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volume 15— nº 1 — 2007
ISSN - 0104-3579
www.unifesp.br/dneuro
Artigos
• Depression, pain, and site: a clinical comparison study in mild, moderate,
severe and extreme bruxers
• Correlação do reflexo de Blinking com o quadro clínico de pacientes
neurológicos graves
• Variáveis preditoras de mortalidade em pacientes com traumatismo crânio
encefálico na terapia intensiva
• Características clínicas e do neurodesenvolvimento na esquizofrenia da
infância e adolescência
• Relação entre independência e o nível de disfunção motora e funcional em
pacientes hemiparéticos
• Dipyrone for acute primary headaches: a Systematic Review
• A criação do MIBRELA, um software brasileiro de orientação para pacientes
com esclerose lateral amiotrófica
• Importância das manifestações não motoras da Doença de Parkinson
• Testes utilizados para avaliação respiratória nas doenças neuromusculares
• Abordagem clínica de pacientes com ataxia
• Aspectos imunogenéticos de doenças neuropediátricas: o papel dos antígenos
de histocompatibilidade humanos
• Síndrome de Tourette: aspectos genéticos atuais
Neurociências
3
REVISTA NEUROCIÊNCIAS
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Citação: Rev Neurocienc
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Neurociências
4
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1994, 2: 1, 2 e 3
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2001, 9: 1, 2 e 3
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2007, 15: 1-
Revista Neurociências – vol 15, n.1 (2007) – São Paulo: Atha Comunicação & Editora, 1993Quadrimestral até 2003. Trimestral a partir de 2004.
ISSN 0104-3579
1.Neurociencias
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Neurociências
5
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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Neurociências
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Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain,
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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Neurociências
7
EDITORIAL
...........................................................................................................................................................................................................................................08
ARTIGOS ORIGINAIS
Depression, pain, and site: a clinical comparison study in mild, moderate, severe and extreme bruxers
Depressão, dor e local: uma avaliação clínica comparativa em bruxômanos leves, moderados, severos e extremos
Molina Omar Franklin, Tavares Gimenes Pablo, Aquilino Raphael, Rank Rise, Coelho Santos Zeila, César Ed Wilson, Dib Jamil Elias .............................09
Correlação do reflexo de Blinking com o quadro clínico de pacientes neurológicos graves
Correlation of the Blinking reflex with clinical feature in severe neurological patients
Anelisa Mancastroppi Faria, Daniella Silva Oggiam, Juliana Valéria Leite, Telma Dagmar Oberg ........................................................................................17
Variáveis preditoras de mortalidade em pacientes com traumatismo crânio encefálico na terapia intensiva
Predictable variables of mortality in patients with traumatic brain injury in intensive care
Elias Ferreira Porto, José Renato de Oliveira Leite, Adriana Zamprônio dos Santos ...........................................................................................................21
Características clínicas e do neurodesenvolvimento na esquizofrenia da infância e adolescência
Clinical and neurodevelopmental features of schizophrenia in childhood and adolescence
Marcelo Torres Gonçalves, Jairo Werner ............................................................................................................................................................................28
Relação entre independência e o nível de disfunção motora e funcional em pacientes hemiparéticos
Relation between functional independence and motor impairments in hemiparetic post-stroke patients
Camila Torriani, Eliane Pires de Oliveira Mota, Sônia Hitomi Pedrosa Kazurayama, Stella Ruhe Burin,
Tatiana Mengatti, Juliana Caminho, Francyelle Bastos, Graziela Bastos, Jenifer Chris ........................................................................................................32
Dipyrone for acute primary headaches: a Systematic Review
Dipirona nas cefaléias primárias agudas: Revisão Sistemática
Adriana de Souza Ramacciotti, Álvaro Nagib Atallah, Bernardo Garcia de Oliveira Soares ..................................................................................................37
A criação do MIBRELA, um software brasileiro de orientação para pacientes com esclerose lateral amiotrófica
MIBRELA, orientation Brazilian software for amyotrophic lateral sclerosis patients
Klein AN, Oliveira ASB, Fontes SV, Nakazune SJ, Takizawa MM, Arai JS ............................................................................................................................44
ARTIGOS DE REVISÃO
Importância das manifestações não motoras da Doença de Parkinson
Importance of the non-motor manifestations of the Parkinson’s disease
Egberto Reis Barbosa, Luciano Magalhães Melo ................................................................................................................................................................49
Testes utilizados para avaliação respiratória nas doenças neuromusculares
Tests used to evaluate respiratory function in neuromuscular diseases
Natasha Nicholson de Santa Maria, Erica Marques Zanelli, Marina Brito Silva, Sabrina Kyoko de Paula Asa,
Francis Meire Fávero, Marcia Maiumi Fukujima, Sissy Veloso Fontes, Acary Souza Bulle Oliveira ......................................................................................60
Abordagem clínica de pacientes com ataxia
Clinical approach to ataxic patients
Clécio de O Godeiro Jr., André Carvalho Felício, Sônia Maria Azevedo Silva, Vanderci Borges, Henrique Ballalai Ferraz ....................................................70
ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO
Aspectos imunogenéticos de doenças neuropediátricas: o papel dos antígenos de histocompatibilidade humanos
Immunogenetic aspects of neuropediatric disorders: the role of the human histocompatibility antigens
Crésio Alves, Sâmia Veiga, Thaisa Souza, Maria Betânia P Toralles....................................................................................................................................76
Síndrome de Tourette: aspectos genéticos atuais
Tourette syndrome: recent genetic aspects
Débora Marques de Miranda, Marco Aurélio Romano-Silva, Antônio Lúcio Teixeira ..........................................................................................................83
NORMAS DE PUBLICAÇÃO / INSTRUÇÕES PARA AUTORES...............................................................................................................89
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Neurociências
revista
8
Editorial
CAMPANHA NACIONAL DO SONO
As doenças do sono têm recebido amplo e merecido destaque da imprensa não especializada nos últimos tempos.
Isto se constata pela freqüência com que entrevistas são concedidas por especialistas da área, artigos e reportagens
são publicados, bem como pela cobertura que eventos especializados tem recebido.
A preocupação com a insônia e suas conseqüências, a observação do ronco e da apnéia, a percepção de
sonolência excessiva, por exemplo, já povoam o imaginário do público leigo, que busca cada vez mais auxílio para
tratamento do seu desconforto. De qualquer modo, ainda é grande a necessidade de divulgação de um conhecimento
recente entre a comunidade médica.
A Academia Brasileira de Neurologia, ciente da necessidade de alertar a população, para buscar ajuda entre os
neurologistas amplamente distribuídos em nosso vasto território, promoveu no dia 21 de março o “Dia Nacional do
Sono”. Nesta primeira edição da campanha, foram envolvidas 11 cidades de 9 estados, tendo-se divulgado informações sobre as três doenças de maior impacto sobre o sono: Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS), Insônia
e Síndrome das Pernas Inquietas (SPI). Pelas próprias características de sua formação, o neurologista ocupa um lugar
específico no diagnóstico e tratamento das doenças do sono, seja nos seus aspectos sistêmicos quanto naqueles que
comprometem a atividade cerebral. No entanto, é evidente que a abrangência das comorbidades associadas aos Distúrbios do Sono, requer o concurso de profissionais de outras especialidades médicas que receberam treinamento em
medicina do sono, uma área de múltiplas interfaces.
A experiência desta primeira Campanha Nacional do Sono da Academia Brasileira de Neurologia foi bastante representativa, pois todos os locais envolvidos, apontaram uma saldo muito positivo para o evento, demonstrado pelo impacto de mídia que teve em tão curto espaço de tempo. Em Campinas, promovemos o evento em conjunto com médicos de diferentes especialidades (neurologia, otorrinolaringologia e cardiologia), psicólogos, fisioterapeutas, terapeuta
ocupacional e enfermeira, integrados de forma interdisciplinar, e oferecemos orientação em todos os aspectos do
cuidado à “saúde do sono, envolvendo desde as particularidades médico-assistenciais às preventivas e educacionais. A
receptividade do público e o interesse da imprensa pelo tema foram grande, particularmente pelo tema da síndrome das
pernas inquietas, doença pouco conhecida e divulgada, mas de grande prevalência e impacto sobre a população.
Cesar Osório de Oliveira
Neurologista
Neuro-Sono / UNIFESP
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - ABRIL/MAIO, 2007
Neurociências
9
Artigo Original
Depression, pain, and site: a clinical comparison study in
mild, moderate, severe and extreme bruxers
Depressão, dor e local: uma avaliação clínica comparativa em
bruxômanos leves, moderados, severos e extremos
Molina Omar Franklin1, Tavares Gimenes Pablo2, Aquilino Raphael3, Rank Rise4, Coelho Santos Zeila5,
César Ed Wilson6, Dib Jamil Elias7
SUMMARY
Objective: To assess the level of depression, severity of pain and pain in single/multiple sites in patients with different severity of bruxing behavior and Temporomandibular Disorders (TMDs). Methods: We evaluated 131 patients with bruxism and
TMDs: 20 patients with mild bruxism, 42 patients with moderate bruxism, 45 patients with severe bruxism and 24 patients with
extreme bruxism. We used the Beck Depression Inventory (BDI), clinical examination, a questionnaire of clinical epidemiological data, criteria for TMDs and bruxism, palpation of muscles and joints, the Visual Analogue Scale for pain, classification of
the occlusion and biomechanical tests to assess for internal joint derangements. Results: The level of depression increased
from the mild, to the moderate, severe and extreme bruxing behavior groups, but the difference was significant only from the
mild to the extreme group (p<0.001). Pain levels increased from the mild and moderate to the severe and extreme subgroups,
but were not statistically significant. Mean number of pain sites increased from the mild, to the moderate, severe and extreme
subgroup and the difference was extremely significant (p<0.0001). Conclusion: Levels of depression, severity of pain and
pain sites increased with severity of bruxing behavior. A higher number of pain sites with more severe bruxism indicates somatization in bruxers, but a further study using the same protocol and a psychological test for somatization would be indicated
to further substantiate these findings.
Keywords: Temporomandibular Joint Disorders, Bruxism, Depression.
Citation: Molina OF, Tavares PG, Aquilino R, Rank R, Santos ZC, César EW, Dib JE. Depression, pain, and site: A clinical
comparison study in mild, moderate, severe and extreme bruxers. Rev Neurocienc 2007; 15(1):09-16.
Research was performed at Faculdade de Odontologia UNIRG (University of Odontology), Gurupi-Tocantins, Brazil.
1.Master of Sciences, Diplomate in Occlusion - TMD American Equilibration Society, USA, Post Doctoral Orofacial Pain, Harvard
University. Ex Resident Massachusetts General Hospital, Center for the Study of Craniomaxilofacial Disorders USA, Associate Professor/Researcher, Occlusion, Structure and Function UNIRG Gurupi-TO.
2.Specialist, Master of Sciences and Doctor in Oral Pathology, Assistant Professor in Oral Pathology UNIRG Faculty of Dentistry, Gurupi-Tocantins. Member Craniomaxillofacial Pathology Group.
3.Specialist and Master of Sciences in Oral Radiology UNICAMP, Graduate student at the doctoral level, UNICAMP. Professor of Dental
Radiology, UNIRG-TO.
4.Master of Sciences in Pedodontics SLMU-SP, Assistant professor of Pedodontics, UNIRG-TO.
5.Graduate Program in Orthodontics, Professor of Orthodontics UNIRG-TO.
6.Master of Sciences, Professor of Operative Dentistry, UNIRG-TO.
7.Specialist in Oral Surgery, Master of Sciences in Public Health, Adjunct Professor UNIRG Gurupi-TO.
Address for correspondence: Av. Maranhão, 1644, Sala 2 - Gurupi, Tocantins CEP 77400-020.
Trabalho recebido em 14/06/2006 • Revisão: de 15/06/2006 a 12/11/2006 • Aprovado em 13/11/2006 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(10-17)
Neurociências
10
RESUMO
Objetivo: Avaliar o nível de depressão, severidade da dor e dor em locais únicos e múltiplos em pacientes com
diversos graus de bruxismo e Distúrbios Temporomandibulares (DTMs). Método: Nós avaliamos 131 pacientes
com bruxismo e DTMs: 20 pacientes com bruxismo leve, 42 com bruxismo moderado, 45 com bruxismo severo
e 24 com bruxismo extremo. Nos usamos o Questionário de Depressão de Beck, exame clínico, um questionário
para dados epidemiológicos, critérios para Distúrbios Temporomandibulares e bruxismo, palpação dos músculos e articulações, a escala análoga visual para avaliar dor, classificação da oclusão e testes biomecânicos
para avaliar distúrbios internos articulares. Resultados: O nível de depressão aumentou do grupo leve para o
moderado, severo e extremo de pacientes com bruxismo, mas a diferença foi significante somente do grupo
leve para o extremo (p<0.001). O nível de dor aumentou dos grupos leve e moderado para o severo e extremo,
mas a diferença não foi significante. O número médio de locais com dor aumentou do grupo leve para os grupos
moderado, severo e extremo e a diferença foi estatística e extremamente significante (p<0.0001). Conclusão:
Os níveis de depressão, severidade da dor e locais com dor aumentaram com a severidade do bruxismo. Um
número maior de locais com dor foi observado a medida que aumentou a severidade do bruxismo. Isto pode
indicar somatização nesses pacientes, mas um estudo adicional usando o mesmo protocolo e um teste psicológico para somatização seria indicado para substanciar adicionalmente estes achados.
Unitermos: Transtornos da Articulação Temporomandibular, Bruxismo, Depressão.
Citação: Molina OF, Tavares PG, Aquilino R, Rank R, Santos ZC, César EW, Dib JE. Depressão, dor e local: Uma avaliação
clínica comparativa em bruxômanos leves, moderados, severos e extremos. Rev Neurocienc 2007; 15(1):09-16.
INTRODUCTION
Parafunctional masticatory activity includes nonproductive diurnal and nocturnal clenching or grinding of
the teeth (bruxism) generally believed to have deleterious
effects on the masticatory system1. The literature is
replete with numerous reports implicating parafunctional activity as having a significant role in the cause of
Temporomandibular Disorders. The effects of nocturnal
bruxism on Temporomandibular Disorders (TMDs) are
based on a habit that can cause significant damage to
every part of the masticatory apparatus2. The etiology
of bruxing behavior is to a great part unknown and
controversial and many theories have been developed.
It has been contended that psychological factors and
stress play a major role in promoting and perpetuating
the parafunctional habit3. Bruxism was defined as an
anxiety response to environmental stress4.
Many attempts have been made to find special personality characteristics for bruxism. However, there was
no difference in personality features between bruxers and
nonbruxers, suggesting that bruxers appear to be relatively normal in psychometric measures5. On the other
hand, that will be because some relationships between
psychological factors and bruxism are not clearly defined6, and more research about the link between hostility,
bruxism, and depression is mandatory.
Review of the literature
Different levels of bruxing behavior
Many studies delineating the clinical and psychoREVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(10-17)
logical features of Temporomandibular Disorders and
bruxing behavior patients have been carried out resulting
in the observation that different levels of bruxing behavior
and heterogeneous populations of those patients do
exist. A complete set of psychological tests to assess
(the most severe cases) bruxing behavior/TMDs and
based on the clinical/psychological characteristics,
reported that bruxers could be classified in strain and
nonstrain individuals7. Electromyography used in the
temporal and masseter muscles reported that TMD
and bruxing behavior patients could be classified as
presenting “light” and “heavy” bruxing behavior8. They
also found that more numerous and severe symptoms
could be observed in the “heavy group” as compared
to the “light” bruxing behavior group. A group of bruxers
and a group of myofascial pain dysfunction syndrome
showed a striking contrast in the level of pain experienced by both subgroups of patients9.
Additionally, differential treatment responses of Temporomandibular Disorder patients (TMDs) suggesting
that subgroups of those patients may exist based on
differences in psychosocial and behavioral features
which may be important when designing and evaluating treatments10. Those patients could be classified as
dysfunctional, interpersonally distressed and adaptive
copers. Bruxism could be classified in “frequent and
non frequent” when personality traits were assessed in a
group of subjects with long-standing bruxing behavior11.
Finally, mild, moderate and severe bruxers reported
hostility as the independent variable, bruxers could be
classified as presenting minimal-mild and moderatesevere depression12.
Neurociências
11
Depression
Depression is a complex psychobiological syndrome
involving somatic, vegetative, cognitive, and affective
disturbances. The importance of depression in clinical
practice is that it can be a mediator between chronic
pain and somatic complaint13. Depression may refer to
either an affect, a symptom or even to a syndrome14.
A number of studies assessing psychological states
in TMD patients have been carried out. For instance,
TMD patients with pain and illness behavior were more
likely to display affective disorders including anxiety and
depression15.
Clinical depression in such patients is observed less
frequently as compared to anxiety, but when depression
occurs, it is always correlated with anxiety. Most TMD
patients are characterized by musculoskeletal symptoms
and depressive symptoms predicted the development of
musculoskeletal pain in the general population16. Such
finding indicated that pain could be a somatic manifestation of depression suggesting that not all TMD patients
develop depression. Only a portion of TMD patients
assessed was clinically depressed. It may be those
different subgroups of TMDs presenting no depression,
mild, moderate and severe levels of depression17. Such
characteristics may be related to the level of TMD, severity of bruxing behavior and other less known psychosocial
factors. This observation is supported because only two
subgroups of bruxers/TMD patients presented clinical
symptoms and signs of depression18.
Severity of pain
Diurnal bruxing behavior involves repetitive isometric
muscle contraction, but sleep related bruxism involves
both chewing-like movements and long periods of isotonic contraction of the jaw muscles usually bilateral
displaying maximal contraction forces with such a duration that may produce fatigue and pain. It has been
reported that different subgroups of bruxing behaviors
patient do exist and bruxing behavior in a destructive
group may be related to differences in the clinical complaints including pain18.
It is believed that some psychological characteristics
of temporomandibular disorders and bruxing behavior
patients including anxiety and depression may influence
the severity, duration and frequency of pain. Because
some of those patients score higher on the hypochondriasis and depression scales, it is very likely that they
present with more severe pain19. Some subgroups of
bruxers including those referred to tertiary center for
diagnosis and treatment form the most severe cases
that have not found relief to their pain at private dentists7.
It may be that some subgroups of Temporomandibular
Disorders and bruxing behavior patients are burdened
with some specific psychiatric problems20 as they report
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different levels of pain. This point of view is challenged by
one investigation21, reporting that pain intensity showed
a strong correlation to scores of quality of life but not to
psychological states. Pain intensity may first disrupt a
patient’s daily life and then impaired physical functioning
would increase the level of anxiety and depression.
In acute TMD patients, reported that women who
developed chronic TMD had significantly higher scores
on graded pain severity indicating greater pain/disability,
depression and non-specific physical symptoms. Such
symptoms were not observed in women who did not
develop chronic TMD complaints22.
Pain in single and multiple sites
Pain in adjacent and distant anatomic areas to the
stomatognathic system has been a field of intense clinical research in the last few years. Researchers have
attempted to find a possible correlation between pain
in local and distant anatomic areas and psychological
states, TMD, and bruxing behavior. The latter disorder
has also been defined as a psychosomatic one. A subgroup of bruxers presented with severe pain and multiple
symptoms in the masticatory system but this subgroup
was formed by the most severe cases of TMD and bruxing behavior18. It may be that such patients presented
an increased muscle activity that generated muscle
tension, muscle spasm and pain. Bruxers reported jaw
pain, neck and shoulder pain, headache, and 60% dental
pain23. Pain experienced by bruxing behavior patients
may be analogous to pain/discomfort induced by excessive loading24. Furthermore, occasional or fluctuating
pain reported by bruxers and TMD patients occurred
concomitantly with increased periods of EMG activity24.
TMD patients presenting with more frequent bruxing
behavior reported higher prevalence of jaw, facial, head,
neck, back, throat and shoulder pain as compared to
“less frequent bruxing behavior”, but a correlation with
psychological states was not established11.
Bruxism and depression
Many studies correlating bruxing behavior with
psychological states including anxiety and depression
have been carried out. Bruxing behavior patients, assessed by the Maudsley Personality Inventory, presented
more depressive symptoms than nonbruxers25.
Bruxers were also more emotionally unstable as
compared to the control group. Karolinska Scales of
Personality assessed anxiety and inhibition of aggression, in more frequent and less frequent bruxing behavior
patients11. They reported that chronic bruxers themselves
are more anxiety prone, and thus, may present higher
values at the inhibition of aggression scale. Finally, bruxing behavior and Myofascial Pain Dysfunction patients
Neurociências
12
were evaluated and 10.5% of all bruxers described
themselves as depressed9. Levels of depression have
been assessed in TMD and bruxing behavior patients.
However, subgroups of bruxers have not been evaluated
regarding some psychological states, severity of pain
and pain in single and multiple sites.
The objectives of this study are to evaluate levels of
depression in subgroups of bruxers and TMD patients;
to assess the severity of pain in the same subgroups
and to study differences in pain in single and multiple
sites in such subgroups.
METHODS
Data for this research were gathered retrospectively
from131 TMD and bruxing behavior cases referred consecutively to a Center for the Study of those disorders in
the years 2004-2006 to the University of Gurupi, Dental
School (Gurupi, Tocantins).
Patients were classified as presenting TMDs if they
demonstrated specific signs/symptoms including a
complaint of pain in the masticatory muscles, noises
in the temporomandibular joint, difficulties to perform
lateral or opening jaw movements, tenderness in the
masticatory muscles during palpation and headaches
usually of muscle origin.
Mild, moderate, severe and, extreme bruxers were
those presenting 3-5, 6-10, 11-15 and 16-24 of the following
signs and symptoms accepted in the current literature:
catching himself/herself clenching the teeth during the
day, fatigue on the masseter muscles during the day,
fatigue on the masseter muscles on awakening, a feeling
of tension on the masseter muscles on awakening and/
or during the day, a history of catching himself/herself
grinding the teeth at night, jaws locked on awakening
at night, wear facets of the teeth, head pain, masseter
pain or TMJ pain on awakening, pain in the teeth on
awakening in the morning, dental pain during the day,
tooth sensitivity to cold, hypertrophy of the masseter/
temporalis muscles, frequent fracture of teeth or restorations, body fatigue on awakening, cervical pain on
awakening, a feeling of being tired or sleepless during
the day, cheek biting, tongue biting, bone hypertrophy
(maxilla or mandible), torus in the upper or lower jaw,
jaw opening difficulties on awakening and previous use
of an occlusal splint.
Of those 131 patients evaluated 20, 42, 45 and 24 demonstrated mild, moderate, severe, and extreme bruxing
behavior respectively. A diversity of signs/symptoms
of TMD was also present in those patients. They were
not assessed exclusively for research purposes, but as
part of the initial evaluation for potential diagnosis and
treatment.
Because the assessment was comprehensive, such
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approach benefited both professional and patient,
regarding diagnosis/treatment. The procedures as
follows were used to gather clinical, psychological and
diagnostic data: clinical examination of joint, muscles
and jaw movements, the Visual Analogue Scale to gather
subjective scores about pain, history of signs/symptoms
including location, severity, chronicity and clinical characteristics of the pain, two questionnaires to assess
presence and severity of bruxing behavior and oral jaw
habits, biomechanical tests to evaluate for internal joint
derangement, classification of the occlusion, criteria
published in the literature to include patients as presenting or not Temporomandibular Disorders and the Beck
Depression Inventory to assess depression.
The Visual Analogue Scale from 0 to 10 was used
to assess severity of pain. Mild pain was considered
as such if the patient reported that severity of pain was
between 1-3, moderate pain if it was considered to be
between 4 and 7 and intense pain when severity was
between 8 and 10 in such scale.
The Beck Depression Inventory (BDI) is a robust
psychological instrument having 21 self-rating items that
measures depression. Each item in the instrument (for
instance, pessimism), has phrases ordered by the level
of severity: (0-3) and the patient is instructed to identify
and record the phrase that more accurately describes
his/her feelings or actual state. The instrument yields
values ranging from 0 (no depression at all) to 63 (the
maximal depressive state).
A short questionnaire was used to record pain in
adjacent sites (mouth, teeth, head, temporomandibular
joint, ear, neck, masticatory muscles) and distant sites
(back, stomach, leg, feet and others). If pain in any
site included in the questionnaire was considered as a
complaint by the patient, then it was recorded as such.
Because bruxing behavior is considered by some as
a somatization disorder, recording pain in single and
multiple sites is particularly relevant.
Following the use of these instruments, patients
were grouped as presenting or not TMD and mild, moderate, severe and extreme bruxing behavior. Criteria
for inclusion in any of these four subgroups were published previously26. Briefly, TMD patients were included
as presenting such disorders if they demonstrated at
least two of the following signs/symptoms: A complaint
of pain, difficulties to perform normal jaw movements,
tenderness to palpation of the masticatory muscles,
joint noises and headaches. Complaints of pain and
difficulties to perform functional jaw movements were
usually most common.
Regarding criteria for bruxing behavior, a patient
presenting 3-5 signs/symptoms was included as mild
bruxer, a patient demonstrating 6-10 sign or symptoms
was included as a moderate bruxer, a patient exhibiting
11-15 signs or symptom was classified as a severe bru-
Neurociências
13
xer and a patient presenting with 16 or more signs and/or
symptoms was classified as presenting extreme bruxing
behavior according to the list of signs and symptoms of
bruxing behavior described previously in this section. We
did not use criteria for the severity of TMD.
Statistical analysis
We used parametric/non parametric ANOVA, KruskalWallis, and Pearson Product Moment Correlation Coefficient to test the significance of data observed in different
subgroups.
RESULTS
There were 117 females (89.31%) and 14 males
(10.69%) in the TMD and bruxing behavior group (Table
1). The mean age was about 33.26 years in the whole
group, 33.66, 32.13, 33.80, and 33.45 years in the mild,
moderate, severe, and extreme groups of bruxers and
TMD patients. The mean BDI score was about 11.54 in
the whole sample, 6.65, 10.78, 11.73, and 16.62 in the
mild, moderate, severe, and extreme groups of bruxers
and TMD patients (Table 2). The difference in the level
of depression was statistically and significantly different
only from the extreme to the mild bruxing behavior group.
There was no statistical difference between the mild,
moderate and severe groups of bruxers and temporomandibular disorder patients.
The mean severity of pain in the whole group of TMD
and bruxing behavior patients was about 4.95, and 4.95,
5.88, 6.38, and 6.17 in the mild, moderate, severe, and
extreme groups of bruxers and TMDs patients respectively (Table 3), but there was no difference in these
groups (p=0.08). The mean numbers of pain sites were
about 5.70, 3.90, 5.16, 6.02, and 7.54 in the whole group
of TMD patients, mild, moderate, severe, and extreme
groups of those patients respectively (Table 4). Using
Kruskal-Wallis nonparametric test we found a statistically
and extremely significant difference (p<0.0001) in such
groups: mild bruxers vs. severe bruxers (p<0.05), mild
bruxers vs. extreme bruxers (p<0.001), moderate bruxers
vs. extreme bruxers (p<0.001). We found that the pair of
variables level of bruxism-depression (r:0.33, p<0.0001),
severity of pain-depression (r:0.27, p<0.0019), number
of painful sites-level of pain (r:0.30, p<0.0004) and level
of bruxism–painful sites (r:0.39, p>0.0001) were all positively and significantly correlated (Table 5). Of all pairs
of variables evaluated, level of bruxism-painful sites was
the most positively correlated (Table 5).
DISCUSSION
Mean Age
The mean age in the whole group of patients presenting TMD and bruxing behavior was about 33.26
years. Such mean was very similar as compared with
Table 1. Demographic data and prevalence of severity of bruxing behavior in
Temporomandibular Disorders and bruxing behavior patients.
Bruxing types
All TMD and
bruxers (131) Mild (20) Moderate (42) Severe (45) Extreme (24)
Females
117(89.3)
16(80)
35(83.3)
43(95.5)
23(95.8)
Males
14(10.7)
04(20)
07(16.7)
02(4.7)
01(4.3)
Mean age
33.3±10.8
33.7±10.3
32.1±11.3
33.8±9.5
33.4±11.0
Range
14-67
16-54
16-67
14-60
14-55
Values in n (percentage); mean ± standard deviation; range = minimummaximum.
Table 2. Mean in the Beck Depression Inventory in the whole Temporomandibular Disorders group and bruxing behavior and in the
Temporomandibular Disorders /bruxing behavior subgroups.
Bruxers by subgroups
All TMD and bruxers (131)
Mild(20)
Moderate(42)
Severe(45)
Extreme(24)
mean
SD
11.5
8.5
6.6
6.4
10.8
8.4
11.7
7.4
16.6*
9.6
range
0-42
0-42
0-2
0-28
2-36
SD=Standard Deviation; Kruskal-Wallis Test p<0.0028; * p<0.001, comparing mild versus extreme group.
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Neurociências
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Table 3. Severity of pain in subgroups and in the whole group of bruxers and Temporomandibular Disorders patients.
Bruxers by subgroups
All TMD and bruxers (131)
Mild(20)
Moderate(42)
Severe(45)
Extreme(24)
severity of pain
4.9±2.9
4.9±2.9
5.9±2.1
6.4±1.7
6.2±1.2
range
4.2-8.5
0-9
2-10
0-10
4.2-8.5
Kruskal-Wallis Test: p=0.08; Values in mean ± standard deviation; range = minimum-maximum.
Table 4. Mean number of painful sites in subgroups of Temporomandibular disorders patients.
Bruxers by subgroups
All TMD and bruxers (131)
Mild(20)
Moderate(42)
Severe(45)
Extreme(24)
mean
5.7
3.9
5.2*
6.0**
7.5***
SD
2.7
2.2
2.9
2.3
1.8
range
0-7
0-7
0-12
0-10
5-14
Kruskal–Wallis test: p<0.0001; * Moderate bruxers vs extreme bruxers = p<0.001; ** Mild bruxer vs severe bruxers =p<0.05; *** Mild bruxers vs
extreme bruxers=p<0.001.
Table 5. Coefficients of Pearson for specific variables.
Pair of variables
Pearson r
p value
Level of bruxism and depression
Severity pain and depression
Pain sites and level of pain
r:0.33
r:0.27
r: 0.30
p<0.0001
p<0.0019
p<0.0004
Level of bruxism and painful sites
r: 0.39
p<0.0001
the mean age of 34 years observed in the group of
bruxing behavior patients assessed in one study27. The
mean age we observed was different as compared to
the mean of 37.7 years observed in the literature11, but
these researchers assessed only “long-standing bruxing
behavior patients” as compared to consecutive referrals
in our study. Mean age found in our group was also different when compared to the mean age of about 27.7
years observed in other investigation9. It is very likely
that such difference can be explained by the sample
size as those researchers examined only 19 bruxers
and TMD patients.
Scores in depression
The mean BDI score in the whole sample of 131
TMD and bruxing behavior patients was about 11.54.
Depression scores increased with the severity of bruxing
behavior. However, there was no statistically significant
difference between the moderate, severe and extreme
groups of bruxing behavior patients. The only significant
difference observed was from the extreme to the mild
bruxing behavior group (p<0.001, very significant). Even
though values in depression increased with the severity
of bruxing behavior, but were only different from the mild
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to the extreme group of bruxing behavior, the results of
this study are supported by one research27 observing a
mean in the BDI of about 12.95 in 20 patients presenting
with bruxing behavior. Because many patients demonstrated low levels of depression or no depression at all,
the results of this study are supported at least in part by
one investigation in bruxers9, reporting that only 10.50%
of those patients admitted to feel depressed. It may be
that only those patients feeling moderate or high levels
of depression report such symptom/disorder. Because
we found that many TMD/bruxing behavior patients presented increased scores in depression that were high in
only a few, the results of our investigation are supported
by one study17, indicating that “although no definitive
psychological profile” has been observed, small elevations in anxiety, depression, and somatization, have been
consistently identified in TMD patients”. Regarding the
relationship between more severe forms of bruxing behavior/depression, the results of our study are supported
by another investigation18, in which although researchers
did not use the BDI and the sample was very small, they
reported signs of depression in all female patients in the
group of destructive bruxers. Interesting to note is that
if we had not included the group of extreme bruxing
behavior in this study, we would not have been able to
Neurociências
15
detect a group presenting the highest scores in anxiety
and depression, as compared to the other groups.
We emphasize that a significant difference in depression was observed only when we compared the extreme
group with the mild one. Further studies should review
other psychological features of this extreme group of
bruxers. It may be that such group is the most complicated both clinically and psychologically.
Aggression/frustration in this group may be converted
in aggression inward (depression) represented by more
severe bruxing behavior. In one study27, researchers
defended the notion that in depression, the tendency
to exteriors aggressivity is denied or suppressed. Thus,
hostile or aggressive feelings about other meanings are
not accepted in the conscience, as they would produce
painful guilt feelings.
Severity of pain
The mean pain score in the whole group of 131 bruxers and TMD patients was about 4.95. Pain intensity
increased from the mild to the severe, but decreased
non-significantly in the extreme bruxing behavior group.
There was no statistical difference in the levels of pain
between the different pain bruxing behavior groups.
Mean pain level was considered moderate based on
values on the visual analogue scale. Higher scores
in pain were found among those patients presenting
severe and extreme bruxing behavior. A small group of
destructive bruxers was similar to those patients in our
severe and extreme groups18. Because those patients
reported severe muscle and temporomandibular joint
pain, such study provide additional support to the results
in our investigation. Because we observed different levels
of pain in different groups of bruxers and TMD patients,
one study demonstrating that pain was more intense in
bruxing behavior patients as compared to myofascial
pain patients9 substantiates our investigation. To further
elucidate this question, a study comparing intensity of
pain in bruxers with and without myofascial pain should
be carried out.
Sleep quality and clinical and psychological characteristics in TMD patients and reported a mean score in
pain of about 6.35 which is not very different from the
mean of 4.95 we report in the current investigation28.
Mean number of painful sites
The mean number of pain sites in the group of 131
TMD and bruxing behavior patients was about 5.70.
Number of pain sites increased from the mild (3.90) to
the moderate (5.16), severe (6.02) and extreme (7.54)
groups of bruxers respectively. There was an extremely
significant difference (p<0.0001) among these groups.
The significant differences were between the mild versus
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severe group (p<0.05), between the mild and the extreme group (p<0.001) and between the moderate and
extreme group of bruxers (p<0.001). The extreme group
demonstrated the greatest number of painful sites. The
results of this study are in accordance with literature18
about “destructive bruxers”, presenting diffuse patterns
of pain in the face, head, temporomandibular joint,
neck, back and shoulders. In TMD patients reporting
that severely depressed patients had a significantly
greater number of painful muscle palpation sites than
normal patients29. Pain reported by our patients occurred
mainly in the musculoskeletal system. It may be that
those severe/extreme bruxing behavior patients are
more somatic and therefore have a tendency to report
pain in multiple sites.
Severe and extreme groups of bruxers demonstrated
higher levels of pain. It may be that high intensity pain
itself is more sensitizing and promote increased vigilance
about physical well being, lowering the threshold either
for detecting physical sensations or for describing them
as distressing or painful30. Multiple pain conditions are
common in the population and the presence of multiple
chronic pain symptoms is associated with elevated levels
of anxiety and depression31.
Positive correlation between variables of interest
We found positive and statistically significant correlations between severity of bruxism and depression,
severity of pain and depression, number of painful sites
and level of pain and severity of bruxism and number
of painful sites. The strongest correlation was between
level of bruxism and painful sites (r:0.39, p<0.0001). The
results of this correlation study indicated that intensity of
perceived pain and psychological distress are closely
associated28. More frequent and less frequent bruxers
compared with a normal population indicated that bruxers were more vulnerable to psychosomatic disorders11.
It may be that the more severe the bruxing behavior,
more somatization as a psychological disorder and thus,
there is more likelihood of pain in multiple sites. A small
sample of destructive and bruxers suggested that those
presenting with more severe bruxing behavior could
present a higher level of depression18. Finally, patients
presenting multiple pain conditions (not TMD or bruxers),
demonstrated a positive correlation with multiple pains
and pain dysfunction, thus providing partial support for
the findings in our investigation31.
We found a higher level of depression, more severe
pain, and higher number of painful sites in the severe
and extreme subgroups of bruxers. Regarding some
correlation of interest, all of them were positive and
significant. The strongest correlation was between the
level of bruxism and number of pain sites. This finding
implicates somatization, as a major component of
bruxing behavior, but further studies using a test for
Neurociências
16
somatization in bruxers and controls, should be carried
out. Even though we introduced a gradient in the severity
of bruxism (mild-moderate-severe-extreme) which is
epidemiological sound and strengthens findings in our
study, such results should be examined with caution as
this was a cross-sectional study, thus cause and effect
relationships cannot be inferred.
CONCLUSION
Based on the results of this study we conclude that
the level of depression was higher, pain was more intense
and the number of painful sites was also higher in more
severe bruxers. Using correlation analysis, we found that
the strongest positive correlation was between severity
of bruxism and number of painful sites.
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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(10-17)
Neurociências
17
Artigo Original
Correlação do reflexo de Blinking com o quadro clínico
de pacientes neurológicos graves
Correlation of the Blinking reflex with clinical feature in severe
neurological patients
Anelisa Mancastroppi Faria1, Daniella Silva Oggiam1, Juliana Valéria Leite2, Telma Dagmar
Oberg3
RESUMO
Objetivo: Este estudo teve como objetivo correlacionar a melhora do nível de consciência e a força da musculatura inspiratória com o aparecimento do reflexo de blinking e demonstrar através destes acontecimentos o
valor prognóstico deste reflexo. Método: Participaram do estudo 8 pacientes com faixa etária entre 20 e 82 anos,
portadores de patologias neurológicas submetidos à Ventilação Mecânica (VM). Uma vez ao dia em horários fixos,
foram avaliados no início do atendimento fisioterapêutico: a consciência através da Escala de Coma de Glasgow
(ECG) e Escala de Coma de Jouvet (que inclui o reflexo de blinking) e, após o término do atendimento, a força
da musculatura inspiratória através da medida da Pressão Inspiratória máxima (PImáx). Resultados: Pode-se
observar que todos os pacientes que apresentaram reflexo de blinking positivo saíram da VM, portanto houve uma
correlação direta entre o aparecimento do reflexo de blinking e a retirada da VM, assim como não houve relação
direta entre estes acontecimentos e o dia em que o paciente apresentou a maior PImáx com relação ao nível de
consciência. Conclusão: Pode-se concluir que o reflexo de blinking é um marcador clínico, fidedigno, prático,
não muito utilizado em pacientes em ventilação mecânica invasiva com rebaixamento do nível de consciência,
sendo de grande importância para o prognóstico destes pacientes.
Unitermos: Reflexo de Piscar, Blinking, Consciência, Músculos da Respiração, Ventilação mecânica.
Citação: Faria AM, Oggiam DS, Leite JV, Oberg TD, Honorato DC. Correlação do reflexo de Blinking com o
quadro clínico de pacientes neurológicos graves. Rev Neurocienc 2007, 15(1):17-20.
SUMMARY
Objective: The aim of this study was to correlate the improvement of the conscience level and the inspiratory muscle
force with the appearance of the blinking reflex and to demonstrate through these events the valuable prognostic
of this reflex. Method: A group of 8 patients with average age 20-82 years with neurological pathology submitted
to Mechanical Ventilation (MV) was studied. Once a day in fixed schedules, the conscience level, through Glasgow
Coma Scale and Jouvet Coma Scale (including the blinking reflex), was evaluated in the beginning of the physical
therapy attendance and the inspiratory muscle force, through the measure of Maximum Inspiratory Pressure (MIP),
at the end after attendance. Results: We observed that all the patients that had presented positive blinking reflex
had left the MV. A direct correlation was noticed between the appearance of the blinking reflex and the withdrawal
of the MV. There was no relation between these events and the day when the patient presented the greater MIP with
Trabalho realizado na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, São Paulo.
1.Especializanda, Curso de Especialização de Fisioterapia Aplicada a Neurologia Adulto da Universidade Estadual de Campinas
– UNICAMP, Campinas, São Paulo.
2.Fisioterapeuta Mestre, Supervisora do Curso de Especialização de Fisioterapia Aplicada a Neurologia Adulto da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Campinas, São Paulo.
3.Fisioterapeuta Doutora, Docente do Curso de Especialização de Fisioterapia Aplicada a Neurologia Adulto da Universidade Estadual
de Campinas – UNICAMP, Campinas, São Paulo.
Endereço para Correspondência: Rua João Teodoro Neto nº57, Jardim Nova Prata - Águas da Prata – CEP:13890-000
Trabalho recebido em26/06/2006 • Revisão: de 27/06/2006 a 28/01/2007 • Aprovado em 29/01/2007 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(18-21)
Neurociências
18
conscience level. Conclusion: The blinking reflex is a practical, trustworthy clinical marker, not very used in patients
in MV with degradation of the conscience level, and being of great importance for patients prognostic.
Keywords: Blinking reflex, Conscience, Respiratory Muscles, Respiration- Artificial.
Citation: Faria AM, Oggiam DS, Leite JV, Oberg TD, Honorato DC. Correlation of the Blinking reflex with clinical feature in
severe neurological patients. Rev Neurocienc 2007, 15(1):17-20.
INTRODUÇÃO
Na neurologia hospitalar, a avaliação constante de pacientes com lesões no Sistema Nervoso Central torna-se
necessária para determinar a evolução do quadro clínico
e a intervenção fisioterapêutica. No entanto é necessária a
utilização de escalas e testes que estabeleçam um sólido
sistema capaz de acompanhar a evolução do nível de
consciência destes pacientes1.
O nível de consciência depende da integridade do
córtex cerebral e de sua ativação através da Formação
Reticular Ascendente (FRA) que se localiza na região
ponto-mesencefálica no tronco encefálico. Para que se
observe alterações no nível de consciência, há necessidade de lesão ou disfunção (sejam elas traumáticas ou
espontãneas) de grandes extensões nestas áreas.
Para avaliação do nível de consciência, existem várias
escalas, duas mais usadas são: a Escala de Coma de
Glasgow (ECG) e a Escala de Coma de Jouvet (ECJ),
ambas se complementam. A ECG avalia a reatividade
através da abertura ocular, resposta motora e resposta
verbal, e a ECJ avalia as funções corticais através da perceptividade e as funções do tronco encefálico através da
reatividade específica, inespecífica e autônoma. Assim,
nos rebaixamentos de consciência mais intensos a ECG
permite medir flutuações mais acuradamente. Já em estados próximos do normal a ECJ tem maior possibilidade
de avaliar flutuações no nível de consciência, pois analisa
melhor a função cortical, ou seja a consciência2.
Em pacientes com rebaixamento do nível de consciência a perceptividade geralmente pode estar alterada,
porém é de extrema importância ser avaliada. A consciência pode também ser verificada pela presença ou não do
reflexo de piscamento a ameaça (reflexo de blinking). Este
reflexo consiste no piscamento dos olhos em resposta a
estímulos visuais externos, sendo um marcador clínico
fidedigno, prático, não invasivo e de grande facilidade
para avaliação da função cortical.
A positividade do reflexo de blinking é um sinal favorável para o prognóstico do paciente3. Este reflexo não
é considerado um reflexo primitivo, ou seja, é um reflexo
que somente estará presente ao término da maturação
do Sistema Nervoso Central, pois requer um processo
cortical de ordem mais alta. Portanto deve ser distinguido dos reflexos de tronco, como por exemplo, o reflexo
corneopalpebral4.
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(18-21)
Estudos acreditam que o reflexo de blinking é mediado corticalmente e requer o córtex visual primário intacto
e mecanismos de ordem mais corticais, relacionados a
atenção visual localizados nos campos oculares frontais
e lóbulo parietal inferior4.
O dano cerebral pode ser acompanhado por alterações do sistema respiratório, pois a ventilação pulmonar
depende da harmonia que envolve o Sistema Nervoso
Central, caixa torácica, músculos respiratórios, vias
aéreas e pulmões. Como conseqüência, uma alteração
do padrão respiratório do paciente poderá ocasionar
uma desproporção na concentração de O2 e CO2 que
implicará em comprometimentos da difusão e perfusão sangüínea, prejudicando assim a oxigenação dos
tecidos, principalmente pulmonar e cerebral. Por este
motivo os indivíduos muitas vezes requerem suporte
ventilatório, sendo submetidos à ventilação mecânica
invasiva5.
A mensuração e verificação de possível comprometimento na força da musculatura inspiratória é identificada pela pressão inspiratória máxima (PImáx), sendo
esta mensurada pelo o manuvacuômetro6. No caso de
pacientes sob ventilação mecânica invasiva com rebaixamento do nível de consciência a PImáx é mensurada
utilizando uma válvula unidirecional acoplada ao manovacuômetro, que permite seletivamente a expiração
enquanto a inspiração é bloqueada, com isso ocorre a
iniciativa de sucessivos esforços com volumes respiratórios cada vez menores até atingir o volume residual,
sendo interpretado como a PImáx do paciente7.
Este trabalho teve como objetivo correlacionar o
aparecimento do reflexo de blinking com as alterações
do nível de consciência refletidas nos scores da ECG
e ECJ, assim como possíveis alterações na força da
musculatura inspiratória, avalidas pela PImáx, e na retirada do paciente da ventilação mecânica invasiva, e
demonstrar sua importância como marcador clínico na
evolução e prognóstico destes pacientes.
MÉTODO
No período de Setembro de 2005 a Janeiro de 2006
foram estudados indivíduos com lesões do Sistema
Nervoso Central, apresentando rebaixamento do nível
de consciência e submetidos à ventilação mecânica
invasiva nas Enfermarias de Neuroclínica e Neurocirurgia
Neurociências
19
do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de
Campinas - UNICAMP. Para participar deste estudo os
responsáveis assinaram um termo de consentimento
Livre e Esclarecido conforme as exigências da resolução
CNS – MS - 196/96, protocolo 678/2005, aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
Médicas – UNICAMP.
Foram incluídos no estudo, indivíduos de ambos
os sexos com idade entre 20 a 85 anos, portadores
de patologias neurológicas primárias, submetidos à
ventilação mecânica invasiva (ventilados por tubo orotraqueal ou por traqueostomia), que apresentassem drive
respiratório e estivessem hemodinâmicamente estável,
sem sedação e que tivessem indicação de atendimento
fisioterapêutico. Foram excluídos do estudo indivíduos
com hipótese diagnóstica de morte encefálica e sem
indicação de tratamento fisioterapêutico.
Procedimento
Inicialmente foram colhidos os sinais vitais (pressão
arterial, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e
temperatura corporal) para certificação da estabilidade
hemodinâmica (critério de inclusão).
Os pacientes eram mantidos em decúbito dorsal e
submetidos à avaliação do nível de consciência a partir
da Escala de Coma de Glasgow e Escala de Coma de
Jouvet incluindo o reflexo de blinking.
A fisioterapia convencional foi mantida e esta incluía
a fisioterapia motora que consiste em alongamentos,
mobilizações passivas e posicionamento e a fisioterapia respiratória que consiste em manobras de higiene
brônquica, reexpansão pulmonar, aspiração e condutas
para desmame da ventilação mecânica invasiva. Imediatamente após o término da terapia foi realizada a
mensuração da PImáx, desconectando o paciente da
ventilação mecânica invasiva, acoplando a válvula unidirecional com o manuvacuômetro no tubo orotraqueal ou
traqueostomia, permanecendo por trinta segundos, conectando o paciente novamente ao ventilador mecânico
e ventilando-o por um minuto entre uma mensuração e
outra, sendo considerado o maior valor obtido da PImáx
em três medidas consecutivas.
niano, tumor cerebrai, Acidente vascular cerebral) sendo
que 50% dos pacientes saíram da ventilação mecânica,
37,5% foram a óbito e 12,5% foram encaminhados para
a unidade de terapia intensiva (UTI).
Na Tabela 1 observa-se a permanência dos pacientes em ventilação mecânica invasiva durante o período
de internação nas enfermarias, correlacionando o dia
em que o paciente apresentou o reflexo de blinking
e o dia em que ele apresentou a maior PImáx com a
permanência na ventilação mecânica. Sendo que os
pacientes 5, 7 e 8 foram a óbito e o 3 foi encaminhado
para UTI.
Tabela 1. Dados referentes ao dia que apresentou reflexo de
blinking, retirada da Ventilação Mecânica (VM) e máximo valor da
Pressão Inspiratória máxima (Pimáx).
Pacientes
Dia que apresentou
blinking
Último dia
de VM
Dia que apresentou
valor máximo de
PImáx
1
9
9
6
2
17
17
8
3
−
−
6
4
3
3
2
5
−
−
2
6
11
11
6
7
−
−
4
8
−
−
3
Os Gráficos 1 e 2 são relativos aos pacientes que
sobreviveram. No gráfico 1 observa-se os scores da
Escala de Coma de Glasgow, referente ao primeiro dia e
ao ultimo dia de permanência na ventilação mecânica.
O gráfico 2 demonstra o score da Escala de Coma de
Jouvet, lembrando que ao contrário da ECG, quanto
menor o score da ECJ melhor o nível de consciência
do paciente.
O Gráfico 3 apresenta a PImáx inicial (primeiro dia
de mensuração) e a PImáx final (último dia de mensuração) demonstrando a evolução na força da musculatura
inspiratória dos pacientes.
O estudo foi realizado uma vez ao dia até a retirada
do paciente da ventilação mecânica invasiva ou até
apresentar melhora do nível de consciência expressada
pela positividade do reflexo de blinking associada a uma
resposta motora coerente a comandos verbais (resposta
motora 6 na ECG).
RESULTADOS
Foram estudados 8 pacientes com diferentes diagnósticos de patologias neurológicas (Traumatismo craREVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(18-21)
Gráfico 1. Evolução do nível de consciência de acordo com a
ECG durante a permanência em Ventilação Mecânica
Neurociências
20
tilação mecânica, evoluindo a óbito ou encaminhados
para UTI.
Comparando os resultados dos gráficos 1 e 2, com
a tabela já citada, podemos concluir que não há uma
relação direta entre a retirada da ventilação mecânica,
o aparecimento do reflexo de blinking e o dia da maior
PImáx com a melhora do nível de consciência refletidos
nos scores das escalas de coma.
Os pacientes 1, 2, 4 e 6 apresentaram o reflexo de
Blinking associado a retirada da ventilação mecânica
mesmo estando com scores nas escalas de coma
inferiores aos scores de sua admissão.
Gráfico 2. Evolução do nível de consciência de acordo com a
ECJ durante a permanência em Ventilação Mecânica
Gráfico 3. Evolução da Pressão inspiratória máxima (PImáx)
durante a permanência em ventilação .
DISCUSSÃO
Após este estudo observou-se que os resultados
obtidos dependem diretamente da condição clínica de
cada individuo, uma vez que os dados foram colhidos
de pacientes portadores de variadas patologias neurológicas.
Através da análise dos dados obtidos pode-se
observar uma correlação direta entre o aparecimento
do reflexo de blinking com a retirada do paciente da
ventilação mecânica, e não houve uma relação direta
entre o dia em que os pacientes apresentaram a maior
PImáx e o dia em que foi retirado a ventilação mecânica. Foi observado também que os pacientes que não
apresentaram o reflexo de blinking, não saíram da ven-
Relacionando o primeiro dia de mensuração da
PImáx com o último dia, de acordo com o gráfico 3,
pode-se observar que os pacientes que apresentaram
o reflexo de Blinking e saíram da ventilação mecânica
apresentaram melhora ou estabilização da PImáx, e os
pacientes que foram a óbito ou encaminhados para UTI
apresentaram uma involução da PImáx, podendo ser
justificado por deteriorização da força muscular inspiratória, causada pela gravidade da lesão cerebral ou por
tempo prolongado em ventilação mecânica invasiva.
Foi observado que os pacientes 1, 2, 4 e 6, apresentaram melhora da força muscular inspiratória e reflexo de
blinking positivo, saíram da ventilação mecânica, sendo
que estes não apresentaram o reflexo de blinking no dia
de maior PImáx dentre o período de permanência na
ventilação mecânica demonstrando que não há uma
relação direta com saída da VM e dia em que apresentou
maior PImáx, e sim com o reflexo de blinking.
Dos pacientes que não apresentaram blinking, diminuíram a PImáx e não saíram da ventilação mecânica,
sendo estes 5, 7 e 8 que evoluíram a óbito e o 3 foi
encaminhado para UTI.
A partir destes resultados, pode-se concluir que o
reflexo de blinking é um marcador clínico fidedigno e
prático, pouco utilizado em pacientes em ventilação
mecânica invasiva com rebaixamento do nível de consciência, sendo de grande importância para o prognóstico
destes pacientes, e merece maior atenção na prática
clínica assim como mais pesquisas como, que visem,
por exemplo , uma continuidade na avaliação dos pacientes até a alta hospitalar para acompanhar a evolução
do quadro destes de maneira mais prolongada.
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Neurociências
21
Artigo Original
Variáveis preditoras de mortalidade em pacientes com
traumatismo crânio encefálico na terapia intensiva
Predictable variables of mortality in patients with traumatic brain injury in
intensive care
Elias Ferreira Porto1, José Renato de Oliveira Leite2, Adriana Zamprônio dos Santos3
RESUMO
Objetivo: Verificar a mortalidade, analisar as variáveis preditoras de mortalidade dos pacientes hospitalizados
na unidade de terapia intensiva (UTI) por traumatismo crânio encefálico e observar a evolução dos mesmos. Método: Os dados foram coletados num hospital público de São Paulo na unidade de terapia intensiva e consistiu
em avaliar o paciente diariamente e colher dados em seu prontuário. Foram estudados 20 pacientes, com idade
média de 52±19,9 e 30±12 anos para o grupo óbito e vivos, respectivamente. Resultados: Não foi encontrada diferença significativa para os dois grupos na análise dos exames laboratoriais de sódio, potássio, cálcio,
magnésio, uréia, creatinina, e na avaliação pela escala de Glasgow (p=0,22). Houve maior risco de mortalidade
para a presença do hematoma 2,62 (IC 1,13-6,09), infecção 3,5 (IC 1,2-5,9) dos níveis séricos de leucócitos
no inicio, meio e fim para os dois grupos. Para óbito e vivos não foi encontrado diferença estatisticamente significante (p=0,06). Na avaliação no qual foi comparado o leucograma inicial, meio e final para o grupo óbito
separadamente, verificou-se que houve aumento significante do número de leucócitos (p=0,0011). Conclusão:
A infecção e a presença do hematoma aumentaram o risco de mortalidade, e a escala de Glasgow não foi um
bom preditor de mortalidade.
Unitermos: Traumatismos cerebrais, Mortalidade, Unidades de Terapia Intensiva.
Citação: Porto EF, Leite JRO, Santos AZ. Variáveis preditoras de mortalidade em pacientes com traumatismo crânio encefálico na terapia intensiva. Rev Neurocienc 2007;15(1):21-27.
SUMMARY
Objective: To verify the mortality index, analyse the predicting mortality variables of hospitalised patients in
the ICU due to TBI, and verify outcome. Data was collected from the ICU of a public hospital in Sao Paulo city and
acquired through daily evaluation in addition to patient file note taking. Methods: Twenty patients were evaluated,
average age 52±19,9 and 30±12 death and survival groups respectively. Results: No statistically significant
differences were found between both groups in the Sodium, Potassium, Calcium, Magnesium, Urea, Creatinine
and Glasgow score evaluations (p=0.22). There was a higher mortality risk in the presence of haematoma 2.62
(1.13-6.09) infection 3.5 (1.2-5.9) leukocyte seric levels in the initial, middle and end stages for both groups. No
statistically significant differences were found in the death or survival groups (p=0.06). In the initial, middle and
Trabalho realizado no Centro Universitário Adventista de São Paulo
1 Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória (InCor - HC.FMUSP), Mestre em Pneumologia e Doutorando (UNIFESP), Coordenador do Curso de Fisioterapia (UNASP).
2 Especialista em Fisioterapia Respiratória pela ASSOBRAFIR, Coordenador do Curso de Pós-graduação de Fisioterapia em UTI
(UNASP) e do Curso de Especialização em Fisioterapia Cardiorrespiratória (InCor - HC.FMUSP).
3 Pós-graduanda do Curso de Especialização de Fisioterapia em UTI (UNASP).
Endereço para correspondência: Elias F. Porto, R. Almirante Luiz Penido Burnier, 47, apto 47 - CEP: 0586000 – São Paulo – SP
E-mail: [email protected]
Trabalho recebido em 26/07/2006 • Revisado: de 27/07/2006 a 12/02/2007 • Aprovado em 13/02/2007 • Conflito de Interesse: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(22-28)
Neurociências
22
final leukocyte evaluation it was observed that there was a significant increase in the leukocyte levels for the death
group alone (p=0.0011). Conclusion: Infection and the presence of haematoma increased the mortality risk, and
the Glasgow score was not a good mortality marker.
Keywords: Brain injuries, Mortality, Intensive Care Units.
Citation: Porto EF, Leite JRO, Santos AZ. Predictable variables of mortality in patients with traumatic brain injury in intensive
care. Rev Neurocienc 2007;15(1):21-27.
INTRODUÇÃO
trauma em todo o mundo, é o que afeta o crânio7.
O Traumatismo Crânio encefálico (TCE) é definido
como um tipo de agravo que induz às lesões anatômicas
e comprometimento funcional envolvendo as estruturas
ósseas cranianas e tecidos encefálicos. Este é classificado em leve, moderado e grave, de acordo com a escala de coma de Glasgow que é usada universalmente
para quantificar o nível de lesão hemisférica cerebral em
relação à gravidade e possibilidade de óbito1.
O presente estudo ocupa-se com esse tema face à
sua expressiva importância de pretender contribuir para
o esclarecimento de alguns aspectos relacionados com
a mortalidade após o TCE, à sua adequada avaliação
e, por conseguinte, a uma melhor assistência de seus
portadores.
Há muito tempo existe o conhecimento de que
o TCE, em seus graus de comprometimento (leve,
moderado ou grave), possui diferentes resoluções
clínicas. Já se identificava que existiam pacientes com
TCE grave que obtinham recuperação rápida, enquanto
que outros, com lesões cerebrais menores, terminavam
por apresentar seqüelas importantes, e conseqüente
agravamento do prognóstico2.
Os parâmetros para a confecção do diagnóstico e
a avaliação da gravidade nos casos de TCE não determinam o grau de traumatismo, bem como o tempo de
duração das seqüelas3. Tais critérios servem única e
exclusivamente para o atendimento de urgência (necessidade de intervenção cirúrgica ou de tratamento clínico
imediato). Esses dados estão efetivamente mostrando
que os casos de TCE não possuem critérios bem definidos para o seu entendimento, devido à ausência de
fundamentos científicos. Tais critérios, por sua vez, podem ser ampliados quando verificamos que alguns dos
instrumentos diagnósticos mais utilizados para avaliar o
comprometimento cerebral, como o EEG, a radiografia
convencional, a tomografia computadorizada (TC) e a
ressonância magnética (RNM), na maioria das vezes,
são incapazes de detectar alterações no TCE leve3,4.
Os pacientes vitimados de trauma que internam em
Unidade de Tratamento Intensivo são sobreviventes de
uma doença multissistêmica que acomete indivíduos
previamente hígidos. A maioria dos casos de morte
ocorre no local do evento, já os indivíduos que sobreviveram a este fato inicial, o óbito ocorre, em alguns casos,
sobretudo, após a sua internação na UTI5.
Nos casos de internação, a principal indicação é
a necessidade de cuidados intensivos ao paciente
portador de TCE, seguida da necessidade de suporte
hemodinâmico e/ou respiratório6. Pois, a maior causa
de morbidade e mortalidade, dentre os vários tipos de
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(22-28)
Os objetivos foram verificar a mortalidade dos pacientes internados na unidade de terapia Intensiva, por
traumatismo crânio encefálico; e identificar as variáveis
preditoras de mortalidade na UTI por traumatismo crânio
encefálico.
Já se encontram bem definidas algumas variáveis
preditoras de mortalidade em pacientes cardiopatas,
oncológicos internados em unidade de terapia intensiva,
porém necessita-se de estudos mais elaborados para
verificar as possíveis variáveis preditoras de mortalidade
em UTI de natureza traumatológica.
É de fundamental importância para a fisioterapia a
análise crítica de fatores que podem predizer a mortalidade de pacientes internados em unidade de terapia
intensiva em especial nos casos de traumatismo crânio
encefálico.
Nós acreditamos que este estudo poderá auxiliar
na decisão e condutas médicas bem como na melhor
utilização de equipamentos de uma UTI de referência
para o trauma.
MÉTODO
Este é um estudo do tipo coorte, no qual foi realizada
a análise dos prontuários e da evolução de 20 pacientes
internados na unidade de terapia Intensiva por TCE, no
período entre 02/2005 e 01/2006, independentemente
das causas que motivaram o TCE. A coleta de dados
foi realizada em um hospital da rede pública municipal
de São Paulo, no setor da unidade de terapia intensiva,
e consistia em avaliar o paciente diariamente e colher
dados em seu prontuário durante o seu período de
hospitalização.
O mérito deste estudo foi julgado pela comissão de
ética desta instituição, o qual recebeu a sua aprovação.
Para que os indivíduos participassem desse estudo era
necessário possuir o seguinte critério de inclusão: estar
Neurociências
23
internado na unidade de terapia intensiva por traumatismo crânio encefálico no período do estudo.
Não foram incluídos nesse estudo indivíduos com
TCE e portadores das seguintes doenças prévias: cardiopatias graves, neoplasias, nefropatias, pneumopatias
obstrutivas e/ou restritivas e esplenohepatopatias.
ANOVA com pós-teste de Bonferroni. E para os dados
não paramétricos Kruskal–Walles testt foi utilizado o
teste t não pareado para a análise das variáveis não
continuas. Para estabelecer a análise das variáveis categóricas foi utilizado o Odds Ratio. Sendo considerado
o p<0,05 como significância estatística.
Protocolo
RESULTADOS
O referido estudo foi realizado através da coleta de
dados durante e após a hospitalização, e do acompanhamento evolutivo dos pacientes apenas durante o
período de internação na UTI.
A população estudada foi composta por 20 pacientes portadores de traumatismo crânio encefálico.
Destes, 8 pacientes pertenciam ao grupo óbitos e
12 ao grupo vivos. No grupo óbitos, 6 eram do sexo
masculino e dois do sexo feminino. Já no grupo vivos,
8 eram do sexo masculino e 4 do sexo feminino. Para
o grupo óbitos a média da idade foi de 47±19,9 anos,
sendo que a idade mínima foi 30 e a máxima 87 anos,
respectivamente. Para o grupo vivos a média de idade
foi de 26,5±12,6 anos, sendo 17 e 58 anos as idades
mínima e máxima, respectivamente p=0,003. A causa
mais freqüente para o TCE foi a queda da própria altura,
representando 62,5% dos casos. E dentre as complicações, a respiratória foi a mais freqüente durante o
período de hospitalização para o grupo óbitos. Para
o grupo vivos, os acidentes automobilísticos foram a
causa mais freqüente para os TCE´s, e nesses casos
as complicações respiratórias também foram as mais
evidentes (Tabelas 1, 2). O tempo médio de hospitalização na unidade de terapia intensiva para o grupo óbitos
foi de 27,25 dias, sendo que o tempo mínimo foi de 7
e o máximo de 56 dias, e para o grupo vivos o tempo
médio de internação foi de 21,83 dias, com mínimo e
máximo de 6 e 38 dias, respectivamente.
Foram selecionados conforme o critério de inclusão,
20 pacientes internados na unidade de terapia intensiva
com diagnóstico de traumatismo crânio encefálico por
meio da história clínica, dos dados tomográficos e da
avaliação neurológica. A partir daí, foram coletados os
dados dos exames que eram realizados de rotina na
UTI, ou seja, bioquímica do sangue (sódio, potássio,
cálcio e magnésio), função renal (uréia e creatinina) e
o leucograma de todos os pacientes. E foram analisados os exames nos seguintes momentos: início, meio
e final da internação na unidade de terapia intensiva, e
comparados com os valores de normalidade descritos
no próprio exame.
Os exames analisados foram selecionados da seguinte forma: como início, isto é, realizado no ato da
internação na UTI, como meio, ou seja, correspondente à
soma da quantidade de dias de internação na UTI dividida por dois, que representava a média individual, sendo
o exame selecionado àquele que mais se aproximava da
mesma, desde que não tivesse grande variação de dias,
motivo pelo qual permite uma avaliação mais precisa da
evolução dos pacientes durante o período de internação.
E, por conseguinte, o exame final, no qual sempre era
selecionado o último exame colhido durante o período
de internação na UTI.
A avaliação neurológica por meio da escala de Glasgow, considerada validada foi a primeira realizada no momento em que o paciente recebeu o pronto-atendimento,
em virtude do paciente não ter sido sedado. O laudo do
diagnóstico da tomografia computadorizada de crânio
foi assinado pelo radiologista do próprio hospital.
Outras informações referentes aos pacientes, tais
como, a causa do óbito, que era confirmada pelo atestado fornecido pelo IML, e os casos de transferência
ou a alta hospitalar, foram obtidas por meio de dados
contidos no prontuário.
Análise estatística
Os dados estão expressos em média e desvio padrão. Para a análise das médias repetidas de variáveis
com distribuição normal foi realizado o teste de one-way
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(22-28)
Tabela 1. Características antropométricas e clínicas do grupo
óbito.
Pacientes
Idade
Sexo
Glasgow
Complicações
Causas
2
35
M
3
X
Queda própria
altura
6
49
F
3
X
Queda própria
altura
7
83
F
9
X
Queda própria
altura
11
87
M
15
X
Atropelamento
12
47
M
15
BCP
atropelamento
14
47
M
7
BCP/Sara/ITU
Queda própria
altura
18
30
M
8
infecção intra-operatória
Espancamento
20
39
M
6
BCP/IRA
Queda própria
altura
MÉDIA
47
7,5
DP
19,9
4,3
Neurociências
24
Foi realizada a análise dos exames de sódio, potássio, cálcio, magnésio, uréia e creatinina (Tabela 3) para
o grupo vivos nos seguintes momentos, início, meio e
fim da hospitalização, e não foi encontrado diferença
estatisticamente significante. Bem como, na avaliação
dos níveis séricos de leucócito no inicio, no meio e no
final da hospitalização para dois grupos, óbitos e vivos,
também não foram encontradas diferenças estatistica-
mente significantes (p=0,06). Já na avaliação isolada do
grupo óbito, no qual foram comparados os leucogramas
no inicio, meio e final da hospitalização, verificou-se que
houve um aumento significativo do número de leucócitos
(p=0,0011). Nesse grupo o leucograma no momento
inicial não apresentou desvio; já nos leucogramas dos
momentos meio e final, tivemos 3 e 4 indivíduos, respectivamente, que apresentaram desvio para a esquerda.
Tabela 2. Características antropométricas e clínicas do grupo vivos.
Pacientes
Idade
Sexo
1
18
F
3
23
M
4
28
5
Glasgow
Complicações
Causas
Atelectasia/BCP
Acidente de motocicleta
8
BCP
Acidente automobilístico
F
7
X
Atropelamento
30
F
8
BCP
Queda do telhado
8
50
M
3
BCP
Atropelamento
9
37
M
6
Atelectasia
Queda própria altura
10
22
M
11
X
Acidente automobilístico
13
17
M
12
X
Acidente automobilístico
15
25
F
6
X
16
40
M
7
BCP/Meningite
Acidente automobilístico
Queda própria altura
17
58
M
8
Choque hipovolêmico/BCP
Tentativa de suicídio
19
18
M
5
BCP
Acidente de motocicleta
Média
26,5
7
DP
12,6
2,7
Tabela 3. Nível sérico de bioquímica, função renal e leucócitos para ambos os grupos.
Grupo vivo
Grupo óbito
Inicio
Meio
Final
p
Inicio
Meio
Final
p
Sódio
141±6,3
138±16
140±11
0,58
142±4,1
136±8,8
137±12
0,11
Potássio
3±1,7
4±1,9
4±0,6
0,83
4±1,3
4±0,6
5±1,4
0,74
Cálcio
13±2,0
8±5
7±2,3
0,44
7±0,4
7±021
6±1
0,13
Magnésio
1,5±1
3±2,1
3±1,2
0,27
1,4±05
1,4±0,5
1,8±05
0,57
Uréia
28±11
27±12
25±9,2
0,83
32±24
26±16
57±37
0,10
Creatinina
0,9±0,2
0,7±0,2
0,7±0,2
0,11
1±0,2
1,5±2,1
2±2,1
0,56
Leucócitos(mil)
11±4
13,3±5,1
15,6±5,2
0,06
11,4±4,3
14±6,3
19±5,2
*0,0011
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(22-28)
Neurociências
25
No grupo vivos, inicialmente 1 indivíduo apresentou
desvio para a esquerda, sendo que no leucograma meio
7 indivíduos, e no leucograma final 2 indivíduos tiveram
desvio para esquerda, respectivamente.
Após o TCE todos os indivíduos foram submetidos à
avaliação neurológica feita por meio da escala de Glasgow no período pré-admissão na unidade de terapia
intensiva. Em relação a esse item, não foi encontrada
diferença estatisticamente significante (p=0,22) entre os
grupos óbitos e vivos. Quando avaliado apenas o grupo
óbito, a média foi de 6,42±4,3; sendo 3 e 15, mínimo e
máximo respectivamente. Enquanto que para o grupo
vivo, A média foi de 4,75±2,7, sendo 3 e 12, mínimo e
máximo respectivamente (Figura 1).
foi observado fator de redução no risco de mortalidade
OR 0,50 (IC 0,12-3,7) (Figura 2).
Foi verificado que os indivíduos com leucograma
alterado apresentavam risco 3,5 (1,2-5,7) vezes maior
de morte do que indivíduos com leucograma normal.
Também foi encontrado que este mesmo grupo de
indivíduos possui um risco 2,1 (1,5-7,7) vezes maior de
intubação oro-traqueal, quando comparado com indivíduos sem alterações infecciosas no leucograma; e para
os indivíduos com infecção o risco é 3,4 (0,75-7,7) vezes
maior de intubação oro-traqueal quando comparado
com indivíduos sem infecção (Figura 3).
OR 2,6 (1,2 a 4,9) Hematoma versus não ter hematoma para mortalidade
OR 1,0 (0,21 a 4,1) Hematoma extradural versus ter outro tipo de
hematoma para mortalidade
OR 2,6 (1,2 a 4,9) Hematoma versus não ter hematoma para mortalidade
OR 0,73 (0,22 a 3,0) Não ter hematoma versus qualquer hematoma para
mortalidade
OR 0,50 (0,12 a 3,7) Não hematoma versus ter Brainswealling
01
05
075
1
2
3
4
5
Figura 2. Odds ratio para mortalidade na presença e ausência
de hematoma cerebral.
Figura 1. Avaliação neurológica por meio da escala de Glasgow
para ambos os grupos.
Foi realizada a avaliação comparativa do tipo de
lesão cerebral produzida pelo trauma crânio encefálico,
a qual foi diagnosticada por meio da tomografia de
crânio logo após a internação. Quando comparada à
presença isolada de hematoma (subdural, extradural
ou intracerebral) versus não ter hematoma, o risco OR
foi de 1,5 (IC 0,5-4,2).
A comparação do risco de morte para pacientes que
evoluíram com hematoma com os que não tiveram esse
tipo de complicação foi estatisticamente significante
(p=0,02), evidenciando um risco de 2,62 (IC 1,12-4,9)
vezes maior para o óbito do que os pacientes sem
hematoma.
Quando comparamos hematoma extradural versus
qualquer outro tipo de hematoma cerebral, o risco para
morte também foi semelhante 1,0 (IC 0,21-4,1).
Na comparação de pacientes que não possuíam
hematoma com pacientes que tinham qualquer tipo de
hematoma, foi observado a presença de fator redutivo
para mortalidade nos indivíduos sem hematoma OR
0,73 (IC 0,22-3,09).
Em relação aos pacientes que não possuíam hematoma quando comparados com os que desenvolveram
exclusivamente Brainswealling após o trauma, também
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(22-28)
Figura 3. Risco de óbito para indivíduos com e sem infecção,
risco de IOT para os grupos óbitos e vivos, e risco de IOT para
os indivíduos com e sem infecção.
Foi verificado que não houve transferência de pacientes para outro serviço. E todos os 12 indivíduos do grupo
vivos que receberam alta para enfermaria, tiveram alta
hospitalar. O tempo médio de hospitalização do grupo
óbitos foi de 27,25 e do grupo vivos foi de 21,88 dias,
respectivamente.
DISCUSSÃO
Dentre alguns achados deste estudo três merecem
especial consideração. O primeiro, a presença de hematoma intracraniano aumentando significantemente o
risco de morte em pacientes com traumatismo crânio
encefálico. O segundo, o leucograma alterado que
Neurociências
26
revelou ser um forte marcador de mortalidade para
este grupo de pacientes. E o terceiro, as complicações
respiratórias que foram as mais freqüentes encontradas
em ambos os grupos de pacientes.
A verificação de variáveis preditoras de mortalidade
em pacientes com traumatismo crânio encefálico é um
método simples, que pode ser realizado por meio dos
exames realizados rotineiramente em uma unidade de
terapia intensiva, tornando, portanto, um método de
custo baixo e de alta relevância científica. Já existem
variáveis preditoras de mortalidade para cardiopatias,
pneumopatias crônicas e outras afecções, já para o
traumatismo crânio encefálico existem poucos estudos
sobre essas possíveis variáveis.
Alguns estudos têm mostrado que o traumatismo
crânio encefálico, dentre os vários tipos de trauma, é
uma das maiores causas de morbidade e mortalidade
em todo o mundo, sendo que a faixa etária com maior
prevalência é a de adultos jovens e do sexo masculino7. A população do nosso estudo compreende uma
média de idade para o grupo óbitos de 47±19 anos,
e grupo vivos de 26±5 anos p=0,003, e acreditamos
que esta diferença ocorreu pelo fato de que dois indivíduos deste grupo possuem idade superior a 85 anos,
elevando essa média de idade. Outros 5 indivíduos
deste grupo eram adultos jovens, previamente hígidos, e sem antecedentes clínicos. No que diz respeito
ao grupo óbito, apesar de 100% dos indivíduos com
idade superior a 85 anos pertencerem a este grupo,
não podemos afirmar que a idade foi o fator de risco
para mortalidade em relação ao TCE. Isso porque o
tamanho da amostra analisada não é suficiente para
conclusões definitivas.
Outro fato encontrado foi à predominância do sexo
masculino para os dois grupos. Talvez estes dados
sejam maiores nesta população pelo estilo de vida
que envolve aventuras ou trabalhos com maior risco de
acidente. Para esta população estudada a mortalidade
foi de 40%, mostrando que o TCE é um evento de alto
potencial para mortalidade.
A presença de hematoma intracraniano aumentou
significantemente o risco de morte nestes pacientes
com traumatismo crânio encefálico. Possivelmente isto
ocorreu pelo fato da hemorragia Intracraniana reduzir as funções neuroendócrinas do sistema nervoso
central, sendo esta uma das principais complicações
do TCE.
Alguns estudos têm mostrado que o comprometimento do sistema nervoso autônomo, ou seja, a desautonomia compromete as funções vitais, bem como
a manutenção da vida, e certamente aumenta a mortalidade. Acrescenta-se ainda que nas vítimas de TCE, a
deterioração da função cerebral poderá ocorrer mesmo
quando a pressão intracraniana aumenta discretamente acima do limite normal. Esse fato provavelmente
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(22-28)
deve-se à perda da auto-regulação cerebrovascular,
a qual torna efetivamente o cérebro mais vulnerável8.
Sendo assim, a rápida deterioração da função cerebral
e a morte do indivíduo ocorrem possivelmente devido
aos níveis de pressão intracraniana estarem um pouco
superiores aos dos valores normais9.
A hipertensão intracraniana (HIC) altera a função
neurológica por meio de vários mecanismos, sendo
o mais importante a diminuição do fluxo sanguíneo
cerebral10-13. Este é controlado primariamente pelo
fenômeno da auto-regulação cerebral, que pode ser
definida como a tendência intrínseca do cérebro para
manter o fluxo sanguíneo constante em resposta às
moderadas variações na pressão de perfusão14. As
pequenas variações da pressão intracraniana são
compensadas por alterações na resistência cerebrovascular. Quando a pressão intracraniana adquire um
valor próximo daquele da pressão arterial, atinge-se o
ponto crítico, e o aumento prévio da pressão intracraniana determina a diminuição da pressão de perfusão
e do fluxo sanguíneo cerebral. O cérebro normal pode
tolerar significativa elevação da pressão intracraniana
com poucas disfunções11. Nas vítimas de TCE, entretanto, a deterioração da função cerebral poderá
ocorrer quando a pressão intracraniana aumenta um
pouco acima do limite normal, como por exemplo, 20
a 25 mmHg15-17. A possível explicação para o aumento
discreto da HIC seria a perda da auto-regulação cerebrovascular, tornando o cérebro mais vulnerável ao
aumento da pressão intracraniana1.
Os níveis séricos de leucócitos comparados no
início, meio e final da hospitalização, foram de fundamental importância na identificação de variáveis preditoras de mortalidade. A infecção é a complicação mais
freqüente em pacientes graves internados na unidade
de terapia intensiva, podendo ser de origem comunitária ou nasocomial. Os procedimentos invasivos,
tais como, cateterização urinária, intubação traqueal,
ventilação mecânica e cateteres intravasculares, são
os responsáveis por grande número dessas infecções.
A ação dos mediadores envolvidos no processo de
infecção, resulta em hipermetabolismo, depressão
da contratilidade do miocárdio, vasodilatação e diminuição da resistência vascular periférica, alteração
microvascular com desregulação regional da perfusão
tissular, aumento da permeabilidade vascular com extravasamento de líquido para o espaço extravascular, e
consequentemente, edema intersticial e hipovolemia,
distúrbio da coagulação e por fim, alterações funcionais e orgânicas. Estes mecanismos ocasionam a hipoxemia, a acidose lática e a morte celular. Como causa
secundária de mortalidade para TCE estão atribuídas
às complicações respiratórias. A infecção pulmonar
através da liberação de mediadores químicos pelos
macrófagos e neutrófilos alveolares pode ativar vários
outros mediadores inflamatórios e produzir instabili-
Neurociências
27
dade hemodinâmica e hipóxia tissular18. As infecções
encontradas nos indivíduos estudados foram em sua
maioria de origem respiratória, a qual foi a principal
causa de morte quando relacionada ao TCE.
Acreditamos que os resultados deste estudo nos
direcionam para um problema de grande relevância
clínica, isto é, a infecção nosocomial, a qual está diretamente relacionada ao aumento do risco de morte.
Portanto é necessário e importante que cada profissional
presente nas unidades de terapia intensiva esteja alerta
em relação a este fato, objetivando reduzir a incidência
desse tipo de infecção.
Uma das limitações deste estudo está relacionada
ao fato de não possuir os exames diários de bioquímica
e leucograma, dificultando, portanto, o acompanhamento evolutivo destes pacientes.
CONCLUSÃO
Diante dos dados apresentados concluímos que,
a mortalidade foi de 40% para o grupo estudado. E a
existência de hematomas e o leucograma infeccioso
após o TCE aumentaram o risco de mortalidade para
esta população. O risco de IOT foi maior para os indivíduos com infecção pulmonar do que para os indivíduos
que não tiveram leucograma infeccioso. E finalmente,
a escala de Glasgow não foi um bom preditor de mortalidade para a população estudada.
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Neurociências
28
Artigo Original
Características clínicas e do neurodesenvolvimento na
esquizofrenia da infância e adolescência
Clinical and neurodevelopmental features of schizophrenia in childhood
and adolescence
Marcelo Torres Gonçalves1, Jairo Werner2, Marco Antonio Orsini Neves3
RESUMO
Objetivo: O presente estudo tem como propósito descrever os aspectos clínicos e do neurodesenvolvimento
na Esquizofrenia da Infância e Adolescência. Método: Trata-se de um estudo descritivo onde foram selecionados 12 crianças e adolescentes de ambos os gêneros com diagnóstico de Esquizofrenia. Foi elaborado um
formulário para facilitar a coleta de dados de prontuários com informações sobre o histórico do desenvolvimento e apresentação dos sinais e sintomas até o momento do diagnóstico. Resultado: Foi possível verificar
os dados pertinentes aos fenômenos psiquiátricos da Esquizofrenia, porém houve imprecisão na avaliação
do neurodesenvolvimento devido a escassez do registro na maioria dos prontuários analisados. Conclusão:
Esta observação parece refletir o estigma que ainda se tem da Esquizofrenia considerando-a apenas como
transtorno psiquiátrico.
Unitermos: Esquizofrenia Hebefrênica, Transtornos das Habilidades Motoras, Criança, Adolescente.
Citação: Gonçalves MT, Werner J, Neves MAO. Características clínicas e do neurodesenvolvimento na esquizofrenia da
infância e adolescência. Rev Neurocienc 2007;15(1):28-31.
SUMMARY
Objective: The present study has the main intention of describing clinical and neurodevelopmental features
of schizophrenia in childhood. Method: It was a descriptive study, with 12 children and adolescents selected,
of both genders, with diagnosis of schizophrenia. The information about development, signs, and symptoms of
diagnosis were collected in their files. Results: Data about psychiatric phenomena of schizophrenia were identified, but it was difficult to evaluate data about neurodevelopment because of the lack of information registered in
most patients’ files. Conclusion: This observation shows the stigma that surrounds schizophrenia considering it
just as a psychiatric disorder.
Keywords: Disorganized Schizophrenia, Motor Skills Disorders, Child, Adolescent.
Citation: Gonçalves MT, Werner J, Neves MAO. Clinical and neurodevelopmental features of schizophrenia in childhood
and adolescence. Rev Neurocienc 2007;15(1):28-31.
INTRODUÇÃO
A Esquizofrenia é um distúrbio psicótico caracterizado pela dissociação das funções psíquicas. Sua
definição é complexa, porém os fenômenos de maior
relevância são os distúrbios de relacionamento e de afe-
to, a desorganização do pensamento e o impedimento
para delimitar a realidade e a fantasia.
Apesar de mais de cem anos de estudos acerca da
esquizofrenia na infância e adolescência, muitas dúvidas
persistem neste campo do saber. A inter-relação com
Trabalho realizado no Departamento Materno Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense – UFF.
1.Fisioterapeuta. Pós-graduando do programa Stricto-Sensu em Pediatria da Universidade Federal Fluminense UFF.
2.Médico. Doutor em Saúde Mental. Professor–Adjunto da Faculdade de Medicina, Universidade Federal Fluminense - UFF.
3.Fisioterapeuta, Professor de Neurologia Clínica, FESO - Teresópolis e Doutorando em Neurociências (Serviço de Doenças Neuromusculares) - Universidade Federal Fluminense - UFF.
Endereço para Correspondência: Marcelo Torres Gonçalves - Avenida Ary Parreiras, 655/1005, Icaraí, Niterói-Rio de Janeiro, Brasil - CEP 24230-321
E-mail: [email protected]
Trabalho recebido em 02/10/2006 • Revisão: de 01/10/2006 a 27/11/2006 • Aprovado em 28/11/2006 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(29-32)
Neurociências
29
outras áreas do conhecimento tem permitido diálogos
mais precisos com possibilidades de maior compreensão da doença e de seu impacto na pessoa e na
sociedade. Nos últimos anos, alterações na coordenação motora e padrões de movimentos não usuais, entre
outros déficits neurológicos têm sido documentados
pela neurociência1.
A diversidade de facetas clínicas torna o conhecimento da doença um desafio na idade adulta. O início
na Infância nos faz adicionar aspectos que dificultam
ainda mais sua precisão diagnóstica. Essa problemática
tem como base, a dificuldade da criança em descrever
sintomas psíquicos complexos, e a linha tênue que
há entre as experiências infanto-juvenis normais e os
sintomas psicopatológicos, além da raridade de seu
encontro em crianças menores de 12 anos2.
Atualmente, a American Psychiatry Association não
classifica a esquizofrenia de início da infância à parte,
mantendo os mesmos critérios da esquizofrenia no
adulto. O DSM-IV relata que os delírios e alucinações
em crianças podem ser menos elaborados e as alucinações visuais podem ser mais comuns. Ressalta-se
ainda que tais distúrbios não devam ser atribuídos à
esquizofrenia sem a devida diferenciação com outros
transtornos psiquiátricos da infância3.
Acredita-se que desordens no desenvolvimento
motor estão presentes em crianças pré-esquizofrênicas
assim como no curso da doença pelo uso crônico de
neurolépticos. Portanto, este estudo se propõe a discutir
os principais achados clínicos e do neurodesenvolvimento da esquizofrenia em crianças e adolescentes.
MÉTODO
Trata-se de estudo descritivo, tipo corte transversal,
onde participaram, no período de sete meses (outubro
de 2005 a abril de 2006), 12 adolescentes com diagnóstico de esquizofrenia, acompanhados em duas
instituições públicas no município de Niterói - Serviço
de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital
Antônio Pedro e Instituto Estadual Álvaro Caetano. A
pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina / Hospital Universitário Antônio Pedro
(RJ) sob o registro CEP CMM/HUAP nº 181/05.
As exigências impostas no critério de inclusão foram:
crianças e adolescentes entre seis anos e 18 anos de
idade, de ambos os gêneros, com diagnóstico de Esquizofrenia Hebefrênica (CID X – F 20.1) e que sejam
acompanhados por serviço de Psiquiatria Infantil, com
registro em prontuário; assinatura dos pais/responsáveis de formulário de consentimento informado para o
desenvolvimento do estudo. Já os critérios de exclusão
exigiam que não participassem do estudo crianças e
adolescentes ainda em acompanhamento para confirmação diagnóstica. Além disso, os pais e as crianças
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(29-32)
foram informados que a qualquer momento, por vontade
própria, poderiam ser retirados da pesquisa.
A primeira etapa deste estudo consistiu em fazer
a busca em prontuários. Trezentos prontuários de
pacientes com transtornos psiquiátricos foram analisados e 14 pacientes que tinham o diagnóstico médico
confirmado foram arrolados no estudo. Houve perda
de dois pacientes, pois tinham alcançados 19 anos de
idade. Em seguida, os pais dos doze pacientes foram
convidados para participar da pesquisa, com aceitação
unânime. A segunda etapa utilizou a análise detalhada
do prontuário, a fim de obter dados sobre a história prémórbida desses pacientes. Foi elaborado um formulário
para facilitar a coleta de dados no prontuário com informações sociodemográficas, histórico familiar, sinais
e sintomas e informações sobre o desenvolvimento
infantil. Um médico psiquiatra infantil e um fisioterapeuta
treinados foram responsáveis pela análise detalhada
das informações.
RESULTADOS
Com a análise dos resultados, observou-se que
em relação ao sexo, dos 12 adolescentes avaliados,
a maioria era do sexo masculino (83,3%). O paciente
mais jovem tinha 11 anos, e o mais velho, 17 anos. A
média de idade foi de 15,3 anos. Em relação à procura por atendimento médico psiquiátrico, 58,3% dos
pacientes foram encaminhados pelos familiares, 25%
pela Escola e 16,7 % pelo médico pediatra. Em todos
os pacientes, os encaminhamentos coincidiram com a
deflagração dos fenômenos psicóticos. A média de tempo transcorrido do acompanhamento dos fenômenos
até a confirmação diagnóstica foi de 8,1 meses, sendo
todos estabelecidos por médico psiquiatra. O Quadro 1
descreve os sintomas mais frequentes relatados pelos
encaminhadores. Observou-se uma riqueza maior dos
fenômenos no sexo masculino que feminino. Além
das manifestações clínicas mencionadas no quadro,
observamos também taxa de fracasso escolar em oito
pacientes (66,6%).
Em relação aos fatores de risco para a Esquizofrenia,
observou-se que 75% dos pacientes tinham histórico
familiar de doença psiquiátrica; 33,3% apresentaram
passado de intercorrências perinatais; apenas 8,3% do
total de pacientes não apresentou nenhum desses fatores relacionados pela literatura como fator de risco.
Na pesquisa do histórico do desenvolvimento neuromotor, houve imprecisão dos dados, pois alguns
especialistas não registraram os principais achados.
Dentre os marcos do desenvolvimento, o único que
pôde ser avaliado foi o de aquisição da marcha, visto
ter sido este o único parâmetro relatado por todos
os profissionais em prontuário. A média de idade da
aquisição da marcha foi de 19,1 meses. Ao pesquisar
Neurociências
30
Quadro 1. Manifestações clínicas da esquizofrenia em 12
pacientes com idade entre 11 e 17 anos, segundo dados de
prontuários médicos.
Manifestações
Apresentadas
N
Número de Pacientes
%
(Percentual)
Alucinações auditivas
12
100
Pensamento desorganizado
12
100
Retraimento social
11
91,6
Embotamento afetivo
9
75
Alucinações visuais
7
58,3
Déficits de atenção
6
50
Queixas hipocondríacas
5
41,6
Incoordenação motora
5
41,6
Maneirismos
3
25
o uso de medicação, observou-se que todos estavam
em controle sintomático com o uso de drogas antipsicóticas. Até o momento da análise, a média de tempo
de uso dos antipsicóticos foi de 16,3 meses.
DISCUSSÃO
Na população adulta, sabe-se que a Esquizofrenia
acomete homens e mulheres sem grandes discrepâncias4. Porém, a Esquizofrenia em homens tem início mais
precoce e os sintomas pré-mórbidos são mais intensos
que nas mulheres5,6. Assim, o diagnóstico no indivíduo
masculino torna-se mais evidente precocemente, o que
justifica o encontro em nossa casuística de maior número
de pacientes do gênero masculino (83,3%), visto que a
população do presente estudo se constituiu de sujeitos
com idade entre 11 e 17 anos. O sexo é um relevante
fator preditivo no curso da Esquizofrenia7. A autora relata que o sexo feminino tem melhor prognóstico, o que
permite afirmar maior freqüência de suicídio no sexo
masculino.
Quanto à procura pelo atendimento médico, nossa
pesquisa revelou maior observância dos fenômenos
no ambiente familiar, visto ser o primeiro grupo social
da criança. Isso demonstra a importância de ações
comunitárias primárias em saúde mental por meio de
psicoeducação, tanto para o encaminhamento aos
serviços médicos quanto para a adesão e manejo no
acompanhamento terapêutico desses pacientes8,9.
Com relação à média de tempo de acompanhamento
dos fenômenos psicóticos, houve coerência entre os
dados encontrados no estudo e a literatura. Em conforREVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(29-32)
midade com o DSM-IV3, há recomendação do acompanhamento não inferior a seis meses o que ratifica a média
de 8,1 meses coletada nos prontuários analisados. Em
contrapartida, Russel10 encontrou em seu estudo uma
variação de 7-19 meses, ressaltando a necessidade de
o diagnóstico e tratamento precoces.
Os sintomas ligados ao pensamento e à sensopercepção adicionados aos aspectos afetivos e sociais
constituem a base dos fenômenos esquizofrênicos3.
Porém as anormalidades motoras podem estar presentes
na pré-morbidade ou secundária ao uso de neurolépticos3,11,12. Em nossa pesquisa os sinais neurológicos
leves foram relatados em cinco pacientes (41,6%), mas
o tipo de estudo não nos permite a análise dos fatores
determinantes destas anormalidades.
Devido à alta complexidade dos fenômenos, ressaltase que o clínico deve reconhecer os sintomas prodrômicos e associá-los aos fatores genéticos por meio da
investigação dos antecedentes familiares, pois ambos
os fatores caracterizariam risco relativo e imputável para
a eclosão da Esquizofrenia12.
Um aspecto digno de nota é que a genética representa um grande fator de risco para a esquizofrenia. Nosso
estudo mostrou história familiar positiva para 66,7% dos
pacientes analisados. Diversos trabalhos revelam regiões
cromossômicas possivelmente relacionadas à Esquizofrenia, porém alguns autores consideram influências
óbvias do ambiente13-15. Acredita-se que os transtornos
perinatais que causam danos cerebrais precoces podem
potencializar risco para a doença16. Dos prontuários
analisados, 33,3% dos pacientes tinham histórico de
prematuridade e necessidade de ressuscitação após o
nascimento.
Para um melhor entendimento dos fenômenos psicóticos a partir das relações genéticas e ambientais,
pesquisas atuais discutem as hipóteses do neurodesenvolvimento na Esquizofrenia. Os estudos de neuroimagem permitem evidenciar diferentes anomalias como
a redução do volume do lobo-temporal (6% à esquerda
e 9,5% à direita) assim como a do complexo amigdalohipocampal (6,5% à esquerda e 5,5% à direita)17. Woods18 relata excessiva perda de volume cerebral total. O
alargamento dos ventrículos laterais (44% à esquerda e
36% à direita) está presente desde o primeiro episódio
psicótico19 , no entanto o autor critica a neuro- imagem,
pois a maioria dos trabalhos não apresenta um perfil
clínico homogêneo dado a complexidade dos sinais e
sintomas.
As técnicas neurorradiológicas são limitadas no
aspecto clínico da Esquizofrenia, principalmente no que
se refere ao diagnóstico20. Torna-se fundamental então o
acompanhamento do neurodesenvolvimento. Porém, em
nosso estudo, não foi possível descrever os achados do
desenvolvimento infantil pela escassez de informações
nos prontuários, o que nos despertou preocupação na
Neurociências
31
Assistência à Saúde da Infância e da Adolescência – ação
tão próxima à ocorrência dos fatos. Isto pressupõe que
no adulto a tentativa de informações a cerca do neurodesenvolvimento deverá ser mais difícil ainda, pois nele
estará reforçado o viés de memória das informações.
Um dos estudos pioneiros a cerca do desenvolvimento neuromotor de crianças esquizofrênicas foi
descrito por Fish21 ressaltando que o retardo global
no desenvolvimento motor provê um marcador na infância para os defeitos neurointegrativos herdados na
esquizofrenia.
Flyckt et al.16, num estudo comparativo com pacientes esquizofrênicos, seus parentes e um grupo controle
sadio, encontraram sinais neurológicos em 78% dos
pacientes esquizofrênicos virgens de neurolépticos,
contra 7% do grupo controle, sugerindo que as alterações do neurodesenvolvimento estão presentes no
início da doença. Portanto, a alta prevalência de sinais
neurológicos torna um achado consistente em pacientes esquizofrênicos, revelando possíveis desconexões
neurais entre áreas corticais e sub-corticais.
Quanto à análise do desempenho psicomotor, os
estudos revelam comprometimento significativo das
habilidades motoras desde a infância, com alterações
na coordenação motora fina, modificação na velocidade
e amplitude dos movimentos, além de alterações na
lateralidade16,22,23. Porém, os estudos são limitantes, já
que as atividades dependem do desejo e motivação do
indivíduo para sua realização, nível de educação para
entendimento da instrução, controle dos antipsicóticos
típicos e atípicos, entre outros16,24,25.
CONCLUSÃO
A Esquizofrenia da Infância e da Adolescência ainda
é pouco estudada em nosso país. Atualmente, ela não
deve ser encarada como uma doença psiquiátrica e
sim neuropsiquiátrica. Os achados da neuro-imagem
e do desenvolvimento neuropsicomotor sugerem esta
assertiva, porém novos estudos quantitativos e qualitativos sobre o assunto são fundamentais para melhor
compreensão dos fenômenos.
Nosso estudo chama a atenção dos profissionais de
saúde quanto à necessidade dos registros em prontuários dos achados do neurodesenvolvimento, pois este
aspecto foi o principal fator limitante em nossa pesquisa, dificultando assim uma análise mais detalhada
da realidade de nossas crianças e adolescentes com
transtornos mentais.
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Neurociências
32
Artigo Original
Relação entre independência e o nível de disfunção
motora e funcional em pacientes hemiparéticos
Relation between functional independence and motor impairments in
hemiparetic post-stroke patients
Camila Torriani¹, Eliane Pires de Oliveira Mota², Sônia Hitomi Pedrosa Kazurayama³, Stella Ruhe
Burin³, Tatiana Mengatti³, Juliana Caminho³, Francyelle Bastos³, Graziela Bastos³, Jenifer Chris³.
RESUMO
Objetivo: O objetivo deste estudo foi estabelecer a correlação entre a independência funcional, tempo de
lesão e o nível de disfunção motora em pacientes hemiparéticos. Método: Foram selecionados aleatoriamente
23 pacientes com seqüelas de Acidente Vascular encefálico (AVE). Os critérios de exclusão foram: alteração
cognitiva grave, afasia de compreensão e impossibilidade de participar do estudo. Após assinarem o termo de
consentimento, os sujeitos foram submetidos a aplicação do questionário de Medida de Independência Funcional
(MIF). Para aqueles que apresentavam afasia de expressão, a aplicação do questionário foi feita com o cuidador.
As categorias foram agrupadas em seis dimensões: autocuidado, controle de esfíncteres, transferências, locomoção, comunicação, e cognição social. Avaliou-se a correlação dos itens da MIF com gênero, lado hemiparético
e predomínio braquial, crural ou proporcionada do acometimento. Resultados: A variável gênero se correlacionou com o Controle de Esfincter e Cognição Social. As mulheres apresentaram maior Cognição Social do que
os homens (p=0,01) e os homens apresentaram tendência a maior controle do esfíncter do que as mulheres
(p=0,06). Comparando-se o Predomínio de acometimento corporal, observamos que o Predomínio Crural foi
menor em relação aos demais predomínios Braquial e Proporcionada (p=0,01) para Comunicação. Conclusão:
Houve correlação entre disfunção motora e funcional para o item comunicação da MIF, e o acometimento com
predomínio crural foi menor em relação aos demais predomínios.
Unitermos: Hemiplegia, Acidente Cerebrovascular, Fisioterapia, Avaliação.
Citação: Torriani C, Mota EPO, Kazurayama SHP, Burin SR, Mengatti T, Caminho J, Bastos F, Bastos G, Chris J. Relação entre
independência e o nível de disfunção motora e funcional em pacientes hemiparéticos. Rev Neurocienc 2007;15(1):32-36.
SUMMARY
Objective: The purpose of this study is to verify the correlation between functional independence and motor
impairments in hemiparetic post-stroke patients. Method: Twenty-three stroke patients were randomly selected.
The exclusion criteria were severe cognitive dysfunction, comprehension aphasia and impossibility of participating.
Before the patients signed the Consent Form, they were submitted to the Functional Independence Measure (FIM).
The questionnaire has been applied with the caregivers for those who had expression aphasia. The categories
were divided in 6 domains: take care of yourself, sphincter control, transference, locomotion, communication
and social cognition. We evaluated the correlation of FIM with gender, hemiparetic side, and brachial, crural or
combined impaired predomination. Results: Gender was correlated with sphincter control and social cognition.
The women presented more Social Cognition than men did (p=0.01) and the men presented a tendency in more
sphincter control than women did (p=0.06). Comparing impairment predomination, we observed that there was less
Trabalho realizado na UniFMU, São Paulo.
1.Mestranda em Biodinâmica do movimento USP. Docente e supervisora de estágio do setor Neuro Adulto da UniFMU. Docente dos
cursos de pós graduação na UNICID, GAMA FILHO, FMU.
2. Mestranda em Educação UNICID. Docente e supervisora de estágio do setor Neuro Adulto UniFMU.
3. Acadêmicos do 40 ano do curso de Fisioterapia da UniFMU.
Endereço para Correspondência: Camila Torriani, Av. Santo Amaro, 1329, Vila Nova Conceição - CEP 04511-001, São Paulo-SP
Email: [email protected]
Trabalho recebido em 02/10/2006.• Revisão: de 01/10/2006 a 29/11/2006 • Aprovado em 30/11/2006 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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Neurociências
33
crural one that brachial and combined (p=0.01) related to communication. Conclusion: There was a correlation
between motor and functional impairment and the FIM communication item, and there was less crural impairment
than the other predominancies.
Keywords: Hemiplegia, Stroke, Physical Therapy, Evaluation.
Citation: Torriani C, Mota EPO, Kazurayama SHP, Burin SR, Mengatti T, Caminho J, Bastos F, Bastos G, Chris J. Relation between functional independence and motor impairments in hemiparetic post-stroke patients. Rev Neurocienc
2007;15(1):32-36.
INTRODUÇÃO
O acidente vascular encefálico (AVE) tem como
definição sinais e sintomas neurológicos de ocorrência súbita, com perda de funções encefálicas focais
ou generalizadas, de origem vascular, com duração
superior a vinte e quatro horas ou levando a óbito.
Aproximadamente 80% dos AVE’s são causados por
um baixo fluxo sanguíneo cerebral (isquemia) e outros
20% por hemorragias tanto intraparenquimatosas
como subaracnóideas¹.
O envelhecimento da população brasileira advém
de alterações fisiológicas que podem estar associadas
a doenças crônicas e degenerativas, conduzindo a
déficits funcionais e declínio da morbidade. As evidências clínicas demonstram que a incidência de AVE
no Brasil é alta, principalmente em indivíduos idosos,
estando associada a uma alta taxa de sobrevivência
que declina levemente com o avanço da idade, de
79% dos 75 aos 84 anos para 67% acima dos 85
anos. Com o envelhecimento populacional brasileiro,
estima-se que a prevalência do AVE aumente nessa
população².
O AVE evolui com manifestações clínicas e comumente alterações motora e sensitiva, prejudicando
a função física. Há também alterações nas funções
cognitiva, perceptiva, visual, emocional e continência
que podem estar associados a severidade do quadro clínico dependerá, que dependerá também da
extensão da lesão. A presença de déficit do controle
motor pode ser caracterizada por fraqueza, alteração
de tônus e movimentos estereotipados, que podem
limitar as habilidades para realizar atividades como
deambular, subir escadas e autocuidar-se².
No déficit neurológico focal do AVE depende do
tamanho, localização da lesão e da quantidade de
fluxo sanguíneo colateral. Os déficits neurológicos
unilaterais são resultados da interrupção do sistema
carotídeo, e os déficits neurológicos bilaterais são
resultantes da interrupção do suprimento vascular
basilar. As artérias que podem estar acometidas são
artérias cerebrais anterior, média e posterior, cujas
alterações mais evidentes são respectivamente tronco e membro inferior, membro superior e alteração
visual³.
A partir destes dados e pela incapacidade proporcionada pela doença é necessário analisar como estes
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(33-38)
pacientes desempenham suas atividades diárias para
que um programa terapêutico específico possa ser
traçado para cada paciente. Desta forma, o Sistema
FIM (Functional Independence Measure) ou Sistema
MIF (Medidas de Independência Funcional) como é
chamado aqui no Brasil, classifica e registra o grau
de independência funcional. O objetivo deste sistema
é dar ênfase à dificuldade e a limitação do paciente,
com o entendimento sobre a capacidade de adaptação que se pode observar na realização de tarefas,
algumas vezes complexas, do cotidiano4.
A especificidade deste sistema deve ter a assistência ao paciente portador de lesão incapacitante
e de doenças crônico-degenerativas. Seu objetivo
primordial é avaliar de forma quantitativa a carga de
cuidados demandada por uma pessoa para a realização de uma série de tarefas motoras e cognitivas
de vida diária. Entre as atividades avaliadas estão os
autocuidados, transferências, locomoção, controle esfincteriano, comunicação e cognição social, que inclui
memória, interação social e resolução de problemas.
Cada uma dessas atividades é avaliada e recebe
uma pontuação que parte de 1 (dependência total) a
7 (independência completa), assim a pontuação total
varia de 18 a 126. Estão descritos dois domínios na
MIF, o motor e o cognitivo.
Por isso, é importante a análise das atividades de
vida diária nos pacientes portadores de AVE correlacionando com o tempo de lesão com o hemicorpo
acometido e o predomínio da disfunção (braquial
ou crural), o que possibilitará maior entendimento
desta população e consequentemente reabilitação
adequada.
Estabelecer a correlação entre a independência
funcional, o tempo de lesão e o nível de disfunção
motora em pacientes hemiparéticos à direita e esquerda.
MÉTODO
Foram selecionados aleatoriamente 23 pacientes
com seqüelas de AVE que se encontram em atendimento no setor de Fisioterapia Neurológica Adulto, no
Centro Universitário UniFMU. Os critérios de exclusão
foram: alterações cognitivas graves, afasia de compreensão e impossibilidade de participar do estudo.
Os pacientes que não apresentassem tais caracte-
Neurociências
34
rísticas e tivesse disponibilidade para participar do
estudo foi incluído.
O estudo foi aprovado por Comitê Ético interno da
Instituição, sendo que foram respeitados os aspectos
éticos concernentes a Resolução de nº 196 de 10 de
outubro de 1996, que delimita diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
A coleta de dados iniciou-se após assinatura de termo
de Consentimento Livre e esclarecido contendo explicações detalhadas sobre o estudo e sua finalidade.
Após preencherem o termo de consentimento os
sujeitos foram submetidos à aplicação do questionário
de Medida de Independência Funcional (MIF) sendo
que aqueles que apresentavam afasia de expressão,
a aplicação do questionário foi feita com o cuidador. O
instrumento MIF avalia 18 categorias pontuadas de um
a sete e classificadas quanto ao nível de dependência
para a realização da tarefa. As categorias são agrupadas em seis dimensões: autocuidado, controle de
esfíncteres, transferências, locomoção, comunicação
e cognição social. Cada dimensão é analisada pela
soma de suas categorias referentes. Assim, quanto
menor a pontuação, maior é o grau de dependência.
Somando-se os pontos das dimensões da MIF obtémse um escore total mínimo de 18 e o máximo de 126
pontos, que caracterizam os níveis de dependência
pelos sub-escores.
Na versão brasileira da MIF uma boa equivalência
cultural e boa reprodutibilidade, quando aplicado em
164 pacientes por dois examinadores distintos, e reavaliados por apenas um desses examinadores após uma
semana (teste/reteste)5. A validade convergente da MIF
pode ser observada tanto para as tarefas motoras em
pacientes com Lesão Medular como para os pacientes
com Lesão Encefálica. A versão brasileira da MIF mostrou-se sensível a alterações e clinicamente útil para a
avaliação de resultados de reabilitação em pacientes
ambulatoriais subagudos e crônicos no Brasil 6.
Análise Estatística
O teste de Spearman foi usado para avaliar se
havia correlação entre a independência funcional e as
variáveis gênero, lado hemiparético (direito e esquer-
do), disfunção motora e predomínio braquial, crural
ou proporcionada do acometimento. Os resultados
foram obtidos através dos testes não paramétricos
de Kruskal-Wallis e Wann-Whitney.
Para determinarmos o grau da correlação entre
as variáveis foi utilizada a escala de classificação:
péssima (0-20%), ruim (20-40%), regular (40-60%),
boa (60-80%) e ótima (80-100%).
RESULTADOS
A variável gênero se correlacionou com o desempenho nas MIFs Controle de Esfincter (p=0,05)
e Cognição Social (0,009). As variáveis lado hemiparético e predomínio de acometimento (braquial e
crural) não se correlacionaram com as MIFs (Tabela
1). Comparando-se os gênero, observamos que as
mulheres apresentaram maior Cognição Social do
que os homens (p=0,01) e os homens apresentaram
tendência a maior controle do esfíncter do que as
mulheres (p=0,06) (Tabela 2). Observamos que não
houve diferença significante quando comparamos o
lado hemiparético e as MIFs (Tabela 3). Comparandose o Predomínio de acometimento corporal (braquial,
crural e proporcionada) observamos que o Predomínio
Crural foi menor em relação aos demais predomínios
Braquial e Proporcionada (p-0,01) para Comunicação
(Tabelas 4 e 5).
DISCUSSÃO
Nos achados deste estudo não foram encontradas
diferenças entre independência funcional e hemiparéticos à direita e esquerda.
Estes achados não corroboram com outros estudos
que verificou que pacientes com hemiplegia à direita
podem ser cautelosos e desorganizados na solução
de uma determinada tarefa, e pacientes com hemiplegia à esquerda tendem a ser rápidos e impulsivos
e aparentemente não cientes dos déficits presentes.
Sugerindo que paciente com hemiplegia à direita ou
esquerda, apresentam déficits comportamentais, motores e intelectuais, que interferem proporcionalmente
Tabela 1. Correlação entre os itens do Medida de Independência Funcional e as variáveis sexo, lado hemiparético e predomínio de
acomentimento:
Sexo
Correlação
Lado Hemi
Predomínio
Corr.
p-valor
Corr.
p-valor
Corr.
p-valor
Auto Cuidado
-22,3%
0,30
18,7%
0,39
-19,3%
0,38
Controle Esfincter
40,7%
0,05
-5,2%
0,81
4,9%
0,82
Mobilidade
2,7%
0,90
-1,4%
0,95
-1,0%
0,96
Locomoção
-22,7%
0,29
14,8%
0,50
-16,9%
0,44
Comunicação
-8,3%
0,70
13,5%
0,54
-9,1%
0,68
Cognição Social
-53,1%
0,009
-9,1%
0,68
-15,4%
0,48
Total
-22,2%
0,31
12,4%
0,57
-16,8%
0,44
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(33-38)
Neurociências
35
Tabela 2. Comparação dos valores do Medida de Independência Funcional com a variável sexo (feminino-fem e masculino-masc):
Sexo
Auto Cuidado
Controle Esfincter
Mobilidade
Locomoção
Comunicação
Cognição Social
Total
Fem
Masc
Fem
Masc
Fem
Masc
Fem
Masc
Fem
Masc
Fem
Masc
Fem
Masc
Média
Mediana
32,7
29,3
10,9
12,5
14,6
15,1
10,9
9,7
21,4
20,6
19,4
16,3
109,9
103,4
39
33,5
13
14
18
18,5
14
12
21
21,5
20
16
123
115
Desvio
Padrão
10,9
9,9
3,9
3,2
7,4
6,6
4,4
4,3
2,9
2,6
2,1
3,4
27,1
23,9
Quartil 1
Quartil 3
Tamanho
IC
27
20
10
13,2
11
8,2
8
7
21
18,5
19
13,5
98
81,7
40
37
13
14
20
20
14
13
22
22
21
19,7
127
121
9
14
9
14
9
14
9
14
9
14
9
14
9
14
7,1
5,2
2,5
1,7
4,8
3,4
2,9
2,3
1,9
1,4
1,4
1,8
17,7
12,5
p-valor
0,29
0,06
0,89
0,29
0,69
0,01
0,29
Tabela 3. Comparacao dos valores da Medida de Independência Funcional com a variavel lado hemiparetico ( direito-dir e
esquerdo-esq ):
Lado Hemi
Auto Cuidado
Controle Esfincter
Mobilidade
Locomoção
Comunicação
Cognição Social
Total
Dir.
Esq.
Dir.
Esq.
Dir.
Esq.
Dir.
Esq.
Dir.
Esq.
Dir.
Esq.
Dir.
Esq.
Média
Mediana
29,1
33,4
12,1
11,5
14,5
15,6
9,6
11,2
20,7
21,4
17,8
17,0
103,7
110,1
32
38
14
13,5
18
19
12
13
21
22
19
17,5
116
121
Desvio
Padrão
10,4
10,0
3,4
3,8
7,3
6,0
4,4
4,1
2,4
3,3
3,2
3,6
24,9
25,7
na independência funcional de ambos4.
Pacientes com hemiplegia/paresia à esquerda
costumam apresentar-se com diminuição no comprometimento na comunicação e, por isso, tem melhor
desempenho funcional. Por outro lado, o domínio
cognitivo da MIF apresentou pontuação associada ao
tipo de deficiência decorrente da lesão encefálica. As
lesões no hemisfério direito resultaram classicamente
em hemiparesia à esquerda e comprometimento cognitivo na forma de negligência visual, tátil ou motora
à esquerda, além de dificuldade de percepção das
próprias incapacidades. Porém, de forma geralmente
menos intensa que nas lesões a direita, nas quais as
limitações envolvem a comunicação de forma mais
grave, comprometimento da memória e dificuldade para
acompanhar instruções e treinamentos. Desta forma,
espera-se que os pacientes com lesão no hemisfério
direito tenham perfis de independência funcionais
melhores que os demais, resultado este que em nosso
estudo não pôde ser observado7.
Além destas distinções entre lesão encefálica à
direita e lesão à esquerda, Haaland e Harrington descrevem que pacientes com lesão à direita apresentam
alterações que são estritamente no hemicorpo contralateral, enquanto que pacientes com lesão no hemisfério
esquerdo apresentam déficits motores que podem ser
não somente no hemicorpo contralateral à lesão, mas
também ipsilateralmente. Além disso, o hemisfério
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(33-38)
Quartil 1
Quartil 3
Tamanho
IC
19,5
32
12
10
8,5
12,5
6
10,7
19,5
19,5
16
14,5
78,5
106,5
38
40
14
14
21
20
14
14
22
22
20
20
122
126
15
8
15
8
15
8
15
8
15
8
15
8
15
8
5,2
6,9
1,7
2,7
3,7
4,2
2,2
2,8
1,2
2,3
1,6
2,5
12,6
17,8
p-valor
0,38
0,81
0,95
0,49
0,53
0,67
0,56
cerebral esquerdo apresenta maior atuação no planejamento motor, fato este que também corrobora ao
fato de pacientes hemiplégicos à direita apresentarem
maiores dificuldades em seqüências funcionais diárias.
Estes fatos nos levam a inferir que pacientes com lesão
encefálica à esquerda têm maior potencial para prejuízos funcionais 8-10.
Um outro fator, não investigado neste estudo, mas
que merece atenção na repercussão funcional nos
pacientes é o fato de o lado corporal acometido ser o
lado dominante. Pois, pacientes com hemiplegia/paresia no hemicorpo cuja mão era dominante antes da
lesão apresentam menores prejuízos funcionais que os
pacientes com lesão no hemicorpo cuja mão não era
dominante. Desta forma, sugerimos para um próximo
estudo a inclusão desta variável na análise funcional
destes pacientes 11.
Verificou-se também, que no item cognição social o
gênero feminino apresentou melhor resultado quando
comparado ao masculino, o que sugere que o gênero é
um fator que influenciou neste resultado, talvez porque
as mulheres apresentem mais facilidade para interagir
socialmente, porém não foi encontrado na literatura um
fator determinante para tal resultado.
Outro achado relevante do nosso estudo foi encontrar maior comprometimento da cognição social em
pacientes com predomínio crural, sendo talvez possível
justificá-lo pelo fato que pacientes com comprometi-
Neurociências
36
Tabela 4. Comparacao de valores da Medida de Independência Funcional com variável de acometimento (braquial, crural e
proporcionada):
Predomínio
Auto Cuidado
Controle Esfincter
Mobilidade
Locomoção
Comunicação
Cognição Social
Total
Média
Mediana
33,8
24,4
29,3
12,7
8,2
13,3
16,4
10,6
15,3
11,2
8,4
9,5
21,7
18,0
21,7
17,7
17,0
17,5
113,7
86,6
106,7
36,5
16
29,5
13,5
8
14
18,5
5
19
13
8
9,5
22
17
22
20
17
18
119
69
111
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
Crural
Proporcionada
Braquial
0,01*
0,76
Quartil 1
Quartil 3
Tamanho
IC
30,7
15
20,5
12,2
3
13,2
13,2
3
10,5
10,7
3
7
20
17
21,2
14,2
15
16
110
62
88,2
40
37
38,5
14
14
14
20
21
20,7
14
14
13,5
22
19
22
21
19
20
126,2
121
124,7
12
5
6
12
5
6
12
5
6
12
5
6
12
5
6
12
5
6
12
5
6
4,4
11,3
8,9
1,1
5,1
0,9
2,6
8,3
5,9
2,1
4,8
3,6
1,6
1,7
0,4
2,3
1,7
2,4
10,7
28,5
19,0
p-valor
0,28
0,25
0,69
0,67
0,01
0,51
0,19
CONCLUSÃO
Tabela 5. Comparação do valor da
Medida de Independência Funcional
no itens comunicacao com variavel
de acometimento (braquial, crural e
proporcionada)
Comunicação
Crural
Proporcionada
Desvio
Padrão
7,8
12,9
11,2
1,9
5,8
1,2
4,7
9,5
7,4
3,7
5,5
4,5
2,9
2,0
0,5
4,0
2,0
2,9
18,8
32,6
23,7
Crural
0,008*
mento crural, tem o convívio social mais difícil, devido à
dependência de cadeira de rodas para locomover-se, ao
passo que pacientes com predomínio braquial apresentam menos dificuldade de locomoção proporcionando
uma interação social mais acessível.
Não foi estabelecida correlação entre a independência funcional e o nível de acometimento motor.
Houve correlação entre predomínio crural da hemiplegia e o item comunicação na MIF. O gênero feminino apresentou melhor cognição social e não houve
diferença entre a independência funcional e o lado da
hemiparesia/ plegia.
Sugerem-se novos estudos visando aumentar a
amostra, torná-la mais homogênea e controlar as variáveis intervenientes a fim de estabelecer quais fatores
afetam realmente a independência funcional na hemiparesia/ plegia.
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Neurociências
37
Artigo Original
Dipyrone for acute primary headaches: a Systematic
Review
Dipirona nas cefaléias primárias agudas: Revisão Sistemática
Adriana de Souza Ramacciotti1, Álvaro Nagib Atallah2, Bernardo Garcia de Oliveira Soares3
SUMMARY
Introduction: Headaches commonly affect working-age people. Dipyrone is largely used in many countries. Objectives:
To determine effectiveness/safety of dipyrone for adults with acute primary headaches. Method: Double blind randomized
controlled trials systematic review. Dichotomous data were expressed as relative risks and risk differences, and continuous
data as weighted mean differences. If possible, numbers-needed-to-treat were calculated. Results: Four studies were included
(636 subjects). Meta-analysis was possible for one outcome, favouring dipyrone. Regarding episodic tension-type headache
and migraine, individual studies data showed dipyrone statistically significant beneficial effect. No severe adverse events were
reported. There was no statistically significant difference between dipyrone and placebo regarding mild to moderate adverse
events. Conclusion: Dipyrone is effective in migraine and episodic tension-type headache. Conclusions about its safety and
agranulocytosis can not be drawn probably due to the relatively small sample. If the results of a recent study, which is related
to the incidence of agranulocytosis in Latin America, do not clarify the question, data from observational studies on dipyrone
side effects should be searched to determine its safety.
Keywords: Review, Dipyrone, Headache.
Citation: Ramacciotti AC, Atallah AN, Soares BGO. Dipyrone for acute primary headaches: a Systematic Review. Rev
Neurocienc 2007;15(1):37-43.
RESUMO
Introdução: A cefaléia atinge com freqüência pessoas profissionalmente ativas, e dipirona é usada em muitos países.
Objetivos: Determinar a efetividade e a segurança da dipirona no tratamento de adultos e crianças com cefaléia primária
aguda. Método: Revisão sistemática de ensaios clínicos controlados randomizados duplo-cegos. Os dados dicotômicos
foram expressos em riscos relativos e diferenças de risco, e os contínuos, em diferenças de média ponderada. Quando possível, calcularam-se números necessários para tratar. Resultados: Foram incluídos quatro estudos (636 adultos). Foi possível
metanálise, que favoreceu a dipirona, para apenas um desfecho. Tanto na cefaléia tensional episódica, como na migrânea,
dados de estudos individuais mostraram benefício estatisticamente significante da dipirona. Não foram relatados efeitos colaterais graves e não houve diferença estatisticamente significante entre dipirona e placebo aos leves e moderados. Conclusão:
A dipirona é efetiva na migrânea e na cefaléia tensional episódica. Não se pode chegar a conclusões sobre sua segurança e
a agranulocitose devido ao tamanho da amostra relativamente pequeno. Deve-se aguardar os resultados de um estudo em
andamento sobre a incidência da agranulocitose na América Latinae, se necessário, buscar estudos observacionais sobre
os efeitos colaterais dessa droga
Unitermos: Revisão Sistemática, Dipirona, Cefaléia.
Citação: Ramacciotti AC, Atallah AN, Soares BGO. Dipirona nas cefaléias primárias agudas: Revisão Sistemática. Rev
Neurocienc 2007;15(1):37-43.
Research was performed at Federal University of São Paulo, with The Cochrane Pain, Palliative and Supportive Care Group and will be published in an
electronic format in The Cochrane Library.
1.MD. Post-Graduating student of Department of Urgency Medicine, Federal University of São Paulo, Brazil.
2.MD, PhD. Full Professor of Urgency Medicine and Evidence-Based Medicine and Director of Brazilian Cochrane Centre, Federal
University of São Paulo, Brazil.
3. MD. Post-Graduated student and Co-Director of Brazilian Cochrane Centre, Federal University of São Paulo, Brazil.
Address for correspondence: Adriana de Souza Ramacciotti, Rua Pedro de Toledo, 598, São Paulo – SP – Brasil. CEP: 04039-031
E-mail: [email protected] / [email protected]
Trabalho recebido em 05/10/2006 • Revisão: de 04/10/2006 a 23/11/2006 • Aprovado em 24/11/2006 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
Neurociências
38
INTRODUCTION
Headache is a frequent complaint of inpatients and
outpatients and a very common condition that affects
mainly people of working age. Every year, migraine
and tension-type headaches affect an estimated 10%
to 12%1 and over 38%2 of the population, respectively.
Cluster headache is less common, occurring in less
than 1% of the population3. Although most headaches
are benign, they may interfere with productivity at work,
as well as with family and social relationships. Because
headaches negatively affect quality of life and result in
substantial lost workdays2,4-6, their effective treatment is
extremely important.
There are many different therapies for treating people
with headache, which may be based on drugs or not.
The most commonly used drugs include acetaminophen
(paracetamol), acetylsalicylic acid, dipyrone, ergot
derivatives, chlorpromazine, triptans and non-steroidal
anti-inflammatory drugs. Non-pharmacological interventions include relaxation techniques, trigger point therapy,
exercise therapy, acupuncture, and spinal manipulation
or mobilization.
Dipyrone is a pyrazolone derivative commercially
launched in Germany in 19227. It is a non-opioid analgesic, most commonly administered either orally or
intravenously, whose effectiveness has been said to be
comparable to that of some opioid analgesics8. It is the
most popular non-opioid analgesic in many countries,
currently available in South America, several European
countries, South Africa, Russia, Israel and India, and in
its oral form can be purchased without a prescription
in Brazil and Spain. Nevertheless, it has been banned
in the United States and United Kingdom because of
its potential to cause blood dyscrasias, in particular
agranulocytosis, which is rare, but can lead to a rapid
depletion of granulocytes and may be fatal7,9. Although
it is clear that dipyrone causes agranulocytosis, the risk
has so far not been adequately quantified10, and there is
little consensus in the literature about it. The worst-case
scenario was reported as 9.0 cases per million per year11.
The calculated risks of agranulocytosis are approximately one out of every 31,000 dipyrone-treated inpatients
and one of every 1,400 dipyrone-treated outpatients
according to another study12. The same study12 also
pointed out that most patients in the study sample who
developed agranulocytosis after treatment with dipyrone
had also been treated with other medications associated
with agranulocytosis, complicating quantification of the
risk associated with dipyrone.
Since dipyrone is widely used in some countries for
treating patients with different kinds of pain (post-operative pain, colic pain, cancer pain, headache, etc.), it
is necessary to conduct a systematic review to assess
its benefits and harms. The objective of this review is to
assess the effectiveness and safety of dipyrone for acute
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
primary headaches (migraine, episodic tension-type
headache, cluster headache, or unclassified primary
headache) in adults and children.
METHOD
Systematic review of double-blind randomized
controlled trials evaluating dipyrone for the symptomatic relief of acute primary headaches in children and
adults. Quasi-randomised trials, in which allocation is
done, for instance, by using alternate days of the week,
were excluded. Studies involving secondary headache
disorders (post-dural puncture headache, post-traumatic
headache, headaches related to cancer, etc.) were also
excluded.
Dipyrone could be compared to analgesics, non-steroidal anti-inflammatory drugs, opioids, ergot derivatives,
triptans, other drugs, combination agents, non-pharmacological interventions, placebo or no intervention.
Trials were searched by the using of different sources:
electronic databases — Cochrane Pain, Palliative & Supportive Care Trials Register (2004), Cochrane Central
Register of Controlled Trials (Issue 1, 2004), MEDLINE
(1966-2004), EMBASE (1980-2004) and LILACS (19822004) —; reference lists of identified studies; personal
contact to pharmaceutical companies, study authors,
and other experts in the area.
The three authors independently screened trials identified by the literature search, extracted data, assessed
trial quality, and analyzed the results. The methodological quality of the included trials was assessed by the
using of the Cochrane Handbook criteria13, according to
which trials are classified as A (“low risk of bias”, when
allocation concealment is adequate), B (“moderate risk
of bias”, when there is some doubt about the results)
and C (“high risk of bias”, when allocation concealment
is inadequate)13. The internal validity of individual trials
was assessed using the scale devised by Jadad et al.14,
and thus each trial received a score of 0 to 5 points, with
higher scores indicating higher quality in the conduct or
reporting of the trial.
Studies were assessed according to presence of
intention-to-treat analysis, which means that participants
were “analyzed in the groups to which they were randomized regardless of which (or how much) treatment
they actually received, and regardless of other protocol
irregularities, such as ineligibility”15.
For dichotomous data, relative risks for effectiveness
outcomes and risk differences for adverse event outcomes were estimated, both with 95% confidence intervals
(p-value<0.05). Because we were using relative risk as a
summary measure of effectiveness, we translated ‘positive’ outcomes into ‘negative’ ones for the analysis. Thus,
for instance, ‘pain-free response’ became ‘no pain-free
Neurociências
39
response’ for the purpose of calculating relative risks.
The primary effectiveness outcomes considered
in the analysis were pain-free response, which could
also has been described as complete resolution of
headache pain or complete relief; and improvement
in headache, which includes any of the following: pain
relief, decreasing in pain intensity or headache response.
The primary outcomes related to adverse events and
tolerability were proportion of patients reporting major
harm (any adverse event resulting in death or serious
illness or sufficiently serious to cause withdrawal from
the study); and proportion of patients reporting minor
harm (any adverse event).
The following secondary effectiveness outcomes
were considered in the analysis: use of rescue medication; and for migraine studies, relief of other symptoms
associated with migraine, specifically aura, nausea,
vomiting, photophobia and phonophobia. The primary
outcomes related to adverse events and tolerability were
number of withdrawals due to adverse events; number
of withdrawals for any reason; and identity and rates of
individual adverse events.
Other outcomes that would be considered if reported
in the included studies were: patient satisfaction; absenteeism; quality of life; productivity at work; functional
disability; and costs.
We anticipated that the studies to be reviewed would
report effectiveness outcomes at several different time
points post-intervention. Data from the various time
points were analyzed separately.
The most relevant dichotomous outcome measures
evaluated were no pain-free response, no improvement
in headache, proportion of patients reporting major harm
(any adverse event resulting in death or serious illness
or sufficiently serious to cause withdrawal from the study), proportion of patients reporting minor harm (any
adverse event), use of rescue medication, no relief of
other symptoms associated with migraine (for migraine
studies) and no satisfaction with treatment.
Results were combined, where appropriate, using a
fixed-effect model. For all statistically significant effectiveness results, numbers-needed-to-treat were calculated,
and numbers-needed-to-harm would also be calculated
if there were statistically significant results about side
effects, what did not happen. Numbers-needed-to-treat
were calculated as the reciprocal of the absolute risk
reduction16.
Continuous outcomes were expressed as weighted
mean differences between groups. As data on continuous outcomes are frequently skewed (the mean is not
the centre of the distribution), to assess skewness the
following standard were applied to all continuous data:
for data with finite limits, such as endpoint scale data,
the standard deviation, when multiplied by two, had to
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
be less than the mean17. As skewed data are not bad
data18, they were analyzed, but were discussed with
care. The most relevant continuous outcome evaluated
was pain relief.
Heterogeneity was statistically assessed when metaanalysis was possible.
RESULTS
One thousand and seventy one (1671) references
were identified, 1669 from the electronic searches and
two from hand searching. Eight of the 1671 references
were selected for a careful analysis of the complete
article. We have so far been unable to obtain a copy of
one of these articles19. Three others were excluded after
full-text review: a non-randomized placebo-controlled
study20, a review article21, and a study whose assessed
subject was not primary headache22. Authors of included studies did not provide further references and no
ongoing studies were identified.
Four studies were included in the review. All of them
were intention-to-treat randomized controlled trials with
a parallel-group design and were classified as B according to the Cochrane Handbook criteria (13). According
to Jadad scale, one23 was classified as 5, and the other
three24-26 as 4. Only one included trial23 reported any
dropouts: 4 patients (1 randomized to dipyrone 0.5 g
and 3 randomized to dipyrone 1 g) were excluded from
the analysis for failing to return their study diaries.
Duration of assessment ranged from 4 to 24 hours.
The study that assessed outcomes over 4 hours23 considered two episodes of headache with a 48-hour interval
between them.
Three of these studies were performed in the same
centers (two public health units) in Brazil by the same
group of authors24-26. One trial23 included 31 participating
centers, and subjects were not hospitalized.
The four studies included 636 subjects (187 males),
with a mean age ranging from 29.5 to 44.2 years. They
used the International Headache Society structured diagnostic criteria for episodic tension-type headache23, 24,
migraine with aura26, and migraine with or without aura25.
No pediatric trials were identified.
All four trials compared dipyrone to placebo; two
of them also compared dipyrone to other active treatments23,26. In three studies24-26, dipyrone 1g was administered intravenously, whereas in one23 oral administration
of dipyrone 0.5g and 1g was evaluated. Acetylsalicylic
acid23, magnesium sulphate26 and chlorpromazine26 were
the comparative medications evaluated. Intravenous
placebo was 0.9% physiological saline solution.
Meta-analysis was possible only for one outcome:
persistence of aura at 60 minutes. All other presented
Neurociências
40
results are provided from individual studies.
Migraine
Two studies25, 26 evaluated patients with migraine and
provided data for meta-analysis for the outcome persistence of aura at 60 minutes25,26. Dipyrone 1 g intravenously showed a statistically significant beneficial effect when
compared to placebo (2 studies; 84 subjects; fixed-effect
model; relative risk 0.16; 95% confidence interval: 0.03
to 0.84; p-value < 0.05; number-needed-to-treat = 6).
When dipyrone 1 g IV was compared to chlorpromazine
and to magnesium sulphate26, no statistically significant
results were presented for the outcome ‘persistence of
aura at 30 minutes’ and there were no events for persistence of aura at 60 minutes for dipyrone, chlorpromazine
and magnesium sulphate.
For the outcomes “no improvement in headache”
and “no pain-free response”, data for migraine with
aura and migraine without aura25 were summed. With
regards to “no improvement in headache at 30 minutes
“ and “no improvement in headache at 60 minutes”,
data were statistically significant favouring dipyrone
1g intravenously, compared to placebo: 134 subjects,
relative risk 0.75 (95% confidence interval: 0.64 to 0.89;
p-value<0.05), number-needed-to-treat = 5 and 134
subjects, relative risk 0.41 (95% confidence interval: 0.30
to 0.57; p-value<0.05), number-needed-to-treat = 2.
For “no pain-free response” at 30 minutes, 60 minutes
and 24 hours, there were statistically significant results
favoring dipyrone 1g intravenously, when it was compared to placebo: 134 subjects, relative risk 0.87 (95%
confidence interval: 0.78 to 0.96; p-value<0.05), number-needed-to-treat = 8; 134 subjects, relative risk 0.59
(95% confidence interval: 0.47 to 0.74; p-value<0.05),
number-needed-to-treat =3; and 134 subjects, relative
risk 0.57 (95% confidence interval: 0.34 to 0.97; p-value<0.05), number-needed-to-treat = 6 respectively.
Episodic tension-type headache
One study data23 showed statistically significant
results favouring dipyrone 0.5g and dipyrone 1g, both
orally, when compared to placebo, for the outcomes
“pain relief at 30 minutes” (dipyrone 0.5g: 173 subjects,
weighted mean difference 0.26, 95% confidence interval:
0.02 to 0.50, p-value<0.05; dipyrone 1g: 183 subjects,
weighted mean difference 0.38, 95% confidence interval: 0.14 to 0.62, p-value<0.05), “pain relief at one
hour” (dipyrone 0.5g: 173 subjects, weighted mean
difference 0.48, 95% confidence interval: 0.19 to 0.77,
p-value<0.05; dipyrone 1g: 183 subjects, weighted
mean difference 0.56, 95% confidence interval: 0.26 to
0.86, p-value<0.05), “pain relief at two hours” (dipyrone
0.5g: 173 subjects, weighted mean difference 0.68, 95%
confidence interval: 0.30 to 1.06, p-value<0.05; dipyrone
1g: 183 subjects, weighted mean difference 0.71, 95%
confidence interval: 0.36 to 1.06, p-value<0.05), “pain
relief at three hours” (dipyrone 0.5g: 173 subjects, weiREVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
ghted mean difference 0.74, 95% confidence interval:
0.33 to 1.15, p-value<0.05; dipyrone 1g: 183 subjects,
weighted mean difference 0.74, 95% confidence interval: 0.35 to 1.13, p-value<0.05) and “pain relief at four
hours” (dipyrone 0.5g: 173 subjects, weighted mean
difference 0.95, 95% confidence interval: 0.52 to 1.38, pvalue<0.05; dipyrone 1g: 183 subjects, weighted mean
difference 0.94, 95% confidence interval: 0.53 to 1.35,
p-value<0.05). These results should be considered carefully, since, except for the comparison between dipyrone
1 g orally and placebo for “pain relief at two hours”, data
of these continuous outcomes were skewed.
According to the same trial23 and the comparison
dipyrone versus placebo, for the outcome “need of
rescue medication”, dipyrone 0.5g orally tended to
cause a beneficial effect, but the results were not statistically significant, whereas dipyrone 1g orally showed
statistically significant results favouring dipyrone: (183
subjects, relative risk 0.36, 95% confidence interval:
0.18 to 0.72, p-value<0.05, number-needed-to-treat =
6). Regarding “no satisfaction with treatment”, dipyrone
0.5 g orally and dipyrone 1g orally caused a beneficial
effect over placebo, with statistically significant results:
173 subjects, relative risk 0.67 (95% confidence interval:
0.47 to 0.95, p-value<0.05), number-needed-to-treat=6;
and 183 subjects, relative risk 0.43 (95% confidence
interval: 0.28 to 0.66, p-value<0.05), number-neededto-treat = 4 respectively.
Another study24 showed statistically significant results
favouring dipyrone 1g intravenously, when compared to
placebo, for the outcomes “no improvement in headache at 30 minutes” (60 subjects, relative risk 0.67, 95%
confidence interval: 0.49 to 0.91, p-value<0.05, numberneeded-to-treat = 4 ), “no improvement in headache at
60 minutes” (60 subjects, relative risk 0.45, 95% confidence interval: 0.26 to 0.79, p-value<0.05, number-needed-to-treat = 3), “no pain-free response at 30 minutes”
(60 subjects, relative risk 0.68, 95% confidence interval:
0.51 to 0.91, p-value<0.05, number-needed-to-treat=4)
and “no pain-free response at 60 minutes” (60 subjects,
relative risk 0.46, 95% confidence interval: 0.28 to 0.76,
p-value<0.05, number-needed-to-treat=3).
Results from comparison between two doses of oral
dipyrone and acetylsalicylic acid23 show both doses of
dipyrone were statistically significantly better for the
outcomes “pain relief at 30 minutes” (dipyrone 0.5g:
173 subjects, weighted mean difference 0.32, 95%
confidence interval: 0.09 to 0.55, p-value<0.05; dipyrone
1g: 183 subjects, weighted mean difference 0.44, 95%
confidence interval: 0.21 to 0.67, p-value<0.05) and
“pain relief at one hour” (dipyrone 0.5g: 173 subjects,
weighted mean difference 0.38, 95% confidence interval:
0.12 to 0.64, p-value<0.05; dipyrone 1g: 183 subjects,
weighted mean difference 0.46, 95% confidence interval:
0.18 to 0.74, p-value<0.05). For “pain relief at two hours”
statistically significant results favoured dipyrone 1g orally
Neurociências
41
(183 subjects, weighted mean difference 0.35, 95%
confidence interval: 0.02 to 0.68, p-value<0.05). When
dipyrone 0.5g and/or dipyrone 1g orally was compared
to acetylsalicylic acid on the outcome “no satisfaction
with treatment”, statistically significant results favoured
dipyrone 1g orally: 183 subjects; relative risk 0.52 (95%
confidence interval: 0.33 to 0.81, p-value<0.05), numberneeded-to-treat = 5.
0.5 g and dipyrone 1g orally to placebo23, there was a
non-statistically significant risk difference.
There was no statistically significant difference between either dose of dipyrone and acetylsalicylic acid
for use of rescue medication.
There was a non statistically significant difference
between groups for the outcome number of patients
presenting mild/moderate adverse effects when dipyrone
orally was compared to placebo, when dipyrone 0.5g
with dipyrone 1g, both orally, were compared and when
dipyrone 0.5g and/or dipyrone 1g, both orally, were
compared with acetylsalicylic acid23.
Side-effects and dropouts
Considering the four studies (636 subjects), 57
(8.96%) individuals were described as presenting side
effects: 35 (5.5%) in one study25 and 22 (3.46%) in another one23.
Side effects were considered not major in one study25
and mild to moderate in another23. Individual data of
adverse events reported both studies23,25 showed a non
statistically significant result. When comparing dipyrone
Results for dry mouth, postural hypotension, somnolence, dyspepsia, nausea and others25 were non statistically significant when each side effect was analyzed
individually or when all side effects were analyzed
together.
Only one study23 reported dropouts: four patients
were excluded from the effectiveness analysis for not
having returned their diaries with needed information.
Details of outcomes and studies are specified in
Table 1.
Table 1. Dipyrone for acute primary headaches: characteristics of included randomised controlled trials.
Author/Year/
Reference
Bigal 2002a
(24)
Methods
Participants
Double-blind; 24 hours duration;
ITT; 2 parallel groups; randomized by drawing lots.
Interventions
60 patients with ETTH (IHS criteria 1988) in the presDipyrone: intravenous injection of 1g (2 ml) added to 8
ence of pain attack and 18 years old or over.
ml 0.9% NaCl (n=30);
Sex: ~ 48% males
Placebo: intravenous injection of 10 ml 0.9% NaCl
Age: ~ 44.2 years (dipyrone group)
(N=30).
~ 37.6 years (placebo group)
Setting: two public health units
Bigal 2002b
(25)
Double-blind, 24 hours duration; 134 patients (31% males and 69% females) in the
ITT; 2 parallel groups randomized presence of moderate to severe pain with diagnosis Dipyrone intravenous 1g in 10 ml of 0.9% physiological
by drawing lots.
of MA (45%) or MO ( 55%), according to IHS criteria;
saline (n=74);
mean age ~31 years.
Placebo: 10 ml 0.9% physiological saline (n=60).
Setting: two public health units
Bigal 2002c
(26)
Dipyrone: intravenous 1g (2 ml) in 8 ml of 0.9% physiological saline (n=21);
86 patients (33% males) witn MA present at evalua- Chlorpromazine: intravenous 5 ml/kg weight of 0.9%
tion and 18 years or over. MA diagnoses according to physiological saline, followed by 0,1 ml/kg weight in
Double-blind; 60 minutes dura10ml of 0.9% physiological saline in bolus (single dose)
IHS criteria; mean age ~29.5 years.
tion; ITT; 4 parallel groups.
(n=23);
Setting: two public health units
Magnesium sulphate: intravenous 1g in 10 ml of 0.9%
physiological saline (n=21);
Placebo: intravenous 10 ml 0.9% physiological saline
(n=21).
Martinez-Martin
2001 (16)
417 patients (356 analysed) with moderate ETTH
(IHS).
Sex: 25% males
Double-blind (double-dummy
Age: 18-65 years
technique); 4 hours duration (two
History: at least 2 episodes of ETTH/month in 3
episodes of 48h between epimonths prior to enrolment (48 hr between episodes);
sodes); ITT; 4 parallel groups.
successful previous pain relief with a non-opioid
analgesic; first HA episode < 50 years old.
Setting: 31 centres
Dipyrone 0.5 g single dose orally (n= 82);
Dipyrone 1g single dose orally (n=92);
ASA 1g single dose orally (n=91);
Placebo single dose orally (n=91).
Treatment when at least moderate headache at first
episode and at 2nd episode (48h between episodes)
GLOSSARY: ITT – Intention to treat treatment; ASA - Acetyl Salicylic Acid; IHS - International Headache Society; MA - Migraine with aura; MO
- Migraine without aura; ETTH - episodic tension type headache; HA – headache; U/K- Unknown.
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
Neurociências
42
DISCUSSION
In spite of the fact there were statistically significant
results favouring dipyrone when it was compared to placebo in the meta-analysis for the outcome “persistence
of aura at 60 minutes”, this is not clinically important in
most cases since spontaneous resolution of aura is expected to happen in one hour26. This result may be relevant in cases of persistent aura, thus systematic reviews
and randomized controlled trials assessing this issue
should be searched and conducted if necessary.
Individual data showed important results favouring
dipyrone in the treatment of subjects with migraine:
for the outcomes “no improvement in headache at 30
minutes” and “no improvement in headache at 60 minutes”, number-needed-to-treat is respectively 5 and 2.
For “no pain-free response at 30 minutes”, “no pain-free
response at 60 minutes” and “no pain-free response at
24 hours, number-needed-to-treat is 8, 3 and 6 respectively. The fact of having to treat 2 and 3 patients with
dipyrone 1g intravenously to have one with improvement
in headache at 60 minutes and pain-free response at 60
minutes respectively shows dipyrone 1 g intravenously
is effective for migraine.
With regards to episodic tension-type headache, individual data of the following outcomes showed dipyrone
statistically significant beneficial effect over placebo:
“pain relief at 30 minutes”, “pain relief at one hour”,
“pain relief at two hours”, “pain relief at three hours”
and “pain relief at four hours”23. However, these results
should be considered carefully, since data of most of
these continuous outcomes were skewed, except for the
comparison between dipyrone 1g orally and placebo for
“pain relief at two hours”.
For the outcome “need of rescue medication”,
dipyrone 1 g orally was effective (number-needed-totreat=6). For “no satisfaction with treatment”, statistically significant results favoured dipyrone 0.5g orally
(number-needed-to-treat=6) and dipyrone 1g orally
(number-needed-to-treat=4). In other words, we should
treat 6 subjects with dipyrone 1g orally to have one
individual presenting no “need of rescue medication”
which would not happen if these people have received
placebo. We should also treat 6 subjects with dipyrone
0.5g orally and 4 subjects with dipyrone 1g orally to
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
have one individual satisfied with treatment and this
satisfaction would not happen if these individuals have
been treated with placebo.
For both outcomes “no improvement in headache at
30 minutes” and “no pain-free response at 30 minutes”,
number-needed-to-treat is 4, whereas for “no improvement in headache at 60 minutes” and “no pain-free
response at 60 minutes”, this number is 3. When compared to acetylsalicylic acid, number-needed-to-treat for
dipyrone 1g intravenously is 5.
Thus, this review has found evidence from individual
studies that dipyrone is effective for treating adults with
migraine and episodic tension-type headache.
No severe side effects were reported in any of the
included trials. However, as agranulocytosis is rare (9.0
cases per million per year according to the worst-case
scenario)11, the 636 patients studied are not enough to
assess the safety of dipyrone and we cannot come to
a conclusion on the basis of the included trials alone.
Considering this drug is currently widely used in many
countries, such as Brazil and Spain (among others),
data from observational studies on dipyrone side effects
(case-report, case series, case-control) should be searched in order to determine the risk of dipyrone-induced
agranulocytosis. These issues may be clarified by a
recent study, planned to be ended in August 2006, which
is being conducted to assess the incidence of aplastic
anemia and agranulocytosis in Latin America27, where
dipyrone is largely used.
ACKNOWLEDGEMENTS
The Cochrane Pain, Palliative and Supportive Care
Group, in particular Rebecca N Gray and Douglas
McCrory (USA), for the invaluable help and support. Dr
Deusvenir de Souza Carvalho (Universidade Federal
de São Paulo, Brazil) for his great support. Drs Marcelo
Bigal, José G Speciali and Pablo Martinez, and Boehringer Ingelheim (responsible for publishing the study of
Pablo Martinez) for replying to our e-mails and giving
permission to publication of their studies data. Dr Nelson
Hamerschlak for having attentively provided information
about the final version of the Latin Study.
Neurociências
43
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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(39-45)
Neurociências
44
Artigo Original
A criação do MIBRELA, um software brasileiro de
orientação para pacientes com esclerose lateral
amiotrófica
MIBRELA, orientation Brazilian software for amyotrophic lateral sclerosis
patients.
Klein AN1, Oliveira ASB2, Nakazune SJ3, Takizawa MM4, Arai JS5, Favero FM6, Fontes SV7
RESUMO
Objetivo: Elaborar uma nova estratégia por meio de um programa de computador (software) para ministrar
orientações preventivas e facilitadoras para o processo de reabilitação de pacientes com ELA. Método: A elaboração do produto MIBRELA (manual interativo brasileiro de esclerose lateral amiotrófica), ou seja, um software
brasileiro de orientações, para pacientes com esclerose lateral amiotrófica foi realizada a partir da aplicação de
um manual impresso, previamente elaborado pela própria autora deste estudo, e testado em 114 pacientes com
diagnóstico provável ou definitivo de esclerose lateral amiotrófica que foram assistidos no serviço de terapia ocupacional do Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP. Resultados: este manual consiste em um produto
do tipo CD (compact disk) e, trata-se de um aplicativo Desktop baseado em telas (janelas), sendo necessário
somente um computador simples sem acesso a rede ou internet, mas com os pré-requisitos instalados: .NET
Framework 1.1 e sistema operacional Windows 98/ME/2000/XP No total, o usuário do programa tem 102 opções de
interatividade, incluindo fotos, definições, explicações de determinados produtos e equipamentos, orientações de
cuidados e precauções durante a realização de alguma atividade entre outros. Conclusão: Este software contem
as informações necessárias para facilitar as orientações preventivas e reabilitadoras de pacientes com ELA.
Unitermos: Software, Esclerose amiotrófica lateral, Informática médica.
Citação: Klein AN, Oliveira ASB, Nakazune SJ, Takizawa MM, Arai JS, Favero FM, Fontes SV. A criação do MIBRELA, um
Software brasileiro de orientação para pacientes com esclerose lateral amiotrófica. Rev Neurocienc 2007; 15(1):44-48.
SUMMARY
Objective: The aim of the study was to elaborate a new strategy from a program of computer (Brazilian Software) to facilitate orientation for the process of rehabilitation of amyotrophic lateral sclerosis (ALS) patients. Method:
The elaboration of a product Mibrela (Brazilian Manual Interactive from ALS), a Brazilian software for orientations
to ALS patients, was realized based on a printed manual elaborated previous by the authors from this study and
applied on 114 patients with probably or definitive ALS diagnostic that was assisted in the Occupational Therapy
Service of the Sector of Neuromusculares Disease at UNIFESP. Results: This manual consists in a CD (compact
disk) that is applicable Desktop based on screens. It is necessary just one simple computer without Internet access,
but with some programs inside .NET Framework 1.1 and operation system from Windows 98/ME/2000/XP. Finaly
the program user has 102 options of announces, including pictures, definitions, explanations of some products
Trabalho realizado no Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP.
1. Terapeuta Ocupacional, especializada em doenças reumáticas e neuromusculares pela UNIFESP, responsável pelo Setor de Terapia
Ocupacional do Ambulatório de esclerose lateral amiotrófica da UNIFESP.
2. Professor afiliado da Disciplina de Neurologia da UNIFESP
3. Terapeuta ocupacional especializanda em Terapia Ocupacional em Reabilitação pela UNIFESP.
4. Bacharel em Ciências da Computação.
5. Bacharel em Ciências da Computação.
6. Fisioterapeuta, Mestra em Ciências pela UNIFESP
7. Fisioterapeuta da Disciplina de Neurologia da UNIFESP e Doutora em Ciências pela UNIFESP.
Endereço para correspondência: Rua Pedro de Toledo, 377. CEP:04039-031-Vila Clementino. Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP
E-mail: [email protected]
Trabalho recebido em 16/03/2007 • Revisão: de 15/03/2007 a 14/04/2007 • Aprovado em 15/04/2007 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(46-50)
Neurociências
45
and equipment, orientations and aids during some activities. Conclusion: This software is has the necessary
information to facilitate the orientations about prevention and rehabilitation for ALS patients.
Keywords: Software, Amyotrophic lateral sclerosis, Medical informatics.
Citation: Klein AN, Oliveira ASB, Nakazune SJ, Takizawa MM, Arai JS, Favero FM, Fontes SV. MIBRELA, orientation Brazilian software for amyotrophic lateral sclerosis patients. Rev Neurocienc 2007; 15(1):44-48.
INTRODUÇÃO
Esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença
neurodegenerativa caracterizada por perda progressiva
dos neurônios motores do córtex, do tronco cerebral e
do corno anterior da medula espinal, levando à atrofia
e a fraqueza muscular generalizada1.
A incidência anual é de 2:100.000 pessoas e a prevalência estimada é de 6 por 100.000 habitantes, atinge
mais comumente homens na proporção de 3:2 e com
pico de incidência na quinta década de vida2.
O paciente com ELA é confrontado com uma doença
de origem desconhecida, cura improvável e prognóstico
incerto3. Há, freqüentemente frustração com a rapidez
da perda muscular e o aumento da incapacidade4, havendo necessidade emergente de orientações eficientes
por equipe multiprofissional.
Existem muitos cuidados a serem incluídos no cotidiano desses pacientes como, por exemplo, fazer uso
dos medicamentos prescritos, modificar hábitos em
relação às atividades de vida diária (AVD), ajustar-se
às novas circunstâncias socioeconômicas, enfrentar
conseqüências emocionais e participar de decisões
referentes ao tratamento. Em contrapartida, é responsabilidade do sistema de saúde preparar os pacientes para
estes cuidados, sendo uma das estratégias utilizadas o
investimento na educação dos mesmos5.
A educação em saúde, perante um processo nosológico pode resultar em benefícios sob vários aspectos,
como na melhoria dos sintomas clínicos, na manutenção e adaptação às limitações físicas e funcionais
decorrentes deste e, também no aspecto emocional,
facilitando a aceitação da doença, podendo interferir
favoravelmente no estilo de vida. Além disso, os programas de educação do paciente promovem diminuição
dos custos diretos e indiretos do sistema de saúde, por
meio da redução da necessidade do número de visitas
ao médico e do uso de hospitais5.
No entanto, o método educacional do paciente e
cuidador mais eficiente ainda não está claro5,6. Essas
orientações educacionais são ministradas, geralmente,
por meio de comunicação verbal que, muitas vezes
não são totalmente compreendidas e ou assimiladas.
A informação escrita representa um importante adjuvante neste processo, desde que seja compreendida
de maneira clara pela população-alvo7. O estudo de
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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outras estratégias educacionais que poderiam propiciar um número maior de acesso às informações, nos
diferentes estágios da doença faz-se necessário, para
investigar qual método poderia facilitar maior aderência
às orientações.
Nos últimos anos, o acesso cada vez mais fácil à
internet tem levado os pacientes e familiares a procurar
e obter informações de saúde por esse meio, podendo
este ser uma alternativa interativa8.
A abordagem de uma doença complexa, como a
ELA requer comunicação efetiva para a transmissão
de informação e cuidado de saúde4. Os pacientes são
tratados, geralmente em ambiente ambulatorial e o
tempo de atendimento pode não ser o suficiente para
que as informações sobre a doença e seu manejo sejam
transmitidas por toda equipe multidisciplinar envolvida,
e de maneira eficiente5.
Sendo assim, o objetivo deste estudo é elaborar
uma nova estratégia por meio de um programa de
computador (software) para ministrar orientações preventivas e facilitadoras para o processo de reabilitação
de pacientes com ELA.
MÉTODO
A elaboração do produto MIBRELA (manual interativo brasileiro de esclerose lateral amiotrófica), ou seja,
um software brasileiro de orientações, para pacientes
com esclerose lateral amiotrófica foi realizada a partir
da aplicação de um manual impresso, previamente
elaborado pela própria autora deste estudo, e testado
em 114 pacientes com diagnóstico provável ou definitivo
de esclerose lateral amiotrófica que foram assistidos no
serviço de terapia ocupacional do Setor de Doenças
Neuromusculares da UNIFESP.
Aplicação do manual impresso
O manual impresso contém 47 informações descritivas de técnicas sobre conservação de energia,
indicações de adaptações, orientações do uso adequado de órteses para os membros superiores (MMSS),
mudanças ergonômicas no domicílio e, prescrição de
sistemas de adequação postural.
Estas informações estão organizadas em sete domí-
Neurociências
46
nios, e podem ser assinaladas ou não, pelo terapeuta de
acordo com a necessidade individual de cada paciente:
1) Alimentação: engrossar o talher, entortar o cabo da
colher, elevar o prato para diminuir o ângulo entre a mesa
e a boca, utilizar copo leve de preferência de plástico e
com alça grande, utilizar canudo, recortar uma meia lua
no copo para evitar hiperextensão do pescoço, pregar
dois pregos em uma tábua de madeira para facilitar o
corte de alimentos, deixar todos os objetos necessários
ao alcance da mão; 2) Higiene: elevar o assento do
vaso sanitário, instalar barras de apoio próximo ao vaso
sanitário e dentro do box do chuveiro, utilizar cadeira de
banho higiênica, utilizar escova de dente elétrica, instalar
bidê ou duchas específicas no vaso sanitário, engrossar
escova de dente e aparelho de barbear, alongar e ou
engrossar cabo de pente ou escova de cabelo, sentarse para escovar os dentes ou fazer a barba apoiando
os cotovelos na borda da pia, utilizar um espelho atrás
da torneira, sentar-se para tomar banho - gasto energético é menor, colocar o “espaguete de piscina” na
parte posterior da cadeira de banho, para aumentar
a superfície de apoio do tronco e pescoço, colocar o
sabonete dentro de uma meia calça (recorte de uma
perna) e amarrar no registro do chuveiro ou na cadeira
de banho; 3) Vestuário: colocar “aro de chaveiros” nos
zíperes, substituir botões por velcro, utilizar prolongador
(madeira de 80 cm, “gancho de planta”, imã, calçadeira), utilizar colocador de meia, utilizar duas cadeiras
para auxiliar na colocação e retirada da roupa, iniciar
a retirada e colocação da blusa pelo lado que possui
maior dificuldade, utilizar calçadeira alongada, Substituir
calçados com cadarço por outros modelos; 4) Comunicação: prancheta para escrita, figuras do cotidiano,
adaptador para indicar figura, utilizar apoio de bíblia para
apoiar o livro (almofada, posição de leitura em direção
ao horizonte); 5) Lazer e informática: adaptadores de
teclado e mouse (customizados), utilizar teclado virtual
(programa do próprio computador), aumentar a sensibilidade do teclado (programa de computador), utilizar
apoio de baralho, utilizar mesa regulável e/ou recortada
em meia-lua com apoio para os cotovelos (para diversas
atividades), engrossar ou adaptar caneta e ou pincel,
utilizar adaptador de chave; 6) Posicionamentos: elevar
a cama, sofá ou cadeira, sentar-se próximo à parede
para apoiar a cabeça no travesseiro, utilizar colar cervical
(olhar a indicação das horas), utilizar bolsa, bolsos ou
cadeira para apoio de membros superiores, não deixando os MMSS sem apoio (técnica de proteção articular),
órteses de membros superiores (utilizar duas horas na
parte da manhã, duas horas na parte da tarde, para
dormir a noite toda e, para atividades específicas); 7)
Locomoção (descrição detalhada da locomoção).
A amostra de pacientes que este manual impresso
foi testado é composta por 75 homens e 39 mulheres e,
com média de idade de 56 anos e, a aplicação do mesmo foi realizada em uma sessão de terapia ocupacional
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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(TO) ambulatorial, com base em avaliação funcional
previamente realizada por um único avaliador e, após
três meses foram reavaliados, a fim de verificar se houve
ou não aderência às orientações ministradas.
A verificação da aderência ocorreu com a pergunta
dicotômica de sim ou não para cada um dos itens que
foram orientados individualmente.
Dos 114 pacientes que foram avaliados e receberam as orientações com o manual impresso, 46% não
retornaram para a reavaliação, 54% dos pacientes que
retornaram, e seguiram as orientações do TO, a aderência foi de 93%. Os principais motivos relatados pelos 4%
dos pacientes que não aderiram foram: esquecimentos,
não obtiveram ajuda de cuidadores ou familiares para
colocar em prática alguma orientação ou não consideraram-nas necessárias.
RESULTADOS
Elaboração do Software
Utilizando como base os resultados da aplicabilidade
do manual impresso foi elaborado o produto MIBRELA,
ou seja, o material de orientação impressa foi transformado em um programa de computador com fotos
ilustrativas e legendas explicativas, criando um manual
interativo para pacientes com ELA, seus cuidadores e
para profissionais da saúde que os assistem.
Para criação deste produto foi necessária a colaboração de dois bacharéis em ciência da computação que
através de seus conhecimentos na área de tecnologia
da informação programaram o software.
O MIBRELA é um aplicativo para sistemas operacionais Windows desenvolvido com a linguagem de programação C# (C Sharp) sobre a plataforma Microsoft
.NET. Esta é uma iniciativa da Microsoft que visa uma
plataforma única para desenvolvimento e execução de
sistema e aplicações, assim qualquer código desenvolvido para .NET pode ser executado em qualquer
dispositivo, desde que possua um framework, o .NET
Framework.9
A linguagem C# é uma linguagem de programação
orientada a objetos, baseada nas linguagens C++ e
Java, criada pela Microsoft que permite a construção de
sistema e aplicações para plataforma Microsoft. NET.9
O software
Este manual consiste em um produto do tipo CD
(compact disk) e, trata-se de um aplicativo Desktop
baseado em telas (janelas), sendo necessário somente
um computador simples sem acesso a rede ou internet,
mas com todos os pré-requisitos especifícados por
aqueles que os desenvolveram instalados, sendo eles:
.NET Framework 1.1 e sistema operacional Windows
98/ME/2000/XP9
Neurociências
47
Utilização
Assim que o CD (compact disk) que contém o programa é inserido no computador, há uma página inicial
de instalação do mesmo, por meio do .NET Framework
1.1 para sistema operacional Windows 98//Me/2000/XP.
Após esta etapa, o software pode ser aberto e, uma
página-guia inicial contém as explicações de como o
usuário deve interagir, havendo opção de três janelas:
Na primeira janela (Figura 1) o usuário poderá interagir com seis atividades específicas: alimentação,
higiene, vestuário, comunicação, locomoção e trabalho/lazer. Ao identificar a sua dificuldade na execução
destas tarefas, poderá encontrar diversas soluções e
intervenções mais comumente utilizadas para facilitar
estas ações.
Ao escolher a segunda janela (Figura 2), o usuário
poderá interagir com um homúnculo, e conforme o
mouse é deslocado para determinadas regiões desta
figura humana (pescoço, ombros, mãos e tronco) aparecerá as principais soluções relacionadas ao uso de
diversos tipos de órteses e dispositivos de adequação
postural.
Figura 1. Nesta janela o usuário poderá interagir com seis
domínios (alimentação, higiene, vestuário, comunicação, lazer/
trabalho e locomoção), identificando as principais dificuldades
apresentadas nestas atividades de vida diária.
Figura 2. Nesta página o usuário poderá deslizar o mouse
sobre um homúnculo, escolhendo algumas regiões comumente
acometidas por pacientes com ELA (pescoço, ombros, tronco
e mãos), e assim que clicar sobre a parte do corpo, aparecerá
as principais órteses e dispositivos de adequação postural
utilizadas
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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Já a proposta da terceira janela é apresentar alguns
depoimentos de pacientes que passaram por avaliação
e intervenção de TO e que elaboraram algum tipo de
equipamento, ou técnica facilitadora e, gostariam de
compartilhar este conhecimento inovador com os usuários deste programa.
No total, o usuário do programa tem 102 opções de
interatividade, incluindo fotos, definições, explicações
de determinados produtos e equipamentos, orientações
de cuidados e precauções durante a realização de
alguma atividade entre outros.
DISCUSSÃO
De acordo com a porcentagem de pacientes que
não retornaram para reavaliação trimestral, e com os
que não aderiram ao manual de orientações impresso,
podemos inferir que o uso de um instrumento como o
software poderia ser capaz de reforçar as orientações
realizadas pelo TO, mesmo quando o paciente não
retorna para o acompanhamento ambulatorial. Quanto
aos pacientes que aderiram as orientações propostas
no manual impresso, o software poderia aumentar o
acesso às informações, melhorando a eficiência de sua
utilização no cotidiano.
Há várias hipóteses que justificam um baixo índice
de retorno às consultas ambulatoriais dos pacientes
com ELA como, por exemplo, a dificuldade do sistema
de transporte para o deslocamento do paciente de seu
domicílio até o hospital; há necessidade de acompanhamento de terceiros devido o grau de dependência da
maioria dos pacientes. Estes acompanhantes, muitas
vezes, não podem faltar em seus empregos para acompanhá-los às consultas; muitos pacientes não possuem
um sistema de cadeira de rodas adequado, o que torna
difícil a locomoção destes e, geralmente estas consultas
demandam um longo período nas salas de espera, o
que pode propiciar desconforto aos mesmos.
Estudos realizados em pacientes com doenças
reumatológicas, avaliando o efeito da educação de
pacientes com artrite reumatóide por meio de programa
de computador, mostraram diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos avaliados10. O grupo que
utilizou o computador obteve mais conhecimento do que
o grupo controle, e mostrou-se mais esperançoso diante
do prognóstico da doença e foi capaz de modificar comportamentos, como o de utilizar técnicas de proteção
articular no dia-a-dia. Em outro estudo multicêntrico,
que avaliou a eficácia de um programa de computador
que continha informações sobre osteoartrose e o uso
de medicamento, mostrou que este programa foi capaz
de diminuir significativamente o uso inapropriado do
medicamento, além do aumento da aderência11.
Não foram encontrados, na literatura estudos sobre
educação em saúde para pacientes com ELA utilizan-
Neurociências
48
do-se de programas de computador. Vale ressaltar
que é muito comum pacientes com ELA, devido à
incapacidade física utilizarem computador como um
meio facilitador de comunicação, troca de experiências,
e redução do isolamento12. A tecnologia envolvida em
diversos dispositivos potencializadores de função, para
o uso do computador em pacientes com ELA como, por
exemplo, mouses sensíveis e teclados virtuais tem sido
recomendada e utilizada, o que pode facilitar o uso de
produtos como o manual de informações e ou orientações de cuidados do tipo programas de computador.
rapidamente progressiva, há necessidade de várias
informações específicas de acordo com a fase da doença e, devem ser ministradas em curtos intervalos de
tempo, devendo estas informações serem eficientes e
reforçadas3,4. Sendo assim, transformar o manual impresso em um programa de computador interativo talvez
possa ser uma estratégia vantajosa para orientação de
pacientes com ELA, devendo este ser testado em um
estudo controlado para averiguar seus reais efeitos.
Diversas associações específicas de doenças do
neurônio motor, ao redor do mundo, incluindo a Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABRELA), disponibilizam vários tipos de manuais educativos
impressos para paciente, cuidadores e profissionais.
Na ALS Association13 estes métodos educativos, estão
disponíveis na Internet ou podem ser adquiridos comercialmente em fitas de VHS, mas foram elaborados
em língua estrangeira, o que pode dificultar a utilização
destes pelos pacientes com ELA brasileiros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido a ELA ser uma doença, na maioria dos casos,
Por meio deste software brasileiro, o MIBRELA, as
informações individuais, realizadas no setor de terapia
ocupacional podem ser transmitidas de maneira ilustrativa, aumentando o acesso às medidas facilitadoras,
preventivas e reabilitadoras. Este manual não descarta
a avaliação de terapeuta ocupacional, mas facilita o
conhecimento de sistemas, produtos e equipamentos
customizados ou adquiridos comercialmente com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes
brasileiros com ELA.
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13. Living with ALS Manuals (Endereço na Internet). ALS Association (Atualizado
em: 16/04/2007; Acessado em 24/04/2007). Disponível em:
http://www.alsa.org/resources/manuals.cfm?CFID=3853090&CFTOKEN=9
1316142
Neurociências
49
Artigo de Revisão
Importância das manifestações não motoras da Doença
de Parkinson
Importance of the non-motor manifestations of the Parkinson’s disease.
Egberto Reis Barbosa1, Luciano Magalhães Melo2
RESUMO
A doença de Parkinson (DP) é considerada essencialmente doença motora caracterizada por tremor de repouso, rigidez,
bradicinesia, e distúrbios posturais. Entretanto, complicações não motoras, incluindo distúrbios do humor, ansiedade, fadiga,
apatia, psicose, demência, distúrbios do sono e disfunção autonômica freqüentemente estão presentes nesta moléstia e têm
impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores. O processo degenerativo próprio da DP, drogas
utilizadas no tratamento da DP e reações emocionais frente à doença crônica, são as causas desses sintomas. Nesta revisão
serão abordados as principais manifestações não motoras da DP.
Unitermos: Doença de Parkinson, Demência, Transtornos Psicóticos, Distúrbios do sono.
Citação: Barbosa ER, Melo LM. Importância das manifestações não motoras da Doença de Parkinson. Rev Neurocienc
2007;15(1):49-59.
SUMMARY
Parkinson’s disease (PD) is primarily considered a motor disease characterized by rest tremor, rigidity, bradykinesia and
postural disturbances. However, non-motor complications, including mood and anxiety disorders, fatigue, apathy, psychosis,
dementia, sleep disorders and autonomic dysfunction frequently are present in PD and have a substantial negative impact on
quality of life of the patients and their caregivers. Neurobiological changes of this degenerative disease, drugs for its treatment
and emotional reactions to a disabling chronic disease probably are the most important cause of those symptoms. In this
review the main non-motor manifestations PD are discussed.
Keywords: Parkinson Disease, Dementia, Psychotic Disorders, Sleep disorder.
Citation: Barbosa ER, Melo LM. Importance of the non-motor manifestations of the Parkinson’s disease. Rev Neurocienc
2007;15(1):49-59.
INTRODUÇÃO
Pode-se dividir as manifestações não motoras da
DP em autonômicas (ex: obstipação intestinal, hipotensão ortostática), alterações sensoriais (dores de
diversos tipos), em neuropsiquiátricas (ex: demência e
depressão) e em distúrbios do sono. É importante frisar
que o próprio tratamento da DP pode trazer complicações não motoras. As manifestações não motoras da
doença de DP embora por vezes relegadas a um se-
gundo plano de importância têm considerável impacto
na qualidade de vida dos portadores da moléstia1,2.
Weintraub et al2 ressaltam a necessidade de que se
pesquise sistematicamente a presença de sintomas
não motores em indivíduos com DP, a fim de avaliar de
maneira mais abrangente as limitações ocasionadas
pela moléstia. Em resposta a essa necessidade, foi
validado pelo Multidisciplinary International Parkinson’s
Disease Non Motor Group, o primeiro questionário3 para
Trabalho realizado no Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
1.Professor Livre Docente pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Coordenador
do Grupo de Estudo de Distúrbios do Movimento da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo
2.Médico Neurologista Colaborador do Grupo de Estudo de Distúrbios do Movimento da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Endereço para Correspondência: Dr. Nicolau de Souza Queiros 491 ap 61 -São Paulo-SP, CEP 04105-001
e-mail : [email protected]
Trabalho recebido em27/03/2007 • Revisão: de 28/03/2007 a 11/04/2007 • Aprovado em 12/04/2007 • Conflito de interesses: não
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(51-60)
Neurociências
50
acessar e quantificar a importância que traz os sintomas
não motores na DP. Este questionário de em 30 itens,
abrange os seguintes sintomas não motores da DP:
capacidade de conter salivação, perda de olfato e perda
de paladar, disfagia, constipação, incontinência fecal,
sensação de esvaziamento incompleto de intestino,
urgência miccional, noctúria, dores inexplicáveis, perda
inexplicável de peso, redução de memória, sintomas
depressivos, alucinações, redução de capacidade de
se concentrar, ansiedade, sensação de medo ou pânico, distúrbios sexuais, hipotensão postural, quedas,
sonolência, parassonias, edema de membros inferiores
e suor excessivo.
Em estudo de um grupo de 99 pacientes com DP,
Shulman et al4 constataram que 88 % dos pacientes
apresentavam pelo menos uma manifestação não
motora da moléstia e 11 % dos casos apresentavam
cinco manifestações não motoras, sendo que os itens
incluídos foram: ansiedade, depressão, distúrbios
sensoriais, fadiga e alterações do sono. No presente
artigo de revisão serão abordadas as manifestações
não motoras mais importantes da DP e complicações
do tratamento também não motoras.
Demência
A presença de alterações cognitivas na DP foi ignorada por muito tempo. Porém, sabe-se que déficits
cognitivos eventualmente ocorrem já nas fases iniciais
da DP, sendo que nessas circunstâncias podem não
ser clinicamente aparentes, mas detectáveis apenas
por testes específicos.
O termo demência associada à DP refere-se à demência que se desenvolve pelo menos doze meses
após a instalação das alterações motoras. Quando a
demência surge já nos primeiros doze meses de evolução do quadro motor caracteriza-se quadro clínico
da demência de corpos de Lewy5.
Dentre as alterações cognitivas presentes na DP, a
demência associada à DP é a manifestação mais grave
e a sua presença reduz a sobrevida dos pacientes6. A
demência associada à DP, assim como outras manifestações neuropsiquiátricas associadas a essa moléstia,
também acarreta redução da qualidade de vida dos
pacientes e até mesmo de seus cuidadores7. Além
disso, a demência associada à DP é muito comum,
com prevalência estimada por alguns estudos variando
entre 20 a 40%1,8 e prevalência acumulada podendo
chegar a 80% de acordo com os resultados do estudo
de Aarsland et al9. Vale ressalvar que a média da idade
da população examinada neste estudo era superior
a 70 anos, o que pode ter contribuído para encontrar
prevalência tão alta.
Aarsland et al10 demonstraram que outras manifestações neuropsiquiátricas podem estar associadas à
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demência da DP. Neste estudo os autores mostraram
que 89% de 537 pacientes com demência associada à
DP apresentavam pelo menos um outro sintoma neuropsiquiátrico e 77% sofreram dois ou mais sintomas.
Os sintomas mais comuns foram: depressão (58%),
apatia (54%), ansiedade (49%) e alucinações (44%).
Os pacientes com doença mais grave e depressão
mais acentuada sofreram maior número de sintomas
neuropsiquiátricos associados. De acordo com dados
revelados por este mesmo estudo, aproximadamente
60% dos cuidadores apresentavam pelo menos um sintoma neuropsiquiátrico. Aqueles enfermos com agitação
e psicose obtiveram as menores pontuações no MiniExame do Estado Mental e maiores na escala UPDRS,
e os seus cuidadores apresentavam os piores níveis de
estresse. É importante notar a importância da apatia na
DP, como observado neste estudo. A apatia está mais
relacionada às alterações biológicas da doença do que
à reação psicológica à moléstia. Esta manifestação
está intimamente associada à perda cognitiva11 e não à
depressão, de acordo com os dados de Kirsch-Darrow
et al12 em estudo que comparou apatia em 80 pacientes
com DP e 20 com distonia. Os autores verificaram que
apatia foi mais comum nos parkinsonianos e é independente de depressão.
O risco de desenvolver demência é duas vezes maior
em indivíduos com DP que os controles da mesma idade13. Os fatores de risco mais relevantes para demência
em DP são6,9,14-18: 1) idade avançada; 2) pontuação na
escala de Hoehn & Yahr superior a dois pontos; 3) pontuação no Mini-Exame do Estado Mental inferior a 29; 4)
disfunção cognitiva em domínios que não memória ou
em múltiplos domínios cognitivos; 5) sinais de disfunção
do lobo frontal; 6) Parkinsonismo com predomínio de
bradicinesia ou padrão misto: tremor e bradicinesia; 7)
baixo nível educacional; 8) ser portador de ao menos
um alelo e4 do gene apolipoproteina E (APOE e4) e
especialmente, do alelo e2 (APOE e2); 9) presença de
transtorno cognitivo leve; 10) presença de alucinações
induzidas por agentes dopamingérgicos.
Distúrbios visuoespaciais e lentificação de processos
decisivos são alterações cognitivas isoladas que podem
surgir precocemente na evolução da DP sem que representem à instalação de um quadro demencial. Diferentemente, o quadro demencial na DP instala-se em fases
mais adiantadas da evolução da moléstia e tem como
principais características a lentificação do processo
cognitivo (bradifrenia), a apatia, o comprometimento da
memória e das funções executivas frontais19.
A identificação de alterações cognitivas na DP oferece algumas dificuldades. As funções executivas, que
representam os domínios cognitivos geralmente afetados na DP, habitualmente não são avaliadas em testes
de rotina. São, portanto, necessários testes específicos
para avaliar essas funções que compreendem: formação de conceitos; solução de problemas; capacidade
Neurociências
51
(aptidão) para mudança de padrões; e elaboração de
estratégias.
De acordo com as mais recentes recomendações
da Academia Americana de Neurologia, baseadas na
metanálise de Miyasaki et al20 o Mini-Exame do Estado
Mental e o Exame Cognitivo de Cambridge (Cambridge
Cognitive Examination, CAMCog) são recursos úteis
para rastreamento de demência em pacientes com DP.
Note-se que ambos têm sensibilidade equiparável, mas
o CAMCog é mais específico por ser mais abrangente,
embora requeira tempo maior para sua aplicação. Apesar de ainda não serem muito utilizados e de estarem
fora das recomendações da Academia Americana de
Neurologia, duas outras escalas foram criadas especialmente para serem aplicadas em indivíduos com
DP: a Escala para Resultados de Cognição na Doença
de Parkinson (Scales for Outcomes of Parkinson’s Disease–Cognition, SCOPA-COG)21 e o teste Mini-Mental
Parkinson22. Essas escalas foram elaboradas com devida atenção às peculiaridades das perdas cognitivas
características da DP.
A diferenciação da demência da DP deve ser feita em
relação às seguintes condições: depressão, confusão
mental, demência dos corpos de Lewy e hidrocefalia
de pressão normal23.
Uma importante conseqüência da demência na DP é
a restrição quanto ao uso de drogas antiparkinsonianas,
desde que nessas circunstâncias essas drogas são
muito mais propensas a provocarem efeitos colaterais
neuropsiquiátricos. A implicação clínica decorrente é o
controle precário das dificuldades motoras e uma redução da sobrevida. Dessa forma o manejo do quadro
demencial na DP envolve uma rigorosa seleção dos
antiparkinsonianos a serem empregados, evitando-se
o uso principalmente de fármacos com ação anticolinérgica.
Estudos a respeito do efeito de drogas de ação
colinérgica tais como a rivastigmina, o donezepil e a
galantamina, freqüentemente empregados no tratamento da doença de Alzheimer, sobre as alterações
cognitivas da DP mostraram resultados favoráveis, sem
piora do quadro motor24-26. É importante mencionar que
a rivastigmina foi aprovada pelo FDA e pela ANVISA para
o tratamento da demência associada à DP. De acordo
com as recomendações da Academia Americana de
Neurologia a rivastigmina pode ser usada para o tratamento de demência associada à DP, e o donepezil,
pode ser prescrito com mesma finalidade20.
Ao se avaliar um paciente com DP que apresenta
alterações cognitivas, é importante descartar a presença
de alterações metabólicas e efeitos tóxicos de drogas.
Pioras bruscas podem ter causas de natureza não
degenerativa, como infecção e hematoma subdural.
Depressão também deve ser afastada, pois essa condição pode piorar o desempenho cognitivo.
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(51-60)
Em estudo recente, multicêntrico, duplo-cego,
placebo-controlado, Emre et al27 avaliaram o efeito da
rivastigmina (dose de 3 a12 mg) em 541 pacientes
com DP que apresentavam quadro demencial leve ou
moderado. O período de seguimento foi de 24 semanas
e os autores observaram que os pacientes que receberam rivastigmina comparados com o quadro placebo
apresentaram melhora moderada do quadro demencial,
porém neste grupo houve maior incidência de efeitos
colaterais, dos quais os mais importantes foram: náuseas (29 % no grupo ativo e 11,2 %no grupo placebo),
vômitos (16,6 no grupo ativo e 1,7 % no grupo placebo)
e tremor (10,2 no grupo ativo e 3,9 % no grupo placebo). Apesar da maior ocorrência de tremor no grupo
recebendo rivastigmina não foi constatada diferença
significativa nos escores motores da UPDRS entre o
grupo placebo e o grupo ativo. Uma extensão deste
estudo foi recentemente publicada por Poewe et al28, que
demonstraram que os efeitos benéficos da terapia com
rivastigmina prolongam-se por mais 24 semanas.
Depressão
A depressão é sem dúvida o distúrbio neuropsiquiátrico mais comum na DP. Sua prevalência varia bastante
(4 % - 70 %) nos diferentes estudos, a depender da
metodologia empregada, porém, situa-se em torno de
40 % em pesquisas recentes que utilizaram escalas de
avaliação mais adequadas como a de Beck ou a de
Hamilton29.
Não há uma correlação bem estabelecida entre
depressão e a idade atual do paciente ou a idade do
paciente no início da DP30, embora Starkstein et al31
tenham observado que a depressão foi mais comum e
mais grave em parkinsonianos em que a doença instalou-se mais precocemente (antes de 55 anos de idade).
Não há relação também entre os sintomas depressivos
e a duração da doença, como seria esperado. Vários
estudos demonstraram maior incidência de depressão
entre pacientes de sexo feminino com DP e indivíduos
com história pessoal ou familiar de depressão, têm
mais chance de tornarem-se deprimidos após o início
da DP32.
A depressão parece ser mais comum em pacientes
parkinsonianos em que predominam rigidez e bradicinesia, do que naqueles que apresentam tremor como
sintomatologia principal31. Alguns estudos sugerem
ainda que os pacientes com hemiparkinsonismo direito (disfunção maior no hemisfério cerebral esquerdo),
obtém escores mais altos na escala de avaliação de
Beck, do que aqueles com predominância de sinais no
dimidio esquerdo ou envolvimento bilateral33.
A depressão na DP é caracterizada pelo alto nível
de ansiedade, pessimismo sobre o futuro, tristeza, irritabilidade, preocupação excessiva com saúde, ideação
Neurociências
52
suicida, porém com baixa incidência de suicídio, e, uma
falta relativa de alucinações, idéias delirantes, sentimento de culpa e autocrítica excessiva. Cerca de metade
dos pacientes deprimidos com DP, se enquadram nos
critérios de depressão maior, enquanto a outra metade
apresenta distimia ou depressão leve a moderada34.
Há controvérsias sobre as causas da depressão
na DP. Seria um processo reativo a uma enfermidade
crônica ou mais uma manifestação das anormalidades
neurobiológicas presentes nessa doença29. Os seguintes argumentos favorecem a segunda hipótese: a)
freqüentemente a depressão manifesta-se antes que os
sinais e sintomas motores se instalem, podendo preceder o quadro motor em até vários anos; b) a depressão
é mais prevalente em pacientes com DP do que em
indivíduos portadores de doenças crônicas igualmente
incapacitantes; c) a depressão não está necessariamente correlacionada diretamente com a gravidade
da doença; d) a depressão na DP tem características
próprias (descritas acima).
Algumas características inerentes à DP, contribuem
para dificultar o diagnóstico da depressão associada à
DP. Alguns sintomas são comuns à depressão e à DP,
logo um indivíduo parkinsoniano com apatia, insônia ou
sono excessivo, com perda de peso, talvez não sofra
necessariamente de depressão. Um paciente com face
congelada, voz baixa, lentificado, e com postura curvada
pode parecer deprimido, mas muitas vezes não está. A
depressão pode agravar a lentidão dos pacientes, sem
que esses atribuam tais manifestações a outro problema
que não diretamente a DP35. Face às essas dificuldades,
uma história clínica cuidadosa, exame físico detalhado e
o emprego de questionários específicos, podem auxiliar
no diagnóstico. As escalas recomendadas pela Academia Americana de Neurologia, baseadas na metanálise
de Miyasak et al20 para avaliar a presença de depressão
na DP são: A escala BDI (Beck Depression Inventory), e
a escala HDRS (Hamilton Depression Rating Scale). A
escala MADRS (Montgomery Asberg Depression Rating
Scale) é possivelmente útil para triagem de depressão
associada à DP.
Das drogas comumente utilizadas no tratamento
da DP, a selegilina tem efeito antidepressivo, ainda que
modesto. A levodopa, embora possa melhorar a apatia
e a perda de motivação associadas à disfunção da via
dopaminérgicas meso-fronto-límbica, eventualmente
pode ter efeito depressogênico36. Por outro lado há dados indicativos de que o pramipexol tem efeito positivo
sobre o humor nos parkinsonianos, conforme estudo
recente de Barone et al37. Neste estudo os autores conduziram um ensaio randomizado, aberto, com duração
de 14 semanas com o objetivo de comparar o efeito
sobre a depressão em pacientes com DP de 2 drogas:
a sertralina (dose de 50 mg/dia), droga antidepresiva
de efeito já comprovado e o agonista dopaminérgico
de efeito antiparkinsoniano pramipexol (dose de 1,5 a
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(51-60)
4,5 mg/dia). Participaram do ensaio 7 centros italianos
e nos quais foram recrutados 67 pacientes com DP
e depressão maior mas sem flutuações motoras ou
discinesias. A escalas utilizadas para a avaliação dos
pacientes foram a Hamilton Depression Rating Scale
(HDRS) para depressão e a Unified Parkinson´s Disease
Rating Scale (UPDRS) para aferição das manifestações
motoras da DP. Os pacientes foram considerados recuperados da depressão quando apresentavam escore na
HAM-D igual ou inferior a 8 pontos. Os resultados foram
até certo ponto surpreendentes, pois embora ambos
os tratamentos tenham mostrado queda no escore da
HAM-D a porcentagem de pacientes recuperados com
o pramipexol (60,6%) foi significativamente superior à
dos recuperados com a sertralina (27,3 %).
Em relação ao tratamento convencional da depressão
na DP, embora existam poucos estudos bem controlados
direcionados a esta questão, as diferentes classes de
antidepressivos, podem ter efeito antidepressivo na DP,
incluindo-se os antidepressivos tricíclicos e os inibidores
seletivos da recaptação da serotonina (ISRS): fluoxetina,
paroxetina, sertralina, citalopram e fluvoxamina38 . Porém,
antidepressivos da classe dos ISRS podem agravar o parkinsonismo39. Deve-se considerar ainda que pacientes
em uso da selegilina a introdução dos antidepressivos
acima mencionados implica em risco, ainda que remoto,
de desencadeamento da síndrome serotoninérgica, que
se caracteriza por confusão mental associada a graves
distúrbios autonômicos. A Academia Americana de
Neurologia não recomenda antidepressivo especifico ou
outro tipo de tratamento para a depressão associada à
DP, embora aponte que as maiores evidências de eficácia
são favoráveis a amitriptilina20.
A depressão da DP responde bem à eletroconvulsoterapia, observando-se ainda melhora transitória dos
sintomas motores40. Essa modalidade de tratamento,
entretanto, deve ser reservada a casos de depressão
grave associada à DP, resistente à terapêutica farmacológica. A estimulação magnética transcraniana (EMT)
tem mostrado resultados positivos para tratamento da
depressão primária. Em pacientes com DP e depressão,
Fregni et al41, em estudo comparando EMT e fluoxetina,
observaram resposta positiva e equivalente com as duas
modalidades de tratamento.
Não há estudos conclusivos sobre o efeito de tratamento cirúrgico da DP, sobre o humor dos pacientes,
contudo, são preocupantes os relatos recentes de depressão grave e suicídio após a implantação de eletrodos
em estruturas dos núcleos da base para estimulação
cerebral profunda. Assim, Voon et al42 observaram 2
suicídios (0,5 %) e 7 tentativas (1,7%) em 406 pacientes
submetidos à estimulação do núcleo subtalâmico. Da
mesma forma, Burckard et al43 constataram 5 suicídios
(4 pacientes com DP e 1 com distonia) em 134 pacientes
(3,7%) submetidos à estimulação cerebral profunda para
tratamento de distúrbios do movimento.
Neurociências
53
Fadiga
Assim como outras manifestações não motoras da
DP a fadiga é um sintoma pouco reconhecido pelos
médicos. Esta tem incidência calculada entre 40% a
56 % na PD e tem impacto negativo na qualidade de
vida. Martinez-Martin et al44, demonstram associação
entre fadiga e depressão, enquanto que Alves et al45,
sugerem que a fadiga pode ser sintoma independente
na DP, embora esteja presente como comorbidade
conjunta com outras manifestações não motoras da
DP. Herlofson e Larse46 demonstraram que a presença
de fadiga se correlaciona com pior qualidade de vida
e que parkinsonianos com fadiga tendem a ter maior
comprometimento motor. Lou et al47 demonstraram que
pacientes com DP têm manifestações de fadiga em cinco modalidades: fadiga geral, fadiga física, motivação
reduzida, atividade reduzida e fadiga mental.
Pouco se sabe sobre o tratamento da fadiga, mas
Martinez-Martin et al44 observaram incidência reduzida
de fadiga naqueles que estavam recebendo amantadina. Os agonistas dopaminérgicos foram testados
contra a fadiga e não apresentaram efeito sobre esse
sintoma assim como não se observou correlação entre
sonolência causada por introdução de agonista dopaminérgico e piora de fadiga48. Por sua vez a levodopa
parece reduzir fadiga, como verificado por Lou et al49,
em estudo que focalizou apenas a fadiga física.
Complicações não motoras decorrentes da terapia
antiparkinsoniana.
As alucinações visuais constituem o tipo mais comum de efeito colateral neuropsiquiátrico das drogas
antiparkinsonianas, ocorrendo com freqüência que varia
entre 25 e 40%50. O estudo de Fenelon et al50 mostrou
que apenas 12% dos pacientes referiam espontaneamente alucinações sendo que os demais não relatavam
essas ocorrências por apresentarem comprometimento
cognitivo significativo ou por receio de serem considerados insanos. Portanto esse tipo de efeito colateral
deve ser investigado ativamente pelo médico através
de perguntas feitas aos pacientes ou aos cuidadores.
Estudos longitudinais mostram ainda que numa coorte
de pacientes a prevalência das alucinações aumenta à
medida que o tempo passa podendo atingir cerca de
50% dos casos51.
Embora o termo alucinação associada à DP seja
freqüentemente utilizado para descrever sintomas
relacionados a esta enfermidade o uso é inapropriado
na maioria das vezes, pois os pacientes geralmente
mantém a crítica frente a tais manifestações, percebendo sua natureza irreal e desta forma, o termo alucinose
seria mais adequado.
Tipicamente os pacientes descrevem as manifestações alucinatórias como imagens bem estruturadas,
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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silenciosas de pessoas ou animais. São percebidas
enquanto os pacientes estão alerta e com os olhos abertos, surgem à noite ou no final do dia e persistem por
segundos ou minutos. A crítica comumente permanece
intacta. As imagens, geralmente mal definidas, aparecem sem nenhum fator desencadeante e comumente
movem-se e desaparecem subitamente. Acredita-se
que possa haver uma 2 formas de alucinações. A primeira teria início precoce (inferior a 5,5 anos após inicio
dos sintomas) associada a flutuações motoras e doses
altas de medicação, e a outra associada ao declínio
cognitivo52. Quando as alucinações surgem em doentes
com critica preservada, como regra, não causam medo,
pois os pacientes mantêm sua percepção de que o que
foi visto não é real. Porém alguns pacientes podem ficar
amedrontados quando a percepção do realidade está
comprometida.
Alucinações em outras modalidades sensoriais,
como audição, tato, olfato e gustação são incomuns.
As alucinações por ação de anticolinérgicos podem
ser diferenciadas daquelas que surgem por ação de
drogas dopaminérgicas. Estas ocorrem em geral com
crítica preservada, enquanto que aquelas surgem freqüentemente no contexto de um quadro confusional.
Outra peculiaridade das alucinações precipitadas por
anticolinérgicos é que são mal estruturadas e por vezes
ameaçadoras.
Os delírios são menos comuns que as alucinações e
ocorrem com freqüência que varia de 3 a 17%. São tipicamente paranóides ou persecutórios e freqüentemente
ocorrem em pacientes que já apresentavam alucinações. Todas as modalidades de drogas antiparkinsonianas podem provocar delírios, porém os agonistas
dopaminérgicos e a levodopa são mais freqüentemente
associados a esse tipo de manifestação psiquiátrica, por
vezes denominado psicose levodopa-induzida53.
Os fatores de risco mais relevantes para distúrbios
psicóticos induzidos por drogas antiparkinsonianas são:
idade avançada, distúrbio visual, duração da doença e
sua gravidade, disfunção cognitiva, depressão, distúrbio
do sono, história pregressa de doença psiquiátrica e
exposição a esses medicamentos.
Embora doses elevadas de levodopa e outras
drogas antiparkinsonianas tenham sido associadas a
alucinações em indivíduos com DP suscetíveis, e que a
diminuição de dose de agentes dopaminérgicos possa
fazer desaparecerem as alucinações ou ao menos
reduzi-las, uma relação direta causa-efeito entre droga
especifica e alucinação permanece controversa. Por
outro lado alguns estudos não demonstraram associação entre uso e dose de drogas dopaminérgicas com
risco de desenvolver demência16,26.
Goetz et al54 administraram levodopa em altas doses
em 5 pacientes com DP não demenciados que referiam
alucinações diariamente e nenhum deles apresentou
Neurociências
54
sintoma psicótico. Sanchez-Ramos et al55 demonstraram que alucinações vividas por pacientes com DP
tipicamente iniciam-se após 10 anos de tratamento com
levodopa, são diretamente influenciadas pela dose da
terapia e estão associadas a distúrbios do sono como
sonhos vívidos despertares noturnos.
Em revisão recente Fenelon et al demonstraram
que transtornos psicóticos associados à DP podem fazer parte da história natural da moléstia, especialmente
em contexto de depressão ou síndrome demencial.
56
Ao avaliar paciente com sintomas psicóticos é importante afastar doenças secundárias como uma simples
infecção urinária, e drogas que podem provocar os
sintomas e que não fazem parte do tratamento da DP,
como por exemplo, antidepressivos tricíclicos. Realizada essas considerações, deverão ser retiradas drogas
antiparkinsonianas na seqüência: anticolinérgicos,
amantadina, selegelina e agonistas dopaminérgicos.
Então redução da dose de levodopa e, de inibidores
da enzima catechol-O-metiltransferase (COMT) poderá
ser considerada, observando-se que a adição de inibidores da COMT, enzima que metaboliza a levodopa
no sangue, pode predispor a aparição de alucinações,
por apenas aumentar a biodisponibilidade da levodopa, pois drogas desta classe não causam diretamente
alucinações57. Em alguns casos devera ser admitido o
emprego de neurolépticos atípicos, com baixa afinidade
por receptores D1 e D2, como a clozapina que tem alta
afinidade por receptores D458. O uso da clozapina em
doses de 25 a 50 mg por dia, é o mais efetivo entre os
neurolépticos no controle dos referidos transtornos neuropsiquiátricos e o único que não piora o parkinsonismo59. A restrição ao uso desta droga é a necessidade de
monitoração hematológica já que a mesma pode induzir
agranulocitose. Porém, em estudo recente, Klein et al60
demonstraram que o risco de ocorrência desse tipo de
complicação com o uso da clozapina é muito baixo. A
quetiapina que apresenta alta afinidade por receptores
serotoninérgicos e baixa afinidade por receptores D2,
também pode ser utilizada embora seja menos efetiva
que a clozapina e eventualmente possa agravar o quadro motor da DP. Em estudo retrospectivo Reddy et al61
avaliaram o efeito da quetiapina em pacientes com DP
apresentando quadro psicótico definido como presença
de delírios e alucinações levando substancial impacto
na comunicação e no relacionamento social. Os autores
relataram que a quetiapina em dose média de 54 mg
por dia foi efetiva para o controle completo ou parcial do
quadro psicótico em 81 % dos pacientes e em apenas
13% dos casos constatou-se piora do quadro motor,
sendo que entre este predominavam pacientes com
quadro demencial. Existe uma preocupação a respeito
do aumento de risco de mortalidade relacionado ao uso
de neurolépticos atípicos em pacientes idosos. Portanto,
antes de prescrever drogas desta classe é necessário
avaliar riscos e benefícios com cautela.
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(51-60)
Estudos recentes, embora não controlados e com
limitado número de pacientes, têm demonstrado efeitos
benéficos do emprego da rivastigmina e do donepezil
no tratamento de quadros psicóticos e alucinações
induzidas por medicamentos antiparkinsonianos62, 63.
Embora os transtornos psicóticos sejam os que
mais chamam a atenção, não são as únicas formas
de complicações psiquiátricas que trazem redução da
qualidade de vida para os pacientes com DP. Alterações de humor, aumento de libido e outras distúrbios
de comportamento eventualmente estão presentes em
indivíduos com DP.
A elevação do humor não ocorre em pacientes com
DP não tratada, entretanto, Celesia e Barr64 observaram
euforia em 10% dos pacientes tratados com levodopa.
Goodwin65 relatou uma incidência de 1,5% de hipomania em 908 pacientes tratados com levodopa e em
virtualmente todos aqueles que apresentavam história
de mania antes da instalação da DP. Esses quadros
quando não respondem à redução da dose do antiparkinsoniano, devem ser tratados com carbamazepina
ou valproato.
Pacientes com DP podem apresentar um aumento
da libido coincidente com o início do tratamento ou
aumento das doses de medicamentos. Geralmente
essa melhora da função sexual representa apenas
um retorno à atividade sexual normal, decorrente da
recuperação do desempenho motor e da sensação
de bem estar. Esse ressurgimento do interesse sexual eventualmente pode ser frustrado por impotência
sexual, muitas vezes presente em pacientes com DP
avançada. Mais raramente, contudo, hipersexualidade
e comportamento sexual aberrante podem ser induzidos por agentes dopaminérgicos. Essas alterações
geralmente desaparecem com a redução da dose da
medicação em uso.
Evans e Lees observaram que uma pequena proporção de pacientes com DP sofre de distúrbios motores
e psiquiátricos diretamente atribuídos ao uso excessivo
de drogas dopaminérgicas, superior ao recomendado e
ao necessário para o tratamento adequado66. No consultório, esses pacientes solicitam aumento de doses
de levodopa, reclamam de ineficiência de doses usuais
e aumentam doses de medicações por conta própria
ignorando conselhos médicos. Esses pacientes aparentam não se importar com os malefícios desta prática e
toleram efeitos colaterais de altas doses. Geram assim
um comportamento autodestrutivo, semelhantes ao
visto em viciados em drogas ilícitas. Esta complicação
da terapia é reconhecida como síndrome da desregulação dopaminérgica e não tem terapia especifica com
eficácia comprovada66.
Uso de agonistas dopaminérgicos parece provocar
o vício do jogo patológico em população suscetível. Os
fatores de risco encontrados para esse comportamen-
Neurociências
55
to foram: início de DP em idade mais jovem e história
familiar ou pessoal de abuso de álcool67,68. A dopamina é o neurotransmissor responsável pela sensação
de recompensa, e provavelmente seja essa uma das
causas da síndrome da desregulação dopaminérgica
e jogo patológico.
Distúrbios do Sono
Cerca de 70% do pacientes com DP apresentam
transtornos do sono e cerca de 15% têm sonolência
diurna excessiva. Esses fatores provocam complicações
como cansaço, fadiga, irritabilidade e, portanto, comprometem a qualidade de vida dos parkinsonianos69,70.
Deve ser notado que sonolência excessiva pode até
mesmo provocar acidentes de carro, como demonstraram Hobson et al17, 3,8% de um grupo de pacientes
com DP estudados quanto a este aspecto relatavam
episódios de sono incontrolável dirigiam.
Os distúrbios do sono tornam-se mais freqüentes
em fases mais avançadas da DP, possivelmente porque
a doença torna-se mais grave e assim aumentam as
complicações (motoras ou não), além do que o avanço
da doença é acompanhado por aumento de doses de
medicações e em paralelo, de seus efeitos colaterais71.
Soma-se a isso o fato de que o próprio envelhecimento
provoca alterações na arquitetura de sono e do ciclo
circadiano.
As disfunções motoras provocada pela DP podem
trazer prejuízo ao sono pois a bradicinesia pode impedir que paciente mude de posição na cama durante a
noite. A presença de tremor e rigidez também podem
comprometer o conforto, assim como distonia e discinesias provocadas pelo tratamento. Porém outras
complicações como as psiquiátricas (alucinações,
ilusões, demência, sonhos vívidos, pesadelos, depressão, ataques de pânico), as autonômicas (noctúria),
dor e efeito adverso de drogas podem contribuir para
alterações do sono.
Distúrbio comportamental da fase de movimentos
oculares rápidos do sono (fase REM), síndrome das
pernas inquietas e movimentos periódicos dos membros são mais freqüentes na DP do que na população
em geral e parecem estar relacionados às alterações
neurobiológicas da DP. Insônia e sono fragmentado são
usuais na DP e provavelmente dependem de distúrbio
primário de sono embutido na progressão da doença
ou desenvolvem-se como complicação da terapia72.
O distúrbio comportamental do sono REM é caracterizado por movimentos bruscos durante o sono REM
que por vezes pode causam incômodo ou mesmo
ferimentos ao cônjuge ou ao próprio paciente, e por
atividade motora durante período de sono que deveria
corresponder à atonia da fase REM. É um distúrbio freqüente e compromete cerca de 20% dos pacientes com
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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DP69. O tratamento é simples e se baseia em pequenas
doses de clonazepam.
Embora alguns autores admitam uma relação entre
síndrome das pernas inquietas e DP, ainda existem
controvérsias sobre esse tema73. A síndrome das pernas
inquietas pode estar correlacionada com neuropatia
periférica, anemia, e geralmente é tratada com agonistas dopaminérgicos ou levodopa, administrados na
hora de dormir.
Drogas como selegilina e amantadina e altas doses
de levodopa podem causar insônia.
Sonolência diurna excessiva tem etiologia multifatorial. Dificuldade em manter o sono ou em iniciá-lo,
decorrente das possíveis alterações relacionadas à
DP, podem ser uma das causas e o efeito residual de
sedativos (como benzodiazepinicos e antidepressivos)
é capaz de proporcionar sonolência diurna. Todos os
agentes dopaminérgicos podem potencializar a sonolência excessiva. Alguns dos afetados têm apenas sonolência enquanto que outros sofrem de ataques de sono
incontroláveis. Paus et al74 estimaram que cerca de 1%
dos pacientes com DP podem sofrer desses ataques,
sem sinais de alerta prévio ou sonolência precedente.
Arnulf et al75 sugerem que sono excessivo e ataques
repentinos de sono podem ser gerados pela alterações
neurobiológicas próprias da DP.
Ansiedade e Transtorno Obssessivo-Compulsivo
na Doença de Parkinson
A prevalência de ansiedade na DP varia entre 5% a
40% e é maior que na população em geral76,77. Eventualmente a ansiedade pode apresentar-se sob formas graves como ataques de pânico, ansiedade generalizada
e distúrbios fóbicos. Sintomas somáticos como falta de
ar, desconforto toráxico, dor abdominal e tonturas, entre
outros, podem ocorrer, assim como medo incontrolável
de institucionalização, de perder a sanidade mental
ou de morrer. A causa de ansiedade na DP ainda não
foi definida mas parece ser uma reação psicológica à
doença embora não se possa descartar a possibilidade
de estar relacionada a modificações neuroquímicas
causadas pelo processo degenerativo da DP, que leva
a uma redução progressiva de dopamina, serotonina,
e noradrenalina.
É fato bastante conhecido que a ansiedade é um
fator precipitante de piora das manifestações motoras
da DP, particularmente do tremor. O tratamento da
ansiedade na DP, quando necessário é feito através do
emprego dos ansiolíticos usuais, com a ressalva de que
essas drogas podem piorar a instabilidade postural e
a confusão mental, caso presentes. Pelo fato de haver
coexistência de ansiedade e depressão, frente a um
paciente com ansiedade, depressão devera ser pron-
Neurociências
56
tamente investigada. O emprego de antidepressivos
pode reduzir os níveis de ansiedade.
Comportamentos repetitivos têm sido descritos sob
diversos diagnósticos na DP. O transtorno obssessivocompulsivo (TOC) pode ser observado em diversas
doenças dos núcleos da base, inclusive na DP. A literatura sobre sintomas obssessivos-compulsivos na DP é
contraditória. Alguns estudos evidenciam associação
positiva com DP e outros mostram resultado contrário78,79. Em pacientes com DP que apresentam TOC,
o tratamento segue as mesmas linhas terapêuticas
utilizadas para o TOC primário.
Distúrbios autonômicos
Embora parkinsonismo associado a alterações
autonômicas sugira diagnóstico de atrofia de múltiplos
sistemas, pacientes com DP comumente apresentam
algum tipo comprometimento autonômico, sendo que
essas alterações tornam-se mais evidentes com o
avançar da doença. É importante valorizar a idéia que
ao avaliar um paciente com DP e com queixas referentes
à disautonomia, doenças não correlacionadas à DP deverão ser afastadas, pois os parkinsonianos geralmente
têm idade avançada, período em que comorbidades
podem ocorrer.
Vários tipos de transtornos autonômicos podem
estar presentes e a seguir descrevemos os mais importantes80.
a) Hipotensão Ortostática: pode surgir por disfunções autonômicas periféricas ou centrais. A causa é
degeneração neuronal e corpos de Lewy acometendo o
sistema nervoso autonômico periférico e central. Pacientes com DP e disautonomia frequentemente têm pressão
arterial elevada na posição supina, o que pode levar ao
diagnóstico errôneo de hipertensão arterial sistêmica.
Neste caso o uso de anti-hipertensivos pode piorar
os sintomas. Vários medicamentos, incluindo drogas
antiparkinsonianas podem também provocar queda
de pressão. A avaliação de pacientes com hipertensão
ortostática deve levar em consideração todas as medicações em uso. A redução de doses ou a suspensão
de certas drogas podem trazer benefícios ao paciente.
O tratamento pode conter medidas não farmacológicas
como uso de meias elásticas, dormir com cabeceira
elevada e aumento de ingesta de sal. Uso de drogas
como fludrocortisona e midrodine podem ser considerados, caso as medidas iniciais falhem.
b) Distúrbios do trato gastrointestinal: a constipação é uma queixa comum e pode ser decorrente da
DP ou de efeito de medicações como anticolinérgicos. O
tratamento requer afastar efeitos indesejáveis de drogas
suspendendo certas medicações, mudança de dieta,
exercícios e eventualmente o emprego de laxativos.
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(51-60)
Disfagia é outro problema comum, e afeta pacientes
com tempo maior de evolução da doença e em idade
mais avançada. Atendimento fonoaudiólogo e mudança
de consistência de dieta são medidas terapêuticas que
auxiliam o tratamento. Em casos avançados a gastrostomia pode ser indicada.
c) Distúrbios urológicos: noctúria tende a ser o primeiro sintoma urológico e o mais comum em pacientes
com DP. È seguido por outros como urgência miccional
e dificuldade em iniciar micção. Avaliação urológica
é importante, pois os sintomas não necessariamente
decorrem da DP, e, portanto, moléstias primariamente
urológicas devem ser sempre descartadas. Teste urodinâmico pode auxiliar o diagnóstico. Oxibutinina pode
ser prescrita como terapêutica.
d) Distúrbios sexuais: dificuldades em iniciar
ereção e em mantê-la são problemas comumente
relatados por homens afetados pela DP. As mulheres,
por sua vez, têm risco de não mais atingir orgasmo.
Drogas dopaminérgicas podem aumentar libido e de
certa forma, encontram minimizar essa disfunção. Entretanto, existe o risco de causarem hipersexualidade.
O uso de sildenafil traz benefícios para impotência em
certos casos, quando a administração de agente dopaminérgico falha.
e) Sudorese: alguns parkinsonianos têm sudorese
excessiva enquanto que outros, em número menor, sofrem de hipohidrose. Sudorese excessiva pode ocorrer
em períodos off, em pacientes com flutuações motoras
associadas à terapia dopaminérgica.
Distúrbios da sensibilidade
Dor acompanha cerca de 50% dos pacientes com
DP e é geralmente inespecífica. Sintomas dolorosos
por vezes são associados à distonia de fim de dose
de levodopa. É interessante notar que a queixa de dor
freqüentemente surge nos períodos off. Sendo assim,
otimização de terapêutica antiparkinsoniana faz parte
da terapêutica da dor, assim como a atividade física
regular.
Flutuações não motoras
Uma grande parte dos pacientes com DP que estão
sob tratamento com levodopa, desenvolvem uma complicação da terapêutica que são as flutuações motoras,
como exemplos podem ser citados as discinesias e o
fenômeno wearing-off (deterioração de fim de dose)
Foi estimado que cerca de dois terços dos pacientes
com flutuações motoras sofrem também de flutuações
no humor81. Essas modificações do humor podem
acontecer várias vezes ao dia, variando de deprimido/
suícida para eufórico e hipomaniaco. Essas flutuações
Neurociências
57
podem ser tão incapacitantes quanto às flutuações
motoras82. Richard et al83 demonstraram que flutuações
de humor podem surgir em indivíduos sem flutuações
motoras e que ansiedade pode surgir nos períodos off,
coincidindo freqüentemente (mas nem sempre) com
piora de humor.
Witjas et al84 demonstraram que todos os pacientes
que participaram do estudo e que sofriam flutuações
motoras, também lidavam com flutuações não mo-
Quadro 1- Doença de Parkinson
Manifestações Neuropsiquiátricas
•
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Alterações Cognitivas / Demência
Depressão
Distúrbios do Sono
Alucinações / Delírio / Delirium
Mania / Hipomania
Hipersexualidade
Ansiedade / Crises de Pânico
Transtorno Obsessivo Compulsivo
toras. Neste estudo, ansiedade, sudorese excessiva,
lentificação do pensamento, fadiga e acatisia foram os
mais proeminentes sintomas de flutuações não motoras.
Stacy et al85 também demonstraram a importância das
flutuações não motoras, ao verificar que manifestações
não motoras podem predominar em relação às motoras. Alguns sintomas de wearing off pouco estudados
também comprometem a vida dos parkinsonianos como
dificuldade em iniciar micção e dor.
Quadro 2-Alterações Psiquiátricas Relacionadas
a Drogas Antiparkinsonianas
Tratamento
Farmacológico
da DP
Levodopa
Distúrbios
Psiquiátricos
Sonhos Vividos
Transtornos
do Sono
Sonambulismo
Alucinações
(30-60%)
Quadro 3: Condutas em Distúrbios
Psiquiátricos Relacionadas a Drogas
Antiparkinsonianas
Retirar Anticolinérgicos, Amantadina, Selegelina
e Agonistas Dopaminérgicos
Diminuir Levodopa
Associar Neurolépticos Atípicos:
Quetiapina, Clozapina e Olanzapina
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(51-60)
Anticolinérgicos
Amantadina
Agonistas Dopaminérgicos
Selegelina
Delírios
(3-17%)
Estado
Quadro
Confusional
Neurociências
58
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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Neurociências
60
Artigo de Revisão
Testes utilizados para avaliação respiratória nas doenças
neuromusculares
Tests used to evaluate respiratory function in neuromuscular diseases
Natasha Nicholson de Santa Maria1, Erica Marques Zanelli1, Marina Brito Silva1, Sabrina Kyoko de
Paula Asa1, Francis Meire Fávero2, Marcia Maiumi Fukujima3, Acary Souza Bulle Oliveira4, Sissy
Veloso Fontes5.
RESUMO
O objetivo deste estudo consiste em identificar e caracterizar os principais testes utilizados na avaliação da função pulmonar de pacientes com doenças neuromusculares citados em artigos científicos publicados nos últimos 40 anos. Utilizou-se
de revisão bibliográfica incluindo estudos publicados nos anos de 1965 a 2005 encontrados nas bases de dados MEDLINE,
PUBMED, EMBASE, LILACS e SCIELO que utilizaram descritores na língua portuguesa (doenças neuromusculares, espirometria, capacidade vital, valores de referência) e na inglesa (neuromuscular disease, spirometry, vital capacity reference values).
Foram encontrados 9 testes subdivididos em medidas, valores de referência e utilidade. Os testes citados foram: testes de
função pulmonar que incluem medidas espirométricas, utilizados para avaliar volumes pulmonares, presença de obstrução
de vias aéreas, sinais de fraqueza e fadiga dos músculos respiratórios; testes que avaliam a força dos músculos respiratórios,
utilizados para avaliar a força dos músculos respiratórios e a atividade diafragmática isolada; teste que avalia a atividade elétrica
de nervos, junção neuromuscular e músculos relacionados a respiração; testes que avaliam o limiar de fadiga dos músculos
respiratórios; teste que avalia o grau de relaxamento dos músculos respiratórios, utilizado para analisar a recuperação muscular; testes que avaliam a eficácia da tosse; análise da concentração de gases arteriais, capnografia e oximetria de pulso,
utilizadas para avaliar principalmente retenção de CO2 e presença de hipoxemia durante o sono, respectivamente.
Unitermos: Doenças neuromusculares, Fisioterapia, Espirometria, Capacidade vital, Valores de referência.
Citação: Maria NNS, Zanelli EM, Silva MB, Asa SKP, Fávero FM, Fukujima MM, Oliveira ASB, Fontes SV. Testes utilizados
para avaliação respiratória nas doenças neuromusculares. Rev Neurocienc 2007; 15(1):60-69.
SUMMARY
The aim of the present study was to identify and analyze the main tests used in the pulmonary function assessment of
patients with neuromuscular diseases presented in published articles in the last 40 years. We searched the published articles
from 1965 to 2005, in the databases MEDLINE, PUBMED, EMBASES, LILACS, and SCIELO that used keywords in Portuguese
and in English (neuromuscular disease, spirometry, vital capacity reference values). We found 9 tests related to pulmonaty
function, subdivided in measures, values of reference, and utility. The cited tests were: tests for pulmonary function that includes
measured spirometric, they were used to assess pulmonary volumes, presence of airway obstruction, signals of weakness of
the respiratory muscles and endurance; tests for respiratory muscles strength, they were used to assess the force of inspiratory
Trabalho realizado no Setor de Investigação de Doenças Neuromusculares da Disciplina de Neurologia Clínica da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP)
1. Fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein, Especialista em Intervenção Fisioterapêutica nas Doenças Neuromusculares
pela UNIFESP.
2. Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências pela UNIFESP, Coordenadora do Curso de Especialização em Intervenção Fisioterapêutica
nas Doenças Neuromusculares da UNIFESP.
3. Neurologista da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da UNIFESP, Doutora em Ciências pela
UNIFESP.
4. Neurologista, Professor Filiado da Disciplina de Neurologia da UNIFESP.
5 Fisioterapeuta da Disciplina de Neurologia da UNIFESP, Educadora Física e Doutora em Ciências pela UNIFESP.
Endereço para correspondência: Sissy Veloso Fontes, R: Francisco Tapajós, 513 apto. 122, Vila Santo Estéfano – CEP: 04153001 -São Paulo, SP.
E-mail: [email protected]
Trabalho recebido em 26/04/2006 • Revisão: de 27/04/2006 a 18/07/2006 • Aprovado em 19/07/2006 • Conflito de interesses: não
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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Neurociências
61
and expiratory muscles or diaphragmatic activity; test for electric activity of nerves, neuromuscular junction, and muscles; tests
for respiratory muscles threshold fatigue; tests for relaxation degree of respiratory muscles, they were used to assess muscular
recovery; tests for effectiveness of the cough; analysis of the arterial gases concentration, capnografy, and pulse oximetry they
were used to assess Co2 retention and presence of hypoxemia during sleep, respectively.
Keywords: Neuromuscular diseases, Physical therapy, Spirometry, Vital capacity, Reference values.
Citation: Maria NNS, Zanelli EM, Silva MB, Asa SKP, Fávero FM, Fukujima MM, Oliveira ASB, Fontes SV. Tests used to
evaluate respiratory function in neuromusculares diseases. Rev Neurocienc 2007; 15(1):60-69.
INTRODUÇÃO
As doenças neuromusculares (DNM) compreendem
o acometimento de estruturas como: neurônio motor
inferior, nervo periférico, junção mioneural e músculo
estriado esquelético. Sendo assim, as manifestações
clínicas variam e, são dependentes da estrutura neuroanatômica acometida1.
A fraqueza dos músculos respiratórios é freqüente
nas doenças neuromusculares (DNM) e está associada
diretamente a morbidade e mortalidade destes pacientes2-4. As DNM mais comuns que causam fraqueza dos
músculos respiratórios e/ou falência respiratória são:
miastenia grave, síndrome de Guillan Barré, poliomielite, distrofia muscular de Duchenne e esclerose lateral
amiotrófica2.
O comprometimento dos grupos musculares respiratórios traz, como conseqüências a hipoventilação
associada à retenção de muco brônquico, podendo
evoluir para atelectasia e predisposição a infecções
respiratórias de repetição. Estas complicações respiratórias interferem na condição clínica geral destes
pacientes e, podem levar à fadiga e piora da fraqueza
muscular generalizada5.
O grau de disfunção muscular respiratória varia
entre as diversas DNM e podem causar sintomas
que vão da dispnéia aos esforços até o desconforto
respiratório grave. Podemos encontrar pacientes com
DNM crônica sem sintomas respiratórios, porém com
fraqueza muscular respiratória evidente6. Além disso, o
comprometimento respiratório também varia de acordo
com a postura adotada como, por exemplo, sentada,
decúbito dorsal ou decúbito lateral7.
A avaliação freqüente da função pulmonar destes
pacientes é importante para eleger as melhores opções
terapêuticas, de maneira a evitar a falência respiratória
precoce e, maximizar a sobrevida destes pacientes8,9.
O conjunto de sinais e sintomas clínicos relacionados à função respiratória é freqüentemente e, primariamente investigado durante a anamnese e exame
físico, antes da solicitação de exames e ou testes
subsidiários.
A maioria dos pacientes com DNM apresenta
fraqueza dos músculos estriados esqueléticos apendiculares antes dos músculos respiratórios sendo,
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(61-70)
em poucos casos, o comprometimento respiratório, a
queixa ou sintoma primário9.
A dispnéia nas DNM evolui de maneira lenta e insidiosa caracterizada, inicialmente pela hipoventilação
noturna, principalmente durante o sono REM e na posição supina. Portanto, é de fundamental importância que
o examinador atente para os sinais de hipoventilação
noturna: distúrbio do sono com despertar freqüente
ou insônia, roncos, asfixia e ou sensação de sufocar
mesmo na ausência de queixa de dispnéia. A ortopnéia,
dispnéia ou piora do padrão respiratório em posição supina é uma queixa freqüente de pacientes com extrema
fraqueza do diafragma. Neste caso, o paciente refere
que só consegue dormir com mais de um travesseiro
sob a cabeça. Com um sono ineficaz, os pacientes
queixam-se de hipersonolência diurna, indisposição,
depressão, dor de cabeça pela manhã, perda de memória, sensação de cansaço, fadiga e apresentam uma
aparência extremamente exausta10.
Estes relatos podem estar acompanhados por redução do apetite e rápida perda de peso. Pode ocorrer
distúrbio de deglutição associado à disfunção pulmonar. Pacientes e cuidadores notam tosse e engasgos
freqüentes durante a deglutição, o que indica aspiração
ou microaspiração11.
A fraqueza dos músculos respiratórios primários
aumenta o uso da musculatura respiratória coadjuvante
como, os esternocleidomastóideos e escalenos. O uso
desta musculatura indica que a carga sobre os músculos respiratórios é maior que sua capacidade de contração9,10. Se a fraqueza muscular respiratória progredir,
segue-se o aparecimento de respiração paradoxal, a
mais típica alteração do exame físico, sendo este um
sinal de fraqueza diafragmática importante11.
A perda da força muscular progressiva pode levar à
alteração da caixa torácica e coluna vertebral. A escoliose, hipercifose, cifoescoliose e retração esternal2,6
são alterações freqüentes que, em associação com a
perda de força muscular respiratória causa diminuição
da expansibilidade da caixa torácica e aumento do
trabalho respiratório2,5,6,11.
A anamnese e exame físico são pouco sensíveis e
específicos para quantificar o comprometimento dos
músculos respiratórios, porque alterações do exame
físico só aparecem quando a força muscular é menor
Neurociências
62
do que 25% do normal4. Pacientes com com esclerose
lateral amiotrófica (ELA) com capacidade vital forçada
menor que 30% do predito, podem não apresentar
sintomas de dispnéia12. Portanto, os sintomas de dispnéia não são suficientes para identificar e caracterizar
as disfunções pulmonares nestes casos, o que torna
necessário a utilização de exames subsidiários nos
casos de DNM12.
vida e, experimentos com animais.
Dentre os exames subsidiários destacam-se os exames de imagem, como o raio-x de tórax e o ultra-som de
tórax. Estes exames corroboram em relação à dinâmica
ventilatória, mas não são sensíveis o suficiente para
predizer o grau de disfunção muscular respiratória13.
RESULTADOS
Além destes exames, existem diversos testes utilizados para avaliação da função pulmonar de pacientes
com DNM. Estes objetivam identificar e ou quantificar
a gravidade da fraqueza dos músculos respiratórios, o
comprometimento da troca gasosa, a capacidade de
manter o claerence pulmonar; permitem estabelecer a
causa de dispnéia e a presença de fadiga; determinam
o momento adequado para inserir a ventilação mecânica
pulmonar não invasiva e, fornecem informação sobre a
função pulmonar do paciente para suportar, se necessário um procedimento cirúrgico.
O conhecimento e aplicação destes testes na prática
clínica são de fundamental importância para fornecer a
assistência adequada. Sendo assim, o objetivo deste
estudo consiste em identificar e caracterizar os principais testes utilizados na avaliação da função pulmonar
de pacientes com doenças neuromusculares citados em
artigos científicos publicados nos últimos 40 anos.
MÉTODO
Para identificação e caracterização dos testes
utilizados na avaliação da respiração de pacientes
com doenças neuromusculares, utilizou-se de revisão
bibliográfica incluindo artigos científicos publicados nos
anos de 1965 a 2005 encontrados nas bases de dados
MEDLINE, PUBMED, EMBASE, SCIELO e LILACS que
utilizaram descritores na língua portuguesa (doenças
neuromusculares, espirometria, capacidade vital, valores de referência) e na inglesa (neuromuscular disease,
spirometry, vital capacity, reference values) e por busca
manual das referências citadas nos artigos encontrados. A estratégia de busca utilizada tanto na MEDLINE
quanto na SCIELO foi: descritor de assunto=”doenças
neuromusculares” AND Aspectos = Uso diagnóstico
(/DU) AND Espécie = Humanos. Na PUBMED foi:
neuromuscular disease, meansurement AND limits =
humans. E na EMBASE foi: “neuromuscular disease”
/exp OR ‘neuromuscular disease’ AND measurement
AND [humans] / lim 1965 a 2005.
Foram excluídos os estudos que utilizaram instrumentos de avaliação da função motora, qualidade de
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(61-70)
Após a seleção dos artigos que preenchiam os critérios de inclusão, foram extraídas informações referentes
aos testes de função pulmonar utilizados e descritos e
estes foram tabulados segundo o tipo de teste, medidas,
valores de referência e utilidade.
Foram encontrados 56 artigos científicos que citavam um ou vários tipos de testes para avaliação da
função pulmonar de pacientes com DNM. Destes foram
excluídos 38 devido não incluírem adequadamente a
descrição e ou a utilidade dos testes citados, ou devido
os testes terem sido utilizados para confirmar indicação
de ventilação mecânica e ou para indicar gastrostomia.
Os 18 artigos incluídos reportaram no total 9 testes de
avaliação da função pulmonar. Os dados relativos a
cada teste foram extraídos e expressos segundo as
medidas, valores de referência e utilidade (Tabela 1).
DISCUSSÃO
A falta de especificidade e sensibilidade da anamnese, do exame físico e dos testes subsidiários mostra a
necessidade de testes que identificam e quantificam o
grau de disfunção ventilatória de pacientes com DNM.
Os diferentes testes encontrados na literatura podem
ser agrupados em testes de: função pulmonar (espirometria); força dos músculos respiratórios e atividade
diafragmática isolada; atividade elétrica de nervos,
junção neuromuscular e músculos; fadiga dos músculos respiratórios; eficácia da tosse; e gases arteriais,
principalmente durante o sono.
Os testes citados na literatura, como os mais eficazes
em predizer a fraqueza dos músculos respiratórios, são
as medidas invasivas (pressões esofágica, gástrica e
transdiafragmática), pois traduzem, exclusivamente o
gradiente de pressão dos músculos respiratórios. Os
menos invasivos, como a espirometria e a avaliação
indireta da força muscular respiratória (pressões inspiratórias e expiratórias máximas) refletem todas as forças
envolvidas na mecânica ventilatória.
As medidas durante uma manobra nasal podem
ser mais fidedignas em se tratando de pacientes com
DNM, principalmente na presença de comprometimento bulbar, pois a fraqueza dos músculos orofaríngeos
prejudicam o resultado de alguns testes.
Testes de Função Pulmonar (espirometria)
Os testes de função pulmonar consistem em medidas da quantidade de ar inspirado e expirado expressa
em litros, que avaliam a capacidade pulmonar em mover
Neurociências
63
Tabela 1. Tabulação dos testes utilizados para avaliação da função pulmonar em pacientes com DNM segundo o tipo, medidas,
valores de referência e utilidade.
Tipo de teste
Medidas
Espirometria
Valores de Referência (Adulto)
Utilidade
H
M
CVF
Estatura x 0,059 – idade x
0,0229 – 4,569
Estatura x 0,0433 - idade x
0,0164 – 2,967
Avaliar volumes pulmonares18
VEF1
Estatura x 0,0473 – idade x Estatura x 0,0338 – idade x
0,0281 – 3,145
0,0210 – 1,782
Avaliar obstrução pulmonar18
VEF1/CVF
- log idade x 0,1198 + 4,854 4,8707-log idade x 0,1212
Determinar o comprometimento pulmonar18
FEF25-75%
log estatura x 2,0020 – log log estatura x 1,2843 – log
idade x 0,6977-0,3279
idade x 0,6546-0,30208
Obstrução de VAS mais proximais18
FEF75-85%
log estatura x 2,2537– log
idade x 1,164 – 7,2889
log estatura x 2,0786– log
idade x 1,2686 – 6,1431
Curvas fluxo-volume
____
____
VVM
Manobra Oral: PImáx
PEmáx
>10 L/min
>10 L/min
Fraqueza dos músculos respiratórios15,26,27
Teste de esforço16
-60cmH2O
-60cmH2O
Avalia força muscular inspiratória15,32
90 cmH2O
90 cmH2O
Avalia força muscular expiratória15
-70 cmH2O
-60 cmH2O
Avalia força muscular inspiratória15
-80cmH2O
-70 cmH2O
Avalia a força muscular inspiratória13
100cmH2O
80 cmH2O
Avalia força muscular diafragmática15
Pdi
10 cmH2O
10 cmH2O
Gold standart - força diafragmática 30,34
∆Pga / ∆Pdi
+
+
Respiração paradoxal/atividade diafragmática 35
Pdi durante EEM do nervo
frênico
8.8-33 cmH2O
8.8-33 cmH2O
Atividade muscular diafragmática13,15
Pdi durante EM do nervo
frênico
20 cmH2O
20 cmH2O
Avalia atividade muscular respiratória15,36
_______
_______
Nervos, JNM intrínseca dos músculos37
> 0.15
> 0.15
Limiar de fadiga muscular respiratória38
Pdi/Pdimáx
≥ 0.4
≥ 0.4
Limiar de fadiga muscular respiratória38
Diminuição da Pdi
_______
_______
Analisa a recuperação muscular 39
PFE
>160 l/min
>160 l/min
Avaliar a eficácia da tosse40
PFT
>100 l/min
>100 l/min
Pga durante tosse
>160cmH2O
>120cmH2O
Avaliar a eficácia da tosse40
Medida não volátil da eficácia da
tosse15,41
PaCO2
<45mmHg
<45mmHg
Avaliar concentração de CO2 arterial43
PaO2
>80mmHg
>80mmHg
Avaliar concentração de O2 arterial42,43
SatO2
>90%
>90%
Capnografia
PetCO2-PaCO2
<10mmHg
<10mmHg
Oximetria de pulso
SapO2
<80%
<80%
Manobra nasal: Pnas,sn
Pes,sn
Pdi,sn
Força muscular respiratória
Atividade neuromus- EMG dos músculos respiratórios
cular
Fadiga muscular
TTdi
respiratória
Relaxamento do
diafragma
Eficácia da tosse
Gasometria arterial
Obstrução de VAS mais distais18
Avaliar saturação de O2 da hemoglobina42,43
Avaliar retenção de CO2 durante o
sono 44,46
Avaliar hipoxemia durante o sono44,46
CVF- capacidade vital forçada; VEF1- volume expiratório forçado no primeiro segundo; FEF 25-75%, 75-85%, 50% fluxo expiratório forçado em 25
à 75 %, 75 à 85% e 50% da curva de fluxo expiratório; TEF25-75% tempo expiratório em 25 à 75% da curva de fluxo; VVM – ventilação voluntária
máxima; PImax e PEmax pressão inspiratória e expiratória máximas, Pnmax – pressão nasal máxima; Pneso – pressão nasal esofágica; Pndi – pressão
transdiafragmática durante uma manobra nasal; Pdi – pressão transdiafragmática; ∆Pga / ∆Pdi - índice de Gilbert; EEM do nervo frênico - estimulação
elétrica magnética do nervo frênico; EM do nervo frênico – estimulação magnética do nervo frênico; EMG dos músculos respiratórios – eletromiografia
dos músculos respiratórios; TTdi - Índice Tensão-Tempo; Pdi/Pdimáx - pressão transdiafragmatica para realizar um dado volume corrente (Pdi) sobre
a pressão transdiafragmática em uma inspiração máxima (Pdimáx); PFE – pico de fluxo expiratório; PFT – pico de fluxo de tosse; PaCO2 – pressão
parcial arterial de oxigênio; PaO2 – pressão parcial arterial de dióxido de carbono; SatO2 – saturação arterial de oxigênio; PetCO2-PaCO2 - diferença
entre PaCO2 e PetCO2; SapO2 – saturação de pulso de oxigênio, L= litros, L/S= litros por segundo.
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(61-70)
Neurociências
64
rapidamente grandes quantidades de ar e presença de
obstrução de vias aéreas14. Estes incluem as seguintes medidas: capacidade vital forçada (CVF), volume
expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), fluxo
expiratório forçado em 25 a 75 % e, 75 a 85% da curva
de fluxo expiratório (FEF25-75%, FEF75-85%)15.
A alteração da função pulmonar nas DNM é causada
basicamente por redução da capacidade de expandir
a caixa torácica, gerando menor pressão negativa necessária para produzir fluxo inspiratório e, conseqüente
redução das propriedades viscoelásticas do pulmão10,11.
Este mecanismo caracteriza um padrão restritivo nos
testes de função pulmonar5,6,9. Sendo assim, o desvio
da curva de pressão-volume para a direita e para baixo
em altos volumes pulmonares indica redução da complacência pulmonar16.
Os valores obtidos com a espirometria são interpretados através da comparação com valores estudados
em amostra selecionada de uma determinada população de referência17. Estes valores são baseados em
modelos de regressão linear que permitem a formulação
de equações para idade, sexo, peso, altura16-22. Muitas
equações de referência foram propostas para espirometria, mas como existem variações entre os valores de
normalidade de cada amostra, estas equações podem
subestimar os valores espirométricos analisados, especialmente nos extremos e nos intervalos entre as idades.
A escolha dos valores de referência é essencial no
diagnóstico e tratamento das DNM22 e, a conseqüência
de uma escolha errada é um aumento na variabilidade
dos valores previstos17.
Muitas tabelas de valores de referência, assim como,
as equações lineares são descritas na literatura16-22. No
Brasil, valores previstos para os diversos parâmetros
da curva expiratória forçada. foram estipulados em
estudo realizado por Pereira e cols.18, sendo os valores
obtidos, semelhantes aos do estudo realizado nos EUA
por Dockery e cols.23.
Na população pediátrica, as equações dos valores
preditos apresentam uma grande variação entre as
idades. Estas equações utilizam idade e altura como
variáveis independentes para os valores de VEF1 e
CVF e, estes são transformados em logaritmos, afim
de tornar linear as variações entre idade e altura24. No
Brasil não foram encontrados estudos com valores de
referência para a população pediátrica. O estudo europeu de Quanjer e cols. apresenta o melhor predito,
além de sugerir a associação logarítmica entre a maturação pulmonar e a altura da criança como um modelo
apropriado24.
Pacientes menores do que 6 anos podem apresentar
valores mal interpretados, e diversos artefatos podem
ser encontrados. Durante a adolescência, há uma relação linear entre o crescimento pulmonar e o crescimento
somático, devendo ser considerado a relação entre
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(61-70)
idade, peso e altura. No entanto, esta variação pode não
ser encontrada nos pacientes com DNM, especialmente
na distrofia muscular de Duchenne22.
Para a realização das medidas, os indivíduos devem
permanecer sentados confortavelmente com um clipe
nasal e, instruídos sobre o procedimento. Os testes
devem ser realizados com espirômetro calibrado diariamente. Pelo menos três manobras de expiração forçada
são utilizadas para a análise dos dados, considerandose duas curvas que não diferem nas medidas de VEF1
e CVF por mais de 5% ou 100ml. Os maiores valores
adquiridos devem ser considerados para a análise dos
resultados15,18. Devem ser excluídas curvas com artefatos de esforço submáximo na moforlogia, tais como
vazamento de ar ou tosse22.
A CVF esta relacionada com a sobrevida de pacientes com DNM20. A velocidade de redução da CVF varia
entre estes pacientes, mas tende a ser linear. A velocidade é descrita entre 2.5 a 8.3% dos valores preditos
por mês, com uma média de 3.5%9.
É importante lembrar que no início do comprometimento respiratório nas DNM, a função pulmonar é
normal ou relativamente preservada por um período de
tempo. Com o progredir da doença, o comprometimento
pulmonar pode evoluir rapidamente com uma brusca
redução da CVF em apenas 6 meses. A CVF < 50% do
predito é um importante estágio da falência respiratória,
onde é de vital importância a introdução do suporte
ventilatório15,16.
Na maioria dos indivíduos normais, a CVF em posição
supina é de 5 a 10 % menor do que em ortostatismo15,
porém, durante a fraqueza dos músculos respiratórios,
esta redução é mais intensa. Em pacientes com paralisia diafragmática bilateral, a capacidade vital pode cair
50% do predito quando em posição supina. A redução
da CVF de 25% ou mais entre a posição sentada ou
supina tem sido um indicador sensível de fraqueza diafragmática6. Esta mudança possui uma especificidade
e sensibilidade de 90 % e 79% respectivamente, para o
diagnóstico de fraqueza diafragmática5.
Em indivíduos saudáveis a comparação entre idade
e VEF1 expressa uma perda anual esperada. De forma
linear, o VEF1 cai 28 ml/ano após os 25 anos de idade18.
Nas DNM a redução da VEF1 é proporcional à redução
da CVF, e o Índice de Tiffeneau (VEF1/CVF) é normal ou
mesmo aumentado16.
Testes de função pulmonar regulares são necessários para monitorar a progressão da falência respiratória.
A American Academy of Neurology recomenda medir a
CVF no dia do diagnóstico e a cada três meses9,25.
As vantagens são de um instrumento viável, econômico e de fácil realização com um simples equipamento
portátil, mas depende da colaboração do paciente para
a sua adequada realização18. Exceto pela variação en-
Neurociências
65
tre posição sentada e supina, a espirometria é pouco
sensível e específica. A sensibilidade é baixa porque
as alterações só aparecem quando a força muscular
é menor que um terço do normal. A especificidade é
baixa, pois várias outras doenças pulmonares causam
alterações espirométricas mesmo com a função muscular normal (fibrose, DPOC, obesidade). Além disso, uma
baixa CVF em pacientes com comprometimento bulbar
pode ser subestimada e não significar a real fraqueza,
por isso mais testes podem ser necessários11.
Curvas fluxo-volume
Alterações da curva fluxo-volume podem ser encontradas nas DNM, como queda abrupta no final da curva
expiratória, indicando intensa fraqueza dos músculos
expiratórios15; rompimento abrupto do pico de fluxo inspiratório ou expiratório e a lentidão para atingir o pico de
fluxo expiratório possuem 90% de sensibilidade e 80%
de especificidade em predizer fraqueza respiratória26;
e oscilação nas curvas possuem 90% de especificidade e 80% de sensibilidade em predizer fraqueza dos
músculos das vias aéreas superiores26,27.
Ventilação voluntária máxima (VVM)
A VVM é um teste de esforço, realizado durante a
espirometria, que representa os fluxos inspiratório e
expiratório máximos. É determinada pela condutância
das vias aéreas, força muscular e volume mobilizado
a cada respiração14, e é um dos primeiros indicadores
de fraqueza muscular respiratória10, diretamente relacionada com a CVF28, mas as medidas das pressões
respiratórias não podem ser substituídas pela determinação da VVM, pois a VVM pode estar alterada apenas
quando a força muscular média estiver menor que 37%
do normal16.
O paciente deve respirar o maior volume corrente
possível durante 12 a 15 segundos na faixa intermediária
da CVF, fator importante para a fase expiratória pois, a
retração elástica pulmonar pode estar levemente aumentada. Os valores alcançados por indivíduos normais
variam de 50 a 250 l/min, porém o limite inferior para
descartar disfunção ventilatória é de 10 l/min15.
A avaliação da resistência é mais importante que
a da força muscular respiratória, na verdade medimos
a força dos músculos respiratórios como uma medida
indireta da resistência. E por que não medir a resistência? Porque para manter a ventilação em isocapnia são
necessários equipamentos sofisticados que ofereçam
estímulo visual aos pacientes15. E, é importante lembrar
que em se tratando de pacientes com DNM, o limiar de
fadiga esta reduzido16.
Força Muscular Respiratória (FMR)
Na presença de DNM, a FMR pode estar reduzida
mesmo com os volumes pulmonares normais e, o
oposto ocorre na presença de deformidades torácicas,
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(61-70)
quando a FMR está normal com volumes e capacidades
reduzidos29. Para determinar a causa primária desta
disfunção, a análise das propriedades dos músculos
respiratórios deve ser realizada associada as alterações
de volumes e capacidade pulmonares.
As variações de pressões na caixa torácica e na
cavidade abdominal representam a contração dos
músculos respiratórios. Estas pressões podem ser
avaliadas pelas vias aéreas superiores (boca, nariz e
faringe), esôfago e estômago durante manobras com
contrações voluntárias ou involuntárias.
Nos pacientes com DNM, ao realizar muitos testes
em um mesmo período, deve-se considerar a predisposição à fadiga30.
Pressão inspiratória e expiratória máximas
O teste mais utilizado para avaliar a força muscular
inspiratória e expiratória são as medidas de pressão
inspiratória e expiratória máximas estática de boca
(PImáx e PEmáx)5,13.
A medida da PImáx pode ser realizada a partir da
CRF ou VR e a PEmáx é, convencionalmente medida a
partir da capacidade pulmonar total31.
O valor da PImáx representa a pressão desenvolvida pelos músculos respiratórios mais a pressão de
recolhimento elástico da parede torácica e do tecido
pulmonar. Quando medida a partir do volume residual,
existe uma desvantagem teórica causada pelo recolhimento elástico da parede torácica que contribui para os
valores obtidos15 mas, na prática, os pacientes referem
que a manobra é mais fácil de ser realizada a partir do
volume residual em comparação com a capacidade
residual funcional13.
Um manovacuômetro ou transdutor de pressão
portátil permite medir a PImáx e PEmáx, tanto em ambulatório como na beira do leito, com a vantagem de ser
um teste não invasivo15. Estas medidas são realizadas
na posição sentada utilizando um clipe nasal e um bucal
padrão com um orifício de 2 mm para evitar artefatos de
pressão causados pelos músculos faciais30.
O paciente inspira e expira com o máximo de força
contra um circuito ocluído conectado ao manovacuômetro, manobra de Muller e Valsava, respectivamente.
Os maiores valores de pressão obtidos durante 1
segundo representam os valores de PImáx e PEmáx a
serem considerados15. Em qualquer um dos métodos
são feitas 3 medidas, considerando-se o maior valor
obtido daqueles que apresentarem variação menor
que 20 %13.
Os valores de normalidade para PImáx esta em torno
de - 80 cmH2O para homens e - 60 cmH2O para mulheres e, valores de PEmáx de 150 cmH2O para homens e
120 cmH2O para mulheres. Uma PImáx com uma alta
negatividade de - 60 cmH2O ou um valor de PEmáx com
Neurociências
66
uma alta positividade de + 90 cmH2O, de testes tecnicamente satisfatórios excluem fraqueza dos músculos
respiratórios, se associada à medida de CVF32.
- 80 cmH2O para os homens e - 70cmH2O para as
mulheres13, com uma diferença de 10 cmH2O entre as
medidas nasal e o esofágico.
A principal vantagem deste teste volitivo é o de estimar a força muscular de maneira simples e bem tolerada
pelos pacientes, apesar de não garantir que esta sendo
realizado um esforço realmente máximo. Além disso,
a PImáx e PEmáx são influenciadas pela idade, sexo,
postura, volume pulmonar e o tipo de bucal32.
A pressão transdiafragmática também pode ser
avaliada durante uma inspiração nasal máxima (Pdi,sn),
representando a força muscular do diafragma. Essa
manobra necessita de um cateter duplo com balão
esofágico e gástrico. O valor de normalidade é maior
do que 100 cmH2O para homens e maior do que 80
cmH2O para mulheres15.
Durante o progredir da fraqueza dos músculos
respiratórios, a perda de força muscular ocorre antes
da redução do volume pulmonar ser detectada, sendo
assim, a PImáx pode ser mais sensível que a CVF31.
Fatores como esforço submáximo ou vazamento de
ar ao redor do bucal podem gerar medidas errôneas,
principalmente em indivíduos com fraqueza nos músculos orofaciais. Por este motivo, manobras simplificadas
ou medidas que não requerem uso da musculatura
orofacial têm sido propostas como meios alternativos
para medir a FMR, assim como, o teste de inspiração
nasal máxima, um método mais fácil de realizar em
comparação com a PImáx, o que permite valores mais
fidedignos.
Pressão nasal máxima (Sniff Nasal Pressure
– Pnas,sn)
A medida da pressão nasal após uma inspiração nasal máxima, conhecida como “sniff nasal
pressure”(Pnas,sn), baseia-se na transmissão de
pressão homogênea por todo espaço pleural, esôfago,
nasofaringe e nariz29. Durante esta manobra ocorre
um pequeno aumento do volume corrente de 500ml
e, o diafragma possui uma contração relativamente
isométrica13.
A medida é feita com um cateter conectado a um
transdutor de pressão e introduzido em uma das narinas,
com a narina oposta obstruída e a boca fechada15.
O paciente deve ser orientado a permanecer sentado
e realizar uma inspiração nasal máxima e forte (cheirar) a
partir da CRF, 10 vezes e com repouso de 30 segundos,
considerando o maior valor de pressão obtido29.
As medidas também podem ser feitas com um cateter esofágico (Pes,sn), realizando a mesma manobra,
porém com a desvantagem de um método invasivo9,13.
A Pes,sn representa a pressão pleural e não tem interferência do recolhimento elástico do pulmão, refletindo
a pressão gerada pelos músculos inspiratórios15.
Valores da Pnas,sn mais negativos que – 70 cmH2O
para homens e – 60 cmH2O para as mulheres excluem
fraqueza dos músculos inspiratórios29.
Os valores de normalidade da Pes,sn durante uma
inspiração nasal máxima são mais negativos que
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(61-70)
A Pnas,sn possui a vantagem de ser uma manobra
natural, não invasiva e de fácil realização29,13. Em adultos, foi observada uma maior ativação do diafragma
durante uma inspiração nasal máxima em comparação
com a manobra de PImáx, o que torna a manobra mais
fidedigna e reprodutível30,33.
A Pes,sn é uma avaliação da FMR global, enquanto
que a Pdi,sn é a medida específica da força diafragmática13. Estas são adequadas para pacientes com
comprometimento bulbar9.
Pressões: esofágica, gástrica, transdiafragmática e
índice de atividade diafragmática.
Medidas não voláteis da FMR podem ser feitas através de métodos invasivos, analisando-se as pressões
torácicas e abdominais34, mensurando as pressões esofágica (Pes), gástrica (Pga), transdiafragmatica (Pdi)13.
A Pes reflete a pressão pleural, a Pga reflete a pressão
abdominal e a Pdi representa a força diafragmática15.
Para a análise da Pes e Pga é necessário inserir
um cateter duplo de polietileno, com dois balões na
extremidade distal de cada cateter, um no terço médio
do esôfago e outro no interior do estômago, ambos
conectados a transdutores de pressão34. O volume
dos balonetes, características de pressão-volume e
dimensão do cateter podem influenciar as medidas das
pressões e causar erros15.
Os traçados das Pes e Pga diferem muito entre indivíduos normais, mas quando analisados em pacientes
com DNM, estes traçados são muito similares31.
A Pdi é a diferença entre Pga (pressão abdominal)
e Pes (pressão pleura): Pdi = Pga – Peso e é considerada o Gold Standart da medida da força muscular
diafragmática34.
Durante uma inspiração até CPT, a Pdi pode alcançar
no mínimo 40cmH2O em indivíduo normal34 e, pode variar até 10 cmH2O quando o paciente passa de sentado
para a posição supina30.
A atividade motora do diafragma pode ser analisada
com o índice de Gilbert, variação da pressão gástrica sobre a variação da Pdi durante uma inspiração completa
(∆Pga / ∆Pdi). Este índice normalmente é positivo, mas
se torna negativo caso a pressão abdominal cair durante
Neurociências
67
a inspiração, sugerindo uma respiração paradoxal. Uma
média dos valores, adquiridos durante 2 minutos de
respiração tranqüila pode ser utilizada na análise dos
dados35. Determina a presença de respiração paradoxal,
atividade motora diafragmática e possui maior relação
com os valores espirométricos do que com a PImáx
ou PEmáx30.
A vantagem destes testes é a não dependência de
atividade voluntária em comparação com a Pdi, PImáx
e Pnas,sn. As desvantagens são a interferência da atividade abdominal e, ser um teste invasivo6.
Estimulação Elétrica Magnética (ou eletromagnética?) do Nervo Frênico (EEM)
Permite estudar as duas hemicúpulas diafragmáticas
ou cada uma isoladamente, excluindo os outros músculos respiratórios15.
de 20 cmH2O, sem diferença entre o sexo masculino
e feminino15.
Este teste possui limite inferior de normalidade mais
bem definido que a EEM, além de uma maior relação
com a Pdi, o que aumenta a sensibilidade diagnóstica
em pacientes com fraqueza muscular moderada13.
Eletromiografia (EMG) dos Músculos Respiratórios
A EMG é o registro das ondas elétricas geradas
pelo músculo estudado e dos nervos que o estimulam,
portanto, serve para avaliar aspectos da inervação,
junção neuromuscular e atividade intrínseca dos músculos. Permite estudar separadamente o diafragma e
os músculos torácicos, além de diferenciar as formas
de fadiga e avaliar aquelas de maior importância para
os músculos respiratórios, como a fadiga aos estímulos
de baixa freqüência (20Hz)15.
É necessário localizar no pescoço o local por onde
passa o nervo frênico, para o posicionamento do eletrodo, enviando estímulos elétricos dosados e reprodutíveis. O estímulo é aumentado gradativamente até que
seja atingido um valor supramáximo, ou seja, a partir
deste ponto, mesmo aumentando a descarga elétrica,
não há aumento da força gerada. A força gerada pode
ser obtida através de Pes, Pdi ou da pressão em via aérea proximal (boca, cateter nasal ou tubo traqueal)36.
Antes de qualquer alteração clínica, o teste de EMG
já mostra o aparecimento de fadiga, que se caracteriza
pela troca de sinais elétricos de alta freqüência por de
baixa freqüência37.
A série normal descrita é extensa para a Pdi durante
a EEM do nervo frênico (8.8 – 33cmH2O) sem diferença
entre o sexo masculino e feminino. Um diagnóstico útil
para fraqueza muscular grave de pacientes incapazes
de realizar testes voláteis e volitivos15.
Fadiga Muscular Respiratória
Este é um método difícil de realizar, pois se o estímulo
elétrico não for exatamente no mesmo local, há muita
variação na pressão gerada e, em pacientes acordados
o estímulo elétrico pode ser doloroso13.
Estimulação Magnética do Nervo Frênico (EM)
A EM é realizada da mesma forma que a EEM, mas
não é dolorosa e não depende do posicionamento dos
eletrodos tanto como na EEM. Por outro lado, não estimula só o diafragma, mas também outros músculos
respiratórios36.
A estimulação supramáxima do nervo frênico,
bilateralmente pode ser atingida utilizando-se uma
bobina circular colocada acima da raiz cervical do
nervo frênico. A descarga da bobina gera um campo
de pulso magnético, que causa uma corrente no tecido
nervoso, sem que o campo ao redor cause contração
muscular. E a estimulação bilateral, quando anterior,
permite o estudo da função diafragmática na posição
supina15,36.
A Pdi durante a EM do nervo frênico atinge valores
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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A vantagem da EMG esta em não ser um método
invasivo e, não depender da colaboração do paciente.
A desvantagem é que se trata de um exame difícil de
se realizar e pouco acessível37.
A fadiga muscular respiratória pode causar falência da bomba ventilatória, se a demanda metabólica
exceder o suprimento energético. A máxima força de
um músculo e a carga a ele imposta são importantes
determinantes de fadiga e resistência musculares.
A fadiga ocorre mais freqüentemente, quando a
pressão muscular máxima esta reduzida ou quando a
pressão necessária em qualquer respiração está aumentada, como quando ocorre aumento da resistência
e redução da complacência2.
A pressão transdiafragmática para realizar um dado
volume corrente (Pdi) sobre a pressão transdiafragmática em uma inspiração máxima (Pi,di,max), permite
avaliar a pressão necessária para manter uma ventilação
adequada. O tempo que esta pressão é gerada pode
ser expresso pela relação entre o tempo inspiratório (Ti)
e o tempo total do ciclo respiratório (Ttot). Destas duas
relações temos o índice Tensão-Tempo (TTdi), que é
definido pela equação: TTdi = Pdi/Pi,di,máx x Ti/Ttot.
O limiar de fadiga muscular respiratória em indivíduos
normais ocorre quando TTdi é maior que 0.15 ou quando
Pdi/Pdimáx é igual ou maior que 0.438.
Relaxamento muscular do diafragma
Músculos fadigados relaxam lentamente. O relaxamento do diafragma pode ser analisado a partir da
Neurociências
68
redução na Pdi. A demora no grau de relaxamento dos
músculos respiratórios, durante uma inspiração nasal
máxima analisa a recuperação muscular. O relaxamento
do diafragma, após uma inspiração nasal máxima, também pode ser analisado a partir dos traçados da Pes,
da pressão na nasofaringe ou na boca39.
Avaliação da eficácia tosse: Pico de Fluxo Expiratório e Pico de Fluxo de Tosse
Uma tosse eficaz requer expiração forçada contra a
glôte fechada, causando um fluxo expiratório explosivo
após a abertura da glôte. Portanto, depende de força
muscular inspiratória, expiratória e da integridade dos
músculos de inervação bulbar40.
Ao contrário dos inúmeros testes de força muscular
inspiratória, poucos testes foram desenvolvidos para
acessar a força muscular expiratória. Apenas, o teste de
PEmáx possui valores de normalidade estabelecidos,
mas com limitações similares à Pimáx. Para contornar
essas limitações, os valores de Pga e Pes durante uma
tosse máxima têm sido estudados, de maneira a adquirir
medidas não voláteis da força muscular expiratória13.
Foram encontrados valores de Pga maiores que 160
cmH2O para os homens e maiores que 120 cmH2O para
as mulheres, sendo a Pes numericamente similar a Pga
durante a tosse41.
A fraqueza dos músculos expiratórios também pode
causar redução do fluxo expiratório e do fluxo de tosse.
O pico de fluxo expiratório (PFE) e de tosse (PFT), na
ausência de obstrução brônquica possuem um comportamento dinâmico com relação direta ao comportamento estático da PEmáx, com p<0.00140.
Os valores de PFE e PFT são obtidos com um medidor de fluxo (pneumotacógrafo). As medidas devem
ser realizadas com o paciente sentado, utilizando um
clipe nasal e orientado a tossir o mais forte possível,
a partir da CPT. Devem ser realizadas três manobras,
considerando o maior valor obtido. O valor de referência
do PFT é maior que 160 l/min e para o PFE maior que
100 l/min, para ambos os sexos40.
A desvantagem destes testes em pacientes com
DNM, esta em refletir uma pobre coordenação dos músculos respiratórios ao invés de perda de força muscular
respiratória per se15.
Gasometria arterial
No início do comprometimento respiratório em pacientes com DNM, a alteração dos gases acontece durante o sono, por conta da hipotonia fisiológica durante
esta fase. Quando há hipercapnia causada exclusivamente por fraqueza muscular, esta deve ser muito grave
e o prognóstico do paciente costuma ser ruim42.
A pressão arterial de dióxido de carbono (PaCO2) é
considerada alta quando > 45mmHg, a pressão arterial de oxigênio (PaO2) é considerada baixa quando <
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80mmHg e a saturação arterial de oxigênio (SatO2) é
considerada reduzida quando menor que 90%43. Durante a fraqueza moderada dos músculos respiratórios
pode ocorrer pequena hipercapnia, mas quando a força
muscular esta reduzida em 40% do predito o aumento
do PaCO2 é maior42.
A gasometria arterial em pacientes com DNM é um
teste pouco sensível, porque somente apresenta alteração quando a FMR é menor que 30% do normal, e
pouco específico por estar alterado em outras doenças
pulmonares44.
Capnografia
Capnografia é a análise gráfica da concentração de
CO2 sobre o tempo. Em geral, essa análise ocorre a
cada ciclo respiratório. Atualmente, pode ser realizada
por duas técnicas: espectrometria de massa e absorção
de luz infravermelha45.
Em um indivíduo normal, a pressão parcial de dióxido de carbono ao final da expiração (PetCO2) mantém
relação constante com PaCO2, sendo a diferença entre
PaCO2 e PetCO2 menor que 5 mmHg, sendo a diferença
maior que 10 mmHg indicativo de comprometimento
pulmonar45.
A elevação da PaCO2 implica grave fraqueza muscular respiratória, particularmente do diafragma, com
pobre prognóstico2. Pacientes com hipercapnia sintomática noturna são, também grandes candidatos para o
suporte ventilatório, mesmo na ausência de hipercapnia
durante o dia46.
Oximetria de pulso
O oxímetro de pulso baseia-se na espectrofotometria
de acordo com o comprimento de onda de luz (600 a
1000 nm), com um sensor que possui um pólo de luz e
outro de registro da onda. Este sensor mede a saturação
de pulso da hemoglobina (SapO2)42.
Pacientes com DNM evoluem com hipoventilação,
o que primariamente aumenta a retenção de CO2, mas
sem apresentar hipoxemia. A hipoxemia pode ocorrer
quando a disfunção ventilatória atinge estágios mais
avançados, ou na presença de doenças associadas
como a pneumonia7.
A oximetria noturna permite identificar alterações
significativas para o diagnóstico de hipoventilação,
quando a SatO2 cai abaixo de 80%, principalmente
durante o sono REM46.
CONCLUSÃO
Para a avaliação da função pulmonar em pacientes
com doenças neuromusculares, foram encontrados
nove tipos de testes, tais como: da função pulmonar,
Neurociências
69
que inclui medidas espirométricas (CVF, VEF1, CVF/VEF1,
FEF 25-75%, análise da curva fluxo-volume e VVM) utilizados para avaliar volumes pulmonares, presença de
obstrução brônquica, sinais de fraqueza e fadiga dos
músculos respiratórios; de força dos músculos respiratórios (PImáx, PEmáx, Pnas,sn, Pes,sn e Pdi,sn, Pes,
Pga e Pdi, ∆Pga/∆Pdi, Pdi durante EEM e EM do nervo
frênico), utilizados para avaliar a força dos músculos
respiratórios e a atividade diafragmática; da atividade
elétrica de nervos, junção neuromuscular e músculos
(EMG dos músculos respiratórios); do limiar de fadiga
dos músculos respiratórios (TTdi e Pdi/Pdimáx); do
grau de relaxamento dos músculos respiratórios (diminuição da Pdi), utilizado para analisar a recuperação
muscular; da eficácia da tosse (PFT e PFE); análise
da concentração de gases arterias (PaCO2, PaO2,
SatO2), capnografia (PetCO2 – PaCO2), utilizada para
avaliar, principalmente a retenção de CO2 e; oximetria
de pulso ( SapO2), utilizada para avaliar presença de
hipoxemia, principalmente durante o sono.
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Neurociências
70
Artigo de Revisão
Abordagem clínica de pacientes com ataxia
Clinical approach to ataxic patients
Clécio de O Godeiro Jr.1, André Carvalho Felício1, Sônia Maria Azevedo Silva2, Vanderci Borges2,
Henrique Ballalai Ferraz3
RESUMO
Ataxia é um sinal neurológico caracterizado pela incoordenação dos movimentos voluntários e é a principal manifestação
de uma síndrome cerebelar. A classificação e o diagnóstico diferencial dos quadros de ataxia são complexos devido a grande
variabilidade de etiologias e fenótipos clínicos. Revisamos as principais causas e ferramentas diagnósticas das síndromes
atáxicas.
Unitermos: Cerebelo, Ataxia espinocerebelar, Deficiência da Coordenação, Incoordenação.
Citação: Godeiro Jr. CO, Felício AC, Silva SMA, Borges V, Ferraz HB. Abordagem Clínica de Pacientes com Ataxia. Rev
Neurocienc 2007; 15(1):70-75.
SUMMARY
Ataxia is a neurological sign characterized by incoordination of voluntary movements and is the main manifestation of a
cerebellar syndrome. Classification and differential diagnosis of ataxias are complex owing to the etiologic variability and clinical phenotypes. We review the main causes and diagnostic tools of the ataxic syndromes.
Keywords: Cerebellum, Spinocerebellar Ataxia, Coordination impairment, Incoordination.
Citation: Godeiro Jr. CO, Felício AC, Silva SMA, Borges V, Ferraz HB. Clinical Approach to Ataxic Patients. Rev Neurocienc
2007; 15(1):70-75.
INTRODUÇÃO
O termo ataxia significa, literalmente, falta de ordem, e é empregado desde os tempos de Hipócrates
ou mesmo antes1. Do ponto de vista clínico, pode ser
definido como um transtorno da atividade muscular
coordenada, relacionado a alterações do cerebelo e
de conexões aferentes e eferentes2. Além de alterações
da marcha, este termo engloba outras anormalidades
do movimento voluntário como: decomposição dos
movimentos, dismetria e disdiadococinesia3.
O emprego deste termo para definir uma entidade
clínica foi pela primeira vez utilizado por Friedreich
em 18634. Neste caso, a ataxia era um sintoma mais
proeminente de uma enfermidade persistente e progressiva.
A grande diversidade de doenças associadas a
ataxia faz com que os clínicos recorram a um amplo
arsenal de exames complementares. Entretanto, muitos pacientes com ataxia têm características clínicas
tão específicas que permitem uma melhor seleção de
tais exames. Com este texto, objetivamos apresentar
uma proposta de investigação racional para estes
pacientes.
Trabalho realizado no Departamento de Neurologia e Neurocirurgia, Setor de Transtornos do Movimento da Universidade Federal de São Paulo, São
Paulo – SP, Brasil.
1. Neurologista, Pós-graduando do Setor de Transtornos do Movimento, UNIFESP.
2. Doutor em Neurologia, Médico assistente do Setor de Transtornos do Movimento, UNIFESP.
3. Doutor em Neurologia, Professor afiliado da disciplina de Neurologia e Chefe do Setor de Transtornos do Movimento, UNIFESP.
Endereço para correspondência: Rua Napoleão de Barros, 566, ap. 93, Vila Clementino, São Paulo/SP -CEP: 04024-002
Trabalho recebido em 11/05/2006 • Revisão: de 12/05/2006 a 30/07/2006 • Aprovado em 31/07/2006 • Conflito de interesses: não
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Neurociências
71
Abordagem Diagnóstica
O primeiro aspecto a ser considerado na abordagem
de um paciente com ataxia é a sua forma de início.
Quadros agudos tornam obrigatória a exclusão de enfermidades focais do cerebelo, transtornos metabólicos
e infecciosos5 (Tabela 1).
Neste aspecto, a realização de um exame de neuroimagem é extremamente útil. A ressonância magnética
é preferível à tomografia computadorizada, pois obtém
melhores imagens do cerebelo e do tronco encefálico6.
Além desta, a realização de hemograma, glicemia, creatinina, perfil hepático e estudo liquórico, são importantes
na investigação, uma vez que distúrbios metabólicos
e infecções do sistema nervoso central podem estar
associados a ataxia aguda.
A avaliação de um quadro de ataxia deve envolver uma ampla caracterização clínica dos sintomas
associados, para assim permitir um melhor direcionamento na aplicação dos recursos propedêuticos. Os
aspectos que devem ser valorizados estão descritos
na Tabela 2.
Uma vez caracterizado o quadro como uma ataxia
não aguda, uma nova gama de variáveis precisa ser
avaliada. A primeira delas é saber se o quadro tem
característica progressiva e/ou intermitente; ou se tem
um comportamento estático ou não progressivo. Um
exemplo de um quadro estático é o da encefalopatia
anóxica-isquêmica.
As ataxias intermitentes caracterizam-se por episódios recorrentes de ataxia dentro de um contexto clínico
específico. Há dois grupos específicos de enfermidades
que cursam com este tipo de ataxia: doenças metabólicas e canalopatias. Na Tabela 3 apresentamos as
principais1,7.
Outras doenças metabólicas que também cursam
com ataxia intermitente são: doença de Hartnup, cetoacidúria de cadeia ramificada intermitente, defeitos no
metabolismo do piruvato, deficiência de carboxilase e
defeito de oxidação de ácidos graxos7.
Outra variável importante a ser avaliada é definir se o
quadro é esporádico ou se está acompanhado de uma
história familiar positiva. Diante disto, podemos classificar as ataxias como esporádicas /não-hereditárias ou
hereditárias8,9 (Tabela 4).
Ataxias não-hereditárias
A associação de disautonomia e sinais parkinsonianos com ataxia de início tardio é muito sugestiva de
atrofia de múltiplos sistemas10. Embora apresente altera-
Tabela 1- Causas de Ataxias Agudas.
Tumor
Isquemia
Intoxicação Exógena
Abscesso
Hemorragia
Encefalopatia de Wernicke
Cerebelite Infecciosa
Desmilinização: Esclerose Múltipla
Síndrome de Miller-Fischer
Tabela 2. Caracterização Clínica das Ataxias.
Sinais Cerebelares
Sinais Oculares
Sinais Extrapiramidais
Sinais Piramidais
Sinais de Neuropatia
Outros Sinais
Distúrbio da Marcha
Motricidade Ocular
Extrínseca:
Sacada
Perseguição
Nistagmo
Oftalmoplegia
Tremor:
repouso
postural
ação
Reflexos tendíneos
vivos/exaltados
Arreflexia
Demência
Amiotrofia
Distúrbio Psiqiátrico
Fasciculações
Epilepsia
Parkinsonismo
Espasticidade
Alteração de Sensibilidade
Distúrbio do Sono
Ataxia apendicular
Alteração da fala
Hipotonia
“Bulging eyes” ou
Olhos esbugalhados
Coréia
Disautonomia
Distonia
Atrofia Óptica
Mioclonias
Degeneração Macular
Mioquimias
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(71-76)
Sinal de Babinski
Neurociências
72
Tabela 3. Principais causas de Ataxia Intermitente.
Doença
Defeito Genético-Bioquímico
Característica Clínica
Tipo de Herança
Ataxia Episódica 1
Mutação do gene KCNA1 – canal de potássio
voltagem dependente
Neuromiotomia
Mioquimia
Autossômica Dominante
Ataxia Episódica 2
Mutação do gene CACNA1A – canal de cálcio Vertigem, diplopia, nistagmo e náu- Äutossômica Dominante
do tipo P/Q
sea
Migrânea hemiplégica
Associação com SCA
Hiperamonemia
(Deficiência de enzimas do ciclo da
uréia)
Deficiência de Ornitina Transcarbamilase
Retardo do desenvolvimento
Epilepsia
Movimentos involuntários
Disartria
Autossômica Recessiva
Tabela 4. Classificação das ataxias progressivas de acordo com seu padrão de herança.
Ataxias não-hereditárias
Ataxias hereditárias
Atrofia de Múltiplos Sistemas, forma cerebelar
Ataxias autossômicas recessivas
Degeneração Cerebelar Paraneoplásica
Ataxias autossômicas dominantes
Doença Priônica
Doença Mitocondrial
Doença Celíaca
Síndrome tremor/ataxia associada ao X-Frágil
Degeneração Cerebelar Alcoólica
ções na ressonância magnética de crânio, como atrofia
do putâmen e do cerebelo associada a hipossinal de
putâmen na seqüência T26 , seu diagnóstico não deve
ser firmado até que outras causas sejam excluídas.
A maior parte das síndromes paraneoplásicas
sintomáticas são raras, afetando cerca de 0,01% dos
pacientes com câncer11. A degeneração cerebelar paraneoplásica é causada pela formação de anticorpos
contra estruturas do sistema nervoso central, particularmente os anticorpos anti-Hu e anti-Yo12. Uma vez que o
transtorno neurológico pode anteceder o aparecimento
do tumor em meses ou anos, este diagnóstico deve,
sempre que possível, ser pesquisado em ataxias de início
tardio, com o uso de marcadores tumorais e estudos de
imagem de órgãos sólidos.
A doença de Creutzfeldt-Jakob, que é a mais comum das doenças priônicas afetando os humanos,
caracteriza-se por deterioração neurológica subaguda,
degeneração espongiforme da substância cinzenta, e
acúmulo da proteína priônica PrPsc no cérebro13,14. A
principal característica clínica desta enfermidade é um
quadro demencial rapidamente progressivo associado
a mioclonias. Entretanto, um grupo de pacientes com
esta doença cursa com quadro predominante de ataxia
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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com evolução lenta, sem as alterações características do
eletroencefalograma que são os complexos periódicos
de ondas agudas13. Nestes casos, dois instrumentos
diagnósticos são úteis: a dosagem de proteína 14-3-3
no líquor e a ressonância magnética de crânio com
difusão, a qual revela hipersinal nos núcleos da base
e/ou córtex cerebral15.
A doença celíaca é uma enteropatia induzida pelo
glúten e suas manifestações neurológicas devem-se
a um déficit vitamínico, particularmente de vitamina E,
e cursa com quadro de ataxia associada a arreflexia e
liberação piramidal16. Alguns pacientes desenvolvem manifestações correspondentes com a síndrome de Ramsey-Hunt cursando com ataxia progressiva e mioclonias
de ação ou estímulo-sensível17. O diagnóstico pode ser
confirmado com a pesquisa de anticorpos antigliadina
e antiendomisio, assim como com a demonstração de
atrofia na biópsia da mucosa intestinal.
A degeneração cerebelar alcoólica é provavelmente
a causa mais comum de ataxia crônica e parece envolver desnutrição, neurotoxicidade alcoólica e fatores
individuais1. O questionamento sobre o alcoolismo
deve ser sempre incluído no interrogatório de um
paciente com ataxia.
Neurociências
73
Ataxias Autossômicas Recessivas
O padrão de herança autossômica recessiva deve
ser suspeitado quando vários indivíduos de uma mesma
geração são afetados e seus genitores são saudáveis.
Além disso, a presença de consangüinidade e início
precoce são pistas importantes.
Este grupo de ataxias é heterogêneo e o diagnóstico
depende da identificação de características clínicas
associadas, o que permite um direcionamento no teste
diagnóstico7,18.
Apresentamos as principais características clínicas e
o exame confirmatório de ataxias autossômicas recessivas1,7,8,18 (Tabela 5).
Ataxias Autossômicas Dominantes
Existe uma grande dificuldade em se fazer a classificação nosológica neste grupo de ataxias devido a
grande variabilidade fenotípica inter e intrafamilial19. A
presença de ataxia em gerações subseqüentes de uma
mesma família é um dado altamente sugestivo de herança autossômica dominante, principalmente se estiver
associado ao início tardio (após 25 anos de idade) e se
ambos os sexos forem acometidos1,7,20,21. O diagnóstico
de certeza só pode ser firmado através da análise molecular do DNA dos pacientes acometidos7,9,21, apesar
de vários grupos de pacientes com a mesma mutação
apresentarem características fenotípicas em comum. Já
foram descritos 25 tipos de ataxias espinocerebelares
de herança autossômica dominantes (SCAs) e estudos
para identificação de nova mutações estão em andamento 9,21. No Brasil, as SCAs mais freqüentes são: a
SCA3, ou doença de Machado-Joseph seguida das
SCA10, SCA2, SCA7, SCA1 e SCA 6 22,23 (Tabela 6).
A Doença de Machado Joseph/SCA 3 foi originalmente descrita em pacientes norte-americanos originários das ilhas portuguesas dos Açores24. Há três tipos
de expressão clínica1:
• Tipo 1: início precoce e curso rápido, causando
ataxia, oftlamoplegia, sinais piramidais e extrapiramidais;
• Tipo 2: é o tipo mais comum encontrado na populção brasileira25. Tem início na 4a década de vida e
cursa com ataxia e oftalmoplegia;
• Tipo 3: tem um início tardio e caracteriza-se pela
presença de neuropatia.
A mutação responsável pela SCA-3 é uma expansão anormal de trinucleotídeos CAG no cromossomo
14q32.1, levando a codificação anormal do produto
gênico ataxina-31. Quanto maior o número de repetições
e associado a a herança paterna, maior a chance de
um início precoce da enfermidade25. No Brasil, provavelREVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(71-76)
mente devido a miscigenação racial, a idade de início é
mais precoce em relação a população portuguesa (34
versus 40,5 anos)25.
Se a pesquisa das alterações genéticas que ocorrem
nas SCAs for negativa em um paciente com ataxia e herança autossômica dominante, devemos considerar as
hipóteses de Atrofia Dentatorubral-Pálidoluysiana (DRPLA) e doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker.
A DRPLA foi originalmente descrita em 1946 e é
causada por uma expansão de trinucleotídeos no
cromossomo12. Quando tem início precoce, o fenótipo
dominante é o de ataxia e mioclonias, já quando o início
é tardio, a coreoatetose, a demência e a psicose são
os sintomas que predominam26,27. Não existe nenhum
caso identificado de DRPLA no Brasil.
A doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker é uma
doença priônica e se caracteriza por ataxia cerebelar de
início insidioso e progressivo associada a demência,
sinais bulbares e corticoespinhais28.
Ataxias de herança ligada ao X
Este tipo de herança é caracterizado pelo fato de
a doença ser transmitida sem saltar gerações, assim
como a herança autossômica dominante. Quando
ocorre de forma recessiva os homens são afetados com
a presença de um único gene. Já quando o padrão é
dominante, as mulheres são mais afetadas que os homens. Apresentamos duas enfermidades que tem seu
padrão de herança ligado ao X e podem cursar com
ataxia: a síndrome de tremor/ataxia ligado ao X-Frágil e
as doenças mitocondriais.
A síndrome do X Frágil é a causa hereditária mais
comum de retardo mental e é causada por uma expansão de trinucleotídeos na região do gene FMR1
no cromossomo Xq27.3. Indivíduos com mais de 200
repetições desenvolvem o quadro clássico de retardo
no desenvolvimento psicomotor. Por outro lado, aqueles
com 50 a 200 repetições, ou seja, com a pré-mutação,
desenvolvem um quadro caracterizado por ataxia cerebelar progressiva, parkinsonismo, tremor, disfunção
autonômica e demência29,30. O início dos sintomas costuma ocorrer após os 50 anos de idade. Portanto, este
diagnóstico deve ser incluído no diagnóstico diferencial
de ataxias de início tardio, principalmente se há história
familiar de retardo mental30,31.
As mitocondriopatias são causadas por mutações
esporádicas ou espontâneas no DNA mitocondrial e/ou
nuclear. As enfermidades causadas por este processo
causam as mais diferentes manifestações clínicas32.
Apresentamos as principais síndromes mitocondriais
que cursam com ataxia e suas características peculiares
(Tabela 7).
Neurociências
74
Tabela 5. Ataxias Autossômicas Recessivas
Ataxia
Característica Clínica
Teste Diagnóstico
Ataxia de Friedreich
Arreflexia com sinal de Babinski.
Escoliose e pé cavo
Cardiomiopatia Hipertrófica
Estudo do gene X25/FRDA - Frataxina
Ataxia com deficiência isolada de Vi- Fenótipo semelhante a ataxia de Friedreich, com distonia
tamina E
Redução dos níveis séricos de Vitamina E
Elevação da Alfa-Fetoproteína sérica
Baixos níveis de imunoglobulina
Cariótipo: translocação de cromossomos 7;14
Radiossensibilidade de fibroblastos in vitro
Estudo do gene ATM
Redução dos níveis de Vitamina E
Eletroforese Lipídica
Ataxia Telangiectasia
Face impassiva e sialorréia
Telangiectasias
Deficiência Imunológica – pneumonias freqüentes
Abetalipoproteinemia
Diarréia logo após nascimento
Doença de Refsum
Neuropatia sensitivo-motora
Degeneração pigmentar da retina
Surdez
Ictiose
Diminuição ou ausência do Ácido fitânico
Xantomatose Cerebrotendínea
Xantomas tendinosos
Catarata
Aumento dos níveis de Colestanol e colesterol
séricos
Leucodistrofia Metacromática
Retardo do desenvolvimento
Atrofia óptica
Espasticidade
Redução de Arilsulfatase sérica
Leucodistrofia de células globóides
Retardo do desenvolvimeto
Déficit visual
Espasticidade
Redução da atividade da Beta-galactocerebrosidase
Lipofuccinose Ceróide Neuronal
Déficit visual progressivo
Déficit cognitivo
Epilepsia
Análise Ultraestrutural de linfócitos e pele
Gangliosidose GM2
Manchas Vermelho-Cereja na retina
Deficiência de Hexoaminidase A e B
Niemann-Pick C
Oftalmoplegia supranuclear vertical
Biópsia de Medula Óssea
Diminuição da Esfingomielinase
Estudo do gene NPC1NPC2
Tabela 6. Característica peculiar das principais SCAs encontradas no Brasil.
Enfermidade
Característica Peculiar
SCA1
Sinais corticoespinhais e bulbares
Neuropatia Periférica
Alteração da motricidade ocular extrínsica – sacadas
SCA2
Sacadas lentas
Neuropatia periférica
Sinais extrapiramidais
SCA3/ Doença de Machado-Joseph
Alteração da motricidade ocular extrínsica – diplopia e sacadas
“Bulging Eyes” ou olhar esbugalhado
Sinais corticoespinhais
Sinais extrapiramidais
Neuropatia periférica
SCA6
Ataxia “pura”
Alteração da motricidade ocular extrínsica
SCA7
SCA10
Degeneração retiniana
Epilepsia*
* Nos casos descritos no Brasil por Teive et al23, não foi observada a presença de epilepsia.
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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Neurociências
75
Tabela 7. Características peculiares das mitocondriopatias que
cursam com ataxia
Síndromes
Peculiaridade Clínica
Kearn-Sayre
Oftalmoparesia externa progressiva (OEP)
Retinite pigmentosa
Surdez
Disfunção cardíaca
MELAS
Episódios sugestivos de acidente vascular
cerebral
Epilepsia
Atrofia Óptica
Surdez
Acidose Láctica
MERRF
Miopatia
Demência
Epilepsia Mioclônica
Surdez
OEP
Leigh
Retardo no desenvolvimento
Epilpsia
Sinais piramidais
Retinite pigmentosa
OEP
NARP
Polineuropatia sensitivo-motora
Retinite pigmentosa
Retardo mental
Epilepsia
May-White
Mioclonia
Surdez
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As formas esporádicas de ataxia devem ser diferenciadas das formas hereditárias. Embora, atualmente
as técnicas de biologia molecular nos propiciem o
diagnóstico preciso, o início da investigação de um
quadro atáxico reside em uma anamnese apropriada,
com intensa exploração da história familiar, associada
a um exame físico completo e minucioso. Com estes
dados o direcionamento para investigação com exames
complementares será objetivo e menos dispendioso.
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Neurociências
76
Artigo de Atualização
Aspectos imunogenéticos de doenças neuropediátricas:
o papel dos antígenos de histocompatibilidade humanos
Immunogenetic aspects of neuropediatric disorders: the role of the
human histocompatibility antigens
Crésio Alves1, Sâmia Veiga2, Thaisa Souza3, Maria Betânia P Toralles4
RESUMO
Objetivo: Atualizar a associação do sistema de histocompatibilidade humano (HLA) com doenças neuropediátricas e
descrever seus possíveis mecanismos patogênicos. Fontes dos dados: Pesquisa bibliográfica através da busca de artigos
científicos nos bancos de dados MEDLINE e LILACS no período de 1990 a 2005. Os artigos foram selecionados de forma
que abordassem a associação do HLA com doenças neuropediátricas. Percebida a relevância, também foram selecionadas
através de busca manual as referências indicadas nos artigos selecionados pelas bases de dados. Síntese dos dados: Esse
trabalho se organiza em tópicos, nos quais são discutidos e apresentados prováveis mecanismos pelos quais a estrutura
e função das moléculas de histocompatibilidade influenciam o desenvolvimento de enfermidades neurológicas da criança.
Conclusão: A associação do sistema HLA com algumas doenças neurológicas da infância está bem estabelecida, a exemplo
da miastenia grave. Em outras doenças, contudo, mais estudos são necessários para confirmar dados preliminares sugestivos
dessa associação. O estabelecimento de associações de susceptibilidade e proteção mais fortes permitirá o uso do sistema
HLA na avaliação do risco individual que o portador de determinado alelo ou haplótipo em particular tem de vir a desenvolver
uma doença e assim contribuir para um melhor entendimento da sua patogenia.
Unitermos: HLA, Complexo principal de histocompatibilidade, Criança, Adolescente.
Citação: Alves C, Veiga S, Souza T, Toralles MBP. Aspectos imunogenéticos de doenças neuropediátricas: O papel dos
antígenos de histocompatibilidade humanos. Rev Neurocienc 2007; 15(1):76-82.
SUMMARY
Objective: Update the human histocompatibility antigens (HLA) associations with neuropediatric disorders and describe its
possible pathogenic mechanisms. Data research: Bibliographic search was made using the MEDLINE and LILACS data base
between 1990 and 2005. The articles approaching the association of HLA and neurological diseases were selected. Additional
references were selected by manual search from the previous selected articles. Results: This paper is organized in topics that
describe and discuss the possible mechanisms of how structure and function of HLA molecules influence the development of
neurological diseases in children. Conclusion: The association of HLA system with some childhood neurological diseases is
well established such as in myasthenia gravis. However, more studies are necessary to confirm preliminary data suggestive
of this association with other neurological disorders. The establishment of stronger associations may allow the use of the HLA
system to evaluate the risk that a person who carries an allele or haplotype have to develop a specific disease and contribute
to a better understanding of its pathogenic mechanisms.
Keywords: HLA antigens, Major histocompatibility complex, Child, Adolescent.
Citation: Alves C, Veiga S, Souza T, Toralles MBP. Immunogenetic aspects of neuropediatric disorders: The role of the human histocompatibility antigens. Rev Neurocienc 2007; 15(1):76-82.
Trabalho realizado na Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia, Salvador – Bahia, Brasil.
1.Professor de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia – UFBA. Coordenador da Residência em Endocrinologia Pediátrica, Hospital Universitário Professor Edgard Santos, UFBA.
2. Acadêmica de Medicina, Universidade Federal da Bahia – UFBA.
3. Acadêmica de Medicina, Universidade Federal da Bahia – UFBA.
4. Professora de Genética, Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia – UFBA. Diretora do Laboratório de Genética,
Hospital Universitário Professor Edgard Santos, UFBA.
Agência financiadora: Esse trabalho foi parcialmente financiado pela FAPESB (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia).
Endereço para Correspondência: Dr. Crésio Alves, Rua Plínio Moscoso, 222, Apto 601. CEP 40.157-190. Salvador – Bahia. Telefone: (71) 9975-8220.
E-mail: [email protected]
Trabalho recebido em 23/03/2006 • Revisão: de 24/03/2006 a 13/08/2006 • Aprovado em 14/08/2006 • Conflito de interesses: não
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(77-83)
Neurociências
77
INTRODUÇÃO
fatores genéticos no desenvolvimento das doenças neuropediátricas. Conhecem-se as doenças monogênicas
clássicas que seguem as leis de Mendel, as cromossomopatias, as enfermidades de origem materna como as
mitocondriais e as de herança multifatorial, com fatores
poligênicos e ambientais atuantes5. Dentre os fatores
genéticos atuantes no último grupo, destaca-se o sistema HLA. Pelo seu grande polimorfismo e comprovada
associação a doenças de origem multifatorial, ele é
usado na investigação dos mecanismos patogênicos
dessas enfermidades.
As moléculas de HLA (Human Leukocyte Antigens)
têm importante papel na resposta imune humana.
Elas são codificadas numa região do braço curto do
cromossomo6 humano denominada complexo principal
de histocompatibilidade (MHC: Major Histocompatibilty
Complex). Mais de 200 genes estão situados nessa
região cromossômica e cerca de 20% deles são responsáveis pela codificação e síntese de antígenos de
superfície celular1. Os genes deste complexo envolvidos
na resposta imune são divididos em três classes, I, II e III,
distintos em estrutura, função e localização nos tecidos
do corpo humano1. Destes três grupos, os HLA classe
I e II são responsáveis pela codificação de moléculas
clássicas de histocompatibilidade2. A região de classe
I contém três loci principais: HLA-A, -B e -C. Na região
do HLA de classe II, estão situados os loci -DR, -DQ
e -DP (2). Além das moléculas clássicas, a região de
classe I é composta por outros genes que codificam
as moléculas ditas não clássicas, HLA-E, -F e -G, que
não são encontradas em todos os tipos de tecidos. Os
HLA-E e -F são expressos normalmente em células fetais
enquanto o HLA-G é expresso em tecido placentário3.
Os linfócitos T reconhecem os antígenos apresentados nas células dos diversos tecidos do organismo
apenas se eles estiverem ligados a moléculas de HLA4.
Devido a este papel decisivo na resposta imune, antígenos HLA são associados a diversas doenças, especialmente às de fisiopatologia auto-imune, infecciosa,
neoplásica e idiopática. Os mecanismos que explicam
tal associação ainda são hipotéticos. As seguintes possibilidades são aventadas3: (1) O HLA poderia funcionar
como receptor para alguns agentes causadores de
doenças facilitando seu acesso ao organismo, como
parece ocorrer no caso de infecção por Epstein-Barr e
HIV; (2) A expressão aberrante de antígenos HLA sobre
a superfície de células-alvo seria um possível fator no
desenvolvimento da auto-imunidade humana; (3) Como
o HLA seleciona o repertório antigênico a ser apresentado às células de defesa, ele atuaria como importante
determinante de quais moléculas serão reconhecidas
e quais desencadearão resposta imune; (4) O HLA poderia se associar a doenças através de mecanismos de
mimetismo molecular com certos agentes etiológicos.
Determinados alelos HLA são associados à susceptibilidade às doenças, enquanto outros conferem proteção a quem os possui1. Devido ao vasto polimorfismo
da região HLA, as combinações de alelos existentes nas
diversas populações são bastante variáveis.
Este trabalho se propõe a atualizar o conhecimento
recente sobre a associação do sistema HLA com doenças neuropediátricas.
Associação do HLA com Doenças Neuropediátricas
Os avanços nas técnicas de genética molecular
proporcionaram maior entendimento da influência dos
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
(77-83)
Além dos aspectos genéticos, a relação do sistema
HLA com a neuropediatria se baseia na reconhecida
relação entre sistema imune e sistema nervoso. Ao contrário do que se pensava há 20 anos, o sistema nervoso
não é um “sítio imunoprivilegiado”, pois elementos da
resposta imune estão presentes na sua composição6.
Dados recentes mostram a presença de células T em
parênquima cerebral intacto e provas da migração das
mesmas para o SNC num curso de um estado inflamatório ou degenerativo7. Diversos estudos demonstraram que as células da micróglia funcionam como
apresentadoras de antígenos, assim manifestando em
sua superfície moléculas do MHC classe II. Suspeita-se
que os astrócitos também possam exercer tal função,
embora os trabalhos sejam inconclusivos8. Além disso,
proteínas e moléculas contidas nos fluidos intersticiais
e cerebroespinhal, de intercurso constante com a circulação sanguínea podem ter efeitos na resposta imune7.
Assim, progressos foram obtidos no estudo de diversos
acometimentos do SNC e podem ser fundamentados
por reconhecidos mecanismos imunológicos. Assim,
pode-se inferir que o sistema HLA está conseqüentemente envolvido no desencadeamento, manutenção,
predisposição ou proteção a certas doenças neurológicas7,8. Todas estas descobertas e observações
relacionando o sistema imune e neurológico apontam
uma promissora área de pesquisa, pois o entendimento
da regulação do HLA e das suas moléculas co-estimuladoras poderá ajudar a entender a fisiopatologia de
certas doenças auto-imunes neurológicas e atuar no
seu controle ou inibição8.
Doenças Desmielinizantes
Polineuropatia desmielinizante disseminada aguda
(Síndrome de Guillain-Barré):
A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma polineuropatia desmielinizante aguda que muitas vezes
acomete nervos motores, sensitivos e autonômicos de
extremidades, musculatura respiratória, face e musculatura ocular. Menos freqüentemente, é representada
por neuropatia axonal.
Embora sua etiologia não seja conhecida, sugere-
Neurociências
78
se uma causa auto-imune pela presença de anticorpos
anti-gangliosídeo, provavelmente com resultado de mimetismo molecular entre estruturas de microrganismos
infecciosos e gangliosídeos que compõem os nervos
periféricos9. Apesar disso, a síndrome não possui características comuns a outras doenças auto-imunes
clássicas: não é mais freqüente em mulheres, não tem
maior incidência no período fértil, não tem um curso de
surto/remissão e não é associada a outras doenças
auto-imunes9.
Como cerca de 60% dos casos são precedidos por
algum tipo de doença infecciosa, especialmente as trato
respiratório e gastrintestinal, e o sistema HLA participa
da resposta imune contra infecções, propôs-se um papel do polimorfismo desses genes na susceptibilidade
à síndrome. A partir dessas hipóteses, muitos trabalhos
tentaram mostrar associação entre HLA e susceptibilidade à doença. A maioria não conseguiu demonstrá-la e
aqueles que conseguiram mostraram uma associação
fraca e não reprodutível em trabalhos subseqüentes9.
Não houve diferença na freqüência de alelos HLA-DQA1,
-DQB1 e -DRB em chineses com SGB associada ou não
a infecção pelo Campylobacter jejuni10. Um aspecto da
doença, entretanto, foi associado ao HLA; o encontro de
maior freqüência do alelo HLA-DRB1*01 em pacientes
que precisaram de ventilação mecânica9.
Diante de informações tão diversas, percebe-se a
necessidade de novos trabalhos, com subgrupos populacionais homogêneos e bem definidos, para atestar
a participação dos genes do HLA na patogênese da
doença9,11.
Esclerose múltipla
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica
inflamatória que cursa com períodos de surtos e remissões de distúrbios sensitivos, fraqueza muscular em
membros, déficit visual, ataxia, entre outros. Acreditase que esses sintomas são resultado da destruição da
mielina do sistema nervoso central por um processo
auto-imune12. No entanto, não se sabe ao certo quais
eventos iniciam o processo patológico13. Essa origem
auto-imune é forte, porém não definitiva, já que também
são encontradas lesões em locais em que não há mielina, como por exemplo, na retina12.
A participação de fatores genéticos no seu desenvolvimento é bem estabelecida13. A primeira associação com um fator genético foi apresentada em 1972
com antígenos do sistema HLA classe I, HLA-A3 e
-B712. Em seguida, foram mostradas associações de
susceptibilidade com HLA-Dw2 e -DR212. A maioria
dos trabalhos atuais mostra de forma consistente a
participação do HLA na susceptibilidade à esclerose
múltipla e alguns, o associam a aspectos específicos
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da doença: o HLA-DR15, por exemplo, é mais freqüente
em pacientes do sexo feminino e que tinham uma idade
de início dos sintomas mais precoce14. Alelos HLA-DR
e -DQ não parecem estar relacionados ao curso ou à
severidade da doença e sim à sua susceptibilidade13.
Estudos de biologia molecular mostraram associação
positiva com os alelos HLA-DRB1*0301, -DRB1*040512,
-DRB1*17, -DRB1*1515 e haplótipo HLA-DRB1*1501DQA1*0102-DQB1*060212 e associação negativa com
alelo HLA-DRB1*1415. No Brasil, pesquisa em população afro-descendente mostrou associação com o
haplótipo HLA-DQB1*0602-DQA1*0102, que difere do
haplótipo anteriormente citado por não conter o alelo
HLA-DRB1*150116. Estudos recentes mostram que são
os alelos e haplótipos HLA de classe II que determinam
a suscetibilidade e proteção ao desenvolvimento de
esclerose múltipla15,17.
Distúrbios da transmissão neuromuscular
Miastenia Grave
Miastenia Grave
A miastenia grave (MG) é uma doença auto-imune
caracterizada por fraqueza muscular. Sua ocorrência é
freqüentemente associada à hiperplasia do timo, timoma
e outros distúrbios auto-imunes. Na MG, o hospedeiro
desenvolve anticorpos contra o receptor da acetilcolina
causando interrupção da transmissão nervosa através
de formação de imunocomplexos e ativação do complemento18. As evidências que suportam essa explicação
se baseiam em 5 critérios: (1) presença de anticorpos
anti-receptor de acetilcolina em 80-90% dos portadores;
(2) interação comprovada deste anticorpo em estudos
de imunohistoquímica; (3) injeção destes anticorpos
reproduz a doença em cobaias; (4) imunização com
antígenos dos receptores de acetilcolina reproduzem a
doença; e (5) redução nos níveis séricos destes anticorpos amenizam a doença. Além disso, a associação da
miastenia grave com doenças auto-imunes e a melhora
clínica associada à administração de terapia imunomoduladora (plasmaférese, corticóide, imunoglobulina
intravenosa, outros imunossupressores e timectomia)
corroboram sua etiopatogenia auto-imune19.
Existem relatos que a composição genética individual é importante na gênese desse distúrbio20. Sabese da associação entre genótipos HLA e miastenia
grave desde a década de 70 do século passado e
que esta relação varia de acordo com a raça, achados
clínicos, histologia tímica, idade de início da doença e
etnia19,21.
Na miastenia de início precoce (antes dos 40 anos)
os pacientes são geralmente do sexo feminino, com
aumento do timo, portadores de doenças auto-imunes
e cerca de 60% são portadores de HLA-B8 e -DR318. Na
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miastenia de início tardio, há certo predomínio masculino, não ocorre aumento do timo e percebe-se associação positiva com o HLA-B7 e -DR218. A variante tardia
corresponde a 60% de todos os casos de miastenia.
Shinomiya et al. observaram maior freqüência de
heterozigose para HLA DR9/DR13 em japoneses com
início da miastenia na infância e que apresentavam a
forma ocular da doença21. A predisposição ao subtipo
generalizado e de início precoce foi associada aos
haplótipos HLA-DRB1*1302-DQA1*0102-DQB1*0604
e HLA-DRB1*0901-DQA1*0301-DQB1*0303.
Em relação a possíveis fatores desencadeantes ou
causais, chama atenção a neoplasia tímica. A miastenia associada ao timoma é mais comum aos 60 anos
e não há associação bem definida com o HLA18. Em
pacientes com hiperplasia tímica, há relato de maior
freqüência dos alelos HLA-B*08, -DRB1*03, -DQA1*05
e -DQB1*0201, exceto em mulheres com início precoce
da doença19.
Garcia-Ramos et al. estudaram a associação do
genótipo HLA de classe II com doença tímica associada
a miastenia grave em população mexicana mestiça20.
O HLA-DR11 foi mais freqüente nos pacientes com
timoma sugerindo que ele pode vir a ser um marcador
deste subgrupo de pacientes20. Neste mesmo estudo,
o antígeno HLA-DR4 foi associado negativamente ao
timoma. Esses resultados diferem de outros estudos
na população caucasiana, chamando a atenção de
que diferenças raciais exercem papel na predisposição
genética à doença.
Cerca de 1-2% dos casos são relacionados ao uso
de penicilamina e este subgrupo de pacientes parece
ter freqüência significativa do HLA-DR1, um alelo não
usualmente visto em outros casos de miastenia grave.
O quadro clínico é similar às outras formas e remite com
a suspensão do medicamento18.
Fernandez-Mestre et al., estudando população
miscigenada na Venezuela, encontraram associação
positiva com os alelos HLA-A*31, -B*08, -B*39, -B*40,
-C*15, -C*17, e -DRB1*09. Já os alelos HLA-DQB1*06
e -DQA1*02 foram associados negativamente à doença19. Em pacientes com hiperplasia tímica foram
observadas maiores freqüências dos alelos HLA-A*31,
-B*08, -C*17, -DRB1*03, -DQA1*05 e -DQB1*02. Análise em separado do grau de contribuição dos alelos
HLA-B para o desenvolvimento da doença no total dos
pacientes indicou que o alelo HLA-B8 possuía a maior
força de associação, seguido por HLA-B39 e -B40.
Doenças infecciosas
Coréia de Sydenham
A coréia de Sydenham é um dos sinais maiores para
o diagnóstico de febre reumática. Talvez por isso, sua
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freqüência tenha aumentado em países subdesenvolvidos e diminuído nos desenvolvidos22. Ela é causada
por um distúrbio auto-imune de tecido conectivo caracterizado por movimentos involuntários, rápidos e sem
propósito mais proeminentes em face e membros.
A causa desse tipo de movimento involuntário ainda
não é conhecida, mas sabe-se da participação de anticorpos contra antígenos dos estreptococos do grupo
A, que reagem de forma cruzada com os neurônios dos
núcleos caudados e subtalâmico. Portanto, é razoável
se pensar numa possível participação do HLA nesse
processo patológico, já que é através dessa molécula
que os antígenos bacterianos são apresentados às
células imunes produtoras de anticorpos. A associação
com o HLA constitui alvo de alguns estudos, no entanto,
é possível se encontrar resultados diversos, desde sua
não associação ao HLA22, à sua correlação com os
alelos HLA-DQB1*0401 e -DQB1*040223.
HTLV-1
O vírus linfotrópico de células T humano tipo I
(HTLV-1) é comprovadamente relacionado com duas
doenças: o linfoma/leucemia de células T do adulto e a
paraparesia espástica tropical, uma mielopatia crônica
neurodegenerativa. A transmissão ocorre por via sexual,
parenteral e por aleitamento materno. Nos casos adquiridos pelo aleitamento materno, a latência pode ser
de 20 até 40 anos. Determinantes fisiopatológicos não
são bem esclarecidos, mas suspeita-se que o substrato
genético participe da fisiopatologia. Cerca de 5% dos
portadores desenvolverão sintomas. O desenvolvimento
de manifestações clínicas se associa com estados de
imunodeficiência. O alelo HLA-DRB1*0101 parece estar
associado à susceptibilidade, enquanto o -A*02 parece
ter efeito protetor.
Com relação ao risco de transmissão do vírus por
aleitamento materno, foi observada que essa transmissão não era influenciada por nenhum alelo HLA
classe I específico, no entanto, havia um aumento do
risco de transmissão proporcional à concordância HLA
classe I entre mãe e filho. Esse achado pode sugerir
que interações entre células imunológicas de mãe e
filho influenciam no risco de infecção por aleitamento
materno, de modo que quando há semelhança entre
HLA classe I materno e do filho, os antígenos maternos
apresentados às células imunológicas da criança são
reconhecidas como próprias (self)24.
Manns et al., em estudo de pacientes africanos
infectados por HTLV-1, observaram que os antígenos
HLA-DR15 e -DQ1 apareciam em alta freqüência nos
portadores do vírus em relação aos controles sadios25.
Pacientes com linfoma/leucemia de células T do adulto
e portadores assintomáticos possuíam distribuição do
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80
HLA de classe II parecidas. A freqüência dos alelos
HLA-DRB1*1501, -DRB1*1101 e -DQB1*0602 foi maior
que a observada nos pacientes apresentando paraparesia espástica tropical. Além disso, haplótipos HLADRB1*1101-DQB1*0301 e -DRB1*1501-DQB1*0602
foram mais presentes em pacientes com neoplasia
que com o acometimento neurológico, havendo assim
sugestão que certos tipos de HLA podem influenciar na
manifestação clínica da infecção. O HLA-DQB1*0602 foi
o único alelo -DQB1 mais freqüentemente associado a
portadores da paraparesia espástica tropical25.
Jeffery et al., estudando possíveis influências das
moléculas de HLA na carga viral e no desenvolvimento
da paraparesia espástica tropical, encontraram que
pacientes com os alelos HLA-A*02 tinham metade do
risco de desenvolver este acometimento neurológico26.
O desenvolvimento de paraparesia espástica tropical
estava mais associado com o alelo HLA-DRB1*0101,
chegando a dobrar o risco desta manifestação na
ausência do “fator protetor” HLA-A*0226. Com isso, o
autor sugere que a resposta de células T citotóxicas
mediadas pelo HLA classe I possa exercer papel de
controle, reduzindo a carga viral e evitando complicações. Esses mesmos autores, em 2000, mostraram que
o alelo HLA-Cw*08 foi associado com proteção à doença e baixa carga viral em portadores assintomáticos27.
A presença dos alelos HLA-A*02 e -Cw*08 preveniam
36% dos potenciais casos de paraparesia espástica
tropical. O alelo HLA-B*5401 foi associado a maior risco
de doença, atribuindo-se a ele cerca de 17% dos casos
de paraparesia espástica tropical26.
crianças portadoras de hidrocefalia do que naquelas
sem essa complicação e nos controles sadios30.
Neurocisticercose
A neurocisticercose é causada pela infecção do
parênquima cerebral, espaço subaracnóide, sistema
ventricular ou medula espinhal pelas larvas do helminto
Taenia solium. A presença dos cistos desse cestódeo no
tecido nervoso pode provocar vários sintomas, sendo
cefaléia, convulsões, vômitos e mudanças do comportamento os sintomas mais freqüentemente relatados
pelos pacientes.
Cada organismo reage de forma diferente à presença do parasita no sistema nervoso, e a maneira como
as lesões de desenvolvem e evoluem dependem da
reposta inflamatória e imune do organismo afetado.
Como o sistema HLA faz parte desse mecanismo de
defesa do corpo humano, sua participação no processo
foi estudada.
A associação da neurocisticercose com o HLA foi
relatada em alguns estudos populacionais que mostraram resultados contrastantes. Num grupo de indivíduos
infectados no México, o antígeno HLA-A28 foi associado
à suscetibilidade à doença com rico relativo de 3,5531.
Já estudo realizado no Brasil não conseguiu demonstrar
uma diferença estatisticamente significante entre as
freqüências de alelos HLA em pacientes portadores da
parasitose e em controles saudáveis32. Os poucos estudos sobre a participação do sistema HLA na patogênese
da neurocisticercose não permitem conclusões sobre
como o sistema imune responde a esse parasito.
Neurotoxoplasmose
A neurotoxoplasmose resulta da infecção do
sistema nervoso central pelo protozoário intracelular
obrigatório Toxoplasma gondii. É também denominada encefalite toxoplásmica28. Normalmente ocorre em
indivíduos imunodeprimidos, podendo se apresentar
com diversas manifestações clínicas, incluindo crises
convulsivas, déficits motores focais, anormalidades
em nervos cranianos, mudança do estado mental,
achados psiquiátricos, entre outros29. Em sua forma
latente e mais comum, o T. gondii forma cistos no
sistema nervoso central, o que ocorre com maior
freqüência em indivíduos soropositivos para o vírus
da imunodeficiência humana (HIV), evidenciando a
participação do sistema imune na resistência cerebral
a esse microrganismo28.
Antígenos HLA-DQ3 parecem estar associados a
uma maior susceptibilidade à encefalite toxoplásmica
em pacientes caucasianos soro-positivos, enquanto
antígenos HLA-DQ1 parecem ter efeito protetor. O
antígeno HLA-DQ3 também demonstrou associação
com a evolução da doença sendo mais freqüente em
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Doenças neoplásicas
Gliomas/Glioblastomas
O glioma/glioblastoma é um tipo de câncer que
acomete o sistema nervoso e tem as células gliais como
precursoras. Pode ser subdividido em astrocitoma,
oligodendroglioma e glioma maligno (ou glioblastoma),
a depender do tipo de célula glial da qual teve origem.
Pode ser de baixo ou alto grau de malignidade. Todos
os subtipos de glioma são raramente diagnosticados
em sua fase inicial de evolução, sendo normalmente
descobertos quando já provocam sintomas como crises
epilépticas, cefaléia e alterações psíquicas.
O glioblastoma humano é conhecido por ser um tumor altamente letal e por ser capaz de suprimir uma resposta imune anti-tumoral efetiva. Essa imunossupressão
é conseguida pela liberação de citocinas, especialmente
o TGF-β fator de crescimento tumoral beta) e de outros
fatores como o CD95 L (Ligando do CD95)33.
O HLA também parece estar associado à imunos-
Neurociências
81
supressão conseguida pelas células tumorais que
compõem o glioblastoma humano. Foi sugerido que
parte das células que compõem esse tipo de tumor
expressam o HLA-G em sua superfície33,34. A expressão
dessa molécula de histocompatibilidade não clássica
torna as células tumorais menos vulneráveis ao ataque
de células citolíticas do sistema imune33. As informações disponíveis indicam que mesmo a expressão do
HLA-G em uma pequena parte das células neoplásicas
pode ser o bastante para uma supressão da resposta
imune33. Acredita-se que o HLA-G interage diretamente
com receptores das células imunes, como linfócitos T
CD4+ e CD8+, induzindo uma supressão da resposta
dessas células, além de inibir a sua proliferação sem
causar apoptose33.
Foi também observada uma regulação negativa
(downregulation) das moléculas HLA de classe I e II em
células migrantes in vitro e células invasoras tumorais
in vivo, o que pode indicar que o processo de invasão
tumoral está associado a uma diminuição da expressão
dessas moléculas na superfície das células tumorais
do glioma35.
Machulla et al.36 relataram que alelos HLA-A*25, B*27, -DRB1*15 e o haplótipo HLA-DRB1*15/DRB5*(51)
combinado com -DRB1*11 predispõem ao desenvolvimento de glioma. Já os alelos HLA-DRB1*07 e o haplótipo HLA-Cw*6/DRB1*07 se associaram a risco negativo
para esta neoplasia36. Os alelos HLA-B*13 e o haplótipo
HLA-B*07/Cw*07 foram encontrados em maior freqüência em pacientes com glioblastoma multiforme do que
em controles, enquanto o alelo HLA-Cw*01 foi relatado
como fator protetor a essa neoplasia37. O alelo HLAA*32 foi associado progressão mais lenta para morte
e o -B*55 a uma progressão mais rápida37.
Neuroblastoma
O neuroblastoma é o tumor sólido mais comum em
crianças menores de 15 anos, com freqüência estimada
de 1-3 casos em 100.000. Trata-se de tumor maligno
composto de células neuroectodérmicas indiferenciadas provenientes da crista neural embrionária. Sua
caracterização clínica é difícil porque pode ocorrer em
diferentes locais do corpo, dar metástase para vários
sítios e provocar síndromes paraneoplásicas com secreção de hormônios.
A presença de moléculas de histocompatibilidade na
superfície de células neoplásicas foi estudada e alguns
resultados mostraram a ausência do HLA classe I. Sugeriu-se que a não expressão dessas moléculas fosse um
dos mecanismos pelos quais essas células escapam do
sistema imune38,39. A regulação negativa (downregulation) das moléculas de classe I parece dificultar a ação
de linfócitos T citotóxicos38 e de células natural killers39.
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Com relação ao neuroblastoma, pesquisas indicaram
que os complexos HLA classe I38-41 e classe II40,41 não
são expressos, ou são pouco expressos, na superfície
dessas células, principalmente naqueles tumores com
comportamento mais agressivo41.
Doenças convulsivas
Epilepsia Mioclônica Infantil
A epilepsia mioclônica infantil é um tipo de epilepsia
generalizada idiopática que normalmente tem início na
adolescência. Manifesta-se clinicamente por abalos
mioclônios irregulares, acometendo principalmente os
membros superiores, ocorrendo mais freqüentemente
pela manhã, após o despertar. Acredita-se que seja uma
doença geneticamente determinada, mas não se conhece como essa herança é passada de uma geração para
a outra42. Estudos mostraram que um locus gênico, denominado locus EJM-1, localizado próximo ao complexo
HLA está associado ao desenvolvimento da doença43.
Entretanto, esta associação foi contestada em outros
estudos44. Descobrir se esse tipo de epilepsia está realmente associado ao locus EJM-1 será muito importante,
pois a doença pode estar associada a alelos/haplótipos
específicos do HLA44. Alguns trabalhos mostraram
associação do distúrbio aos antígenos HLA-DR6 em
população alemã e HLA-DR13 numa população árabe44.
O haplótipo DRB1*1301/*1302-DQB1*0603/*0604 foi
encontrado em maior freqüência em indivíduos com
epilepsia mioclônica infantil quando comparados a
indivíduos com outros tipos de epilepsia43. No entanto,
não foi encontrada uma associação estatisticamente
significante entre esse haplótipo e a doença quando
pacientes foram comparados a controles sadios44.
O complexo HLA pode estar realmente associado
à epilepsia mioclônica infantil45, mas essa associação só será considerada definitiva se novos estudos
forem realizados com populações compostas de
maior número de indivíduos, mais homogêneas com
relação aos sintomas da doença e com grupo controle
composto de parentes de primeiro grau dos pacientes
(estudo de base familiar).
CONCLUSÃO
Os dados apresentados corroboram com a idéia
de que o sistema HLA tem uma participação importante na etiologia de doenças neurológicas de
interesse pediátrico. Apesar de não ser o único fator
atuante, o HLA influencia no desenvolvimento dessas
doenças provavelmente por ser peça fundamental
na resposta imune do corpo humano. Além disso,
os diferentes alelos/haplótipos do HLA influenciam
no quadro clínico, gravidade e prognóstico de várias
neuropatologias, sendo a miastenia grave e esclerose
Neurociências
82
múltipla as mais estudadas.
A descoberta de fatores genéticos, como o HLA,
pode ajudar no entendimento da fisiopatologia das
enfermidades neurológicas e ajudar, no futuro, a prever
o risco que uma pessoa portadora de determinado
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haplótipo ou alelo tem de desenvolver determinada
doença. Por isso, a importância de novos estudos para
confirmar os dados apresentados e para investigação
de outras doenças neuropediátricas prevalentes, porém
ainda não pesquisadas.
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Neurociências
83
Artigo de Atualização
Síndrome de Tourette: aspectos genéticos atuais
Tourette syndrome: recent genetic aspects
Débora Marques de Miranda1, Marco Aurélio Romano-Silva2, Antônio Lúcio Teixeira3.
RESUMO
A Síndrome de Gilles de la Tourette (ST) é uma entidade neuropsiquiátrica caracterizada pela presença de tics e com
importante componente hereditário. Muitos grupos vem estudando os aspectos genéticos da ST, mas frequentemente os
achados não se sustentam em estudos subsequentes e fica clara toda a dificuldade em estabelecer os genes relacionados
com a ST. Entretanto, no último ano foi publicado estudo que correlaciona mutação no gene da Slit and Trk-like family member
1 (SLITRK1) com a presença ST em um pequeno grupo de pacientes. Esse gene codifica a proteína SLITRK1 que é homóloga
às proteínas SLIT e o receptor de tirosina cinase (TRK). A família das proteínas SLIT estão envolvidos no direcionamento axonal
durante o cruzamento da linha média na medula vertebral. Enquanto o receptor de TRK acelera a diferenciação induzida pelo
fator de crescimento neuronal. A SLITRK aparentemente está envolvida no crescimento de dendritos e axônios. Faltam estudos
que avaliem a presença de mutações no gene da SLITRK1 em outras populações, assim como que avaliem a possibilidade
de alteração de outros genes dessa via de sinalização. Entretanto, caso se confirmem as alterações no gene da SLITRK1, ou
de genes correlacionados, o entendimento e o estudo de ST passará a envolver o direcionamento axonal e especialmente
as proteínas da via SLITRK-SLIT-ROBO.
Unitermos: Síndrome de Tourette, Genética, Tiques.
Citação: Miranda DM, Romano-Silva MA, Teixeira AL. Síndrome de Tourette: aspectos genéticos atuais. Rev Neurocienc
2007; 15(1):83-86.
SUMMARY
Gilles de la Tourette Syndrome (GTS) is a neuropsychiatric disorder characterized by the presence of tics and with a strong
hereditary component. Genetic aspects of GTS have been studied and most of genetic findings are not reproducible in the
subsequent studies. However, recently it was published a study where mutations in the Slit and Trk-like family member 1
(SLITRK1) gene were found in a few individuals with GTS. This gene codifies a SLITRK1 protein that is homologous to the SLIT
protein and tyrosine kinase receptor (TRK). The family of SLIT proteins regulates the axonal guidance and the crossing-over at
the spinal cord. The TRK accelerates neural growth factor-induced differentiation pathways. Apparently, the SLITRK1 protein is
involved in the growth of dendrites and axons. More studies are necessary to evaluate changes in the SLITRK1 gene in other
human populations, also other genes from this pathway should be studied in order to determine the putative role of SLITRK
gene in the pathogenesis of GTS.
Keywords: Tourette Syndrome, Genetics, Tics.
Citation: Miranda DM, Romano-Silva MA, Teixeira AL. Tourette syndrome: recent genetic aspects. Rev Neurocienc 2007;
15(1):83-86.
Trabalho realizado nos Departamentos de Saúde Mental, Farmacologia e Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais
1. Médica pediatra, doutora em Farmacologia Bioquímica e Molecular, pós-doutoranda do Departamento de Farmacologia da Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais.
2. Médico Psiquiatra, Doutor em Bioquímica, Livre-docente em Psiquiatra, Professor Associado do Departamento de Saúde Mental
da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais.
3. Médico Psiquiatra e Neurologista, Doutor em Biologia Celular, Professor doutor do Departamento de Clínica Médica da Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais
Endereço para Correspondência: Marco A Romano-Silva -Dept de Saúde Mental – Faculdade de Medicina – UFMG -Av Alfredo Balena, 190 -30130-100
Belo Horizonte-MG -e-mail: [email protected]
Trabalho recebido em 10/05/2006 • Revisão: de 11/06/2006 a 30/07/2006 • Aprovado em 31/07/2006 • Conflito de interesses: não
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Neurociências
84
INTRODUÇÃO
Vários estudos mostram ainda um aumento da
incidência de transtornos de humor e de ansiedade
nos pacientes com ST1. Além dessas manifestações
psiquiátricas, podem estar presentes ainda comportamento de auto-mutilação, transtornos de personalidade,
comportamentos agressivos e anti-sociais, transtorno
de conduta e dificuldade de aprendizagem4. Dentre as
co-morbidades neurológicas ressalta-se a ocorrência de
migrânea nos pacientes com ST, numa freqüência muitas vezes maior que na população em geral, chegando
a alcançar 25% dos pacientes com ST 13.
A Síndrome de Gilles de la Tourette (ST) é uma entidade neuropsiquiátrica caracterizada pela presença
de um ou, mais frequentemente, múltiplos tiques motores associados a um ou mais tiques vocais por, pelo
menos, um ano, sem um período superior a 3 meses
sem tiques1,2.
Os tiques são vocalizações e/ou movimentos anormais frequentemente descritos como involuntários,
repentinos, rápidos, repetitivos, arrítmicos e estereotipados1,3,4. Os tiques motores podem envolver um
músculo específico, pequenos grupos musculares ou
vários grupos musculares agindo coordenadamente5.
Os tiques são modulados por estados emocionais,
sendo exacerbados em situações de fadiga e de ansiedade, e minimizados durante o sono e nos momentos
de concentração1.
O presente trabalho tem como objetivo rever a literatura sobre a etiopatogênese da ST, enfatizando o papel
da genética: desde a dificuldade histórica de se estabelecer o envolvimento específico de fatores genéticos na
ST, até os recentes achados que, apesar de incipientes,
mudam as perspectivas de pesquisa na área.
Clínica e história natural da Síndrome de Tourette
A ST manifesta-se por volta dos 6 anos de idade
e tem curso variável, tendendo a diminuir tanto a frequência quanto a gravidade durante a puberdade ou
nos primeiros anos da vida adulta1,6,7. Um importante
estudo de seguimento de 58 adolescentes e adultos
jovens com idade entre 15 e 25 anos mostrou que os
tiques desaparecem em 26% dos casos, diminuem em
46%, permanecem estáveis em 14% e aumentam em
14% dos afetados8.
Em relação à sua relevância epidemiológica, a ST
deixou de ser considerada rara nos últimos anos. Entre
crianças, a prevalência de ST alcança cerca de 50 por
10.0009, sendo que alguns estudos recentes apontam
mais de 100 casos por 10.000 crianças5. Em adultos,
acomete de 0,5 a 4,3 indivíduos por 10.000, refletindo a
redução da prevalência do transtorno com a idade6.
A ST apresenta-se, freqüentemente, associada a
um amplo espectro de transtornos comportamentais e
psiquiátricos. Atualmente, acredita-se que apenas 15%
dos pacientes com ST não apresentam co-morbidades
psiquiátricas. As desordens mais comumente associadas são o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH)1,4. A co-morbidade entre TOC e ST varia entre
20-60%, existindo estudos que apontam até 90% de
co-morbidade com sintomas obsessivo-compulsivos10.
Em crianças e adolescentes, a co-morbidade entre ST
e TOC foi de 41%, enquanto a co-morbidade entre ST
e TDAH foi de 12%, e a associação das três entidades
foi de 23,5%4,6,7, 11,12.
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As conseqüências sociais da ST são variadas. Por
exemplo, no trabalho de Pappert et al.7, constatou-se
que 52% das crianças com diagnóstico de ST apresentavam alterações sociais ou educacionais sendo
que: 39% requereram salas de estudo especiais, 10%
estavam atrasados na escola em, pelo menos, um ano
e 29% apresentaram problemas disciplinares. Já na vida
adulta, 32% dos pacientes têm problemas sócio-educacionais. No momento da entrevista, apenas 71% estavam empregados. Dentre os pacientes com problemas
sócio-educacionais durante a infância, 50% persistem
com alterações sociais durante a vida adulta7.
Etiopatogênese da Síndrome de Tourette
A etiopatogênese da ST ainda é controversa. Estudos de neuroimagem estrutural e funcional, assim como
investigações anátomo-patológicas atuais, sugerem
fortemente o envolvimento de circuitos córtico-estriato-tálamo-corticais (ou fronto-estriatais) na gênese dos
tiques e alterações comportamentais na ST1. Mas o que
determinaria a disfunção/lesão desses circuitos?
Vários fatores foram propostos como possivelmente
envolvidos, incluindo alterações peri-natais, fatores
auto-imunes, especialmente após infecção por estreptococos, além de fatores genéticos.
Alguns grupos de pesquisa consideram que parte
dos pacientes com ST integraria a entidade clínica denominada PANDAS (Pediatric Autoimmune Neuropsychiatric Disorder Associated with Streptococcal infection).
Esses autores propõem que auto-anticorpos produzidos
contra o Streptococcus beta-hemolítico do grupo A de
Lancefield teriam reação cruzada com o tecido neuronal
dos núcleos da base gerando os tiques e os sintomas
comportamentais14,15. Entretanto, vários aspectos dessa entidade continuam controversos, entre eles: não é
clara a relação entre a infecção pelo Streptococcus e o
desenvolvimento dos sintomas, os auto-anticorpos são
variavelmente detectados no soro/plasma dos pacientes
conforme o grupo de pesquisadores ou a metodologia
empregada. Outro aspecto que deve ser apontado é
que mesmo os anticorpos detectados podem ser decorrentes de uma resposta imune dirigida à lesão tecidual
anterior e não como os fatores determinantes da lesão.
Sendo assim, são necessários mais estudos, inclusive
com investigação de outros fatores imunológicos, não
Neurociências
85
somente anticorpos, para entendermos o papel da
imunologia na ST 16.
Em relação aos fatores perinatais, o trabalho de
Burd et al.17 avaliou 92 cartões de pré-natal de crianças
com ST, comparando-os com o de 420 controles. Esse
estudo apontou que os cuidados pré-natais (número
de consultas médicas e mês de início do pré-natal) e o
valor < 8 do índice Apgar de 5 minutos são fatores de
risco para o desenvolvimento de ST. Em estudo realizado por Khalifa et al.18, no entanto, não foi encontrada
associação entre ST e fatores pré ou perinatais.
As bases genéticas da ST: pesquisas atuais
Familiares de primero grau de pacientes afetados
pela ST têm um risco de 10 a 100 vezes maior que o
risco de um indivíduo da população em geral para desenvolver a ST 5,19. Estudos com gêmeos monozigóticos
mostram uma alta taxa de concordância de 86% em
relação aos transtornos associados com tiques, mas de
apenas 20% entre os gêmeos dizigóticos, o que sugere
fortemente um componente genético na base da ST20.
Vários grupos vêm trabalhando com o objetivo de
elucidar as bases genéticas da ST, mas a despeito do
modelo de estudo usado, do número de famílias ou
casos analisados, poucos estudos vêm apresentando
dados consistentes ou reprodutíveis, reforçando a
concepção de grande heterogeneidade da ST tanto em
relação ao seu aspecto fenotípico, quanto à complexa
herança poligênica20.
Os neurolépticos continuam sendo a principal opção
terapêutica na ST. Esse fato motivou o início da investigação de possíveis genes associados à ST em genes
envolvidos na neurotransmissão dopaminérgica. Foram
encontradas associação entre um polimofismo VNTR
(variant number of tandem repeats) do exon 3 do gene
do receptor D4 e entre o receptor D2 e a ST , mas faltam
estudos que confirmem esses dados21-23. Outros genes
relacionados com a modulação da neurotransmissão
dopaminérgica foram estudados, como: receptores
de dopamina D1 e D5, tirosina hidroxilase, dopamina
beta-hidroxilase, tirosinase, transportador de dopamina,
transportador de serotonina, triptofano-hidroxilase e
os receptores serotoninérgicos 1A, 6 e 7 22, mas sem
achado de associação com a ST.
A possibilidade de correlação da ST com alterações
auto-imunes têm motivado a pesquisa de genes participantes da resposta imune14,24,25. Foram feitos vários
estudos com genes codificando antígenos leucocitários
humanos (HLA) de classe I e II, mas nenhum deles
mostrou associação com a ST. As regiões cromossômicas que contêm os genes HLA também não foram
apontadas em estudos de mapeamento como regiões
associadas geneticamente com a ST26,27. No momento,
como as alterações imunes associadas com a ST são
bastante questionáveis, é necessário esclarecer melhor
o envolvimento do sistema imune na ST antes de ampliar
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os estudos nos genes moduladores deste.
Mais recentemente foi feita associação entre BDNF
(Brain Derived Neural Factor) e vários transtornos psiquiátricos, entre eles o TOC. Como a co-morbidade entre
TOC e a ST é freqüente e, possivelmente, esses grupos
de pacientes têm uma mesma vulnerabilidade genética28,29, foi realizado estudo de polimorfismo val66met do
gene do BNDF em ST sem achado de associação30,31.
Os estudos de mapeamento amplo pelo genoma
realizado com grandes famílias ou com famílias com
mais de um membro afetado apontaram ligação entre
a ST com várias regiões genômicas, tais como nos
cromossomos 4, 5, 7, 8, 11, 13 e 17 20 e regiões com
escores de associação mais baixos nos cromossomos
2, 3, 16, 18, 19 e 20 32, 33. Nesses sítios genéticos, vem
sendo feito mapeamento detalhado por diversos grupos,
estudando-se famílias de diferentes populações na
tentativa de confirmar os sítios acima ou simplesmente
apresentar novos sítios de associação.
Alterações cromossômicas em indivíduos e famílias
têm sido estudadas na expectativa de identificar um
gene ou genes que gerariam a ST a partir da presença
de um rearranjo gênico. Recentemente, Abelson et al.34
identificaram um paciente portador de ST e TDAH que
possui uma inversão no cromossomo 13, do qual foi feita
investigação de genes próximos a região de rearranjo
e encontrado gene possivelmente associado com a ST.
O gene encontrado foi o Slit and Trk-like family member
1 ou simplesmente SLITRK1 que codifica uma proteína
transmembrana com duas repetições ricas em leucina
em seus domínios extracelulares. Essa poteína em rato
é expressa em neocórtex, estriato, globo pálido, cerebelo, hipocampo, talámo e núcleos subtalâmicos mostrando alguma sobreposição com regiões envolvidas
com a ST34. Depois de identificado o gene da SLITRK1
próximo a região de rearranjo, foram investigados 174
pacientes com diagnóstico de ST quanto à presença de
mutações nesse gene. No total foram encontrados três
pacientes com ST e alterações no gene da SLITRK1. As
alterações descritas foram duas diferentes mutações
uma delas em frameshift e a outra identificada em dois
pacientes não relacionados é uma troca simples de um
nucleotídeo em região não transcrita. A mutação em
frameshift determina a geração de proteína incompleta, que, quando expressa em neurônios, promove um
crescimento reduzido de neuritos. A mutação em região
não transcrita promove redução dos níveis de expressão
da proteína. Essas mutações foram descritas em uma
parcela muito pequena dos pacientes com diagnóstico
de ST, mas aparentemente seriam um fator determinante
da presença de ST nos mesmos. O mais relevante, no
entanto, é a perspectiva de que o estudo dessa proteína
e das vias correlacionadas com ela podem vir a elucidar
a patogênese da ST.
A SLITRK1 é proteína homóloga à SLIT e ao receptor
de tirosina cinase (TRK). O TRK acelera vias de diferenciação induzidas pelo fator de crescimento neural.
Neurociências
86
Enquanto as proteínas SLIT e seus receptores, os
ROBO, têm como papel modular o crescimento axonal
no que diz respeito ao cruzamento da linha média na
medula espinhal. Os primeiros elementos da via SLITROBO foram descritos apenas nos últimos 10 anos e
ainda é uma via pouco conhecida. Foram identificadas
3 proteínas SLIT e 4 receptores, os ROBO. As proteínas
SLIT foram denominadas SLIT 1 a 335,36. As SLIT 1 e 2
são expressas no cerébro e medula espinhal, respectivamente, e apresentam redução da expressão após o
período fetal. Já a SLIT 3 é pouco expressa em tecidos
do sistema nervoso central, sendo encontrada principalmente em tecido tireoideano. Os receptores ROBO
foram descritos e denominados de 1 a 4. Os ROBO também têm redução de expressão no período pós-natal
e assim como as SLIT 1 e 2 são largamente expressos
no sistema nervoso central, exceção ao ROBO 4 que
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endotélio vascular, sendo encontrado nas bibliotecas de
proteínas expresso principalmente em tecidos tumorais
durante a vida adulta34,37. Essas famílias de proteínas
constituem novo interesse para os grupos dedicados
ao estudo da patogenia da ST.
Estudos que repliquem os achados de alteração
da SLITRK1 em outras populações de pacientes com
ST, assim como os estudos funcionais e em modelos
animais são os próximos passos para entendermos o
como e o quanto essa nova via participa da patogênese
do ST38. Assim sendo, com a associação de ST com
via SLITRK-SLIT-ROBO inicia-se uma nova linha de
racíocinio na pesquisa, a princípio diferente dos mecanismos clássicos envolvidos com neurotransmissão,
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causal mechanisms? Trends Genet 2006; 22(6):291-293.
Neurociências
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AGRADECIMENTO AOS AVALIADORES
O Corpo Editorial da Revista Neurociências agradece a todos os colegas que altruística e anonimamente colaboraram com a
avaliação dos artigos submetidos, revisando o conteúdo científico e técnico, durante o ano de 2006.
Adrialdo José Santos UNIFESP SP
Isabel Altenfelder Santos Bordin UNIFESP SP
Adriana Seber UNIFESP SP
Iscia Teresinha Lopes Cendes UNICAMP SP
Afonso Carlos Neves UNIFESP SP
Jacqueline MR Silveira Leite UNILAVRAS MG
Agnes Irna Horn FAMEMA-Marilia SP
João Eduardo Coin de Carvalho UNIP SP
Alba Fernandes UFERJ RJ
José Eduardo Pompeu UNIP São Camilo SP
Alexandre Luis Longo UNIVILLE-Joinville SC
José Fabio Leopoldino UFSE SE
Alexandre Vallota da Silva UNIFESP SP
José Mauricio G Yacozzill USP-Ribeirão Preto SP
Alice Hatsue Masuko UNIFESP SP
José Osmar Cardeal UNIFESP SP
Alzira Alves de Siqueira Carvalho USP SP
João Pereira Leite USP-Ribeirão Preto SP
Ana Cristina Chaves UNIFESP SP
Juliana Valbuza Spelta UNIFESP SP
Ana Claudia Ferraz UNIFESP SP
Katia Luzia Ferreira G de Alencar UNIFESP SP
Ana Lucia Leal Chiappetta UNIFESP SP
Katia Maria Gonçalves Allegretti UNIFESP SP
Ana Paula Bensemann Gontijo UGMG MG
Katyana Rocha Mendes da Silva USF SP
Ana Paula Rocha Oliveira UNIFRAN SP
Laiz Helena Castro T Guimarães UNILAVRAS MG
Andrea Lotufo UNIFESP SP
Leticia Moraes de Aquino HIAE UNIFESP SP
Andrezza Sossai R de Carvalho UNISANTA SP
Lineu Cesar Werneck UFPR PR
Audrey Cristine Esteves UFSC SC
Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela UFMG MG
Beatriz Hitomi Kyomoto UNIFESP SP
Lucila Bizari Fernandes do Prado UNIFESP SP
Caio Imaizumi UNIP SP
Luis Fabiano Marin UNIFESP SP
Camila Ottoboni UNIFESP SP
Luiz Celso Pereira Vilanova UNIFESP SP
Camila Torriani FMU SP
Manoel Martins UNIFESP SP
Carla Gentile Matas USP SP
Marcelo Masruha UNIFESP SP
Celia Harumi Tengan UNIFESP SP
Marcelo R Barbosa UNIFESP SP
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
Cesar Osorio de Oliveira UNIFESP SP
Marcelo Reina Siliano UNISANTA SP
Cesar Noronha Raffin UNESP-Botucatu SP
Marcia Cristina Bauer Cunha UNIB SP
Christian Ingo Lenz Dunker USP/UNIMARCOS SP
Marcia Maiumi Fukujima UNIFESP SP
Clarisse Potasz UNIFESP SP
Marco Antonio Cardoso Machado UNIFESP SP
Clecio de Oliveira Godeiro Jr. UNIFESP SP
Marco Antonio F Alves UNIMES UNISANTA SO
Clelia Maria Ribeiro Franco UFPE PE
Marco Antonio Orsini Neves UFRJ RJ
Cristiane A Moran UNINOVE SP
Marcos RG Freitas UFRJ RJ
Cristiane Fiquene Conti UNIFESP SP
Margareth Rose Priel CUSC UNIFESP SP
Cristiane S Gomes UNICID SP
Maria José Virela de Varela UNIFESP SP
Cristiane Rufino de Macedo UNIFESP SP
Maria Ligia Juliano UNIFESP SP
Danielle Corga UNIP São José dos Campos SP
Maria Sheila Guimarães Rocha CSSM SP
Darcio Roberto Nalli UNIFESP SP
Marilia de Morais Rezende UNIFESP SP
Dayane Nunes de Oliveira UCG GO
Marina Brito UNIFESP SP
Debora Amado Scerni UNIFESP SP
Melina Tanaka UNIFESP SP
Debora Aparecida Lentini-Oliveira SPO SP
Monica Rodrigues Perracini UNICID SP
Debora Cristina de A Galdino UNILAVRAS MG
Nilton Amorim de Souza UNIFESP SP
Debora F de Melo Vitorino UNILAVRAS MG
Nitamar Abdala UNIFESP SO
Denis Buchuetti UNIFESP SP
Orlando Barsottini UNIFESP SP
Denise Castilho C Santos UNIMEP – Piracicaba SP
Osvaldo Massaiti Takayanagui US-Ribeirão Preto SP
Deusvenir de Souza Carvalho UNIFESP SP
Patricia Driusso FSCAR SP
Douglas Martins Braga UNIFESP SP
Paulo Helio Monzillo SCM SP
Ébe dos Santos Monteiro UNIFESP SP
Paulo Hernique Pereira Bertolucci UNIFESP SP
Eliane Malheiro Ferraz de Carvalho UNIFESP SP
Reginaldo C Silva Filho INCISA/CIEFATO SP
Eliana Maria Varise UNINOVE / AACD SP
Rita de Cássia dos Reis Moura UNIFMU SP
Elisabete Carrara-Angelis FAP/CeUn São Camilo SP
Roberto Cesar Pereira do Prado UFC-CE / UFS-SE
Elza Marcia Targas Yacubian UNIFESP SP
Rodrigo Rizek Schultz UNISA SP
Enedina Maria Lobato de Oliveira UNIFESP SP
Rosa Hasan USP SP
Enio WA Cacho UNICAMP SP
Rubens Baptista Jr UNICAMP SP
Fabiana Ruotulo UNIFESP SP
Sandro Luiz de Andrade Matas UNIBAN SP
Fabio Jakaitis UNIBAN SP
Sheila Gemelli de Oliveira UPF Passo Fundo RS
Fatima Capella Giannattasio UNIFESP SP
Sissy Veloso Fontes UMESP SP
Fatima Valéria Rodrigues de P Goulart UFMG MG
Sonia Maria Dozzi Brucki FMUSP SP
Fernando Cesar I Marcucci UEL –Londrina PR
Sonia Maria CA Silva HSPE SP
Fernando Freitas Ganança UNIBAN SP
Stella M Tavares HIAE SP
Fernando Rodrigues de Carvalho SPO SP
Susana Valente UNIFESP SP
Flavia Silva Ramos SC Mauá / HCFMUSP SP
Sueli Rizzutti UNIFESP SP
Flavio Aloe FMUSP SP
Thais Soares Cianciarullo Minett UNIFESP SP
Francis Meire Favero UNIFESP / FIBRA SP
Vanderci Borges UNIFESP SP
Francisco Cardoso UFMG MG
Vanessa C Monteiro AACD UNIFESP SP
Francisco José C Lucas Hospital São Camilo SP
Vanessa Regina dos Santos UNIMARCOS SP
Franz Jooji Onishi UNIFESP SP
Vanessa Ruotulo Ferreira UNIFESP SP
Gabriel de Freitas UFRJ RJ
Wilson Marques Jr FM Ribeirão Preto SP
Geraldo NV Rizzo Hospital Moinho de Ventos RS
Gilberto Mastrocola Manzano UNIFESP SP
Gisele Sampaio Silva UNIFESP SP
Helga Cristina Almeida e Silva UNIFESP SP
Helio Afonso Ghizoni Teive UFPR PR
Esta é uma versão resumida da bula. Favor consultar as informações completas para prescrição, antes da administração deste medicamento. ACTILYSE® Alteplase. Forma farmacêutica e apresentação: Pó liófilo injetável: frasco-ampola
contendo 2.333 mg de pó liófilo injetável, correspondente a 50 mg de alteplase, acompanhado de frasco-ampola com 50 mL de diluente. As embalagens estão acompanhadas de cânulas de transferência. Uso adulto - Para infusão endovenosa.
Composição: Cada mL de solução reconstituída contém 1 mg de Alteplase. Excipientes q.s.p. 1 mL. Indicações: Tratamento fibrinolítico na oclusão coronária aguda de origem trombótica. Tratamento trombolítico na embolia pulmonar aguda
grave com instabilidade hemodinâmica. Tratamento trombolítico de acidente vascular cerebral isquêmico agudo. Contra-indicações: ACTILYSE® não deve ser usado nos casos em que houver alto risco de hemorragia, como: hemorragia
grave recente ou nos últimos 6 meses, diátese hemorrágica conhecida; pacientes recebendo anticoagulantes orais; histórico de danos ao sistema nervoso central; histórico, evidência ou suspeita de hemorragia intracraniana,
incluindo hemorragia subaracnóide; hipertensão arterial grave não-controlada; cirurgia de grande porte ou traumatismo grave nos últimos 10 dias, traumatismos recentes na cabeça ou crânio; ressuscitação cardiopulmonar
prolongada ou traumática (> 2 minutos), parto, dentro dos últimos 10 dias, punção recente de um vaso sangüíneo não compressível; hepatopatias graves, incluindo insuficiência hepática, cirrose, hipertensão portal e hepatite
ativa; retinopatia hemorrágica, por exemplo em casos de diabetes ou outras condições oftálmicas hemorrágicas; endocardite bacteriana, pericardite; pancreatite aguda; doença ulcerativa gastrintestinal relatada nos últimos
3 meses; aneurisma arterial, malformações arteriais/venosas; neoplasma com alto risco de sangramento; hipersensibilidade ao princípio ativo ou a qualquer componente da fórmula. Nos casos de infarto agudo do miocárdio
e embolia pulmonar, deve-se observar ainda as seguintes contra-indicações: histórico de acidente vascular cerebral. Nos casos de acidente vascular cerebral isquêmico agudo, deve-se observar ainda as seguintes contraindicações: aparecimento dos sintomas da isquemia há mais de três horas antes do início da infusão ou momento do aparecimento dos sintomas desconhecido; sintomas do acidente vascular cerebral isquêmico agudo que
estejam melhorando rapidamente ou que sejam apenas leves, antes do início da infusão; acidente vascular cerebral grave demonstrado clinicamente e/ou por técnicas de imagem apropriadas; crise convulsiva durante o
acidente vascular cerebral; histórico de acidente vascular cerebral prévio ou traumatismo craniano grave nos últimos 3 meses; combinação de acidente vascular cerebral anterior e diabetes mellitus; administração de
heparina dentro de 48 horas antes do acidente vascular cerebral, com aumento do tempo de ativação parcial de tromboplastina; contagem de plaquetas menor que 100.000/mm3; pressão sistólica > 185 mmHg, pressão
diastólica > 110 mmHg ou necessidade de terapêutica agressiva (medicação i.v.) para reduzir a pressão sangüínea a esses limites; glicose sangüínea < 50 ou > 400 mg/dL. ACTILYSE® não está indicado para a terapêutica de
acidente vascular cerebral em crianças e adolescentes abaixo de 18 anos ou adultos acima de 80 anos. Precauções: ACTILYSE® deve ser utilizado por médicos com experiência em terapêutica trombolítica e com o equipamento
necessário para monitorar seu uso. Recomenda-se que no momento da administração de ACTILYSE® estejam disponíveis equipamento e medicação padrão para ressuscitação. Hemorragia: O uso concomitante do anticoagulante heparina
contribui para o surgimento de hemorragia. Pode ocorrer hemorragia em locais de punções recentes. O tratamento trombolítico requer cuidadosa atenção a todos os locais de possíveis hemorragias. Deve-se evitar o uso de cateteres rígidos,
injeções intramusculares e movimentação desnecessária do paciente. Caso ocorra hemorragia grave, o tratamento fibrinolítico deve ser descontinuado e a administração concomitante de heparina deve ser interrompida imediatamente. Caso
heparina tenha sido administrada nas últimas 4 horas antes do início da hemorragia deve-se considerar a administração de protamina. Aos poucos pacientes que não responderem a essas medidas preventivas, pode-se indicar o uso prudente
de elementos de transfusão. A transfusão de crioprecipitado, plasma fresco congelado e plaquetas deve ser considerada mediante reavaliação clínica e laboratorial após cada administração. É desejável atingir um nível de 1 g/L de fibrinogênio
com a infusão de crioprecipitado. Agentes antifibrinolíticos também devem ser considerados. Não se devem administrar doses superiores a 100 mg de ACTILYSE® no tratamento de infarto agudo do miocárdio, bem como de embolia pulmonar.
Após o tratamento não foi observada formação sustentada de anticorpos à molécula ativadora de plasminogênio tecidual humano recombinante. Se ocorrerem reações anafiláticas, deve-se interromper a infusão e iniciar um tratamento
apropriado. Recomenda-se monitorização principalmente de pacientes que estejam recebendo concomitantemente inibidores da ECA. O benefício terapêutico esperado deve ser avaliado individual e cuidadosamente contra o possível risco
de hemorragia, especialmente em pacientes com: injeções intramusculares recentes ou traumas pequenos e recentes; condições de alto risco de hemorragia que não foram mencionadas no item “Contra-indicações”. Nos casos de infarto
agudo do miocárdio e embolia pulmonar aguda, deve-se observar ainda as seguintes precauções: pressão sistólica > 160 mmHg. Vide item “Pacientes idosos”. Nos casos de infarto agudo do miocárdio, deve-se observar ainda as seguintes
precauções: Arritmia: A trombólise coronariana pode gerar arritmia associada à reperfusão. Antagonistas da glicoproteína IIb/IIIa: Não há experiência com o uso de antagonistas da glicoproteína IIb/IIIa nas primeiras 24 horas de tratamento.
Tromboembolismo: O uso de trombolíticos pode aumentar o risco de tromboembolia em pacientes com trombose no lado esquerdo do coração. Nos casos de acidente vascular cerebral isquêmico agudo, deve-se observar ainda as
seguintes precauções: O tratamento deve ser realizado somente por um médico com experiência em atendimento neurológico. Pacientes tratados com ACTILYSE® que sofreram acidente vascular cerebral isquêmico agudo têm um maior
risco de hemorragia intracraniana, principalmente nos seguintes casos: todas as situações listadas no item “Contra-indicações” e em geral todas as situações que envolvam alto risco de hemorragia; pequenos aneurismas cerebrais assintomáticos;
pacientes pré-tratados com ácido acetil salicílico têm um risco aumentado de hemorragia intracraniana, principalmente se o tratamento com ACTILYSE® for tardio. Não se deve administrar mais do que 0,9 mg de alteplase por kg de peso
corpóreo (máximo de 90 mg). O tratamento não deve ser iniciado após 3 horas do início dos sintomas. Os resultados positivos do tratamento diminuem com o passar do tempo; a taxa de mortalidade aumenta em particular para pacientes
previamente tratados com AAS; risco aumentado de hemorragia sintomática. É necessária a monitoração da pressão sangüínea durante e até 24 horas após a administração do tratamento. Se a pressão sistólica ultrapassar 180 mmHg ou a
diastólica ultrapassar 105 mmHg recomenda-se terapêutica anti-hipertensiva i.v. Em pacientes que sofreram acidente vascular cerebral anterior ou que tenham diabetes não controlada o benefício terapêutico é reduzido. A relação risco/benefício
é considerada menos favorável, mas ainda é positiva nesses pacientes. Em pacientes com acidente vascular cerebral leve, os riscos ultrapassam os benefícios esperados e eles não devem ser tratados com ACTILYSE®. Pacientes com acidente
vascular cerebral grave têm alto risco de hemorragia cerebral e morte não devendo ser tratados com ACTILYSE®. Pacientes com infarto em áreas extensas têm um maior risco de resultados adversos como hemorragia grave e morte. Nesses
pacientes, a relação risco/benefício deve ser cuidadosamente analisada. Para pacientes que sofreram acidente vascular cerebral, a probabilidade de obter resultados positivos diminui com a idade, com a maior gravidade do acidente vascular
cerebral e níveis elevados de glicemia à internação. Independentemente do tratamento, a probabilidade de seqüelas graves, morte ou hemorragia intracraniana grave aumenta com a idade. Pacientes acima de 80 anos, pacientes com acidente
vascular cerebral grave e pacientes com níveis basais de glicose sangüínea < 50 mg/dL ou > 400 mg/dL não devem ser tratados com ACTILYSE®. A reperfusão da área isquêmica pode induzir edema cerebral na zona do infarto. Tratamento
com inibidores de agregação plaquetária não deve ser iniciado nas primeiras 24 após trombólise com alteplase. Gravidez e lactação: Nos casos de doenças agudas com risco de vida, deve-se avaliar a relação risco/benefício. Não se sabe
se o alteplase é excretado no leite materno. Interações medicamentosas: Medicamentos que afetam a coagulação ou que alteram a função plaquetária podem aumentar o risco de hemorragia antes, durante ou após o tratamento com
ACTILYSE®. Tratamento concomitante com inibidores da ECA pode aumentar o risco de sofrer uma reação anafilática. Reações adversas: A reação adversa mais freqüente é a hemorragia produzindo queda dos níveis de hematócrito e/ou
hemoglobina. As hemorragias associadas à terapêutica trombolítica podem ser divididas em duas grandes categorias: hemorragia superficial e hemorragia interna no trato urogenital ou gastrintestinal, retroperitoneal ou SNC, ou hemorragia
de órgãos parenquimatosos. Com exceção de hemorragia intracraniana como reação adversa na indicação acidente vascular cerebral, bem como arritmias associadas à reperfusão na indicação infarto do miocárdio, não há razões médicas
para assumir que o perfil qualitativo e quantitativo das reações adversas do ACTILYSE® para as indicações embolia pulmonar e acidente vascular cerebral isquêmico agudo sejam diferentes dos perfis para a indicação infarto do miocárdio.
INDICAÇÃO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: Alterações cardíacas: arritmias associadas à reperfusão. INDICAÇÕES INFARTO DO MIOCÁRDIO E EMBOLIA PULMONAR: Distúrbios do sistema nervoso: hemorragia intracraniana.
INDICAÇÃO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO AGUDO: Distúrbios do sistema nervoso: hemorragia intracraniana. INDICAÇÕES INFARTO DO MIOCÁRDIO, EMBOLIA PULMONAR E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
ISQUÊMICO AGUDO: Disfunções gastrintestinais: hemorragia no trato gastrintestinal, náusea, vômito; hemorragia retroperitoneal, hemorragia gengival. Disfunções gerais e condições do local da administração: hemorragia superficial.
Problemas durante o tratamento: reações anafiláticas. Elas podem aparecer como erupções cutâneas, urticária, broncoespasmo, angioedema, hipotensão, choque ou qualquer outro sinal ou sintoma associado a reações alérgicas. Caso elas
ocorram, deve-se iniciar terapêutica convencional antialérgica. Em casos raros foi observada formação transitória de baixas concentrações de anticorpos ao ACTILYSE®. Embolização de cristais de colesterol e as correspondentes conseqüências
aos órgãos envolvidos. Investigações: queda da pressão sangüínea; aumento da temperatura. Disfunções do sistema reprodutor: hemorragia do trato urogenital. Disfunções respiratórias: epistaxe. Procedimentos clínicos e cirúrgicos: necessidade
de transfusão de sangue. Problemas vasculares: equimose; embolização trombótica e as correspondentes conseqüências aos órgãos envolvidos; hemorragia de órgãos parenquimatosos. Posologia e modo de usar: Deve-se administrar
ACTILYSE® logo que possível após o início dos sintomas. Após coletar sangue dos pacientes que não tenham utilizado recentemente anticoagulantes orais ou heparina, o tratamento com ACTILYSE® pode ser iniciado. A infusão deve ser
descontinuada caso o tempo de protrombina (PT) pré-tratamento seja > 15 segundos ou caso se identifique um tempo de ativação parcial de tromboplastina (TTPa) elevado. Tratamento de infarto do miocárdio: a)Regime de administração
acelerada durante 90 minutos para pacientes que sofreram infarto do miocárdio, nos quais o tratamento possa ser iniciado dentro de 6 horas após o início dos sintomas: Pacientes com peso corpóreo maior ou igual a 65 kg: Administrar uma
dose de 15 mg como bolo intravenoso, seguida de dose de 50 mg em infusão intravenosa durante os primeiros 30 minutos, e infusão intravenosa de 35 mg durante os 60 minutos seguintes. Pacientes com peso corpóreo abaixo de 65 kg:
Administrar uma dose de 15 mg como bolo intravenoso, seguida de infusão de 0,75 mg/kg de peso corpóreo (até o máximo de 50 mg) durante 30 minutos, e infusão de 0,5 mg/kg de peso corpóreo (até o máximo de 35 mg) durante os 60 minutos
seguintes. b) Regime de administração durante 3 horas para pacientes nos quais o tratamento possa ser iniciado entre 6 e 12 horas após o início dos sintomas: Deve-se administrar uma dose de 10 mg em bolo intravenoso. A seguir, administrar
a dose de 50 mg por infusão intravenosa durante a primeira hora, e infusão de dose de 40 mg durante as 2 horas seguintes. Em pacientes com peso corpóreo abaixo de 65 kg, a dose total não deve exceder 1,5 mg/kg. Terapêutica concomitante:
a)Ácido acetilsalicílico: Administrar ácido acetilsalicílico logo que possível após o início dos sintomas, e mantê-lo nos primeiros meses após o infarto do miocárdio. A dose recomendada é de 160 a 300 mg ao dia. b) Heparina Deve-se administrar
heparina concomitantemente por 24 horas ou mais (no mínimo 48 horas com o regime acelerado de administração). Recomenda-se começar com um bolo intravenoso inicial de 5000 unidades antes da terapêutica trombolítica e continuar com
infusão de 1000 unidades/hora. A dose de heparina deve ser ajustada de acordo com as medidas repetidas dos valores de TTPa de 1,5 a 2,5 vezes o valor inicial. Tratamento de embolia pulmonar: Deve-se administrar uma dose total de
100 mg em 2 horas. A maior experiência disponível é com o seguinte regime de administração: 10 mg como bolo intravenoso durante 1-2 minutos; 90 mg como infusão intravenosa durante 2 horas. A dose total não deve exceder 1,5 mg/kg em
pacientes com peso corpóreo abaixo de 65 kg. Terapêutica concomitante: Após tratamento com ACTILYSE®, o tratamento com heparina deve ser iniciado quando os valores de TTPa forem menores que o dobro do valor máximo do limite
normal. A infusão deve ser ajustada para 1,5 a 2,5 vezes o valor inicial, dependendo dos valores de TTPa. Tratamento de acidente vascular cerebral isquêmico: Antes de iniciar o tratamento deve-se excluir qualquer possibilidade
de sangramento intracraniano através de exames de tomografia cerebral computadorizada ou ressonância magnética; o tratamento só está indicado nas primeiras 3 horas após o início dos sintomas. A dose recomendada é
de 0,9 mg/kg (dose máxima de 90 mg) infundida durante 60 minutos, com 10% da dose total administrada como bolo inicial intravenoso. O tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível. Terapêutica concomitante: Deve-se evitar a
administração intravenosa de heparina ou ácido acetil salicílico nas primeiras 24 horas após o tratamento com ACTILYSE®. Caso seja necessário administrar heparina por via subcutânea para outras indicações a dose não deve exceder 10.000
UI por dia. Reconstituição da solução: Diluir o conteúdo de um frasco de ACTILYSE® liofilizado (50 mg) com 50 mL de diluente em condições assépticas. Todo o diluente deve ser injetado no frasco que contém o ACTILYSE® liofilizado,
utilizando a cânula de transferência que está incluída na embalagem do produto. A solução reconstituída pode ser diluída ainda mais em solução salina fisiológica estéril (0,9%) até atingir uma concentração mínima de 0,2 mg/mL. Contudo,
esta diluição não pode ser feita com água bidestilada ou com solução de carboidratos para infusão, por exemplo soro glicosado. ACTILYSE® não deve ser administrado concomitantemente com outras drogas, nem no mesmo frasco de infusão,
nem através do mesmo acesso venoso. USO RESTRITO A HOSPITAIS - VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. MS-1.0367.0049 Boehringer Ingelheim do Brasil Química e Farmacêutica Ltda. Versão: ACTIL-050131-1
BULA
Bula Resumida - SIFROL® (dicloridrato de pramipexol) - USO ADULTO - Forma Farmacêutica, Apresentação e Composição: comprimidos de 0,125, 0,25 e 1,0 mg de dicloridrato de pramipexol monoidratado.
Indicação: Doença de Parkinson idiopática em monoterapia ou em combinação com levodopa e tratamento sintomático da Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) Posologia: Oral, ingerido com água, com ou sem
alimento. Dividido em 3 doses diárias. Tratamento inicial (DP): Aumento gradual da dosagem, iniciando com 0,375 mg/dia, aumentando a cada 5-7 dias. Doses tituladas para alcançar máximo efeito terapêutico.
Agenda de aumento de doses: 1ª semana: 3 x 0,125 mg; 2ª semana: 3 x 0,25 mg; 3ª semana: 3 x 0,5 mg. Se necessário: aumentar a dose diária em 0,75 mg/semana até um máximo de 4,5 mg/dia. Tratamento de
manutenção: 0,375 mg a 4,5 mg/dia. Tratamento da SPI: Aumento gradual da dosagem, iniciando com 0,125 mg, em 2-3 horas antes de dormir, aumentando a dose a cada 4-7 dias. Doses tituladas para alcançar
maior efeito terapêutico. Esquema proposto de aumento de doses: 1ª semana: 1x 0,125 mg; 2ª semana: 1x 0,25 mg; 3ª semana: 1x 0,5 mg; 4ª semana: 1x 0,75 mg (dosagem máxima). Descontinuação do tratamento:
Pramipexol deve ser retirado gradualmente ao longo de vários dias. Posologia com levodopa concomitante: Reduzir a levodopa tanto durante a titulação de dose como durante a manutenção. Posologia sob insuficiência renal: Depuração de creatinina >50 ml/min: sem ajuste; entre 20-50 ml/min: dividido em duas doses, começando com 0,125 mg x dia. Dep. <20 ml/min: dose única, começando com 0,125 mg/dia. Se a
função renal continuar a piorar, reduzir a dose concomitantemente. Posologia sob insuficiência hepática: sem necessidade de modificação. Contra-indicações: Hipersensibilidade ao pramipexol ou a qualquer dos
outros componentes. Precauções especiais: Insuficiência renal: Reduzir a dose. Alucinações (na maioria visuais) podem afetar adversamente a capacidade de dirigir. Mais freqüentes em combinação com levodopa.
Cuidado em caso de doença cardiovascular grave. Monitorar PA, especialmente no início do tratamento (risco de hipotensão postural). Por causa da possível ocorrência de alucinações, sonolência ou adormecimento
súbito, não dirigir nem operar máquinas potencialmente perigosas. Guardar em local seguro, fora do alcance de crianças. Interações medicamentosas: Interações com medicamentos que afetam a fixação de proteínas
ou a eliminação por biotransformação são improváveis. Drogas inibidoras da secreção tubular renal ativa (catiônicas) ou que sejam eliminadas por secreção tubular renal ativa podem reduzir a depuração de um ou
de ambos os medicamentos: sinais de superestimulação por dopamina (discinesias, agitação, alucinações). Nesses casos, reduzir a dose. Selegilina e levodopa não interferem na farmacocinética. Interação com anticolinérgicos (improvável) e amantadina (possível) não foi examinada. Ao aumentar a dose de Sifrol, reduzir a dose de levodopa; manter constante a posologia de outros medicamentos antiparkinsonianos. Possíveis
efeitos aditivos com sedativos, álcool e medicamentos que aumentem os níveis plasmáticos de pramipexol (p. ex. cimetidina). Efeitos sobre a capacidade de dirigir ou operar máquinas: Podem ocorrer alucinações
que afetem adversamente a capacidade de dirigir. Gravidez e lactação: Efeitos não investigados em humanos. Uso na gravidez somente se o possível benefício justificar o possível risco ao feto. Não usar durante a
amamentação. Efeitos colaterais: náusea, constipação, sonolência, alucinações, insônia, confusão, tontura e edema periférico. Em doença inicial: sonolência, constipação. Em doença avançada, em combinação com
levodopa: discinesia, alucinações. Diminuem com a continuação da terapia. Constipação, náusea e discinesia tendem a desaparecer. No início do tratamento pode ocorrer hipotensão. Adormecimento súbito, mesmo
durante atividade da vida diária. Os pacientes e os médicos devem estar cientes do fato de que mudanças comportamentais podem ocorrer (por exemplo jogo patológico, aumento da libido, compulsão alimentar).
Neste caso, a redução ou descontinuação gradativa da dose deve ser considerada. Superdosagem: Não há experiência clínica em casos com superdosagem. Espera-se que ocorram os eventos adversos relacionados
ao perfil farmacodinâmíco dos agonistas dopaminérgicos, tais como náuseas, vômitos, hipercinesia, alucinações, agitação e hipotensão. Não se conhece nenhum antídoto para a superdosagem de um agonista da
dopamina. Se houver sinais de estimulação do sistema nervoso central, pode ser indicada a administração de um agente neuroléptico. O tratamento da superdosagem pode requerer medidas de suporte geral, incluindo
lavagem gástrica, reposição intravenosa e monitorização eletrocardiográfica. Não se demonstrou que a hemodiálise seja útil nesses casos. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. SÓ PODE SER VENDIDO COM
RETENÇÃO DA RECEITA. Medicação pertencente à LISTA- C1 (Sujeitas a Receita de Controle Especial em duas vias) DA PORTARIA SVS/MS Nº 344 DE 12 DE MAIO DE 1998 (DOU de 01/02/99). Atenção:
embora as pesquisas realizadas tenham indicado eficácia e segurança quando corretamente indicado, podem ocorrer reações adversas imprevisíveis, ainda não descritas ou não conhecidas. Em caso de suspeita de
reação adversa, o médico responsável deve ser notificado. Fabricado por: Boehringer lngelheim Pharma GmbH & Co. KG Ingelheim am Rhein - Alemanha. Embalado por: Boehringer Ingelheim S.A. Avenida del
Libertador, 7.208, 1429 - Buenos Aires - Rca. Argentina Resp. Téc. Farm. Carlos A. Prado - M. F. n° 12.136 - Importado e distribuído por: Boehringer Ingelheim do Brasil Química e Farmacêutica Ltda. Rod. Regis
Bittencourt (BR 116), km 286 - ltapecerica da Serra - SP. CNPJ/MF nº 60.831.658/0021-10 - Indústria Brasileira - Resp Técn. Farm. Laura M. S. Ramos. CRF-SP nº 6870 - M.S. 1.0367.0107.003-6. SAC: 08007016633. Caixa Postal: 60542, CEP 05804-970 - São Paulo/SP.
Neurociências
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às ciências afins. Publica artigos de interesse científico e
tecnológico, voltada à Neurologia e às ciências afins, realizados
por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos
ou com ênfase em temas de cunho prático, específicos ou
interdisciplinares. São aceitos artigos em inglês, português ou
espanhol. Seus volumes são anuais e os números trimestrais,
publicados em março, junho, setembro e dezembro. A linha
editorial da revista publica preferencialmente Artigos de
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também são aceitos para publicação artigos de: Revisão de
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avaliar o conteúdo e forma do texto. O Corpo Editorial analisa
os pareceres e encaminha as sugestões para os autores, para
aprimoramento do conteúdo, da estrutura, da redação e da
clareza do texto. Os autores têm 30 dias para revisar o texto,
incluir as modificações sugeridas, cabendo-lhes direito de
resposta. O Corpo Editorial, quando os revisores sugerirem a
adição de novos dados, e a depender do estudo, poderá prover
tempo extra aos autores, para cumprimento das solicitações.
O Corpo Editorial verifica as modificações realizadas no
texto e se necessário, sugere correções adicionais. O Corpo
Editorial aceita o artigo para publicação ou pode recusá-lo
se for inadequado. Para publicação, será observada a ordem
cronológica de aceitação dos artigos e distribuição regional.
Os artigos aceitos estão sujeitos à adequações de gramática,
clareza do texto e estilo da Revista Neurociências sem prejuízo
ao seu conteúdo. Fica subentendido que os autores concordam
com a exclusividade da publicação do artigo no periódico,
transfere os direitos de cópia e permissões à publicadora.
Provas são fornecidas em condições especiais. Separatas são
impressas sob encomenda e os autores respondem por seus
custos. Os artigos são de responsabilidade de seus autores.
INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES
http://www.unifesp.br/dneuro/neurociencias
Submissão do artigo: os artigos devem ser encaminhados
ao Editor Chefe via e-mail: [email protected]
e poderão ser utilizados editores de texto, preferencialmente
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
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“Word”, no formato “doc”, espaço duplo, Times New Roman,
fonte 12.
Categoria de artigos: Editorial, Originais, Revisão
Sistemática, Revisão de Literatura, de Atualização, Relato de
Caso, Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor.
O número de palavras inclui texto e referências bibliográficas
(não devem ser considerados folha de rosto com título, autores,
endereço de correspondência, resumo e summary e tabelas,
figuras e gráficos). Adotar as recomendações abaixo.
Editorial: a convite do Editor, sob ema específico, deve
conter no máximo 2000 palavras.
Artigos Originais, Revisões Sistemáticas, e Relato de
Caso: resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental
ou conceitual (6000 palavras).
Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e
restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para
catalogação, não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere
títulos informativos.
Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso.
Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem
ao artigo. Referir formação acadêmica, títulação máxima e
vínculo profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre
Docente, Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pósgraduando na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital
São Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o
autor e endereço para correspondência.
Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica
do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser
estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões.
Não exceder 200 palavras.
Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o
Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte
descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).
Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo
seqüencialmente: introdução e objetivo; método (sujeitos ou
relato de caso, Comitê de Ética, Consentimento Informado,
procedimento ou intervenção e análise estatística) com
detalhes suficientes para a pesquisa poder ser duplicada,
resultados (apresentados de forma clara e concisa), discussão
(interpretação dos resultados comparados à literatura),
conclusões, agradecimentos, referências bibliográficas. As
abreviações devem vir acompanhadas do seu significados
na primeira vez que aparecerem no texto. Nomes comerciais
e marcas registradas devem ser utilizadas com parcimônia,
devendo-se dar preferência aos nomes genéricos.
Quadros, Gráficos e Tabelas: até 5, apresentadas em
páginas separadas e no final do texto. Em cada uma, devem
constar seu número de ordem, título e legenda.
Figuras: até 2 ilustrações com tamanho não superior a 6 cm
x 9 cm cada uma, com alta resolução. As fotos devem ser em
preto e branco contrastadas com eventuais detalhes como setas,
números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número
de ordem e legenda, devem ser encaminhadas em outro arquivo
com nome do autor e do artigo. Ilustrações reproduzidas de
textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização
de reprodução, tanto do autor como da publicadora.
Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu
custo elevado, será de responsabilidade dos autores, assim
como o custo por número de tabelas e ilustrações acima dos
mencionados e desde que sua publicação seja autorizada pela
editora. O material recebido não será devolvido aos autores.
Neurociências
Manter os negativos destas.
Referências: Até cerca de 30 (as Revisões Sistemáticas
deverão solicitar o aumento do número de referências ao Editor,
conforme a necessidade), restritas á bibliografia essencial ao
conteúdo do artigo. Todos os autores e trabalhos citados no
texto devem constar na listagem de referências bibliográficas.
No texto, as citações devem seguir o sistema numérico, isto é,
são numerados por ordem de sua citação no texto, utilizandose números arábicos sobrescritos segundo o estilo Vancouver
(www.icmje.org). Por exemplo: “....o horário de ir para a cama e
a duração do sono na infância e adolescência6-12,14,15.”
As referências devem ser ordenadas consecutivamente na
ordem na qual os autores são mencionados no texto. Mais de
6 autores, listar os 6 primeiros seguidos de “et al.”.
a)Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico
(abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume:
página inicial – final.
Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC. Symptoms of
attention-deficit/hyperactivity disorder in adults with restless
legs syndrome. Sleep 2004; 27: 1499-504.
b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição,
se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de
publicação: editora, ano, total de páginas.
Ex.: Ferber R, Kriger M. Principles and practice of sleep
medicine in the child. Philadelphia: W.B. Saunders Company,
1995, 253p.
c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do
capítulo. In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não
for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação:
editora, ano, página inicial e página final.
Ex.: Stepanski EJ. Behavioral Therapy for Insomnia. In:
Kryger MH; Roth T, Dement WC (eds). Principles and practice of
sleep medicine. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company,
2000, p.647-56.
d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume
(suplemento e seu número, se for o caso): página(s). Quando
não publicado em periódico: Título da publicação. Cidade em
que foi publicada: editora, ano, página(s).
Ex.: Carvalho LBC, Silva L, Almeida MM, et al. Cognitive
dysfunction in sleep breathing disorders children. Sleep 2003;
26(Suppl):A135.
e)Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no
texto entre parênteses.
f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou
(dissertação). Cidade: instituição, ano, número de páginas.
Ex.: Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na
qualidade de vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo:
UNIFESP, 2004, 75p.
g) Documento eletrônico: Título do documento (Endereço
na Internet). Local: responsável (atualização mês/ano; citado em
mês/ano). Disponível em: site.
Ex.: The pre-history of cognitive science (endereço na
Internet). Inglaterra: World Federation Neurology. (última
atualização 12/2005; citado em 01/2006). Disponível em: http://
www.wfneurology.org/index.htm .
Artigos de Revisão de Literatura e Atualização: revisão
crítica de literatura ou atualização relativo à neurociências, com
ênfase em causa, diagnóstico, prognóstico, terapia ou prevenção
(8000 palavras).
Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e
restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para
catalogação, não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere
títulos informativos.
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V15 N1 - JAN/MAR, 2007
90
Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso.
Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem
ao artigo. Referir formação acadêmica, títulação máxima e
vínculo profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre
Docente, Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pósgraduando na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital
São Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o
autor e endereço para correspondência.
Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica
do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser
estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões.
Não exceder 200 palavras.
Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o
Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte
descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).
Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo
seqüencialmente: introdução, conclusão e referências
bibliográficas.
Referências: até 100 referências, seguindo o sistema
numérico por ordem de sua citação no texto segundo o estilo
Vancouver.
Quadros e Tabelas: até 2, apresentadas em páginas
separadas e no final do texto. Em cada uma, devem constar
seu número de ordem, título e legenda.
Artigos de Resenha: análise crítica de livros publicados,
teses e dissertações dos últimos dois anos (3000 palavras).
As Resenhas de livros, teses ou dissertações devem
seguir os itens: título em inglês e em português ou espanhol,
sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação
suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. A
Revista prefere títulos informativos; nome do(s) revisor(es), com
formação, titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição
onde o trabalho foi realizado, endereço para correspondência;
referência completa da obra seguindo estilo Vancouver; corpo
do texto contendo: tema, hipótese ou idéia central; argumentos;
evidências científicas; avaliação pessoal quanto à organização
da obra, pontos fortes e fracos, bibliografia utilizada, benefícios,
trabalhos semelhantes; conclusão, críticas e comentários.
Ensaios: pesquisas, análises e avaliações de tendência
teórico-metodológicas e conceituais da área das neurociências
(3000 palavras). Deverão conter: título em inglês e em
português ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo,
mas contendo informação suficiente para catalogação, não
excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos informativos;
nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica e
vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado,
endereço para correspondência; e no máximo 10 referências
bibliográficas.
Texto de Opinião e Carta ao Editor: devem conter opinião
qualificada sobre um tema na área de neurociências, nota curta,
crítica sobre artigo já publicado na Revista Neurociências ou
relato de resultados parciais ou preliminares de pesquisa (1000
palavras).
Deverão conter: título em inglês e em português ou espanhol,
sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação
suficiente para catalogação, não excedendo 90 caracteres. A
Revista prefere títulos informativos; nome do(s) autor(es), com
formação, titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição
onde o trabalho foi realizado, endereço para correspondência;
e no máximo 10 referências bibliográficas.
3ª capa
3ª C A P A
SPI
4ª capa
503.332
503645
4ª C A P A
SIFROL
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