Trabalhos para Casa – Sim ou Não? A prática de pedir trabalhos para casa (TPC) desde que os alunos entram no 1º ciclo, está instituída nas nossas escolas. A quantidade de trabalhos enviada é variável de escola para escola e, principalmente, de professor para professor. Entre psicólogos, pedagogos e professores, tem surgido o debate sobre as vantagens e desvantagens dos TPC – principalmente, se estes ajudam, ou não, a melhorar o rendimento escolar dos alunos. O que se observa é que os TPC acarretam queixas de todas as partes envolvidas neste processo: dos alunos, que se queixam do excesso de tempo que passam a efetuar estas tarefas, o que lhes retira tempo livre para outras atividades; dos pais, que se queixam que os filhos necessitam muitas vezes da sua ajuda (ou de terceiros, como explicadores ou ATL) para conseguirem fazer esses trabalhos; dos professores, que se queixam do trabalho acrescido que têm para programar e corrigir os TPC e da incompreensão dos pais. A questão essencial que devemos colocar é: Os TPC são ou não necessários? Sem dúvida, podemos apontar argumentos favoráveis e desfavoráveis aos TPC. A favor apontam-se frequentemente vantagens como: Ajudam o aluno a rever a matéria e a compreender melhor o que foi dado na aula; Melhoram os hábitos e métodos de estudo; Obrigam o aluno a programar o seu tempo, Ajudam a implementar a responsabilidade e autonomia no estudo; Ajudam a estabelecer a ligação entre a casa e a escola. Quem está contra, refere várias desvantagens: Os alunos já têm grande carga horária na escola e esta deve ser suficiente para efetuar as aprendizagens; Retiram tempo à criança e ao jovem para efetuar outras atividades do seu interesse, bem como, atividades lúdicas; Os TPC afetam a dinâmica familiar e o tempo livre que os pais podem passar com os filhos; Alunos com mais dificuldades de aprendizagem deparam-se com problemas acrescidos para efetuarem os mesmos TPC que os outros. Podemos levantar algumas questões aos argumentos favoráveis aos TPC – para melhorar a compreensão da matéria dada na aula, as tarefas enviadas para casa devem estar em total articulação com o que foi ministrado e devem depois ser corrigidas e verificadas com os alunos para que haja feedback e se possa confirmar que o aluno compreendeu de forma adequada a matéria; para ajudar a implementar hábitos de estudo e maior responsabilidade e autonomia, isto requer, na maior parte das vezes, a colaboração dos pais no acompanhamento e supervisão destas tarefas, para as quais eles próprios poderão não estar motivados ou habilitados. O que fazer então aos TPC? Penso que durante o 1º ciclo de escolaridade, as vantagens dos TPC são reduzidas e que poderão até ser contraproducentes se forem em excesso, prejudicando a ligação positiva entre o aluno e a escola, que é fundamental para a aprendizagem, que decorre em grande medida da motivação. Considero, no entanto, positivo que algumas atividades para casa possam ser pedidas aos alunos e que a colaboração dos pais nessas atividades se mostram muito positivas, em questões como organização do tempo, estruturação do trabalho e ligação casa/escola/aluno. Estas atividades, sempre que possível, devem ser de caráter lúdico e promover a participação dos pais como se se tratasse de um jogo ou um entretenimento. Conforme vai aumentando o nível de escolaridade, devem-se ajustar os TPC, não esquecendo que estes não servem para avançar na matéria, mas sim, para treinar o que já foi ministrado e compreendido; não esquecendo, também, que os alunos com mais dificuldades de aprendizagem deverão ter trabalhos adaptados ao seu nível (caso contrário, estar-se-á a exigir algo que o aluno não consegue atingir e a penalizá-lo por isso); e, ainda, que os trabalhos de casa não devem ser prescritos como forma de castigo, mas sim, com a função de melhorar os conhecimentos e a autonomia do aluno. A articulação entre os diversos professores é também importante, para evitar solicitar aos alunos trabalhos excessivos em simultâneo para várias disciplinas. Não esquecer que é muito importante que a criança e o jovem tenham tempo de lazer, de descanso e de convívio com os amigos e com a família, fundamentais para o seu crescimento e desenvolvimento bio-psico-social.