ESTUDO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DETUBERCULOSE ATENDIDOS EM UMA UNIDADE DE REFERÊNCIA SECUNDÁRIA A PARTIR DA INTRODUÇÃO DE NOVO ESQUEMA TERAPÊUTICOi Ellâynne Menezes Ortegalii Lúcia Helena Messias Salesiii (Universidade Federal do Pará) Resumo A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch. O Objetivo do estudo foi analisar o perfil clínicoepidemiológico dos pacientes com diagnóstico detuberculose atendidos em uma unidade de referência secundária a partir da introdução de novo esquema terapêutico. Trata-se de um estudo retrospectivo, observacional, transversal e de fontes secundárias com objetivo de analisar o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com diagnóstico de tuberculose atendidos, no Hospital Universitário João de Barros Barreto a partir da introdução de novo esquema terapêutico, no período de Janeiro de 2013 a dezembro de 2016. A maioria dos prontuários analisados neste estudo foram de homens, adultos jovens, que eram trabalhadores urbanos, e apresentavam em sua maioria Tb pulmonar associada ou não a alguma outra forma de TB. Conclui-se que o perfil dos pacientes atendidos no hospital Barros Barretos após diagnóstico de TB, não difere daquele já apontado por outros estudos epidemiológicos. Palavras-chave: Tuberculose, Mycobacteria, Epidemiologia. Abstract Tuberculosis (TB) is an infectious-contagious disease caused by Mycobacterium tuberculosis or Koch's Bacillus. The objective of the study was to analyze the clinicalepidemiological profile of patients with a diagnosis of tuberculosis, treated in a secondary reference unit after the introduction of a new therapeutic scheme. This is a retrospective, observational, cross-sectional and secondary study with the objective of analyzing the clinical-epidemiological profile of patients diagnosed with tuberculosis at the João de Barros Barreto University Hospital in the period From January 2013 to December 2016. Most of the charts analyzed in this study were from men, young adults, who were urban workers, and had mostly lung Tb associated or not with some other form of TB. It is concluded that the profile of the patients treated at Barros Barretos hospital after diagnosis of TB does not differ from that already indicated by other epidemiological studies. Keywords: Tuberculosis, Mycobacteria, Epidemiology. A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK) (Brasil, 2011). A doença apresenta algumas características marcantes como: um longo período de latência entre a infecção inicial e a apresentação clínica da doença; preferência pelos pulmões, mas também pode ocorrer em outros órgãos do corpo como ossos, rins e meninges; e resposta granulomatosa associada à intensa inflamação e lesão tissular (Iseman, 2005). A tuberculose (TB) existe há milênios e permanece um grande problema de saúde global, acomentendo milhões de pessoas de pessoas a cada ano e em 2015 foi um dos 10 maiores causas de morte em todo o mundo, situando-se acima do HIV / SIDA entre as principais causas de morte por doença infecciosa (WHO,2016). Vários são os fatores apontados para explicar este fato, entre eles, a urbanização caótica e acelerada, as elevadas taxas de desemprego ou ainda o subemprego e o baixo nível salarial, aliados ao aparecimento da epidemia pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).Além disso, a incapacidade dos serviços de saúde (neste contexto, diminuição da capacidade dos serviços de saúde) em desenvolverem as atividades adequadas para o controle da Tuberculose tem corroborado como o fator determinante para a persistência da endemia (BARROS et al, 2003, p. 113; SCHECHTER, 1998; RUFFINO/NETTO, 2002; CAMPOS etal, 2000). Sabe-se que cerca de 95% dos casos de Tuberculose ocorre no terceiro mundo, e nestes, ocorrem 98% dos óbitos. Em 22 países concentram-se 80% dos casos estimados para o mundo entre os quais encontra-se o Brasil ocupando o 10º lugar (1997). Em publicação da OMS, de 1998, o Brasil passou a ocupar o 13º lugar. Ocorrem no país, 130.000 novos casos de Tuberculose todo ano e cerca de mais de 10.000 óbitos resultam desta enfermidade (HINO et al, 2005) A tuberculose é uma doença infectocontagiosa grave, porém se o tratamento for administrado corretamente, ela é curável em praticamente 100% dos casos. O tratamento objetiva eliminar todos os bacilos tuberculosos, anulando rapidamente as fontes de infecção. O tratamento deve ser feito no ambulatório com supervisão no serviço de saúde mais próximo, na residência ou no trabalho do doente. Para assegurar a cura, é necessário, além de uma associação medicamentosa adequada em doses corretas, o uso por tempo suficiente, com supervisão da administração dos medicamentos (Brasil, 2009). O Objetivo do estudo foi analisar o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com diagnóstico detuberculose atendidos em uma unidade de referência secundária a partir da introdução de novo esquema terapêutico. MÉTODO Trata-se de um estudo retrospectivo, observacional, transversal e de fontes secundárias com objetivo de analisar o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com diagnóstico de tuberculose atendidos, no Hospital Universitário João de Barros Barreto a partir da introdução de novo esquema terapêutico, no período de Janeiro de 2013 a dezembro de 2016. Para o recrutamento dos sujeitos da pesquisa, foram revisados 462 prontuários de pacientes que tiveram introdução de novo esquema terapêutico anti tuberculose acompanhados no Hospital Universitário João de Barros Barreto. Os registros foram obtidos através de uma ficha padrão de coleta de dados, contendo campos de preenchimento sobre informações epidemiológicas (gênero, idade, profissão e cidade de origem), o tipo de tuberculose, efeitos adversos à medicação, se abandonou o tratamento e se mudou de esquema medicamentoso durante o tratamento. A população definida para a pesquisa foram pacientes de ambos os sexos e faixa etária delimitada entre 10 a 83 anos. Exclui-se pacientes que faleceram durante o tratamento, e pacientes abaixo de 10 anos. Considerou-se Adolescentes indivíduos entre 10-19 anos de idade, adultos jovens 20-39, Adultos meiaidade 40-59 anos, e idosos indivíduos acima de 60 anos. Em relação a ocupação, os indivíduos foram agrupados em estudantes, dona de casa, aposentados, trabalhador rural e trabalhador urbano. Considerou-se trabalhador rural indivíduos que referiam ser lavradores, pescadores, e agricultores. Foi considerado trabalhadores da indústria e do terceiro setor. RESULTADOS Entre os 462 prontuários analisados dos pacientes com tuberculose, 306 (62,2%) eram do gênero masculino e 156 (33,8%) do sexo feminino. Quanto à idade, a faixa etária com maior numero de casos foi a de adultos jovens, N= 198, gráfico 1. GRAFICO 1 - Distribuição dos pacientes diagnosticados com tuberculose quanto a faixa etária, no HUJBB, no período de Janeiro de 2012 a dezembro de 2016. Faixa Etárias 250 200 150 100 50 0 Fonte: Departamento de Arquivos Médicos do Hospital Universitário João de Barros Barreto. No que se refere à variável etnia, a maioria, N=332, foi classificados como pardos (Gráfico 2). GRAFICO 2 - Distribuição dos pacientes diagnosticados com tuberculose quanto a etnia, no HUJBB, no período de Janeiro de 2012 a dezembro de 2016. Etnia Pardo 23.16% 4.54% 72.30% Negro Branco Fonte: Departamento de Arquivos Médicos do Hospital Universitário João de Barros Barreto Com relação a escolaridade a maioria possuía o ensino fundamental incompleto, N=240, enquanto que os que possuíam ensino superior incompleto compunham o menor grupo N=6, 90 pacientes tinham ensino fundamental completo, 42 ensino médio incompleto e 72 tinham ensino médio completo. Em relação tipo de ocupação dos pacientes, 306 eram trabalhador urbano (66,30%) ,51 eram estudantes (11,%), 54 eram dona de casa (11,70%), 21 trabalhador rural (4,40%), 30 eram aposentados (6,6%) como pode ser visualizado no gráfico 3. GRAFICO 3 - Distribuição dos pacientes diagnosticados com tuberculose quanto a ocupação, no HUJBB, no período de Janeiro de 2012 a dezembro de 2016. Ocupação 11% 11.70% 66.30% 4.40% 6.60% Estudantes Dona de Casa Trabalhador Rural Aposentado Fonte: Departamento de Arquivos Médicos do Hospital Universitário João de Barros Barreto . O tipo de TB mais comum foi a pulmonar, estando presente em cerca de mais de 60% dos casos estudados, porém alguns pacientes apresentaram mais de uma forma de Tb, a distribuição percentual pode ser visualizada na tabela 1. TABELA 1 - Distribuição dos pacientes diagnosticados com tuberculose quanto a forma de TB, no HUJBB, no período de Janeiro de 2012 a dezembro de 2016. Tipos de Tuberculose N % Pulmonar 330 68,75 Pleural 138 28,75% Óssea Ganglionar Total 9 3 480 1,8% 0,65% 100% Fonte: Departamento de Arquivos Médicos do Hospital Universitário João de Barros Barreto Na questão do tratamento, os pacientes foram inicialmente submetidos ao esquema constituído por isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol por 2 meses, seguido de rifampicina e isoniazida por 4 meses. Os pacientes foram investigados clinicamente e verificouse que alguns tiveram efeitos adversos as drogas tuberculínicas. Foram registrados 204 registros de efeitos adversos. Náuseas, vômitos e dor abdominal foram os mais comuns e tiveram a mesma frequência (16,7%). A tabela 2 mostra a frequência de cada efeito adverso relatado, sendo que um mesmo paciente pode ter referido mais de um deles. TABELA 2- Frequência dos efeitos adversos as drogas anti- tuberculose dos pacientes diagnosticados com tuberculose, no HUJBB, no período de Janeiro de 2012 a dezembro de 2016. Efeitos Adversos N % Mal Estar 12 5,88 Cefaleia 30 14,7 Nauseas 33 16,7 Vomitos 33 16,7 Ictericia 6 3 Dor 36 16,7 Abdominal Pirose 12 5,88 Edema 3 1,55 Tontura 12 5,88 Erupção 3 1,5 Cutanea Astenia 3 1,5 Parestesia 9 4,5 Prurido Dor no corpo Fraqueza Total 6 3 3 204 3 1,5 1,5 100 Fonte: Departamento de Arquivos Médicos do Hospital Universitário João de Barros Barreto No que tange os indicadores de evolução do tratamento com o esquema básico anti TB foi verificado mudança de esquema terapêutico em 7,14% (N= 33), que o fizeram. Os dois motivos encontrados para tal mudança foi a multirresistência ao esquema básico, que foi verificado em 22 casos (4,7%) por multirresistência e 11 casos (2,4%) por hepatopatia medicamentosa. A taxa de abandono do tratamento foi de 4% (N=15), enquanto que 429 individuos tiveram alta por cura. Já a taxa de não adesão ao tratamento com o esquema básico foi de 10%. Tabela 3. TABELA 3- Evolução do tratamento com as drogas do esquema báscio antituberculose dos pacientes diagnosticados com tuberculose, no HUJBB, no período de Janeiro de 2012 a dezembro de 2016. EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO ANTI TB COM ESQUEMA BÁSICO Variável N Mudança de esquema % 33 7,14% 22 4,7% 11 2,4% 15 4% Alta por Cura 429 90% Não adesão ao esquema básico anti TB 46 10% Multirresistência Hepatopatia Medicamentosa Abandono Tratamento de Fonte: Departamento de Arquivos Médicos do Hospital Universitário João de Barros Barreto DISCUSSÃO A tuberculose afetou mais indivíduos do sexo masculino, dados semelhantes aos achados em estudos realizados na Bahia e Piaui (MASCARENHAS etal, 2005; MORAES etal,2011). Aponta-se que os homens sejam mais propensos a desenvolver a tuberculose (XAVIER, BARRETO, 2007), pois eles têm menor adesão aos serviços de saúde e quando sentem os sintomas não procuram o auxilio médico. Ainda, afirma-se que os homens tem preocupações mais diluídas em relação a doença e procuram preservar seu modo de vida (uso de fumo, bebidas). Já em relação ao A faixa etária mais acometida no Pará foi a que compreende indivíduos de 20-39 anos. Essa parcela da população é a mais suscetível a maiores exposições e compreende a maior parte da População Economicamente Ativa (PEA) do país, o que implica em um prejuízo econômico e social importante. (CHAIMOWICZ,2001).Quanto a etnia, a parda foi a mais acometida, seguida de brancos e negros, o que é proporcional ao perfil demográfico brasileiros de etnias , segundo os dados do IBGE. A baixa escolaridade da população, principalmente composta por não concluintes do ensino fundamental, revela-se como um fator importante, pois a prevalência da doença relaciona-se com o baixo grau de escolaridade, um dos fatores de risco que mais concorrem para a não-aderência ao tratamento da tuberculose(ROUQUAYROL etal, 1999). A maioria dos indivíduos deste estudo serem trabalhadores urbanos pode constituir um viés de amostra deste estudo uma vez que a maioria dos indivíduos com acesso ao Hospital Universitário João de Barros Barreto é procedente de núcleos urbanos. Já em relação ao tipo de TB, a forma pulmonar foi a mais comum conforme dados de São Paulo, 2002, apesar da doença ter a capacidade de acometer diversos órgãos, a forma pulmonar é de fato a mais frequente e com maior valor epidemiológico em decorrência de sua transmissibilidade. Segundo Brasil 2002, estima que 90% dos casos de TB do tipo pulmonar ocorram em indivíduos com mais de 15 anos de idade, informação confirmada neste estudo ao identificar que a doença atinge principalmente na faixa etária produtiva da população. No que tange aos efeitos adversos das drogas anti tuberculose os efeitos gastrointestinais (náuseas, vômitos, epigastralgia e dor abdominal) constituem o grupo de reações mais comuns e podem ser atribuídas a qualquer droga do esquema aqui avaliado, dados confirmados por Romanillos etal,1990. Em relação à mudança de esquema houve uma taxa maior que 7%, principalmente devidos a casos de multirresistência (n=22) ou seja 4,7% um pouco acima da média apontada pela Organização Mundial da Saúde em 2008 que apontou uma taxa de 1,6% entre os anos de 2002 e 2007. Outro motivo responsável pela mudança do esquema básico foi a hepatopatia medicamentosa observada em 2,4% dos casos (n=11) bem dados semelhantes aos encontrados por picon et al (2000) que indicam que este percentual foi próximo de 2,5%. A taxa de abandono de tratamento foi relativamente baixa, 4% (n=15) quando comparado ao encontrado por XAVIER (apud CARDOSO; CAMPOS, 2006) que refere que 12% dos pacientes abandonam o tratamento, e MENDES e FENSTERSEIFER (2004) referem que em algumas capitais o abandono pode atingir, em média 25% dos pacientes em tratamento. Já o percentual de alta por cura foi de 90% bem acima das médias encontrada pelo estudo de Ambadekar et al (2015) que aponta um percentual de 70%. As taxas de não adesão encontradas neste estudo se assemelham com aquelas encontradas por Setolim et al (2015) percentuais em torno de 9-11%, que també analisou a adesão ao esquema básico implantado a partir de 2009, porém se compararmos com as taxas de adesão anteriores a esse ano percebe –se que elas eram bem moires como aponta dados da secretária municipal de saúde de porto alegre em 1996 que era de 25%. CONCLUSÃO A maioria dos pacientes acompanhados no Hospital Universitário Barros Barretos para tratamento de TB eram homens, pardos, adultos jovens, que eram trabalhadores urbanos, e apresentavam em sua maioria Tb pulmonar associada ou não a alguma outra forma de TB, e tiveram como efeitos adversos mais comuns, sintomas gastrointestinais. Conclui-se que o perfil dos pacientes atendidos neste hospital após diagnóstico de TB, não difere daquele já apontado por outros estudos epidemiológicos. REFERÊNCIAS Ambadekar NN, Zodpey SP, Soni RN, Lanjewar SP. Treatment outcome and its attributes in TB-HIV co-infected patients registered under Revised National TB Control Program: a retrospective cohort analysis. Public Health. 2015;129(6):783-9. http://dx.doi. org/10.1016/j.puhe.2015.03.006 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. 7. ed. Brasília, DF, 2009. p 816. Brasil.Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. 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