Livro - Cronista MOTIVO 2012.indd

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Tempo, tempo meu
Ele acordou junto com o Sol. Levantou-se correndo e
começou sua rotina. Provavelmente poderia parar por um
minuto e ver o nascer do Sol de sua cobertura na beira-mar,
mas estava ocupado demais se preparando para mais um dia
de trabalho. Saiu do prédio com fúria do trânsito que não
andava, do café que esfriou e do céu que se fechava. A fúria
era tanta que não teve tempo de reparar na flor solitária que
crescera no asfalto, tão bela e frágil, parada tão longe, tão
perto; e de repente, passou.
Chegou no estacionamento e provavelmente poderia
ajudar a menininha perdida que pedia por ajuda, mas
estava ocupado demais pensando na reunião que teria,
portanto poderia ajudá-la num outro dia. Trabalhava duro, e
rapidamente o dia passava.
Na volta para casa, nem sequer tentou espiar pela janela,
pois não tinha tempo para a Lua ou as estrelas, nem para
felicidades e tristezas. Vivia friamente num mundo repleto
de indiferença. E todo tempo que teve, já não tinha, e o
tempo que teria seria desperdiçado nas coisas superficiais
da vida.
E repentinamente um estrondo ensurdecedor, não sabia
quem levaria a culpa, mas sentia-se morrer. O carro batido
e destruído, o corpo ferido, e tudo em que pensava era o
nascer do Sol que perdera, na flor ignorada e na menininha
perdida. Sentiria falta dessas pequenas coisas da vida, que
nunca tivera e nunca mais terá tempo de vivenciar.
Amanda Ramos Arena – 1º D
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