Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA TERRITÓRIO, TERRITORIALIZAÇÃO E VIOLÊNCIA NOS BAIRROS DE GUAMÁ E TERRA FIRME EM BELÉM-PA. Lorena de Lima Sanches SANTANA1 Resumo Este artigo tem como intuito tratar o conceito de território, além de buscar entender a violência presente nos bairros de Guamá e Terra Firme, buscando analisar se os territórios criados nesses bairros estão ligados ao crescimento nos indicadores de violência das duas áreas pesquisadas. Palavras-Chave: Território; Poder; Violência. TERRITORY, TERRITORIALIZATION AND VIOLENCE IN NEIGHBORHOODS OF GUAMÁ AND TERRA FIRME IN BELÉM-PA Abstract This article purpose is to deal the concept of territory, it also intends to understand the violence’s area present in Guamá and Terra Firme, neighborhoods it aims analyze whether the territories created in these neighborhoods are linked to the growth in indicators of violence the two areas researched. Key-words: Territory; Power; Violence. LA ZONE, LA FORMATION DES ZONES DANGEREUSES DANS LES QUARTIERS GUAMÁ ET TERRA FIRME À BELÉM-PA Résumé Cet article est destiné à traiter le concept de zone et de comprendre les domaines où la violence est présent dans les quartiers Guamá et Terra Firme, en essayant d'analyser si les zones créés dans ces quartiers sont liées à la croissance des indicateurs de la violence dans ces deux zones interrogées. Mots-clés: Territoire; Pouvoir; Violence. INTRODUÇÃO Há um crescente aumento da violência nos espaços urbanos. Hoje, a insegurança e o medo de se tornar vítima de atos violentos é uma realidade nacional, e, para entender tais questões, é importante perceber o espaço urbano como “simultaneamente fragmentado e articulado” (CORRÊA, 1995, p. 7), ou seja, entender que dentro da escala de uma cidade, ou até mesmo de um bairro, coexistem diversos atores sociais que disputam o território afim de nele imprimirem suas relações de poder. Na cidade de Belém, podemos perceber o aumento significativo das taxas criminais, 1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade Federal do Pará (UFPA), e bolsista CAPES. Email: [email protected] Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 198 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA entre elas o homicídio que atualmente é uma das grandes preocupações da segurança pública, não somente do estado do Pará, mas também do Brasil como um todo. Em Belém, os bairros Guamá e Terra Firme, além de serem áreas historicamente periféricas da cidade, são sempre citados desde o senso comum até a esfera pública no que tange a violência. Guamá é o bairro da capital belenense que mais sofreu aumento nos índices de violência, tanto que hoje desponta como um local onde essa tipologia se destaca de acordo com dados do sistema de análise da informação criminal da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará, (SIACSEGUP-PA) do ano de 2014. De acordo com dados do instituto Sangari (2012), Belém aparece em segundo lugar no ranking das capitais brasileiras que mais sofreram variação nas taxas de homicídio no período de 2000 a 2010. Portanto, há a necessidade de compreender que existem fatores que levam ao aumento vertiginoso dos homicídios. Neste artigo, em especial, daremos ênfase às questões referentes ao território. Assim como às dinâmicas territoriais do cotidiano e da violência presentes nos dois bairros pesquisados Guamá e Terra Firme. Será iniciado, ainda, um debate sobre ordenamento territorial buscando entender que tipo de estruturação é empregada, e, se isso corrobora ou não para os altos índices de violência e marginalização social na cidade de Belém, com foco nesses dois bairros trabalhados. Para iniciar essa discussão, é importante frisar que, o conceito de território se fez fundamental para identificar as relações e as disputas de poder vivenciadas nessas áreas. A metodologia deste artigo consistiu, primeiramente, em um levantamento bibliográfico sobre o conceito de território e violência; segundo, se obteve o levantamento documental das áreas pesquisadas através de organismos governamentais e não governamentais como (SEGUP-PA, SEPOF, Prefeitura de Belém, Jornais etc.). No terceiro momento, foram realizados trabalhos de campo ( em outubro de 2015 e abril de 2016) com o intuito de entrevistar grupos focais nos bairros.Para este trabalho serão mantidas em foco as entrevistas realizadas com líderes comunitários das duas áreas. Em todos esses passos,teve-se como objetivo, a compreensãodo território e as dinâmicas de violência nos bairros Guamá e Terra Firme, além de buscar entender como as relações de poder e violência interferem na dinâmica espacial dos bairros pesquisados. Ressalta-se, que, este artigo é fruto de algumas inquietações abordadas pela autora em seu Trabalho de Conclusão de Curso, as quais continuam com a importância de serem compreendidas ainda na pós-graduação (mestrado) da autora. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 199 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA 1. LOCALIZAÇÃO DA PESQUISA: OS BAIRROS GUAMÁ E TERRA FIRME Atualmente, tratar da temática violência no contexto das grandes metrópoles, é algo fundamental, visto que a violência se mostra de diversas formas e está presente no cotidiano de grande parte da população dos grandes centros urbanos. Por isso, é inegável pensarmos que o fator urbanização e, consequentemente, a periferização, tenham influências nas dinâmicas territoriais das cidades. Dentro do espaço urbano, diversos fatores podem contribuir para o aumento da violência como: exclusão social, pobreza, favelização que se apresentam intensamente em áreas periféricas, desvalorizadas e deixadas em segundo plano pelo poder público,tornando-se, assim, ambientes propícios para a difusão e o estabelecimento da criminalidade. O lócus desta pesquisa corresponde aos bairros Guamá e Terra Firme, dois bairros periféricos da cidade de Belém que há tempos sofrem com uma espécie de precarização socioespacial e com rotulações negativas. Mas antes, é importante trazer algumas informações pertinentes acerca da geografia dessas áreas. Os bairros Guamá e Terra Firme se localizam na porção sul do município de Belém, próximos ao rio Guamá. Ambos fazem parte do Distrito Administrativo do Guamá (DAGUA), sendo este o oitavo distrito administrativo de Belém, abrangendo os bairros: Montese (Terra Firme), Condor e parte dos bairros Jurunas, Batista Campos, Cidade Velha, Cremação, Guamá, Canudos, São Brás, Marco e Curió-Utinga. O bairro Guamá ainda faz parte do Distrito Administrativo de Belém (DABEL), que abrange os seguintes bairros: Reduto, Campina, Nazaré e parte dos bairros do Marco, Umarizal, São Brás, Guamá, Cremação, Batista Campos, Cidade Velha, Jurunas e Canudos. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 200 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA Mapa 1: Localização dos bairros Guamá e Terra Firme. 201 Fonte: IBGE, 2010. Segundo o anuário estatístico do município de Belém (2012), a partir do censo demográfico do IBGE (2010), a população total desses dois bairros é de 156.049 habitantes, sendo o bairro Guamá o mais populoso com 94.610, já Terra Firme possui 61.439 habitantes. Em relação à caracterização do território, Guamá possui uma área de 4,17 Km² e Terra Firme 2,43 Km² (IBGE, 2010). 2. CONCEITUAÇÕES DE TERRITÓRIO E PODER Neste capítulo, em especial, dar-se-á ênfase às questões referentes ao território. Assim como, às dinâmicas territoriais do cotidiano e da violência presentes nos dois bairros pesquisados, iniciando, ainda, um debate sobre ordenamento territorial, em que se busca entender que tipo de ordenamento é empregado e se isso corrobora ou não para os altos índices de violência e marginalização social na cidade de Belém; tendo como foco, os bairros trabalhados: Guamá e Terra Firme. Para se iniciar essa discussão, é importante frisar que, o conceito de território se fez fundamental para a identificação das relações e disputas de poder Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA vivenciadas nessas áreas. Então, se faz mister questionar: O que é território? O território possui – mais que um conceito eminentemente geográfico –,uma escala bastante ampla de aceitação, desde o senso comum, encarado como “grande extensão de terra”, até a esfera de estado-nação, sendo bastante privilegiado por este (SOUZA, 2013). Como afirma Saquet (2007.p.30): “[...] A natureza e o Estado assumem centralidade em sua argumentação e compreensão do conceito de território”. O território também é conceitualizado pelas ciências naturais como, a Biologia, onde a concepção de território “[...] Era entendida como área de proteção de animais” (SAQUET, 2007. p. 30). Portanto, várias áreas do conhecimento buscam, ao longo dos anos, conceituar o território. Na Geografia, tal conceito ganha destaque, principalmente com a consolidação da Geografia crítica, onde se privilegiam as ações socioespaciais, principalmente as relações de poder, que, posteriormente, serão trabalhadas neste capítulo. Em relação ao território que será trabalhado nesta pesquisa, coaduna-se com os estudos de Souza (2000; 2013) e Raffestin (1999), onde o território é eminentemente político. Pois, de acordo com Souza (2013, p. 88): Mais uma vez: o que “define” o território é, em primeiríssimo lugar, o poder. Ou, em outras palavras, o que determina o “perfil” do conceito é a dimensão política das relações sociais, compreendendo essa dimenção no sentido amplo de o político (le politique, das politische) e não no sentindo de a política (la politique, die politik) (SOUZA, 2013, p. 88). Ainda afirma Freund (apud HAESBAERT, 2012, p. 63): A atividade política se define, em primeiro lugar, pelo fato de se desenrolar no interior de um território delimitado. [...]As fronteiras [...] podem ser variáveis; entretanto, sem a existência de um território que particularize o agrupamento, não se poderia falar em política. [...]Pode-se, pois, definir a política como a atividade que reivindica, para a autoridade instalada em um território, o direito de domínio, que é a manifestação concreta e empírica do poderio. [...] Esse poderio e esse domínio, segundo Max Weber, só se tornam políticos quando a vontade se orienta significativamente em função de um fim, que só tem sentido pela existência desse grupamento. Portanto, as análises políticas e geográficas andam lado a lado. Em se tratando de território, contudo, não se pode delimitá-lo como sendo unicamente político; fazer isso seria simplificar o seu aporte teórico, podendo, inclusive, o território ter como pano de fundo as relações econômicas e culturais. Todavia, por se tratar de um único conceito, deve-se ter a preocupação em não sobrecarregá-lo. Outro ponto importante de lembrar é, que, mesmo o território aqui trabalhado tendo uma carga conceitual política muito forte, isso não limita a análise da pesquisa sob uma visão estadista; pelo contrário, entende-se que o território, assim como o poder – são amplos e diversos –, não podendo nunca serem reduzidos como Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 202 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA sinônimos do Estado, fazer isso seria um erro que, de sobremaneira, empobreceria esta pesquisa. Com essa importância substancial da política e, mais ainda, do poder para conceituar território, cabe aqui, trazer alguns autores que contribuem bastante com essa temática onde o termo poder está diretamente relacionado à “dominação, violência, autoridade e competência” (MALUSCHKE apud SOUZA, 2013, p. 79). Contudo, essa não é uma visão homogênea dentro dos estudos relacionados à temática. Autores como Arendt (1983) discordam veementemente da relação simplista entre poder e violência. Hannah Arendt, ao contrário de Günter Maluschke, lamentava que o poder fosse tão frequentemente confundido com violência, força, vigor ou qualquer outra forma de dominação; buscava ampliar a ideia de poder e libertá-lo da confusão com a violência e da restrição à dominação (SOUZA, 2000; 2013). Por isso, a autora diferencia poder como um potencial social, não como uma entidade imutável, que surge quando os homens agem em coletividade, desaparecendo, assim, quando eles se separam; além de deixar claro, que, poder, não é qualidade de um indivíduo e só existe enquanto o grupo permanece unido. Portanto, o poder só existe por intermédio da relação em sociedade e só é realizável enquanto há coesão social. Muitas vezes, poder, é relacionado erroneamente com a violência, contudo, na visão da autora eles se opõem. Onde um domina o outro se ausenta (SOUZA apud ARENT, 1983). Para Arendt (apud, HSIAO, 2003 p. 7) o poder efetiva-se: [...] “Enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são empregadas para revelar intenções, mas para revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas realidades”. Além de abordar teoricamente o poder, a autora também faz grandes contribuições ao diferenciar ainda força, vigor e autoridade. Então, para ela, a força seria uma espécie de “energia liberada através de movimentos físicos ou sociais”, é a qualidade natural de um indivíduo isolado. Já o vigor, de acordo com a autora, é uma propriedade individual, singular, que pertence ao caráter do indivíduo ou do objeto que o possua, tendo assim uma independência, diferentemente do poder que é obtido por meio da coletividade. Ainda nas diferenciações feitas por Hannah Arendt, a autora também trata do conceito de autoridade que significa “o reconhecimento inquestionável por aqueles a quem se pede que obedeçam; nem a coerção nem a persuasão são necessárias” (ARENDT apud HSIAO, 2003, p.7). Michel Foucault traz pontos interessantes em sua perspectiva de poder. Para ele, o Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 203 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA poder não é adquirido, mas sim, exercido, além das relações de poder não estarem desvinculadas das relações econômicas e sociais, mas fazerem parte dela. E, o mais importante, “onde há poder há resistência” (FOUCAULT apud RAFFESTIN, 1999; HAESBAERT, 2012), além de se diferenciar da visão de acordo social de Arendt, Michel Foucault ainda distingue três grandes mecanismos de poder: o legal (dominante no período medieval); o disciplinar (nas sociedades modernas) e o de segurança presente na contemporaneidade – apesar da divisão, os três estão presentes no período atual (HAESBAERT, 2014). Sobre isso, Foucault (apud HAESBAERT, 2014, p. 164) comenta: “A soberania se exerce nos limites de um território, a disciplina se exerce sobre o corpo dos indivíduos e, enfim, a segurança se exerce sobre um conjunto de uma população”. Então, diferentemente de Hannah Arendt, Michel Foucault, além de outros pensadores anarquistas clássicos, criaram uma espécie de demonização do termo poder.No entanto, Michel Foucault enfatiza o poder opressor, mesmo ao afirmar que o conceito precisa ser libertado de sua carga negativa. Foucault (1994), ainda entende o poder por trás da disciplina e eficiência (SOUZA, 2013). Para ele “o próprio corpo é uma relação de poder” (FOUCAULT, 2011b, p. 27). Sobre o tema, o autor ainda afirma: Logo, só poderia ser no máximo e, só pretende ser no máximo, um início de teoria, não do que é o poder, mas do poder, contanto que se admita que o poder não seja, justamente, uma substância, um fluido, algo que decorreria disto ou daquilo, mas, simplesmente, na medida em que se admita que o poder é um conjunto de mecanismos e procedimentos que tem como papel ou função, e tema-se manter – mesmo que não o consigam – justamente o poder. É um conjunto de procedimentos, e é assim, e somente assim, que se poderia entender que a análise dos mecanismos de poder dá início a algo como uma teoria do poder. (FOUCAULT, 2008a, p.4) Portanto, para o autor, os mecanismos de poder são mais que restritos à participação do Estado, por exemplo, é parte intrínseca de todas as relações, sejam elas as de produção, familiares ou sexuais, uma vez que, de acordo com ele “o poder não se funda em si mesmo e não se dá a partir de si mesmo” (FOUCAULT, 2008a, p. 4). Após essa breve conceituação de poder, se retomará a temática do território, na qual a autora se debruçou mais densamente. Este debate será iniciado a partir da visão de Milton Santos sobre o território, onde o território é formado a partir de dois vieses. O primeiro é tratado como recurso, prerrogativa dos atores hegemônicos, já a segunda, entende o território como abrigo para os atores hegemonizados (HAESBAERT, 2014). Nesse sentido, é pensado que, mesmo a visão miltonsantiana sendo importante nos estudos geográficos, ela aparece Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 204 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA bastante limitada, haja vista que se acaba deixando o território e, consequentemente, a territorialização nas mãos dos atores hegemônicos, o que se mostra errôneo na vivência em sociedade. Exemplifica-se tal pensamento a partir de um ator social específico: O traficante de varejo. Nesse sentido, não se consegue enquadrá-lo em nenhuma das situações, já que ele não é meramente hegemonizado, pois, com o território ele exerce poder, influência e lucro, além de outras relações sociais e simbólicas naquela dada área de vivência e/ou da venda de drogas. Assim como, não se compreende este como hegemonizador, o que busca recursos, uma vez que, apesar de sua influência ser, em muitos casos, como o Rio de Janeiro e em São Paulo, muito grande, mesmo assim tais atores não estão presentes –pelo menos não na maioria das vezes–, nas decisões urbanas iniciadas pelo Estado ou por outros agentes hegemônicos dentro da cidade;além de viver no território, tendo, assim, a visão de abrigo. De acordo com o ponto de vista da autora, nessa visão miltonsantiana inspirada em Gotman (1973), há, ao mesmo tempo, a intencionalidade do abrigo e do recurso. Nesse sentido, coaduna-se com as reflexões de Souza (2000,p.86) que trata o território como: Um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua complexidade interna define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre nós (o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”, os insiders) e os “outros” (os de fora, os estranhos, os outsiders). Sobre campo de forças e teia de relações, um geógrafo que se destaca é Claude Raffestin. Para ele, o território é “espaço político por excelência, campo de ação de trunfos” (RAFFESTIN,1999), mas antes de adentrar às concepções do autor sobre território, é importante frisar que o autor diferencia espaço de território. Onde o espaço é anterior ao território, sendo o segundo formado a partir do primeiro, e essa ação só ocorre “quando um ator territorializa o espaço”. Então, em Raffestin (1999) diferentemente de outros autores, Souza (2000; 2013) diz que, o espaço é dado como se fosse uma matéria-prima, um suporte, assim como o tempo, preexistente em qualquer ação, podendo, assim, o espaço vir a ser um “trunfo”e o território “o campo de ação desses trunfos”. Portanto, para Raffestin (1999, p. 2): O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os homens controem para si. Enquanto relação social, uma das características mais marcantes no território, é a sua historicidade, pois o território é nada mais que “o espaço socialmente produzido e apropriado Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 205 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA dotado de significado”, entretanto, mesmo levando em consideração tais relações, o autor não deixa de citar a importância política desse conceito. Na verdade, o autor em questão, prioriza as dimenções políticas do território através do poder, indo a fundo nessa perspectiva, visto que, para ele “as noçõesde poder são suficientemente amplas para incluir também a própria natureza econômica e simbólica do poder” (HAESBAERT, 2012, p.84). Outro ponto fundamental em Raffestin (1999), nesse enfoque de poder, é que o autor não restringe às dimensões políticas ao papel do Estado; para isso, ele diferencia o Poder de poder. O primeiro, ligado às instituições formais e legais, como o Estado, onde é garantida a sujeição dos cidadãos, e, que, muitas vezes acaba sendo confundida com o próprio Estado. Normalmente é mais fácil de identificar, uma vez que atua sobre os aparelhos que controlam a população, dominam seus recursos e agem sobre o território. Já o segundo, se esconde por trás “do Poder nome próprio”; é o poder que se estabelece dentro das relações, portanto, invisível, que “mesmo não englobando tudo, vem de todos os lugares” o poder faz parte de todas as relações, é um processo de troca, de comunicação, podendo os polos dessa relação, coadunarem ou entrarem em conflito (RAFFESTIN, 1999). Além de Raffestin, outro autor que quebra com a visão de território, de ser unicamente ligado ao Estado, é Souza (2000, p. 81), uma vez que, para ele “territórios são construídos e (desconstruídos) nas mais diversas escalas da mais acanhada (ex. rua) a internacional”. Esse mesmo autor (2000; 2013), formula o conceito de território em duas etapas. A primeira aproximação caracteriza o território como sendo, um “espaço definido e delimitado, por, e a partir de relações de poder”. Como ele mesmo afirma: essa conceituação, apesar de sintética, já contém todo o conteúdo essencial ao entedimento de território, contudo, ele trás uma segunda aproximação, sendo o território “relações de poder espacialmente delimitadas e operando, destarde, sobre um subtrato referencial”. Souza (2013) ainda afirma que, a segunda aproximação é importante para deixar claro, que, mesmo a materialidade do espaço sendo fundamental para que o território se forme, este é, antes de mais nada, uma relação social (SOUZA, 2000; 2013). Nessa relação entre Poder, Estado e Território, o território acabou sendo, por muito tempo, e ainda, é, o aparelho sobre o qual o Estado exerce ou busca exercer sua autonomia. Em princípio, local de ações e planejamentos estatais, desde ações de delimitação de áreas com a criação de fronteiras, até a tentativa de reordenamento do território. Autores como Camargo (2009), Haesbaert (2014) e Souza (2012), trazem ferrenhas críticas ao Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 206 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA desenvolvimento territorial feito pelo Estado, em que, na maioria das vezes, considera muito mais o capital em forma dos atores hegemônicos nas cidades, do que as populações mais carentes. Sobre isso Camargo (2009. p.1) comenta: Abraçamos, assim, uma só verdade, inseridos em um modelo único e global de política econômica que suplanta os interesses das nações, pois, ao se desenvolverem laços de integração dos territórios nacionais com grandes organizações transnacionais, não se escuta o pedido popular, mas, sim, o desejo do capital. Portanto, ordenação, acaba tomando como significado a busca pelo progresso (CAMARGO,2009), assim como,progressão, acaba sendo sinônimo de desenvolvimento econômico (SOUZA,2012). Tornando então o ordenamento feito pelo Estado, como “ordenamento burguês”. Assim, a produção do espaço urbano exercida pelo Estado: [...] Tendeu-se a ser reduzida a uma “produção capitalista da cidade”, enfatizando-se a produção de disparidades socioespaciais à luz da espacialização da produção. Assim como, da reprodução capitalista e do papel do Estado como planejador e provedor de infraestrutura em detrimento da construção (inter) subjetiva do espaço urbano e das micro políticas e micro estratégias “infra políticas” ou “não políticas” de resistência; em detrimento das identidades, da cultura da bairrofilia (SOUZA, apud, 2012). Percebe-se, assim, que com a pouca presença do Estado em determinadas áreas da cidade – que se diga, intencional –, há o incentivo da criação de territórios de determinados grupos, como é o caso da territorialização2 da violência urbana ilegal, representado pelos traficantes de varejo, milícias paraestatais e segurança privada, que disputam o poder entre si e entre o próprio Estado. Caso não diferente nos bairros do Guamá e Terra Firme, ambos bairros periféricos da cidade de Belém. 3. TERRITÓRIOS, VIOLÊNCIA URBANA E HOMICÍDIOS NOS BAIRROS GUAMÁ E TERRA FIRME A violência urbana está diretamente relacionada com uma urbanização desigual e segregadora que exclui, econômica e socialmente, a parcela da população da cidade com menor poder aquisitivo. Em Belém, boa parcela dessa população pobre habita nas áreas periféricas por diversos motivos, dentre eles,por serem espaços mais baratos para se viver, o que facilita a vida de quem precisa se locomover para o centro da cidade em busca de trabalho, estudo, entre outros serviços. Mais que áreas baratas, as periferias urbanas também são zonas mais propícias para o 2 De acordo com Souza (2013d. p.33):“Assim como não há um único tipo de poder, tampouco há um único tipo de território”. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 207 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA estabelecimento do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas. Os motivos para isso vão, desde a baixa presença do Estado, seja em infraestrutura, ou mesmo a baixa participação com órgãos públicos importantes como escolas, hospitais, delegacias, entre outros, favorecendo as peculiaridades como a ilegalidade (CHAGAS, 2013). Uma vez, que, normalmente, periferias são áreas onde, o principal modelador do espaço urbano, foram as populações socialmente excluídas (CORRÊA, 1999); muitas das ruas dessas áreas são vielas, o que dificulta, por exemplo, a entrada de carros da polícia. Para entender a violência, e, consequentemente, sua territorialidade, é importante pensar a relação que o espaço urbano tem com a mesma. Nesse sentido, o espaço urbano se caracteriza como excludente, facilitando a territorialização de espaços, onde, a criminalidade encontra mecanismos para se estabelecer e, ali, criar suas relações de poder. Uma dessas causas ocorre quando o poder público se ausenta, criando zonas onde a ilegalidade que acaba por comandar, não apenas os espaços físicos, onde há venda de drogas ou outras atividades ilícitas, mas, sim, todo o conjunto social que ali habita; fazendo com que a população se sinta ameaçada, até o ponto de, muitas vezes, evitar passar por certos locais, ou ainda, estabelece horários para sair de suas casas, com medo de sofrerem algum tipo de violência, sobretudo, a violência física. Sobre esse assunto, um dos nossos entrevistados, que é líder comunitário no bairro Terra Firme, comenta: O horário que eles costumam agir é das cinco às seis da manhã, de meio-dia até uma da tarde, né!? E à, noite depois das nove, é o pique onde eles conseguem. Teve uns que até me disseram o porquê que eles agem nesses intermédios; porque é nesse intermédio que ‘tão’ fazendo a troca de guarnição. Então, o policial, ‘por exempro’, ele não tá preocupado em prender a pessoa. Por quê? Porque ele já vai entregar o seu posto, então ele já vai trocar o seu posto nessa medida em que ele vai fazer essa troca. Entendeu? Se ele for pra delegacia com essa pessoa registrar queixa, então ele vai passar do horário dele, aí ele prefere nem abordar ou nem pegar, ele passa logo direto...Então, quer dizer, é um meio de fuga pra eles mesmos, o qual eles já ‘tão’ sabendo disso. Né!? É importante pensar que, a violência é um recorte do território, o qual é palco das variáveis sociais (pobreza, desigualdade etc.), além de estarem vinculados valores culturais, socioeconômicos e políticos. Assim, a violência pode ser apontada como resultado dessa relação, além de pensar que o poder modifica o território (CHAGAS, 2013). Embora a criminalidade esteja diretamente ligada ao sentimento de insegurança da população, perante a vivência nas cidades, é inegável pensar que ela não se distribui homogeneamente por todo o território, sobretudo, o homicídio que aparece mais Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 208 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA enfaticamente nas regiões periféricas da cidade. Em Belém, de acordo com os estudos de Waiselfisz (2013), houve um incremento significativo no número de homicídios, com uma taxa de 40,9 homicídios por 100.000 habitantes, ocupando, assim, a 15ª posição no ranking do número de homicídios, por 100.000 habitantes, dentre as capitais brasileiras no ano de 2011.Número que aumentou drasticamente, se comparado ao ano de 1999, onde Belém ocupava a 22ª posição com 15,1 homicídios por 100.000 habitantes. Nesse sentido, além dos diversos ônus vivenciados pela falta de estruturação urbana nesses locais, a população ainda sofre com a territorialização de agentes sociais, legais e ilegais, que corroboram para o aumento da violência, o que acaba por inserir a violência no cotidiano dessas pessoas que passam a conviver cada vez mais com a criminalidade violenta, ou seja, a população acaba sendo vítima de assaltos, ameaças, por parte da polícia ou até mesmo de traficantes; além da estigmatização por parte dos que não moram nessas áreas periféricas. Portanto, o território como categoria eminentemente geográfica, é fundamental para entender as dinâmicas territoriais de violência presentes nesses dois bairros. Pois, o território, tal como o poder, é palco de dominação e conflito de interesses, e, jamais, pode ser diminuído ao sinônimo de Estado (SILVA, 2009). Sendo ele “um campo de forças, uma teia, ou rede de relações sociais” (SOUZA, 2000. p.86), onde grande parte dos territórios tende a ser fixos, mas isso pode variar (most territories tend to be fixed in geographical space, but some can move)3 (SACK apud SOUZA 2000, p. 88). Nesse sentido, os territórios onde a violência urbana se faz presente, variam de acordo com o espaço-tempo, onde eles se inserem,juntamente, às peculiaridades, como a ilegalidade (CHAGAS,2013), ocasionando a migração do crime, como ocorreu no bairro Terra Firme,entre outros bairros de Belém, como o Guamá; sobretudo, no que tange aos homicídios, essa é uma das hipóteses para a diminuição nos percentuais de crimes no bairro Terra Firme durante os anos analizados na pesquisa. Portanto, a territorialização da violência urbana se dá por um conjunto de fatores, entre eles: A disputa de poder entre o Estado – por meio da segurança pública –, e os criminosos locais: traficantes de varejo, ladrões, usuários etc. Ocorrem acertos de contas, em que, geralmente, o traficante mata ou manda matar pessoas endividadas com o tráfico, além dos decorrentes conflitosde disputas para a dominação de determinada área da cidade, assim 3 “Muitos territórios tendem a se fixarem em espaços geográficos, mas alguns podem ser móveis.” Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 209 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA como, os crimes passionais que, normalmente, não são tratados como “violência urbana”,mas que detêm um número significativo de vítimas (em se tratando de homicídio). Portanto, analisar os territórios nos quais a violência se insere, como nos bairros Guamá e Terra Firme, é muito mais complexo que meramente atribuir o fator “pobreza” como causa primeira para o estabelecimento da criminalidade. É preciso ir além, no sentido de compreender as relações sociais e de poder, vivenciadas por todo o conjunto social, seja a própria população dos bairros, ou as pessoas ligadas direta ou indiretamente ao estabelecimento de poderes ilegais. Como se observou no segundo capítulo deste artigo, o território, assim como o poder, não se restringe ao poder formal do Estado (RAFFESTIN, 1999). Contudo, é importante mostrar de que forma o Estado atua enquanto agente territorializador, e, que, tem como intuito, controlar a violência. O primeiro, e, mais fácil de identificar e delimitar, é o território legal, formado pelo Estado através do Conselho Estadual de Segurança Pública do Estado do Pará (CONSEP), que, com a resolução n° 185/12, aprova a delimitação circunscricional das Regiões Integradas de Segurança Pública e Defesa Social (RISP), que vem com o intuito de aprimorar as políticas públicas de segurança, a fim de integrar o planejamento, coordenação e controle, fiscalização e execução de atividades operacionais dos órgãos do sistema estadual: Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social(SEGUP-PA,2012). Como aponta o documento Aditamento ao BG Nº066 de 9 de Abril de 2012, a segurança pública percebe a necessidade de se obter maior eficácia e efetividade no emprego dos órgãos do sistema, trabalhando, assim, de maneira integrada com uma relação direta das polícias, militares e civis, além do corpo de bombeiros e outras entidades do setor de segurança governamental. Tudo isso na tentativa de garantir a segurança da população, da capital e do interior do estado do Pará, que contou com uma reorganização do Sistema Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (SIEDS), e uma reestruturação da Secretaria de Estado e Segurança Pública e Defesa Social (SEGUP) promovendo, assim, as Regiões Integradas de Segurança Pública (RISPs), (SEGUP-PA,2012). As Regiões Integradas de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará são novas formas que o governo do estado criou, em busca de obter maior controle de seu território; além de uma maior articulação regional em níveis estratégicos, táticos e operacionais. No total foram criadas quinze RISPs em todo o estado. A primeira é a que corresponde à capital do estado, Belém, além dos seus distritos e ilhas. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 210 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA Na primeira RISP, os órgãos que atuam na Polícia Militar são: 1º, 2º,10º e 20º batalhões, onde, o último, inclui os bairros Guamá e Terra Firme, e, também, a segunda companhia independente da polícia militar. Já os órgãos envolvidos na polícia civil, contam com onze seccionais urbanas, sendo a última localizada no bairro Guamá. Ainda, as unidades de polícia, Unidade Integrada Pro Paz (UIPP) localizada no bairro da Terra Firme, unidade de crime contra o patrimônio, unidade de polícia do aeroporto e as unidades policiais em hospitais, assim como, a unidade do hospital e pronto-socorro Humberto Maradei, do Guamá, e, por fim, tem-se o grupamento do corpo de bombeiros, contando com o 1º grupamento bombeiro militar que tem como circunscrição vários bairros, dentre eles, Guamá e Terra Firme, primeiro grupamento de busca e salvamento, entre outros (SEGUP-PA,2012). Esse tipo de delimitação feita pelo Estado e, mais precisamente, pela segurança pública, mais que mera subdivisão em áreas, mostra o quanto o Estado vem buscando novas medidas de controle, e, isso, é bastante claro quando há um recorte bem delimitado em certas áreas, como é o caso dos bairros Guamá e Terra Firme, onde foi destinada uma área específica de controle para cada um. Nesse sentido, o Estado como grande gestor urbano, busca se territorializar em todas as áreas da cidade, contudo, dependendo da área, essa territorialização se diferencia – como é o caso dos bairros em questão –,onde se aumentou a presença policial, mas, que, muita das vezes, essa presença não acompanhou a melhoria em outros setores importantes para o desenvolvimento econômico e social, daqueles lugares que, são da mesma forma, fornecidos pelo Estado. Outro agente territorial presente nesses locais e que age a partir da ilegalidade, é o tráfico de drogas, que, nesses dois bairros, tem uma relevância significativa e, que, a partir dele, como foi relatado em campo, gera uma cadeia muito grande de outras relações violentas. Pensando a expansão do tráfico de drogas, aliada à territorialização da violência, sobretudo, em áreas de periferização da grande Belém, Chagas (2014) faz uma analogia sobre a relação do tráfico de drogas se comportar, no momento em que domina novas áreas, como uma empresa. Além de trazer cinco pontos importantes para entendermos como ocorre o espraiamento da violência urbana, analisando o tráfico de drogas. Primeiro: criar seu mercado consumidor interno com a distribuição, inicialmente, de drogas mais leves, viciando, assim, os jovens, tendo como consequência, a prática de pequenos crimes por esses. Segundo: os Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 211 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA jovens viciados, para manter o consumo de drogas, acabam por cometer crimes maiores; alugam armas, e, com isso, há um fomento nos crimes violentos como o latrocínio. No terceiro momento, há um aumento na violência, sobretudo, a partir do homicídio praticado pelo traficante aos devedores. No quarto momento, a microescala de poder se espraia quando há tentativas de dominação de traficantes para outras áreas de influência, isso acaba gerando o conflito entre grupos rivais. E, por fim, a entrada do Estado, muitas vezes apenas com a segurança pública – com intuito de coibir a violência –, acaba gerando ainda mais mortes, uma vez que o Estado normalmente pensa a segurança pública como mero caso de polícia, alijando, dessa forma, benefícios como estruturação urbana, educação e saúde (CHAGAS, 2014, pp.16-17). Sobre a visão dos traficantes de drogas de varejo, Souza (2008, p. 61) comenta: [...] Demônios ou benfeitores? Nem uma coisa nem outra: oprimidos que oprimem outros oprimidos. Embora, via de regra, atuem como comerciantes, dentro de uma mentalidade capitalista, eles podem, ocasionalmente, tanto demonstrar certa solidariedade com pessoas da “comunidade” onde atuam (genuína por razões “políticas”), quanto cometer atos de crueldade contra essas pessoas. Pela característica do uso indiscriminado da violência de que acaba se revestindo, em decorrência da ilegalidade, o tráfico de drogas ilícitas corresponde perfeitamente àquilo, que, na linguagem jornalística dos anos 1980, se atribuía ao Brasil como um todo: um “capitalismo selvagem”. Para além dos territórios formados por agentes legais e ilegais, que estão diretamente ligados à violência,têm-se, também, os territórios dominados pelas milícias que “são e, ao mesmo tempo, não são o Estado”. Para Souza (2008, p.121): É, o Estado, na medida em que os indivíduos integram, consiste, muitas vezes, em policiais e bombeiros da ativa (sem contar ex-policiais e os ex-bombeiros); mas, evidentemente, por outro lado, não o são, visto, que, os grupos paramilitares são agências coercitivas informais. Eles existem paralelamente ao Estado, sob a sua sombra. E, sobretudo, a partir do momento em que começam a “vender segurança”, existem à margem da lei, sendo antes mais parte do problema que da solução. Haesbaert aponta que, o crescimento da atuação das milícias, é resultado das dinâmicas de privatização e de retração dos espaços públicos, onde se alcançam, não apenas o setor econômico, mas também o Estado, a partir do setor militar, que, como ele afirma, é o “lócus do exercício da violência legítima”; portanto, as milícias demonstram a perda de poder do Estado em “termos de controle territorial” (2014, p. 138), que acaba por permitir a proliferação de territórios da segurança privada, que, como aponta o autor, muitas das vezes podem, inclusive, se apropriar de espaços públicos. Então, as milícias mesmo sendo muitas das vezes, como afirmou Souza (2008), compostas por ex-militares, essas não lutam mais Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 212 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA diretamente com o Estado, mas em função de terceiros, onde estão subordinadas. Um exemplo bastante notório que mostra a territorialização violenta nesses bairros é a atuação das milícias ou grupos de extermínio, como a que foi liderada pelo ex-policial das Rondas Ostensivas Tático Móveis (Rotam), cabo Figueiredo, mais conhecido como “Pet”, que atuava em um grupo de milícia no bairro Guamá, onde, no dia 4 de novembro de 2014, foi assassinado, e, como resultado disso, houve uma onda de violência, medo e morte na cidade; sendo divulgada oficialmente a morte de mais dez pessoas no dia 5 de novembro de 2014 nos bairros Guamá e Terra Firme (DIÁRIO DO PARÁ,2014). Um pouco do ocorrido aparece neste trecho da notícia veiculada em um jornal local: Grupos de milícias atuam plenamente no Estado com a participação de policiais militares, sendo, que, pelo menos três deles coexistem na Região Metropolitana de Belém, financiados por empresas, comércio ilegal e tráfico de drogas. Este é o cenário apresentado pelo relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Milícias no Pará, que foi entregue nesta sexta-feira (30) durante sessão na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). Elaborado em 44 dias, o documento apurou a existência dos grupos de extermínio paraenses após uma chacina ocorrida no dia 4 de novembro de 2014 registrar 11 mortes, incluindo a do cabo PM Figueireido, conhecido como “Pet”, apontado como líder miliciano no bairro do Guamá. Segundo os deputados, os grupos utilizam a experiência dos membros para realizar os extermínios, geralmente motivados por interesses financeiros, como o ‘controle do tráfico de drogas’ e eliminação de comerciantes ‘agiotas’. (DIÁRIO DO PARÁ, 2014). Em decorrência desse acontecimento, e da perda de poder que o grupo liderado pelo ex-policial detinha, deflagrou-se, então, uma onda de violência na cidade, gerando uma grande sensação de medo, tanto dos moradores dos bairros atingidos, quanto de todos os outros bairros da cidade. Sobre a relação entre poder e violência, Hannah Arendt (1985) diz que toda perda de poder é um convite a violência. Além disso, o que se percebe é que, o aumento deflagrado da violência faz com que a população clame por uma nova ordem mais repressiva e autoritária, tudo isso na tentativa de se proteger da violência (SOUZA, 2008). Sobre território e violência Zaluar (1994, p. 11) afirma: Cada um tem seu território próprio e, como disputam lucrativo comércio, de vez em quando estoura uma guerra entre eles, provocada pela ambição do domínio do território alheio. Armar-se é necessidade, pois “ficar desarmado”, eu ouço, significa entregar a invasão do seu território. Essa linguagem militar não é apenas usada por bandidos de sua área contra outra. A partir de tais assertivas, o jogo de poder, dominação e violência em busca do controle do território nos bairros Guamá e Terra Firme, mais que mero território controlado por um grupo em específico, o que ocorre nessas áreas é o crescimento da violência, quando a Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 213 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA população se vê coagida a não sair em determinados horários, ou não passar por determinadas ruas por estas serem conhecidas pelo maior número de homicídios, ou mesmo, por serem áreas controladas por algum traficante de drogas. Tudo isso mostra a territorialização da violência a tal ponto que ela passa a interferir no cotidiano da população que, tenta se proteger, seja com o pagamento de segurança privada como as rondas – atualmente bastante comuns em várias áreas residenciais da cidade –, ou mesmo com a construção de vilas ou portarias com a tentativa de se proteger da violência, mesmo que de maneira precária. Isso é bem evidenciado no bairro Guamá através dos trabalhos de campo realizados onde, mesmo a população mais pobre, busca colocar grades em suas casas, pagar as “rondas” que, nada mais são, que a contratação de segurança privada, entre outras medidas. Souza (2012) diz que, com o passar dos anos, vem crescendo nas metrópoles brasileiras a preocupação constante com a insegurança e isso se reflete em uma sociedade amedrontada que se autoenclausura em condomínios fechados, principalmente as camadas mais abastadas, mas, também, a população mais pobre, com a criação e reforço de grades e portões e até guaritas, mesmo que de maneira precária (SOUZA, 2012; HAESBAERT, 2014). Assim, o que se mostra cada vez mais presente na população é o anseio de se proteger da violência, vivemos, portanto, em uma “sociedade de risco” (BECK, 1986,p.206, apud HAESBAERT, 2014, p.156). Sobre isso, Souza (2008. p. 77) comenta: Não é apenas entre as classes médias e as elites que os “condomínios exclusivos” fazem sucesso. Fenômenos similares já podem ser observados desde algum tempo também em bairros populares [...]. Tal caricatura de gated community preocupa e é sintomática: ao emular o símbolo, por excelência da auto-segregação em meio a um espaço não auto-segregado, ou até mesmo ele próprio segregado (como nas periferias), fica mais evidente ainda o quanto, não apenas o sentimento de insegurança e o medo, mas, também, os hábitos e os valores de risco se disseminam pelo espaço e pelo tecido social, o que ajuda a fragmentar ainda mais a cidade. Com o Estado cada vez mais ausente em determinadas áreas da cidade, “há uma percepção generalizada de deterioração do clima social e dos padrões de sociabilidade” (SOUZA, 2012,p.236) que vitimiza principalmente a população mais carente, causando a sensação de ingovernabilidade que, grosso modo, é o “mau funcionamento das instituições políticas” (MELO, 1995; DINIZ apud SOUZA, 2012. p.223).Ainda estaria associado à pobreza, má distribuição de renda, especulação imobiliária de espaços públicos etc. O que ocorre no Brasil, em específico, é que as políticas públicas para se implantarem com êxito, muitas das vezes se fazem “malandras”, ou seja, além de paliativas, dão margem para a Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 214 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA instauração da ilegalidade. O que acaba por retroalimentar a violência, desde o crescimento do tráfico de drogas, armas, o que aumenta em demasia os assaltos ehomicídios. Nos bairros Guamá e Terra Firme, além das mortes serem eminentemente de homens jovens, elas ocorrem, na maioria dos casos, pelo uso de arma de fogo, como foi observado nos anos de 2011, 2012 e 2013 onde, em 2013, teve a ocorrência em 77,19% dos casos de homicídios no bairro Guamá e 53,84% no bairro Terra Firme, de acordo com dados do (SIAC-SEGUP-PA,2013b). Nas tabelas a seguir, tais acertivas são melhor vizualizadas com a presença das variáveis, número total de homicídios, dia da semana da ocorrência do fato, além da arma empregada. AISP Bairro 5ª Guamá 6ª Terra6 Firme Dia da semana Arma empregada 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª Sab Dom 5 8 6 10 10 14 11 1 N 1 3 1 3 3 3 3 3 8 8 3 Branca 6 3 2 N° Homicídios Fogo Outros 58 0 64 20 2 0 22 Tabela 1: Número de homicídios nos bairros do Guamá e Terra-Firme no ano de 2011. Fonte: SEGUP/SIAC, 2013. AISP Bairro 5ª Guamá 6ª Terra6 Firme 2ª 3ª Dia da semana 4ª 5ª 6ª 8 10 6 0 2 8 ) 13 1 6 3 1 Sab Dom 8 12 3 2 3 4 8 4 Arma empregada Branca Fogo Outros N° Homicídios 6 59 0 65 3 7 12 1 0 19 Tabela 2: Número de homicídios nos bairros do Guamá e Terra-Firme no ano de 2012. Fonte: SEGUP/SIAC, 2013. AISP 5ª 6ª Bairro 2ª 3ª Dia da semana 4ª 5ª 6ª Sab Dom 9 3 8 12 10 1 N 1 0 Arma empregada Branca Fogo Outros N° Homicídios 57 Guamá Terra6 Firme 11 1 4 3 3 3 1 3 5 8 2 9 44 4 3 4 7 2 2 13 Tabela 3: Número de homicídios nos bairros do Guamá e Terra-Firme no ano de 2013. Fonte: SEGUP/SIAC, 2013. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 215 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA A partir da análise das tabelas e dos dados obtidos em campo, foi possível perceber alguns fatos interessantes. Primeiro, a ocorrência muito maior de homicídios aos fins de semana (sexta, sábado e domingo), a explicação para tal fato seria por conta de uma grande quantidade de bares abertos e festas noturnas o que acabou, consequentemente, gerando um maior número de brigas motivadas pelas mais diversas razões, desde os crimes passionais, envolvendo pessoas que tem algum tipo de vínculo, até o fato de que, nesses dias, é muito mais comum algum tipo de acertos de contas de grupos ou mesmo traficantes rivais. Outro ponto salutar é o grande número de homicídios, tendo como meio empregado a arma de fogo. Se forem comparados os três anos, analisados nesta pesquisa é possível perceber que 86,5% dos homicídios ocorridos no bairro Guamá teve esse meio empregado, já no bairro Terra Firme a porcentagem é de 72,2 %, ambas são porcentagens altíssimas, Waiselfz (2013) aponta para um crescimento significativo do uso da arma de fogo no Brasil, no período entre 1980 a 2010, onde quase que, exclusivamente, o aumento das mortes ocasionadas por arma de fogo, foram em decorrência dos homicídios que, nesse período, teve um crescimento de aproximadamente 502,8%. No mapa da violência de 2013, o estado do Pará sobe de colocação na taxa que calcula o número de homicídios por arma de fogo, saindo da 24ª posição com uma média de 8,5 mortes por 100.000 habitantes, para ocupar o 3º lugar em 2010, quando a média passa para 34,6 para 100.000 habitantes. (WAISELFIZ, 2013). No que tange ao número de homicídios, as taxas de mortes, no bairro Terra firme caíram drasticamente, em comparação ao bairro Guamá, se pegarmos os três anos que esta pesquisa se pautou, nota-se, que, o número de homicídios no bairro Terra Firme é pelo menos três vezes e meio menor que no bairro Guamá. Com as análises obtidas em campo, por meio de entrevistas, pensou-se que essa diminuição drástica nos índices, se deve a pelo menos duas questões. A primeira, e mais oficialmente aceita, é, que, com um maior investimento na segurança pública na área, coibiram-se as ações criminosas, principalmente, ligadas ao número de homicídios. A segunda, e que necessita de mais tempo e amadurecimento em campo para comprovar ou refutar, seria a de que a diminuição das mortes nesse bairro se deveu à dominação do tráfico de drogas nas mãos de poucos indivíduos, portanto, com o poder controlado, a violência não ganhou força. Contudo, talvez surja a seguinte questão: se o bairro Guamá faz fronteira com o bairro Terra Firme, por que nesse primeiro bairro a violência – pelo menos em números através dos dados oficiais da segurança pública –, aumentou e não diminuiu? A explicação para tal fato se Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 216 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA dá, também, por dois fatores. O primeiro seria devido à migração do crime, já, que, com a intensificação do policiamento no bairro Terra Firme, ficou ainda mais difícil cometer delitos, então, seria mais “fácil” praticar infrações em outras áreas menos vigiadas, por assim dizer, pelo Estado. E segundo, pelo fato do bairro Guamá contar, não somente com grupos ligados ao tráfico, mas, também, possuir milícias, o que acabaria gerando conflitos em torno de quem teria o poder na área, consequentemente, aumentando a violência nessa escala microlocal. Além do bairro Guamá contar com o maior número de habitantes por bairro de Belém. Segundo, o anuário estatístico do município de Belém (2010), a partir de dados do IBGE, conta com mais de 100.000 habitantes, número que tendeu a crescer nos últimos anos, contudo, não podemos comprovar, já, que, a prefeitura parou de produzir o anuário. Importa-se afirmar que, a territorialização da violência nos bairros Guamá e Terra Firme, não se dá, exclusivamente pelo homicídio e por conta do tráfico de drogas, ela também ocorre com o aumento significativo de roubos e pequenos furtos, e, são, normalmente esses tipos de violência que geram mais medo na população, principalmente, se tratando da classe média, que tende a se autoenclausurar, criando tamanha aversão aos espaços urbanos – vistos como perigosos e potenciais –, a crimes que Souza (2008), cunha o termo “fobópole”, que, a grosso, modo significa “cidade do medo”, uma cidade em que a população se vê coagida a ponto de querer a militarização da questão urbana, ou de sacrificar sua liberdade de ir e vir por conta do medo de sofrer algum tipo de violência. Ainda, mais um dado coletado em campo e que se pretende desenvolver posteriormente, é, que, a causa dos homicídios não se dá apenas pelo tráfico de drogas, mas também pelo grande número de crimes domésticos e/ou passionais, envolvendo vítima e agressor com algum vínculo afetivo, desde amizades ou mesmo relacionamentos amorosos, e, que, por algum motivo, levaram as vítimas a óbito. Portanto, a cadeia envolvendo a tipologia criminal, homicídio, é mais complexa do que se pode imaginar, já que ela envolve várias variáveis e condicionantes, e, que, só a análise de dados não é suficiente para mostrar as nuances dessas relações, até, porque, muitas vezes os dados estatísticos, apesar de essenciais, só se mostram alguns indicativos da raiz do problema, que, nesse caso em específico, envolve a tipologia criminal homicídio nos bairros Guamá e Terra-Firme. Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 05, p. 198-219. jan./jun. 2016. 217 Território, territorialização e violência nos bairros de Guamá e terra firme em Belém-PA. DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v3n5p198-219 Lorena de Lima Sanches SANTANA 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir deste trabalho, se pôde perceber a importância do estudo da violência urbana na cidade de Belém, que vem crescendo de maneira alarmante, causando a sensação de medo na população, além do sentimento de impotência perante o Estado que não consegue atenuar tais índices. Já, que, ainda hoje, pensa-se, que somente o crescimento do número de policiais nas ruas será o suficiente para a diminuição da violência, fato esse que, por várias vezes se mostrou falho. Portanto, é imprescindível que o Estado nas esferas municipais, estaduais e federais, crie mecanismos articulados que busquem visar maiores investimentos sociais, onde o termo, desenvolver, não se limite ao econômico, assim como a segurança não seja apenas um mero caso de polícia. 5. REFERÊNCIAS BEATO FILHO, Claudio Chaves. Crimes e cidades.Belo Horizonte: Editora UFMG,2012. CAMARGO, Luís Henrique Ramos de. Ordenamento territorial e complexidade: Por uma Reestruturação do Espaço social. In: ALMEIDA, Flávio Gomes de. SOARES, Luiz Antônio Alves (Org.) Ordenamento territorial: coletânea de textos com diferentes abordagens no contexto brasileiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. CHAGAS, Clay Anderson Nunes. Território, produção do espaço e violência urbana: uma leitura geográfica da criminalidade nos bairros do Jurunas, Terra Firme e Guama. Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. UEPA, 2013. CHAGAS, Clay Anderson Nunes. 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