Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências TUBERCULOSE UMA CONVERSA NECESSÁRIA ENTRE SAÚDE, AMBIENTE E EDUCAÇÃO GIUSEPPE FRANCESCO ANTONIO DONATO JUNIOR Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências do campus Nilópolis do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Giselle Rôças NILÓPOLIS 2011 I Donato Junior, Giuseppe Francesco Antonio Tuberculose uma conversa necessária entre Saúde, Ambiente e Educação [Nilópolis] 2011. xiii 107 p. 29,7 cm (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente/IFRJ, M.Sc., Ensino,2011) Dissertação – Instituto Federal do Rio de Janeiro. PROPEC 1. Ensino 2. Ensino de Ciências 3. Educação em Saúde 4. Tuberculose I. PROPEC/IFRJ. II. Tuberculose uma conversa necessária entre Saúde, Ambiente e Educação II Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências TUBERCULOSE UMA CONVERSA NECESSÁRIA ENTRE SAÚDE, AMBIENTE E EDUCAÇÃO GIUSEPPE FRANCESCO ANTONIO DONATO JUNIOR Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências do campus Nilópolis do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. Aprovada em 13 de abril de 2011 Nenhuma entrada de sumário foi encontrada. Banca Examinadora ____________________________________ Prof.ª Dr.ª Giselle Rôças – Presidente da Banca Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro ____________________________________ Prof. Dr. – Rodrigo Siqueira-Batista Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Universidade Federal de Viçosa ____________________________________ Prof.ª Dr.ª– Isabel Martins Universidade Federal do Rio de Janeiro NILÓPOLIS 2011 III Aos meus pais, que sempre me incentivaram, demonstrando que a maior riqueza de um homem é a educação. IV AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, presença constante em todos os momentos da minha vida. À amiga e orientadora Prof.ª Dr.ª Giselle Rôças pelo carinho, dedicação e orientação, fatores fundamentais para a construção dessa dissertação. Aos amigos Prof.ª Dr.ª Maylta Brandão dos Anjos, Prof.º Dr.º Rodrigo Siqueira Batista e Prof.º Dr.º Alexandre Maia Bonfim pelo apoio e ensinamentos. Agradeço à minha família, especialmente, minha companheira Lourdes de Fátima dos Santos Donato e minha filha Anna Luiza dos Santos Donato por compreender todos os momentos em que estive ausente, e pelo carinho, e pelas palavras de incentivo e força nos momentos mais cruciais. Aos meus irmãos e sobrinhos, pelo incentivo e otimismo. Aos amigos do curso de mestrado do IFRJ, em especial a Maria Teresa Lobianco Rocha, com quem aprendi muito sobre a educação e a arte de ensinar. Aos professores do PROPEC pela dedicação e incentivo. As Diretoras participaram das escolas voluntariamente da e aos alunos pesquisa, sem que os V quais esse trabalho seria possível. Aos amigos PMERJ,com da quem Diretoria compartilhei geral de momentos Saúde da difíceis da minha jornada. Aos amigos do Hospital Municipal Rocha Maia, em especial a Solange, pelo seu incentivo diário. As amigas Ana Jackeline, Márcia e Ilana, pelos conselhos e pela valiosa amizade. A Thelma e Irlan do Centro de Referência Professor Hélio Fraga/CRPHF. A Profº Tiago e aos alunos do Curso de Produção Cultural, em especial ao aluno Ricardo, pelo auxílio na construção do vídeo educativo. E finalmente a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desse trabalho. VI Toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é aceita como evidente por si mesma. Arthur Schopenhauer VII RESUMO A tuberculose representou e ainda representa um desafio a ser superado em vários países do mundo, principalmente no Brasil, que apesar de todos os esforços, mantém-se na 14ª posição entre os países de maior incidência da doença, sendo o único representante da América Latina, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Dentre as medidas utilizadas pelo Ministério da Saúde para combater a doença estão a informação e a conscientização da população da importância da doença e reconhecimento de seus sintomas. As informações são veiculadas principalmente através da televisão, que representa o maior veículo midiático da atualidade, de campanhas nacionais e pela internet. A escola, no cenário social, representa o local, formal, onde se congrega o maior número de indivíduos e onde os problemas sociais e as ações em saúde poderiam e deveriam ser trabalhadas e contextualizadas com a realidade onde a escola está inserida, promovendo a participação da comunidade local. Assim, dada a importância do tema para a sociedade, esse trabalho procurou identificar junto aos alunos do ensino médio de duas escolas públicas situadas no município de Nilópolis, sede do Instituto Federal do Rio de Janeiro, o que eles conheciam a respeito da doença, já que este tema faz parte da grade curricular do ensino fundamental. A pesquisa também se estendeu aos professores de biologia e química permitindo conhecer alguns pontos relacionados ao seu perfil, no que tange sua formação e prática de ensino. Seguindo os preceitos metodológicos que embasaram a pesquisa o estudo foi classificado como qualiquantitativo. Os dados foram coletados através da aplicação de questionário composto por perguntas fechadas e abertas. Participaram da pesquisa 221 alunos e nove professores. O resultado da análise dos dados coletados confirmou o que já havia sido identificado em reunião realizada com as direções das unidades de ensino: não há prática de discussão de temas relacionados à educação em saúde, fato confirmado durante as palestras com os alunos. Existe, portanto, um campo de oportunidades para que a educação e a saúde trabalhem a dinâmica da educação em saúde com os mais diversos segmentos do ensino, o que certamente representará um grande aliado para o Brasil atingir as metas propostas para o combate a doença. Palavras-chave: Educação em Saúde; Ensino de Ciências; Produção de Material Didático; Temas transversais; Tuberculose. VIII ABSTRACT Tuberculosis has represented, and still represents, a challenge to be overcome in many countries. According to the World Health Organization (WHO) Brazil ranks 14th among the countries with highest incidence of tuberculosis and is the only Latin American country to fall into this category. Some of the measures used by Brazil’s Department of Health to combat tuberculosis include bringing greater awareness to the population about the importance of the disease and educating them on the ability to recognize its symptoms. Awareness of the disease is mainly communicated via television, which represents the largest media vehicle and also via national advertising campaigns and the internet. The school from a social perspective represents a formal location with a high number of individuals and where social problems and health-related actions could and should be contextualized within the school’s external environment, thereby creating an incentive for the local community. Due to the social relevance of this topic, the focus of this research was to identify the level of knowledge of tuberculosis possessed by the high school students from two public schools located in Nilopolis, headquarters of the Federal Institution of Rio de Janeiro, as this topic is part of the curriculum. The research also included interviewing Bioology and Chemistry teachers, allowing the researchers to learn more about the teacher’s educational background and their teaching habits. Both qualitative and quantative methodologies were used in this study. Data was collected using questionnaires that included both open-and closed-ended questions. A total of 221 students and 9 teachers participated in this study. Analysis of the data confirmed what had been previously identified in meetings with the school’s board: there isn’t an established practice in place that discusses themes related to health education. However, there is a broad range of opportunities to work the dynamics of educaton within the health-related field that would strongly aid Brazil to reach its proposed goals in combating tuberculosis. Keywords: health education; science education; transversal themes; tuberculosis. production scholastic material; IX LISTA DE ILUSTRAÇÃO (TABELAS, FIGURAS, QUADROS, GRÁFICOS E ANEXOS) LISTA DE FIGURAS Figura 1: Divisão da região metropolitana I............................................................................46 Figura 2: Nome da vacina utilizada infância para prevenir as formas graves da doença...................................................................................................................................59 Figura 3: Necessidade de afastamento do convívio social...................................................66 Figura 4: Tempo de formação para o magistério dos professores entrevistados..................68 Figura 5: Tempo de atuação como professor de ciências.....................................................69 Figura 6: Tempo de atuação nas escolas envolvidas na pesquisa........................................69 Figura 7: Como você aborda a temática saúde e ambiente..................................................73 Figura 8: A tuberculose já foi tema de suas aulas?..............................................................74 Figura 9: Resumo Histórico sobre a Tuberculose no Brasil.................................................97 X LISTA DE TABELAS Tabela 1: Área e Dados Populacionais dos Municípios do RJ.............................................47 Tabela 2: Indicadores de Atenção Básica no Pacto pela Vida.............................................48 Tabela 3: Descrição das fontes utilizadas na busca de informações sobre a tuberculose....57 Tabela 4: Identificação pelos alunos do agente etiológico causador da tuberculose ..........58 Tabela 5: Manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes portadores de tuberculose.62 Tabela 6: Descrição do exame comumente utilizado para o diagnóstico da tuberculose....63 Tabela 7: Fatores predisponentes associados à tuberculose.................................................64 Tabela 8: Tuberculose – Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação........................................................................................................65 Tabela 9: Além do livro didático quais outros instrumentos você utiliza............................71 Tabela 10: Quais as dificuldades que você encontra no ensino de ciências.........................72 Tabela 11: Em caso afirmativo, como ela surgiu em sua sala de aula.................................75 Tabela 12: Onde você buscou material para subsidiar a sua aula........................................75 XI SUMÁRIO INTRODUÇÃO __________________________________________________________1 CAPÍTULO I – UM OLHAR SOBRE SUA HISTÓRIA (DOENÇA) _______________11 1.1 A tuberculose ao longo da história e suas características _______________________11 1.2 A tuberculose no Brasil e sua representação nos campos histórico, social, político e epidemiológico _______________________________________________________17 CAPÍTULO II – A ESCOLA PARA A SOCIEDADE E A SOCIEDADE PARA A ESCOLA: A INSERÇÃO DA ESCOLA NO MOVIMENTO DE COMBATE A TUBERCULOSE ________________________________________________________29 2.1 O Ensino, a Escola e a Educação Popular – os pilares das transformações sociais ___30 2.2 A história em quadrinhos, uma ferramenta capaz de divertir e divulgar informações em saúde __________________________________________________________________42 CAPÍTULO III – TRILHANDO O CAMINHO DA PESQUISA___________________46 3.1 História, contextualização e caracterização do local __________________________46 3.2 Sujeitos da Pesquisa___________________________________________________49 3.2 Classificação da Pesquisa_______________________________________________51 3.3 Instrumento de coleta e análise dos dados __________________________________53 3.4 Análise dos dados, interpretação e resultados _______________________________55 CAPÍTULO IV – UM NOVO OLHAR SOBRE A TUBERCULOSE, A MISTURA DA VISÃO POPULAR E DA VISÃO ACADÊMICA – O QUE A POPULAÇÃO SABE? O QUE A POPULAÇÃO QUER SABER _______________________________________76 CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________________81 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________84 ANEXOS Anexo 1 – Memorando de aprovação da pesquisa Anexo 2 – Questionário de pesquisa sobre o ensino de ciências Anexo 3 – Questionário de pesquisa sobre formação e dificuldades do professor de ciências Anexo 4 – Quadro histórico da evolução da doença no país Anexo 5 – Fotos da palestra nas escolas e da premiação do aluno que confeccionou a história em quadrinhos e do professor que orientou na construção Anexo 6 – A história em quadrinhos criada pelo aluno XII Anexo 7 – O vídeo “Tuberculose: previna-se” (produto educacional) XIII 1 INTRODUÇÃO Oh! Desespero das pessoas tísicas, Adivinhando o frio que há nas lousas, Maior felicidade é a destas cousas Submetidas apenas às leis físicas! (AUGUSTO DOS ANJOS - OS DOENTES) A tuberculose, apesar de ser uma doença conhecida e curável com o tratamento, continua representando uma das patologias de maior importância no cenário mundial (BARREIRA & GRANGEIRO, 2007). Desde 1993, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a tuberculose como uma doença que atinge a humanidade de forma crítica (HIJJAR, 2005). Houve uma exacerbação do número de casos devido ao surto de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), disparidade nas condições socioeconômicas da população e na precariedade das condições de habitação, mesmo nos países centrais, onde se supunha que a doença estava controlada desde o início da década de 90 (KRITSKI et al, 2007). Precipitadamente, imaginou-se que o avanço da tecnologia em saúde seria a solução para o fim das patologias infecto-contagiosas no cenário mundial, porém, tal pensamento mostrou-se contraditório (RUFFINO-NETTO, 2001). A tuberculose, similar à cólera, apresenta-se como uma doença em que o binômio “saúde-doença” está intimamente associado ao crescimento de uma sociedade, tendo, pois, vínculos estreitos aos relacionados às dimensões sociais (VICENTIM, SANTO & CARVALHO, 2002). Segundo Sánchez & Bertolozzi, 2004: 2 Os estudos sobre tuberculose mostram que o padrão de ocorrência da doença está relacionado fundamentalmente aos determinantes sociais, estruturados nos modos de produção e reprodução da sociedade. Nos últimos tempos, a situação da doença vem se agravando, tanto em relação ao adoecimento como no que se refere ao numero de mortes, em decorrência de certas políticas que vêm sendo adotadas, principalmente nos denominados países subdesenvolvidos, os quais têm produzido importantes desníveis sociais (p. 18). No Brasil, a tuberculose não pode ser considerada com características epidemiológicas de uma nova doença e nem com aspecto recrudescente, pois sempre esteve presente em nosso país (RUFFINO-NETO, 2002). Conforme o 13° relatório publicado pela OMS (2009), 9,27 milhões de novos casos de tuberculose ocorreram em 2007 (139 por 100 mil habitantes), comparativamente com 9,24 milhões de novos casos (140 por 100 mil habitantes) em 2006. Ásia e África respondem por 84% dos casos. Do total de casos informados em 2007, 1,37 milhões (15%) eram pacientes infectados pelo HIV, dos quais 79% diagnosticados na África e 11% na região do Sudeste Asiático. Calcula-se que 1,32 milhões de pessoas HIV-negativos (19,7 por 100 mil habitantes) morreram de tuberculose em 2007, acrescido de 456 mil mortes por tuberculose entre pessoas infectados pelo HIV. Entre os 22 países que merecem destaque, o Brasil, único representante da América Latina, saiu da 10ª posição em 1998 para assumir a 14ª com uma incidência de 48 por 100 mil habitantes (OMS, 2009). A Organização Mundial de Saúde (OMS) acompanha a epidemia da tuberculose e o avanço no controle da doença desde 1997. O monitoramento inclui dados estimados da incidência de tuberculose, da prevalência e 3 mortalidade; análise dos casos notificados e os efeitos do tratamento em aproximadamente 200 (de 212) países e territórios. Os dados enviados são avaliados quanto aos aspectos de diagnóstico e tratamento e comparados às metas globais preestabelecidas pela Assembléia Mundial da Saúde (AMS) em 1991. Outros parâmetros também são avaliados pela Organização Mundial de Saúde no que tange à evolução dos países na busca pelo controle da incidência, prevalência e mortalidade, conforme meta estabelecida para 2015 no quadro dos Objetivos do Milênio1 (ODM) e através de ações norteadas pelo Stop TB Partnership2 (OMS, 2009). Postulam-se várias causas para o Brasil ocupar esta posição no ranking mundial. A certeza equivocada de a doença não mais achar-se presente e estar epidemiologicamente controlada fez com que as autoridades de saúde negligenciassem a importância de seu controle. O impacto dos condicionantes socioeconômicos marcou-se mais acentuadamente no final dos anos 60, pois, devido a mudanças na forma de trabalho na zona rural, decorreu uma migração desta população para os centros urbanos, onde devido ao movimento de urbanização desordenado passaram a viver nas periferias sem acesso ao 1 O Desenvolvimento do Milênio (ODM) constitui o conjunto de oito acordos estabelecidos pelos 191 países representados nas Nações Unidas em reunião da Cúpula do Milênio, realizada em Nova York em setembro de 2000, tendo por objetivo: erradicar a pobreza extrema e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorara a saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. 2 A Stop TB Strategy, lançada pela OMS em 2006 estabelece as principais intervenções que devem ser implementadas para alcançar os ODM, Stop TB Partnership e WHA metas. Estas estão divididas em seis grandes componentes: (1) prosseguir alta qualidade DOTS expansão e valorização, (1) Resposta TB/HIV, MDR-TB e as necessidades dos pobres e vulneráveis populações; (3) contribuir para a saúde do sistema de reforço baseado em cuidados primários de saúde, (4) envolver todos os prestadores de cuidados; (5) proporcionar às pessoas com tuberculose, e as comunidades, através parceria, e (6) permitir e promover a investigação 4 mercado formal de trabalho e a tratamento de saúde (RUFFINO-NETTO & SOUZA, 1999). Destacam-se entre as condições socioeconômicas que aumentam o risco da doença as grandes aglomerações populacionais, as más condições de habitação, a falta de saneamento básico, o nível de educação, trabalho, sistema de saúde e alimentação. O etilismo e o tabagismo também estão associados ao aumento na incidência da doença (TURCO, 2008). Siqueira-Batista et al (2006) descrevem o número de óbitos devido à tuberculose no Brasil em torno de 5 mil ao ano, enfatizando os dados alarmantes do Rio de Janeiro, estado que exibe as maiores taxas de incidência e mortalidade do país: 98,8/100.000 e 6,25/100.000 respectivamente. Nesse cenário alarmante, é fundamental a conscientização e participação de todos os segmentos da sociedade, para que, atuando conjunta e ativamente, possam ser suprimidos as diferenças sociais e o desafio que representa a tuberculose (SANTOS, 2007). A urgência da necessidade do controle da expansão da doença pode ser identificada nas ações que envolvem os meios de comunicação de massa, como a utilização da televisão e jornais. Comerciais com informações sobre a doença podem ser vistos em canais fechados ou abertos, conforme reportagem do jornal O Globo de 05 de agosto de 2009, que apresenta o filme “Brasil livre da tuberculose”, criado pela Fiocruz em parceria com o Fundo Global. Outra reportagem do jornal O Globo, publicada no caderno Razão Social de 21 de julho de 2009 - nº 77, intitulada “Doença precisa de informação”, demonstra a iniciativa 5 do Laboratório Lilly em realizar parcerias com entidades públicas e privadas de países com maior incidência da doença para a transferência de tecnologia e treinamento de profissionais da área de saúde. O exemplo apresentado no encarte cita a ação dos agentes comunitários de saúde nos cuidados de prevenção e acompanhamento do tratamento na comunidade da Rocinha, situada no Rio de Janeiro, que apresenta a maior densidade de indivíduos portadores de tuberculose do país. A ação dos agentes comunitários também foi destaque na reportagem do jornal O Globo, de 01 de setembro de 2009, sob o título “Itaboraí vira modelo de combate à tuberculose”, pois, através de trabalho realizado, o município vem atingindo a meta estabelecida pela OMS para o combate à doença, apesar de o Estado do Rio de Janeiro despontar na incidência da doença. Atualmente, enfrenta-se uma verdadeira batalha para combater o avanço da doença e conseguir cumprir as metas estabelecidas pela OMS. Assim, na tentativa de alcançar um controle efetivo, faz-se necessária a união das três esferas que compõem o Governo e também a mobilização da sociedade, que representa o principal agente transformador. Dentre as práticas de mobilização social, aquela representada pela prática educativa com alunos apresenta-se de grande valia, pois estes funcionam como agentes de difusão de informações (CADILHE et al, 1999). As fortes ligações da raiz da tuberculose com os determinantes sociais fazem das ações representadas pela política da Educação em Saúde um aliado no combate a doença. Historicamente, o início das atividades da Educação em Saúde ocorreu em 1924, com a criação do primeiro Pelotão em Saúde em uma 6 escola estadual situada no Município de São Gonçalo, no Estado do Rio de Janeiro, por ação de Carlos Sá e Cesar Leal Ferreira. No ano seguinte, foi criada a Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde do Estado de São Paulo por Horácio de Paula Souza, com o objetivo de "promover a formação da consciência sanitária da população e dos serviços de profilaxia geral e específica" (Brasil, Ministério da Saúde, 1997). Pensar na relação existente entre Educação e Saúde é conceber uma rede onde diferentes atores participam do processo, mas com um interesse comum. O que se espera é que o indivíduo, através do seu desenvolvimento, seja capaz de conquistar e compreender as questões em sua magnitude, mobilizando toda a sua aptidão e potencial, adquirindo um pensamento crítico capaz de influenciar o ambiente, assim como suas vidas, promovendo um ambiente favorável à saúde (LOMONACO, 2004). A proposta de discutir temas transversais3, considerados de relevância para a formação de uma sociedade, foi trazida para a educação pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - BRASIL, 1996). Como descrito pela LDB, são temas que, apesar de não fazerem parte da grade curricular da escola, por sua importância, podem e devem ser discutidos em sala de aula. Nesse movimento, a escola, que representa o espaço formal da relação ensinoaprendizado, encontra-se inserida neste processo vital para a promoção da 3 Os temas transversais para o trabalho escolar foram escolhidos de acordo com as questões sociais para a construção da cidadania e da democracia, envolvendo múltiplos aspectos e diferentes dimensões da vida social. Os critérios utilizados na escolha foram urgência social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizado no ensino fundamental e favorecer a compreensão da realidade e a participação social. Os temas selecionados dizem respeito à Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual. Há mais um tema proposto sob o título provisório de Trabalho, Consumo e Cidadania (PCN APRESENTAÇAO DOS TEMAS TRANVERSAIS, 1997). 7 saúde. Tal perspectiva fica clara nas próprias diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM, 2006), nos conteúdos de saúde relacionados ao ensino de biologia: Compete ao ensino da Biologia, prioritariamente, o desenvolvimento de assuntos ligados à saúde, ao corpo humano, à adolescência e à sexualidade. Além das definições sobre saúde e doença, dos indicadores de saúde pública, dos índices de desenvolvimento, devem estar presentes, ainda, conteúdos referentes à dinâmica das populações humanas e à relação entre sociedade e natureza (p. 24). Para o Ministério da Educação e Cultura (MEC), a revolução no contexto da educação se dará através das técnicas de contextualização e interdisciplinaridade, foco principal da diretriz do PCNEM (LOPES, 2002). O professor deve utilizar-se de exemplos relacionados ao cotidiano do aluno, problematizando a teoria em fatos reais, a fim de atrair sua atenção e estimular sua participação, propiciando a aquisição do conhecimento e a mudança de suas concepções prévias por conceitos científicos (SCHNETZLER, 1992). A educação, por sua relevância, deve estar inserida no cenário social, buscando através de várias estratégias pedagógicas a formação do cidadão. Vários são os movimentos no ensino de ciências que têm essa proposta como meta, na qual no processo de ensino-aprendizado, o professor sai da posição única de detentor das informações para assumir a função de moderador, enquanto o aluno sai da posição passiva de ser somente um receptáculo de informações (TEIXEIRA, 2003). Tendo por base essa perspectiva de trabalho que os Ministérios da Saúde e Educação, em parceria, apresentaram aos representantes da saúde, educação 8 e sociedade civil, estão as normas reguladoras do projeto “Saúde e Prevenção nas Escolas”, que tem por finalidade a promoção da educação sexual e saúde reprodutiva, com o intuito de diminuir a exposição de adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis (DST), à infecção pelo HIV e à gravidez não desejada, através da construção de estratégias envolvendo as escolas e as unidades básicas de saúde (BRASIL, Diretrizes para Implantação do Projeto Saúde e Prevenção nas escolas, 2006). Em trabalho realizado por Cadilhe et al4, no ano de 1999, em escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio do município do Rio de Janeiro, nas localidades da Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Cidade de Deus, houve por objetivo específico conceber conjuntamente conhecimentos que envolvessem a prevenção, tratamento e cura da tuberculose, valorizando as concepções prévias dos alunos, valores e qualidade de vida. Os autores concluíram o grande valor de tal proposta, pois movimentos dessa magnitude envolvem a população, ao mesmo tempo em que passam conhecimentos sobre a tuberculose e estimulam a conscientização, em particular, a escola, contribuindo assim para a melhoria na qualidade de vida. Na mesma linha de atuação, outros exemplos do binômio educação-saúde podem ser demonstrados através da capacitação de professores da primeira série do antigo primeiro grau, realizada no Estado de São Paulo, buscando identificar precocemente alunos com problemas de saúde (TEMPORINI, 1988) e do projeto realizado no município do Rio de Janeiro em área de alta incidência de esquistossomose, onde foi confeccionado material pedagógico e metodologia 4 Centro de Referência Professor Hélio Fraga/SVS/MS – Rio de Janeiro/RJ - Brasil 9 própria para uso dos professores, o que proporcionou melhora no conhecimento dos alunos sobre os cuidados para com a doença (SCHALL et al, 1987). Assim, utilizando-se da mesma concepção, esse trabalho teve por intenção demonstrar a importância da escola – como instituição formal responsável pelo processo ensino-aprendizado e sua importância no viés educação-ambientesaúde – e dos professores como multiplicadores de ações que impactem no controle a tuberculose. Apesar de a Educação ser uma forte aliada para impedir à progressão da tuberculose no Brasil e a escola uma grande ferramenta de divulgação de práticas educativas, não existe uma sensibilização por parte dos professores em contextualizar o conteúdo pedagógico com o cotidiano diário dos alunos, que acabam por considerar a escola como um local sem atrativos e as aulas desinteressantes. Este quadro é reflexo de um desconhecimento de temas tão importantes no contexto brasileiro como aqueles associados à educação em saúde, particularmente a tuberculose. Na presente dissertação foi desenvolvido um estudo com os alunos do Ensino Médio de escolas estaduais do município de Nilópolis e com os professores de química e biologia, estabelecendo como objetivo geral analisar o conhecimento desses alunos sobre a tuberculose no que se refere à promoção da saúde e prevenção da doença. A partir de então, foram traçados os seguintes objetivos específicos: identificação do modelo de prática pedagógica que vem sendo utilizada no tocante à temática saúde e ambiente com foco na tuberculose; 10 investigação da abordagem da tuberculose como temática ambiente-saúde nas escolas; averiguação das fontes utilizadas para o preparo das aulas pelos professores de Ciências. produção de uma história em quadrinhos, a qual foi construída pelos próprios alunos sob a orientação dos docentes. A presente dissertação está estruturada em quatro capítulos. O primeiro versa sobre a história da tuberculose, a atual situação da doença no mundo e especificamente no Brasil. O segundo traz a importância da educação como um efetivo veículo de comunicação, com a missão de propagar ideais, oferecendo alternativas que melhorem a qualidade de vida do cidadão. O terceiro capítulo aborda os caminhos metodológicos utilizados que definiram um perfil quantitativo à pesquisa de campo e análise qualitativa dos resultados. O quarto e último capítulo apresenta a análise dos resultados dos dados obtidos ao longo do estudo, destacando os elementos necessários para a construção de uma história em quadrinhos (Produto Educacional), que representa a concretização do projeto de pesquisa e disponibilizado aos professores para que eles façam uso do mesmo como apoio didático para abordagem da doença. Por fim, apresentamos nas considerações finais os aspectos positivos e negativos observados durante esse estudo, bem como os desdobramentos e perspectivas futuras. 11 CAPÍTULO I TUBERCULOSE UM OLHAR SOBRE SUA HISTÓRIA (DOENÇA) A febre me queima a fonte E dos túmulos a aragem Roça-me a pálida face Mas no delírio e na febre Sempre teu rosto contemplo Eu sofro; o corpo padece E minh'alma se estremece Ouvindo o dobrar de um sino. (CASIMIRO DE ABREU) 1.1 A tuberculose ao longo da história e suas características A tuberculose está presente na vida do homem desde a antiguidade. Descobertas demonstraram que vários faraós tiveram tuberculose e morreram ainda na juventude, por exemplo, Amenophis IV e sua esposa Nefertiti foram mortos devido à doença aproximadamente 1.300 A.C. (ROSEMBERG, 1999). Determinadas situações no passado, quando não podiam ser compreendidas pelo homem, eram consideradas provocadas por espíritos maus e sua causa atribuída a fatores sobrenaturais, consequentemente no seu tratamento estaria preconizado os rituais de magia. Os tuberculosos também foram tratados com sangrias, sanguessugas e laxativos (FARGA, 2004). Como a história da tuberculose data de muitos anos e foi considerada uma doença de grande impacto para as civilizações, nada mais natural que deixasse profundas marcas na história das sociedades, influenciando a capacidade de criar do ser humano nas artes, música e literatura, assim com o desenvolvimento das 12 ciências biomédicas e da saúde (PALOMINO et al, 2007). Várias personalidades ilustres que se destacaram na história foram portadoras de tuberculose, com título de nobreza são duas rainhas, 16 reis e imperadores, 53 nobres, 101 escritores, 110 poetas, 40 cientistas, oito filósofos, 16 músicos, nove pintores e nove santos católicos. Deste universo serão citados alguns nomes: Florance Nightingale, Braille, Hebert Lawrence, Simon Bolivar, San-Martin, Fraz Kafka, Chopin, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Graciliano Ramos, Dinah Silveira de Queiroz, algumas pessoas não se sabe ao certo tais como Descartes, Kant, Mozart e Beethoven. Na atualidade, o líder político Nelson Mandela também foi acometido por tuberculose (ROSEMBERG, 1999), que já foi considerada no passado como “Peste Branca” (SCHMETANA et al APUD SMS/SP, 2002). Os relatos que se tem da doença só fazem menção aos nobres, pois no passado as histórias contadas só se referiam a este segmento da sociedade, havendo total exclusão das classes menos favorecidas, fato descrito por Rosemberg (1999), na história da doença em sua vertente social: De épocas passadas, desde a Antiguidade, a maior informação que nos chega sobre as vítimas da tuberculose é relativa às camadas sociais mais altas. Como disse Marx, a história da humanidade é a história das classes dominantes. Por isso, em relação à tuberculose, sabemos muito mais dos dramas e comportamentos dos doentes mais destacados e sua repercussão social na época considerada. Dos milhões de desvalidos que morreram consumidos pela tuberculose, tanto no passado como na modernidade, praticamente nenhuma notícia se tem relativamente aos seus sofrimentos e dramas. Nada de lirismo, pobre não tem possibilidades de ser romântico (p.6). Na sociedade, a tuberculose trazia para o doente o martírio e a tristeza 13 advindos da doença, levando a diversas expressões que eram continuamente reformuladas (GILL, 2006). O movimento de migração descrito entre os séculos XVIII e XIX, marcado pela revolução industrial, levou os trabalhadores para as cidades, os quais vivendo em condições precárias de vida e trabalhando aproximadamente 15 ou mais horas por dia, apresentavam as condições ideais para que a mortalidade de portadores da doença atingisse níveis elevados para a época, em torno de 800 por 100 mil na Inglaterra e 1.100 por 100 mil em Londres (ROSEMBERG, 1999). A desordem social e urbana era vista como a causa de doenças e por isso deveria ser impedida. O aspecto do indivíduo revelava sua posição na sociedade. O organismo enfraquecido encontrava-se passível a todas as doenças, às concepções de saúde e ao simbolismo que as doenças representavam (GONÇALVES, 2000). A imagem de doença romântica da tuberculose surgiu no inicio do século XIX. A aparência física trazia a imagem de uma pessoa que, apesar de plena em suas emoções, apresentava-se notadamente confusa em seus sentimentos e, por essas características, a doença era relacionada como doença da paixão. A mudança desta concepção só começa a ocorrer no final do mesmo século, quando há uma rejeição do “aspecto romântico”, sendo destacada uma visão do mal que a doença provocava, que passa a desenhar-se como angustiante e medonha a deterioração do doente que se consumia até a morte (NASCIMENTO, 2005). O Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como Bacilo de Koch, é 14 o agente etiológico da tuberculose, tendo sido identificado pelo médico alemão Robert Koch em 1882, de forma que, desde então, surgiram postulações que faziam ligações entre a doença e fatores relacionados com o aumento da propagação e contaminação. Assim rompia-se com a ideia higienista5 e hereditária como causa, nas quais o estilo de vida e as condições sociais eram responsáveis pelo adoecimento. As primeiras citações sobre o tratamento da tuberculose datam de três mil anos e estão relacionadas aos povos hindu e persa, nos quais a cultura do tratamento baseava-se no descanso e na boa alimentação, tratamento que perdurou por vários séculos (ROSEMBERG, 1999). Ainda na segunda metade do século XX, não se dispunha de tratamento específico, porém, terapias climáticas foram consideradas em associação ao repouso (GONÇALVES, 2000). Com essa visão, surgem os sanatórios no século XIX, que foram inicialmente construídos em ambientes montanhosos de acordo com a filosofia higienodietética, onde os doentes eram obrigados a praticar exercícios e cavalgadas. O romance escrito por Thomas Mann, denominado Zauberberg (Montanha Mágica), apresentou a imagem do pensamento da época. No Brasil, Dinah Silveira de Queiroz, no livro Floradas na Serra, apresenta através de seu romance a vida dos pacientes residentes nessas unidades (ROSEMBERG, 1999). Segundo Farga (2004), as medidas de prevenção já se faziam presentes 5 Concepção de doença, associada à degeneração do indivíduo (mal social), reunia ideias que demarcavam os comportamentos sociais (estilo de vida) e as condições de vida (moradia, higiene, trabalho) como relevantes para o adoecimento. A culpa, nesse caso, recaía sobre o indivíduo à medida que o adoecimento era consequência dos maus hábitos, das péssimas condições de higiene e de vida. Em outra visão social e abrangente, as políticas higienistas lutavam por oferecer melhores condições locais e proteções para o trabalho nas indústrias, na esperança de manter um controle da tuberculose (GONÇALVES, 2000, p 2-3). 15 anteriormente à introdução dos primeiros procedimentos terapêuticos. Assim, mesmo antes da identificação do agente causador da tuberculose, já se sabia que a doença era transmissível e que o contato com indivíduos doentes era perigoso. Em muitos países, quando os pacientes morriam suas roupas eram queimadas e suas casas desinfetadas. A primeira representação simbólica na luta contra a tuberculose foi um selo editado na Dinamarca, no ano de 1904, que advertia contra a doença. Ideia que foi compartilhada por mais de 60 países, inclusive o Brasil. A cruz vermelha de duplo braço já havia sido proposta desde 1902 ao Bureau Internacional de Prevenção a Tuberculose como distintivo oficial de combate a doença. Somente em 1920 houve o aceite pela União Internacional Contra a Tuberculose e em 1928 sancionado para todos os países. Os países de religião islâmica utilizam o quarto crescente como distintivo, estando o uso da cruz opcional (ROSEMBERG, 1999). Com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um surto de tuberculose na Europa, o que demandou dos cientistas uma busca incessante na descoberta de procedimentos mais eficazes para enfrentar a doença (GONÇALVES, 2000). Os tratamentos propostos foram por vezes agressivos e lesivos e, em alguns momentos, até mesmo poéticos. Porém, nada se comparou à mortalidade provocada pela tuberculina produzida por Koch. Na Itália, Carlo Forlanin, em 1982, desenvolveu a colapsoterapia médica pelo pneumotórax artificial6, que se espalhou pelos países e foi amplamente utilizada até os anos 50, quando foram 6 O pneumotórax artificial foi criado por Carlo Forlanini na Itália, cuja técnica permitia a entrada de ar no espaço intrapleural, fazendo com que o pulmão permanecesse temporariamente em situação de repouso (ROSEMBERG, 1999). 16 lançadas as drogas antituberculosas (ROSEMBERG, 1999). A padronização dos quimioterápicos ocorreu na década de 60. Em 1964, o período de uso era de 18 meses, sendo reduzido para 12 meses a partir de 1965 (RUFFINO-NETO, 2002). A doença foi denominada de tuberculose em decorrência da formação, por vezes, de tubérculos (BRASIL, CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA, 2008). O homem é o principal reservatório. Estima-se que um indivíduo portador da forma pulmonar e bacilífero pode, se não tratado, infectar em torno de dez a quinze pessoas da comunidade em um ano de doença. Com o início do tratamento, a capacidade de transmissão da doença é eliminada em poucas semanas. A transmissão ocorre, sobretudo, através do ar. Os bacilos estão presentes em gotículas expelidas no ato falar, tossir ou espirrar. Na via respiratória superior, o movimento mucociliar remove as gotículas, que deglutidas sofrem ação do suco gástrico com a inativação do bacilo e eliminação pela via digestiva. Raramente os bacilos presentes nos utensílios domésticos e em roupas se distribuirão em aerossóis. Nos indivíduos que desenvolverão a doença, o período de incubação está em torno de quatro a doze semanas. Dentre as condições pré disponentes relacionadas ao aparecimento da doença destacam-se os fatores socioeconômicos, além de outras patologias, tais como silicose, diabetes mellitus, uso crônico de corticoesteróides ou outros imunossupressores, neoplasias e uso de drogas e infecção pelo HIV (BRASIL, GUIA DE VIGILANCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2005). O Brasil, assim com os países desenvolvidos, considera a tuberculose como uma doença que merece destaque em termos de saúde pública, pois nos Estados Unidos e na Europa foi responsável por grande número de mortes até os 17 primeiros anos do século XX e manteve-se em posição de evidência na saúde desde Hipócrates até Robert Koch. Apesar de todos os esforços da ciência na tentativa de controle, a doença ainda mantém sua hegemonia como maior causa de óbitos por doença infecto-contagiosa na fase adulta (BRASIL, CONTROLE DA TUBERCULOSE, 2002). Atualmente, calcula-se que um terço da população mundial está contaminada pelo Mycobacterium tuberculosis, podendo evoluir com manifestações da moléstia. Nos países industrializados, as maiores incidências da doença estão ligadas aos idosos, estrangeiros e determinados grupos étnicos. Nos países periféricos, a doença acomete mais os homens do que as mulheres, numa proporção de 2:1 respectivamente, predominando na faixa etária mais produtiva, ou seja, dos 15 aos 54 anos (BRASIL, GUIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2005). 1.2 A tuberculose no Brasil e sua representação nos campos histórico, social, político e epidemiológico Os livros de história não contam em seus capítulos, mas a tuberculose acompanhou os exploradores na descoberta e aquisição de novas terras. Por onde o homem proveniente do “velho continente” passava disseminava a doença, até então desconhecida das novas civilizações. Como consequência, houve a aniquilação de um grande número de nativos devido à doença. Também no Brasil a história não se fez contrária. Os jesuítas e colonos que aqui chegavam eram em sua grande parte portadores de tuberculose buscando um clima mais terapêutico. Inácio de Loyola (1555) e Anchieta (1583) descrevem em carta encaminhada ao 18 Reinado informando que “os índios, ao serem catequizados, adoecem na maior parte com escarro, tosse e febre, muitos cuspindo sangue, a maioria morrendo com deserção de aldeias” (ROSEMBERG, 1999, p. 7). O auge da cafeicultura demandou a necessidade de mudanças no contexto da sociedade. O Parlamento autorizou a Junta Central de Higiene da Capital do Império presidida pelo Dr. Paula Candido para que novas normas sanitárias fossem adotadas buscando controlar a tuberculose. O Decreto n° 6.387, de 15 de novembro de 1876, remodelava os serviços sanitários nas cidades do Império. Novas normas foram sancionadas a partir de 1870 referentes à habitação. Entre 1876 e 1886, foram estabelecidos cinco novas determinações e um aviso ministerial relacionados com a política sanitária nas residências (RUFFINONETO, 2002). O final do século XIX e início do século XX foram marcados por um alto índice de mortalidade causado pela tuberculose. Tanto no Brasil quanto no mundo, metade dos doentes morria em consequência da doença. Para a realidade brasileira, a tuberculose veio agregar como mais uma causa para a manutenção das precárias condições socioeconômicas e atraso no seu desenvolvimento (HIJJAR et al, 2007). Em 1907, Oswaldo Cruz, então responsável pela Diretoria Geral de Saúde Pública, organizou o esquema de melhorias no saneamento da capital Federal, buscando reduzir a incidência não só da tuberculose, mas também de outras epidemias que assolavam a cidade (NASCIMENTO, 2005). A alta incidência da doença no Rio de Janeiro apontava para a grave 19 situação dos trabalhadores que atuavam em precárias condições e, devido ao baixo poder aquisitivo, eram obrigados a morar em instalações insalubres e a alimentarem-se mal (NASCIMENTO, 2005). A percepção que a doença avançava e que medidas urgentes eram necessárias para conter a disseminação da tuberculose fez com que fossem criadas instituições filantrópicas para gerenciar o controle da doença (GONÇALVES, 2000). No Brasil, a contribuição ao desenvolvimento científico vinculou-se à atuação de profissionais de excelência, assim como a eventos relacionados à prática médica. Destacando-se, neste cenário, episódios que marcaram a história, tais como o lançamento do livro “Phthisica Pulmonar”, escrito por Clemente Ferreira em 1880; a demonstração, em 1907, da primeira ação para o controle da tuberculose no Rio de Janeiro; o lançamento do primeiro Curso formal de Tuberculose no início dos anos 30 na Faculdade Nacional de Medicina. Na área de ensino, despontam nomes como Rafael de Paula Souza, José Rosemberg, Newton Bethlem, José Feldeman, Hélio Fraga, dentre outros tão ilustres. Na área de tecnologia o Professor Manoel de Abreu exibiu, em 1936, sua criação chamada posteriormente de abreugrafia (SANCHEZ et al, 2002), utilizada durante anos para o rastreamento da tuberculose (HIJJAR et al, 2007). A tuberculose ganhou destaque para o ensino médico, quando a sua importância e necessidade de melhores conhecimentos foram percebidas, sendo instituída a formação acadêmica em tisiologia (GONÇALVES, 2000). A ausência da ação pública das autoridades contra a disseminação da doença fez com que o setor privado da sociedade criasse, em 1899, o movimento de combate à tuberculose, com o advento da Liga Paulista Contra a Tuberculose 20 e Liga Brasileira Contra a Tuberculose, instalada no Rio de Janeiro. Outros estados brasileiros logo aderiram à ideia (SANCHEZ et al, 2002). A Liga Brasileira adotou dois caminhos para o combate da doença: um voltado para a prevenção e outro para o tratamento, havendo incentivo para que fossem inaugurados sanatórios e hospitais (HIJJAR et al, 2007). Em 1910, Carlos Chagas institui a Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose, que visava o diagnóstico e tratamento da doença (RUFFINO-NETTO, 2002), com o médico Plácido Barbosa assumindo, então, a direção da instituição (HIJJAR et al, 2007). Em 1920, foi criado o Departamento Nacional de Saúde Pública e no ano de 1927 iniciou-se a vacinação com o Bacilo Calmette-Guérin (BCG), desenvolvida por Arlindo de Assis na Liga Brasileira Contra a Tuberculose. Em 1930, tendo como Presidente Getúlio Vargas, houve uma centralização das ações em saúde que passou a ser coordenada pelo Departamento Nacional de Saúde e Assistência Social, sob responsabilidade do Ministério da Educação e Saúde. Nova reforma ocorreu na década de 40, sendo criado o Serviço Nacional de Tuberculose (SNT) e, em 1946, teve início a Campanha Nacional Contra a Tuberculose (CNCT) sob a gerência do primeiro. Neste momento da história o Serviço Nacional de Tuberculose gozou de autonomia técnica e financeira para realizar parcerias com instituições de ordem pública ou privada (HIJJAR et al, 2007). A descoberta dos quimioterápicos a partir de 1944 criou uma nova expectativa para os doentes que viam uma possibilidade de cura fora do isolamento que representavam os sanatórios. Porém, um único fármaco induziu logo a resistência. Somente em 1949 e, posteriormente, em 1952, novos 21 fármacos foram descobertas e ultrapassada a resistência induzida pela monoterapia. A implantação da terapia ambulatorial ocorreu no período representado entre os anos de 1950 e 1960. Porém, mais uma vez as expectativas superaram a realidade, pois a cura e a erradicação da doença dependiam da participação ativa do doente (GONÇALVES, 2000). Em 1959, a queda na taxa de mortalidade já não era tão impressionante devido ao tratamento com os quimioterápicos, levando os Órgãos Federais, em 1961, a convocarem todas as instâncias do Governo e demais setores a apoiarem as ações da CNCT (HIJJAR, 2007). Em 2009, nova orientação foi lançada pelo Ministério da Saúde sobre o tratamento da doença, incluindo um quarto fármaco, com o objetivo de aumentar a adesão e assim elevar o percentual de cura e evitar a elevação dos casos de resistência (BRASIL, Nota Técnica sobre as mudanças no tratamento da tuberculose no Brasil para adultos e adolescentes, 2009). Em 1953, o Governo Federal, em nova reforma, criou o Ministério da Saúde, que absorveu os diversos Serviços Nacionais, entre eles o da tuberculose. Em 1970, o Serviço Nacional de Tuberculose converteu-se em Divisão Nacional de Tuberculose e em 1976 em Divisão Nacional de Pneumologia Sanitária. O controle da tuberculose foi repassado às Secretarias Estaduais de Saúde em 1981, conforme acordo entre as Secretarias, o INAMPS e o Ministério da Saúde (RUFFINO-NETO & SOUZA, 1999). Conforme Ruffino-Netto (2002, pág. 54): “a partir de 1981 aparecem novas estratégias de organização dos serviços de saúde: Ações Integradas de Saúde (AIS), Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS) e finalmente o Sistema Único de Saúde (SUS).” 22 No governo de Fernando Collor de Mello, em 1990, a Campanha Nacional de Combate a Tuberculose foi desarticulada devido à necessidade de redução de custos e do processo de descentralização para os estados, desencadeando um processo de desorganização da gestão do programa e diminuição na transferência de recursos financeiros, no mesmo momento em que a AIDS avançava no país (RUFFINO-NETO & SOUZA, 1999). A administração da vacina BCG por via intradérmica é instituída como obrigatória no ano de 1973. Buscando unificar as diversas instâncias do Governo no combate à tuberculose, foi lançado o II Plano Nacional de Desenvolvimento, tendo como financiadores o MS/INAMPS/SES (RUFFINO-NETTO, 2002). Em 1993, houve uma explosão no número de casos de tuberculose no mundo, sendo declarada pela OMS uma emergência mundial (HIJJAR, 2005). A mudança no cenário brasileiro só foi ocorrer em 1996, com a implantação do Plano Emergencial (criado em 1994 pela Coordenação Nacional de Pneumologia Sanitária), que propôs a transferência de recursos baseando-se no cumprimento de metas estipuladas pela Fundação Nacional de Saúde. A escolha dos 230 municípios foi feita de acordo com a densidade populacional, posição epidemiológica, taxa de abandono e associação com a AIDS. A cada município coube elaborar um planejamento estratégico com objetivo de atender às metas estabelecidas e, assim, receber os recursos celebrados através de convênio com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Em 1998, a apresentação do quadro epidemiológico mundial da tuberculose pela OMS, indicando o Brasil como um dos dez países com maior incidência da doença, fez com que fosse criado o Plano Nacional de Combate à Tuberculose, que tinha por objetivo implantar 23 Centros de Excelência, diagnosticar até 2001 pelo menos 92% dos casos esperados, tratar eficazmente ao menos 85% dos casos diagnosticados, reduzir a incidência em no mínimo 50% e a mortalidade em dois terços até o ano de 2007 (RUFFINO-NETO, 1999; RUFFINO-NETTO, 2000; SANTOS, 2007; HIJJAR et al, 2007). Também no ano de 1982, por ação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela União Internacional Contra Tuberculose e Doenças Pulmonares (International Union Agaist TB and Lung Disease - IUATLD), foi estipulado o dia 24 de março como o dia Mundial de Controle da Tuberculose, sendo que no Brasil, por medida dada pela Portaria GM/MS nº 2181, de 21 de novembro de 2001, ampliou o “Dia” para a “Semana Nacional de Mobilização e Combate à Tuberculose”. No Brasil, a data de 17 de Novembro também é utilizada para a mobilização nas três esferas do Governo no combate a doença (BRASIL, 2001). Os projetos de controle da doença foram discutidos nos encontros do Programa Stop Tb realizados nos meses de Junho e Julho de 1999, no Marrocos e Brasil, respectivamente. Na Tailândia, no ano de 2000, a reunião organizou as discussões para o encontro sobre Tuberculose e Desenvolvimento Sustentável que ocorreu em Amsterdam no mesmo ano (RUFFINO-NETTO, 2002). Seguindo as orientações da OMS, o Ministério da Saúde (MS) operacionalizou no Brasil, em 1999, a estratégia do Tratamento Supervisionado, TS-DOTS (Directly Observed Treatment Strategy – DOTS). Porém, sua inserção ficou prejudicada devido a problemas internos na organização do Ministério (SANTOS, 2007). Propôs, então, em 2000, o "Plano Nacional de Mobilização para eliminação da Hanseníase e Controle da Tuberculose em Municípios Prioritários 24 por meio da Atenção Básica" e, em 2001 o "Plano Estratégico para Implementação do Plano de Controle da Tuberculose no Brasil, no Período de 2001-2005" e que tinham como objetivo o controle da tuberculose e hanseníase através da adoção dos métodos pactuados no Plano Emergencial (HIJJAR et al, 2007). Em 2002, em reunião com participação do G8 (grupo dos sete países mais desenvolvidos economicamente do mundo e a Rússia) e das Nações Unidas, foi instituído o Fundo Global de Combate a AIDS, Tuberculose e Malária, tendo por finalidade mobilizar recursos internacionais para auxiliar os países no controle das doenças (BARREIRA & GRANGEIRO, 2007). O Governo Federal em 2003, pelo decreto 4.726/2003, reformulou o Ministério da Saúde e criou a Secretária de Vigilância em Saúde utilizando-se da logística da Fundação Nacional de Saúde. Nesse período, a Tuberculose ganhou condição prioritária na política brasileira. O TS-DOTS passou a ser encarado como importante ferramenta para atingir as metas estabelecidas pela OMS, assim os Municípios e os Estados foram chamados a pactuar junto com a esfera Federal o controle da Tuberculose e a implantação do TS-DOTS (HIJJAR et al, 2007; SANTOS, 2007; RODRIGUES et al, 2007). O tratamento supervisionado trazido pela Organização Mundial de Saúde como novidade na luta contra a doença já era utilizado pelo Brasil como metodologia de tratamento desde 1962, em unidades de saúde e sob supervisão da enfermagem (RUFFINO-NETTO, 2002). 25 Apesar dos esforços, são inúmeras as dificuldades para alcançar as metas propostas para a implantação de uma política de saúde dessa magnitude, conforme exposto por Rodrigues et al (2007): [...] grande dimensão territorial do País, com diferenças regionais marcantes geográficas e culturais; insuficiências na formação de profissionais preparados para enfrentar o problema; falta de incentivo a pesquisas operacionais para a solução de problemas encontrados nos serviços de saúde; participação tímida da mobilização social no controle da TB; falta de financiamento estável e regular do Programa de Controle da Tuberculose; falta de garantia a todos os cidadãos de acesso universal, integral e equânime aos serviços de saúde; somam-se a isso um contexto de grande desigualdade social e de deficientes condições em que vivem grandes parcelas da nossa população. O controle da TB é um indicativo da qualidade da atenção à saúde, mas também da justiça social de um país (p. 2). As dificuldades no cenário brasileiro se apresentam até mesmo na hora de empregar a baciloscopia como método de detecção da doença, conforme proposto pela OMS (FERREIRA, 2005). Em 2004, foi proposta uma nova estratégia de ação através do Plano de Ação do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), que teve por base ações do Governo Federal como a descentralização e horizontalização dos programas de vigilância, prevenção e controle da Tuberculose, utilizando-se de estruturas como Programa de Saúde da Família e Programa de Agentes Comunitários. Os projetos de educação em saúde e mobilização social convocam a participação da sociedade. Assim como no monitoramento das ações, fez-se necessária a utilização de um programa informatizado capaz de consolidar todos os registros referentes à tuberculose no país. O sistema denominado Sistema de Informação de Agravos e Notificações (SINAN) constitui a principal ferramenta de gestão para organizar de planos de ação, acompanhar e avaliar o controle da doença (SANTOS, 2007). 26 Buscando fortificar as ações no combate à tuberculose e a outras doenças endêmicas foi lançado em fevereiro de 2006 o “Pacto pela Vida”, ação que conta com a participação das três instâncias do Governo (Federal, Estadual e Municipal). No combate à doença entre os anos de 2004 e 2007, a União demandou para o Programa Nacional de Controle da Tuberculose um valor na ordem de 120 milhões de reais (SANTOS, 2007). Segundo Hijjar, 2005, no ano de 2004, a incidência de casos novos chegava a 80 a 90 mil/ano, além de 15 mil reinfectados, fato que se repetia nos últimos dez anos. Com essa tendência, a tuberculose ocupava o 9º lugar em internação, o 7º lugar em custo por internação e o 4ª causa de mortalidade, tendo por referência as doenças infecciosas. No cenário nacional, o Estado do Rio de Janeiro destaca-se pelos piores índices de casos da doença, assim como a maior taxa de mortalidade. Diante dessa constatação, é imperativa a adoção de medidas que auxiliem no controle da disseminação da doença (HIJJAR, 2005; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2006). É compromisso brasileiro atingir as metas definidas pela OMS em 1991 e programadas até o ano de 2015. Para auxiliar os países com maior incidência da doença, a OMS, em 2006, publica um consenso de ações que, se realizadas, facilitariam o alcance das metas estabelecidas: Estas estão divididas em seis grandes componentes: (1) promover a expansão e valorização do DOTS, (2) resposta TB/HIV, MDR-TB e as necessidades dos pobres e vulneráveis populações; (3) contribuir para a saúde do sistema de reforço baseado em cuidados primários de saúde, (4) envolver todos os prestadores de cuidados; (5) proporcionar às pessoas com tuberculose e às comunidades, através parceria, e (6) permitir e promover a investigação (OMS, 2009). 27 A situação brasileira e, particularmente, a do Estado do Rio de Janeiro, é ainda mais urgente, pois segundo os dados apresentados pelas Unidades Federadas, a meta estipulada para o diagnóstico vem sendo alcançada e até mesmo superada. Porém, no que se refere à alta por cura e o controle do abandono do tratamento, os dados encontram-se bem abaixo do esperado (HIJJAR, 2005). Os dados nacionais demonstram que o percentual de abandono caiu de 14 para 12% e o índice de cura aumentou de 75 para 78% (RUFFINONETTO, 2001). Enquanto que para o Estado do Rio de Janeiro o percentual de abandono está em 15,4%, o índice de cura em torno de 71,7% e a taxa de mortalidade em 5% (HIJJAR et al, 2005). Vincentin, Santos & Carvalho (2002) compararam a taxa de mortalidade no Estado do Rio de Janeiro no ano de 1991 aos indicadores socioeconômicos e concluíram ser no plano social que se consolidavam as condições propícias para a propagação da tuberculose, tanto quanto das apresentações graves que com frequência levam à letalidade. Esta situação é ainda corroborada com a restrição das atividades do sistema de saúde para identificar nas localidades os indivíduos em situação de risco para desenvolver a doença e assim reduzir a letalidade no Estado. O controle das doenças endêmicas no país é atribuição do Governo, independente de seus demais compromissos. Quando as medidas de controle são inexistentes ou ineficazes, faz-se necessária a parceria entre as instâncias do Governo, a população e os articuladores. Nesse momento, o movimento popular tem como alvo o de resistir a mais um agravo a sua sobrevivência (VALLA, 1998). 28 Nas diversas representações de organização social, o binômio representado pela saúde e educação sempre estiveram presentes. As ações do Estado, orientadas a estes segmentos, têm por fim intermediar as relações entre as camadas sociais, mantendo, entretanto, a relação de superioridade da classe dominante (FERRIANI & UBEDA, 1998). Lomônaco (2004) defende que a saúde na educação deve ser realmente discutida como tema transversal que tem como pressuposto a liberdade para perpassar e agregar as mais distintas áreas do conhecimento. A ideia é poder desenvolver tópicos que extrapolem os temas pré-definidos trazendo para discussão assuntos que envolvam o dia a dia dos estudantes e da sociedade, rompendo com a concepção prévia de alguns professores que ainda concebem saúde somente vinculada ao conceito biológico, sem levar em conta a influência dos determinantes sociais e ambientais. 29 CAPÍTULO II A ESCOLA PARA A SOCIEDADE E A SOCIEDADE PARA A ESCOLA: A INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO NO MOVIMENTO DE COMBATE A TUBERCULOSE Uma importante ferramenta utilizada no controle à tuberculose é a divulgação de informações através dos meios de comunicação sobre a doença, buscando assim conscientizar o maior número de pessoas. Como a escola está inserida na dinâmica do contexto da sociedade, assume papel primordial neste envolvimento, pois se constitui num espaço formal, no qual está concentrado um grande número de indivíduos, os quais pela faixa etária e ainda sensíveis aos ensinamentos, quando bem orientados, tornam-se capazes de grandes transformações na sociedade. Na visão de Teixeira (2003): Queremos defender que existem propostas educacionais que se orientam por princípios democráticos e emancipadores, articulados com os interesses populares, que podem subsidiar projetos para a construção de um ensino de ciências coadunando com movimentos pedagógicos orientados para a democratização do saber sistematizado, tomando como instrumento de compreensão da realidade histórica e para o enfrentamento organizado dos problemas sociais (p. 179) De acordo com o censo escolar no ano de 2009, o número de alunos matriculados em escolas públicas brasileiras no 1º ciclo do Ensino Fundamental no período parcial foi igual a 14.346.603, enquanto no período integral foi de 599.710. Já para o 2º ciclo, esses valores correspondem, respectivamente, a 12.320.419 e 345.334 (BRASIL-INEP, 2010). Este número torna-se 30 representativo, pois é no ensino fundamental que são apresentados e discutidos temas relacionados aos cuidados com o corpo humano e às principais doenças. Dados mais amplos acerca da Educação Básica no Brasil, em 2009, compreendendo todos os segmentos, revela um total de 52.580.452 estudantes, número expressivo se considerarmos a necessidade de adesão nos processos de mobilização social. Contudo, esses indivíduos só agregarão valores à sociedade se a escola se permitir participar do universo em que está inserida, compreendendo e percebendo a necessidade de articular a educação com a realidade da comunidade no que concerne a seus padrões de crença, simbologias e linguagem. Dessa forma, seria atingido o equilíbrio entre o interesse dos alunos com temas pertinentes e dos professores que desconsiderariam seus alunos como “tábuas rasas”. Por outro lado, se os professores se mantiverem rígidos em seus preceitos e não forem capazes de perceber esta demanda, perderão a chance de educar, transformar e modificar conceitos erroneamente adaptados e passados através dos tempos e, por consequência, desinteresse dos alunos que demonstraram baixo rendimento escolar. 2.1 O Ensino, a Escola e a Educação Popular – os pilares das transformações sociais Hamburger & Hamburger (2008) apresentam o Brasil entre os piores classificados no exame Internacional PISA7, que avalia o Ensino de Ciências e 7 Avaliação internacional padronizada, desenvolvida conjuntamente pelos países participantes da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), aplicada a alunos de 15 anos no ensino regular (7ª série em diante). O PISA abrange os domínios de Leitura, Matemática e Ciências, não somente quanto ao domínio curricular de cada escola, mas também quanto aos conhecimentos relevantes e às habilidades necessárias à vida adulta. Com ênfase no domínio dos procedimentos, compreensão dos conceitos e capacidade para responder a diferentes situações dentro de cada campo (INEP). 31 também a Leitura e a Matemática. A formação deficiente afeta diretamente as condições que marcam o viés cultural-social-político-econômico. Os autores defendem que o desenvolvimento da educação depende do envolvimento dos órgãos governamentais e da sociedade. A escola deve ser para a sociedade uma referência onde se realiza a aprendizagem, mas também se multiplicam ideias e se trabalha o envolvimento da sociedade, tendo por preceitos a parceria e a liberdade. O problema na formação dos alunos não se restringe ao ensino, ele também está presente na produção dos livros didáticos de Ciências. Conforme Carvalho (2002), apud Freitas & Martins (2008), a metodologia empregada em uma gama de Livros Didáticos para abordar as doenças, destaque para a tuberculose, tem um caráter voltado, basicamente, para a relação biomédica, limitando-se a descrever os mecanismos biológicos no corpo humano envolvidos na produção do binômio saúde-doença. O ambiente escolar, mais particularmente a sala de aula, como local para propagação do conhecimento é uma das mais antigas invenções da humanidade. Assim como a forma de ensino que utiliza a memorização como prática pedagógica que data ao período egípcio. Em documentos desta época encontram-se referências aos conteúdos a serem passados, os propósitos e a relação entre instrutores e aprendizes. Séculos se passaram e o Brasil ainda mantém vivo o exemplo alexandrino de ensino, que tem por primazia o ato de decorar. Os jesuítas, responsáveis pela educação no Brasil por mais de dois séculos, baseavam seus ensinamentos no humanismo, refratário à pesquisa e aos experimentos científicos. A mudança no perfil do ensino de Ciências em 32 nosso país veio conforme sugestão da LDB 9.394/96 (TRINDADE, 2008). Na percepção de Freire (Pedagogia da Autonomia, 2000), a atividade escolar está baseada tão somente em uma educação na qual os conceitos são transmitidos pelos professores e memorizados pelos educandos. Os assuntos apresentados são aqueles previamente estabelecidos na grade curricular, não se levando em conta o contexto escolar. Assim, o que se vê é uma limitação no entendimento do que aprender e educar. O ambiente escolar na atualidade não deve mais ser considerado um espaço limitado à transmissão de conhecimentos teóricos, ele também tem que ser visto como um local para a troca de experiências no que tange aos aspectos sociais e àqueles ligados às emoções. É necessário que a educação escolar seja capaz de promover a conscientização, permitindo ao aluno desenvolver conhecimentos mais elaborados para utilizar no seu cotidiano. Assim, é fundamental a discussão de tópicos que envolvam a promoção da saúde (FONSECA, 2008). Segundo Rego (2009), para entender a função da escola na construção do aprendizado do educando é necessário compreender que existem dois tipos de conhecimentos: aqueles denominados “conceitos cotidianos ou espontâneos”, que são produzidos a partir do dia a dia do aluno, e os “conceitos científicos”, construídos através do ensino. Apesar de distintos, a relação entre eles é fundamental para a elaboração e crescimento científico do educando. É com a visão de que o professor é capaz de promover uma relação harmoniosa, na qual o aluno é capaz de entender o que ocorre no seu cotidiano 33 através de conceitos científicos, que a Secretaria de Educação Fundamental (1988) defende: A educação para a Saúde como fator de promoção e proteção à saúde e estratégia para a conquista dos direitos de cidadania. Sua inclusão no currículo responde a uma forte demanda social, num contexto em que a tradução da proposta constitucional em prática requer o desenvolvimento da consciência sanitária da população e dos governantes para que o direito à saúde seja encarado como prioridade (p. 65). Conhecer e praticar hábitos saudáveis de vida é necessário, pois, dados da OMS e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) demonstram que apesar do aumento na expectativa de vida em dezenove anos após a II Guerra Mundial até o ano de 1995, ainda são marcantes as discrepâncias entre a qualidade de vida, condições de saúde dentre os mais diferentes países e sociedades (BUSS, 2000). Para Valla (1999), parte da história política do Brasil foi marcada pelo regime militar e por uma alta inflação. Esse período deixou marcas no país, pois contribuiu para o cenário de calamidade na área da saúde e para ampliar as diferenças socioeconômicas. Na sua visão, a forma de defesa da população de baixa renda contra o capitalismo feroz foi fazer parte de “redes sociais” para alcançar a “sobrevida”. Para dar vida à fala, Valla (1996 apud Valla 2000) apresenta o caso de um país da América do Sul: A recente epidemia de cólera no Peru, por exemplo, teve como desfecho uma taxa surpreendente baixa de mortalidade, mas muito em função da iniciativa dos grupos populares do que em função dos investimentos do governo peruano. Simbolicamente denominado “duplo caminho”, este movimento, de um lado, cobrou do governo o que seria de sua responsabilidade, e, de outro lado, quando percebeu que o governo não respondia com os recursos necessários para combater adequadamente a 34 epidemia, implementou uma política própria de mutirão para salvar os atingidos (p. 39). O contexto social na prática do aprendizado não deve ser desvalorizado pelo educador, pois, segundo Rego (2009) para Vygotsky, o ambiente social é de extremo valor, nos oferecendo representações e ferramentas que fazem parte do cotidiano do indivíduo e intermediando sua interação com o mundo e também sua conduta nele. Diversos países nos anos 60 iniciaram discussões a respeito da importância das vertentes social e econômica para o setor saúde, permitindo, assim, uma mudança no foco preferencial de atenção, que até o momento era voltado basicamente para o tratamento das doenças. A primeira Conferência com o propósito de discussão sobre a Promoção de Saúde foi a de Alma-Ata (1978), quando se propôs a busca de Saúde Para Todos no Ano 2000 e a programação de Atenção Primária de Saúde. A Conferência Internacional Carta de Ottawa, em 1986, foi o marco para a confecção das diretrizes que servem de alicerce para as ações na Promoção em Saúde, de forma que as bases que norteiam as ações foram definidas graças ao trabalho conjunto de seus participantes. Em prosseguimento, novas Conferências Internacionais foram sendo realizadas, Adelaide (1988), Sundsvall (1991), Jakarta (1997) e México (1999), e duas de natureza sub-regional em Bogotá (1992) e Port of Spain (1993). Em cada uma, novos ganhos vêm sendo acrescidos à proposta inicial, além de um aumento nas áreas de atuação (BRASIL, 2001). O Brasil foi o precursor na formulação do sistema de Educação Popular, tendo Paulo Freire como seu principal representante. A organização do processo 35 iniciou-se no final dos anos 50 como movimento de intelectuais e profissionais de educação ligados à religião Católica e inspirados no humanismo que surgia no período pós guerra na Europa. O livro Pedagogia do Oprimido, escrito por Paulo Freire (1994), trouxe uma análise acerca dos trabalhos educativos por ele observados durante sua permanência no Brasil e no exílio, permitindo assim a transmissão de suas interpretações a outros países, sendo esse o motivo da mesma ser conhecida nesses lugares como “pedagogia freiriana” (BRASIL, CADERNO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE, 2007). Freire (1994) apresenta o exercício da educação como um modelo de controle, em que muitos dos professores nem se dão conta, formando cidadãos passivos aos acontecimentos, sem capacidade de formar um pensamento crítico. Apresenta, também, a diferença entre duas práticas educativas: a educação “bancária” e a educação “problematizadora”. Na primeira modalidade, o aluno é um mero receptáculo das informações transmitidas pelos professores, enquanto que, na segunda, professor e aluno vão construir o conhecimento, necessitando empenho de ambos nesse caminho de construção do saber científico. Enquanto a primeira serve como mecanismo de dominação, a segunda liberta. O modelo para compreensão da promoção de saúde vigente nos últimos 20-25 anos apresenta-se como uma próspera articulação no combate aos diversos males da saúde que acometem os indivíduos e seu ambiente de convívio (BUSS, 2000). Para Vasconcelos a Educação Popular é um saber importante para a construção da participação, servindo não apenas para a criação de uma nova 36 consciência sanitária, como também para uma democratização mais radical das políticas públicas. Não é apenas um estilo de comunicação e ensino, mas também um instrumento de gestão participada de ações sociais. É também o jeito latino-americano de fazer promoção de saúde (BRASIL, CADERNO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE, 2007, p. 27). As classes sociais dominantes até os anos 70 utilizaram-se da educação em saúde conforme sua conveniência, manipulando e determinando hábitos de vida que considerava mais satisfatórias aos indivíduos menos favorecidos economicamente (classe operária e imigrantes de áreas rurais). A instituição do regime militar trouxe uma nova realidade ao cenário social. O movimento popular ganhou outra dimensão, agora apoiado pela Igreja e com a participação de intelectuais. A ideologia de Educação Popular de Paulo Freire forneceu as bases que serviram de elo entre estas diferentes classes sociais, que necessitavam buscar saídas científicas, criadas a partir dos dois conhecimentos, devido à ausência de ações do Estado (BRASIL, CADERNO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE, 2007). A história das práticas vinculadas à saúde esteve relacionada ao longo do tempo à visão biológica, isto é, em formas de prevenir, diagnosticar e tratar. Porém, na concepção filosófica da promoção de saúde só isso não era suficiente. Assim, houve necessidade de reformular o trabalho educativo em saúde praticado com alunos do Ensino Infantil, Fundamental e Médio e na Educação de jovens e adultos. A missão de implantar essa nova prática educativa coube aos Ministérios da Educação e da Saúde (BRASIL, A EDUCAÇÃO QUE PRODUZ SAÚDE, 2005). 37 A nova definição de saúde não está vinculada somente à falta de doenças, mas também às condições de vida satisfatórias e ao bem estar. Portanto, a saúde perde seu conceito fixo por um em constante movimento por vincular-se às ações da sociedade (BUSS, 2000). Segundo Bertolli Filho (2003), se a saúde e a moléstia adquirem movimento por fazerem parte da dinâmica do conjunto social, do qual o estudante se insere, o enfermo, por fazer parte deste contexto, é merecedor de uma atenção mais privilegiada por parte dos profissionais que atuam na educação. Conforme proposição do autor, as histórias dos alunos e de seu círculo de convívio podem ser utilizadas como fonte de exercício e experiência, cabendo às escolas aumentar a relação com as comunidades locais próximas a ela para que, assim, tenham a chance de convocar membros da comunidade para expor suas histórias de vida e a relação com a doença aos alunos. Em algumas comunidades carentes do município do Rio de Janeiro, dentre as quais cito duas que trabalhei8, Cidade de Deus e Rio das Pedras, já se utiliza o modelo de discussão de temas envolvendo as práticas da comunidade. Agentes de saúde – aqui se englobam todas as categorias profissionais –, em parceria com os professores, apresentam temas que são debatidos com os alunos no intuito de construir um pensamento de melhoria da qualidade de vida. Aqui há uma liberdade de expressão. Perde-se a limitação imposta pelo livro didático, o conhecimento é construído por todos os participantes. Discussões maiores são levadas aos Conselhos Distritais, onde os representantes da comunidade e os 8 As atividades exercidas por profissionais ligados à unidade básica de saúde no município do Rio de Janeiro têm por missão, além de prestar atendimento à população, promover na comunidade, incluindo associação de moradores e escolas, palestras divulgando hábitos saudáveis de vida, incluindo cuidados com o corpo e ambiente. 38 gestores municipais se reúnem com o intuito de propor mudanças que beneficiem o bem estar social. Segundo dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2007 (BRASIL, Sinopse estatística da Educação Básica, 2008), o total de alunos matriculados representa um universo em torno de 53.028.928 milhões. Desta forma, a escola torna-se um campo rico de trabalho, inclusive no que se refere às formas de precaver-se de doenças (FONSECA, 2008). A importância da escola para a prática de Educação Popular faz-se na medida em que a relação entre professores e alunos ocorre de forma horizontal, diferente de outras correntes fora desse ambiente que utilizam a prática de ensino vertical (BRASIL, CADERNO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE, 2007). Para Cyrino & Toralles-Pereira (2004), a utilização da problematização como ferramenta de ensino demanda dos profissionais da educação um maior tempo de estudo e dedicação, pois das discussões realizadas entre docentes e discentes podem surgir situações nunca experimentadas pelos professores no que se refere ao conteúdo da grade curricular, mas que serão importantes para ambos na consolidação do conhecimento. É importante ao professor sua orientação política em relação à educação e aos temas a serem abordados. Além disso, é fundamental saber orientar o aluno quanto à forma de realizar a sua pesquisa e também estimulá-lo nesse processo de investigação para que, ao final do exercício, ele possa ser capaz de interpretar criticamente as situações apresentadas. Os Ministérios da Educação e Saúde, no ano de 1995, lançaram uma campanha e vêm exaustivamente trabalhando para que as escolas tragam à 39 discussão temas que abordem a saúde sexual e a saúde reprodutiva, além de formas de prevenção de DST/HIV/AIDS como forma de combate à epidemia de AIDS no país. Desse movimento conjunto originou-se o “Projeto Escolas”, que incentivou 16 Unidades da Federação entre o período de 1994 e 1999. O movimento gerou frutos e no período de 1999 e 2000, através do plano de ação “Salto para o Futuro”, contemplou 27 Unidades da Federação (BRASIL, DIRETRIZES PARA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO SAÚDE E PREVENÇÃO NAS ESCOLAS, 2006). Paulo Freire, em 1969, já admitia que o conhecimento depende da curiosidade do ser humano e de sua capacidade de modificar os fatos através de ações. E com essa concepção torna-se uma procura frequente, na qual as atitudes de criar e recriar se tornam fundamentais: Estamos convencidos de que, qualquer esforço de educação popular, esteja ou não associado a uma capacitação profissional, seja no campo agrícola ou no industrial urbano, deve ter pelas razões até agora analisadas, um objetivo fundamental: através da problematização do homem-mundo ou do homem em suas relações com o mundo e com os homens, possibilitar que estes aprofundem sua tomada de consciência da realidade na qual e com a qual estão (Extensão ou Comunicação, 1977, p. 33). Apesar de ser o principal representante da Educação Popular, Paulo Freire não foi seu criador. Porém, foi o primeiro a descrever na teoria esse movimento que foi sendo desenvolvido a partir da década de 50 por intelectuais que viam nas populações mais abastadas uma grande força para encarar suas adversidades e de se reunir em rede de solidariedade (BRASIL, CADERNO DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE, 2007). 40 O desenvolvimento socioeconômico demandou e ainda demanda transformações nos cenários que envolvem a sociedade e o ambiente, assim fazse necessário uma maior habilidade e dinamismo na resolução de problemas. A definição de vulnerabilidade9 neste contexto socioambiental é sugerida no intuito de aumentar o desempenho das ações frente aos perfis epidemiológicos da atualidade, visto ter por característica envolver uma formação organizacional de maiores dimensões. Através de um planejamento eficaz, aplicação dos meios existentes de forma eficiente e ampliação dos dados disponíveis, espera-se diminuir a vulnerabilidade e ter a capacidade de considerar e idealizar panoramas futuros (SABROZA, 2007). Para Meyer et al (2006), a criação do painel de vulnerabilidade no que se refere à saúde é um dado novo, assim: Apostamos que o referencial da vulnerabilidade pode contribuir muito para a renovação das práticas de saúde em geral e, particularmente, para as práticas de educação em saúde, porque consiste precisamente na busca de um novo horizonte para situar e articular riscos, “casualidades” e “determinações”, trazendo a saúde – assim como a possibilidade de adoecer – para o campo da vida real, para o mundo dos sujeitos em relação no qual esses processos ganham sentidos singulares (pag. 1341). Por outro lado, Valla (1999) descreve que os projetos que relacionam educação popular e saúde das sociedades menos favorecidas têm permitido dupla interpretação, pois, para um grupo são estratégias com características positivas, servindo para ordenar e politizar os indivíduos, podendo até mesmo ser usada para indicar protestos devido à falta de soluções do Estado. Entretanto, 9 A construção do quadro conceitual da vulnerabilidade no campo da saúde é relativamente recente e está estreitamente relacionada ao esforço de superação das práticas preventivas apoiadas no conceito de risco (MEYER et al, 2006, pág. 1338). 41 outros grupos acreditam que essas ações são dever do Estado e acabam por ver nessas estratégias uma forma de o Estado diminuir seus custos. A escola, ao incluir tópicos em saúde como temas transversais ao seu conteúdo curricular, tem por objetivo desenvolver atividades que estimulam os alunos a adquirir uma postura crítica de sua realidade, buscando, assim, melhorar sua qualidade de vida. Pensar saúde é pensar em todos os fatores relacionados, tais quais: “condições de moradia, de trabalho, na alimentação, na educação, nos serviços de saúde, no lazer, na forma como nos relacionamos com as pessoas, na forma como protegemos a natureza e o meio ambiente, na força da nossa organização, na decisão política, enfim, nas condições de vida da comunidade” (BRASIL, A EDUCAÇÃO QUE PRODUZ SAÚDE, 2005, p. 8). A importância do corpo para as classes sociais mais humildes foi descrita por Lomônaco (2004), onde se percebe a forte ligação entre o estado físico, saúde ou doença, e a sua relação com o corpo, visto que o corpo para eles representa seu instrumento de trabalho, sendo nesse contexto necessário para sua sobrevivência. A ideia que serve como combustível para movimentar a engrenagem das ações da educação em saúde está na concepção de que a solução para combater as doenças tem por ideologia a divulgação de informes contendo conteúdos propícios e/ou da disposição individual ou coletiva daqueles submetidos às condições de risco. Em ações realizadas nas escolas, tendo por objeto tópicos que envolvem o dia a dia dos alunos e de seu universo de vida, pode-se perceber que o nível de compreensão elevou-se, podendo, portanto, ser eficaz na mudança de comportamentos (MEYER et al, 2006). 42 À medida que a escola trabalha os temas transversais relacionados à saúde e que envolve os participantes e suas condições de vida, o resultado é o desejo de divulgar as ideias de boas práticas em saúde que ali nasceram, seja para outras escolas ou mesmo para a comunidade. O material para divulgação pode ser representado por “folders, histórias em quadrinhos, cartilhas, murais, revistas e tantos outros materiais educativos”. A principal característica deste tipo de criação é que ela deve ser fiel ao representar o ambiente de vida e em uma linguagem acessível à comunidade (BRASIL, A EDUCAÇÃO QUE PRODUZ SAÚDE, 2005). Assim, através da inserção que a história em quadrinhos tem na população juvenil e da possibilidade de replicar as situações do cotidiano dos indivíduos e do seu entorno que buscamos utilizá-la como uma ferramenta de divulgação da tuberculose e da importância de seu controle em nosso país, podendo ser utilizada como apoio didático pelos professores. 2.2 A história em quadrinhos, uma ferramenta capaz de divertir e divulgar informações em saúde Desde a antiguidade, o homem já se utilizava da arte através da pintura de gravuras para descrever suas aventuras, ato que foi sendo repetido ao longo dos séculos e serviu para contar a história da humanidade. Esta forma de linguagem ampliou sua representatividade através da utilização de histórias em jornais e revistas em quadrinhos, tornando-se um dos maiores representantes da comunicação de massa (ARAÚJO, COSTA & COSTA, 2008). 43 Vergueiro & Santos (2006) apresentam as histórias em quadrinhos (HQ) como uma produção cultural de grande expressão, pelo seu poder de penetração na população como veículo de comunicação e pelo interesse da população por este tipo de literatura. O gosto por este tipo de leitura é antiga no Brasil, fato confirmado pelo país ter sido o primeiro a sediar a I Exposição Internacional em Quadrinhos, ocorrida em 1951. Essa forma de expressão literária foi criada por Richard F. Oucault e apresentada em jornal já no final da segunda metade do século XIX, conforme Feijó (1997) apud Miskulin, Amorim & Silva (2006). Vários são os exemplos nos quais este recurso metodológico foi utilizado na prática educativa nas mais diversas disciplinas. Para Miskulin, Amorim & Silva (2006, p. 1) “(...) esse gênero literário também pode fornecer subsídios para o desenvolvimento da capacidade de análise, interpretação e reflexão do leitor. As histórias em quadrinhos podem também estimular a imaginação e criatividade...”. Este foi o princípio que estimulou as professoras a utilizar esse instrumento didático numa escola bilíngue situada em Campinas (São Paulo), permitindo trabalhar temas sob a ótica da identificação do problema, formulação do plano de ação e revisão do processo com visão na meta a alcançar. A atração que as crianças sentem pelas histórias contidas neste tipo de leitura pode ser explorada pela educação, pois, conforme as autoras, o leitor é estimulado em sua capacidade de sonhar e criar, permitindo assim que novos conceitos sejam concebidos e assimilados. 44 Para Caruso & Freitas (2003), seguindo os princípios de Bachelard 10, faz parte do exercício do ensino a capacidade de estimular o aluno a sonhar, fato que vem sendo negligenciado, o que tem repercutido não só na instituição, mas também no convívio social diário e na sociedade, contrariando o Art. 3º, inciso XI da LDB. A motivação através da utilização de revista em quadrinhos também foi apresentada por Nunes (2004) em trabalho realizado em uma escola situada em Itabuna, sul da Bahia. Diante do desânimo dos alunos frente ao ensino de Geometria de etiologia multifatorial e ao perceber que alguns estudantes liam revistas durante a aula, a professora resolveu utilizar deste material como recurso didático. A resposta foi positiva, com aumento da participação e mudança na atitude os alunos. A importância da utilização de histórias em quadrinhos para a divulgação de conceitos que promovam a melhora da qualidade de vida pode ser encontrada nas palavras de Vergueiro & Santos (2006): De uma certa forma, pode-se inferir a existência da percepção de que as histórias em quadrinhos oferecem reais benefícios para a prevenção de doenças e disseminação de hábitos saudáveis, assim como para o aprendizado geral (pág 8). Araújo, Costa & Costa (2008) afirmam que a qualidade fundamental das HQs é que as figuras dos personagens e as suas falas possam transmitir aos seus leitores uma ideia, mas para essa construção é necessária uma apresentação da história de forma cadenciada. Para os autores, a HQ representa uma ferramenta pedagógica de grande valia e sua utilização já está presente, 10 Gaston Bachelard (1884-1962), filósofo francês, “considera que a objetividade da ciência é construída” (Bertoche, 2006) e não ensinada. 45 inclusive, nos livros didáticos. Porém, o professor deve estar atento, pois ainda não existe sistema regulador para o seu emprego no ensino, apesar da sua utilização já estar contemplada nas principais normas regulatórias da educação. Tatsu (2002) – diante da aceitação deste tipo de linguagem, principalmente pelas crianças, as quais podem ser consideradas como os principais vetores para as transformações nos seus ambientes sociais e do conhecimento adquirido ser um instrumento fundamental na luta contra a doença – criou uma mídia com HQ para o primeiro segmento, com a finalidade de ajudar na prevenção de enfermidades. Nesse caso em particular, a dengue. A quantificação das ações que envolvem a apresentação e discussão no ambiente escolar de temas presentes no cotidiano do aluno pode ser mensurado de forma indireta, como exemplificado no projeto realizado por Moura, Castro & Campos (2009) com alunos do primeiro segmento de uma escola pública em Cuiabá-MT, que teve por conclusão a construção de HQ baseadas no aprendizado sobre educação ambiental, propiciando a contextualização do assunto, assim como dos valores assimilados durante a apresentação e discussão dos temas, aferindo sua capacidade de ler e criar a redação. A maior parte dos participantes confia que pode haver transformação na forma de agir e nos conceitos da sociedade local. Seguindo essa linha de atuação pedagógica e lúdica, optou-se pelo uso de HQs para o ensino da temática tuberculose, sendo esse um dos mecanismos de avaliação da apreensão dos alunos após as palestras ministradas. 46 CAPITULO III TRILHANDO OS CAMINHOS DA PESQUISA 3.1 História, contextualização e caracterização do local O Estado do Rio de Janeiro localiza-se na região Sudeste, com uma área física de 43.864,3 km², e faz fronteira com os Estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais. A área de Mata Atlântica corresponde a 28% da região. A população do estado recebe água proveniente do rio Paraíba e seus tributários. O Estado do Rio de Janeiro, como tantos outros, sofre com as ações nocivas do homem sobre a natureza. No âmbito gerencial, o estado é constituído por oito regiões administrativas, nove regiões de saúde e dividido em 92 municípios. Na Região Metropolitana I (fig. 1), os Municípios de Nilópolis, Belford Roxo correspondem a V microrregião (CADERNO DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE, 2009). Figura 1. Mapa da divisão da região metropolitana I. Modificado http://abaixadaemalta.blogspot.com/2009/06/tudo-comecou-assim-e-baixadafluminense.html de 47 A região Metropolitana I corresponde a uma área de 7,90% do Estado do Rio de Janeiro, abrigando uma população de aproximadamente 62,70%, com áreas variadas de densidade populacional devido a uma ocupação e crescimento desigual das regiões e, por conseguinte, uma oferta nem sempre adequada dos serviços de atenção básica, conforme dados apresentados no CADERNO DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE (2009), em planilhas expostas na tabela 1. Tabela 1. Área e Dados Populacionais dos municípios do RJ. Fonte: Caderno de Informações em Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Conforme Cláudio de Oliveira, Diretor do Patrimônio Histórico de Nilópolis, a história do município pode ser contada desde a época das capitanias hereditárias, sendo fundado em 06 de setembro de 1914 e emancipado em 20 de junho de 1947 (http://www.achetudoeregiao.com.br/rj/nilopolis/Historia.htm). 48 Os dados do município são apresentados através de seu site oficial (http://www.nilopolis.rj.gov.br/site/). A cidade possui uma população de 159.005 pessoas, ocupando uma área de 9 km² de total de 19,4 km². É dividida em dois distritos e 15 bairros. A economia está focada no comércio e na prestação de serviços. Alguns dos indicadores do município merecem destaque: qualidade de vida, nível de alfabetização (93,3%), saneamento básico (90%) e o de pavimentação e iluminação pública (99%). O Governo do Estado do Rio de Janeiro, em maio de 2009, apresentou o Caderno de Informações em Saúde do Estado do Rio de Janeiro, resultado do trabalho de técnicos, gestores e representantes dos conselhos de saúde, no qual foram apresentados os dados dos indicadores de atenção básica em saúde dos diferentes municípios que compõem o estado do Rio de Janeiro (tabela 2). Tabela 2. Indicadores de Atenção Básica no Pacto pela Vida. Fonte: Caderno de Informações em Saúde do Estado do Rio de Janeiro. 49 3.2 Sujeitos da Pesquisa A pesquisa foi realizada com a participação de alunos e professores do ensino médio de duas escolas públicas estaduais do Município de Nilópolis, após a apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do IFRJ. A escolha das escolas foi realizada de acordo com uma parceria firmada entre as escolas da rede estadual e o IFRJ, já utilizada para a realização de projetos envolvendo professores, graduandos e mestrandos do IFRJ e professores e alunos das escolas. Esta dissertação integra o projeto de pesquisa “As intersecções dos temas saúde e ambiente no ensino formal: análise das práticas docentes e materiais didáticos”, com apoio financeiro da FAPERJ11, o qual já desenvolveu, a partir do acompanhamento das práticas docentes acerca da saúde e ambiente, ciclo de palestras sobre ensino de ciências, oficina para a atualização dos professores, criação de um livro propondo atividades transversais sobre energia e seus aspectos relacionados à saúde e ao ambiente, guia didático sobre uso de cinema para o EJA, análise dos livros didáticos utilizados pelas escolas, dentre outros materiais didáticos. O foco de ação desta dissertação, dentro desse projeto de pesquisa do grupo de trabalho, foi o de produzir material didático de apoio para o professor sobre a Tuberculose, visando minimizar o grau de desconhecimento das pessoas acerca da doença, auxiliando na redução dos índices de uma doença muito antiga que é recorrente na sociedade, sobretudo, nas que possuem um IDH12 abaixo de 0,8 – como é o caso de muitas regiões localizadas na 11 Processo número E-26/111.574/2008. Edital Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa (RJ). O Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, é considerado como um indicador de desenvolvimento social e foi criado e desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975, para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores como educação, longevidade e renda. O IDH é feito com variação do zero (0), considerado nenhum desenvolvimento humano, até um (1), desenvolvimento humano total. 12 50 Baixada Fluminense. Para tanto, recorremos a uma análise da doença no primeiro momento e, após a verificação do conhecimento dos atores desta pesquisa sobre a mesma nos cenários da pesquisa, decidiu-se produzir tais materiais didáticos. Em decorrência de tal fato, lançamos mão de uma metodologia que se compõe num estudo de caso. O pesquisador, antes do início das atividades, visitou cada escola envolvida no projeto, apresentando aos professores do ensino de Ciências a importância da participação dos docentes e discentes na pesquisa, pois a abordagem do tema é fundamental na formação de um cidadão mais crítico, capaz de opinar sobre questões relacionadas à sua vida e ao ambiente social onde vive. Na explicação acerca da proposta do trabalho e da importância para a valorização da cidadania, foi questionado aos diretores se no município, assim como ocorre em outras unidades da Federação, existem ações que envolvam práticas de educação popular entre as unidades de saúde e as escolas. A resposta para a pergunta foi negativa, não existindo qualquer trabalho no intuito de promover discussões acerca de temas transversais entre as duas instituições. As escolas também não se valem dos cadernos lançados pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde que, se consultados, poderiam servir como orientadores para a abordagem dos temas referentes ao ensino de biologia conforme PCNEM (2006): Contraditoriamente, apesar de a Biologia fazer parte do dia-a-dia da população, o ensino dessa disciplina encontra-se tão distanciado da realidade que não permite à população perceber o vínculo estreito existente entre o que é estudado na disciplina Biologia e o cotidiano. Essa visão dicotômica impossibilita ao 51 aluno estabelecer relações entre a produção científica e o seu contexto, prejudicando a necessária visão holística que deve pautar o aprendizado sobre a Biologia (p. 17). Os professores receberam o convite para participar do projeto e o termo de consentimento da pesquisa, em duas vias, para que fosse entregue aos alunos e assinado pelos pais, uma das vias ficaria com o aluno e a outra com o pesquisador. Foi agendado em conjunto com os professores um encontro para o início do trabalho de campo. Antes de começar a atividade, foi explicado aos alunos o motivo da pesquisa e a sua relevância, a forma de realização da investigação que se constituía de três momentos: (1) pré-teste, (2) apresentação e contextualização do tema para construção e solidificação do conhecimento e (3) pós-teste (semelhante ao pré-teste). Também foi informado aos alunos e aos professores que, ao final da palestra, os alunos interessados poderiam participar de um concurso, sob orientação dos professores, tendo por finalidade a construção de uma revista em quadrinhos tendo por tema a tuberculose. Dentre as histórias entregues pelos participantes das duas escolas, haveria a escolha e premiação de três que melhor abordassem a temática. 3.3 Classificação da Pesquisa Para Minayo (2008, p. 47), Pesquisa pode ser definida como “atividade básica das Ciências na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino”. O constante movimento da investigação e da descoberta garante à pesquisa uma particularidade de movimento com finalização transitória, pois há sempre a sensação de que há muito ainda a descobrir. 52 De acordo com Barros & Lehfeld (1986), as pesquisas podem ser distribuídas em três modalidades, classificadas de acordo com a forma de abordagem do objeto a ser investigado. Assim, partindo desse pressuposto, a técnica de pesquisa utilizada no presente trabalho pode ser classificada como do tipo descritiva, pois: Neste tipo de pesquisa não há interferência do pesquisador, isto é, ele não manipula o objeto de pesquisa. Procura descobrir a frequência com que o fenômeno ocorre, sua natureza, características, causas, relações e conexões com outros fenômenos. A pesquisa descritiva engloba dois subtipos: a Pesquisa Documental e/ou Bibliográfica e a Pesquisa de Campo (p. 91). Os modelos quantitativos e qualitativos foram utilizados na interpretação das informações coletadas, sendo possível estabelecer um “retrato” sobre a forma como a tuberculose era tratada nas escolas. Richardson et al (2008) descreve que “o método quantitativo caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas”. Enquanto Pêcheux (1988 apud Minayo, 2008, s/p) propõe a análise qualitativa através da “classificação de forma binária” ou em “repetição do idêntico”, nesse caso as frases devem ser decompostas até chegar a pequenos elementos dentro de uma representatividade fenomenológica, para assim poderem ser representadas graficamente. De acordo com Serapioni (2000), o método quantitativo é usado quando o objeto do estudo está claro e já existem bases científicas consistentes sobre o assunto. Nesses casos, podem ser utilizados questionários contendo perguntas fechadas. Já o método qualitativo é usado quando as bases científicas ou as teorias ainda não foram estabelecidas ou o objetivo de pesquisa não está 53 definido. Comparativamente, ambos os modelos de pesquisa são necessários e importantes na pesquisa, pois permitem a descoberta de fatores relacionados ao meio social dos indivíduos (MINAYO, 2008). Os modelos de pesquisa também podem servir como instrumentos norteadores das atividades desenvolvidas pelos profissionais, pois segundo Peduzzi (2000): Embora, não esteja diretamente referida, a utilização de técnicas de pesquisa quantitativa e qualitativa possibilita a avaliação dos processos de trabalho, tanto no que diz respeito às ações e aos resultados, quanto à interação dos sujeitos envolvidos (p. 128). Para Gunther (2006), o pesquisador na investigação e elaboração do conhecimento científico não deve se limitar à escolha de um ou outro modelo de pesquisa, mas utilizar-se de modelos quantitativos e qualitativos de acordo com o objeto em estudo. Minayo (2008) explica que os métodos não são iguais entre si e nem se superpõem, mas que a relação entre eles contribui consideravelmente para entender os problemas que interferem no bem estar do indivíduo. 3.4 Instrumentos de coleta e análise dos dados Na perspectiva de Lüdke e André (1986, p. 1) “para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento acumulado a respeito dele”. 54 Na pesquisa foi utilizado um questionário estruturado composto por 13 perguntas fechadas para os alunos e seis perguntas para os professores, sendo uma delas semiestruturada para seu livre discurso. A utilização de questionário na visão de Lükde e André (1986), com perguntas fechadas, tem o benefício de o entrevistador estar presente para dirimir qualquer dúvida que por ventura possa existir, além de os dados obtidos na pesquisa seguirem uma padronização nas respostas favorecendo assim uma análise quantitativa. A pergunta semiestruturada não segue o rigor da padronização, permitindo uma resposta mais subjetiva. As 13 questões propostas aos alunos buscavam identificar seus conhecimentos a respeito da doença, no que diz respeito ao agente etiológico, forma de transmissão, sinais e sintomas, exames diagnósticos e ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde e Educação. As seis perguntas direcionadas aos professores foram divididas em duas partes: a primeira, de 1 a 3, relacionada à sua formação acadêmica, tempo de atuação como professor e tempo de atuação na escola. A segunda parte, 5 a 6, indagava sobre a utilização de debates sobre temas atuais, os instrumentos utilizados que auxiliavam na discussão e as adversidades encontradas pelo professor de ciências em sua prática diária. Para validar o instrumento de pesquisa, foi realizado um estudo piloto utilizando uma turma de ensino médio do IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), com sede em Nilópolis, composta por sete alunos e com a participação de uma professora de ciências. O questionário foi validado sem ressalvas e 55 efetivamente não houve qualquer dúvida entre os participantes para sua aplicabilidade. Os dados levantados foram tabulados e analisados, sendo feito o cálculo das frequências para as perguntas objetivas e a análise do conteúdo para as perguntas discursivas. Para tal, foi utilizado o aporte teórico proposto por Bardin (2008, p 47), o qual define que “a análise documental permite passar de um documento primário (em bruto) para um documento secundário (representação do primeiro)”. A avaliação dos dados obtidos e sua interpretação através de métodos analíticos permitem que os resultados sejam passados de forma clara e objetiva, permitindo que seja interpretado por todos (BARDIN, 2008). 3.5 Análise dos dados, interpretação e resultados Os sujeitos da pesquisa escolhidos para o estudo foi representado pelos alunos do ensino médio que já tinham experimentado o contato com esta temática, pois, de acordo as orientações do PCN (1996, s/p), o ensino de saúde para o segmento fundamental tem por finalidade “transmitir informações a respeito do funcionamento do corpo e descrição das características das doenças, bem como um elenco de hábitos de higiene”, apesar de tais atividades não garantirem a mudança nos hábitos de vida. Dos 487 alunos das duas escolas, 221 participaram da pesquisa, representando cerca de 45% do público alvo. Uma pequena divergência no quantitativo dos questionários pode ser observada, uma vez que três alunos que não estavam no momento do pré-teste, pois chegaram atrasados na escola, participaram da palestra e do pós-teste apenas. 56 Apesar de a faixa etária não ter sido pesquisada, pois não alteraria os resultados, todos os participantes encontravam-se no período da adolescência, o que se torna relevante, pois segundo dados do Guia de Vigilância Epidemiológica (2005), a doença acomete principalmente indivíduos em sua fase mais produtiva de trabalho, ou seja, dos 15 aos 54 anos. Dos alunos que responderam, 67% já haviam sido informados sobre a doença por alguém, não foi solicitado especificar a fonte da informação. O conhecimento sobre a doença é fundamental, desde que realizada por profissionais qualificados, pois representa a primeira causa de morte em pacientes HIV positivos e a 4ª causa das doenças infecciosas na população em geral. Do total de internações no Brasil por doenças infecto-contagiosas, a tuberculose ocupa a 9ª posição e a 7ª colocação em gastos do Sistema Único de Saúde – SUS (http://www.fundoglobaltb.org.br/site/home/index.php). Já em pesquisa realizada pelo Projeto Fundo Global TB – Brasil (2010), incluindo 53 municípios brasileiros, 49% dos entrevistados informaram não conhecer nada sobre a doença (http://www.fundoglobaltb.org.br/site/noticias/mostraNoticia.php). Quando questionados se já haviam buscado informações sobre a doença, 25% afirmaram positivamente, o que demonstra a importância da discussão da saúde como tema transversal para a Educação, conforme preconizado pelos PCN (BRASIL, 1996). O trabalho dos agentes de saúde nas Escolas, numa ação conjunta com os professores, deve ter como norma as mesmas Diretrizes utilizadas para a Implantação do Projeto Saúde nas Escolas (2006), o qual abrange o tema da educação sexual e saúde reprodutiva, assim como outros 57 assuntos relevantes para promoção da saúde poderiam ser discutidos, dentre eles a tuberculose. Não foi indagado o motivo da procura. No que diz respeito à forma de obter as informações acerca da tuberculose, 46% responderam que as fontes foram os meios de comunicação representados pela televisão, jornais e revistas, sendo que a televisão foi citada em 40% das respostas e 33% assinalaram como nenhuma das opções apresentadas (tabela 3). Este dado confirma a citação de Costa (2002) de que a televisão representa o principal meio de comunicação da segunda metade do século XX. Assim, cabe a ressalva para o Ministério da Saúde através do Programa Nacional de Controle da Tuberculose acerca da importância da veiculação de informações a respeito da doença utilizando-se dos meios de comunicação para tentar atingir de forma eficaz essa parcela da população. TABELA 3: Descrição das fontes utilizadas na busca de informações sobre a tuberculose Fonte de informação Amigos Amigos e televisão Amigos televisão e profissionais de saúde Amigos e profissionais de saúde Jornais Jornais e televisão Jornais, amigos e televisão Jornais, livros e televisão Jornais, livros e profissionais de saúde Jornais, revistas e televisão Jornais, revistas, livros e profissionais de saúde Jornais, revistas, televisão e profissionais de saúde Livros Livros e profissionais de saúde Livros e televisão Livros, televisão e profissionais de saúde Nenhuma das opções apresentadas Nulo Profissionais de saúde Revistas Frequência 13 06 02 01 05 09 01 01 02 03 01 01 11 01 03 02 72 08 14 02 58 Revistas e amigos Revistas e televisão Televisão Televisão e profissionais de saúde 01 02 52 08 Com relação ao agente etiológico, foi perguntando o nome do bacilo causador da tuberculose, 5% assinalaram o bacilo de Koch, enquanto 16% assinalaram outros agentes que podem levar a outros tipos de doenças e 74% não souberam responder (tabela 4). Nesse item, pode-se aferir o desconhecimento da maioria dos alunos sobre o nome do agente causal, apesar dos alunos já haverem estudado do 6º ao 8º período do ensino fundamental sobre o aparelho respiratório e as doenças mais prevalentes. No terceiro momento da pesquisa, pós-teste, observamos que 83% dos alunos já identificam o bacilo de Koch como o agente causal da doença. TABELA 4: Identificação pelos alunos do agente etiológico causador da tuberculose. Agente etiológico Sthaphylococus aureus Pseudomonas aeruginosa Klebsiella pneumoniae Bacilo de Koch Escherichia coli Não sei informar Sthaphylococus aureus e Escherichia coli PRÉ TESTE 2% 11% 3% 5% 0% 79% 0% PÓS TESTE 2% 4% 1% 83% 1% 8% 1% Quando indagados sobre o nome da vacina administrada na infância para prevenir as formas graves da doença, mais uma vez foi possível perceber que a maioria dos alunos desconhecia o seu nome (Figura 2). Dados da pesquisa realizada pelo Fundo Global TB – Brasil apontam que 47,1% dos entrevistados têm conhecimento sobre a vacina BCG, porém somente 3,2% sabiam a finalidade da vacina (http://www.fundoglobaltb.org.br/site/noticias/mostraNoticia.php). Cabe destacar a importância dada à vacinação no país. Para tal, ao ingressar na escola 59 é solicitado aos responsáveis pelo aluno a caderneta vacinal para avaliação das vacinas recebidas e também no ingresso ao trabalho formal em que há exigência de cópia da caderneta vacinal dos filhos menores de idade para comprovação. É nesse aspecto de aprendizado que mais uma vez ressaltamos o papel essencial da escola na formação do indivíduo que na visão de Vygostsky (apud REGO, 2009): Sabemos que a presença na escola não é garantia de que o indivíduo se apropria do acervo de conhecimentos sobre áreas básicas daquilo que foi elaborado por seu grupo cultural. O acesso a esse saber dependerá, entre outros fatores de ordem social e política e econômica, da qualidade do ensino oferecido. Nesse sentido, o pensamento de Vygotsky traz uma outra implicação: contribui para suscitar a necessidade de uma avaliação maios criteriosa de como essa agência educativa vem desempenhando sua tão relevante função (pag. 105). Figura 2: Nome da vacina utilizada infância para prevenir as formas graves da doença. O uso de recursos didáticos na prática pedagógica envolvendo o cotidiano do indivíduo favorece o aprendizado, uma vez que o mesmo passa a ser contextualizado. Citamos o exemplo da indicação da cicatriz da vacina em seus braços, o que durante as palestras foi uma ferramenta útil para atrair a atenção 60 sobre a importância da vacinação e aumentarmos para 91% (acréscimo de 146%) o número de acertos. Ainda quanto à vacina, foi perguntando aos participantes se eles conheciam de que forma a vacina previne as formas graves da doença, caso a resposta fosse afirmativa qual seria o mecanismo de ação. Nesse item não foram encontrados acertos e nem justificativas corretas em oposição a 92% que responderam negativamente, ou seja, não sabiam qual o mecanismo e também não preencheram o campo da justificativa. Observa-se aqui a necessidade de uma promoção de mudança conceitual na prática educativa, uma vez que os alunos que decoram esquecem rapidamente, porém aqueles que apreendem o verdadeiro conceito e vêem sua aplicabilidade no cotidiano jamais esquecem. Daí a importância da transformação do saber popular em conhecimento científico, assim para Teixeira (2003), as mudanças no ensino de ciências só ocorrerão quando as resoluções para a Educação forem baseadas na busca do entendimento da realidade e assim possam ser capaz de enfrentar os conflitos sociais. Após a apresentação da palestra e discussão, 59% dos alunos já conseguiam expressar–se de uma forma simples, mesmo que em linguagem popular, quanto ao mecanismo de ação da vacina. Conforme os exemplos, a seguir, de algumas as justificativas apresentadas: “Fortalece o sistema imunológico” “Aumenta a imunidade do corpo” “Estimulando os anticorpos” 61 “Ela prepara o nosso organismo para quando a doença vier ele já saber o que fazer” Na questão relacionada à via de transmissão da tuberculose, houve acerto em 70% dos casos, atingindo 93% no pós-teste. Comparando com os dados de pesquisa do Fundo Global TB – RJ, observa-se que 37,4% informaram que a transmissão ocorre por meio da tosse (Projeto Fundo Global TB – Brasil, 2010). Segundo o Guia de Vigilância epidemiológica (2005, p. 733): “a tuberculose é transmitida de pessoa a pessoa, principalmente através do ar. A fala, o espirro e, principalmente, a tosse de um doente de tuberculose bacilífera lança no ar gotículas de tamanhos variados contendo em seu interior o bacilo”. Observamos que a totalidade dos alunos soube informar que a mesma é transmitida por via respiratória. Com relação aos principais sintomas associados à doença o resultado foi de 40% de acerto no que se refere ao quadro clínico manifestado pelo paciente portador de tuberculose (tabela 5). Comparativamente, a pesquisa realizada pelo Fundo Global TB – RJ aponta que 71,8% disseram conhecer os sintomas da tuberculose, responderam sendo que “tosse”, quando 44,2% questionados “febre” e 34,1% quais eram “escarro eles com 87,1% sangue” (http://www.fundoglobaltb.org.br/site/noticias/mostraNoticia.php). Isso denota que, apesar de algumas informações relativas à doença não estarem sedimentadas em seus conhecimentos, a importância da sintomatologia para o estudante é fundamental no seu cenário social. Nas palavras de Teixeira (2003, apud SAVIANI, 2000): 62 É na prática social que o professor encontrará os grandes temas para o exercício do magistério, identificando, analisando e sugerindo soluções para os principais problemas postos pela sociedade. É na inserção da prática social que possibilitaria a conversão dos conteúdos formais, fixos e abstratos em conteúdos reais, dinâmicos e concretos, permitindo que a escola transforme-se cada vez mais num espaço democrático de discussão de temáticas associadas a questões e problemas na realidade social (p. 183). TABELA 5: Manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes portadores de tuberculose PRÉ TESTE Emagrecimento, espirro e febre alta Dor de cabeça, dor nos olhos e febre Febre no final da tarde, emagrecimento e escarro com sangue Febre, dor na nuca e dor no corpo Não sei informar Febre no final da tarde, emagrecimento e tosse com sangue e febre, dor na nuca e dor no corpo 17% 9% 40% 9% 25% PÓS TESTE 9% 2% 80% 3% 5% 0 1% O exame radiológico de tórax é muito difundido no Brasil para diagnosticar e acompanhar o tratamento de determinadas doenças relacionadas às estruturas pertencentes ao tórax, o que levou 28% dos alunos a assinalarem como o principal exame para o diagnóstico da doença (tabela 6). Geralmente, a tuberculose leva a alterações nas imagens radiológicas do tórax, estando, portanto, indicada sua realização nos pacientes com bacilospocia direta do escarro positivo para a doença. Na história do combate a enfermidade, durante muitos anos, a abreugrafia13 foi utilizada para o diagnóstico da doença. Inventada por Manoel de Abreu, seu uso se difundiu no país, chegando inclusive a ser utilizado como exame necessário para novas admissões nas empresas e também nas escolas (GONÇALVES, 2000). Entretanto, a baciloscopia direta do escarro é 13 Radiografia miniaturizada do tórax 63 o exame de escolha para os pacientes com quadro respiratório sugestivo de tuberculose. Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2005) “é o método prioritário, porque permite descobrir a fonte mais importante de infecção: o doente bacilífero”. Na pesquisa do Fundo Global TB – Brasil, 36,6% informaram saber os exames feitos para o diagnóstico da doença, sendo os citados a telerradiogradia de tórax e o exame do escarro, em maior e menor proporção, respectivamente (http://www.fundoglobaltb.org.br/site/noticias/mostraNoticia.php). O diagnóstico dos pacientes portadores da doença é de tal importância que fez parte da proposta encaminhada ao Fundo Global quanto à necessidade de ampliação “do diagnóstico laboratorial com controle da qualidade e da co-infecção TB-HIV” (SANTOS, 2007, p. 93). TABELA 6: Descrição do exame comumente utilizado para o diagnóstico da tuberculose Tipos de Exames Exame de fezes Exame de urina Exame de urina e exame de fezes Exame de urina e telerradiogradia de tórax Não sei informar PPD Telerradiografia de tórax Telerradiografia de tórax e PPD PRÉ TESTE 8% 3% 1% 28% 57% 1% 1% 1% PÓS TESTE 3% 1% 0 0 8% 40% 43% 5% A associação da tuberculose com as condições de saúde e com fatores relacionados às precárias condições socioeconômicas é de extrema relevância, tornando-se grave o desconhecimento dos entrevistados sobre os fatores predisponentes que facilitam o aparecimento da doença, pois propiciam, assim, condições necessárias para que a doença progrida de forma avassaladora. Na 64 questão que aborda a relação da doença com fatores predisponentes, o tabagismo foi assinalado em 15% e a desnutrição em 18% pelos alunos, outros 56% descreveram não saber informar (Tabela 7). Para Vicentin, Santo & Carvalho (2002): Assim como a cólera, a tuberculose é outra doença transmissível cujo processo saúde-doença está em estreita relação de determinação com o desenvolvimento histórico social. Estabelece-se uma relação à qual o processo particular da tuberculose pertence e tem como principal determinante as condições sociais de vida. Na visão de Hijjar (2005), a queda dos índices da doença está associada à melhoria das condições socioeconômicas da população. Mesmo após a palestra, as limitações dos métodos de ensino atualmente praticados, fez com que os participantes não conseguissem identificar que vários fatores poderiam estar associados à doença e não somente fatores isolados. Entretanto, conforme podemos observar na tabela 7, os índices de alunos que não sabiam informar os fatores que atuam como predisponentes para a doença reduziu de forma acentuada. TABELA 7: Fatores predisponentes associados à tuberculose FATORES Desnutrição Tabagismo Não sei informar Diabetes Desnutrição e diabetes Etilismo Hipertensão arterial Desnutrição e tabagismo PRÉ TESTE 18% 15% 57% 3% 1% 1% 4% 1% PÓS TESTE 46% 23% 19% 5% 3% 2% 2% 0 65 Observou-se que quando questionados se conheciam alguém que já teve tuberculose, 62% dos alunos assinalaram negativamente. Tal fato toma relevância quando os Municípios de Nova Iguaçu e São João do Meriti, próximos ao Município de Nilópolis, ocupam a 4ª e 5ª posições de notificação de agravos de tuberculose do estado (tabela 8). TABELA 8: TUBERCULOSE - Casos confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Casos confirmados por Ano Diagnóstico segundo Munic. Residência - UF Residência: Rio de Janeiro Munic. Residência 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Belford Roxo 584 603 507 584 477 473 442 260 1.289 1.077 1.060 1.013 1.055 1.016 1.082 945 Guapimirim 18 54 38 34 43 35 33 25 Itaguaí 105 79 82 86 78 81 84 40 Japeri 180 197 154 117 102 131 121 106 Magé 279 271 209 220 237 208 206 107 Mesquita 26 163 162 129 139 128 144 139 Nilópolis 264 263 245 210 151 194 202 160 1.493 1.199 1.041 1.043 971 914 808 581 Paracambi 47 38 41 58 54 34 41 45 Queimados 62 195 177 194 202 198 184 75 8.253 8.028 7.670 7.597 7.245 6.811 6.754 5.578 São João de Meriti 550 552 588 598 552 524 527 306 Seropédica 41 45 53 47 74 74 56 45 16.517 16.372 15.464 15.281 14.743 13.925 13.790 10.384 Duque de Caxias Nova Iguaçu Rio de Janeiro TOTAL no Estado do RJ Fonte Sinan Net, disponível no site: http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/index.php 66 O desconhecimento sobre a doença, seu tratamento e sobre as ações de educação em saúde fez com que 52% dos participantes respondessem que os pacientes portadores da doença deveriam ser afastados do seu convívio social durante o tratamento, excluindo aqueles que necessitam de internação hospitalar (figura 3) – fato também identificado na pesquisa realizada pelo Fundo Global TB – Brasil, em que 56,4% dos entrevistados afirmaram ser necessário o afastamento do convívio durante o tratamento (Projeto Fundo Global TB – Brasil, 2010). O doente com a tuberculose é tão estigmatizado que, mesmo após a apresentação do resultado do pós-teste, não sofreu variação significativa, indicando que 53% ainda confirmam a necessidade de afastamento do convívio social para o tratamento. Para o Ministério da Saúde, o desconhecimento da doença piora o estigma social separando o paciente de seus familiares e afastando-o de seu trabalho, alimentando seu sentimento de abandono e agravando a sua angústia (GUIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2005). Figura 3: Necessidade de afastamento do convívio social 67 Freire apud Anjos (2008, p. 114) apresenta a visão do educador no que compete às atribuições das instituições de ensino e sua representatividade para o meio em que ela está inserida: A escola reflete o comportamento de uma sociedade, mas a escola como instrumento de saber pode criar, despertar e colaborar para novas percepções das necessidades desta sociedade devendo ser integrada, integrante e participante dos processos sociais (p. 114). Avaliando o conhecimento sobre as ações desenvolvidas pelo Ministério da Saúde no combate à tuberculose, pode-se constatar que 77% dos entrevistados desconheciam as propostas e as orientações a serem seguidas. Através dessa amostragem, pode-se aferir que os instrumentos de comunicação utilizados para divulgar a doença estão sendo ineficazes no alcance desse segmento da população e faixa etária. O Brasil, no ano de 2007, após quatro anos de tentativas, recebeu do Fundo Global14 para auxiliar nas ações de combate a tuberculose o correspondente a US$ 27 milhões para o período de 2007 a 2012. O projeto visa atender, principalmente, aos grupos sociais mais acometidos pela doença e as áreas onde os indicadores de morbidade são mais elevados. Fazem parte da estratégia o aumento da rede laboratorial para realização de baciloscopias, o fortalecimento do DOTS e a mobilização da população (http://www.fundoglobaltb.org.br/site/home/index.php). Concomitante à pesquisa com os alunos, foi realizada uma pesquisa com os docentes, que envolvia os 13 profissionais que compõem o quadro de professores de biologia e química, sendo que oito pertencem ao CIEP Mário 14 O Fundo Global de Luta Contra a AIDS, Tuberculose e Malária (The Global Fund) sediado em Genebra, está voltado para apoiar ações de controle destas doenças nos países por elas mais afetados, a partir de propostas apresentadas em parceria por instituições representativas da sociedade civil organizada e governos. 68 Campos e cinco são do CIEP Manuel Malaquias. Somente participaram da pesquisa nove professores, sendo três do primeiro colégio e seis do segundo, respectivamente. O intuito era conhecer e apresentar o perfil do professor no que concerne a sua formação e prática de ensino, que atua nas escolas onde ocorreu o projeto. A primeira pergunta fazia referência à formação do professor. Neste item, observamos que 56% dos entrevistados apresentam apenas a graduação e 44% pós-graduação. A segunda pergunta descreve o tempo de formação destes profissionais (figura 4), destacando que a maioria possui menos de 10 anos de formado. Com relação ao tempo de atuação no magistério, mas especificamente no ensino em ciências (figura 5), identificamos que 66% ainda estão completando os seus primeiros 10 anos. Figura 4: Tempo de formação dos professores entrevistados. 69 Figura 5: Tempo de atuação como professor de ciências entrevistados. Outro quesito questionado, que correspondeu à quarta pergunta, fez menção ao tempo de atuação dos professores na escola (figura 6), o que nos levou a levantar a hipótese de que a realização de poucos projetos pedagógicos e do baixo rendimento das escolas deve estar associada ao pouco tempo que a maioria dos professores possui dentro delas. Muitos deles estão em regime de GLP15, o que torna ainda mais difícil o estabelecimento de um vínculo funcional, ou mesmo emocional, com as escolas, o que reduz a capacidade desses professores de atuarem na sua “força máxima”. Figura 6: Tempo de atuação nas escolas envolvidas na pesquisa 15 A Gratificação de Lotação Prioritária foi descrita na Lei ordinária n° 720 de 30 de Dezembro de entrevistados. 1983 no artigo 37 inciso II e diz respeito à contratação de professores através de carga horária suplementar. 70 A análise das quatro perguntas iniciais, referentes à formação do professor, pode ser representada nas palavras de Paulo Freire (Pedagogia da Autonomia, 2000): A segurança com que a autoridade docente se move implica uma outra, a que se funda na sua competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta competência. O professor que não leve a sério sua formação, que não estuda, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Isto não significa, porém, que a opção e a prática democrática do professor ou da professora sejam determinadas por sua competência científica. Há professores cientificamente preparados, mas autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor (pág. 56). É fundamental que exista na formação do professor, em todas as esferas, graduação, pós-graduação e educação continuada, a discussão de temas relevantes para a sociedade. Assim como estes profissionais devem ser constantemente estimulados e facilitados para que possam buscar melhorias em suas qualificações profissionais, apesar do desestímulo que ocorre devido ao piso salarial. Esse destaque deve ser enfatizado, pois se torna condição ímpar que estes profissionais estejam aptos a promover e conduzir em qualquer ambiente, formal e não formal, a discussão de questões importantes e que serão úteis na concepção de um cidadão crítico. Na visão de Hamburger & Hamburger (2008, p. 1): O Brasil é um país de grande extensão territorial, onde se encontram sessenta milhões de alunos e um milhão de professores. A escolaridade insatisfatória dificulta o desenvolvimento cultural, social, político e econômico. Nas últimas 71 décadas foi possível oferecer escola a quase todos os brasileiros em idade escolar, o que é um progresso notável. Entretanto, a desvalorização e a desorganização da profissão do professor, nos anos 70, não foram ainda compensadas. (...) Assim, a qualidade da formação dos professores e dos ambientes escolares foi decaindo e, ainda hoje, deixa muito a desejar. Vários são os meios de comunicação que hoje são utilizados para veicular as informações. A globalização e o acesso à internet fez com que as informações chegassem em tempo quase real em todo os continentes. Além do acesso dos alunos a outros meios midiáticos, trouxe a necessidade de um professor cada vez mais atualizado e conhecedor de outros recursos didáticos. Assim, este foi o intuito da quinta pergunta: identificar quais são os recursos utilizados pelo professor (tabela 9). TABELA 9: Além do livro didático, quais outros instrumentos você utiliza? Meios de informação Leitura de textos Leitura de textos e laboratório Leitura de texto, seminário, visitas a espaços não formais e filmes Seminários, laboratório, filmes e internet Leitura de textos, filmes e internet Leitura de textos, seminários e internet Leitura de textos, seminários, laboratório, visitas a espaços não formais e filmes Leitura de textos, seminários, filmes e internet Frequência 11% 11% 11% 11% 11% 22% 11% 11% Todos os professores afirmaram que discutem sobre temas atuais com seus alunos, seguindo as diretrizes do PCN para apresentação de temas Transversais (1997): A inclusão de questões sociais no currículo escolar não é uma preocupação inédita. Essas temáticas já têm sido discutidas e incorporadas às áreas ligadas às Ciências Sociais e Ciências Naturais, chegando mesmo, em algumas propostas, a constituir novas áreas, como no caso dos temas Meio Ambiente e Saúde (pág. 25). 72 Dentre os temas apresentados pelos professores destacaram como principais: “Efeito estufa, chuva ácida e lixo”; “Relacionados ao meio ambiente e a saúde”; “Mudanças climáticas, transgênicos e clonagem”; “Meio ambiente, poluição, doenças, notícias atuais correlatas”; “Bioética, tecnologia e saúde”; “Sexualidade, gravidez e DST”; “Aids, problemas ambientais, drogas, anorexia (distúrbios alimentares) e gravidez precoce”; “Educação ambiental e as consequências na saúde”; “Temas relacionados a genética, DNA, células tronco”. A dificuldade dos professores para uma prática educativa de excelência de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo MEC também foi investigada. Desta forma, na oitava questão, buscou-se identificar quais os fatores, na visão dos docentes, estão impactando negativamente para uma atuação mais eficaz (tabela 10). TABELA 10: Quais as dificuldades que você encontra no ensino de ciências? Lista de dificuldades citadas pelos professores Interesse dos alunos pelos assuntos científicos Disponibilidade para visitação externa Falta de materiais adequados, espaço para realizar aulas práticas em algumas escolas, falta de incentivo a projetos Recurso materiais e interesse dos alunos Falta de recursos físicos em sala de aula (ex. data show, alto falantes) Falta de espaço para montagem e utilização de materiais de laboratório Falta de aulas práticas Falta de conhecimento prévio A metodologia utilizada na abordagem e discussão dos temas transversais é tão importante quanto o próprio tema, desta forma foi solicitado aos docentes que informassem, pergunta 9, qual o modelo de prática pedagógica utilizado para trabalhar os temas transversais (figura 7). 73 Figura 7: Como você aborda a temática saúde e ambiente? entrevistados. O PCN - Apresentação dos Temas Transversais (BRASIL, 1997) define os conceitos da interdisciplinaridade, da transdisciplinaridade e sua inter-relação: A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter relação e a influência entre eles, e questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-relações entre os objetos de conhecimento, de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida. A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos (pág. 31). 74 A posição do Brasil dentre o 22 países de maior incidência da doença, segundo a classificação da OMS, traz a importância da escola como espaço formal de informação e divulgação sobre a patologia. Sendo assim, a pergunta 10 indagava se os professores já haviam abordado o tema nas suas aulas (figura 8). Figura 8: A tuberculose já foi tema de suas aulas? entrevistados. A motivação dos professores quanto à importância de abordar sobre a tuberculose foi avaliada na pergunta 11, porém, 56% dos professores afirmaram que o tema só foi abordado porque faz parte da grade curricular e não por ser um tema de relevância para a sociedade (tabela 11). Isso demonstra o desconhecimento e despreparo dos docentes e a necessidade de mais cursos de capacitação, nos quais temáticas mais atuais possam ser abordadas favorecendo uma associação entre os tópicos abordados na escola e o cotidiano dos alunos. A ideia atual é que o professor rompa os limites previamente estabelecidos para a sala de aula e, assim, contextualizando a realidade, permita a inserção da educação no movimento da sociedade, além de tornar as aulas mais atrativas. 75 TABELA 11: Em caso afirmativo, como ela surgiu em sua sala de aula? Formas como a temática tuberculose surgiu em sala de aula Faz parte do currículo Não sei informar Outra forma Faz parte do currículo e a partir de dúvida dos alunos Frequência 56% 22% 11% 11% A íntima relação da doença com condições socioeconômicas precárias torna relevante o conhecimento do professor e sua capacidade em contextualizar com o meio social dos alunos. Assim, as bases que servem de fontes de informação para uma abordagem capaz de causar mudanças neste cenário são fundamentais. Entretanto, conforme resposta dos docentes para a pergunta 12, os livros didáticos ainda servem como única fonte de informação (tabela 12). TABELA 12: Onde você buscou material para subsidiar a sua aula? Fontes de informação sobre a doença Livros Não sei informar Profissionais de saúde Nenhuma das respostas acima Jornais, livros e profissionais de saúde Frequência 33% 22% 11% 11% 11% Diante das respostas apresentadas nos questionários dos alunos e dos professores, pode-se concluir a existência de um desconhecimento dos primeiros e despreparo dos segundos, respectivamente, no que concerne à realidade da doença. Portanto, faz-se necessário a mudança conceitual da escola enquanto espaço formador, para que o ambiente escolar e os professores assumam, de fato, seus papéis de agentes transformadores e formadores de uma sociedade mais proativa, capaz de atuar de maneira eficaz e assim colaborar com que a redução nos índices da doença no Brasil. 76 CAPITULO IV UM NOVO OLHAR SOBRE A TUBERCULOSE, A MISTURA DA VISÃO POPULAR E DA VISÃO ACADÊMICA – O QUE A POPULAÇÃO SABE? O QUE A POPULACÃO QUER SABER? Assim, partindo do pressuposto de que a tuberculose ainda é uma doença desconhecida da maioria dos indivíduos, postulou-se no início do projeto a possibilidade de criação de uma revista em quadrinhos que serviria como uma cartilha orientadora, contendo informações para divulgação e conscientização da população. Nas palavras de Kisse et al (2008, p. 286), a produção originada no mestrado profissional tem aspectos abrangentes, pois: (...) tal produto pode ser desenvolvido tanto para espaços formais quanto não formais de ensino, mas, considerando a condição do aluno como sujeito histórico social e partícipe do processo de emancipação humana. Já durante as palestras e após a avaliação da pesquisa, confirmou-se a necessidade da criação de uma ferramenta que fosse idealizada pelos próprios alunos e que divulgasse a doença, no caso, uma história em quadrinhos. Assim, a sensibilização e participação de todos os envolvidos neste projeto era fundamental, docentes, discentes e pesquisadores, contribuiriam para a formação do produto educacional que por utilizar uma linguagem simples e objetiva poderia ter seu uso estendido para a comunidade e não limitado ao ambiente escolar. 77 O trabalho desenvolvido no CIEP José Malaquias reuniu 114 alunos em quatro encontros e no Colégio Estadual Mario Quintana 77 alunos em dois encontros. O tempo da palestra variou de acordo com a participação dos alunos, porém, a média de apresentação foi de uma hora. O interesse dos alunos sobre a moléstia de forma geral foi satisfatória, porém, mais aprofundado naqueles que conheciam alguém (familiar ou não) que teve a doença. Fato similar foi identificado na pesquisa realizada pelo Fundo Global TB – Brasil em que esse universo foi representado por 34% dos entrevistados, assim como quando os dados epidemiológicos do município de Nilópolis foram apresentados e discutidos. Ao final, percebeu-se o interesse dos alunos pela construção da história em quadrinhos (produto educacional proposto por essa pesquisa), como também da criação de outros modelos, tais como estilos musicais, paródias e encenações. A ideia dessa produção por parte dos alunos servia tanto para avaliar a compreensão dos alunos sobre as palestras trabalhadas, mas também para usar essas produções como parte de um material instrucional de apoio para professores e alunos, usando a linguagem própria do público alvo almejado, favorecendo a recepção desse produto educacional. Pode-se observar que o prazo estabelecido de 30 dias para a entrega do trabalho pelos alunos representou um ponto negativo, pois os alunos acabaram perdendo o estímulo. Também se pode notar a falta de incentivo necessário pelos docentes. Neste quesito, pode ser citado o acontecido no CIEP José Malaquias, em que ocorreu o extravio dos trabalhos entregues pelos alunos, durante mudança de sala pela direção. Desta forma, o produto educacional foi representado por um único trabalho proveniente do CIEP Mario Quintana, que foi 78 premiado conforme os critérios apresentados no início do projeto, assim como a professora que orientou sua confecção. Um ponto não pesquisado, mas identificado na fala dos alunos, é a falta de perspectiva de vida, sendo representado em atitudes como o não uso de preservativos, de capacete quando da direção de motocicletas, uso de álcool de forma abusiva, entre outros, o que vale é o hoje, mais especificamente o momento da ação. Nesse sentido, a perspectiva pode ser traduzida como a falta de sonhos, de existir um amanhã. Esta percepção vai de encontro à entrevista do jornal O Globo, intitulada “Os sem-sonho”, realizada em 05 de junho de 2010, com a Secretária de Educação do Município do Rio de Janeiro, Claudia Costin. Para Caruso & Freitas (2003): A mera transferência de conhecimento, ou de informações, jamais levará um sujeito a “sonhar com dias melhores”, a ter perspectivas, a ousar e a criar o novo; poderia, no máximo, fazê-lo tomar conhecimento do novo. Se devêssemos, então, propor um único predicado para o ato de ensinar, diríamos ensinar é fazer sonhar”, é levar a sonhar, levar a descobrir, a criar seu próprio mundo (p. 3). O foco final do projeto era permitir que os alunos experimentassem a capacidade de sonhar e criar através de suas próprias realidades. Nesse movimento, apesar da qualidade do trabalho apresentado pelo aluno do CIEP Mario Quintana, a estória apresentada não refletia a realidade da comunidade. A título de registro, as palestras foram filmadas, o que no decorrer do trabalho começou a fomentar a ideia da possibilidade de produzir um instrumento de ensino utilizando-se deste material, porém com características mais dinâmicas. A inspiração que serviu de base para este modelo está relacionado à fonte onde 79 os alunos buscam obter informações acerca da tuberculose, que em sua maior parte foi representado pelos meios de comunicação com destaque para a televisão, confirmando sua posição como um dos principais veículos midiáticos. Tal decisão nos permitiu ter a condição de partir para esse segundo plano de ação no momento em que não foi obtido o número esperado de trabalhos de alunos que comporiam o produto educacional inicialmente pensado. Assim, optouse pelo aproveitamento de algumas filmagens realizadas em sala de aula durante a abordagem do tema e com a população do município de Nilópolis para a criação de um vídeo educativo, onde a população foi convidada a expor seus conhecimentos e dúvidas a respeito da doença. O professor de Audiovisual do curso de Produção Cultural do IFRJ se associou ao projeto, desenvolvendo em parceria um roteiro no qual estavam previstas as seguintes seções: respostas aos questionamentos da população por um especialista, trechos das palestras e esquete. O Professor Doutor Rodrigo Siqueira Batista, infectologista, professor da Universidade Federal de Viçosa, foi o especialista convidado para participar desse documentário. Além da miscigenação do discurso popular e do discurso acadêmico, foi adicionado um filme (esquetes), estilo cinema mudo, dirigido pelo professor Tiago Monteiro, utilizando como atores alunos do curso de Produção Cultural do IFRJ, criando, assim, um instrumento atrativo para ser utilizado pelos professores e outros profissionais em espaços formais e não formais no ensino sobre a tuberculose. O documentário tem cerca de 15 minutos, sendo intitulado: “Tuberculose: previna-se”. Cópias do mesmo serão feitas e distribuídas em escolas do 80 município, além de ser disponibilizado no site do IFRJ. O projeto da capa também foi realizado através da parceria estabelecida com o curso de produção cultural. 81 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da ideia de ser a escola importante elemento no processo de promoção e educação em saúde, temos na visão de Fonseca (2008) o destaque para o fato de que: A escola hoje não é apenas um lugar de aprendizagem teórica, mas também um espaço de vivências emocionais e sociais. Convém admitir que uma forte prioridade deve ser destinada à educação para a promoção da saúde no meio escolar, pois a escola permite uma educação para a saúde consciente, regular e sistemática parte o ensino e uma preparação para a vida (p.19) Nesse sentido, a escola representa o espaço formal de ensino onde se concentra um número expressivo da população, sendo fundamental sua participação no processo de discussão de assuntos que afligem a sociedade. A discussão de temas relacionados à saúde não pode se limitar ao eixo temático relacionado ao processo de saúde-doença, e o livro didático como principal fonte de informação, mas deve trazer à tona discussões que envolvem sua relação com o ambiente e a sociedade, particularmente a vertente social. O presente projeto de pesquisa teve por objetivo identificar o conhecimento por parte dos alunos sobre a doença tuberculose. Após as palestras e análise dos dados, observou-se que o desconhecimento continua sendo um dos grandes problemas para o combate da doença, apesar de todas as ações implementadas pelo Ministério da Saúde. Os dados estatísticos da pesquisa realizada nas escolas estaduais do município de Nilópolis puderam ser comparados aos dados de pesquisa realizada 82 pelo Fundo Global TB – Brasil no ano de 2010, o que confirmou a falta de informação sobre a doença pela população em geral. Ambas as pesquisas convergiram e resumiram-se a um ponto em comum representado pela falta de informação, que dada à importância da situação necessita urgentemente ser corrigido. Neste cenário, mais uma vez a escola ganha espaço, pois é o local onde transformações são possíveis. A estrada que leva à mudança de consciência é longa, porém, o presente trabalho espera auxiliar o Brasil no cumprimento das metas estabelecidas com o Fundo Global, ajudado por uma população capaz de realizar uma análise crítica de suas atitudes e condições de vida. Trazer a informação é fundamental, mas alcançar o conhecimento é condição primordial, assim é essencial que os professores entendam que não basta apenas afirmar que abordam os temas transversais de forma transdisciplinar, mas há necessidade de fazê-lo efetivamente, pois na visão de Nicolescu (1999:46 apud Silva & Silva 2005): A transdisciplinaridade, como prefixo “trans” indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento (p.1) Ressalta-se que ao confrontar o cenário atual da doença com a concepção do professores pesquisados (tuberculose como simples conteúdo da grade curricular) é desconhecer a sua importância, desmerecer todo o esforço mundial no controle dessa enfermidade e menosprezar o trabalho brasileiro para este fim. 83 Este trabalho, assim como outros, tem por objetivo ser mais um instrumento na luta contra uma doença curável, mas que ainda acomete grande parte da população mundial. Com base nos dados da pesquisa e no retorno obtido junto aos alunos nas palestras, deu-se a importância da proposta da confecção do produto educacional, tipo documentário, que deve ser destacado no sentido do mesmo retornar para a sociedade, deixando o espaço acadêmico, e ser usado com fonte de trabalho para os professores e profissionais que lidam com educação em saúde. 84 REFERÊNCIAS ANJOS, M. B. 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( ) Sthalycoccus aureus pneumoniae ( ( ) Pseudomonas aeruginosa ) Bacilo de Koch ( ( ) Klebsiella ) Escherichia coli ( ) não sei informar 5) Qual o nome da vacina utilizada na infância como profilaxia das formas graves da doença? ( ) ATT ( ) Dupla adulto ( ) BCG ( ) MMR ( ) Tríplice ( ) não sei informar 6) A forma de transmissão se dá através de que via? ( ) urinária ( ) digestiva ( ) respiratória ( ) vascular ( ) não sei informar 7) Quais são os sintomas mais comuns da tuberculose? ( ) emagrecimento, espirro e febre alta ( ) dor de cabeça, dor nos olhos e febre ( ) febre verpertina, emagrecimento e tosse com hemoptoicos ( ) febre, dor na nuca e dor no corpo ( ) não sei informar 8) Qual (is) o (s) exame (s) mais comumente utilizado (s) para o diagnóstico de tuberculose? ( ) exame de urina ( ) exames fezes ( ) telerradiografia de tórax ( ) PPD 94 ( ) não sei informar 9) Quais são os fatores predisponentes associados à tuberculose? ( ) desnutrição ( ) diabetes ( ) etilismo ( ) hipertensão arterial ( ) tabagismo ( ) não sei informar 10) Você conhece ou conheceu alguém que já teve tuberculose? ( ) sim ( ) não 11) As pessoas com tuberculose devem ser afastadas do seu convívio social enquanto estiverem doentes? ( ) sim ( ) não ( ) não sei informar 12) Você conhece as ações desenvolvidas pelo ministério da saúde no combate a tuberculose? ( ) sim ( ) não 95 ANEXO 3 QUESTIONÁRIO DE PESQUISA SOBRE FORMAÇAO E DIFICULDADES DO PROFESSOR DE CIÊNCIAS 1) Formação do professor: ( ) Graduação ( ) Pós-graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Livre docência Tempo de formado_________________________________________________ 2) Tempo de atuação como professor de ciências ( ) < 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) 11 a 15 anos ( ) 16 a 20 anos ( ) > 21 anos 3) Tempo de atuação na escola ( ) < 5 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) 11 a 15 anos ( ) 16 a 20 anos ( ) > 21 anos 4) Além do livro didático quais outros instrumentos você utiliza? ( ) leitura de textos ( ) seminários ( ) laboratório ( ) visitas a espaços não formais ( ) filmes ( ) internet 5) Você realiza discussões de temas atuais? ( ) sim ( ) não Quais?____________________________________________________________ 6) Quais as dificuldades que você encontra no ensino de ciências?__________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 96 ANEXO 4 97 Figura 9: Boletim de Pneumologia Sanitária – Vol 7, nº 1 –Jan/Jun - 1999 98 ANEXO 5 99 100 ANEXO 6 101 102 103 104 105 106