Sem título-1 - Editora Escuta

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Tiago Tamborini
Ejaculação precoce: uma questão de vínculo
pulsional > revista de psicanálise >
número especial, maio de 2005
artigos > p. 138-144
O presente artigo tem como proposta, estudar a dificuldade do estabelecimento de
vínculo em pacientes com Ejaculação Precoce. O tema surgiu a partir do atendimento
em clínica-escola, mais especificamente na área de psicossomática, de um paciente
com a queixa inicial de Ejaculação Precoce. A articulação teve como embasamento
teórico o referencial psicanalítico. Foi possível constatar que o funcionamento
narcísico estabelece fundamental importância na dinâmica apresentada pelo
paciente.
> Palavras-chave: Ejaculação precoce, narcisismo, vínculo, disfunção erétil
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The current purpose is to study the difficulty of the establishment of bond in patients
with early “ejaculation”. The subject appears from the therapy in clinical school, more
specifically, in the area of psychosomatics, of a patient with the initial complaint of
early ejaculation”. The articulation had as theoretical basement the psychanalistc
referencial. It was possible to evidence that the narcissist functioning establishes
basic importance in the dynamics presented by the patient.
> Key words: Narcissism, bond, erectile dysfunction
Introdução
Estudar a falta do vínculo no processo terapêutico talvez tenha surgido não apenas
como uma vontade, mas também como uma
necessidade. A experiência em clínica-escola, mais especificamente em psicossomática,
se apresentou por meio do atendimento de
um paciente que trouxe como queixa o fato
de sofrer de ejaculação precoce. Dentre
uma série de questões que poderiam ser estudadas no caso, a constituição de uma dinâmica terapêutica, em que o vínculo não
fora estabelecido, saltava aos olhos como
uma problemática no processo.
Com o intuito de entender com mais clareza o que poderia estar representando esta
questão, e na esperança de que com essa
maior compreensão o paciente pudesse ser
artigos
um acidente de automóvel deixando pessoas gravemente feridas, tendo o fato ocorrido durante uma “brincadeira” com os
amigos, quando andavam em alta velocidade em uma estrada de terra. Conta também
que sabia dos riscos que estava correndo,
mas não conseguia impedir a ação.
Aqui, já surge uma característica importante apresentada pelo paciente. Ao relatar o
acontecido, era possível perceber uma certa indiferença com o problema, pois em nenhum momento expressava emoção em
relação ao acidente. Mesmo quando falava
de detalhes, como o ferimento de uma amiga e da ameaça de morte feita pelo condutor do carro em que bateu, este não foi
capaz de demonstrar emoção.
Uma primeira análise indicava que o paciente era, em primeiro lugar, profundamente imaturo, uma vez que mesmo aos 22 anos
não era capaz de perceber a gravidade do
que tinha feito e, em segundo, tratava-se de
um rapaz impulsivo que não conseguia controlar seus impulsos de correr e tirar rachas
com o carro do pai. O desejo de se sentir potente, dirigindo um carro em alta velocidade, também chama a atenção.
Uma outra questão importante diz respeito
às inevitáveis relações entre a queixa do
paciente e o relato de suas histórias. Impulsividade, não conseguir controlar ações,
vontade de se sentir potente e imaturidade
eram características apresentadas em diversas colocações do paciente e que facilmente podemos relacionar com o ato de ejacular
com precocidade.
No decorrer dos atendimentos estas hipóteses foram sendo reforçadas por outros rela-
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melhor ajudado, é que surgem as reflexões
apresentadas no decorrer desta articulação
teórico-prática.
Ricardo tem 22 anos, é solteiro, tem uma
irmã mais nova, mora com os pais e tem curso superior incompleto. Procurou atendimento psicológico por encaminhamento
médico, pois apesar do diagnóstico de ejaculação precoce, não foi detectado, através de
exames, nenhuma razão orgânica.
O paciente relata que desde suas primeiras
experiências sexuais, acreditava ter ejaculação precoce, mas nunca dera importância a
isso. Sua primeira relação sexual foi com
uma amiga da irmã aos 15 anos de idade,
mencionando que apesar dessa relação não
ter sido boa, também não foi traumática.
A questão começou a se constituir como problema com o passar dos anos. Como estava
ficando mais velho, as mulheres com quem
se relacionava também eram mais velhas, o
que, segundo o paciente, aumentava a exigência por parte das parceiras, de um bom
desempenho sexual.
O paciente relata que, para diminuir a angústia de não fazer suas parceiras chegarem
ao orgasmo antes dele, Ricardo aprendeu a
estimulá-las ao máximo antes da penetração, o que, na maioria das vezes, diminuía
a probabilidade de atingir seu próprio orgasmo, mais rápido que a parceira.
Durante as primeiras sessões, relatou fatos
que demonstravam impulsividade e imaturidade acentuadas: aos 15 anos de idade já dirigia freqüentemente, gostando de “tirar
rachas” sendo-lhe a velocidade algo bastante
atraente. Logo na primeira sessão, contou
que aos dezesseis anos foi responsável por
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tos que o paciente trazia. Nas três primeiras
sessões, Ricardo contou um problema que
tivera com o pai de uma ex-namorada. Namorando há apenas dois meses, estava profundamente apaixonado, passando a maior
parte do tempo com sua parceira e, muitas
vezes, não voltava para casa nem mesmo
para dormir.. Em um determinado dia, seu
sogro lhe pediu alguns cheques emprestados,
pois um problema no banco estava impedindo que fizesse o pagamento dos funcionários de sua empresa. Ricardo não só aceitou
fornecer os cheques como lhe deu sessenta
folhas já assinadas.
O fato é que os cheques não foram pagos,
resultando em uma dívida em seu nome no
valor de quarenta mil reais. O namoro acabou, a faculdade de administração que estava fazendo foi suspensa, e a vida do
paciente se transformou em uma corrida
para o pagamento de dívidas.
Mais uma vez, a sensação de que Ricardo
não tinha consciência da gravidade do problema, era muito grande. Seu relato novamente me pareceu desprovido de emoção.
Não demonstrava raiva, tristeza, angústia
ou frustração em relação a sua atitude, exibindo novamente a impulsividade e o desejo
de se sentir potente, uma vez que estava
emprestando dinheiro ao futuro sogro.
Apesar de ficar muito claro para mim, o
quanto o paciente era imaturo e inconseqüente, existia alguma coisa que parecia estar faltando-me para uma melhor
compreensão dele e da sua dinâmica. Foi
durante as sessões seguintes, no relato de
suas relações familiares, de amizade, namoro, e até mesmo na sua relação terapêutica,
que foi surgindo uma maior clareza sobre o
caso. Ricardo tem na verdade uma profunda e evidente dificuldade em estabelecer
vínculo com a vida e com as pessoas com
quem se relaciona.
Esta característica está presente nas principais atitudes do paciente. No âmbito familiar as questões que trazia a respeito de
suas atitudes nunca demonstravam um reflexo na família. No caso do acidente, por
exemplo, continuou dirigindo sem habilitação como se nada tivesse acontecido, e quando ficou endividado, graças aos cheques que
deu ao sogro, a família não foi citada.
Com seus amigos, isso não é diferente, pois
fez questão de dizer que não tem amigos de
verdade e não confia em ninguém que está
a seu lado.
Nas relações amorosas, estabelece uma conduta onde, a qualquer momento, é possível
existir um rompimento da relação sem que
um sofrimento aconteça. Qualquer sinal de
traição, insatisfação ou incerteza pode ser
tomado por ele como o fim do relacionamento.
Mas, é na maneira de lidar com seu processo terapêutico que fica evidenciado o
problema do estabelecimento de vínculo. O
paciente não consegue em nenhum momento entrar em contato com suas emoções. As intervenções que são feitas
parecem não possuir o menor efeito e mesmo tendo se passado alguns meses após
sua primeira consulta, noto que ainda não
existe uma relação terapêutica consistente,
com um vínculo estabelecido. Uma evidência em que me baseio é o número de faltas
que já teve: em dezenove sessões o pacien-
artigos
A falta do vínculo
A primeira pergunta construída para uma investigação foi: qual a relação entre a disfunção sexual que este paciente apresenta,
com a dificuldade de vínculo demonstrada?
Com uma breve pesquisa bibliográfica, foi
possível constatar que a dificuldade encontrada no atendimento com este paciente,
não é fato único. Autores como Freud (1895),
Ferenczi (1908), Breuer (1895), entre outros,
tratam da questão da ejaculação precoce,
como uma dificílima questão para tratamento psicológico, colocando como causa, entre
outras coisas, a dificuldade que pacientes
desta ordem demonstram no contato com o
outro, não só sexualmente, mas em todas as
suas relações.
O curioso é que, até o século passado, o fato
de homens apresentarem ejaculação precoce não era visto como grande problema, por
se constituir como uma disfunção sexual que
não impede, na grande maioria das vezes, o
homem de ter prazer. Foi só quando a mulher começou a reivindicar os seus prazeres
sexuais, que o problema começou a ser tratado com maior atenção.
França (2001) fala do enfoque que Freud e
Ferenczi deram às questões femininas diante do problema da ejaculação precoce. Freud,
por exemplo, acreditava que o problema
causava na mulher uma forte neurose de
angústia. De qualquer maneira, Freud pou-
co falou diretamente sobre o assunto. Suas
valiosas contribuições foram tiradas de seus
estudos sobre masturbação/fantasia, apresentado em inúmeros trabalhos. Ferenczi
(1908), partindo dos estudos de Freud sobre
a angústia, trata da questão, enfocando as
conseqüências do problema para a mulher,
partindo deste ponto para ajudar os homens
no tratamento. A preocupação de Freud e
Ferenczi com as mulheres, demonstrava que
é na relação com o outro que se constitui o
problema da ejaculação precoce.
Aqui, já é possível fazer uma relação com o
relato de Ricardo, pois este, ao falar do início do seu problema, diz que foi no momento em que a exigência das mulheres
aumentou que ele começou a ficar inquieto.
Até então, sabia que tinha ejaculação precoce, mas não se preocupava.
Dentro da psicologia, as concepções a respeito do problema são bastante diversas.
Desde idéias sobre a impossibilidade do tratamento eficaz, passando pela colocação da
dificuldade de tratamento destes pacientes
até chegar à constatação de remissão do
sintoma, apenas uma questão parece ser
compartilhada pela maioria dos autores: a
relação narcísica demonstrada por eles.
França (2001) em seu livro, Ejaculação precoce e disfunção erétil, trata com um enfoque psicanalítico a problemática do paciente
que sofre de ejaculação precoce, acreditando que a concepção de narcisismo seja um
dos grandes fatores apresentados por este
tipo de paciente. Proposta que norteia o desenvolvimento da articulação teórico-prática deste trabalho.
Freud fala pela primeira vez sobre narcisis-
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te faltou onze, mais que a metade do total.
É com a necessidade de compreender o que
poderia justificar a falta do vínculo, no caso
em questão, que as reflexões teóricas começam a surgir..
>141
mo, na primeira tópica do aparelho psíquico,
descrevendo-o como uma fase da evolução
sexual intermediária entre o auto-erotismo
primitivo e o amor de objeto. Na segunda
tópica, o narcisismo aparece como estrutura e deixa de ser uma fase. França fala sobre a conceito:
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artigos
... o indivíduo, tomado a si próprio ou a seu
próprio corpo como objeto de amor, promoveria uma primeira unificação das pulsões sexuais. (...) mais tarde com a elaboração da segunda teoria do aparelho psíquico, Freud desenvolve uma concepção energética, em que o
ego é visto como o grande reservatório da libido, e o narcisismo deixa de ser uma fase para
ser uma estrutura: uma paralisação da libido
no sujeito que nenhum investimento objetal
permite ultrapassar completamente. (Ibid., p.
265)
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Dentro da definição de narcisismo existe o
entendimento de que, numa primeira fase
da vida, a criança investe toda a libido em
si mesma, tomando-se como objeto de amor,
caracterizando uma total falta de identificação com o meio, por uma indiferenciação do
ego e do id.
Poderíamos dizer que o indivíduo com ejaculação precoce encontra-se numa posição
narcísica, direcionando a sua libido para seu
próprio corpo, não estabelecendo relação
com o mundo externo e, conseqüentemente, mantendo uma falta de vínculo.
A relação objetal em pacientes com este tipo
de disfunção também mostra-se distorcida.
O sujeito estabelece uma peculiar dependência ao objeto. França (2001), ao falar sobre as colocações de Freud a respeito do
narcisismo, afirma que, segundo esse autor,
é no ódio que o objeto é conhecido. Nos nar-
císicos, será a percepção da existência independente do objeto que o fará ser odiado. O
inimigo seria, portanto, a realidade do objeto. Desta forma apenas relações objetais
narcísicas são estabelecidas, onde emanações do próprio EU pairam sobre o objeto.
No caso relatado neste trabalho, podemos
perceber esta característica quando ouvimos
a maneira com que coloca acontecimentos
importantes de sua vida. De certo modo, parece não haver a concepção do outro no relato. Pegar o carro, ser responsável por um
acidente e quase matar pessoas não diz respeito a ninguém, apenas a Ricardo.
A maneira de omitir ou não vivenciar emoções, talvez seja outro exemplo. Uma vez
que não é capaz de enxergar o outro como
separado de si mesmo, não há uma sensação de responsabilidade nas experiências
vividas.
França (2001) traz uma definição de Freud
sobre a personalidade narcísica que, segundo a autora, é a caricatura perfeita de quem
sofre com ejaculação precoce:
Não existe tensão entre o ego e o superego,
não há ponderância de necessidades eróticas.
O principal interesse do indivíduo se dirige à
autopreservação; é independente e não se abre
a intimidação. Seu ego possui uma grande
quantidade de agressividade à sua disposição,
a qual também se manifesta na presteza à atividade. Em sua vida erótica, o amar é preferível ao ser amado. As pessoas pertencentes a
este tipo impressionam os outros como “personalidades”, são especialmente apropriadas a
atuarem como apoio para outros, para assumirem o papel de líderes e a darem um novo estímulo ao desenvolvimento cultural ou
danificarem o estado de coisas estabelecido.
(Freud 1931, apud França 2001)
Considerações finais
Para que esta articulação se constituísse,
precisei inúmeras vezes entrar em contato
com algo que fez parte da minha expectativa como psicólogo: ser eficiente. Ricardo
abandonou seu tratamento após nove sessões de atendimento e doze faltas. Nas últimas semanas, não compareceu e seu
processo psicoterápico foi interrompido por
telefone.
Durante o desenvolvimento de seus atendimentos, era comum eu me perguntar sobre
a minha responsabilidade a respeito da dinâmica que se constituía a cada encontro
com o paciente. Era nítido para mim que,
mesmo após algumas sessões, ainda não
artigos
que a experiência clínica apresenta uma infinidade de variáveis e fenômenos impossíveis de serem abarcados por um único
vértice, ou de ser visto por um só prisma: o
mesmo material clínico pode despertar tantas impressões quanto forem seus analistas.
Desta forma, tenho total consciência de que
as análises aqui apresentadas fazem parte
da minha maneira de absorver a singularidade exposta pelo paciente. Entender que
este possui uma estrutura narcísica, talvez
sirva, entre outras coisas, para que, em primeiro lugar, possa existir uma relação de
ajuda, onde Ricardo possa entrar em contato com suas dificuldades e ter possibilidade
de transformá-las, se assim desejar.. E, em
segundo, fazer com que a ansiedade e a
frustração por parte de mim, terapeuta,
possam ocupar seus lugares e, quem sabe,
agregarem-se positivamente no trabalho
com o paciente.
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Se Freud define a personalidade narcísica
desta maneira, e França acredita que ela
seja a caricatura de quem possui ejaculação
precoce, eu diria que é, sem dúvida, a síntese perfeita do paciente descrito neste trabalho. Todas as questões expostas como
relevantes na dinâmica observada, são respondidas neste trecho da definição de Freud.
Trata-se de um paciente com um superego
pouco desenvolvido, que demonstra não
exercer uma tensão sobre o ego. A energia
dirigida a si mesmo é nitidamente presente
e o contato com o outro é prejudicado por
uma conduta de auto-suficiência nas relações estabelecidas. Prestativo e com necessidade de ser um “bom moço”, esconde, ou
talvez suprima, toda e qualquer agressividade presente nos acontecimentos. Sua postura exibe uma personalidade gentil,
inteligente e disposta a ajudar a qualquer
momento.
Tendo percorrido algumas idéias a respeito
do narcisismo, a resposta para a questão
central deste trabalho começa a surgir..
Quando questiono qual a possível relação
entre a dificuldade de vínculo que o paciente apresenta e sua disfunção erétil, uma hipótese se manifesta com bastante
coerência. Seria Ricardo uma pessoa com
personalidade narcísica e portanto, por natureza, com dificuldade em reconhecer o outro e estabelecer vínculo? E sendo
característico de pacientes com ejaculação
precoce este tipo de personalidade, a relação entre as duas coisas estaria previamente estabelecida?
Acredito que sim. A bem da verdade, como
França (2001) corretamente expõe, sabemos
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existia um vínculo estabelecido, e este parecia estar distante de se constituir.
Em alguns momentos procurava justificar tal
situação buscando, nas questões que o paciente trazia, a única causa para o que estava acontecendo. Pensava que esta era a
maneira com que Ricardo se relacionava
com todos aqueles com quem mantinha
contato, inclusive eu. Acreditava que a personalidade narcísica demonstrada por ele,
era uma “prova”, mais que suficiente, da dificuldade que manifestava em estabelecer
vínculo. Construindo meu raciocínio desta
maneira, por vezes conseguia anular a minha frustração como profissional.
Pensar assim talvez me fizesse ficar menos
descontente com o desenvolvimento do trabalho com este paciente, mas logo entendi
que este caminho apenas fazia com que eu
não entrasse em contato com questões minhas, como psicólogo, pessoa e homem.
Com mais cuidado, e atento às minhas atitudes, pouco a pouco fui percebendo qual era
o meu papel na forma com que aquela relação se estabeleceu. Era real que a dificuldade de vínculo e, conseqüentemente, a
dificuldade no atendimento faziam parte de
uma estrutura narcísica que o paciente
apresentava, permeando todas as relações
que este constituía, mas também era inegável que, independente da forma com que Ricardo se relacionava, no processo
psicoterápico era comigo que as questões se
tornavam presentes. Sentir-me impotente
frente ao que o paciente apresentava, era
um forte indício de que uma possível relação contratransferencial estivesse acontecendo, uma vez que a principal queixa
trazida pelo paciente era de ejaculação precoce, causadora de uma forte sensação de
impotência em relação às mulheres com
quem se relacionava.
Com observações construídas em supervisão, com o desenvolvimento de estudos bibliográficos relacionados ao tema, e com
reflexões pessoais, gradativamente fui retomando meu lugar como psicólogo, meu papel
foi ficando mais claro e a sensação desconfortável frente ao processo com Ricardo deu
lugar ao aprendizado e a experiência.
Por fim, nunca é demais lembrar que, como
psicólogos e seres humanos que somos, possuímos limitações, nos cabe ficar atentos a
elas, para assim diminuir seus efeitos.
Referências
FRANÇA, C.P. Ejaculação precoce e disfunção erétil: uma abordagem psicanalítica. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2001.
FREUD, Sigmund (1905). Três ensaios sobre a
teoria da sexualidade. In: Edição Eletrônica das
Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro:
Imago, 1997. v. XII.
_____ (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. In: Edição Eletrônica Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1997. v.
XIV.
LAPLANCHE, J. e PONTALIS, J.-B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
M CD OUGALL, Joyce. Em defesa de uma certa
anormalidade: teoria e clínica psicanalítica.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
Artigo recebido em novembro de 2004
Aprovado para publicação em março de 2005
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