e esta, toda iluminada, colorida, voltada com seus belos vitrais transparentes para os espaços infinitos." Volumes e espaços livres na Mondadori (foto abaixo), em Segrate, Milão. Projetada em 1968, a nova sede da DIVULGAÇÃO editora italiana foi inaugurada em 1975 20 A rquitetonicamente simples, os volumes do Memorial AL são basicamente definidos por grandes superfícies de vidro e concreto, com uma cor para cada uma, e outra coloração para a praça pavimentada e sem desenho no piso para não acrescentar nenhuma linha ao conjunto construído. O Salão de Atos tem entrada marcada por altas colunas interligadas, um parlatório colocado no espelho d'água e uma configuração de espaço remetendo à da Igreja da Pampulha. O Auditório Simón Bolívar [homenagem ao libertador venezuelano que, no século XIX, enfrentou o domínio espanhol na América Latina] é o maior e mais complexo edifício do Memorial pela diversidade de seus acessos e circulações internas. Tem 1.600 poltronas, sendo que foyer, platéias e palco são criados por meio de três abóbadas sucessivas de concreto em solução interna sem aumento da altura do edifício. Niemeyer costuma dizer que a partir de Brasília sua arquitetura passou a ser definida pela estrutura. É o caso do Simón Bolívar: as coberturas curvadas, arqueadas (abóbadas), definem o espaço e integram, numa única superfície, as paredes e o teto. Do lado de fora, na Praça, uma escultura de sete metros de altura – a mão espalmada e ferida representa o continente latino-americano. Desenho de Niemeyer para o Memorial da América Latina (SP), 1987. Nas fotos abaixo, o Auditório Simón Bolívar com 1.600 lugares e o arquiteto, em março de 2007, folheando uma publicação do Memorial DALVA THOMAZ escura a galeria de acesso à nave Manchete de TV e os Cieps, centros educacionais localizados também junto a favelas e contrariando o dogma que persuadia a arquiteturas modestas em áreas pobres [uma condenação histórica]. Em São Paulo, auxiliado por Darcy Ribeiro, projeta o Memorial da América Latina. Inaugurado em 1989, o conjunto situado na Barra Funda, zona oeste paulistana, possui, de um lado, a Biblioteca, o antigo Restaurante (atual Galeria Marta Traba) e o Salão de Atos, formando a Praça Cívica com piso inteiramente pavimentado, sem árvores e jardins, destinada às manifestações populares. Na outra parte, ligados por uma passarela estão os prédios da Administração, o Pavilhão da Criatividade e o Auditório (posteriormente foi acrescido o prédio do Parlamento Latino Americano, também projeto dele). EDUARDO RASCOV / DIVULGAÇÃO KADU NIEMEYER/ TYBA Catedral de Brasília, 1959: "Fiz Planejada, construída e inaugurada em quatro anos, Brasília é um marco arquitetônico e urbanístico, mas já em sua fase embrionária foi motivo de discussões por causa da dependência ao automóvel e a falta de uma escala próxima ao homem. Hoje, apenas uma pequena parte da população total vive na área planejada – o crescimento desordenado provocou o aparecimento de cidades-satélites, superpovoadas. Mesmo assim, lá estão as formas curvas, as explorações inéditas das possibilidades estéticas da linha reta, o espaço subvertido. “Eu quis uma arquitetura mais leve, os prédios como se estivessem apenas tocando chão. Quem vai a Brasília pode não gostar, dizer que há coisa melhor, mas parecida não há. Minha busca é a surpresa. A obra de arte deve provocar a emoção do novo”, define. Em 1964, o golpe militar no Brasil muda também a vida de Niemeyer. Demitido da Universidade de Brasília (era coordenador da Faculdade de Arquitetura), com projetos misteriosamente recusados, clientes em desaparecimento e destruição da sede da revista “Módulo”, da qual era diretor, em 1966 decide se radicar em Paris. Lá monta um escritório e desenha a sede do Partido Comunista Francês, cria a Universidade de Constantine e uma mesquita para o governo de Argel, o novo edifício da Editora Mondadori, na Itália... Sedimenta a carreira internacional. Anos depois, já no período da distensão do governo militar brasileiro, retorna ao país para iniciar o que chama de “a última fase da minha vida” e, entre outros trabalhos, realiza em Brasília o Memorial JK e o Panteão da Pátria; no Rio, a Passarela do Samba, o edifício da Rede 21