Revista ISSN 1519-339X Ano 14 - Nº 69 / 7 - Abril / Maio / Junho - 2014 A Revista Enfermagem Atual In Derme está indexada na base de dados do Cinahl - Information REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN B2 DERME 69 e no Grupo EBSCO Publicações. Systems USA, classificada como Qualis International da2014; Capes 1 2 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Editor: Viviane Fernandes de Carvalho Redação: Cesar Isaac Assistente Editorial: André Oliveira Paggiaro [email protected] Financeiro: Sobenfee Produção: Charles da S. Santos Vendas: Sobenfee [email protected] Sac: [email protected] A pesquisa em Enfermagem vem ganhando corpo e qualidade, há pelo menos 50 anos. E isto só foi possível a partir do momento que os pesquisadores perceberam a necessidade de dialogar e indagar os preceitos metodológicos e filosóficos que até então embasaram a produção técnico científica dos enfermeiros. Atualmente, a pesquisa mostra-se um campo aberto para incorporação de paradigmas de todas as ciências. E a Enfermagem tem estado alerta à esta aber- Envio de Artigos: [email protected] ENFERMAGEM ATUAL IN DERME é uma revista científica, cultural e profissional, trimestralmente lida por 5.000 enfermeiros. ENFERMAGEM ATUAL IN DERME não aceita matéria paga em seu espaço editorial. tura, trazendo à sociedade sua vivência, seu sentir e saber, porém adicionados de conhecimentos desde cadeiras básicas, como a biologia às amplas discussões referentes à morte. Nesta edição da Revista Enfermagem Atual – In Derme, poderemos perceber com exatidão os pressupostos acima apontados, a partir da leitura de: CIRCULAÇÃO: Em todo Território Nacional. CORRESPONDÊNCIAS: Rua México, nº 164 sala 62 Centro –Rio de Janeiro - RJ - (21) 2259-6232 - [email protected] Periodicidade: Trimestral Distribuição: Sobenfee Produção: EPUB - Editora de Publicações Biomédicas Ltda. ENFERMAGEM ATUAL IN DERME reserva todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan -Americana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. A Revista Enfermagem Atual In Derme está indexada na base de dados do Cinahl Information Systems USA e classificada como Qualis Internacional B2 da Capes e no Grupo EBSCO Publicações. Os Trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Sobenfee que, em qualquer situação agirá como detentora dos mesmos. • Santos, et al., sobre a Avaliação antibacteriana e tóxica da espécie Cordia nodosa Cham.: perspctiva no tratamento de feridas infectadas; • Chagas e Borges mostram as Evidências da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica; • Lima e Fernandes, discutem sobre a Violência contra a mulher e qualidade de vida; • Zani, Oliveira e Araújo, por meio qualitativo nos apresentam a Dignidade no fim da vida – percepção de enfermeiros; • Trentino, et al., mostram o Desempenho acadêmico e qualidade do relacionamento interpessoal de graduandos de enfermagem. Certa de um novo encontro em breve, desejo a todos excelente leitura! Circulação: 4 números anuais: JAN/FEV/MAR – ABR/MAI/JUN – JUL/AGO/SET – OUT/NOV/ DEZ DATA DE IMPRESSÃO: Junho 2014 A Revista Enfermagem Atual In Derme é uma publicação trimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e Áreas Afins, como resultados de pesquisas, artigos de reflexão, relato de experiência e discussão de temas atuais. Viviane Fernandes de Carvalho Editora chefe ISSN 1519-339X REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 3 Conselho Científico Ana Claudia Puggina Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Ana Karine Brum Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro, RJ-Brasil Ana Llonch Sabates Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Sumário EDITORIAL 3 ARTIGOS 5 Normas de Publicação Revista Enfermagem Atual - In Derme Andre Oliveira Paggiaro Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo São Paulo, SP-Brasil Arlete Silva Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil ________ Beatriz Guitton Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro, RJ-Brasil 8 Avaliação antibacteriana e tóxica da espécie Cordia nodosa cham.: PerspEctiva no tratamento de feridas infectadas Cesar Isaac Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo São Paulo, SP-Brasil Evaluation of antibacterial and toxic species Cordia nodosa cham .: Perspectiva in the treatment of infected wounds Denise Sória Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ – Brasil Raíssa Fernanda Evangelista Pires dos Santos, Isabelle Souza de Mélo Silva, Edna Apparecida Moura Arcuri Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Kátia Mayumi Takarabe Caffaro, Regina Célia Sales Santos Veríssimo, Thais Honório Lins, Fulvia Maria dos Santos Universidade Estácio de Sá Rio de Janeiro, RJ-Brasil João Xavier de Araújo-Júnior, Lucia Maria Conserva, Eliane Aparecida Campesatto, Maria Lysete de Assis Bastos Javier Soldevilla Agreda Universidade de La Rioja Logroño-Espanha José Carlos Martins Universidade de Coimbra Coimbra-Portugal ________ José Verdu Soriano Universidade de Alicante Alicante-Espanha 14 Evidências da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica Ozone therapy evidencies on cutaneous lesione treatment Josiane Lima de Gusmão Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Izabel Cristina Sad das Chagas, Eline Lima Borges. Karina Chamma Di Piero Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ-Brasil Marcus Castro Ferreira Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo São Paulo, SP-Brasil ________ Maria Celeste Dalia Barros Universidade Estácio de Sá Rio de Janeiro, RJ-Brasil Violence against women and Quality of life Mari Anna Tavares de Lima, Rosa Aurea Quintella Fernandes Maria de Belém Cavalcante Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Maria Helena Gonçalves Jardim Universidade da Madeira Funchal-Portugal Maria Luiza Santos Universidade da Madeira Funchal-Portugal 20 Violência contra a mulher e qualidade de vida ________ 24 Dignidade no fim da vida – percepção de enfermeiros* Dignity at the end of life – perception of nurses Maria Marcia Bachion Universidade Federal de Goiás Goiania, GO-Brasil Andrea Cristina Marchesoni Zani, Talita Camila de Oliveira, Monica Martins Trovo de Araújo Neida Luiza Kaspary Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria, RS-Brasil Patricia Helena Castro Nunes IPEC / FIOCRUZ Rio de Janeiro, RJ-Brasil Rosa Aurea Quintela Fernandes Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Simone Aranha Nouer Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ-Brasil Tamara Iwanow Cianciarullo Universidade de Mogi das Cruzes Mogi das Cruzes, SP-Brasil 4 Viviane Fernandes de Carvalho Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil ________ 31 Desempenho acadêmico e qualidade do relacionamento interpessoal de graduandos de enfermagem Academic performance and quality of interpersonal relationships in nursing students Jéssica Pereira Trentino, Ana Carolina Cavalheiro, Maria Júlia Paes da Silva, Ana Cláudia Puggina REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Normas de Publicação REVISTA ENFERMAGEM ATUAL - IN DERME INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista Enfermagem Atual - In Derme é o órgão oficial de divulgação da Sociedade Brasileira de Feridas e Estética (Sobenfee). Impressa e on-line, tem como objetivo principal registrar a produção científica de autores nacionais e internacionais, que possam contribuir para o estudo, desenvolvimento, aperfeiçoamento e atualização da Enfermagem, da saúde e de ciências afins, na prevenção e tratamento de feridas. O desenvolvimento do conhecimento de Enfermagem visto, principalmente, nas últimas quatro décadas, é o resultado da somatória dos esforços dos cientistas, teóricos e estudiosos em Enfermagem, a fim de que a prática seja mais segura e eficiente. Desta maneira, cabe também a esta sociedade trazer à comunidade as descobertas científicas conseguidas pela Enfermagem, também nas seguintes seções especiais: Saúde da Mulher, Saúde da Criança e Adolescente, Saúde Mental, Saúde do Trabalhador e Saúde do Adulto e Idoso. As instruções aqui descritas visam orientar os pesquisadores sobre as normas adotadas para avaliar os manuscritos submetidos. Os manuscritos devem destinar-se exclusivamente à Revista Enfermagem Atual - In Derme, não sendo permitida sua submissão simultânea a outro(s) periódico(s). Quando publicados, passam a ser propriedade da Revista Enfermagem Atual - In Derme, sendo vedada a reprodução parcial ou total dos mesmos, em qualquer meio de divulgação, impresso ou eletrônico, sem a autorização prévia do(a) Editor(a) Científico(a) da Revista. A publicação dos manuscritos dependerá da observância das normas da Revista Enfermagem Atual - In Derme e da apreciação do Conselho Editorial, que dispõe de plena autoridade para decidir sobre sua aceitação, podendo, inclusive apresentar sugestões (sem alterar o conteúdo científico) ao(s) autor(es) para as alterações necessárias. Neste caso, o referido trabalho será reavaliado pelo Conselho Editorial, permanecendo em sigilo o nome do consultor, e omitindo também o(s) nome(s) do(s) autor(es) aos consultores. Manuscritos recusados para publicação serão notificados e disponibilizados a sua devolução ao(s) autor(es) na sede da Revista. MODALIDADES DE ARTIGOS Artigos de revisão (sistemática ou integrativa): estudo que reúne, de maneira crítica e ordenada resultados de pesquisas a respeito de um tema específico sobre feridas, aprofunda o conhecimento sobre o objeto da investigação. Deve limitar-se a 6000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. As referências deverão ser atuais e em número mínimo de 30. Reflexão: consideração teórica sobre aspectos conceituais no contexto das feridas, suas etiologias, tratamentos e reabilitação. Formulação discursiva aprofundada, focalizando conceitos ou constructo teórico da Enfermagem ou de área afim; ou discussão sobre um tema específico, estabelecendo analogias, apresentando e analisando diferentes pontos de vista, teóricos e/ou práticos. Deve conter um máximo de dez (10) páginas, incluindo resumos e referências. Relatos de caso: descrição de pacientes ou situações singulares, doenças especialmente raras ou nunca descritas, assim como formas inovadoras de diagnóstico e tratamento. O texto é composto por uma introdução breve que situa o leitor em relação à importância do assunto e apresenta os objetivos do relato do(s) caso(s) em questão; o relato resumido do caso e os comentários no qual são abordados os aspectos relevantes, os quais são comparados com a literatura. O número de palavras deve ser inferior a 2000, excluindo referências e tabelas. O número máximo de referência é 15. Relato de experiência: descrição de experiências acadêmicas, assistenciais e de extensão na área da enfermagem dermatológica e áreas afins. Deve conter ate dez (10) páginas, incluindo resumos e referências. Comunicação breve: pequenas experiências que tenham caráter de originalidade, não ultrapassando 1500 palavras e dez referências bibliográficas. Cartas ao editor: são sempre altamente estimuladas. Em princípio, devem comentar discutir ou criticar artigos publicados na Revista In Derme, mas também podem versar sobre outros temas de interesse geral. Recomenda-se tamanho máximo 1000 palavras, incluindo referências bibliográficas, que não devem exceder a seis (6). Sempre que possível, uma resposta dos autores será publicada junto com a carta. Editorial: geralmente refere-se a artigos escolhidos em cada número da Revista Enfermagem Atual - In Derme pela sua importância para comunidade científica. São redigidos pelo Conselho Editorial ou encomendados a especialistas de notoriedade na área em questão. O Conselho Editorial poderá, eventualmente, considerar a publicação de editoriais submetidos espontaneamente. Pode conter até duas (2) páginas. Resumo de dissertação ou tese: devem conter introdução, objetivos, métodos, resultados e conclusões. Deve conter ate quinze (15) páginas, incluindo resumos e referências. Artigo original: pesquisa original e inédita. Estão incluídos estudos controlados e randomizados, estudos observacionais e pesquisa básica com modelos de experimentação animal. Deverão obrigatoriamente obedecer à estrutura: Introdução, contendo o problema de pesquisa, hipótese(s), objetivo; Método; Resultados; Discussão; Conclusões; Referências; Resumo; Abstract. O texto poderá conter entre 2000 e 3000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. O número de referências não deve exceder a 30. Pode conter até quinze (15) páginas, incluindo resumos e referências. Previamente à publicação, todos os artigos enviados à Revista Enfermagem Atual - In Derme passam por processo de revisão e julgamento, a fim de garantir seu padrão de qualidade e a isenção na seleção dos trabalhos a serem publicados. Inicialmente, o artigo é avaliado pela secretaria para verificar se está de acordo com as normas de publicação e completo. Todos os trabalhos são submetidos à avaliação pelos pares (peer review) por pelo menos três revisores selecionados dentre os membros do Conselho Editorial. A aceitação é baseada na originalidade, significância POLÍTICA EDITORIAL Avaliação pelos pares (peer review) REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 5 Normas de Publicação e contribuição científica. Os revisores, de acordo com as recomendações adotadas por este veículo de informação, fazem uma apreciação rigorosa de todos os itens que compõem o trabalho. Ao final, farão comentários gerais sobre o trabalho e opinarão se o mesmo deve ser publicado. O editor toma a decisão final. Em caso de discrepâncias entre os avaliadores, pode ser solicitada uma nova opinião para melhor julgamento. Quando são sugeridas modificações pelos revisores, as mesmas são encaminhadas ao autor correspondente e, a nova versão encaminhada aos revisores para verificação se as sugestões/exigências foram atendidas. Em casos excepcionais, quando o assunto do manuscrito assim o exigir, o Editor poderá solicitar a colaboração de um profissional que não conste da relação do Conselho Editorial para fazer a avaliação. O sistema de avaliação é o duplo cego, garantindo o anonimato em todo processo de avaliação. A decisão sobre a aceitação do artigo para publicação ocorrerá, sempre que possível, no prazo de três meses a partir da data de seu recebimento. As datas do recebimento e da aprovação do artigo para publicação são informadas no artigo publicado com o intuito de respeitar os interesses de prioridade dos autores. Idioma Devem ser redigidos em português. Eles devem obedecer à ortografia vigente, empregando linguagem fácil e precisa e evitando-se a informalidade da linguagem coloquial. As versões serão disponibilizadas na íntegra no endereço eletrônico da Sobenfee (http://www.sobenfee.org.br). Pesquisa com Seres Humanos e Animais Os autores devem, no item Método, declarar que a pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa de sua Instituição (enviar declaração assinada que aprova a pesquisa), em consoante à Declaração de Helsinki revisada em 2000 [World Medical Association (www.wma.net/e/policy/b3.htm)] e da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (http://conselho.saude. gov.br/resolucoes/reso_96.htm). Na experimentação com animais, os autores devem seguir o CIOMS (Council for International Organizationof Medical Sciences) Ethical Code for Animal Experimentation (WHO Chronicle 1985; 39(2):51-6) e os preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA (www.cobea.org.br). O Corpo Editorial da Revista poderá recusar artigos que não cumpram rigorosamente os preceitos éticos da pesquisa, seja em humanos seja em animais. Os autores devem identificar precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas, incluindo os nomes do princípio ativo, dosagens e formas de administração. Devem, também, evitar nomes comerciais ou de empresas. Política para registro de ensaios clínicos A Revista In Derme, em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do International Committeeof Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto, somente aceitará para publicação, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http:// clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed. O número de identificação deve ser registrado ao final do resumo. Direitos Autorais Os autores dos manuscritos aprovados deverão encaminhar, previamente à publicação, a seguinte declaração escrita e assinada por todos os co-autores: “O(s) autor(es) abaixo assinado(s) transfere(m) todos os direitos autorais do manuscrito (título do artigo) 6 à Revista Enfermagem Atual - In Derme. O(s) signatário(s) garante(m) que o artigo é original, que não infringe os direitos autorais ou qualquer outro direito de propriedade de terceiros, que não foi enviado para publicação em nenhuma outra revista e que não foi publicado anteriormente. O(s) autor(es) confirma(m) que a versão final do manuscrito foi revisada e aprovada por ele(s)”. Todos os manuscritos publicados tornam-se propriedade permanente da Revista Enfermagem Atual - In Derme e não podem ser publicados sem o consentimento por escrito de seu editor. Critérios de Autoria Sugerimos que sejam adotados os critérios de autoria dos artigos segundo as recomendações do International Committee of Medical Journal Editors. Assim, apenas aquelas pessoas que contribuíram diretamente para o conteúdo intelectual do trabalho devem ser listadas como autores. Os autores devem satisfazer a todos os seguintes critérios, de forma a poderem ter responsabilidade pública pelo conteúdo do trabalho: 1. ter concebido e planejado as atividades que levaram ao trabalho ou interpretado os resultados a que ele chegou, ou ambos; 2. ter escrito o trabalho ou revisado as versões sucessivas e tomado parte no processo de revisão; 3. ter aprovado a versão final. Pessoas que não preencham os requisitos acima e que tiveram participação puramente técnica ou de apoio geral, podem ser citadas na seção Agradecimentos. PREPARO DOS MANUSCRITOS Envio dos manuscritos: Os manuscritos de todas as categorias aceitas para submissão deverão ser digitados em arquivo do Microsoft Office Word, com configuração obrigatória das páginas em papel A4 (210x297mm) e margens de 2 cm em todos os lados, fonte Times New Roman tamanho 12, espaçamento de 1,5 pt entre linhas. As páginas devem ser numeradas, consecutivamente, até as Referências. O uso de negrito deve se restringir ao título e subtítulos do manuscrito. O itálico será aplicado somente para destacar termos ou expressões relevantes para o objeto do estudo, ou trechos de depoimentos ou entrevistas. Nas citações de autores, ipsis litteris, com até três linhas, usar aspas e inseri-las na sequência normal do texto; naquelas com mais de três linhas, destacá-las em novo parágrafo, sem aspas, fonte Times New Roman tamanho 11, espaçamento simples entre linhas e recuo de 3 cm da margem esquerda. Não devem ser usadas abreviaturas no título e subtítulos do manuscrito. No texto, usar somente abreviações padronizadas. Na primeira citação, a abreviatura é apresentada entre parênteses, e os termos a que corresponde devem precedê-la. PRIMEIRA PÁGINA: Identificação: É a primeira página do manuscrito e deverá conter, na ordem apresentada, os seguintes dados: título do artigo (máximo de 15 palavras) nos idiomas (português e inglês); nome do(s) autor(es), indicando, em nota de rodapé, título(s) universitário(s), cargo e função ocupados; Instituição a que pertence(m) e endereço eletrônico para troca de correspondência. Se o manuscrito estiver baseado em tese de doutorado, dissertação de mestrado ou monografia de especialização ou de conclusão de curso de graduação, indicar, em nota de rodapé, a autoria, título, categoria (tese de doutorado, etc.), cidade, instituição a que foi apresentada, e ano. Devem ser declarados conflitos de interesse e fontes de financiamento. SEGUNDA PÁGINA: Resumo e Summary: O resumo inicia uma nova página. Independente da categoria do manuscrito, REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL - IN DERME o Resumo deverá conter, no máximo, 200 palavras. Deve ser escrito com clareza e objetividade. No resumo deverão estar descritos o objetivo, a metodologia, os principais resultados e as conclusões. O Resumo em português deverá estar acompanhado da versão em inglês (Summary). Logo abaixo de cada resumo, incluir, respectivamente, três (3) a cinco (5) descritores e key words. Recomenda-se que os descritores estejam incluídos entre os Descritores em Ciências da Saúde DeCS (http://decs.bvs.br) que contem termos em português, inglês e espanhol. Corpo do texto: O corpo do texto inicia nova página, em que não devem constar o título do manuscrito ou o nome do(s) autor(es). O corpo do texto é contínuo. É recomendável que os artigos sigam a estrutura: Introdução, Método, Resultados, Discussão e Conclusões. Introdução: Deve conter o propósito do artigo. Reunir a lógica do estudo. Mostrar o que levou aos autores estudarem o assunto, esclarecendo falhas ou incongruências na literatura e/ou dificuldades na prática clínica que tornam o trabalho interessante aos leitores. Método: Descrever claramente os procedimentos de seleção dos elementos envolvidos no estudo (voluntários, animais de laboratório, prontuários de pacientes). Quando cabível devem incluir critérios de inclusão e exclusão. Esta seção deverá conter detalhes que permitam a replicação do método por outros pesquisadores. Explicitar o tratamento estatístico aplicado, assim como os programas de computação utilizados. Os autores devem declarar que o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição onde o trabalho foi realizado. Resultados: Apresentar em sequência lógica no texto, tabelas e ilustrações. O uso de tabelas e gráficos deve ser privilegiado. Discussão: Espaço reservado ao autor para confronto dos seus resultados com a literatura corrente, conhecimento pessoal e capacidade crítica para interpretar seus achados. Os comentários devem incluir limitações e perspectivas futuras. Conclusões: Devem ser concisas e responder apenas aos objetivos propostos. Referências: O número de referências no manuscrito deve ser limitado a vinte (20), exceto nos artigos de Revisão. As referências, apresentadas no final do trabalho, devem ser numeradas, consecutivamente, de acordo com a ordem em que foram incluídas no texto; e elaboradas de acordo com o estilo Vancouver. Devem ser utilizados números arábicos, sobrescritos, sem espaço entre o número da citação e a palavra anterior, e antecedendo a pontuação da frase ou parágrafo [Exemplo: enfermagem1,]. Quando se tratar de citações sequenciais, os números serão separados por um traço [Exemplo: diabetes1-3;], quando intercaladas, separados por vírgula [Exemplo: feridas1,3,5.]. Apresentar as Referências de acordo com os exemplos: -Artigo de Periódico: Shikanai-Yasuda MA, Sartori AMC, Guastini CMF, Lopes MH. Novas características das endemias em centros urbanos. RevMed (São Paulo). 2000;79(1):27-31. - Livros e outras monografias: Pastore AR, Cerri GG. Ultra-sonografia: ginecologia, obstetrícia. São Paulo: Sarvier; 1997. - Capítulo de livros: Ribeiro RM, Haddad JM, Rossi P. Imagenologia em uroginecologia. In: Girão MBC, Lima GR, Baracat EC. Cirurgia vaginal em uroginecologia. 2a.ed. São Paulo: Artes Médicas; 2002. p. 41-7. - Dissertações e Teses: Del Sant R. Propedêutica das síndromes catatônicas agudas [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1989. - Eventos considerados no todo: 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p.1561-5. - Eventos considerados em parte: House AK, Levin E. Immune response in patients with carcinoma of the colo and rectum and stomach. In: Resumenes do 12º Congreso Internacional de Cancer; 1978; Buenos Aires; 1978. p.135. - Material eletrônico: Morse SS. Factors in the emergence of infections diseases. Emerg Infect Dis [serial online];1(1):[24 screens]. Available from: http:// www.cdc.gov/oncidod/eID/eid.htm. CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-ROM], Reeves JRT, Maibach H. CMeA Multimedia group, producers. 2nd ed. Version 2.0. Sand Diego: CMeA; 1995. Figuras e Tabelas Todas as ilustrações, fotografias, desenhos, slides e gráficos devem ser numerados consecutivamente em algarismos arábicos na ordem em que forem citados no texto, identificados como figuras por número e título do trabalho. As legendas devem ser apresentadas em folha à parte, de forma breve e clara. Devem ser enviadas separadas do texto, formato jpeg, com 300 dpi de resolução. As tabelas devem ser apresentadas apenas quando necessárias para a efetiva compreensão do manuscrito. Assim como as figuras devem trazer suas respectivas legendas em folha à parte. A entidade responsável pelo levantamento de dados deve ser indicada no rodapé da tabela. COMO SUBMETER O MANUSCRITO Os manuscritos devem ser obrigatoriamente, submetidos eletronicamente via email: [email protected]. Os artigos deverão vir acompanhados por uma Carta de apresentação, sugerindo a seção em que o artigo deve ser publicado. Na carta o(s) autor(es) explicitarão que estão de acordo com as normas da revista e são os únicos responsáveis pelo conteúdo expresso no texto. Declarar se há ou não conflito de interesse e a inexistência de problema ético relacionado ao manuscrito. ARTIGOS REVISADOS Os artigos que precisarem ser revisados para aceite e publicação na Revista Enfermagem Atual - In Derme serão reenviados por email aos autores com os comentários dos revisores. Uma vez terminada a revisão pelos autores, o manuscrito deverá ser devolvido ao editor no prazo máximo de 60 dias. Caso a revisão ultrapasse este prazo, o artigo será considerado como novo e passará novamente por todo processo de submissão. Na resposta aos comentários dos revisores, os autores deverão destacar no texto as alterações realizadas. ARTIGOS ACEITOS PRA PUBLICAÇÃO Uma vez aceito para publicação, uma prova do artigo editorado (formato PDF) será enviada ao autor correspondente para sua apreciação e aprovação final. n REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 7 Artigo Original Avaliação antibacteriana e tóxica da espécie Cordia nodosa cham.: Perspectiva no tratamento de feridas infectadas Evaluation of antibacterial and toxic species Cordia nodosa Cham .: Perspectiva in the treatment of infected wounds * ** *** **** **** ***** ****** ******* ******** Raíssa Fernanda Evangelista Pires dos Santos Isabelle Souza de Mélo Silva Kátia Mayumi Takarabe Caffaro Regina Célia Sales Santos Veríssimo Thais Honório Lins João Xavier de Araújo-Júnior Lucia Maria Conserva Eliane Aparecida Campesatto Maria Lysete de Assis Bastos Pesquisa realizada com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Alagoas/FAPEAL e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq. RESUMO: O Brasil detém uma das maiores biodiversidades do planeta, no qual o uso popular de plantas medicinais tornouse fonte para descoberta de novos compostos ativos. Porém, o conhecimento popular deve relacionar-se à realização de bioensaios que comprovem a eficácia terapêutica e a baixa toxicidade das plantas. A integração da enfermagem na descoberta de novos fitoterápicos é uma das muitas contribuições dessa área da saúde agregando a pesquisa básica com a área assistencial. O objetivo do estudo foi avaliar a atividade antibacteriana e tóxica da C. nodosa, na perspectiva de tratar feridas infectadas. As amostras foram submetidas à triagem preliminar, pela difusão em disco, com S. aureus e S. epidermidis evidenciando sensibilidade à fração acetato de etila e ao extrato etanólico do caule. As amostras foram levadas à determinação da Concentração Inibitória Mínima, demonstrando ação inibitória do extrato etanólico do caule frente ao S. epidermidis e S. aureus na concentração de 125 e 1000 µg mL-1, respectivamente. O Teste de toxicidade frente à Artemia Salina identificou ausência de toxidez nas amostras avaliadas. O melhor resultado foi com o extrato etanólico do caule frente ao S. epidermidis, apontando perspectivas para desenvolvimento e inovação de alternativas na terapêutica de feridas infectadas. Descritores: Cordia nodosa; Atividade Antimicrobiana; Plantas Medicinais. SUMMARY: Brazil has one of the greatest biodiversity on the planet, where the popular use of medicinal plants has become a source for discovering new active compounds. However, popular knowledge must relate to the performance of bioassays demonstrating the therapeutic efficacy and low toxicity of the plants. 8 The integration of nursing in the discovery of new herbal is one of the many contributions that health aggregating basic research with the care area. The aim of the study was to evaluate the antibacterial activity of toxic and C. nodosa, the perspective of treating infected wounds. The samples were subjected to preliminary screening by disk diffusion with S. aureus and S. epidermidis showing sensitivity to ethyl acetate fraction and the ethanol extract of the stem. The samples were taken to determine the minimum inhibitory concentration, demonstrating the inhibitory action of ethanol extract of the stem against S. epidermidis and S. aureus at a concentration of 125 and 1000 µg mL-1, respectively. The opposite pattern of toxicity Artemia salina identified no toxicity were shown. The best result was with the ethanol extract of the stem against S. epidermidis, indicating prospects for development and innovation of alternative therapy in infected wounds. Descriptors: Cordia nodosa; Antimicrobial Activity; Medicinal Plants. INTRODUÇÃO O sistema tegumentar, formado pela pele e anexos é responsável pela interface entre o corpo e o ambiente estando sujeito às adversidades ambientais, como a agressão por agentes físico, químico ou biológico, que promovem sua ruptura e caracterizam a ferida. Seu processo de cicatrização consiste em promover a reepitelização e a reconstituição do tecido. Porém, alguns fatores poderão alterar este processo, como a infecção da ferida. A infecção, por sua vez, caracteriza-se por um efeito debilitante, causado por um agente patogênico (vírus, bactérias, fungos ou parasitos) que poderá penetrar, se desenvolver e multiplicar no organismo do hospedeiro 1. Uma das razões pela qual há falha na terapêutica para tratar pacientes portadores de infecções bacterianas é o surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos, ocasionadas pelo seu uso indiscriminado. A infecção das feridas se encaixa nesta problemática, visto que compreendem um dos fatores que retardam o processo cicatricial e promovem um dano tecidual mais acentuado, pela maior suscetibilidade, ocasionada pelo fechamento lento e insuficiente2. Em decorrência deste problema, a busca por novas substâncias antimicrobianas a partir de produtos naturais tem aumentado o interesse das empresas farmacêuticas e de pesquisadores de diversas áreas, inclusive da enfermagem, por espécies utilizadas na medicina popular. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Santos, R. F. E. P. dos; Silva, I. S. de M.; Caffaro, K. M. T.; Veríssimo, R. C. S. S.; Lins, T. H.; Araújo, J. X. de - Júnior; Conserva, L. M.; Campesatto, E. A.; Bastos, M. L. de A.; O Brasil, país de maior biodiversidade do planeta, com sua rica diversidade étnica e cultural é detentor de um valioso conhecimento tradicional e empírico associado ao uso de plantas medicinais. Sendo assim, tem um grande potencial para desenvolvimento de pesquisas que resultem em tecnologias e terapêuticas apropriadas no tratamento de feridas infectadas com uso de plantas. No intuito de estabelecer as diretrizes para a atuação na área de plantas medicinais e fitoterápicos, o governo federal implementou em 2006 a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que se constitui parte essencial das políticas públicas de saúde, meio ambiente, desenvolvimento econômico e social capaz de promover melhorias na qualidade de vida da população brasileira 3. A integração da enfermagem em pesquisas com plantas medicinais na descoberta de novos fitoterápicos é uma das muitas contribuições da enfermagem na intersecção da pesquisa básica com a área assistencial, uma vez que é o principal facilitador do cuidado4. Pesquisas experimentais in vitro desenvolvidas por enfermeiros da Universidade Federal do Ceará que atuam em projetos para o desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento de feridas avaliou o uso de uma cobertura de colágeno e Aloe vera no tratamento de ferida isquêmica, que evidenciou boa tolerabilidade e eficácia terapêutica 5. Úlceras crônicas, infectadas e recorrentes em membros inferiores, de pessoas curadas de hanseníase, foram analisadas por enfermeiros quanto à comparação da ação de uma biomembrana de látex (Biocure®) e de um produto à base de AGE – Ácidos Graxos Essenciais (Dersani®), que demonstraram efeito antimicrobiano sobre E. aerogenes e P. aeruginosa, respectivamente. Também foi identificado que os microrganismos mais prevalentes em feridas cutâneas foram S. aureus, P. aeruginosa, P. vulgaris, E. aerogenes e E. coli 6. A planta testada neste estudo, pertence à família Boraginaceae (Dicotyledonae), descrita por Antoine Laurent de Jussieu, que inclui 130 gêneros distintos, com aproximadamente 2.300 espécies, sendo os gêneros mais importantes: Cordia, um dos mais comuns no Brasil; Heliotropium; Cynoglossum; Borago e Symphytum. Além disso, possui inúmeras espécies consideradas medicinais, porém, muitas delas ainda não foram comprovadas cientificamente. As principais substâncias encontradas nessa família são alcalóides, quinonas, naftoquinonas, saponinas, taninos, ácidos fenólicos, alantoínas, mucilagens, polissacarídeos, flavonóides, ciclitóis e ácidos graxos de interesse terapêutico e nutricional, como o ácido gamalinolênico7. O gênero Cordia foi descrito por Linnaeus em 1753, no Brasil, a região Nordeste se sobressai e engloba sete gêneros e cerca de 70 espécies. Além disso, tem sido usado na medicina popular no tratamento de úlceras gástricas, como antiinflamatório, no tratamento de tumores, sendo ainda utilizadas como anti-reumática e hemostática8. Plantas medicinais com atividade candidíase estudadas no Brasil nos últimos dez anos, incluem a Cordia nodosa, porém, os trabalhos no que dizem respeito à atividade antibacteriana são escassos9. Visto que espécies do gênero Cordia, popularmente conhecida como grão-de-galo, apresentam promissoras ações antimicrobianas e sabendo do potencial que o Brasil apresenta como fonte de matérias-primas de origem vegetal, este trabalho buscou avaliar o potencial antibacteriano e tóxico in vitro de extratos de Cordia nodosa Cham. MÉTODO Pesquisa básica de caráter quantitativo e experimental in vitro, no qual condições biológicas são simuladas em laboratório, para avaliar o potencial antimicrobiano de uma espécie vegetal, bem como gerar novos conhecimentos para o avanço da ciência. Obtenção do Material vegetal Foram coletadas amostras das folhas, caule e cascas do caule de Cordia nodosa em uma propriedade no município de Marechal Deodoro em Alagoas. A identificação foi feita por uma botânica do Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA), onde exsicata do referido material encontra-se depositada em seu Herbário, com a identificação MAC nº 14.904. As serragens dos materiais vegetais (folhas, caule e cascas do caule) obtidas após secagem a temperatura ambiente e trituração, foram individualmente extraídas, através da maceração com etanol (EtOH) a 90%. Após concentração das soluções em evaporador rotatório, obtiveram-se três extratos. Desses separou-se uma parte do extrato das folhas e outra do extrato do caule, para extração líquido/líquido pelo método da partição em funil de separação. Assim, parte dos extratos das folhas e do caule foram suspensos em uma solução de metanol-água [MeOH-H2O (3:2)] e extraídos sucessivamente em hexano (C6H14), clorofórmio (CHCl3) e acetato de etila (AcOEt). Foram avaliados na presente pesquisa quatro amostras, quais sejam: as frações em AcOET das folhas e do caule, o extrato etanólico das cascas do caule. Toda a parte fitoquímica foi realizada no Laboratório de Pesquisa em Produtos Naturais do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) pertencente à Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Linhagens microbianas As linhagens bacterianas utilizadas neste estudo foram padronizadas pela American Type Cell Cellection – ATCC/Manassas-VA/USA e CEFAR diagnóstica Ltda., São Paulo. Foram avaliadas as bactérias Gram-positivas: Staphylococcus aureus (ATCC 25923) e Staphylococcus epidermidis (CCCD 14990). A microbiota encontrada em feridas cutâneas infectadas guiou a escolha dos microrganismos avaliados nesta pesquisa. Sabe-se que a microbiota transitória dependerá da localização da ferida e poderão ser encontradas na pele exposta, que, por vezes, é incapaz de crescer e se multiplicar, ao passo que podem variar conforme a espécie, o número de microrganismos e a localização da ferida, podendo persistir6. Testes antimicrobianos Para avaliação da sensibilidade microbiana frente à espécie C. nodosa foi realizado o teste de difusão em disco, no qual uma amostra de 100 mg de cada amostra foi solubilizada em EtOH, para obtenção de soluções estoques nas concentrações 2.000 µg mL-1. No teste quantitativo para a determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) da amostra, responsável por inibir o crescimento microbiano, uma amostra 2 mg de cada amostra foi solubilizada em Dimetilsufóxido (DMSO) a 10%, alcançando a mesma concentração estoque utilizada no teste qualitativo de difusão em disco de 2.000 µg mL-1. Para a avaliação qualitativa da atividade antibacteriana foram preparados inóculos, correspondente a cada linhagem investigada, a partir das suas suspensões em Solução Salina Tamponada (SST). A solução foi preparada de acordo com a turbidez do frasco nº 5, da escala de MacFarland, correspondendo a 1,5 x 108 Unidades Formadoras de Colônias (UFC) mL-1, considerado o padrão de turvação para determinação da carga microbiana. Em seguida este inóculo padronizado foi semeado de maneira REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 9 Avaliação antibacteriana e tóxica da espécie Cordia nodosa Cham.: Perspctiva no tratamento de feridas infectadas uniforme na superfície de placas de Petri com Ágar Mueller-Hinton (AMH) esfregando-se um swab de algodão estéril em três sentidos, horizontal, vertical e diagonal; e por três vezes, girando a placa em 6010. Discos de papel Whatman nº.1 estéreis, de 6 mm de diâmetro, foram impregnados com 20 µL das soluções estoques provenientes das amostras vegetais nas concentrações 2.000 µg µL-1. Após a secagem os mesmos foram pressionados contra a superfície do meio de cultivo contendo o inóculo, previamente semeado, garantindo a difusão das amostras e o contato com os microrganismos. Posteriormente, estas placas foram acondicionadas em estufa bacteriológica por 24 horas a 35 °C. Os resultados foram mensurados por meio de um paquímetro. Instrumento utilizado para medir a área, em milímetros, sem crescimento microbiano detectável a olho nu, chamado de halo de inibição. Para a análise dos resultados adotou-se o seguinte critério: halo de inibição inferior a 9 mm as amostras foram consideradas inativas; entre 9-14 mm, moderadamente ativas; maior que 14 e inferior a 17 mm, ativas; e maior que 17 mm, muito ativas. Os bioensaios foram realizados em triplicata11. O controle positivo, que evidencia a viabilidade bacteriana, seguiu o proposto pelo Clinical Laboratory Standards (CLSI)12. Como controle positivo foi usado Ceftriaxona (30 µg/disco). Para a determinação da CIM, o inóculo de 1,5 x 108 UFC mL-1 foi rediluído numa proporção de 1:10 (volume/volume) para obter a concentração padrão utilizada (104 UFC mL-1)12 A CIM foi realizada em microplacas de poliestireno estéreis de 96 poços, com 12 colunas (1 a 12) e 8 linhas (A a H). Um volume de 200 µL da solução estoque na concentração de 2.000 µg mL-1 das diversas amostras vegetais foi inoculado, em triplicata, nas colunas de 1 a 9 da linha A. Os demais orifícios a partir da linha B foram preenchidos com 100 µL de caldo Brain Heart Infusion (BHI) duplamente concentrado. Uma alíquota de 100 µg mL-1 do conteúdo de cada orifício da linha A foi transferido para os orifícios da linha B, e após homogeneização o mesmo volume foi transferido para a linha C, repetindo-se até a linha H, desprezando-se o excesso da diluição. Obtiveram-se assim concentrações decrescentes das amostras testadas (1.000 µg mL-1; 500 µg mL-1; 250 µg mL-1; 125 µg mL-1; 62,5 µg mL-1; 31,25 µg mL-1; 15,62 µg mL-1). Posteriormente, em cada orifício foi adicionado 5 µL de inóculo microbiano. Para o controle da viabilidade bacteriana utilizou-se o caldo BHI e o inóculo microbiano (5 µL); o controle negativo foi avaliado por meio da atividade inibitória do diluente DMSO a 10%; e para o controle de esterilidade utilizou-se apenas o caldo BHI. Em seguida, estas placas foram incubadas em estufa bacteriológica a 35ºC por 18 horas, para bactérias. Após este período, foram adicionados 20 µL de Cloreto de Trifeniltetrazólio (TTC) (5% v/v) em cada poço, e as placas foram reincubadas. Esta substância provoca a mudança de incolor para coloração vermelha quando há a presença de microrganismos. O grau de atividade foi determinado segundo os seguintes critérios: CIM ≤ 100 μg mL-1 (ativa); 100 < CMI ≤ 500 μg mL-1 (moderadamente ativa); 500 < CMI ≤ 1000 μg mL-1 (baixa atividade); e CIM ≥1000 μg mL-1 (inativos)11. Toxicidade frente Artemia salina Leach Para a avaliação da toxicidade das amostras frente à Artemia salina, um microcrustáceo de água salgada comumente usada como alimento para peixes. Porém, também é utilizado em laboratório para experimentos in vitro preliminares para determinar a toxicidade de extratos e produtos de origem natural com potencial ativo biológico13. Uma solução estoque de 5 mg (5.000 µg mL-1 da amostra da C. nodosa) foi dissolvida com o solvente DMSO a 10%. O controle positivo foi uma solução de timol a 1% e o negativo a água do mar com o solvente que solubilizou a amostra. O timol a 0,01% foi utilizado como controle positivo e sua atividade artemicida, encontra-se na sua capacidade de romper a membrana citoplasmática e consequentemente levar as larvas de A. salina à morte por desidratação. As amostras foram testadas nas concentrações de 1.000, 100, 10 e 1 µg mL-1, em triplicata, na qual, alíquotas da solução estoque foram aplicadas nestes de tubos de ensaio para secar previamente. Em seguida foram adicionados 1 mL de A. salina, contendo 10 larvas e mais 1,5 mL de água do mar. Após 24 horas realizou-se a leitura do experimento. Os extratos e frações que promoverem mortalidade < que 30% na concentração de 1.000 µg mL-1 foram considerados atóxicos e aqueles com mortalidade ≥ 30% nesta concentração foram submetidos ao ensaio quantitativo14. Nestes ensaios os valores de concentração letal (CL50) também foram avaliados conforme preconizado por Déciga-Campos et al.14. Estes autores consideram comos atóxicos as amostras com CL50 ≥ 1000 µg mL-1; com baixa toxicidade - CL50 ≥ 500 e < 1000 µg mL-1; e altamente tóxico se CL50 < 500 µgmL-1. RESULTADOS As frações e os extratos da espécie C. nodosa demonstraram atividade bacteriana frente às bactérias Gram-positivas: S. aureus e S. epidermides no teste de difusão em disco (Tabela 1). Frente à linhagem de S. aureus, apenas o extrato etanólico do caule apresentou-se ativo, com halo de inibição igual a 15 mm (Figura 1). A fração AcOEt do caule também inibiu o crescimento deste microrganismo, com um halo de inibição inferior a 9 mm, ou seja, houve uma pequena sensibilização. Porém, frente à linhagem de S. epidermidis, tanto o extrato etanólico quando a fração AcOEt do caule inibiram de forma moderadamente ativa (halos de inibição = 10mm, conforme Tabela 1). TABELA 1. Atividade antibacteriana de extratos etanólicos e frações da Cordia nodosa. Maceió/AL, 2014. Média dos halos de inibição* (mm) Microrganismo S. aureus S. epidermidis 10 Folha- Fr. AcOEt - Ext. EtOH Cascas do caule Caule - Fr. AcOEt Ext. EtOH - 8 - 10 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 C+ C- 15 27 - 10 30 - Caule Santos, R. F. E. P. dos; Silva, I. S. de M.; Caffaro, K. M. T.; Veríssimo, R. C. S. S.; Lins, T. H.; Araújo, J. X. de - Júnior; Conserva, L. M.; Campesatto, E. A.; Bastos, M. L. de A.; A B Figura 2. A e B: Halo de inibição do crescimento bacteriano, evidenciando a sensibilidade à fração EtOH do caule frente à bactéria S. aureus, na concentração de 2.000μg/disco. Com base no teste de difusão em disco, apenas o extrato em EtOH e a fração em AcOEt do caule foram avaliadas quanto a determinação da CIM, visto que foram as únicas amostras que evidenciaram atividade antibacteriana frente às linhagens de S. aureus e S.epidermidis. O extrato etanólico do caule inibiu o crescimento da linhagem de S. aureus na concentração de 1000 µg mL-1. Porém, frente à linhagem de S. epidermides a inibição foi até a concentração de 125 µg mL-1, indicando um potencial promissor, com ação moderadamente ativa. A fração AcOEt do caule não inibiu o crescimento da linhagem de S. epidermidis, indicando que a CIM foi superior a 1.000 µg mL-1. Teste de Toxicidade frente à Artemia Salina (TAS) No TAS preliminar realizado nesta pesquisa identificou-se a ausência de toxicidade em todos os extratos da espécie estudada (percentual de mortalidade ≤30%). Este achado dispensou a realização do ensaio quantitativo, e consequentemente a determinação CL50. TABELA 2. Extratos e frações de C. nodosa submetidas ao Teste de Toxicidade frente à A. Salina. Maceió/AL, 2014. Parte da Planta Extrato/Fração Percentual de Mortalidade (%)a CL50 (µg/mL) IC95(µg/mL) Grau de Toxicidade EtOH 10 > 1000 - Atóxico EtOH 20 > 1000 - Atóxico EtOH/ 3,34 > 1000 - Atóxico AcOEt 3,34 > 1000 - Atóxico H2O do mar + EtOH Controle (-) 0 0,0 0,0 Atóxico H2O do mar + Timol Controle (+) 100% 2,9b 2,3-3,3a Tóxico Folhas Cascas do Caule Caule a Os valores correspondem às médias da triplicata na concentração de 1.000 (µg/mL). REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 11 Avaliação antibacteriana e tóxica da espécie Cordia nodosa Cham.: Perspctiva no tratamento de feridas infectadas DISCUSSÃO A fração em AcOET e extrato em EtOH do caule da espécie C. nodosa demonstraram atividade frente a S. aureus e S. epidermidis foram considerados atóxicos. O S. aureus é o patógeno humano mais importante do gênero Staphylococcus e faz parte da microbiota normal da pele e mucosa de uma grande parte de mamíferos. Uma das características mais relevantes deste gênero é determinada pela prova da coagulase, visto que bactérias que a produzem são capazes de promoverem uma reação de coagulação15. Ensaios que avaliam a atividade inibitória de extratos vegetais contra as espécies pertencentes ao gênero Staphylococcus requerem maior aprofundamento e resultados promissores que revelam atividade biológica das plantas devem ser bem explorados16. Diante desta indicação da literatura podese afirmar que a continuação de estudos com a C. nodosa deve ser ampliados, visando o isolamento de princípios ativos, nas amostras testadas para a descoberta de novos fitoterápicos ou de fármacos. Em um estudo realizado por Matias, Santos e cols.17 os extratos em MeOH e C6H14 de outra espécie do gênero Cordia, a Cordia verbenácea foram avaliados para atividade antibacteriana frente às linhagens de Escherichia coli e Staphylococcus aureus e inibiram o crescimento microbiano. Os valores da CIM variaram de 128 a ≥ 1.024 µg mL-1, o que revelam a presença de componentes ativos em espécies do gênero Cordia que corroboram com o uso popular de espécies deste gênero para cura de doenças infecciosas da pele. Estes resultados corroboram com os achados da presente pesquisa, no que diz respeito à ação frente à linhagem de S. aureus. A espécie Cordia dichotoma também evidenciou atividade antimicrobiana18, bem como, diversas espécies de Cordia spp evidenciaram atividade bactericida frente a Streptococcus mutans e Streptococcus sanguinis19, o que contribui para reforçar as evidências da presente pesquisa. No teste de toxicidade TAS (preliminar) foi identificado a ausência de toxidez em todas as amostras da espécie estudada (percentual de mortalidade ≤ 30%), dispensando a realização do ensaio quantitativo, e consequentemente a determinação CL50. Isso significa que as concentrações testadas estavam abaixo da CL50 de cada extrato ou fração. Um estudo estabeleceu uma relação entre o grau de toxicidade e a dose letal média, CL50, apresentada por extratos de plantas sobre larvas de A. salina, desde então, consideraram que quando são verificados valores acima 1.000 µg/mL, estes, são considerados atóxicos14. Esses dados demonstram a ausência de toxidez, indispensável para uso seguro, elegendo esse extrato à condição de promissor, para ser avaliado quanto ao seu potencial biológico, uma vez que a ausência de toxicidade diz respeito aos efeitos adversos que o extrato possa vir a apresentar. Nos estudos de plantas e de novas substâncias, um balanço entre a atividade biológica versus a toxicidade é um parâmetro fundamental para verificar sua aplicabilidade . avaliação da espécie C. nodosa na perspectiva do desenvolvimento e inovação de novas alternativas na terapêutica de feridas cutâneas infectadas por bactérias. Valorizando-se assim a cultura e a tradição popular no uso de plantas medicinais que promovam à incorporação de novos conhecimentos científicos, bem como o desenvolvimento de pesquisas inéditas com esta espécie, com a perspectiva no controle de infecção de feridas. REFERÊNCIAS 1. Carneiro MIS, Ribas Filho JM, Marcondes J, Malafaia O, Ribas CAPM, Santos CA, et al. 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Luna JS, Santos AF, Lima MRF, Omena MC, Mendonça FAC, Bieber LW, Sant’Ana AEG. A study of the larvicidal and molluscicidal activities of some medicinal plants from northeast Brazil. J Ethnopharmacol. 2005; 97(2):199-206. [acesso em: 27 Jan. 2014]. Disponível em: http://www.fcfar.unesp.br/revista_pdfs/vol29n2/ trab28.pdf REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Santos, R. F. E. P. dos; Silva, I. S. de M.; Caffaro, K. M. T.; Veríssimo, R. C. S. S.; Lins, T. H.; Araújo, J. X. de - Júnior; Conserva, L. M.; Campesatto, E. A.; Bastos, M. L. de A.; 14. Déciga-Campos M, Rivero-Cruz I, Arriaga-Alba M, Castañeda-Cor- 17. Matias EFF, Santos KKA, Almeida TS, Costa JGM, Coutinho HDM. ral G, Angeles-López GE, Navarrete A, Mata R. Acute toxicity and Atividade antibacteriana In vitro de Croton campestris A., Oci- mutagenic activity of Mexican plants used in traditional medicine. mum gratissimum L. e Cordia verbenacea DC. R. bras. Bioci. J Ethnopharmacol. 2007; 110(2):334-42. 2010; 8(3):294-8. 15. 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Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem e Farmácia da Universidade Federal de Alagoas / PPGENF/ESENFAR/UFAL. E-mail: [email protected] ** Enfermeira. Mestranda em Biotecnologia Industrial pelo Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade Tiradentes. Aracaju/SE. E-mail: isabelledemelo@ hotmail.com *** Enfermeira. Mestre em Enfermagem pelo PPGENF/ESENFAR/UFAL. E-mail: [email protected] **** Enfermeira. Doutoranda em Biotecnologia pela RENORBIO. Professora da ESENFAR/UFAL. E-mail: [email protected] / [email protected] ***** Farmacêutico. Pós-doutor em Química Medicinal. Professor da ESENFAR/UFAL. E-mail: [email protected] ****** Farmacêutica. Doutora em. Ciências. Professora do Instituto de Química e Biotecnologia/UFAL. E-mail: [email protected] ******* Farmacêutica. Doutora em Ciências Biológicas. Professora do Instituto de Ciências Biológicas/UFAL. [email protected] ******** Enfermeira. Doutora em Ciências. Professora da ESENFAR/UFAL. E-mail: [email protected] REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 13 Revisão Evidências da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica Ozone therapy evidencies on cutaneous lesione treatment * Izabel Cristina Sad das Chagas ** Eline Lima Borges. Nota: Monografia apresentada, em 2012, ao Curso de Especialização em Enfermagem Hospitalar-Área de Concentração Estomaterapia do Departamento de Enfermagem Básica da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Resumo A ozonioterapia é uma modalidade de tratamento que consiste no uso do ozônio na forma de gás ou veiculado em água ou óleo. Para ser utilizado como agente terapêutico, deve ser extraído do oxigênio medicinal utilizando equipamentos. O ozônio, em contato com o tecido lesado, proporciona o aumento da liberação de fatores de crescimento capazes de contribuir para reparação tecidual. O objetivo desta pesquisa foi estabelecer recomendações para o uso do ozônio no tratamento de lesão cutânea crônica. Este estudo adotou como referencial teórico a prática baseada em evidência e, como metodológico, a revisão integrativa. Para tanto, foi realizada uma busca de artigos nas bases de dados: MEDLINE, LILACS CINAHAL, COCHRANE, IBECS e SCIELO tendo como critério de inclusão estudos primários, randomizado controlado, não randomizado controlado e descritivo, cuja amostra fosse composta por adultos com lesão cutânea de qualquer etiologia e que o tratamento tivesse sido feito com aplicação tópica do ozônio. Após análise descritiva dos estudos, aplicou-se a Escala adaptada de Jadad para verificar a validade interna. O total da amostra foi de 03 artigos, sendo 02 ensaios clínicos randomizados controlados e 01 descritivo prospectivo. Todos os estudos consideraram como desfecho a cicatrização total da ferida ou a redução do tamanho da lesão, seguidos da ação bactericida. Quanto a validade interna dos estudos, as pontuações obtidas foram, em sua maioria, inferiores ao mínimo estabelecido para um estudo de alta qualidade. Conclui-se que ao considerar apenas 01 estudo de qualidade, não foi possível estabelecer recomendações para a utilização da ozonioterapia no tratamento de lesões cutâneas. Descritores: Ozonioterapia. Cicatrização de feridas. Evidências. Summary Ozone therapy is a treatment that consists in the use of ozone as a gas or in water or oil conveyed. Its use as a therapeutic agent must be extracted from medical oxygen using equipments. The ozone, in contact with injured tissue, provides an increased release of growth factors that contribute to tissue repair. The objective of this research was to provide recommendations for the use of ozone in the treatment of chronic skin lesion. This study 14 adopted as theoretical referential evidence-based practice and as methodological, referential the integrative review. To this end, we conducted a search for articles in databases: MEDLINE, LILACS CINAHAL, COCHRANE, IBECS and SCIELO having as inclusion criteria primary studies, randomized controlled, non-randomized controlled and descriptive studies, whose samples were composed of adults with cutaneous injury of any etiology and treatment, has been done with topical application of ozone. The total sample were 03 articles, 02 randomized controlled trials and 01 prospective descriptive. All studies considered as endpoint total healing of the wound or lesion size reduction, followed by bactericidal action. Descriptive analysis was made and the Adapted Jadad Scale was applied to check the internal validity of studies, whose scores were mostly below the minimum established for a study of high quality. We conclude that by considering only 01 quality study, it was not possible to establish recommendations for the use of ozone therapy in the treatment of skin lesions. Descriptors: Ozone therapy. Wound healing. Evidence. Introdução A pele, como qualquer órgão, é passível de sofrer agressões, que poderão resultar em lesões teciduais, oriundas de agentes físicos, químicos ou biológicos, causando a perda da integridade cutânea 1,2. Quando há perda da integridade da pele ou ruptura do tecido, pode ocorrer o comprometimento da derme, tecido celular subcutâneo até músculos e ossos. Assim, a lesão cutânea é denominada de ferida 3, 4. No Brasil, as feridas constituem um sério problema de saúde pública devido a sua alta prevalência, acarretando aumento do gasto público e piora da qualidade de vida dos pacientes. Porém, não há dados estatísticos que comprovem este fato 5,6,7. Assim, devido ao aumento do custo com o tratamento das lesões cutâneas, torna-se necessário realizar estudos para quantificar de forma mais precisa tal população e identificar novos recursos e tecnologias, com menor custo e maior eficácia, tendo por objetivo acelerar o processo de cicatrização e reduzir as complicações 4. A ozonioterapia é uma modalidade de tratamento não tóxica, que consiste no uso do ozônio como princípio ativo, na forma de gás ou veiculado em água ou óleo. Para ser utilizado como agente terapêutico, o ozônio deve ser extraído do oxigênio medicinal puro por meio de descargas elétricas de aproximadamente 10.000V, onde moléculas de oxigênio são quebradas dando origem à formação de átomos de oxigênio. Esses, ao se juntarem ao oxigênio molecular (O2), dão origem às moléculas de ozônio 8,9. Esse processo ocorre com a utilização de equipamentos. O mecanismo de ação do ozônio em tecidos lesados ocorre da seguinte forma: o ozônio, em contato com os tecidos, gera REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Chagas, I. C. S. das; Borges, E. L. o peróxido de hidrogênio que atua como molécula sinalizadora intracelular, capaz de interagir com diferentes tipos celulares. Em contato com eritrócitos, o peróxido de hidrogênio aumenta a glicólise, a formação de adenosina tri-fosfato (ATP) e o transporte de oxigênio para os tecidos e ainda, ativam os leucócitos aumentando a produção de interleucinas e citocinas capazes de favorecer a resposta do sistema imune. Proporciona o aumento da atividade plaquetária e o aumento da liberação de fatores de crescimento capazes de contribuir para reparação tecidual 10. O ozônio tem alto poder oxidante, o que confere grande ação microbicida contra bactérias, vírus e fungos 9. Diversos estudos realizados utilizando o ozônio no tratamento de lesões cutâneas relataram a importância do recurso no tratamento dessas, uma vez que o ozônio demonstrou suas propriedades antissépticas, induziu a formação de tecido de granulação e a neoangiogênese, acelerando a cicatrização 9, 10, 11,12, 13. Atualmente, existem questionamentos com relação à dose terapêutica adequada, pois, se o ozônio for empregado em concentrações impróprias, pode ser inútil ou tóxico, o que torna muitas vezes sua aplicação controversa e questionada na literatura. Entretanto, na prática clínica, alguns profissionais de saúde têm adotado esta terapêutica no tratamento das lesões sem considerar os riscos decorrentes 10- 14 . Para que se utilize a ozonioterapia no tratamento de lesões cutâneas é preciso que haja embasamento científico desta prática por meio de resultados de estudos que justifiquem o seu uso e certifiquem suas ações terapêuticas. Sendo assim, devido ao aumento do uso da ozonioterapia pelos profissionais de saúde no tratamento de lesões, torna-se necessário identificar evidências científicas que amparem a utilização do seu uso na prática clínica. Questiona-se então: o uso da ozonioterapia influencia o processo de cicatrização de lesões cutâneas? Objetivos Estabelecer recomendações para o uso do ozônio no tratamento de lesão cutânea. Identificar as publicações científicas relacionadas ao uso da ozonioterapia no tratamento de lesão cutânea. Caracterizar as evidências do uso da ozonioterapia no tratamento de lesões cutâneas na prática clínica. Método Para o desenvolvimento deste estudo adotou como referencial teórico a prática baseada em evidência (PBE) que compreende o uso consciente, explícito e judicioso da melhor evidência atual para a tomada de decisão sobre o cuidar do paciente 15,16. O referencial metodológico escolhido foi a revisão integrativa. Esse método de pesquisa propicia a síntese dos resultados dos estudos sobre um determinado assunto, além de identificar lacunas do conhecimento que precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos. Para a construção da revisão integrativa é preciso percorrer seis etapas distintas. A primeira etapa corresponde à identificação do tema e seleção da hipótese ou questão da pesquisa. A seguir, estabelecem-se os critérios para inclusão e exclusão de estudos, composição da amostragem ou busca na literatura, definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados com a respectiva categorização, avaliação dos estudos incluídos, interpretação dos resultados obtidos com a revisão e, finalmente, a elaboração da síntese do conhecimento 17. Todas as etapas descritas anteriormente foram seguidas para elaboração deste estudo, que teve como eixo norteador a se- guinte questão: quais são as evidências disponíveis quanto ao uso de ozonioterapia no tratamento de lesões cutâneas? Para a inclusão dos artigos, os estudos deveriam atender os critérios de inclusão: estudos primários, publicados no período de junho de 2002 a junho de 2012, em inglês, espanhol e português, ser randomizado controlado, não randomizado controlado ou descritivo, com amostra composta por adultos com lesão cutânea de qualquer etiologia e tempo de existência. As lesões cutâneas deveriam ser tratadas com aplicação tópica do ozônio independente do tempo de sua utilização. Outro critério de inclusão considerado foi o desfecho avaliado pelo pesquisador do estudo. Foram incluídos estudos nos quais foram avaliados pelos menos um dos seguintes desfechos: tecido de granulação, área lesada em cm2, número de feridas epitelizadas e a ação bactericida do ozônio. Foram incluídos estudos disponíveis online e os obtidos por meio do Serviço de Comutação da Biblioteca J. Baeta Viana, do Campus Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais. Como critérios de exclusão foram considerados estudos in vitro ou realizados em pacientes com lesão na cavidade oral e a impossibilidade de aquisição do artigo na íntegra. Realizou- se a busca bibliográfica por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) nas seguintes bases de dados: MEDLINE, LILACS, COCHRANE, IBECS, CINAHL e SCIELO, utilizando-se os seguintes descritores controlados: ozônio, úlcera cutânea, cicatrização de feridas, úlcera da perna, úlcera plantar, pé diabético, úlcera venosa, úlcera por pressão. Para ampliar a estratégia de busca e aumentar a possibilidade de identificação de estudos optou-se por usar como descritor não-controlado o termo ozonioterapia. Os mesmos descritores foram utilizados no idioma inglês e espanhol conforme a base de dados pesquisada. As publicações identificadas resultaram em 49 estudos que foram submetidas à leitura do título e resumo. Nesta etapa foram selecionadas 12 publicações. Todos foram submetidos à leitura na intera e analisados quanto aos critérios estabelecidos. Ao final, foram mantidos três artigos que compuseram a amostra, sendo identificados como Estudo 1 (E1) 18, Estudo 2 (E2) 19, Estudo 3 (E3) 20. Após a seleção dos estudos, foi realizada uma nova leitura pelos pesquisadores visando extrair as informações para o preenchimento do instrumento de coleta de dados. Esta etapa teve como objetivo avaliar a qualidade metodológica dos estudos e extrair respostas sobre o uso do ozônio no tratamento a lesão cutânea. Após a análise dos estudos, foi feita a classificação das recomendações sobre uso do ozônio no tratamento de lesão cutânea conforme os níveis de evidência em: nível I - metanálise de múltiplos estudos controlados; nível II - estudo individual experimental; nível III - estudo quase-experimental não randomizado, controlado; nível IV - estudo não experimental como pesquisa descritiva correlacional, qualitativa ou estudos de caso; nível V - relatório de casos ou dados obtidos de forma sistemática, de qualidade verificável ou dados de avaliação de programas e nível VI - opinião de autoridades respeitáveis ou opinião de comitê de peritos 21. Os estudos selecionados também foram submetidos a critérios de avaliação da qualidade, que acrescem ou decrescem seus níveis de evidência. Para tanto, utilizou-se um instrumento de avaliação de qualidade descrita por Jadad e colaboradores22, a qual avalia três condições, relacionadas com a redução de tendenciosidade (validade interna): randomização; cegamento; perdas ou exclusões de participantes 22-23. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 15 Evidências da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica Este instrumento de avaliação da qualidade tem duas opções de resposta: sim ou não para cinco questões. Um máximo de cinco pontos pode ser obtido: três pontos para cada sim, um ponto adicional para um método adequado de randomização e um ponto adicional para um método adequado de mascaramento. Um estudo é considerado de qualidade pobre se ele receber dois pontos ou menos 22. Resultados Os três artigos que compuseram a amostra estavam disponíveis na base de dados MEDLINE (02) ou CINAHL (01). Os estudos foram publicados no período de 2002 a 2011. Os estudos foram publicados predominantemente em periódicos de circulação internacional, como o Diabetes Technology & Therapeutics (E1), European Journal of Pharmacology (E2) e European Journal of Oncology Nursing (E3). Todos os estudos eram clínicos, apenas com diferença no delineamento. O E3 era estudo descritivo e E1 e E2 eram estudos randomizados e controlados, porém, o E1 foi com duplo mascaramento e o E2 aberto. As características metodológicas dos estudos incluídos na presente revisão encontram-se no Quadro I. Quadro I Análise das características dos estudos da amostra. Belo Horizonte, 2012 O objetivo dos três estudos (E1, E2, E3) foi avaliar a efetividade da ozonioterapia no tratamento de lesões, sendo que o E1 e o E2 tiveram como desfechos principais a redução da área lesada e o fechamento total da lesão. O E3 avaliou a redução da área e a diminuição da dor. Dos desfechos avaliados o E1 e o E2 obtiveram redução da área lesada e a cicatrização total da lesão no grupo tratado com o ozônio comparando com o grupo controle. Em relação à ação bactericida do ozônio, somente o estudo E2 avaliou este desfecho e os autores observaram que o as lesões infectadas tratadas com ozônio tiveram uma cicatrização mais rápida em comparação ao grupo controle, que fez uso somente da antibioticoterapia sistêmica. Em relação à forma de aplicação do ozônio, os estudos E1e E2 utilizaram a aplicação do ozônio sob a forma de gás por meio 16 de bolsas, e no E3 foi utilizado gerador de alta frequência. Vale ressaltar que em um estudo (E2) foi utilizado também insuflação retal do gás e aplicação do óleo ozonizado na lesão. A concentração utilizada na aplicação do ozônio sob a forma de gás através de bolsas no estudo E1 foi de 80 μg/mL nas 04 primeiras semanas ou quando surgisse tecido de granulação em 50% da área e nas semanas seguintes foi utilizada a concentração de 40 μg/mL até o final do tratamento, que difere do estudo E2, no qual a concentração utilizada foi de 60 μg/mL durante 20 dias, sendo que foi utilizado também a insuflação retal de 50 μg/ mL do ozônio. No estudo E3 não foi identificado a concentração utilizada. No estudo E1 a concentração utilizada no início do tratamento foi mais alta do que a utilizada no E2, cujas lesões estavam infectadas e foi utilizada a mesma concentração do início ao fim do tratamento. Em ambos os estudos, no grupo tratado com REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Chagas, I. C. S. das; Borges, E. L. ozônio, houve significativamente maior proporção da redução da área lesada comparado ao grupo controle. Quanto aos curativos realizados nas lesões, no E2 era usado óleo de girassol ozonizado, porém a concentração do ozônio no óleo não é citada. Os estudos E2 e E3 não citam quais tipos de curativos eram realizados nos pacientes. O número de sessões realizadas variou de 20 (E2) a 32 (E1). Destaca-se que em um estudo (E3) esse dado não foi informado. O tempo de duração das sessões variou 10 a 60 minutos. No E1 o tempo foi de 26 minutos, no E2 foi de 60 minutos e no E3 variou de 10 a 20 minutos. O E1 e o E3 tiveram o tempo de duração das sessões mais aproximado, já o E2, a aplicação do ozônio sob a forma de gás foi por um tempo maior. Nesse mesmo estudo, o tempo de aplicação do ozônio pela insuflação retal não foi citado. A frequência da aplicação do ozônio não variou em todos os estudos onde o ozônio era aplicado diariamente, sendo que no estudo E3 era aplicado 2 a 3 vezes por dia, porém não houve melhora das lesões. Houve variação importante em relação ao tempo de tratamento, sendo que esse dado variou em média de 06 dias (E3) a 12 semanas (E1). O tempo de tratamento no é E2 foi de 20 dias. Quanto aos resultados encontrados, os pacientes tratados com o ozônio tiveram significativamente maior redução da área lesada nos estudos E1 e E2, porém mesmo com esses resultados favoráveis do uso da ozonioterapia no tratamento de lesão cutânea é necessário estabelecer o tempo e a concentração ideal a ser utilizada, pois em todos os estudos foram usadas concentrações diferentes e o tempo de aplicação também não foi o mesmo. Os autores do estudo E1 sugerem a realização de novos estudos com uma amostra maior. Entretanto no estudo E2 os autores sugerem que a ozonioterapia pode ser uma alternativa futura na terapia das complicações que o diabetes mellitus pode causar. Por meio da análise crítica dos estudos foi possível identificar os níveis de evidência a respeito do uso da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica. O detalhamento do delineamento dos estudos e o nível de evidência recomendado ao final da análise são apresentados no Quadro II, juntamente com os resultados da avaliação de qualidade conforme escala adaptada por Jadad e colaboradores 22. Quadro II Caracterização das evidências para o uso da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica. Belo Horizonte, 2012 Estudo Nível e qualidade da evidência Delineamento Proposto por Stetler et al.21 Teste de relevância Jadad et al. 22 E1 Ensaio clínico randomizado controlado com duplo mascaramento II 3 E2 Ensaio clínico randomizado controlado aberto II 1 E3 Ensaio clínico descritivo prospectivo IV 0 Dois estudos eram ensaios clínicos randomizados controlados. Para o estabelecimento de recomendações com melhor nível de evidência é importante que pesquisas clínicas sejam realizadas com aleatorização e rigor metodológico o que foi observado nos estudos E1 e E2. Porém, analisando a qualidade dos ensaios por meio da aplicação da Escala proposta por Jadad e colaboradores 22 verifica-se que, apesar da maioria dos estudos serem randomizados, somente um pode ser considerado de qualidade alta. Os demais são considerados de qualidade pobre, já que eles precisam obter mais de 3 pontos para ter alta qualidade de validade interna. Ao analisar a conclusão dos estudos, somente os autores do estudo E2 recomendam a utilização da ozonioterapia no tratamento de lesão cutânea. Porém, os autores dos estudos E1 e E3, não recomendaram a utilização da ozonioterapia no tratamento de lesão cutânea por acharem necessário a realização de novos estudos com um número maior de pacientes ou por não haver significância nos resultados encontrados. Discussão A ozonioterapia foi utilizada com maior frequência em lesões decorrentes do diabetes melito. Diversos autores afirmam que a ozonioterapia pode ser uma modalidade terapêutica promissora para o tratamento das complicações decorrentes do diabetes melito, incluindo as lesões cutâneas, devido às propriedades antioxidantes deste gás, que reduz a hiperglicemia, melhora a utilização do oxigênio pelo organismo e estimula a liberação de fatores de crescimento, que estão reduzidos nas doenças isquêmicas vasculares, além de ativar o sistema imunológico 24,25,26. No presente estudo foi possível constatar que o tipo de aplicação mais utilizado foi aplicação do ozônio sob a forma de gás através de bolsas, diferentemente do que foi encontrado na revisão sistemática realizada por Oliveira 27 na qual a forma de aplicação do ozônio mais utilizada foi o óleo ozonizado. Quanto à concentração a ser utilizada Oliveira 27 e Traina 14 ressaltam que a dosagem de ozônio deve ser controlada, pois da mesma forma que pode ser útil, também pode provocar efeitos maléficos ao organismo quando em doses elevadas. Neste estudo foi possível identificar que não houve uma padronização das concentrações utilizadas. Em um estudo realizado por Dupláa e Planas 12 os autores afirmam que a concentração deve ser escolhida de acordo com o aspecto da lesão, neste mesmo estudo os autores utilizaram 75 μg/mL de ozônio sob a forma de gás através de bolsas em lesões com tecido necrosado. Já em estudo realizado por Rosales 28 com o objetivo de avaliar o controle da infecção e a cicatrização de lesões infectadas no pé decorrente do diabetes melito o autor utilizou a concentração de 80 μg/mL do início ao fim do tratamento. Vale ressaltar que nos estudos da revisão integrativa não foi citado o aspecto da lesão antes de iniciar o tratamento proposto para respaldar a escolha da concentração, porém em um estudo cita que as lesões estavam infectadas e a concentração utilizada estava dentro dos parâmetros recomendados na literatura, de 40 a 80 μg/mL em lesões infectadas 12, 27,29. Em relação ao desfecho ação bactericida avaliado no presente estudo, os resultados foram favoráveis ao uso do ozônio, fato também encontrado no estudo realizado por Rosales28 que observou eliminação da infecção em 45% dos pacientes tratados com ozônio e no grupo controle somente 16,6% tiverem a eliminação da infecção. Quanto ao tipo de curativo utilizado nas lesões entre os intervalos das sessões de ozonioterapia, esse dado somente foi relatado em um estudo no qual usou óleo ozonizado. Tal fato chama atenção, pois atualmente existem diversos produtos no mercado que aceleram a cicatrização e se estes forem associados REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 17 Evidências da ozonioterapia no tratamento da lesão cutânea crônica a ozonioterapia, suas ações podem interferir na avaliação dos resultados deste gás nas lesões. De acordo com Oliveira 27 e Rosales 28 o uso do ozônio deve ser considerado como um tratamento complementar aos tratamentos usuais, principalmente, quando estes últimos não obtiveram efeitos satisfatórios. O número de sessões realizadas nos estudos da revisão integrativa variou entre 20 e 32 sessões, o que difere do estudo realizado por Rosales 28 com o objetivo de avaliar a cicatrização de lesões em pé diabético utilizando ozonioterapia, no qual 53,4% dos pacientes tratados com ozônio apresentaram cicatrização da lesão com 37 sessões. Também foi constatado nos resultados variação quanto ao tempo de duração das sessões de aplicação do ozônio de 10 minutos a 60 minutos. O estudo realizado por Hernandez e González 13 com o objetivo de avaliar a cicatrização de úlceras venosas utilizando a ozonioterapia, os autores aplicaram o gás nas lesões durante 1 hora. O mesmo tempo foi identificado no estudo realizado por Rosales 28 no qual o ozônio foi aplicado nas lesões sob a forma de gás através de bolsas por 1 hora. Quanto aos desfechos avaliados nesta pesquisa, foi possível observar que a ozonioterapia proporcionou redução do tamanho da lesão e a cicatrização mais rápida em comparação ao grupo controle. Resultados semelhantes foram encontrados por Hernandez e González 13, em cujo estudo, 90,9% dos pacientes tiveram cicatrização da lesão usando a ozonioterapia. Já Rosales 28 obteve a cicatrização das lesões em 53,4% dos pacientes avaliados. biblioteca.unesp.br/exlibris/bd/bbo/33004064079P5/2009/giovanazzi_rsd_me_botfm.pdf. 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REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 19 Artigo Original Violência contra a mulher e qualidade de vida Violence against women and Quality of life and the visibility of the negative aspects that this represents in their lives. Descriptors: Violence against Women, Gender and Health, Quality of life, Nursing. * Mari Anna Tavares de Lima ** Rosa Aurea Quintella Fernandes Resumo Objetivo. O objetivo foi avaliar a Qualidade de Vida (QV) de mulheres que sofrem violência e associar as características sociodemográficas, tipo de agressão, grau de parentesco do agressor e frequência das agressões com a QV. Método. Estudo exploratório, descritivo, desenvolvido na Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude. Participaram 70 mulheres e o instrumento de QV utilizado foi o WHOQOL-BREF. Resultados. A QV geral das mulheres foi baixa com escore médio de (42,1). O domínio com maior média foi o das relações sociais (51,9). Houve associação estatisticamente significativa entre a QV e as mulheres casadas e separadas no domínio psicológico (p=0, 038) e, entre as casadas e solteiras, no domínio das relações sociais (p=0, 027). Observou-se, diferença estatística significativa na QV das mulheres com filhos no domínio psicológico (p=0, 042) e no meio ambiente (p=0, 011) e nas que sofreram violência repetidamente, no domínio psicológico (p=0, 030) e na QV geral (p=0, 005). Na QV geral houve diferença estatística para aquelas que sofreram violência física (p=0, 007). Conclusão. Os resultados desta pesquisa podem contribuir para conhecer a Qualidade de Vida de mulheres que sofrem violência e para a visibilidade da carga negativa que isto representa em suas vidas. Palavras-Chave: Violência contra a Mulher, Gênero e saúde, Qualidade de vida, Enfermagem. Summary Objective: To evaluate the Quality of Life (QOL) of women who suffer violence and associate the sociodemographic characteristics, type of assault, relationship of the perpetrator and frequency of aggression with QOL. Method: An exploratory and descriptive study, developed by the Brazilian Association for the Defense of Women, Children and Youth. Seventy (70) women participated and the QOL instrument used was the WHOQOL-BREF. Results: The overall QOL of women was low with an average score (42.1). The area with the highest average was the social relations (51.9). There was a statistically significant association between QOL and married and separated women in the psychological domain (p = 0.038) and between married and unmarried, in the domain of social relations (p = 0.027). Statistically significant differences were observed in QOL of women with children in the psychological domain (p = 0.042) and the environment (p = 0.011) and those who have experienced violence repeatedly in the psychological domain (p = 0.030) and in overall QOL (p = 0.005). In general, QOL showed a statistical difference for those who have suffered physical violence (p = 0.007). Conclusion: The results of this research can contribute to better understanding the Quality of Life for women suffering violence 20 INTRODUÇÃO A violência contra a mulher é uma forma de agressão que persiste no tempo e ocorre praticamente em todas as classes sociais, culturas e sociedades, independe de idade, cor, etnia, nacionalidade, opção sexual ou condição social e tomou tal dimensão que é considerada um grave problema social com inúmeras repercussões sobre sua saúde física e psicológica1. A maioria das queixas de violência parte de mulheres que sofrem alguma forma de agressão no interior do espaço doméstico, pois são vistas pelo homem como objeto de posse e subjugação. Revisão de literatura, que cobriu o período de 2003 a 2007, concluiu que a violência contra a mulher é um tema pesquisado em diferentes continentes e que o perfil das mais atingidas pode ser delineado como jovens, na faixa etária de 20 a 39 anos, casadas e agredidas por seus parceiros atuais. 2 O estudo da violência é importante por ser uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, é um fenômeno possuidor de determinantes sociais e condicionantes culturais que podem significar agravos à saúde e ameaça à vida, às condições de trabalho, às relações interpessoais e à qualidade da existência.1 A violência contra a mulher tem se agravado tanto em termos de quantidade, quanto de qualidade, ou seja, as vítimas têm sofrido agressões, inicialmente, mais leves que vão se tornando cada vez mais severas e chegam a ocasionar a morte ou graves sequelas, impossibilitando a vítima de ter qualidade de vida. 3 A repetição da violência, a par das consequências físicas que imprimem à saúde da mulher, deixa marcas indeléveis em seu espírito, minando sua autoestima e possivelmente influenciando sua QV. Os estudos que relacionam esses dois temas ainda são muito escassos e pouco se conhece sobre o impacto da violência na qualidade de vida (QV) das mulheres vitimizadas. Os objetivos do estudo foram: avaliar o índice de Qualidade de Vida de mulheres que sofrem violência e associar o índice com as características sociodemográficas, tipo de agressão, grau de parentesco do agressor e frequência das agressões. MÉTODO Pesquisa transversal, exploratória e descritiva desenvolvida na Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude (ASBRAD). A ASBRAD é uma Organização Não Governamental (ONG), fundada em 18 de dezembro de 1997, sem fins lucrativos, de REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Chagas, I. C. S. das; Borges, E. L. caráter social, que tem como missão e finalidade estatutárias, defender os direitos da mulher, da família, da maternidade, da infância, da adolescência e da velhice. Oferece assistência social, psicológica e jurídica, gratuitamente, combatendo e denunciando os casos de violência em todos os âmbitos da convivência humana.4 A amostra foi constituída por 70 mulheres elegíveis para o estudo que estavam em acompanhamento na ASBRAD, há pelo menos 12 meses e que atenderam aos critérios de inclusão: saber ler e escrever e ter idade mínima de 20 anos.Foram excluídas as adolescentes e gestantes. Os dados foram coletados no período de maio a agosto de 2010 foram utilizados dois (2) instrumentos um (1) com o objetivo de coletar os dados sociodemográficos das mulheres e o outro para medir a qualidade de vida (QV). A QV foi mensurada pela aplicação do WHOQOL-BREF, criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Este instrumento avalia cinco domínios da qualidade de vida: o físico, o psicológico, as relações sociais, o meio ambiente e o geral, e está constituído por 26 questões. Os escores podem variar de zero a 100 e quanto maior o escore, melhor a qualidade de vida. O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Guarulhos, Parecer 34/2010, SISNEP/530. Para avaliar a influência das características sociodemográficas, características da violência e do agressor na QV, foram realizadas análises univariadas de associação utilizando os testes t-Student e ANOVA. Para estudar a associação dos escores de cada um dos domínios da QV e a QV geral com as variáveis demográficas (idade, estado civil, escolaridade, raça, situação empregatícia), tipo de violência e número da agressão foi aplicado o teste t-Student (no caso de variáveis com duas categorias de resposta) e a metodologia de análise de variância – ANOVA (para variáveis com três ou mais categorias de resposta). No caso da ANOVA onde houve significância estatística (p<0,05), foram realizadas comparações múltiplas pelo teste de Bonferroni. Valores de p ≤ 0,05 indicam que existe diferença estatisticamente significante das médias do escore de QV entre as categorias de respostas analisadas. RESULTADOS O perfil das participantes do estudo revelou tratar-se de jovens com idade média de 36 anos, 44,3% autodefinidas como brancas e 31,4% como pardas. A maioria (57,1%) vivia com companheiro, 44,3% com ensino fundamental completo ou incompleto. A renda familiar mensal estava por volta de um (1) a três (3) salários mínimos, que à época era R$ 756,91. A maioria (95,7%) tinha filhos e atividade remunerada (64,3%). Tabela 1. Distribuição da amostra segundo o tipo de violência, agressor e reincidência (n=70). Guarulhos, 2010. Variáveis N Companheiro 49 70,0 Ex-marido 17 24,3 Namorado 03 4,3 Estranho 01 1,4 1-5 vezes 17 24,3 6-10 vezes 09 12,9 11 ou mais 44 62,9 Reincidência Observa-se, na Tabela 1, que as mulheres sofrem diferentes tipos de agressão ou mais de um tipo. A associação da agressão física e psicológica foi a que obteve maior percentual (45,8%), seguida da psicológica (38,6%). O agressor na maioria das vezes (70%) foi o companheiro e a mulher foi agredida repetidas vezes (62,9%). As mulheres caracterizaram o perfil dos agressores como brancos e pardos, com baixa escolaridade, maioria (52,8%) estudou até no máximo o ensino fundamental e 8,6% eram analfabetos. A maioria (82,9%) tinha atividade remunerada e consumia drogas (60%). Tabela 2. Distribuição da amostra, segundo a topografia da agressão. Guarulhos, 2010. Local Sim Total Não N % N % Cabeça 50 71,4 20 28,6 70 100 Membros Superiores 64 91,4 06 08,6 70 100 Membros Inferiores 47 67,1 23 32,9 70 100 Esterno frente 05 7,1 65 92,9 70 100 Tórax 09 2,9 61 87,1 70 100 Abdomen 08 1,4 62 88,6 Costas 15 21,4 55 Partes íntimas Física 02 2,8 Psicológica 27 38,6 Sexual 01 1,4 Física e Psicológica 32 45,8 08 11,4 N 70 % 100 70 100 70 100 78,6 % Tipo de Violência Física/ psicológica e sexual Agressor 14 20,0 56 80,0 Na Tabela 2, observa-se que os locais mais agredidos foram, em primeiro lugar, os membros superiores com 91,4% de referências, a seguir a cabeça (71,4%), membros inferiores (67,1%), costas (21,4%) e partes íntimas (20%). REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 21 Violência contra a mulher e qualidade de vida Tabela 3. Estatísticas descritivas dos domínios do WHOQOL- BREF. Guarulhos. 2010. Domínios Físico Psicológico Relações Sociais Meio Ambiente QV geral n 70 70 70 70 70 Média 48,57 46,37 51,90 38,35 42,14 Mediana 46,43 47,92 50,00 37,50 37,50 Desvio-Padrão 16,92 18,98 18,78 11,88 21,72 Mínimo 7,14 8,33 0,00 0,00 0,00 Máximo 82,14 87,50 91,67 62,50 87,50 Observa-se, na Tabela 3, que o domínio com maior média de escore foi o das Relações Sociais (51,90) e que o escore Geral de QV foi baixo (42,14) considerando que o máximo é 100. Associação entre qualidade de vida e características sociodemográficas Na associação entre QV e as características sociodemográficas observou-se que as variáveis: idade, raça e situação empregatícia, não interferiram na QV das mulheres, pois não houve diferenças estatisticamente significantes (p≥0,05). Entretanto, as variáveis: estado civil e presença de filhos interferiram na QV das mulheres. As mulheres separadas, em comparação com as demais, referiram melhor QV geral assim como nos domínios psicológico e meio ambiente. Já as solteiras, em comparação com as demais, tiveram melhor QV nos domínios físico e relações sociais. Contudo, a diferença foi estatisticamente significante apenas no domínio psicológico (p=0, 049) e das relações sociais (p=0, 030). No domínio psicológico a diferença significativa foi observada apenas entre casadas e separadas (p=0, 038). E no domínio relações sociais, entre casadas e solteiras (p=0, 027). As mulheres que vivem com os parceiros, seja em união consensual ou oficialmente casada, tiveram escores menores de QV. Na associação entre QV e presença de filhos verificou-se que, em todos os domínios, as mulheres que não tinham filhos apresentaram melhor QV quando comparadas com as que tinham filhos. Porém, houve diferença estatisticamente significante apenas no domínio psicológico (p=0, 042) e meio ambiente (p=0, 011). Associação entre Qualidade de Vida e violência Ao avaliar a associação entre QV e o tipo de violência sofrida. Verificou-se que, em todos os domínios, as mulheres que sofreram violência física tiveram escores menores do que as que não sofreram. Porém, somente na QV geral houve diferença estatisticamente significante (p= 0, 007). Na comparação entre as mulheres que foram agredidas psicologicamente e as que não foram, tanto o escore geral como o por domínios (p>0,05) indicam que a violência psicológica não influenciou a qualidade de vida das mulheres do estudo. No caso da violência sexual os resultados apontam que as médias dos escores de QV das mulheres que sofreram ou não este tipo de violência são semelhantes, mas, em todos os domínios da QV, os escores daquelas que não sofreram esse tipo de violência são melhores, inclusive no geral. Entretanto, não foi observada diferença estatisticamente significante entre elas (p>0,05). O número de vezes que as mulheres foram agredidas influenciou em sua QV uma vez que houve diferença estatisticamente significante na comparação das médias dos escores entre as que foram agredidas ou não mais de dez vezes, apenas no domínio psicológico (p=0,030) e na QV geral (p=0,005). 22 DISCUSSÃO A média de idade das mulheres entrevistadas foi de 36 anos, resultado semelhante ao de outros estudos 5,6,7 nos quais as mulheres agredidas encontravam-se na faixa etária de 34 a 37 anos, respectivamente. Outros trabalhos sobre violência de gênero apontam mulheres mais jovens, entre 18-29 anos2,8. A definição da raça/cor foi autorreferida e 44,3% das mulheres consideraram-se brancas. Este dado pode estar mascarado, porque, muitas vezes, as pessoas se autodenominam de uma etnia quando, na realidade, pertencem à outra. Outras publicações 9,5,10 apresentam a raça/cor negra como predominante nas amostras estudadas. Em relação ao estado civil, a maioria das mulheres (57,1%) vivia com o companheiro. Outros estudos2,5,11 que traçam o perfil de mulheres submetidas à violência doméstica apontam que a maioria vivia com o parceiro e, em um desses estudos, o percentual de mulheres casadas foi de 64% e, em outro, de 72,2%. Estudo8 sobre a violência de gênero enfatiza que a escolaridade influencia a ocorrência do fenômeno, pois, quanto mais elevado o nível de estudo das mulheres, menor sua tolerância para os atos agressivos. Entretanto, vale ressaltar que dados sobre violência doméstica que envolvem mulheres de melhor nível socioeconômico, podem estar sub representados pela tendência de ocultar a ocorrência neste estrato social 5. No presente trabalho, a maioria das mulheres (95,7%) tinha filhos e 64,3% exerciam atividade remunerada. Alguns trabalhos5,8 apontam que os filhos podem ser um impeditivo dela romper a relação com o agressor e, por isso, a mulher permanece sofrendo violência. O fato de a maioria estar empregada (64,3%) corrobora o estudo 11 que cita uma porcentagem considerável de mulheres que trabalhavam (41%) e foram vítimas de violência. As mulheres que participaram deste estudo sofreram diferentes tipos de agressão e/ou a associação de mais de um tipo. Embora as mulheres não saibam classificar os insultos, humilhações e palavras afrontosas como violência psicológica, elas são capazes de identificar essas situações como agressão. Resultados de outros trabalhos5,11 indicam, também, que as vitimas sofreram a associação de mais de um tipo de violência. A pessoa mais referida como agressor foi o companheiro (70%), dado encontrado em outros estudos identificados na literatura12,3 que referem o parceiro íntimo como o agressor principal.Outro aspecto enfatizado pelos resultados deste estudo é a reincidência da agressão, referida por 62,9% das mulheres, assim como o medo do agressor (75,7%). Alguns estudos 5,13 apontam que, apesar de a vítima sentir medo do agressor, elas não se separam por diferentes razões, entre elas a existência de filhos, dependência financeira, paixão, perda de suporte da família e esperança de que o agressor mude de comportamento. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Lima, M. A. T. de; Fernandes, R. A. Q.; Os locais mais agredidos foram os membros superiores, cabeça e membros inferiores. Outros estudos 14,15,16 apresentam a mesma topografia para as agressões. Pode-se supor que os membros superiores são mais atingidos por alguma tentativa de defesa da mulher no momento da agressão. A análise dos resultados da QV identificou média dos escores de QV Geral de 42,14 e o domínio com maior média o das Relações Sócias (51,90). Considerando que o escore máximo é 100, pode-se inferir que a QV destas mulheres não é boa embora, Castro16 sugira que escores entre 41 e 60 classificariam uma Qualidade Vida como Nem Ruim Nem Boa. Os resultados da associação da QV e das variáveis sociodemográficas permitem inferir que situações como conviver com o companheiro e ter filhos, interferiu negativamente na QV das mulheres. Não é fácil para a vítima dividir o domicilio com quem a agride continuadamente mas, mesmo assim muitas elas não encontram força para romper com esta situação e os filhos podem constituir uma barreira na quebra do laço com o agressor. Assim, mesmo sofrendo, ela persiste no relacionamento. A violência física repercutiu na QV das mulheres. Estudo17 que comparou violência doméstica com QV, identificou escores compatíveis com uma má QV e depressão, assim como associação significante entre distúrbios mentais, disfunção psicossocial e violência de gênero. As mulheres que sofrem violência física podem apresentar sintomas recorrentes de dor e dificuldade para dormir. Os profissionais que atendem emergência devem estar alertas para a necessidade de investigar a possibilidade de situações de violência em mulheres que apresentam recorrência desses sintomas. A repetição dos maus tratos foi outra variável que influenciou a QV das mulheres. A violência em si já representa um trauma na vida da mulher. A repetição das agressões, a convivência diária com o medo, a insegurança, a incerteza do que virá dia após dia fragilizam o emocional da mulher, o que pode explicar os resultados obtidos no domínio psicológico e na QV geral, neste estudo. Muitos trabalhos5,8,16, apontam a influência da violência na saúde mental das mulheres que podem apresentar fobias, depressão, estresse pós traumático, insônia, ansiedade, distúrbios sociais, tendência ao suicídio e abuso de drogas e álcool. 2. CONCLUSÕES A violência em suas diferentes formas de manifestação interfere negativamente na QV das mulheres sobretudo, daquelas que sofrem agressão repetidas vezes, convivem com o agressor e tem filhos.Outros estudos que comparem violência e QV devem ser realizados de modo a possibilitar comparações e dar visibilidade ao problema. 14. Dossi AP, Saliba O, Garbin CAS, Garbin AJI. Perfil epidemiológico da Frank S, Coelho EBS, Boing AF. Perfil dos estudos sobre violência contra as mulheres por parceiro íntimo: 2003 a 2007. Rev Panam Salud Publica 2010; 27(5): 376-81. 3. Silva LL, Coelho EBS, Caponi SNC. Violência silenciosa: violência psicológica como condição da violência física doméstica. Interface (Botucatu) 2007; 11(21): 93-103. 4. Asbrad- Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Infância e da Juventude [home Page da internet]. Guarulhos: ASBRAD; 1997-2009; [acesso em 2009 Oct 29]; [aproximadamente 5 telas]. Disponível em <http//www.asbrad.com.br/HTML/quemsomos.html> 5. Adeodato VG, Carvalho RR, Siqueira VR, Souza FGM. Qualidade de Vida e depressão em mulheres vítimas de seus parceiros. Rev. Saúde pública 2006; 39 (1): 108-13 6. Mota JC, Vasconcelos AGG, Assis SG. Análise de correspondência como estratégia para descrição da mulher vítima do parceiro atendida em serviço especializado. Ciência saúde coletiva. 2007;12(3):799-809. 7. Julia G D, Schraiber LB, França J I, Barros C. Repercussão da exposição à violência por parceiro íntimo no comportamento dos filhos. Rev Saúde Pública 2011;45(2):355-64. 8. Silva MA, Neto GHF, Figueiroa JN, Filho JEC. Violence against women: prevalence and associated factors in patients attending a public healthcare service in the Northeast of Brazil. Cad Saúde Pública 2010; 26(2): 264-272. 9. Kronbauer JFD, Meneghel SN. Perfil da Violência de gênero perpetrada por companheiro. Rev Saúde Pública 2005;39 (5):695-701. 10. Romio JAF. Mortalidade feminina e violência contra a mulher: abordagem segundo raça/ cor. Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais ABEP. Caxambú (MG); 2010. Disponível em: www.abep.nepo.unicamp.br. Acesso em maio/ 2011. 11. Garcia MV, Ribeiro LA, Jorge MT, Pereira GR, Resende AP. Caracterização dos casos de violência contra a mulher atendidos em três serviços na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2008; 24(11): 2551-2563. 12. Schraiber LB, D’Oliveira ANPL, Couto MT, Hanada H. e et al. Violência contra mulheres entre usuárias de serviços públicos de saúde da Grande São Paulo. Rev Saúde Pública 2007; 41 (3): 359-67. 13. Day VP, Telles LEB, Zoratto PH, Azambuja MRF, Machado DA et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul. 2003; 25 (suppl. 1): 9-21. violência física intrafamiliar: agressões denunciadas em um município do Estado de São Paulo, Brasil, entre 2001 e 2005. Cad. Saúde Pública. 2008; 24(8): 1939-1952 15. Garbin CAS, Garbin AJI, Dossi AP, Dossi MO. Violência doméstica: análise das lesões em mulheres. Cad. Saúde Pública. 2006; 22(12): 2567-2573 16. Castro DFA de, Fracolli LA. Qualidade de vida e promoção da saúde: REFERÊNCIAS 1. em foco as gestantes. Mundo Saúde.2013,37(2):159-165. Penna LHG, Santos NC dos. Violência contra a mulher. In: Fernan- 17. Rees S, Silove D, Chey T et al. Lifetime Prevalence of Gender-Based des RAQ, Narchi NZ. Enfermagem e saúde da mulher. 2ed. Manole; Violence in Women and Relationship with Mental Disorders and Psy- 2013.p.209-32. chosocial Function. JAMA. 2011; 306 (5): 513-521. NOTA * Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Guarulhos-SP ** Obstetriz. Doutor em Enfermagem. Docente do Mestrado Enfermagem da Universidade Guarulhos-SP Trabalho extraído da dissertação de mestrado Violência contra a mulher e qualidade de vida da aluna Mari Anna Tavares de Lima. Universidade Guarulhos.2011. Não há conflito de interesses. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 23 Artigo Original Dignidade no fim da vida – percepção de enfermeiros* Dignity at the end of life – perception of nurses ** Andrea Cristina Marchesoni Zani ** Talita Camila de Oliveira *** Monica Martins Trovo de Araújo Resumo Trabalhar com pacientes que vivenciam o processo de morrer é um desafio cotidiano para a equipe de enfermagem. O presente estudo teve como objetivos conhecer a percepção dos enfermeiros acerca de dignidade ao final da vida e identificar barreiras e facilitadores para assistência prestada a pacientes hospitalizados ao fim da vida. Caracterizou-se como um estudo descritivo, exploratório, transversal e de campo, com abordagem qualitativa, realizado por meio de entrevista semi estruturada com 20 enfermeiros de uma instituição hospitalar pública da cidade de São Paulo, em junho de 2013. Por meio da análise de conteúdo das falas dos entrevistados foi possível identificar quatro categorias que evidenciaram dificuldades na compreensão acerca de cuidado digno e na identificação de necessidades ao fim da vida, assim como obstáculos e elementos fundamentais para o provimento deste tipo de atenção. Denotando a necessidade de maior preparo teórico-prático dos profissionais no que tange à assistência de enfermagem na etapa final de vida. Descritores: Assistência terminal; Cuidados de Enfermagem; Atitudes frente à morte. Summary: Working with patients who experience the dying process is an everyday challenge for the nursing staff. The present study aims to identify the perceptions of nurses about dignity at the end of life and to identify barriers and facilitators to care provided to hospitalized patients at end of life. Was characterized as a descriptive, exploratory, cross-sectional field study with a qualitative approach, performed through semi-structured interviews with 20 nurses from a public hospital in the city of São Paulo, in June 2013. Through content analysis of the speeches of the respondents, it was possible to identify four categories that showed difficulties in understanding dignified care concept and identifying personal needs at end of life, as well as barriers and key elements for the provision of this kind of attention. Denoting need for greater theoretical and practical training of professionals concerning nursing end of life care. Descriptors: Terminal assistance. Nursing care. Attitude to death. Introdução Ao analisar historicamente as representações da morte é possível perceber que houve importante alteração em sua trajetória, que de conhecida, passou a ser negada. Até meados do século XX a morte era aceita como acontecimento na- 24 tural, familiar; contudo, a partir da década de 1930 começou crescer o número de pessoas que morriam em hospitais1. De acordo com dados do Ministério da Saúde2, no ano de 2006 mais de 690 mil pessoas faleceram em hospitais brasileiros e apenas 224 mil nos domicílios. Assim, consequentemente, aumentou o número de pessoas dependentes de cuidados, com a necessidade de maior envolvimento da equipe de enfermagem no processo de cuidar de quem vivencia o fim da vida. Trabalhar no cotidiano com pessoas em processo de morrer é um grande desafio para a equipe de enfermagem, porque reflete a dificuldade do ser humano em lidar com o fenômeno morte, assunto que ainda se configura como “tabu” na sociedade. Com o intenso desenvolvimento tecnológico na área da saúde nas últimas décadas, criou-se a falsa ilusão de que a morte pode ser adiada por tempo indeterminado e qualquer problema que afete as condições de saúde pode ser superado. A negação da morte que ocorre na atualidade dificulta o entendimento acerca do cuidado ao fim da vida, podendo trazer prejuízos para o paciente. Um paciente que vivencia o processo de morrer precisa de paz, descanso e dignidade 3. Contudo, nos hospitais, há uma variedade de pessoas atarefadas, correndo, sem ao menos atentar para os aspectos emocionais da pessoa doente4, que permanece a maior parte do tempo sozinha, lidando com o sofrimento em suas múltiplas dimensões: físico, emocional, espiritual e social. Vivenciar a finitude nos hospitais pode se caracterizar como um longo, solitário e doloroso processo. Morrer dignamente é ter respeitado o desejo de ter uma morte humanizada, ou seja, que valorize o ser humano e sua trajetória de vida, seu direito à autonomia para tomada de decisão quando possível, suas preferências quanto à alimentação, presença de amigos e entes queridos, momentos para movimentação e repouso e local de morte 5. Significa ser estimado e ter permissão de morrer com caráter, personalidade e estilo4, tendo seus desejos e necessidades identificados e respeitados, considerando-se o tempo limitado como fator agravante para a atenção a estas demandas. Envolve possibilitar que o paciente participe de seu próprio cuidado, ouvindo-o para identificar necessidades e expectativas. Assim, depende da comunicação que ouve, acolhe e respeita o outro ser humano em suas verdades, clamores e valores6. A dignidade envolve o reconhecimento da autonomia representada como autogoverno e autodeterminação de tomada de decisão pela saúde e bem estar. Trata-se de liberdade de escolha. Assim, a equipe que cuida do paciente no processo de morte deve estar atenta ao que diz respeito às manifestações dos medos e necessidades, sempre acolhendo o paciente e seu familiar. É necessário escutar os temores e proporcionar uma comunicação que possibilite obter-se certo grau de profundidade 7. Neste contexto, pela natureza do cuidado prestado, a equipe de enfermagem desempenha papel central, uma vez REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Zani, A. C. M.; Oliveira, T. C. de; Araújo, M. M. T. de; que permanece mais tempo do que outros profissionais junto ao paciente em etapa final de vida, o que lhe possibilita a identificação de demandas e atenção mais direcionada às necessidades individuais. O enfermeiro, enquanto líder da equipe, deve reconhecer quando o paciente se encontra em processo de morrer e redirecionar o planejamento e implementação do cuidado para ações focadas no conforto e apoio emocional, para que o indivíduo viva com dignidade seus últimos dias. Assim, torna-se importante saber: qual o entendimento que o enfermeiro tem acerca do cuidado que propicia uma morte digna? E, frente ao fato de que muitos pacientes ao fim da vida não podem mais verbalizar suas necessidades devido ao rebaixamento de nível de consciência, como os enfermeiros identificam as necessidades destes doentes? O que favorece e o que dificulta este cuidado? Faz-se necessária esta pesquisa para buscar respostas a estes anseios. Objetivos Conhecer a percepção dos enfermeiros acerca de dignidade ao final da vida. Identificar barreiras e facilitadores para assistência prestada pelo enfermeiro a pacientes hospitalizados em fim de vida. Trajetória metodológica Trata-se de um estudo de campo de caráter descritivo, exploratório e transversal, com abordagem qualitativa. A escolha pela abordagem qualitativa é justificada pelos complexos fenômenos investigados – a finitude humana e a concepção de dignidade que o enfermeiro traz, sendo necessária exploração mais aprofundada do que a mensuração de variáveis possibilita. Para tanto, fez-se necessária à busca da essência destes fenômenos na fala dos enfermeiros, profissionais que vivenciam em seu cotidiano o cuidado de pessoas em fase avançada de doenças irreversíveis. A pesquisa foi desenvolvida em um hospital público de grande porte, localizado na região norte da cidade de São Paulo. Esta instituição possui aproximadamente 400 leitos e oferece atendimento voltado a população em geral, através do Sistema Único de Saúde, em especialidades diversas. A população da pesquisa constituiu-se por enfermeiros atuantes em unidades que atendem com frequência pacientes ao final da vida, ou seja, que trabalham em enfermarias de Clínica Médica (13 profissionais) e na Unidade de Terapia Intensiva (22 enfermeiros) da instituição. A amostragem foi realizada de modo não aleatório e por conveniência, considerando-se os seguintes critérios: ser enfermeiro, trabalhar na instituição em uma das unidades citadas e aceitar participar da pesquisa. A amostra foi determinada por saturação do discurso, com 20 entrevistados. Para a coleta dos dados inicialmente foi solicitado à instituição de saúde carta de ciência sobre a intenção de realização da pesquisa e autorização para realização da mesma. Em seguida, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) do Centro Universitário São Camilo, instituição onde as pesquisadoras possuíam vínculo acadêmico, sendo aprovado em maio de 2013 (parecer número 291.851). Após a aprovação do COEP, foi solicitada à chefia de enfermagem das duas unidades uma relação com os nomes dos colaboradores enfermeiros nos distintos turnos. Durante o mês de junho de 2013, em datas e horários pré-acordadas com as chefias, as pesquisadoras abordaram individualmente cada enfermeiro, apresentando a proposta da pesquisa e o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Após firmar sua participação na pesquisa com a assinatura do TCLE o colaborador foi individualmente entrevistado, de acordo com roteiro semiestruturado de questões, especialmente elaborado pelas pesquisadoras para este estudo. Neste roteiro, além das questões norteadoras para a entrevista “No seu cotidiano de trabalho no hospital, o que você considera importante para o cuidado das pessoas que estão vivenciando o fim da vida? Quais são as facilidades e as dificuldades que você encontra quando cuida de um paciente no final da vida? O que você entende por dignidade no fim da vida?”, também foram contempladas questões fechadas acerca de variáveis (idade, sexo, tempo de formação como enfermeiro e de atuação na unidade) que possibilitaram a caracterização da amostra. As entrevistas tiveram o áudio digitalmente gravado e as falas dos entrevistados foram transcritas na íntegra, respeitandose a coloquialidade do discurso. Os dados foram analisados de forma qualitativa, segundo a metodologia de análise de conteúdo proposta por Bardin 8, que propõe um conjunto de técnicas de análise da comunicação verbal aplicados aos discursos para obter indicadores, qualitativos ou não, que permitem a descrição do conteúdo das mensagens dos entrevistados. Seu método é composto de três fases: a) pré-análise, com leitura flutuante para reconhecimento do texto; b) exploração do material, com leitura analítica, identificação indicadores segundo temática e operações de codificação para agrupamento de temas semelhantes e c) tratamento dos resultados, inferência e interpretação, quando foram identificadas categorias temáticas que possibilitaram a descrição e análise dos conteúdos dos discursos. Resultados Dos 20 enfermeiros entrevistados, 14 (70%) eram do gênero feminino e seis (30%) masculino. A idade dos entrevistados variou de 27 a 55 anos, com a média de 40,3 anos. O tempo de formação como enfermeiro variou entre três e 24 anos, com média de 12,8 anos e o tempo de atuação na instituição também alternou entre três e 24 anos, porém com média de 10,5 anos. Com base na análise do conteúdo dos discursos dos entrevistados surgiram quatro categorias, que evidenciaram a dificuldade de expressar a complexidade do significado de cuidado digno ao fim da vida, assim como também de identificar necessidades específicas do paciente nesta etapa, apontando obstáculos e elementos essenciais para a realização deste tipo de cuidado. Categoria 1: Descaracterizando a complexidade do cuidado digno ao fim da vida. Grande parte dos participantes encontrou grande dificuldade em expressar sua compreensão acerca de dignidade no cuidado ao fim da vida, uma vez que alguns se mostraram pensativos por longo período, outros gaguejavam ou eram extremamente reticentes em suas colocações, como evidenciam os discursos seguintes: REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 “Olha... dignidade no fim da vida... é você não ser tratado... é... você não tratar o paciente... ou o paciente ver... 25 Dignidade no fim da vida – percepção de enfermeiros talvez no sentimento envolvido no momento do cuidado.” (E15). que ele esta sendo tratado como um lixo né... um lixo humano... como mais um... (pensando)... é dessa forma que eu vejo.” (E17) “A dignidade no final da vida para mim envolve [...] produzir o máximo de bem estar para ele, pra que tenha um final da vida bom. Não digo que é bom, porque o final da vida não é aceitável para nós facilmente, mas que seja digno para ele.” (E2) “Ah, dignidade para mim é [...] ter os cuidados necessários... o básico que a gente tem que ter antes da morte.” (E10) Compreende-se que falar sobre temas subjetivos seja um desafio para os profissionais do cuidado dos quais são exigidas ações concretas, práticas e objetivas. E, neste contexto em que os participantes denotaram dificuldade para discorrer acerca do cuidado digno ao fim da vida, poucos participantes citaram ao menos princípios ou valores morais norteadores do cuidado digno, como o respeito, conforme apontam os discursos abaixo destacados: “[...] você tem que aceitar o jeito que está e tratar as pessoas do mesmo jeito, igual a todas. Igual todo mundo...” (E6) No paciente em estado avançado de doença torna-se essencial à identificação de necessidades próprias, para o direcionamento de um cuidado que suporta e conforta. Para tanto, o enfermeiro precisa considerar que cuidar de modo holístico e individualizado pressupõe preocupação, responsabilidade e envolvimento afetivo com o outro. Assim, os profissionais devem demonstrar preocupação e, muitas vezes, entender que é necessário quebrar algumas regras estipuladas pelas instituições com relação ao horário de visita, a importância do conforto, carinho e a realização de alguns desejos do paciente, como nos exemplos dos participantes: “[...] a gente tem que aceitar o que a pessoa ta pedindo, saber um pouco mais do que essa pessoa ta pedindo... Por que tem pessoa que não quer receber visita, outras que querem receber todas as visitas, outras que querem músicas, uma alimentação diferenciada e até ficar em casa” (E6). “Dignidade é […] como eu falei, eu trato igualmente, independente de estar bem ou não, mesmo após sua morte eles continuam tendo sua dignidade como pessoa, como ser humano, então... é se dar o respeito, atenção e o cuidado...” (E8). “[...] ter um cuidado e bem receptivo para o paciente e com a família dele... [...] Saber respeitar o último momento dele... Então tem que cuidar... A parte de higienização, alimentação, dar tudo o que o paciente necessita...” (E9) “Dignidade? Dignidade é você respeitar... é... sabe aquele desejo do paciente?” (E19). “Então é... Normalmente sempre é liberado algumas vontades dos pacientes... Até comida é liberado... Pra que tenha mais dignidade né?” (E18). Categoria 2: Identificando necessidades específicas no cuidado ao paciente no fim da vida. A individualidade do cuidado é um dos fundamentos da atenção de enfermagem. Destacam-se nas falas de alguns participantes a dificuldade em sustentar este pilar, envolvendo não apenas os pacientes em situação de final de vida, mas todos os que são submetidos à atenção da equipe: “Acredito que devem ser tratados da mesma forma que eu tratos dos outros pacientes em relação aos cuidados de enfermagem... Considerando que o ser humano, é um ser único, um ser precioso, e nosso juramento, um dos juramentos nossos é a luta pela vida, acho importante ter uma boa harmonização que seja eficiente e eficaz...” (E4). “O cuidado com esses pacientes e com outros tem que ser igual... pois tem que ter respeito e atenção. Olha, acho que cuidado de um paciente intubado ou consciente... sinceramente não vejo diferença... no cuidado... mas 26 “Dignidade é não só ter o familiar, mas respeitar seus valores. Higiene, dor... E dar os cuidados que ele merece... tentar avaliar a dor desse paciente... Tentar passar alguma coisa positiva pra ele...” (E7). Contudo, dos 20 relatos dos participantes, apenas os quatro descritos acima destacaram de modo superficial as necessidades específicas do paciente em fim de vida. Apenas o participante denominado enfermeiro 7 apontou em sua fala um aspecto fundamental a ser considerado no cuidado ao fim da vida: a necessidade de avaliação da dor. Não apenas a dor, mas também outros incômodos de origem física, tais como dispneia, náuseas, constipação devem ser identificados e avaliados para serem adequadamente abordados, de modo farmacológico e não farmacológico, uma vez que o desconforto causado pelos mesmos não possibilita uma boa vivência desta etapa de vida. Categoria 3: Apontando barreiras para ofertar cuidado digno no fim da vida Por meio dos relatos dos participantes foi possível identificar nesta categoria os principais obstáculos apontados para REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Zani, A. C. M.; Oliveira, T. C. de; Araújo, M. M. T. de; a provisão do cuidado digno ao fim da vida. Trabalhar com os anseios e as necessidades dos familiares dos pacientes foi à barreira mais frequentemente identificada, apontada por 16 dos 20 entrevistados, conforme ilustram os relatos: ainda sofre, e isso pra mim é o pior... E não poder fazer nada... Sabe... Me sentir com as mãos atadas, isso é a pior parte.” (E8) “Acredito que a maior dificuldade em tratar desse pacientes são os familiares, que chegam assustados e nervosos com toda a situação e... Principalmente com a iminência de morte de uma pessoa querida.” (E15) “A parte emocional, seja do familiar, seja do paciente e de nós próprios, porque você acaba criando um vínculo muito grande com todos e você se envolve... Tem que ter um controle emocional muito bom para que você acabe não sofrendo juntamente com todos e acabe deixando de fazer seu serviço adequadamente e nessa dificuldade engloba também do emocional de você tranquilizar todos que tenham o cuidado com o paciente, próprios auxiliares e próprios familiares.” (E2) “O familiar é o principal, porque eles estão mais de perto, quando o paciente acaba ficando sozinho no hospital. [...] Se tem familiar que fica sempre junto é mais difícil.” (E13) “... e esse parente aceitar essa partida, essa morte... [...] Ele deposita a culpa em alguém, e normalmente é na enfermagem... É o que está mais perto, mais próximo... Às vezes o que é mais difícil é o familiar...” (E16) “... é muito difícil lidar com a família, com a ansiedade da família, com essa esperança que a família tem...” (E5) Além das dificuldades relacionadas à atenção aos familiares, os entrevistados também apontaram o próprio desconforto em lidar com a morte como obstáculo para o cuidado digno, como denotam as seguintes falas: “[...] não é fácil você cuidar de uma pessoa que ela está consciente sabendo que ela vai morrer...” (E1) “Trabalhar com a morte é um tabu pra gente ainda...” (E7) “[...] o paciente quer conversar e a gente não está pronto pra ouvir, nem é isso... A gente não tem como mesmo... E quem cuida de você depois né? Ai vai acumulando a tristeza, uma coisa puxa a outra...” (E20) Evidencia-se nas falas transcritas o desgaste emocional dos profissionais na assistência ao paciente em final de vida. Esta sobrecarga emocional influencia a qualidade da assistência prestada, uma vez que o enfermeiro, como qualquer ser humano, tem a tendência de evitar o contato ou a exposição a situações que lhe cause sofrimento, como sugere o relato do participante E20. As falas seguintes além de reforçarem o destaque ao sofrimento do enfermeiro em situação de cuidado ao fim da vida, também salientam a necessidade de apoio emocional a estes profissionais, enfatizando a necessidade da instituição prover cuidado aos cuidadores: “Sempre tive dificuldade em trabalhar com este tipo de paciente, porque é difícil mesmo, né? Muitas vezes não sei o que dizer para o paciente... Porque, afinal... Nem eu estou pronta pra aceitar a morte... Acho que a morte é um tabu e não estamos prontos pra falar sobre isso...” (E18) Neste contexto em que há necessidade de responder aos anseios da família associado ao desconforto do profissional por lidar com a morte, somam-se alguns outros fatores, como os sentimentos tristeza e pesar pela perda e rompimento de vínculos, de impotência e frustração frente ao sofrimento: “Cuidar do paciente, saber que ele está sofrendo e você não poder fazer nada para ajudá-lo, você já está fazendo tudo o que pode... Assim, você vê que não é o suficiente, que infelizmente o sofrimento dele... A melhora do sofrimento dele não depende só de você, você faz de tudo e mesmo assim ele REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 “[...] temos muitos afastamentos por questão psiquiátrica mesmo, sendo que poderia ser aliviada se nós tivéssemos um respaldo de um psicólogo, por exemplo, na unidade, assim no andar, ou a cada dois andares, não sei qual seria a melhor forma. Mas assim, que tivesse um profissional, que a pessoa tivesse a possibilidade de poder conversar, e assim ter esse apoio para poder lidar com essa situação.” (E5) “... a enfermagem é muito solitária, você trabalha com o que você acha melhor, não trabalha com o que tem de melhor. Você poderia oferecer muito mais para o paciente, só que você não tem aquele que te acolhe também. Porque você ta deprimida, você ta estressada e... Você não tem ninguém que te ajude, que te apoie... Você cuida de alguém e ninguém cuida de você... [Pausa longa]. Ninguém te ouve, o que está faltando muito é isso. Porque a gente 27 Dignidade no fim da vida – percepção de enfermeiros “... o mais importante é morrer sem dor.” (E3) também passa por estresse e também pega um pedacinho do sofrimento da pessoa... né? A gente sabe que está sofrendo, tenta ajudar... só que aquilo que você tirou dela passa pra você... e você não vê ninguém que consiga desabafar, te escutar... A vida da enfermagem está diminuindo [...], acho que a enfermagem está se aposentando antes do que deveria...” (E6). Categoria 4: Reconhecendo os elementos essenciais para prover cuidado digno na etapa final de vida. A análise dos discursos dos enfermeiros entrevistados permitiu a identificação das bases para prover dignidade ao cuidado do paciente que está vivenciando a finitude nos hospitais. Neste sentido, proporcionar conforto físico ao doente foi o aspecto apontado com maior frequência pelos profissionais para a assistência que proporcione dignidade ao fim da vida, destacando-se os cuidados com a higiene corporal, posicionamento confortável no leito e a provisão de ambiente tranquilo, conforme evidenciam a falas seguintes: “O cuidado às pessoas que são pacientes em estado terminal engloba ter um ambiente tranquilo, pra que ele não passe ou fique irritado ou cansado demais. Isso tem que ser conversado com familiares ou com próprio paciente quando tem condição, permitir o máximo que esse ambiente seja tranquilo para ele, até em relação também a luminosidade e barulho [...] Ou até posição na cama, deixá-lo de uma forma bem confortável, posicionamento na cama, coisas que levem a um conforto máximo.” (E2) “... você tem que ser mais zeloso no sentido do paciente ficar mais confortável, melhor higienizado. Nós temos que ver o lado da dignidade... Tem profissionais da enfermagem que falam “pô esse paciente ai daqui a pouco vai parar” e muitas vezes opta por não dar um banho, não aspirar de forma adequada... Eu vejo como um paciente que você tem que se possível aumentar os cuidados né? [...] Deixar ele sempre confortável, sempre pra ele ter uma dignidade.” (E12) Atrelado ao provimento de conforto físico foi destacado também destacado pelos profissionais o alívio da dor como aspecto fundamental para possibilitar cuidado digno ao paciente, como mostram os relatos: “... mas a parte principal para esses pacientes terminais é a parte de dor é ajudar ele passar por essa parte aí...” (E7) “[...] a gente tem que tentar amenizar o sofrimento do paciente, a gente continua fazendo todas as medicações precisas para que ele não consiga sentir mais esse sofrimento [...], para que ele não sinta dor.” (E8) “[...] a analgesia, é uma forma de dignidade, de livrar ele do sofrimento, às vezes é um sofrimento desnecessário.” (E12). Todos os enfermeiros, em distintos momentos da entrevista, citaram a família de alguma maneira. Conforme já apontado na categoria anterior, alguns destacaram a dificuldade em lidar com a família no que tange aos seus anseios no contexto da atenção ao fim da vida. Contudo, a maioria identificou a presença da família no cenário do cuidado como elemento fundamental para proporcionar cuidado digno ao paciente em etapa avançada de doença: “[...] pessoas que ele gosta, com um limite para que não deixe irritado ou cansado demais... O contato com pessoas que ele gosta, sejam familiares ou amigos, acompanhantes também que sejam do gosto do paciente...” (E2) “Com o familiar vindo e com a visita sendo liberada meio que fora de horário, [...] estando sempre em concordância com a família” (E3) “...é muito importante que a família esteja presente.” (E5) Por fim, a comunicação também foi apontada pelos profissionais nesta pesquisa como base para o cuidado digno ao paciente que vivencia a finitude. Ressalta-se que os enfermeiros apontaram a comunicação não apenas como transmissão de informações acerca de condições clínicas e aspectos do cuidado, mas como instrumento que embasa a relação interpessoal e possibilita formação e fortalecimento de vínculos e provisão de apoio emocional para pacientes e familiares, expresso por eles como “carinho, atenção”. As falas abaixo reproduzidas destacam a importância da comunicação no cuidado de pacientes nesta etapa avançada de adoecimento: “[...] em relação à dor, que muitas vezes é o principal que a gente verifica, seja por medicações ou proporcionar tranquilidade para ele, posicionamento na cama, coisas que levem a um conforto máximo.” (E2) 28 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 “[...] conversar com ele... A situação da humanização permanece a mesma né, tratar com mais respeito e dedicação com carinho, conversar com o paciente, explicar o que esta fazendo é extremamente importante...” (E5) “Então eu acho que tem que dar um pouco mais de atenção, carinho, mos- Zani, A. C. M.; Oliveira, T. C. de; Araújo, M. M. T. de; trar que entende, né? Que entende o que ela está passando. [...] Acho isso importante.” (E6) “[...] dar um carinho para este paciente, entendeu? Que é o último momento dele... Então se o paciente está conversando, você dá apoio, sabe... Trazer aquela coisinha escondida e dar para o paciente? [Risos]” (E9) . “Eu vejo um cuidado de enfermagem assim, de uma forma que você tem que ser muito carinhoso, zeloso né?” (E12) Discussão A amostra de enfermeiros entrevistados para esta pesquisa foi composta predominantemente por mulheres com razoável experiência profissional e tempo de atuação no contexto de atenção à pacientes em etapa avançada de doença. A fala destes profissionais evidenciou nas três primeiras categorias a potencial fragilidade do cuidado que tem sido ofertado aos pacientes no fim da vida nos hospitais. Esta potencial fragilidade pode ser denotada pela dificuldade em se considerar e expressar a própria compreensão do que seja dignidade no final da vida, assim como de identificar as necessidades individuais do paciente neste contexto. Este é um dado preocupante evidenciado pela pesquisa, pois possibilita o surgimento de questionamentos acerca da massificação do cuidado a indivíduos que, com muita frequência, não estão aptos a verbalizar suas preferências e necessidades de cunho físico, quiçá emocional e espiritual. Assim, preocupa a evidência de que os entrevistados pouco refletem sobre o cuidado no final da vida de seus pacientes e sobre a dignidade nesta etapa, ferindo direitos básicos do ser humano. Ribeiro 9 define que assim como a vida, a morte digna, sem dor e angústia, é um direito humano. A autonomia e a dignidade podem oferecer soluções e caminhos para que este direito venha a ser respeitado. Compreende-se que esta fragilidade do cuidado esteja ancorada em uma base de sofrimento emocional do profissional. O enfermeiro, por sua proximidade com o paciente no dia-a-dia, é um dos profissionais que mais sofre e sente a morte de um doente. Sente tristeza, frustração, impotência e culpa por falhas na assistência prestada. E, além que além de ter que lidar com o sofrimento e morte dos pacientes em seu cotidiano, também é solicitado a ofertar apoio e atender necessidades e anseios dos familiares que também vivenciam situações de vulnerabilidade emocional. O complexo cotidiano de trabalho com doentes em sofrimento profundo implica que o enfermeiro regule emoções, expresse sentimentos de entusiasmo, manifeste zelo, confiança, capacidade e dedicação ao trabalho, tenacidade, persistência, raciocínio analítico, capacidade relacional e de comunicação, auto-organização, autoconfiança, autocontrole, autoeficácia, curiosidade, prazer em aprender, compreensão das emoções e dos sentimentos, capacidade de decisão, de partilha e de cooperação 10. Mas como um profissional que denota vivenciar imensa sobrecarga psíquica conseguirá prestar assistência que abarque estas características descritas? Neste contexto, são comuns atitudes de afastamento por parte do enfermeiro, limitando-se por vezes a uma assistência apressada e superficial. Essa atitude se explica no sentido de defesa11, ou forma de controlar seus sentimentos e evitar o sofrimento e pode auxiliar na compreensão das causas da potencial fragilidade do cuidado ao fim da vida prestado. Para favorecer o provimento do cuidado que atente à dignidade ao final da vida é fundamental unir ao planejamento da assistência uma proposta de humanização, não como uma obrigação, mas sim como um ato de respeito e solidariedade 11. Assim, ao serem evidenciados na última categoria os elementos essenciais ao cuidado digno desvelamse subsídios que podem auxiliar os enfermeiros a implantar uma assistência de enfermagem pautada no respeito ao ser humano, sua autonomia e individualidade. Isto possibilitaria por em prática o conceito de cuidado digno ao fim da vida. Outro fator que indubitavelmente poderia auxiliar o enfermeiro no provimento de cuidado digno ao fim da vida seria melhor preparo teórico para lidar com as complexas questões que tangenciam o processo de morrer e a assistência ao final da vida. Faz-se essencial não apenas o apoio emocional ao profissional, mas também a educação permanente dos mesmos. A educação continuada, por meio de aprimoramentos, treinamentos, simpósios e aulas, pode criar espaço para a abordagem do tema morte e cuidado ao final da vida11. Isto pode proporcionar ao profissional o esclarecimento de suas preocupações e dúvidas, diminuindo seu sofrimento em relação ao desconhecido e, como consequência, maior segurança para o planejamento e implantação do cuidado 12. Conclusões e considerações finais A partir da análise de dados obtidos e considerando os objetivos proposto para a realização desta pesquisa foi possível identificar, por meio da análise das falas dos entrevistados, sua percepção sobre dignidade ao final da vida, as barreiras e elementos essenciais para que esta assistência ocorra. Assim, com base na fala dos entrevistados, foram evidenciadas quatro categorias que denotaram a superficialidade da compreensão acerca de dignidade no cuidado ao fim da vida, além da dificuldade em identificar necessidades e demandas específicas neste contexto. Também apontaram como obstáculos para o provimento do cuidado digno a necessidade de lidar com os anseios dos familiares e com a morte, a sobrecarga psíquica do enfermeiro e a falta de apoio emocional para o profissional. Como elementos fundamentais para proporcionar cuidado que possibilite dignidade ao paciente foram apontados o conforto físico e alívio da dor, a presença dos familiares no cenário de assistência e o uso de habilidades de comunicação para o estabelecimento de relacionamento empático e oferta de apoio emocional para o paciente e familiar. Para aprimorar a assistência prestada pelo enfermeiro na etapa final da vida dos pacientes faz-se necessário o investimento na capacitação dos profissionais. Para os já atuantes, cabe à educação permanente fomentar o aprimoramento teórico-prático, proporcionando a discussão sobre a temática morte e cuidados ao fim da vida sob a forma de aulas, palestras, cursos e simpósios, com o intuito atentar à formação continuada. Porém, é considerando o atual contexto de envelhecimento populacional e cronificação do processo de adoecimento e morte que se mostra urgente a formalização do preparo dos futuros enfermeiros. Poucas são as instituições de ensino de graduação que abarcam em sua grade curricular disciplinas ou aulas sobre REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 29 Dignidade no fim da vida – percepção de enfermeiros morte, processo de morrer e demais questões que tangenciam o cuidado na finitude humana. As escolas devem ter o compromisso com a formação de enfermeiros aptos a cuidar de quem está morrendo, ensinando-lhes a lidar com pacientes em situação de sofrimento e seus familiares, não só enfocando o conhecimento teórico prático visível, mas também o subjetivo vivido. Esta pesquisa apresenta fatores limitadores, como regionalização da amostra, mas espera-se que a partir desse estudo outros sejam desenvolvidos, estimulando a pesquisa e o ensino no âmbito cuidado ao final da vida. Referências 4. Kovács MJ Bioética nas questões da vida e da morte. Rev Piscol. USP. 2003; 14(2):115- 17. 5. Santana B, Batista JC. Conflitos éticos na área da saúde: como lidar com essa situação. São Paulo: Erica; 2012. 6. Pessini L. Cuidados paliativos: alguns aspectos conceituais, biográficos e éticos. Rev. Prática Hospitalar. 2005; 41(7): 107-12. 7. Carvalho MVB. O cuidar no processo de morrer na percepção das mulheres com câncer. [Tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2003. 8. Bardin, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011. 9. Ribeiro DC. Autonomia: viver a própria vida e morrer a própria morte. Cad. Saúde Pública. 2006; 22(8): 1749-54. 10. Simões RMP, Rodrigues MA. Relação de ajuda no desempenho dos 1. Shimizu HE. Como os trabalhadores de enfermagem enfrentam o processo de morrer. Rev Bras Enferm. 2007; 60 (3): 257- 262. 2. Brasil. Ministério da Saúde, DATASUS. Dados de mortalidade Brasil. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index. 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Docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade de Guarulhos. Contato: [email protected] 30 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Artigo Original Desempenho acadêmico e qualidade do relacionamento interpessoal de graduandos de enfermagem Academic performance and quality of interpersonal relationships in nursing students * ** *** **** Jéssica Pereira Trentino Ana Carolina Cavalheiro Maria Júlia Paes da Silva Ana Cláudia Puggina ARTIGO ORIGINAL Declaramos não haver conflitos de interesse. Autor correspondente: Ana Claudia Puggina Resumo Objetivo: avaliar se a percepção do desempenho acadêmico influencia a qualidade do relacionamento interpessoal dos graduandos de enfermagem. Método: Estudo descritivo quantitativo. Os participantes responderam um questionário sobre o desempenho acadêmico em três situações (auto avaliação, amigo com grau máximo de proximidade e as pessoas que não considera ser tão próximo) e o Inventário dos relacionamentos interpessoais – versão amigo. Resultados: A amostra foi de 26 alunos de enfermagem com média de idade de 23,1 anos (dp=±4,2). Os alunos referiram que costumam ter um relacionamento mais próximo de pessoas com o comportamento semelhante (n=22; 84,6%), avaliaram seu próprio desempenho acadêmico como bom (n=21; 80,8%) e avaliaram o desempenho acadêmico do seu melhor amigo como bom (n=16; 61,5%). O escore médio total das respostas dos participantes em relação ao Inventário dos Relacionamentos Interpessoais – versão amigo foi de 78,1 (dp=±9,03). Houve diferença estatisticamente significante na comparação da Dimensão Conflito com a variável proximidade mostrando mais conflitos nos relacionamentos interpessoais com pessoas semelhantes (p-valor=0,04). Conclusões: A percepção do próprio desempenho acadêmico e dos outros alunos de graduação em enfermagem parece interferir diretamente na escolha das amizades na sala de aula, pois a aproximação muitas vezes se dá pela semelhança; entretanto, o desempenho acadêmico não apareceu como um fator primordial na qualidade dos relacionamentos interpessoais. Palavras-chave: Relações Interpessoais; Percepção Social; Estudantes de Enfermagem; Enfermagem. ABSTRACT Objective: To assess whether the perception of academic performance influences the quality of the interpersonal relationship of nursing students. Method: A quantitative descriptive study. The participants answered a questionnaire about their academic performance in three situations (self-evaluation, friend with maximum degree of closeness and people who do not consider being so close) and the Inventory of Interpersonal Relationships - version friend. Results: The sample was 26 nur- sing students with a mean age of 23.1 years (SD=±4.2). Students said they usually have a closer relationship of people with similar behavior (n=22, 84.6%) rated their own academic performance as good (n=21, 80.8%) and rated the academic performance his best friend as good (n=16, 61.5%). The total mean score of participants’ responses regarding the Inventory of Interpersonal Relationships - version friend was 78.1 (SD=±9.03). There was a statistically significant difference when comparing the Dimension Conflict with proximity variable showing more conflicts in interpersonal relationships with similar people (p-value = 0.04). Conclusions: Perceived academic performance, and the other graduate students in nursing seems to directly interfere in the choice of friendships in the classroom because the approach often gives the similarity; However, academic performance did not appear as a primary factor in the quality of interpersonal relationships. Key words: Interpersonal Relations; Social Perception; Students, Nursing; Nursing. INTRODUÇÃO Interagir com outras pessoas é fundamental e inevitável em todos os contextos. O relacionamento interpessoal é caracterizado pela maneira como as pessoas interagem entre si, bem como percebem e agem perante a outra. Este está estreitamente relacionado com o autoconhecimento, pois quanto melhor uma pessoa se conhece, maior é sua habilidade de entender os outros, compreendendo que cada um possui características individuais que precisam ser respeitadas e valorizadas para que exista uma relação harmoniosa e efetiva1-2. A capacidade de conhecer a si próprio e perceber o outro são fatores importantes nas relações, pois essas pessoas conseguem estabelecer relações interpessoais mais efetivas e duradouras. Quando a pessoa se conhece verdadeiramente, consegue entender qual seria a melhor maneira de estabelecer e manter relacionamentos saudáveis, reconhecendo o outro na sua complexidade. Cada indivíduo é único, repleto de particularidades, e essas diferenças são construídas ao longo da vida, pelas experiências vivenciadas por cada um, além da influência das pessoas e do ambiente que a cercam3. Ninguém pode experimentar a mesma felicidade, sofrimento, angustia e saudades que o outro sente, porque as percepções são diferentes e o produto é único. Esta originalidade de cada um é o que dificulta a comunicação interpessoal e o esquema de relações associadas ao “conviver”, pois isso torna a comunicação subjetiva1. A comunicação verbal (mensagem, conteúdo ou informação) é um fator importante e relativamente objetivo nas relações in- REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 31 Desempenho acadêmico e qualidade do relacionamento interpessoal de graduandos de enfermagem terpessoais, no entanto, pode-se afirmar que apenas a comunicação verbal não é suficiente, pois é na comunicação não verbal que os sentimentos e intenções estão implícitos. Uma comunicação sempre terá duas partes: o conteúdo propriamente dito que é a informação em si que será transmitida e o que o indivíduo sente naquele contexto e por aquelas pessoas2. Para a enfermagem o trabalho em grupo é uma realidade vivenciada desde a graduação; por isso, é importante verificar a qualidade destas relações, garantindo estratégias positivas para atividades profissionais futuras no contexto de trabalho. Grupos podem existir em diferentes instituições, mas as verdadeiras equipes são raras. Um grupo quando se empenha em alcançar objetivos comuns e claros pode ser considerado uma equipe. Nesta, os membros têm uma comunicação efetiva, elevada interdependência na execução das atividades, são estimulados a terem opiniões divergentes, no entanto, complementares e voltadas para o crescimento mutuo, o que possibilita o alcance de resultados. O grupo está constantemente investindo em seu próprio crescimento, há respeito e cooperação, mas as ações são normalmente variadas e aleatórias4. Conflitos são inevitáveis dentro dos grupos, porém o modo como eles são enfrentados e resolvidos é o que resulta no crescimento e amadurecimento das pessoas. É importante entender que o conflito aparece quando os indivíduos não compartilham as mesmas ideias e não aceitam as ideias alheias, bem como, os comportamentos5-6. Um fator de conflito entre os estudantes pode ser a exposição e a valorização do desempenho acadêmico. Normalmente as instituições costumam avaliar o desempenho de seus alunos por meio de notas que podem variar de zero a dez. Esta maneira de avaliação pode gerar competição entre os alunos. A competição faz parte da formação de um grupo, existe em todos os âmbitos. Pode ser considerada saudável quando o indivíduo a usa para se destacar mais que o outro, mas de forma correta e ética. Em algumas ocasiões, a competição é planejada e incentivada como forma de melhorar a qualidade, crescimento e desenvolvimento dos grupos. Desta maneira, quando a competição declarada é realizada de forma honesta entre os envolvidos, pode ser considerada sadia e até mesmo eficaz4-5. Podem surgir problemas de relacionamento quando a competição ocorre de maneira negativa, com estereótipos de superioridade e inferioridade. Quando adotada de maneira equivocada, a competição pode ter consequências incontornáveis entre os envolvidos e dificilmente estes conflitos serão resolvidos. O relacionamento interpessoal pode ser totalmente comprometido podendo atrapalhar o desenvolvimento do grupo4-5. Em algumas instituições de ensino superior, melhores desempenhos acadêmicos proporcionam melhores oportunidades. Considerando estes preceitos é que surge a finalidade deste trabalho. Até que ponto o desempenho acadêmico interfere na qualidade das relações entre colegas de turma? Quais critérios e características são utilizadas nas aproximações entre os indivíduos no contexto acadêmico? OBJETIVO Avaliar se a percepção do desempenho acadêmico entre os alunos de graduação em enfermagem interfere na qualidade dos relacionamentos interpessoais deste grupo. Método Estudo original descritivo quantitativo tendo como variáveis dependentes a avaliação do desempenho acadêmico e a qualidade dos relacionamentos interpessoais, e como variáveis inde- 32 pendentes idade, sexo, ano vigente da graduação, ter ou não dependência ou exame em disciplinas, proximidade com pessoas com comportamento semelhante ou diferente. O estudo foi realizado em uma autarquia municipal de Jundiaí. A população do estudo de graduandos de enfermagem era de 30 alunos e a amostra obtida foi de 26 alunos. Os critérios de inclusão foram: (1) adultos de 18 a 60 anos e (2) graduandos de enfermagem da instituição no ano letivo de 2013. O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob o número CAAE 16979813.6.0000.5412. Foram utilizados na coleta de dados 3 instrumentos auto aplicáveis: instrumento de caracterização da amostra, instrumento de avaliação do desempenho e o Inventário dos Relacionamentos Interpessoais - versão amigo. O instrumento de caracterização da amostra continha as seguintes variáveis: idade, sexo, ano vigente da graduação, dependência em alguma disciplina, exame em alguma disciplina, proximidade com pessoas com comportamento semelhante ou diferente. No instrumento para avaliação do desempenho acadêmico, o participante avaliava-o em três situações (auto avaliação, amigo com grau máximo de proximidade e as pessoas que não considera ser tão próximo), considerando a seguinte variação: ótimo, bom, razoável ou ruim. Neste questionário o participante também deveria responder de maneira descritiva e livre quais características o fizeram ser ter mais proximidade com o colega e quais características o distanciam daqueles não ser tão próximos. O Inventário dos Relacionamentos Interpessoais - versão amigo tem por finalidade avaliar a percepção do suporte, do conflito e da profundidade sentida pelo indivíduo em relação a um determinado apoiante, é composto por 24 itens distribuídos por 3 fatores: Suporte, Conflito e Profundidade. Os itens serão respondidos com uma escala tipo Likert com quatro pontos: (1) Nunca ou Nada, (2) Poucas vezes ou pouco, (3) Bastante vezes ou bastante, (4) Sempre ou Muito7. Foram realizadas análise descritiva (média, desvio-padrão e mediana) e análise comparativa por meio de testes estatísticos. A probabilidade de erro adotada nos testes foi de p<0,05 e o software utilizado para análise o SAS versão 9.2. A avaliação da consistência interna do questionário foi mensurada por meio do coeficiente alpha de Cronbach. A avaliação dos domínios do questionário segundo as variáveis independentes foi realizada por meio dos testes de Mann-Whitney (quando avaliada em duas categorias) e Kruskal-Wallis (para avaliação em 3 ou mais categorias), pois os domínios não apresentaram distribuição normal (avaliação não apresentada, realizada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov). Resultados Para a amostra selecionada neste estudo, o coeficiente de consistência e validade interna do Inventário dos Relacionamentos Interpessoais – versão amigo apresentou uma confiabilidade moderada (0,640), ou seja, quando o Alfa de Cronbach está entre 0,60 a 0,758. O Alfa de Cronbach foi de 0,829 na dimensão Suporte, 0,858 na dimensão Conflito e 0,745 na dimensão Profundidade. A amostra total foi de 26 alunos de enfermagem com média de idade de 23,1 anos (dp=±4,2), quantidade média de exames 2,9 (dp=±2,2), composta na maioria por mulheres (n=21; 80,8%), alunos sem dependência em disciplinas até o momento da coleta de dados (n=23; 88,5%), alunos com histórico de exa- REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 Trentino, J. P.; Cavalheiro, A. C.; Silva, M. J. P. da; Puggina, A. C. mes nas disciplinas cursadas (n=22; 84,6%). Os alunos cursavam predominantemente o 3° ano letivo (n=12; 46,2%), em seguida o 2° ano (n=10; 38,5%) e o 4° ano letivo do curso de enfermagem (n=4; 15,4%) (Tabela 1). Em relação aos relacionamentos e proximidade, os alunos referiram que costumam ter um relacionamento mais próximo de pessoas com o comportamento semelhante (n=22; 84,6%), avaliaram seu próprio desempenho acadêmico como bom (n=21; 80,8%) e avaliaram o desempenho acadêmico do seu melhor amigo como bom (n=16; 61,5%). Na avaliação do desempenho das pessoas com menos proximidade, não houve maioria, metade dos participantes avaliaram as pessoas com menos proximidade da sala de aula com bom desempenho (n=13; 50%), seguido por frequências mais baixas de avaliações como razoável (n=8; 30,8%), ótimo (n=4; 15,4%) e ruim (n=1; 3,8%) (Tabela 1). Tabela 1 – Descrição das características da amostra estudada. Jundiaí, 2013. Não 4 15,4% Semelhante 22 84,6% Diferente 4 15,4% Ruim 1 3,8% Razoável 2 7,7% Bom 21 80,8% Ótimo 2 7,7% Bom 16 61,5% Ótimo 10 38,5% Proximidade Auto - avaliação Avaliação do amigo com maior proximidade Avaliação da pessoa com menos proximidade N % Ruim 1 3,8% Feminino 21 80,8% Razoável 8 30,8% Masculino 5 19,2% Bom 13 50,0% Ótimo 4 15,4% 2° 10 38,5% 3° 12 46,2% 4° 4 15,4% Sim 3 11,5% Não 23 88,5% Sexo Ano Dependência Exame Sim Dimensão 22 84,6% O escore médio total das respostas dos participantes em relação ao Inventário dos Relacionamentos Interpessoais – versão amigo foi de 78,1 (dp=±9,03), acima da média aritmética do instrumento (24+96/2=60), apresentando uma boa percepção do suporte, conflito e profundidade em relação a um determinado colega de classe (Tabela 2). Tabela 2 – Descrição das dimensões avaliadas e do escore total da amostra ao Inventário dos Relacionamentos Interpessoais – versão amigo. Jundiaí, 2013. N° de itens Variação do escore Média Desvio-padrão Mediana Suporte 7 7-28 24,5 3,2 25,0 Conflito 11 11-44 36,1 5,5 37,0 Profundidade 6 6-24 17,5 3,1 18,0 Escore total 24 78,1 9,03 80 24-96 Em relação a análise descritiva das respostas dos participantes em relação ao Inventário dos Relacionamentos Interpessoais – versão amigo, pode-se observar na dimensão Suporte maiores frequências de respostas “sempre ou muito” nas questões 2 (n=18; 69,2%), 4 (n=19; 73,1%) e 17 (n=16; 61,5%) mostrando que sempre o participante pode contar com o amigo para o ajuda-lo a resolver algum problema, para lhe dar uma opinião honesta e ouvi-lo quando estiver bastante zangado com outra pessoa (Tabela 3). Na dimensão Conflito houve predominância das res- postas “nunca ou nada” nas questões 3 (n=17;65,4%), 22 (n=19;73,1%) e 23 (n=18;69,2%) mostrando que nunca o amigo os chateia, os faz sentir zangado e tenta controlar ou influenciar sua vida (Tabela 3). Na dimensão Profundidade, as maiores frequências relativas foram apresentadas na resposta “sempre ou muito” na questão 10 (n=14;53,8%) e “poucas vezes ou pouco” na questão 16 (n=13;50%) mostrando que apesar do participante considerar este relacionamento com o amigo de sala muito importante, metade dos participantes relataram depender pouco desta relação (Tabela 3). REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 33 Desempenho acadêmico e qualidade do relacionamento interpessoal de graduandos de enfermagem Profundidade Conflito Suporte Dimensão Tabela 3 – Análise descritiva das respostas dos participantes ao Inventário dos Relacionamentos Interpessoais – versão amigo. Jundiaí, 2013. Poucas vezes ou pouco Nunca ou nada Questões N % N Bastante vezes ou bastante % N % Sempre ou muito N % 1 0 0 2 7,7 12 46,2 12 46,2 2 0 0 0 0,0 8 30,8 18 69,2 4 0 0 1 3,8 6 23,1 19 73,1 7 0 0 5 19,2 6 23,1 15 57,7 14 0 0 5 19,2 6 23,1 15 57,7 17 0 0 2 7,7 8 30,8 16 61,5 21 1 4 0 0,0 11 42,3 14 53,8 3 17 65,4 6 23,1 3 11,5 0 0 5 13 50,0 10 38,5 2 7,7 0 0 6 8 30,8 13 50,0 3 11,5 1 4 8 13 50,0 8 30,8 5 19,2 0 0 13 3 11,5 8 30,8 9 34,6 6 23 18 15 57,7 9 34,6 2 7,7 0 0 19 15 57,7 8 30,8 1 3,8 2 8 20 15 57,7 8 30,8 3 11,5 0 0 22 19 73,1 4 15,4 2 7,7 1 4 23 18 69,2 3 11,5 5 19,2 0 0 24 8 30,8 15 57,7 3 11,5 0 0 9 0 0 4 15,4 9 34,6 12 46,2 10 1 4 2 7,7 9 34,6 14 53,8 11 1 4 7 26,9 8 30,8 10 38,5 12 1 4 3 11,5 12 46,2 10 38,5 15 0 0 10 38,5 12 46,2 4 15,4 16 8 31 13 50,0 4 15,4 1 3,8 Nota: Número total de respostas em cada questão=26 (100%). Comparando-se as características da amostra com as respostas dos participantes em cada uma das dimensões (Suporte, Conflito e Profundidade), encontrou-se diferença estatisticamente significante na Dimensão Conflito em relação a tendência do indivíduo se tornar mais próximo de pessoas com comportamentos semelhantes ou diferentes do seu (p-valor=0,04). O dado aponta mais conflitos nos relacionamentos interpessoais com pessoas semelhantes. Não houveram diferenças estatisticamente significativas na comparação entre as características da amostra e as dimensões Suporte e Profundidade. As características mencionadas que aproximam o participante de um amigo de turma foram agrupadas em três categorias: características de alegria e positivismo, características relacionais importantes na manutenção de relacionamentos mais verdadeiros e características relacionadas ao envolvimento com a faculdade. Foi valorizado o amigo carismático, simpático, divertido, extrovertido, companheiro, sincero, com afinidade, empático, comprometido e responsável (Tabela 4). 34 Tabela 4 – Descrição e agrupamento das características que aproximam o participante de um amigo de sua turma. Jundiaí, 2013. Características que aproximam o participante de um amigo de sua turma Características de alegria e positivismo 22 Carismático (n=7), Simpático (n=4), Divertido (n=3), Extrovertido (n=2), Alegre (n=1), Legal (n=1), Brincalhão (n=1), Engraçado (n=1), Otimista (n=1), Aventureiro (n=1). Características relacionais importantes na manutenção de relacionamentos mais verdadeiros REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 18 Trentino, J. P.; Cavalheiro, A. C.; Silva, M. J. P. da; Puggina, A. C. Companheiro (n=5), Sincero (n=3), com afinidade (n=2), Empático (n=2), Leal (n=1), Amigo (n=1), Atencioso (n=1), Afetuoso (n=1), Humilde (n=1) Espontâneo (n=1). Características relacionadas ao envolvimento com a faculdade 9 Comprometido (n=3), Responsável (n=2), Profissional (n=1), Inteligente (n=1), Educado (n=1), Organizado (n=1). Total 49* Nota: o número de características é maior que a amostra pois os participantes relataram mais de uma característica. As características mencionadas que afastam o participante de uma pessoa da turma também foram agrupadas em três categorias: características relacionais negativas que geram conflitos e atrapalham as relações, características relacionadas ao envolvimento com a faculdade e características relacionadas a aproximação e afinidade. Os participantes mantiveram-se afastados de pessoas julgadas como egoístas, arrogantes, irresponsáveis, descomprometidos e com quem eles não tinham afinidades (Tabela 5). Tabela 5 – Descrição e agrupamento das características que afastam o participante de uma pessoa da sua turma. Jundiaí, 2013. Características que afastam o participante de uma pessoa da sua turma Características relacionais negativas que geram conflitos e atrapalham as relações Total 13 Egoísta (n=4), Arrogante (n=2), Falta de humildade (n=1), Exibicionista (n=1), Ignorante (n=1), Falta de consideração (n=1), Individualista (n=1), Falante (n=1), Prolixo (n=1). Características relacionadas ao envolvimento com a faculdade 8 Irresponsável (n=3), Descomprometido (n=2), Falta de objetividade (n=1), Relapso (n=1), Distraído (n=1). Características relacionadas a aproximação e afinidade 7 Falta de afinidade (n=2), Falta de intimidade (n=1), Falta de proximidade (n=1), Falta de comunicação (n=1), Falta de interação (n=1), Interesses diferentes (n=1). Total 28* Nota: o número de características é maior que a amostra pois os participantes relataram mais de uma característica. No questionário de coleta de dados, para citação das características que afastam ou aproximam o participante de uma pessoa da sua turma, foi deixado em aberto quatro espaços para cada uma das situações e os resultados obtidos mostraram uma maior facilidade do participante em relatar aspectos positivos e que o aproximam de um colega de turma em detrimento dos negativos e que os afastam. Discussão Para compreender a qualidade de um relacionamento inter- pessoal específico é importante conhecer o grau de satisfação dos indivíduos7. Uma pesquisa realizada com 116 universitários de Belo Horizonte e com 116 de Porto Alegre teve como objetivo analisar a relação entre as variáveis amizade e bem-estar subjetivo. Os participantes responderam aos Questionários McGill de Amizade, escalas PANAS e Escala de Satisfação de Vida. As mulheres mostraram mais satisfação e mais sentimentos positivos com a melhor amizade; a amostra mineira indicou mais sentimentos negativos; a satisfação com a amizade correlacionou positivamente com satisfação de vida e afetos positivos, mas não predisse satisfação de vida. Há uma relação próxima, mas não causal, entre bem-estar subjetivo e amizade9. Amizade é, tão somente, a textura do “tecido relacional” de um tempo, em que pesem as capturas e as liberdades que nele se encontram. Nessa relação, os indivíduos vivem pelas suas diferenças, não são espelhos para os outros em uma identidade coletiva ou ideal. Não se deve buscar encontrar no amigo um reforço para sua identidade, mas, pelo contrário, material para transformação e criação de si. Por isso, entende-se amizade, em primeiro lugar, como o campo de relações em que as pessoas se constituem e se constroem10. Essa visão de amizade atribui a ela, um importante poder transformador e desafiante, principalmente por ela ocorrer entre pessoas com conceitos e experiências próprias. As diferenças são mais facilmente amenizadas entre pessoas próximas. Pessoas conseguem relacionar-se melhor com outras quando a predominância e a ênfase estão baseadas na redução das diferenças, das percepções e na busca incessante do entendimento do outro. Como aconteceu no presente trabalho. Instituições de ensino e ambiente de sala de aula tendem unir pessoas diferentes em torno de um objetivo comum, sendo relativamente normal nesse contexto o aparecimento de conflitos de diferentes origens, tipos e magnitudes. Conflitos interpessoais são os que causam mais alteração na dinâmica do ambiente, por causar tensão, instabilidade e, até, falta de cooperação entre os envolvidos11. Diferenças como valores, crenças, atitudes, sexo, idade e experiências podem causar situações inevitáveis de conflito dentro dos relacionamentos. Conflito pode ser definido como um processo em que uma das partes envolvidas percebe que a outra parte frustrou ou irá frustrar seus interesses. Ele sempre irá existir, porque o ser humano é caracteristicamente dinâmico em relação às suas emoções. No entanto, conflitos também podem ser vistos como algo positivo, pois são fontes de novas ideias, podendo levar a discussões abertas sobre determinados assuntos, permitindo a expressão e exploração de diferentes pontos de vista, interesses e valores12. O desempenho acadêmico pode ser um fator de conflito ou motivo de aproximação. Um estudo realizado com 848 adolescentes de diferentes escolas de Portugal levantou dados sobre o estilo de vida e dados sociodemográficos dos alunos. Os resultados mostraram que alunos sem dificuldades de aprendizagem relataram maior aceitação pelos pares, apresentaram mais habilidades assertivas e menos problemas de comportamento; além disso, alunos do sexo masculino relataram maior aceitação pelos pares e, maior tendência a apresentar dificuldades de aprendizagem do que no sexo feminino13. Um estudo realizado com 826 alunos teve como objetivo investigar a existência de associação entre elementos atributivos comuns na literatura e o desempenho acadêmico de alunos da graduação em ciências contábeis de quatro universidades. Constatou-se que 68% dos alunos que consideram seu desempenho acadêmico superior o atribuem ao seu próprio esforço, enquanto menos de 10% o relacionam a causas externas. Daqueles que avaliaram seu desempenho acadêmico como inferior, quase 24% relacionam esse fracasso a causas externas (família, pro- REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 35 Desempenho acadêmico e qualidade do relacionamento interpessoal de graduandos de enfermagem vas, colegas e professores)14. Sendo assim, um bom desempenho acadêmico foi mais atribuído a causas internas, em congruência ao encontrado no presente estudo em que os participantes não mostraram relações de dependência com os colegas de classe. Os relacionamentos interpessoais neste grupo foram entre pessoas com comportamento e desempenho acadêmico semelhantes. Uma pesquisa realizada com 207 alunos universitários, sendo 88 do curso de Administração (42,51%) e 119 de cursos da área da Saúde (57,49%), teve por objetivo identificar a existência ou não de relação entre a racionalidade das escolhas e o desempenho acadêmico dos discentes. Realizar escolhas racionais consiste em conferir o mesmo peso a cenários distintos, ou seja, avaliar uniformemente as probabilidades em situações de ganhos e perdas. O desempenho acadêmico apresentou relação direta com a racionalidade de escolhas. Os discentes com desempenho acadêmico superior realizaram escolhas mais racionais que os estudantes com desempenho acadêmico inferior, mostrando-se, dessa forma, menos susceptíveis à influência dos vieses cognitivos15. Mesmo não agindo de maneira totalmente racional, reconhecer a forma normativa da racionalidade e influenciar suas próprias ações, pode ser uma importante habilidade para se adaptar melhor a um contexto e ter menos conflitos interpessoais. Quando os participantes mencionaram características que o aproximaram ou o distanciaram de determinados colegas de classe, isso foi uma forma de racionalizar a escolha e demostrou clareza em relação a aspectos positivos e negativos que podem influenciar no bem-estar dos relacionamentos. O bem-estar interpessoal no ambiente de sala de aula pode ser considerado um desafio do ensino superior, pois dele depende a motivação do aluno para cumprir suas obrigações acadêmicas de forma adequada, prazerosa e cooperativa. Cabe aos educadores universitários tomarem consciência da complexa relação entre indivíduo (com seus desejos, angústias e ideais), educação (conteúdo científico e acadêmico), sociedade (com seus problemas e desafios)16, bem como, comunicação e relacionamento interpessoal dentro dos grupos. A educação tem um papel fundamental que não pode ser negligenciado: ajudar o indivíduo a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um compreenda melhor a si mesmo. O indivíduo define-se em relação ao outro, aos outros e aos vários grupos a que pertence segundo modalidades dinâmicas. A descoberta da multiplicidade dessas relações leva à busca de valores comuns e maior aceitação das diferenças17. nos proximidade, a resposta foi mais variada. Metade dos participantes avaliaram as pessoas com menos proximidade da sala de aula com bom desempenho, seguido respectivamente pelas avaliações razoável, ótimo e ruim. Os alunos apresentaram boa qualidade nos relacionamentos interpessoais com o colega de sala em relação ao Suporte, Conflito e Profundidade nas relações. Foi valorizado o amigo carismático, simpático, divertido, extrovertido, companheiro, sincero, com afinidade, empático, comprometido e responsável. Referências 1. Antunes C. Relações interpessoais e autoestima: a sala de aula como um espaço do crescimento integral. 9ª ed. São Paulo: Vozes; 2012. 2. Silva MJP. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. 8° ed. São Paulo: Loyola; 2012. 3. Moscovici F. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupo. Rio de Janeiro: José Olympio; 2011. 4. Carlos J. Definições de relacionamentos interpessoais. Revista Intellectus. 2012;8(20):99-105. 5. Moscovici F, Crespo AV, Castello FG, Oliveira GA. 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Apesar da maioria dos alunos avaliarem como bom tanto seu próprio desempenho acadêmico quanto o do seu melhor amigo, na avaliação do desempenho acadêmico das pessoas com me- o ruim é seu: perspectivas da teoria da atribuição sobre o desempenho acadêmico de alunos da graduação em Ciências Contábeis. Rev Contab Finanç. 2010;21(53):1-24. 15. Soares HFG, Barbedo CHS. Desempenho acadêmico e a Teoria do Prospecto: estudo empírico sobre comportamento decisório. Rev Adm Contemp. 2013;17(1):64-82. 16. Guindani ER. O ensino universitário na perspectiva da complexidade: uma abordagem moriniana. Revista de Educação PUC-Campinas. 2006;(21):133-40. 17. Delors J. Educação: um tesouro a descobrir? 3ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC: UNESCO; 1999. NOTA * Aluna de graduação em Enfermagem. Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil. Bolsista PIBIC 2013-2014. E-mail: [email protected] * Aluna de graduação em Enfermagem. Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil. E-mail: [email protected] * Enfermeira. Professora Titular. Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] * Enfermeira. Professora Doutora. Universidade Guarulhos, Guarulhos, SP, Brasil. Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 36 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 37 38 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2014; 69 39