A RESPIRAÇÃO ORAL NA VISÃO DO PEDIATRA The Oral Breath from a pediatric view Ana Cristina de Oliveira Dias Azevedo (1), Priscilla dos Santos Medeiros Galdino Ivone Carmem Dias Gomes (2), (3) RESUMO Objetivo: o objetivo desta pesquisa foi levantar dados a respeito do conhecimento de médicos pediatras em relação a respiração oral. Métodos: foi aplicado um questionário à 23 médicos pediatras com questões a respeito de seu conhecimento sobre a respiração oral. Resultados: a pesquisa demonstrou que todos os profissionais entrevistados possuem algum conhecimento sobre o assunto, entretanto não são todos que se preocupam em orientar os pais ou responsáveis, e até mesmo em encaminhar o paciente a um profissional mais especializado, quando chega um paciente respirador oral em seu consultório. Conclusão: esta pesquisa demonstrou que a verificação do tipo de respiração da criança não é algo habitual na consulta pediátrica. Descritores: Respiração oral / complicações; Pediatras; Criança. (1) Fonoaudióloga, Especialização em Motricidade Oral pelo Centro de Oral pelo Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC). (2) Fonoaudióloga, Especialização em Motricidade Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC). (3) Fonoaudióloga, Doutora em Fonoaudiologia Clinica pela Puc-SP. Introdução Sabe-se que a respiração é uma função vital dos seres humanos, que se inicia no momento do nascimento, sendo primordial para um bom funcionamento do sistema estomatognático. Seu desvio traz desequilíbrio para vários órgãos e sistemas do corpo humano (1-2). O respirador nasal mantém seus lábios selados, sua mandíbula encontra-se na posição de repouso e sua língua fica contida dentro da cavidade oral em contato com o palato, o que realizará uma função expansora sobre a maxila (3). O que ocorre com o respirador oral é que os lábios deixam de cumprir o papel de vedar a cavidade oral anteriormente. Em conseqüência disto, a boca se abre para que o fluxo aéreo passe o que implica na diminuição de impulsos sensórios e, consequentemente, na redução dos impulsos motores, o que torna o lábio superior hipotrófico e o inferior flácido (3). Durante a inspiração e expiração do respirador oral o ar só passa pela cavidade bucal e consequentemente há um aumento da pressão aérea intrabucal. O palato vai se modelando e aprofundando e ao mesmo tempo, como o ar não transita pela cavidade nasal, deixa de penetrar nos seios maxilares que ficam atrésicos dando um aspecto característico ao paciente. Nota-se também uma atresia transversa no maxilar superior com conseqüente mordida cruzada posterior bilateral óssea. Numa visão extrabucal, o paciente possui rosto alongado e estreito, olhos caídos, olheiras profundas, sulcos genianos marcados, lábios entreabertos, hipotônicos e ressecados e sulco nasolabial profundo. Esses pacientes freqüentemente apresentam deglutição atípica e postura de língua e lábios incorretos (4). Caso não existam interferências negativas como rinites, bronquites, hipertrofias de amígdalas e adenóides, a respiração nasal deverá continuar até o final da vida (5). Um distúrbio em uma parte do complexo orofacial manifesta-se não apenas no local, mas perturba o equilíbrio de todo o sistema orgânico (6). O indivíduo que tem a respiração mista ou bucal pode apresentar alterações significativas durante seu crescimento e desenvolvimento em nível ósseo, dentário ou muscular (7). O respirador oral também apresenta alterações craniofaciais como: crescimento facial predominantemente vertical; face longa; narinas estreitas e inclinadas; lábio superior retraído ou curto; lábio inferior evertido ou interposto entre os dentes; lábios secos ou rachados com alteração da cor; palato ogival; mordida aberta anterior; lábios, língua e bochechas hipotônicas; além de apresentar trocas articulatórias, alterações das funções orais e alterações corporais (7) . As alterações musculares, funcionais, posturais, ósseas e comportamentais que um respirador oral apresenta podem ocorrer em diferentes graus de severidade (3). A respiração oral pode ocorrer devido a causas obstrutivas e não obstrutivas. Como causas obstrutivas temos: rinites, hipertrofia de cornetos, trauma nasal, desvio de septo, hipertrofia adenoamigdaliana, malformações nasais, polipose nasal, tumores na cavidade nasal e rinofaringe (8). Já as causas não obstrutivas podem ocorrer devido a: hábitos, malformações craniofaciais como alterações da mandíbula (Síndrome de Crouzon), alterações da língua (macroglossia ou anquiloglossia) e inoclusão labial por hipotonicidade muscular generalizada que ocorre em quadros neurológicos (8). Respirar sem o auxílio do nariz acaba acarretando diversos tipos de problemas que, às vezes, necessitam de tratamento mais complexo. A respiração predominantemente bucal ou mista resulta em alterações patológicas, havendo uma maior atuação da musculatura dos lábios inferiores em relação à dos lábios superiores, o que causa um crescimento mais vertical (9). Além das alterações ósseas, dentárias e musculares, o respirador oral é um indivíduo que pode ter prejuízos na qualidade de vida, o que é confirmado pelos pais dessas crianças ou por pacientes adultos. Sendo o Pediatra o clínico mais importante e constante durante a infância, decidiu-se investigar seu conhecimento a respeito das complicações que o hábito de respirar pela boca habitualmente pode causar. Métodos Para a realização da pesquisa foi aplicado um questionário contendo 7 questões. Dessas questões, 6 foram de múltipla escolha e 1 dissertativa. O questionário foi aplicado a médicos pediatras de ambos os sexos, que atuam na cidade de Lorena e Taubaté, no Vale da Paraíba, interior do estado de São Paulo. Resultados Dos 23 entrevistados, 91% se preocupam em observar o tipo de respiração da criança, enquanto 9% só fazem esse tipo de observação dependendo da queixa dos pais ou responsável. Durante a consulta, você se preocupa em observar se a criança está respirando pela boca ou pelo nariz? 0% 9% Sim Não Depende 91% 41% dos pediatras verificam a respiração da criança visualmente, enquanto 28% pedem para que a criança oclua os lábios. 22% solicitam exames complementares e 9% utilizam outros critérios para verificar a respiração da criança. Quais os critérios que você utiliza para verificar a respiração da criança? Visualmente 9% 0% 22% Pede para ocluir os lábios 41% Solicita exames complemetares Outros critérios 28% Não se preocupa com isso O Raio X do Cavum e dos Seios da Face foram os exames mais solicitados pelos pediatras. 51% indicaram esses exames. Outros exames também são solicitados tais como: Raio X de adenóide, Raio x da boca, Raio X do Cavum com a boca aberta e fechada, parecer do ortopedista de maxilar, avaliação fonoaudiológica e avaliação odontológica. Durante a consulta, você se preocupa em observar se a criança está respirando pela boca ou pelo nariz? 0% 9% Sim Não Depende 91% 96% dos pediatras sempre perguntam a respeito da observação feita pelos responsáveis sobre a respiração da criança em casa enquanto 4% perguntam somente as vezes. Se verifica que a criança está respirando pela boca, você pergunta se a mãe ou responsável já fez esse tipo de observação no dia a dia da criança? 4% 0% Sim Não 96% As vezes Dos 23 profissionais, 79% encaminham as crianças sempre, a outro profissional, 17% encaminham sem muita freqüência enquanto 4% não encaminham nunca. Se a criança chega ao seu consultório respirando pela boca, você a encaminha a outro profissional? 17% Sim Não As vezes 4% 79% 62% dos pediatras encaminham a criança ao otorrinolaringologista, 30% ao fonoaudiólogo, 4% ao ortopedista de maxilar e 4% ao dentista. Se você encaminha a criança a um profissional, que profissional é este? Ortorrinolaringologist a Fonoaudióloga 4% 4% 30% 62% Ortopedista de maxilar Dentista De todos os entrevistados, todos afirmam que a criança respiradora oral pode ter alterações no seu desenvolvimento. Na sua opinião uma criança que respira pela boca habitualmente pode ter alterações no seu desenvolvimento? 0% Sim Não 100% Discussão A partir dos resultados desta pesquisa, pôde-se observar que os pediatras têm conhecimentos a respeito da respiração oral, entretanto, não são todos os profissionais que se preocupam em verificar o tipo de respiração de seu paciente. Com base nestes dados, acredita-se que os pais ou responsáveis não recebem orientações a respeito de uma possível alteração no que se refere a respiração da criança, se esta não for a queixa trazida para a consulta. Sabe-se que um indivíduo que respira pela boca habitualmente, pode apresentar diversas alterações no seu desenvolvimento e algumas dessas alterações são irreversíveis, como por exemplo as craniofaciais. Portanto torna-se imprescindível o diagnóstico e intervenção precoces. Conclusão De acordo com as citações feitas pelos 23 pediatras da cidade de Taubaté e Lorena, conclui-se que a verificação da respiração da criança não faz parte da rotina da consulta pediátrica, pois alguns profissionais só se preocupam com isso de acordo com a queixa da mãe. Apesar do conhecimento demonstrado por alguns deles sobre o que é a respiração oral, alguns se mostraram leigos no que se refere as alterações causadas por esse tipo de respiração. ABSTRACT Purpose: the objective of this research was to put up datas about paediatrician´s knowledge about oral breath. Methods: twenty three (23) paediatricians aswered a questionnarie writing about their knowledge at oral breath. Results: the research showed that all the interviewed paediatricians have some knowledge about the subject, however some of them do not care about orientating children´s parents or responsibles and until refering the patient to an specialized professional when a oral respirator patient arrives in their surgery. Conclusions: this research demonstrated that the verification of the child’s breath is not habitual in the pediatrics consultation. KEYWORDS: oral breath / complications; pediatrics; child Referências 1. Ferreira MA. Respiração Bucal: Alternativas Técnicas em Ortodontia e Ortopedia Facial no Auxílio ao Tratamento. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. V.8, n.45, (mai/jun. 2003) – Curitiba: Editora Maio, 2003. 2. Lusvarghi L. Respiração Bucal: Alternativas Técnicas em Ortodontia e Ortopedia Facial no Auxílio ao Tratamento. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. V.8, n.45, (mai/jun. 2003) – Curitiba: Editora Maio, 2003. 3. Felício CM. Fonoaudiologia Aplicada a Casos Odontológicos: motricidade oral e audiologia. São Paulo: Pancast 1999; p.42 - 43. 4. Ferreira FV. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. São Paulo: Artes Médicas 1996; p.267. 5. Marchesam IQ. Motricidade Oral: visão clínica do trabalho fonoaudiólogico integrado com outras especialidades. São Paulo: Pancast, 1993 6. Morales RC. Terapia de Regulação Orofacial. São Paulo: Memnon. 7. Marchesan IQ. Fundamentos em Fonoaudiologia: aspectos clínicos de motricidade oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 1998; p.35 8. Di Francesco RC. Respirador Bucal: a visão do otorrinolaringologista. Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia. São Paulo 1999; p.56 – 60. 9. Queluz DP; Gimenez CMM. Respiração Bucal: Alternativas Técnicas em Ortodontia e Ortopedia Facial no Auxílio ao Tratamento. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. V.8, n.45, (mai/jun. 2003) – Curitiba: Editora Maio, 2003. Anexo 1 Questionário de Monografia 1) Durante a consulta, você se preocupa em observar se a criança está respirando pela boca ou pelo nariz? ( ) sim ( ) não ( ) depende da queixa da mãe 2) Quais critérios você utiliza para verificar a respiração da criança? ( ) visualmente ( ) pede para ocluir os lábios e verifica se há dificuldade de respirar pelo nariz ( ) solicita exames complementares ( ) outros critérios: quais? ____________________________________________ ( ) não se preocupa com isso 3) Se respondeu que solicita exames complementares, que exames são esses?......................................................................................................................... .................................................................................................................................... .................................................................................................................................... ........... 4) Se você verifica que a criança está respirando pela boca, você pergunta se a mãe ou responsável já fez esse tipo de observação no dia a dia da criança? ( ) sim ( ) não ( ) às vezes 5) Se a criança chega ao seu consultório respirando pela boca, você a encaminha a outro profissional? ( ) sim. Quais? ___________________________________________ ( ) não ( ) às vezes 6) Na sua opinião, uma criança que respira pela boca habitualmente pode ter alterações no seu desenvolvimento? ( ) sim ( ) não Se a resposta foi sim para a questão (6), responda a seguinte questão: 7) Dentre as seguintes alterações, assinale aquelas que você acha que uma criança respiradora oral pode vir a ter: ( ) alterações gástricas ( ) problemas auditivos ( ( ( ( ( ( ( ) alterações na postura ) alterações no crescimento craniofacial ) problemas escolares ) alterações na mastigação e deglutição ) alterações no posicionamento dos dentes ) alterações no sono ) outras alterações