a variável científico-tecnológica na economia do mercosul

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A VARIÁVEL CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA NA ECONOMIA
DO MERCOSUL
Rosele Marques Vieira, mestranda.
Universidade Federal de Santa Maria- Programa de Pós-graduaçào em Eng. de Produção.
Fone (055) 220-8598 CEP: 97119-900 -Campus Universitário- Camobi - Santa Maria-RS.
Soila Mazzini Monte Blanco, mestranda.
Universidade Federal de Santa Maria- Curso de Pós- graduação em Integração latino-Americana.
Silva Jardim 1953/1101- CEP 97100.000 - Fone: (055) 223.1156 - Santa Maria -RS.
Abstract
The present article intends to approach in an investigative character the current
situation of the scientific- tecnological variable in the economy of Mercosul. In the
measure that, for the countries of Mercosul, science and technology they are words-keys to
determine the integration, since the competition extends in global dimensions. The
researches show that the main effect of the evolution of the technological patterns is it of
increasing the capacity of production of the economy in relation to the amount of human
resources and of capital employees.
ÁREA: Gestão da Tecnologia
Key Words:Scientific-technological variable, production factor, harmonization of
politics.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo do presente trabalho é abordar num caráter investigativo a situação atual
da váriável científico-tecnológica na economia do Mercosul. Na medida que , para os países
do Mercosul , ciência e tecnologia são palavras-chave para determinar o alcance do projeto
integrador, já que para competir internacionalmente a economia do bloco regional necessita
definir sua política industrial e educativa, no sentido de proporcionar as condições
necessárias para disputar mercados no exterior.
A distribuição dos países em blocos econômicos é uma realidade irreversível que
marcará a virada do milênio. Essa será a era das parcerias, da competitividade mundial. No
atual cenário de globalização,a competitividade se tornou uma das prioridades para as
empresas permanecerem no mercado. A concorrência estende-se em dimensões planetárias,
obrigando-nos a pensar globalmente.
A natureza das mudanças que vêm ocorrendo na fase atual do desenvolvimento das
civilizações e culturas contemporâneas, na direção de uma civilização planetária, deve-se
definir a partir do papel novo e radicalmente distinto que o conhecimento científico ocupa
na organização das atividades produtivas. Para isso, o conceito de revolução CientíficoTécnica tenta articular essas mudanças numa visão integrada.
Este trabalho se encontra organizado da seguinte forma: na seção 2, procura-se
evidenciar aspectos da tecnologia enquanto fator de produção, dentro de uma visão de
competitividade e evolução dos padrões tecnológicos. A seção 3 mostra de forma genérica
a cooperação científico-tecnológica na América latina. A seção 4 discute a harmonização
de políticas no Mercosul em diversas áreas e suas dificuldades de implementação; bem
como a questão das barreiras fitossanitárias. Finalmente, a seção 5 estabelece as
considerações finais.
2. A TECNOLOGIA ENQUANTO FATOR DE PRODUÇÃO
A tecnologia pode ser considerada como um fator de produção de natureza
qualitativa. Trata-se de um elo de ligação entre a população economicamente mobilizável e
os recursos de capital. Esta capacidade acumula-se, transforma-se e evolui pela permanente
transmissão de conhecimento.
De geração transmitem-se conhecimentos técnicos e economicamente úteis. Com
evolução dos processos de produção, decorrentes do extraordinário desenvolvimento de
recursos de capital cada vez mais avançados e sofisticados, os sistemas econômicos exigem
um desenvolvimento paralelo da tecnologia aplicada. Esta capacidade é inerente à
qualificação dos recursos humanos. O “saber fazer” imprime características extremamente
variadas ao conjunto de população economicamente mobilizável.
De certa forma, o processo de criação, aperfeiçoamento e acumulação de capital
caminha paralelamente com o de formação da capacidade tecnológica. São duas
engrenagens que ajustam-se, sendo que, o movimento de uma delas está necessariamente
vinculado ao movimento da outra.
O marco fundamental da Revolução Científico-Técnica foi no Pós- Segunda Guerra
Mundial, onde surgiram ramos de produção totalmente dependentes do conhecimento
científico, bem como tecnologias e atividades produtivas que são campos aplicados do
conhecimento científico, e não utilizações parciais deste conhecimento, tais como a energia
nuclear, a aviação ultra-sonora, a petroquímica, a informática e a eletrônica. A nova onda
de alta tecnologia, iniciada na década de setenta e composta de novos materiais, da
biotecnologia e engenharia genética, da fusão nuclear, da supercondutividade, dos lasers, é
ainda mais intensamente ligada à evolução e a aplicação do conhecimento científico.
A conseqüência imediata dessa mudança no desenvolvimento das forças produtivas
foi o surgimento e a expansão das atividades de pesquisa e desenvolvimento no interior das
empresas. Este impulso tão importante do conhecimento científico e sua associação à
produção repercutiu também em outros campos, especialmente na preparação e formação
de tecnólogos nas universidades e centros de pesquisa, e também dos profissionais
associados à utilização do resultado desses conhecimentos.
A atividade produtiva passou a ser cada vez mais um momento determinado de um
amplo processo social de pesquisa e desenvolvimento, invenção e inovação, planejamento
macro e microeconômico, publicidade e mercados. O processo de produção, a organização
do trabalho passaram a exigir amplos processos de gestão das relações sociais, de
treinamento, educação, saúde, lazer, da comunicação social global específica ( SANTOS,
1993).
No quadro de recursos básicos de produção com que contam os sistemas
econômicos, a capacidade tecnológica destaca-se como indispensável elemento de ligação
entre capital e força de trabalho . A tecnologia é essencialmente constituida pelo conjunto
de normas de ação que definem a operacionalidade produtiva da sociedade. Trata-se do
“Know-how” que se acumula e evolui na direção de formas operacionais cada vez mais
sofisticadas.
A evolução do conhecimento tecnológico encontra-se, portanto intimamente
associada aos ganhos de produtividade que induzem e definem o próprio conceito do
crescimento econômico. O efeito principal da evolução dos padrões tecnológicos é o de
aumentar a capacidade de produção da economia em relação à quantidade de recursos
humanos e de capital empregados. Esse aumento de capacidade se dá a partir da melhor
qualificação dos recursos, com que se modificam e se ampliam as escalas de produção
possíveis.
Outra questão a ser analisada é o processo de regionalização e suas relações com a
globalização da economia. A reestruturação da economia mundial se baseará na
incorporação das novas tecnologias cujas escalas de produção são cada vez mais de ordem
mundial. Isto leva à necessidade de aumentar os espaços econômicos em que atuam as
empresas. Conforme (NAKANO, 1994) a competição entre as empresas ocorre em escala
verdadeiramente global, nessa estratégia, as empresas transnacionais aproveitam tanto as
vantagens comparativas específicas de cada país como as vantagens competitivas específicas
das empresas utilizando as novas tecnologias de informação e coordenação.
Esta tendência se torna ainda mais forte quando aumentam também os custos de
pesquisa e desenvolvimento para a criação de novos produtos e processos de produção. A
partir disso, há necessidade de integração entre empresas e dos Estados no sentido de
viabilizar os enormes investimentos que certos processos produtivos requerem.
Uma das características principal do processo de integração é ter um caráter
ofensivo: trata de favorecer a concentração e a centralização econômica dentro da região de
novos padrões tecnológicos capazes de garantir o aumento de produtividade, e rebaixa dos
custos e portanto, a competitividade dos produtos regionais no mercado mundial.
3. COOPERAÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA NA AMÉRICA LATINA
A tecnologia assume caráter estratégico para a competitividade e crescimento das
nações. O Japão, Alemanha e Estados Unidos são países que mais investem em ciência e
tecnologia, com cerca de 3% do PIB. América Latina, lamentavelmente, demonstra o seu
atraso com um investimento de apenas 0,6% do seu PIB.
Para uma melhor compreensão, apresentaremos através do Quadro 1 uma relação
dos indicadores de investimentos em ciência e tecnologia nos anos oitenta.
América Latina
Graduados
en
CyT/100.000
habitantes (personas).
Graduados en ingeniería
tecnología/graduados
universitários totales(%).
Grupo
de los 7 (3)
88
19,5
17,5
19,6
15,5
Ingenieros y científicos en Iy
D/100.000 personas de P.E.A.
90
127
144(a)
595
Gastos en IyD/PNB (%)
Gastos en IyD por habitante
(dólares).
Gastos en IyD por origem (b)/(%)
i) sector público
ii) sector empresarial
iii) fondos extranjeros
0,6
10
1,4
32
1,1
16
2,8
343
100,0
78,8
10,5
3,4
100,0 (c)
45,7
47,0
3,4
100,0
24,6
73,9
1,4
100,0
40,9
55,4
1,3
100,0 (d)
20,9
52,4
26,7
100,0 (e)
19,0
39,7
41,2
100,0 (a)
21,1
30,4
48,5
100,0 (f)
14,1
26,5
59,5
Gastos en IyD por actividad (%)
i) investigación fundamental
ii) investigación aplicada
iii) desarrollo experimental
y
32
Paises
Países
mediterráneos(1) asiáticos (2)
36
95
Quadro 1 -Comparación de algunos indicadores en ciencia y tecnología (mediados de los años
ochenta).
Fonte: Boletim de Integração Latino-Americana n° 11 - MRE/SGIE/NAT.
Com base nesses dados podemos evidenciar alguns aspectos:
a) A comparação entre os quatro grupos de países deixa claro que, quanto mais
desenvolvidos, maior é o índice de investimento em ciência e tecnologia;
b) Nos países industrializados, mais de cinco vezes maior é a proporção do número de
profissionais especializados na área de pesquisa e tecnologia,
c) Ressalta-se o gasto por habitante em P & D: na América latina, US$ 10, contra US$ 343
no Grupo dos 7;
d) Quanto à origem dos investimentos, 78,8 dos investimentos em P&D são efetuados por
empresas ou órgão governamentais e apenas 10,5% por empresas privadas na América
Latina.
Apesar de toda a crítica a intervenção do Estado Latino-americano na economia,
observamos que o índice elevado de participação do governo nos investimentos em P&D
representam apenas 0,6 do PIB. Se o governo deixasse de investir, esse índice cairia ainda
mais, em torno de 0,1 ou 0,2% do PIB. Enquanto isso, em países mais industrializados, a
participação do setor empresarial é predominante.
Tendo examinado os dados do quadro 1, pode-se inferir que, para se criar uma base
científico-tecnológica competitiva é necessário:
• Incrementar a participação do setor privado no desenvolvimento da ciência/pesquisa e
tecnologia;
• Difundir tecnologias no setor produtivo;
• Formar pessoal com conhecimento científico-tecnológico, tanto a nível de laboratório
como de unidades produtivas.
Em termos de MERCOSUL , o Brasil e Argentina , desde 1986, vem desenvolvendo
algumas atividades de intercâmbio tecnológico, entre os quais podemos citar: o Protocolo
9, de dezembro de 1986, que criou o Centro Argentino-Brasileiro de Biotecnologia; o
Protocolo 17, na mesma data, que trata de Cooperação Nuclear o programa ArgentinoBrasileiro de pesquisa e Estudos Avançados em informática; e, finalmente, o Tratado de
Integração, Cooperação e Desenvolvimento, firmado em 1988.
A criação do MERCOSUL pelo Tratado de Assunção em 1991 gerou os
mecanismos para uma maior cooperação científico e tecnológica, sendo que o Brasil e
Argentina são os países expoentes nesse setor, frente ao considerável abismo relativo à
ausência de tecnologia próprias desenvolvidas por parte do Uruguai e Paraguai.
Entretanto, ainda não existem avaliações dos custos e benefícios desse processo e
sua continuidade. Nesse sentido, não houve condições de definir uma política para a ciência
e tecnologia uniforme ao bloco, pois isto, não se dá de modo automático e tem de levar em
conta, as condições dispares dos quatro países envolvidos, mas se percebe que a pressão da
competitividade internacional obriga o bloco regional a buscar, uma forma de reverter a sua
condição de atraso tecnológico, e investir mais nesse âmbito.
4. O MERCOSUL E A HARMONIZAÇÃO DE POLÍTICAS NO SETOR
TECNOLÓGICO
Com a integração do MERCOSUL iniciou-se um processo de harmonização em
diversas áreas. Em algumas delas, como: política industrial, ciência e tecnologia, o avanço
ainda é muito pequeno.
Três questões principais são colocadas:
• Qual o contexto e a seqüência adequada para harmonizar temas de ciência, por um lado,
e de tecnologia, por outro. Ambos estão interrelacionados entre si, mas também com
políticas educativas e políticas industriais.
• Em todos os países da região do MERCOSUL faltam políticas industriais e, sobretudo,
tecnologias, explícita e claramente estruturadas. Estas vem resultando das políticas do
comércio exterior, que fixa os parâmetros centrais para a atividade industrial e os
estímulos ou desestímulos à inovação tecnológica interna.
• Uma eventual harmonização de políticas, além de enfrentar as dificuldades já expostas,
deverá partir de uma análise minuciosa das variáveis, examinar suas semelhanças e
diferenças e, eventualmente, propor medidas de aproximação.
A criação da OMC ( Organização Mundial do Comércio), reflete em mudanças
estruturais nas relações comerciais entre as nações. Entretanto, a remoção gradual das
barreiras protecionistas de origem tarifária, poderá ser parcialmente anulada em seus efeitos
liberalizadores pela introdução de mecanismos alternativos de proteção a determinados
setores das produções nacionais. Barreiras fitossanitárias podem ser impostas
unilateralmente, por exemplo, em países desenvolvidos em suas transações com países
produtores de bens primários. Tende-se também a introduzir as chamadas cláusulas sociais
ou ambientais.
Compreende-se por “claúsula social”a imposição unilateral de retaliações sob
formas diversas, baseada em supostas práticas de rebaixamento exagerado dos custos de
produção mediante a super-exploração de mão-de-obra em alguns países das chamadas
Economias Emergentes. Já a “cláusula ambiental” consistiria em barreiras devido à
presunção de que um ou mais itens da pauta de exportações de um determinado país,
pudesse resultar de processos produtivos que implicasse em fortes repercussões ambientais.
O quadro mundial atual indica que as mudanças globais em curso estão provocando
alterações profundas na base tecnológica dos processos produtivos, particularmente no
âmbito das relações entre o patrimônio natural e a atividade industrial.
Tecnologias já disponíveis para muitos setores industriais permitem reciclar
inúmeros materiais e reaproveitar resíduos e descartes de todos os tipos. Em conseqüência,
se obtém índices cada vez menores de desperdício e poluição, se economizam matériasprimas, energia e recursos naturais em geral, e deste modo, se aumenta a produtividade por
unidade de capital investido no empreendimento e a competitividade dos produtos no
mercado externo.
Os certificados de qualidade internacional, tais como a ISO-9000, passam a ser
indispensáveis para penetrar em mercados do primeiro mundo, e observam basicamente o
processo de produção na indústria, e seu nível de tecnologia: a ISO-14000 já é um passo
adiante, especificando a qualidade de defesa ambiental do produto de exportação.
A entrada em vigor dessas novas exigências quanto à qualidade dos produtos, dado
por essas medidas de normatização, incluídos os processos ambientalmente sustentáveis,
poderá representar para os países de economia em processo de ascensão industrial a perda
de competitividade e de mercados face ás economias industriais consolidadas, pois esses
países não dominam as tecnologias que sustentam a nova fase da industrialização em curso,
concentrada em poucos países e empresas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As tendências atuais na economia internacional apontam a convergência das
capacidades tecnológicas entre países, a expansão das empresas multinacionais e as
distâncias entre as nações estão encolhendo os espaços, dando um impulso definitivo ao
fenômeno da globalização da economia mundial. Para entender as tendências da economia
mundial ,é necessário conhecer a estrutura das forças produtivas, a partir de diferentes
formas de articulação entre produção industrial existente, e outras que surgem sob o
impulso da revolução técnica-científica, utilizadas em escala mundial, onde a produção é
cada vez mais desenvolvida sob a pesquisa, inovação, planejamento, publicidade e mercados
que se utilizam de novas tecnologias e técnicas organizacionais para poder competir
internacionalmente.
Entretanto, as pressões da globalização da economia mundial exigem mudanças mais
dramáticas nas economias nacionais, isto é, uma integração em que as práticas institucionais
e políticas sejam harmonizadas e conciliadas.
A revolução tecnológica iniciada em meados da década de 70 nos países
desenvolvidos trouxe mudanças para a economia mundial na década de 80. As economias
desenvolvidas iniciaram um processo de transição para um novo padrão de crescimento,
com base em novas tecnologias (principalmente a microeletrônica, a biotecnologia e os
novos materiais) , como também no desenvolvimento de novas formas de organização
industrial e novas estratégias de mercado.
Em função disso, é necessário para os países disporem dos elementos humanos
capazes de empresariar e desenvolver essas potencialidades, bem como uma ,infra-estrutura
que possibilite um desenvolvimento acentuado nas suas populações.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALSAMO, Lindalva. As novas biotecnologias no contexto das relações internacionais.
Revista Análise , v.5, n.1, p.137-147, 1994.
CORREA, Carlos M. Cooperacíon científico-tecnologica en el Mercosul. Boletim de
Integração Latino- Americana. n.11- MRE/SGIE/NAT,1993.
NAKANO, Yoshiaki. globalização, competitividade e novas regras do comércio mundial.
Revista de Economia Política. v.14, n.4, p.7-28, out-dez, 1994.
SANTOS, Theotônio dos. A economia mundial: Integração regional e desenvolvimento
sustentável. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
WIKINSON, John. O desenvolvimento da biotecnologia e sua repercussão sobre os padrões
de concorrência mundial. Indicadores Econômicos FEE, v.21, n.1, p.151-158, mai.
1993.
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