RUMO a ENCONTRO FORMATIVO 7 ENCONTRO FORMATIVO N.º 07 Felizes os que aceitam ser peregrinos Felizes os que trazem no coração os caminhos do santuário (Sl. 83, 6) 1. Introdução/objetivos O Salmo que nos serve de lema para esta catequese é um dos salmos de peregrinação, um diálogo ente os peregrinos que demandavam o templo de Jerusalém e os sacerdotes que aí os acolhiam. O templo era o sinal da presença de Deus no meio do seu povo, de um povo que tinha as suas raízes numa outra peregrinação, que os levara da terra da escravidão, o Egipto, através do deserto, para a liberdade, uma terra de abundância, oferecida por Deus, que com eles aceitou fazer uma aliança. Essa memória devia permanecer no coração do povo escolhido por Deus. A celebração anual da Páscoa era feita de sandálias nos pés, com pães ázimos e a cintura cingida, como quem está sempre pronto a partir, a começar de novo, a deixar o que o escraviza para buscar horizontes novos de vida plena. Nesse caminho, como outrora, Deus antecipa-se sempre, irrompe como uma surpresa, um apoio, uma rocha firme, uma coluna de fogo, uma fonte de água fresca, um maná vindo do céu, um lugar de repouso e de reencontro. Assim acontecera já com Abraão, a quem Deus desafiara a partir, a deixar a sua terra, as suas seguranças. Assim aconteceu com Moisés, chamado a conduzir um povo oprimido e de cerviz por vezes dura, mas cujos gemidos e sofrimentos comoveram o coração de Deus. Assim aconteceu com o povo no cativeiro, que regressou à sua terra como um novo Israel. Assim aconteceu com os discípulos que Jesus chamou a deixarem as redes e a fazerem-se pescadores de homens. Assim aconteceu com Pedro, chamado a ser rocha firme de um povo, apesar do medo que muitas vezes o assolava. Assim aconteceu com os discípulos de Emaús, com quem Jesus aceitou fazer caminho, a quem abriu as Escrituras e aceitou partilhar o pão, onde se deu a si mesmo. A peregrinação, este pôr-se a caminho, é a nossa vocação. Estamos neste mundo como peregrinos, como diz são Paulo, e é deste termo que vem a designação de “paróquia”. Em nós foi semeada uma fome, um desejo de eternidade e de plenitude. Somos um povo de peregrinos, de gente que procura. Jesus caminha connosco, dá-nos a Sua Palavra, dá-se no pão e no vinho, quer-se companheiro do nosso caminhar, do nascimento até à morte. Como Ele e com Ele, somos convidados a passar deste mundo para o Pai, a aspirar às coisas do Alto, a buscar o alimento que permanece para a eternidade, a viver no Amor, o único que ficará quando já nem a Fé nem a Esperança forem precisas. Este caminho, fazemo-lo uns com os outros e com Deus. Só Ele conhece em profundidade, e até melhor que nós, o nosso próprio desejo. Com os outros, na experiência do caminho, aprendemos a ser solidários, porque nos reconhecemos irmãos na mesma fragilidade. Ninguém é autossuficiente ou omnipotente, ninguém sabe tudo. Todos procuramos, como pessoas em construção que somos. Jesus surge como um companheiro e oferece-se como Caminho, Verdade e Vida. Como com os discípulos de Emaús, é preciso descobrir a chave para reconhecê-lo. E esta vem do coração, aquecido pela Sua Palavra e alimentado pela Sua presença. Por vezes, como Ele próprio explicou, é nos mais pobres que Ele se faz presente, no estrangeiro, no que pensa diferente, no que sofre. Quando o caminho é duro ou exige escolhas, temos que deixar o que é supérfluo para trás. Quanto melhor percebermos o que é essencial, menos carga levaremos, mais depressa caminharemos. Nem sempre vemos claro, por vezes até deixamos de acreditar na meta que procuramos alcançar. Muitos dos que se cruzam connosco dizem que há outros caminhos, por vezes até mais fáceis e de satisfação imediata… Os grandes peregrinos acreditaram contra toda a esperança. Abrão teve um filho na sua velhice mas Deus prometera-lhe uma geração tão numerosa como as estrelas… Moisés viu ao longe a Terra Prometida mas não entrou nela… Para nós, hoje, Jesus é o grande “sim” de Deus, a confirmação de que Deus cumpre as suas promessas, de que o Amor, na sua fragilidade, é mais forte do que a morte. São João Paulo II lembrou, logo no início do seu pontificado, como Jesus é a grande resposta de Deus às nossas procuras; para não termos medo d’Ele mas antes lhe abrirmos o coração. Santa Faustina Kowalska faz a mesma experiência desse amor misericordioso que procura cada um de nós. Acolhê-lo é pormo-nos com Ele a caminho, para com Jesus passarmos da morte à vida, deste mundo para o Pai. Objetivos para esta sessão: Compreender a vida cristã na sua dinâmica pascal, como peregrinação, caminho, passagem; Discernir onde temos o coração, que caminho trazemos dentro, para onde se dirigem as nossas procuras e escolhas; Aceitar o seguimento de Jesus como algo pessoal feito em Igreja; Viver a peregrinação como tempo de conversão, de partilha de vida, de encontro com os outros e com Deus. 2. Dinâmica Este encontro é já o último no nosso caminho para a JMJ Cracóvia. Assim, para começar sugerimos que vejam o seguinte vídeo (nota: é possível selecionar legendas em português se estas automaticamente): https://www.youtube.com/watch?v=oT1eexyTFco não aparecerem O animador prossegue a reunião com a seguinte abordagem: Este vídeo aborda a temática da peregrinação. Por um lado a peregrinação dos jovens deficientes a Lourdes e por outro lado a peregrinação que a Sonja está a fazer na preparação destas JMJ. Também nós estamos a fazer uma peregrinação para a participação na JMJ, fizemos um caminho de preparação interior e exterior e estamos quase a partir. De facto, a vida é, ela própria uma peregrinação. De seguida o animador propõe que cada um reflita individualmente sobre as seguintes questões: Na peregrinação que é a vida, que procuro? Quais os meus sonhos mais profundos? Que desejo alcançar? Na peregrinação à JMJ Cracóvia 2016, que desejo expectativas tenho? Que experiência gostaria de viver? Como quero viver esta peregrinação? Que desejo trazer para casa no regresso? Na “mochila da vida” para a JMJ, quais são as 5 atitudes que quero levar sempre comigo de forma a viver uma experiência inesquecível? E que 5 atitudes quero deixar em casa para que não interfiram com esta experiência? Depois da reflexão, as conclusões podem ser partilhadas no grande grupo. O animador conclui a reunião, referindo que, de alguma forma, esta partilha nos compromete a entreajudarmo-nos a viver a peregrinação à JMJ, mas também na peregrinação que é a vida. NOTA: na página oficial da JMJ, secção de multimédia (link abaixo) podes encontrar outros vídeos que podem auxiliar-te na preparação da JMJ. http://www.krakow2016.com/pt/midia/videos 3. Oração Cântico inicial: O grupo deve escolher um cântico que conheçam. Convite a rezar o Salmo 83 Como é agradável a vossa morada, * Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira ansiosamente * pelos átrios do Senhor. O meu coração e a minha carne * exultam no Deus vivo. Até as aves do céu encontram abrigo * e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, * meu Rei e meu Deus. Felizes os que moram em vossa casa: * podem louvar-Vos continuamente. Felizes os que em Vós encontram a sua força, * os que trazem no coração os caminhos do santuário. Ao atravessar o vale seco, transformam-no em oásis, * que logo as primeiras chuvas cobrirão de bênçãos. Vão caminhando com entusiasmo crescente, * até verem Deus em Sião. Senhor Deus dos Exércitos, ouvi a minha prece, * prestai-me ouvidos, ó Deus de Jacob. Contemplai, ó Deus, nosso protector, * ponde os olhos no rosto do vosso ungido. Um dia em vossos átrios * vale por mais de mil. Antes quero ficar no vestíbulo da casa do meu Deus * do que habitar nas tendas dos pecadores. Porque o Senhor Deus é sol e escudo, * Ele dá a graça e a glória. O Senhor não recusa os seus bens * aos que procedem com rectidão Senhor dos Exércitos, * feliz o homem que em Vós confia! Glória ao Pai... Leitura (Col. 3, 1-3.12-17) – os conselhos para o caminho Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Aspirai às coisas do alto e não às coisas da terra. Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória. Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também. E, acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição. Reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados num só corpo. E sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós com toda a sua riqueza: ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria; cantai a Deus, nos vossos corações, o vosso reconhecimento, com salmos, hinos e cânticos inspirados. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai. Bênção para a caminhada (com as testemunhas da fé) O Deus de ABRAÃO te convoque para a marcha do sonho e da promessa e providencie nas encruzilhadas. O Deus de SARA te ensine o amor à vida sem horizontes e a esperança dos dias sem aurora. O Deus de JACOB te revele o ponto insuspeito do encontro e as marcas da luta e da procura. O Deus de MOISÉS te fale face a face ao espelho da História e nos Sinais dos Tempos, para que O vejas como se vê o Invisível. O Deus de JOSUÉ te estimule a confiar em todos os recomeços e a assumir a decisão e a chefia. O Deus de SAMUEL te encontre disponível para ouvires a sua voz e atenderes aos clamores do Povo. O Deus de ELIAS te receba na intimidade da brisa e do silêncio, para não O confundires com o espetáculo. O Deus de DAVID te conceda o dom do arrependimento e a coragem do perdão e do louvor. O Deus de ISAÍAS te purifique e te liberte do medo da autoconsciência, para te dispores à graça do envio. O Deus de EZEQUIEL te faça forte perante os horizontes sombrios para que te tornes profeta da esperança e anunciador do amor perene de Deus pelo seu povo. O Deus de NATAN, de JUDITE e de ESTER te encoraje a preferires a dignidade do povo à tua própria integridade. O Deus de JEREMIAS te cative e te leve, pela provação e o anonimato, a aceitar o destino dos destinatários. O Deus de OSEIAS te reconquiste com o seu amor, para transformares o deserto da infidelidade em fonte de Aliança renovada. O Deus de JONAS te desaloje da sombra das tuas fugas, projetos e presunções e te ensine a gratuidade da notícia e do perdão. O Deus de ANA e de TOBITE, de TOBIAS e de SARA transforme a tua caridade e oração em paz e alegria no seio da família. O Deus de ISRAEL te reconduza de todos os fracassos e opressões, à escola do seu Resto pobre e humilde. O Deus de RUTE vá contigo para onde quer que fores, te dê cidadania em terra estrangeira e transforme em doçura e alegria a tua tristeza. O Deus de MARIA e de ISABEL te esvazie de ti, para te encher da sua vida e graça e te fazer dócil à sua Palavra. O Deus de JOÃO BAPTISTA te despoje das aparências e seguranças, para anunciares a novidade e a urgência do Reino. O Deus de JESUS CRISTO te unja, para anunciares a Boa Nova aos pobres e a amnistia da Salvação aos presos e aflitos. O Deus de PEDRO, TIAGO e JOÃO te escolha como testemunha da sua transfiguração, para cantares o triunfo da vida sobre a morte. O Deus de MADALENA te conserve a lucidez do Amor, para chorares aos pés do Mestre, ungires o Crucificado e levares a primeira Notícia do Homem Novo. O Deus de SIMÃO DE CIRENE te convide a levares a sua cruz, para suportares o peso da tua. O Deus dos DISCÍPULOS DE EMAÚS se faça presente nas tuas deceções, para te restituir o calor da Palavra, o sabor do Pão e a alegria do Grupo. O Deus de TIAGO te cinja com a luz e a força da verdade, para aceitares a diferença e denunciares a máscara. O Deus de PEDRO te dê a coragem no testemunho e o arrependimento na traição, para poderes confirmar os teus irmãos na fé. O Deus de PAULO te faça descobrir o sentido e o caminho da santidade na hora do sofrimento pelo Evangelho. O Deus de MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO te dê a luz para conheceres a sua mensagem e a força para a testemunhares. O DEUS-CONNOSCO esteja sempre contigo em todos os confins da Terra onde vivas o seu Amor, anuncies a sua Boa-Nova e baptizes em Nome do Pai e do Filho do Espírito Santo. Lopes Morgado In Ao Encontro do Sol Paulinas (Lisboa, 1998), 126-130 (seleção) 4. Mexe-te Somos todos peregrinos! Por vezes, “errantes”, quando não sabemos bem o caminho. Como consequência deste encontro formativo, propomos que o grupo dê asas à imaginação e leve a cabo uma das seguintes propostas ou outra que o grupo eleja como viável e mais necessária: 1 – “Dar pousada aos peregrinos”. Fazer um elenco de albergues da região, colocando a informação num blog do grupo ou fazendo um folheto que seja partilhado na Missa da comunidade. Pode, também, suscitar-se outros, nos espaços da comunidade (caso os haja). 2 – Consultar o povo sobre a sinalética da aldeia, da vila ou cidade onde se vive. Pode acontecer que haja “errantes” por não saberem o caminho certo para chegar a “tal parte”. E porque não verificar se a igreja ou o centro social da paróquia está bem sinalizado nos pontos de passagem pela região? Não seria mal patrocinar alguns sinais inequívocos, com a ajuda do pároco, que trouxesse os migrantes a bom porto. 3 – Também há errantes no sentido espiritual ou moral da palavra. Se não existe à disposição, favorecer uma publicação simples de um itinerário espiritual de encontro ao Sacramento da Reconciliação e à Porta Santa do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Poderia partilhar-se nos pontos públicos da comunidade. 4 – Encontrar formas de partilhar a experiência de quem vai participar na JMJ com os jovens que não vão e com a comunidade de pertença (Facebook, Blog, Instagram, etc.).