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do
Brasil, p. 13 - Anteprojeto elaborado pela comissão do hinário para o Culto Cristão, 1985
118
EUDORA Pitrowisk Salles. Música Importada. Revista Louvor, vol. 2, 1999, p. 21-22
101
Ainda segundo ela, os próprios hebreus incorporaram à sua cultura vários aspectos
da cultura de outros povos – Mesopotâmia, Grécia, Egito - tais como: danças, música e
instrumentos, assim como a música entre os primeiros cristãos também recebeu influência
direta da música hebraica e grega. (...) A igreja [primitiva] não possuía ainda uma
construção de regras para os seus cânticos.
119
No século XVI Martinho Lutero, ao empreender a reforma, não ignorou a riqueza
musical que existia fora da igreja, tanto que utilizou forma direta as melodias populares tais
como os Lieds alemães que eram canções simples, de fácil compreensão e que não
requeria m grande esforço técnico para a sua execução. Foi a partir daí que surgiu o gênero
coral que veio a se popularizar entre as igrejas reformadas. 120
Um pouco depois no século XVII, os puritanos ingleses ameaçados pela igreja
oficial fugiam para os Estados Unidos em 1620 e firmavam morada na cidade de Plymouth
Rock. Lá fundaram a Colônia de Nova Inglaterra. Trouxeram não só suas famílias mas
também sua cultura, seus costumes e principalmente sua música e assim estabeleceram uma
semente cultural importada.
121
No século XVIII chega ao Brasil o casal Robert Reid Kalley e Sara Poulton Kalley,
missionários congregacionais, oriundos da Escócia e Inglaterra respectivamente. Aqui se
instalaram trazendo a sua cultura, suas convicções religiosas, suas músicas. E foi através
destes aspectos que compartilharam a sua fé deixando um legado musical importantíssimo
para o protestantismo brasileiro de todos os segmentos até os dias de hoje. Os Salmos e
Hinos é uma junção de culturas diferentes, tais como americana, inglesa, escocesa que Sara
Poulton aglomerou e que sobreviveu e influenciou muitas gerações no decorrer destes
últimos dois séculos. 122
119
EUDORA Pitrowisk Salles. Música Importada. Revista Louvor, vol. 2, 1999, p.21
Ibid., p.23
121
Idem., p.23
122
SERGIO Freddi Júnior. Música Cristã Contemporânea: renovação ou sobrevivência. p. 29
120
102
Portanto , os interlocutores que lutam por uma contextualização no culto protestante
brasileiro, ou até mesmo os que defendem o tradicionalismo, precisam perceber que há uma
realidade heterogênica e que as práticas litúrgico- musical, teológica e cultural de um povo
faz-se tanto a partir de sua expressão individual como por aquilo que se toma emprestado
de outras raças, tribos e nações sem que isto o descaracterize. Parece que o desafio que as
igrejas tem neste contexto contemporâneo é o desenvolvimento de práticas dialéticas em
meio à pluralidade.
Perspectivas pastorais à práxis musical na contemporaneidade
Em todos os séculos a música foi fundamental no processo de conduzir as pessoas a
uma aproximação com o sagrado. Independente da estética, do tempo e do espaço foi capaz
de suscitar experiências religiosas em indivíduos e coletividades, dentro e fora da igreja.
Mais do que qualquer outro aspecto da vida humana, a mús ica se faz entender por sua
linguagem simples e universal. Ela sim foi capaz de se adequar as mais diversas culturas
para expressar em harmonias e melodias as experiências marcantes do cristianismo.
A mensagem da igreja primitiva foi expressa de uma forma singela, reportando-se
sempre aos aspectos da espiritualidade, da verdade e do compromisso amoroso com as
pessoas. Tudo isso através de um culto caracterizado pela simplicidade, espontaneidade e
alegria. 123 A música que entoavam era só um reflexo destes sentimentos vividos em
coletividades, portanto sendo um “meio” e jamais um “fim” nela mesma.
O objetivo do plano de Deus é o estabelecimento da comunidade em seu sentido
mais elevado.124 A sua práxis deverá ser focada em três pilares essenciais para a
concretização deste plano aqui na terra. A música neste contexto deixa de ser um “fim” nela
mesma para ser um “meio” de vivência desta práxis.
123
GEOVAL Jacinto da Silva. A Inter-Relação Histórica e Teológica da Liturgia Judaica e Cristã. p.164 In,
Estudo de Religião – Ano XVII, nº 25, dezembro de 2003, São Bernardo do Campo, SP - Umesp
124
STANLEY J. Grenz. Pós-modernismo um guia para entender filosofia de nosso tempo. p. 244
103
Práxis da Adoração através da Música
Nestes últimos tempos a música eclodiu com bastante força nos grupos religiosos
brasileiros. A igreja tão acostumada à palavra passou a cantar numa quantidade de espaço e
tempo jamais visto anteriormente na história da religião. O grande benefício percebido
neste fenômeno é que houve uma redescoberta da liturgia como o espaço propício de
celebração coletiva. Neste aspecto podemos dizer que houve uma valorização da igreja
enquanto comunidade espiritual.
Novas idéias musicais foram aparecendo, novas práticas surgiram e com isso houve
uma democratização da prática cúltica. Um grupo cada vez maior de pessoas passou a
participar dos eventos de suas respectivas igrejas.
A música enquanto criação divina serve para conduzir as pessoas a declararem que
Deus é digno de todo Louvor e Adoração. Este fato está acima de todos os outros interesses
supostamente humano.
Já a música enquanto arte praticada no contexto eclesial deve revelar às pessoas o
caráter perfeito de seu criador. Mesmo fazendo arte, a música que a igreja prática deve
levar as pessoas a uma adoração que Deus deseja.
Práxis da Diaconia através da Música
Enquanto aspecto vivencial da comunidade, a musicalidade precisa ser praticada
também sob o prisma do diaconato. Este, entendido como uma articulação que faz parte da
missão da igreja. A música, não sendo um fim nela mesma precisa será um instrumental
importante a serviço da Igreja no sentido de cumprir sua missão.
A dimensão diaconal da música desdobra-se em três vertentes: a música a serviço
da adoração, a música a serviço da edificação, e a música a serviço da missão
evangelizadora da igreja.
104
A música, com o fim de propiciar a adoração está voltada primordialmente para os
valores divinos. Neste caso a música enquanto manifestação artística é só uma parte
secundária neste processo.
Para propiciar a edificação da comunidade, a música precisa ser comunicativa, falar
aos corações, identificar-se com os sentimentos e fé das pessoas. Por isso que ela precisa
ser praticada dentro de um contexto no qual todos estejam inseridos. Seu objetivo final é
levar transformação através do evangelho do Cristo ressuscitado.
Práxis da Koinonia através da Música
Num ambiente litúrgico, a música cria a experiência da proximidade que se refere
não só à relação com o sagrado, mas também à relação interpessoal. Se ela estiver
vinculada a um gosto pessoal, ou a um grupo específico, perderá o seu apelo a comunhão.
Se a música é capaz de levar as pessoas a uma comunhão com Deus,
necessariamente ela conduz as pessoas à unidade corporal em Cristo. Ela se torna o elo que
permite o encontro de Deus com o seu povo, ao mesmo tempo em que cria um clima de
envolvimento das pessoas. Assim, quando as manifestações musicais em qualquer espaço e
tempo provocarem conflitos e tensões é porque esta dimensão da koinonia não está sendo
observada por seus interlocutores. Ao entendermos esta dimensão através da música, não
haverá dentro das comunidades de fé qualquer tipo de conflito, mesmo que os estilos
musicais sejam diferentes. Haverá uma auto-aceitação que se colocará acima das diferenças
e indiferenças.
Conclusões Preliminares
Segundo Moreira, “[Aos Batistas] a única maneira de justificar [o] apelo [por uma]
identidade, dentro ou fora de uma igreja unida, (...) é firmar-se sobre o valor espiritual
permanente das coisas que [defendem e serem capazes de mostrar que os seus princípios]
são a expressão da essência das verdades do Evangelho (...)”125 que se refletem da sua
adoração, no serviço e na comunhão.
125
ZAQUEU Moreira. Liberdade e Exclusivismo: Ensaios sobre os Batistas Ingleses. p. 163
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos três capítulos desta dissertação tentamos averiguar aspectos da tensão existente
entre a música tradicional e a música contemporânea. Ambas co-existindo no espaço
litúrgico Batista.
Ao elegermos as Igrejas Batistas na cidade de Campinas procuramos compreender
como estas comunidades, que ainda têm mantido fortes traços de um culto tradicional, se
relacionam com esta nova consciência musical. Assim, desenvolvemos um estudo paralelo
de dois campos mais abrangente, tradição e contemporaneidade, procurando especificar a
utilização do Canto Coral e da Banda na estrutura cúltica Batista. O intuito foi entender o
conflito que há entre estes estilos distintos de prática musical e interpretar as suas
circunstâncias.
No capítulo inicial da dissertação, ao apresentarmos o desenvolvimento histórico do
Canto Coral, descobrimos as funções que lhe foram atribuídas no decorrer dos séculos. O
uso desta prática no culto ou em manifestações religiosas durante tanto tempo serviu
também para demonstrar toda a tradição que a envolve.
O passo seguinte foi estabelecer parâmetros para a realização da pesquisa, o que
consta integralmente no segundo capítulo. Portanto, num primeiro momento delimitamos o
campo da pesquisa e um segundo momento, definimos a população a ser pesquisada.
Os critérios exigidos para esta etapa foram que a investigação teria que ser em
igrejas de tradição Batista; que esta tradição fosse expressa primordialmente no campo
litúrgico; e que estas igrejas apresentassem traços da prática musical contemporânea.
Somente uma das igrejas pesquisadas não utilizava mais o Canto Coral. Mesmo assim foi
importante a sua participação, pois além de ser uma das primeiras comunidades Batistas de
Campinas, portanto de origem tradicional, seria útil para a pesquisa descobrir qual a
consciência que fundamentava o seu novo paradigma musical.
106
Ao final da dissertação esta igreja foi afastada do rol das Igrejas Batistas
pertencentes à Convenção Batista Brasileira. Segundo o conselho de ética da denominação,
ela já não se enquadrava dentro dos parâmetros Batistas.
Um outro critério que definimos foi que a investigação abrangeria faixas etárias
bem distintas. A idade mínima definida foi de 7 anos e com a livre participação de pessoas
da terceira idade.
Ratificada a hipótese de que há um conflito nas Igrejas Batistas entre a música
tradicional e a música contemporânea, o terceiro capítulo finaliza a dissertação sugerindo
ações à práxis pastoral no sentido de provocar uma convivência amistosa através do diálogo
entre aspectos distintos da prática musical.
Finalmente, consideramos que a música é capaz de conduzir as pessoas a uma
verdadeira adoração a Deus e criar um ambiente propício ao serviço. Como também, pode
propiciar uma convivência pacífica entre as pessoas através da comunhão, levando-as a
uma auto-aceitação, ao respeito mútuo e a superação das preferências individuais.
107
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