problemas de introdução de doenças no país

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PALESTRA
Problemas de introdução de doenças no país
através da aquisição de plantas ornamentais exóticas.
PROBLEMAS DE INTRODUÇÃO DE DOENÇAS NO PAÍS POR MEIO DA
AQUISIÇÃO DE PLANTAS ORNAMENTAIS EXÓTICAS
Leila Nakati Coutinho
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de
Sanidade Vegetal do Instituto Biologico
São Paulo - SP
E-mail: [email protected]
Dentre os setores agrícolas em fase de expansão,
tanto em área plantada como em comercialização,
destaca-se o de plantas ornamentais, cuja produção
nacional de flores se encontra ao redor de US$ 600
milhões anuais, com um consumo interno absorvendo
mais de 90% desse total. É necessário considerar que
o mercado externo, principalmente o Mercosul,
apresenta-se como uma excelente opção para os floricultores brasileiros, funcionando como mercado de
interligação com os países da América do Norte, Ásia
e Europa, regiões nas quais os produtos da floricultura
tropical são altamente apreciados e comercialmente
valorizados.
O Estado de São Paulo, destaca-se como o maior
produtor de flores do país, sendo responsável por 80%
da produção e comercialização. Sob o aspecto social,
a floricultura apresenta-se como importante fonte de
empregos e distribuição de renda absorvendo em
média 15 trabalhadores por hectare, entre homens,
mulheres e adolescentes, o que contribui para a fixação
de famílias na área rural. Outros setores também são
beneficiados tais como: transporte, embalagem distribuição, comercialização e industrialização. Na
produção trabalham cerca de 13.000 pessoas e, na
distribuição, mais de 2.000, sendo o varejo o segmento
que envolve maior número de profissionais, existindo,
no Estado de São Paulo cerca de 2.500 estabelecimentos
que empregam 12.500 pessoas (ARRUDA et al. 1996).
A alta exigência do mercado consumidor quanto
ao volume de produção, qualidade visual e aspecto
fitossanitário cria a necessidade de melhores conhecimentos nas áreas de melhoramento, produção e
sanidade.
Devido ao fato do crescimento e desenvolvimento
do setor de plantas ornamentais ser relativamente
recente no país e a constante introdução de mudas e
sementes não certificadas, observa-se a necessidade
de ampliação das pesquisas relativas ao levantamento
dos problemas e elaboração de metodologias nas
áreas de melhoramento, produção e sanidade.
Uma das primeiras doenças de planta ornamental,
cientificamente documentada, e que é ainda hoje
considerada a mais importante doença na cultura
do crisântemo, foi observada pela primeira vez no
Brasil, na região de Jundiaí, SP, no ano de 1972 é a
ferrugem Puccinia horiana . Essa ferrugem é originária
da China e do Japão, regiões que são também os
locais de origem da planta hospedeira. Os sintomas
iniciais podem ser observados na face superior ou
adaxial das folhas, onde aparecem pequenas manchas branco amareladas, levemente deprimidas, de
1 a 3 e mais raramente de mais de 4 mm de diâmetro.
Mais tarde, a parte central dessas manchas torna-se
marrom escura. Correspondendo às manchas, na face
inferior (abaxial), são observadas pústulas salientes
de coloração amarela, com leve tom rosado e de
aspecto ceroso, que se tornam depois esbranquiçadas.
Essas pústulas são predominantemente distribuídas
de forma dispersa ou mesmo nas hastes da planta,
mas raramente presentes na face superior das folhas
. Várias pústulas podem coalescer e tomar áreas tão
extensas que as folhas podem tornar-se totalmente
secas. Trata-se de uma ferrugem microcíclica e a
infecção ocorre pela germinação dos basidiosporos
provenientes da germinação dos teliosporos. Os
basidiosporos são, portanto, os únicos esporos
infectivos produzidos por essa espécie. A ferrugem é
considerada uma forma "lepto", ou seja, uma ferrugem
na qual os teliosporos germinam "in situ" e sem
dormência. A disseminação da doença ocorre, portanto, pela dispersão dos basidiosporos através do ar,
da água de chuva ou de irrigação, quando feita por
aspersão. A ferrugem branca pode ser observada em
qualquer época do ano. Todavia sua incidência tem
sido mais freqüente na primavera e nos invernos
menos rigorosos.
As variedades existentes apresentam diferentes
graus de suscetibilidade e tolerância à doença.
Recentes pesquisas demonstram que a utilização de
plástico de PVC na construção das casas de vegetação
pode reduzir a severidade da doença em comparação
com o plástico de polietileno normalmente empregado
em cultivos protegidos.
Outra doença clássica e que é também considerada
como uma das principais doenças do gladiolo trata-se
da ferrugem Uromyces transversalis. Esta doença foi
constatada pela primeira vez no Brasil em 1981,
provavelmente introduzida por material proveniente
da Argentina. Manifesta-se nas folhas, pedúnculo
florais e sépalas. Os primeiros sintomas se manifestam por pequenas áreas descoloridas com cerca de
1,0 mm de largura e 1 cm ou mais de comprimento.
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Essas áreas tornam-se depois salientes formando
pústulas dispostas transversalmente nas folhas. Dessa
característica provem o nome específico do patógeno.
Plantas severamente infectadas não se desenvolvem,
definham ou produzem flores de qualidade inferior.
Os bulbos filhos produzidos, em geral, não chegam a
maturação.
O cultivo da Alstroemeria como planta ornamental
é relativamente novo no país e ainda há necessidade
de melhores estudos sobre as doenças que afetam essa
cultura. Como existem espécies de alstroemeria originárias do País é de se esperar que outros parasitos
venham a ser detectados com a ampliação dos cultivos.
Atualmente a mais danosa doença é a ferrugem que
já tem causado problemas prejudicando a produção
das flores. A doença inicia-se pelo aparecimento
de pequenas manchas mais claras que se tornam
depois pústulas que produzem farta quantidade
de um pó amarelo ferruginoso, que são os esporos
(urediniosporos) do fungo patogênico. A ferrugem se
dissemina rapidamente principalmente quando as
regas são feitas pelo sistema de aspersão, uma vez
que, para germinação e infecção das plantas os esporos
necessitam da presença de água livre. Plantas severamente atingidas não se desenvolvem, as folhas
amarelecem e a produção de flores é reduzida.
Outro patógeno recentemente detectado em nosso
meio causando murchamento em plantas de roseiras
devido a um comprometimento vascular é o
Verticillium dahliae. Este patógeno penetra pelas raízes
das plantas hospedeiras e causa gradativo
murchamento, amarelecimento e finalmente morte das
plantas. Quando a planta é cortada junto ao caule,
nota-se um escurecimento dos vasos, indicativo da
penetração do fungo. Verticillium dahliae é um patógeno
vascular conhecido há muito tempo entre nós e é
responsável por murcha em várias outras plantas
cultivadas como: tomateiro, algodoeiro, berinjela,
quiabeiro, amendoim, batata. Embora conhecido no
exterior como causador de murcha em roseiras,
apenas recentemente este fato foi confirmado entre
nós em plantas provenientes da região de Guararema,
SP. A murcha de verticilium em roseira também pode
ser transmitida por meio de enxertia, portanto, uma
medida essencial para o controle é a utilização de
borbulhas de plantas matrizes comprovadamente
sadias.
Outra doença recentemente introduzida e cientificamente relatada é causada pelo mesmo agente
causal citado anteriormente, ou seja, Verticillium
dahliae em plantas de Craspedia spp. A craspedia é
uma planta ornamental e florífera da família Asteracea
originária da Austrália, que foi recentemente
introduzida no mercado brasileiro. As principais
espécies cultivadas são Craspedia globosa, C glauca, C.
incana C. uniflora e C. variabilis, entre outras. Os
sintomas observados são os mesmos que ocorrem
em outras plantas hospedeiras.
A neomarica (Neomarica sp.)vulgarmente conhecida por falso íris ou íris amarelo possui porte herbáceo,
florescendo quase durante o ano todo, com maior
intensidade na primavera, tem sido cultivada com a
finalidade de ornamentação de jardins. Em novembro
de 2000, foi constatada a presença de uma nova
ferrugem (Uredinales) nessa planta. Várias espécies
de ferrugem ocorrem sobre plantas ornamentais da
família Iridaceae entre as quais a mais conhecida é a
ferrugem do gladiolo, como já referido anteriormente.
Todavia, várias espécies do gênero Puccinia ocorrem
sobre outras plantas dessa mesma família como Puccinia gladioli também sobre o gênero Gladiolus.
Puccinia iridis sobre Íris sp. e Dieter sp., Puccinia angulata,
sobre Syzydium sp. Eumarica longifólia, que apresenta
flores de coloração amarela é uma espécie originária
do Brasil. Estudos realizados sobre o material de
neomarica com ferrugem mostraram a predominância da forma uredinial (II) com muitos poucos
teleosporos típicos do gênero Puccinia. Dada a
especificidade das ferrugens de Iridaceae acreditamos
tratar-se de uma espécie nova cuja identificação ou
denominação, está em estudos.
O lírio-de-são-josé ou emerocalis é uma planta
ornamental, herbácea, rizomatosa, perene, da família
das Liliaceae, que foi introduzida no Brasil da Europa
e da Ásia. A denominação científica dessa espécie é
Hemerocallis flava L., porém, atualmente, um grande
número de híbridos estão reunidos sob o nome de
Hemerocallis hybrida Hort. A grande dificuldade para
trabalhar com as doenças das plantas ornamentais é
exatamente esta, a grande mistura de material genético,
o que dificulta a definição clara do organismo estudado e conseqüentemente, refletindo nas demais
fases da pesquisa. No entanto, no caso atual, H. hybrida
é a denominação aceita pelos taxonomistas. A ferrugem que ocorre sobre emerocalis, foi descrita pela
primeira vez no Japão sobre Hemerocallis dumortieri,
H. flavae e H. fulvae como Puccinia hemerocallidis.
Trata-se de uma ferrugem heteroécia com fase ecial
denominada Aecidium patriniae que segundo Saccardo
e Tranzschel foi descrita sobre hospedeiro Patriniae
rupestris (Valerianaceae), também no Japão. Os
urediniosporos descritos por Thuemem e os encontrados no Brasil, apresentam muitas semelhanças o
que nos permitiu identificá-lo como pertencentes a
mesma espécie.
Uma outra ferrugem recentemente observada no
país, provavelmente, pela introdução de novas espécies de Solidago, popularmente conhecidos por
"Tango" no mercado de flores, pertence ao gênero
Coleosporium. Esta espécie, herbácea, rústica e de porte que pode atingir até 1,20m, quando adulta, é originária da América do Norte e vem sendo utilizada em
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ornamentação tanto de jardins como para produção
de flores para corte. O estudo micológico realizado
revelou tratar-se de Coleosporium asterum. Trata-se de
uma ferrugem heteroécia, amplamente distribuída no
Hemisfério Norte, que tem como hospedeiros teliais
(II, III) além de Solidago spp. muitos outros gêneros de
Asteraceae. O estágio aecial (0, I) que ocorre sobre
várias espécies de Pinus não foi ainda observado. Na
mesma ocasião (3/98), J.F. Hennen & M.M. Hennen
coletaram essa ferrugem sobre espécies nativas de
Capão Bonito, SP. Esta foi a primeira constatação dessa
ferrugem no Brasil.
O mildio da cinerária, planta ornamental que
produz flores de rara beleza, foi relatado pela primeira
vez em 1933 em New York, USA, causando perdas
significativas. Os sintomas desta doença iniciam-se
por pequenas pontuações esbranquiçadas na face
inferior das folhas. As lesões são anfígenas limitadas
pelas nervuras principais. Estas pontuações tornam-se
marrom escuras e a folha inteira morre. O patógeno
desenvolve-se bem nas folhas das plantas quando a
umidade relativa do ar é elevada e associada a temperaturas amenas entre 15 a 23 °C. O fungo foi identificado como Plasmopara halstedii. Esta foi esta a primeira
constatação deste patógeno sobre planta cultivada de
importância econômica. A "cinerária dos floristas" ou
apenas cinerária são nomes comumente utilizados
para planta herbácea da família Asteraceae proveniente do Sul da Europa e que tem sido amplamente
utilizada em nosso meio com a finalidade de ornamentação, principalmente, em ambientes internos. Do
ponto de vista botânico, a cineraria é constituída por
um grande grupo obtido por hibridação e melhoramento de espécies dos gêneros Senecio, Centaurea e
Pericallis.
Através de inspeções realizadas em cultivos de
híbridos de Oncidium flexuosum, na região de
Guararema, SP, foi verificado a existência de uma
nova doença fúngica, causada por um hiphomiceto
que apresenta frutificações do tipo sinêmio. Foi observado que o patógeno é extremamente infectivo e dissemina-se facilmente de uma planta para as outras
nas condições em que são cultivadas.
Desde então, diversos estudos têm sido realizados
no intuito de identificar não só o real agente causal,
como também o processo infeccioso da doença. Esta é
uma doença sazonal, ocorrendo em nosso meio apenas
quando as temperaturas são amenas. Os sintomas
desaparecem quanto aumenta a temperatura, ou seja,
o patógeno permanece de forma assintomática nos
períodos de primavera/verão. Na literatura internacional não existem relatos de doença causada, por
este grupo de fungos, sobre Oncidium flexuosum ou
mesmo sobre qualquer espécie da família
Orquidaceae. Portanto, objetivando a coleta de dados
a cerca do comportamento do patógeno frente a seu
hospedeiro e, também sua correta identificação,
foram realizados diversos estudos. O fungo foi isolado
em meio de cultura sintético (BDA). Tanto sobre
folhas naturalmente infectadas do hospedeiro como
sobre o meio de cultura, foi observada a existência de
conidióforos livres do tipo sinêmio. Para estudar o
comportamento do patógeno, foram realizadas
inoculações experimentais sobre folhas destacadas
do hospedeiro. Para tanto, foram depositados corpos
de frutificação ou micélio sobre as folhas sendo que,
em algumas, foram provocados pequenos ferimentos
com o auxílio de uma agulha. Pôde-se observar que
existindo ferimentos a infecção é mais efetiva, resultando em sintomas mais pronunciados. Também, foi
possível verificar que frutificações jovens são mais
efetivas do que as mais velhas, uma vez que no
primeiro caso, a infecção se deu mais rapidamente.
Convém ressaltar que está é uma doença bastante
incidiosa, que se não controlada, poderá levar a
significativas perdas na produção.
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