DIVULGAÇÃO Black-rot ( Guignardia bidwellii (Ellis) Viala e Ravaz ) É uma doença da Vinha, causada pelo fungo Guignardia bidwellii, originário da América do Norte. Na Europa, foi detectada pela primeira vez em França em 1885. No Entre Douro e Minho, foi identificada pela primeira vez em amostras provenientes de Ponte de Lima, em 2000. Daí para cá tem sido observada em pequenos focos, muito localizados e quase só nas folhas. Não foram, até ao momento, registados na região prejuízos devidos a esta doença. No ano que corre, decerto devido às chuvas prolongadas e intensas caídas durante a Primavera, tem sido assinalada em maior número de locais que habitualmente, mas até agora apenas nas folhas. O fungo ataca apenas os órgãos verdes da videira, mas as lesões provocadas persistem nas varas atempadas, nas folhas adultas e nos cachos. __________________________________________________________________________________________________ SINTOMAS ► Folhas – pequenas manchas vagamente circulares ou poligonais, acastanhadas, com um rebordo escuro e repletas de pontos negros minúsculos no seu interior (as frutificações do fungo). As manchas são pequenas, com cerca de 2 a 3 mm de diâmetro, embora as maiores possam atingir 40 X 20 mm. Estas manchas são muito características e inconfundíveis. Pode aparecer apenas uma ou várias manchas em cada folha. ► Pecíolos das folhas – podem apresentar necroses alongadas e negras, capazes de provocar o dessecamento da folha. ► Pâmpanos e varas – são mais raramente atingidos. Podem apresentar manchas semelhantes às das folhas, mas alongadas, por vezes deprimidas ou fendilhadas. Não têm influência sobre a vegetação, mas, ficando na vinha, servem de foco de contaminação na Primavera seguinte. ► Pedúnculos dos cachos e gavinhas – por vezes, manchas análogas às dos pâmpanos, mas mais pequenas. ► Inflorescências – raramente são atacadas. Algumas das manchas necrosam e acaba por rachar e cair parte do tecido da folha já seco. ► Cachos – são atacados a seguir à floração-alimpa, no início do desenvolvimento dos bagos, até ao pintor. Os cachos são contaminados frequentemente a partir de manchas de black-rot nas folhas situadas nas proximidades. O primeiro sintoma nos bagos é uma pequena mancha circular, descorada, com poucos mm de diâmetro. Esta mancha alarga-se e torna-se bruscamente avermelhada, mais escura no centro e clara nos bordos. A infecção progride rapidamente em extensão e profundidade. Ao fim de um a dois dias, todo o bago fica alterado, parecendo que foi escaldado. De seguida, começa a enrugar-se lentamente, secando completamente, com tempo seco, ao fim de 3 a 4 dias e tomando uma cor negra carregada com reflexos azulados. Com tempo húmido, estes bagos apodrecem e caem. A película dos bagos secos cobre-se de pequenas pústulas negras, tomando um aspecto característico de “encortiçado”. Estes bagos destruídos ficam presos ao ráquis do cacho durante algum tempo e acabam por cair. O black-rot não ataca, normalmente, todos os cachos da mesma cepa, nem todos os bagos do mesmo cacho. Aparece isolado sobre um ou mais bagos e invade de seguida os outros, de modo bastante irregular. Um cacho só é totalmente destruído ao fim de um período longo de tempo. CONSERVAÇÃO DO PARASITA DURANTE O INVERNO ► Nos bagos infectados caídos no solo ► Nas necroses das varas causadas pelo ataque do fungo MEDIDAS PREVENTIVAS ► Recolher e queimar toda a lenha de poda ► Recolher e queimar todos os cachos secos que ficaram na vinha restos de cachos infectados presos às videiras e gavinhas infectadas enroladas nos arames. A mobilização do solo no Outono, enterrando os bagos infectados, e a recolha das lenhas de poda diminuem os focos de infecção e as infecções primárias. Vinhas abandonadas são focos de infecção que contaminam as vinhas das proximidades, sobretudo os cachos, mesmo a centenas de metros de distância. A evolução do fungo, embora possa ser lenta, pode começar logo que haja 9o C de temperatura, mesmo durante primaveras frescas. As infecções primárias podem dar-se muito cedo, logo à saída das folhas, no decurso de períodos de chuva ou de atmosfera saturada de água e suceder-se durante cerca de três meses. As infecções secundárias provocam a expansão da doença pela vinha. Esta desenvolve-se a partir de focos primários de infecção e a partir daí, expande-se lentamente umas centenas de metros por ano. O black-rot tem uma grande resistência às temperaturas elevadas e, ao contrário do míldio, não é destruído pelas temperaturas altas no Verão, continuando a desenvolver-se. Também resiste bem às temperaturas baixas e negativas, até - 8o C. CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO ► Condições geográficas - Regiões com elevada pluviosidade. ► Receptividade da Vinha – os porta-enxertos, porque não produzem cachos, não correm grandes riscos (no entanto, a doença pode ser propagada através de material de enxertia); os porta-enxertos americanos e híbridos são pouco sensíveis ou mesmo resistentes; a videira europeia (Vitis vinífera) é a mais sensível à doença. ► Circunstâncias favoráveis – o black-rot propagase a partir de focos da doença, que se expandem de forma bastante lenta. Cada invasão do fungo corresponde sempre a um período chuvoso. O clima favorável ao desenvolvimento do black-rot é caracterizado por períodos chuvosos longos e frequentes na Primavera. Vales estreitos, encaixados, de atmosfera húmida, os fundos dos vales com fraca circulação do ar e nevoeiros persistentes e as margens dos rios são locais favoráveis ao desenvolvimento da doença. As encostas viradas a nascente e a norte são menos favoráveis. Os focos de infecção são as lenhas de poda deixadas nas vinhas, os bagos infectados caídos no solo, ESTRAGOS E PREJUÍZOS As folhas são os primeiros órgãos atingidos pelo black-rot, no início do desenvolvimento da Vinha, cerca de três semanas a um mês antes dos outros órgãos verdes. No entanto, estes ataques não provocam a queda das folhas, a não ser excepcionalmente e não causam prejuízos directos. O black-rot é fundamentalmente, uma doença dos cachos e pode, em casos graves, deitar a perder toda a colheita. LUTA ► Destruição das fontes de inóculo – varas, cachos secos, bagos caídos no solo (enterramento por mobilização do solo), gavinhas enroladas nos arames. ► Tratamento cuidadoso dos focos primários da doença – procurar as primeiras manchas nas folhas, recolher as folhas com manchas, se possível e tratar a zona afectada cuidadosamente. Não estão homologados em Portugal nenhuns fungicidas contra esta doença, talvez por ainda não terem sido detectados grandes focos ou identificados prejuízos atribuíveis ao black-rot. Os tratamentos antimíldio, no entanto, também contribuem, na generalidade, para o seu controlo. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Textos de divulgação técnica da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho nº 5/ 2008 (II Série) ( Julho/ 08 ) Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas/ DRAP-Norte/ Divisão de Protecção e Controlo Fitossanitário/ Estação e Avisos de Entre Douro e Minho/ Rua da Restauração, 336 4050 - 501 PORTO/ Telefones: 22 606 24 48/ 22 606 22 17/ Fax 22 606 37 59 / E-mail: [email protected] _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Fonte: Les maladies et les parasites de la Vigne, Pierre Galet, tome I, Montpellier, 1977. Tradução e adaptação: C. Coutinho (Ag. Tec. Agr.), revisão: J. F. Guerner Moreira (Eng.º Agrónomo). Agradecimento: Eng.ª Agrónoma Gisela Chicau, pela identificação do fungo em amostras colhidas na Região dos Vinhos Verdes e pela leitura e revisão final do texto.