UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA Avaliação Experimental da Atividade Antitumoral da Vacina Peptídica Anticâncer (Vacina Hasumi®) Marcio Roberto Pinho Pereira FORTALEZA – CEARÁ 2003 1 Avaliação Experimental da Atividade Antitumoral da Vacina Peptídica Anticâncer (Vacina Hasumi®) MARCIO ROBERTO PINHO PEREIRA DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA DO DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COMO PRÉ-REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM FARMACOLOGIA Orientador: Prof. Dr. Manoel Odorico de Moraes Filho Co-Orientadora: Prof. Dra. Cláudia do Ó Pessoa Universidade Federal do Ceará Faculdade de Medicina Departamento de Fisiologia e Farmacologia Programa de Pós-graduação em Farmacologia 2 Esta dissertação foi apresentada como parte dos requisitos necessários para obtenção de grau de mestre em Farmacologia outorgado pela Universidade Federal do Ceará, e se encontra à disposição dos interessados no Biblioteca Central da Universidade e na Coordenação do Curso. A transcrição de qualquer trecho desta dissertação será permitida desde que sela feita de acordo com as normas de ética científica. Marcio Roberto Pinho Pereira Dissertação aprovada em 02 de Abril de 2003. Dr. Manoel Odorico de Moraes Filho Dpto de Fisiologia e Farmacologia Universidade Federal do Ceará Orientador Dra. Cláudia do Ó Pessoa Dpto de Fisiologia e Farmacologia Universidade Federal do Ceará Co-Orientadora Dra. Maria da Guia Silva Lima Dpto de Bioquímica e Biologia Molecular Universidade Federal do Ceará Examinadora 3 “Deus não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. E exatamente por esse motivo, Deus criou as mães”. Ditado Judeu À minha mãe: Maria Teresa. Dedico... 4 AGRADECIMENTOS Ao meu Orientador, professor Dr Manoel Odorico de Moraes, por toda a confiança depositada em mim na realização desse trabalho, por ter me recebido em seu laboratório de braços abertos, pela inspiração como docente e pelas oportunidades que me foram dadas, contribuindo assim para meu engrandecimento pessoal e profissional. À professora Dra Cláudia do Ó Pessoa, pelo convite feito a mim para trabalhar no Laboratório de Oncologia Experimental no projeto Hasumi, por compartilhar comigo todos os momentos do mestrado, sejam bons ou ruins, e pela grande amizade conquistada. À professora Dra Maria da Guia Silva Lima, pelos ensinamentos em Imunologia e por ter aceitado participar desta banca examinadora. À professora Letícia Lotufo pela amizade conquistada e pelo exemplo como profissional por ser a bióloga mais completa que conheço. Aos técnicos Silvana, Fátima e Evanir, por sempre estarem disponíveis no desenvolvimento de todo o trabalho. À “Equipe Hasumi”: Patrícia Macedo, Daniel Magalhães, Rafael “Mini” e Rafael “Max”, pela ajuda no desenvolvimento da dissertação e pelo exemplo do grande trabalho em equipe. Aos colegas Pós-Graduandos e de Iniciação Científica do Laboratório de Oncologia Experimental, pela convivência harmoniosa e pelo exemplo de grande família que esse grupo sempre mantém. Às secretárias Silvia e Áurea da Coordenação de Pós-Graduação em Farmacologia, pela amizade e carinho com que sou recebido sempre que recorro à coordenação. Ao meu monitor de Farmacologia Irissandro, pelos ensinamentos em Farmacologia e pela ajuda oferecida no concurso do Mestrado. 5 À Artemísia, e ao seu Bento, pelo fornecimento dos animais utilizados nesse trabalho. À Raquel Montenegeo, pela ajuda dispensada em momentos difíceis e por ter me chamado para fazer parte da grande família LOE. À Marne Vasconcelos, pelos momentos de “Bora” e “CalaBoca!” que fez nossa amizade se tornar muito especial. Aos professores do Departamento de Fisiologia e Farmacologia, pelo amadurecimento científico proporcionado e pela agradável convivência no Departamento. À minha família que me ama e entende minhas imperfeições. À minha mãe por todo o sacrifício que faz pelos filhos, minha eterna gratidão. A todos que contribuíram de alguma forma para que esta dissertação fosse realizada, meu muito obrigado! 6 AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de estudos para realização desse trabalho. Ao Departamento de Fisiologia e Farmacologia pela estrutura física para a realização desse trabalho Ao Instituto Claude Bernard, pela compra de muitos materiais utilizados nessa dissertação. A Unidade de Farmacologia Clínica (UNIFAC), no nome da Dra Maria Elisabete de Moraes, por ceder o espaço físico para a realização de muitos experimentos. À Shukokai do Brasil, pelo fornecimento da Vacina Hasumi. À Universidade de Fortaleza (UNIFOR), no nome da Professora Fátima Veras e Fátima Antunes, por me acolher em seu corpo docente mesmo ainda não tendo concluído o Mestrado, mostrando dessa forma que acreditam e confiam no meu potencial. 7 SUMÁRIO Pág. Lista de Tabelas xi Lista de Figuras xii Lista de Abreviaturas xv Resumo xvi Summary xvii INTRODUÇÃO 1 1- A Vacinação 1 2- O Câncer 3 3- Imunologia Tumoral: um Alvo para Novas Abordagens Terapêuticas Contra o Câncer 6 4- Vacinas Anticâncer 12 5- Vacina Hasumi: Informações Gerais 23 OBJETIVOS 26 MATERIAL E MÉTODOS 27 1- Vacina 27 2- Reagentes 27 3- Equipamentos 30 4- Materiais Diversos 30 5- Animais 31 6- Soluções 31 7- Cromatografia Líquida de Alta Pressão 34 8- Dosagem de Proteínas 34 9- Imunização dos Animais 34 10- Obtenção dos Antissoros 35 11- Sorologia 35 11.1- Enzyme Linked Immunosorbent Assay (ELISA) 35 11.2- Anafilaxia Cutânea Pasiva (PCA) 36 12- Linhagem Celular 36 13- Viabilidade Celular 36 8 14- Congelamento das Células 37 15- Descongelamento das Células 37 16- Teste da Atividade Antitumoral 37 16.1- Via de administração da vacina Hasumi 37 16.2 Avaliação do hemograma de ratos inoculados com carcinossarcoma de Walker 256 38 16.3- Avaliação da atividade antitumoral em carcinossarcoma de Walker 256 38 16.4- Avaliação da atividade antitumoral em melanoma B/16 39 17- Calculo da Curva de Crescimento 39 18- Análise Estatística 40 RESULTADOS 41 1- Teor de Proteína do Extrato Total 41 2- Cromatografia Líquida de Alta Pressão 41 3- Avaliação da Resposta Imunológica 41 3.1- Determinação da Síntese de Anticorpos Específicos, Avaliada por ELISA, em Camundongos Imunizados com a Vacina Hasumi. 41 3.2- Determinação da Síntese de Anticorpos Específicos, Avaliada por ELISA, em Camundongos Imunizados com a Ovalbumina (OVA). 44 3.3- Determinação da Síntese de Anticorpos Específicos, Avaliada por PCA, em Camundongos Imunizados com a Vacina Hasumi. 44 4- Avaliação da Inibição do Crescimento Tumoral e Sobrevida em Ratos inoculados com o Carcinossarcoma de Walker 256 Imunizados com a Vacina Hasumi. 44 5- Avaliação do Hemograma dos Ratos Inoculados com o Carcinossarcoma de Walker 256 Imunizados com a Vacina Hasumi 49 6- Avaliação da Inibição do Crescimento Tumoral e Sobrevida em Ratos que Sofreram Retirada Cirúrgica do Carcinossarcoma de Walker 256 Imunizados com a Vacina Hasumi. 53 7- Avaliação da Inibição do Crescimento Tumoral e Sobrevida em Camundongos Inoculados com Melanoma B/16 Imunizados com a Vacina Hasumi pela via Subcutânea. 57 9 8- Avaliação da Inibição do Crescimento Tumoral e Sobrevida em Camundongos Inoculados com Melanoma B/16 Imunizados com a Vacina Hasumi pela via Intraperitoneal. 57 DISCUSSÃO 63 CONCLUSÕES 68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69 10 LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1: Impacto estimado do aumento da técnica de vacinação em uma população com doenças prevenidas por vacinas. Tabela 2: Tipos de vacinas anticâncer mais recentes. 3 15 Tabela 3: Peptídeos de membrana de células neoplásicas utilizados como alvos moleculares. 21 Tabela 4: Peptídeos contidos na vacina Hasumi e seu(s) respectivo(s) tumor(es) de origem. 28 Tabela 5: Composição química do extrato alcoólico do baço bovino. 29 Tabela 6: Tempo de retenção e área calculada dos picos retidos da ampola contendo os peptídeos da vacina Hasumi em Cromatografia Líquida de Alta Pressão. 43 11 LISTA DE FIGURAS Pág. Figura 1: Esquema ilustrativo da transformação de uma célula normal em uma célula cancerosa. 4 Figura 2: Ativação do linfócito Th CD4+ levando às ações efetoras da resposta imune mediada por células. 8 Figura 3: Ativação do linfócito T CD8+ e seu mecanismo de eliminação da célula cancerosa. 10 Figura 4: Aparente mecanismo apresentação dos antígenos em Células Dentríticas ativadas pelo adjuvante da vacina Hasumi. 24 Figura 5: Cromatografia Líquida de Alta Pressão (HPLC) da ampola contendo os peptídeos da Vacina Hasumi. O gráfico mostra o tempo de retenção dos picos com as respectivas percentagens de área do gráfico. 42 Figura 6: Cinética da síntese de anticorpos em camundongos imunizados com Ovalbumina (OVA) e Vacina Hasumi. O dia “0” representa o soro pré-imune. As setas representam as imunizações (100 μL de Vacina Hasumi) (n=10). 45 Figura 7: Síntese de anticorpos anti-peptídeos da vacina Hasumi IgG1 revelados em camundongos pela técnica de PCA. A seta indica a reação positiva do antissoro 35 dias após a primeira imunização diluído na proporção de 1:2. 46 12 Figura 8: Cinética da síntese de anticorpos IgG1 em camundongos "Swiss" imunizados com a vacina Hasumi. O dia “0” representa o soro pré-imune. As setas indicam as imunizações com 100 μL de Vacina (n=10). 47 Figura 9: Cinética do crescimento do tumor de Walker 356 em ratos imunizados com 500 μL da Vacina Hasumi em dias alternados. Não houve diferença estatística entre os grupos experimental (vacinado) e o grupo controle (n=10). 48 Figura 10: Cinética da curva de crescimento do tumor de Walker 256 nos ratos 1 e 4 imunizados com 500 μL da vacina Hasumi em dias alternados até o 60° após a inoculação do tumor. O gráfico mostra duas cinéticas de crescimento tumoral diferentes, apesar dos animais receberem o mesmo tratamento. 50 Figura 11: Sobrevida dos ratos inoculados com o tumor de Walker 256 que sofreram, ou não, retirada cirúrgica do tumor imunizados com a vacina Hasumi. O tempo é definido como dias após a inoculação do tumor. Controle com cirurgia. Controle sem cirurgia. Vacinado sem cirurgia. Vacinados com cirurgia. 51 Figura 12: Leucograma dos animais inoculados com o tumor de Walker 256 imunizados com a vacina Hasumi. 10 dias após a inoculação do tumor os níveis de leucócitos em animais imunizados estão diferentes do controle (* p ≤ 0,05) (n=10). 52 Figura 13: Hemograma dos animais inoculados com tumor de Walker 256 imunizados com a vacina Hasumi. 10 dias após a inoculação do tumor os níveis de hemoglobina e hemácias em animais imunizados estão diferentes do controle (* p ≤ 0,05) (n=10). 54 Figura 14: Cinética do volume do tumor de Walker 256 após a retirada cirúrgica do tumor em ratos imunizados com 500 μL da Vacina Hasumi em dias alternados. Não houve diferença estatística entre os grupos experimental (vacinado) e o grupo controle (n=10). 55 13 Figura 15: Volume do tumor de Walker 256 em ratos imunizados com a 500 μL de Vacina Hasumi em dias alternados 8 dias após a cirurgia. Os animais 2, 3, 4 e 6 do grupo vacinado obtiveram uma inibição do crescimento tumoral, enquanto os animais 1 e 5 não apresentaram a mesma inibição. 56 Figura 16: Cinética do crescimento do tumor melanoma B/16 em camundongos imunizados com diferentes doses da Vacina Hasumi por Via Subcutânea 7 em 7 dias. Houve diferença estatística entre os volumes tumorais do grupo imunizado com 0,006 μg de peptídeos (* p ≤ 0,05) em relação ao grupo controle 10 dias após a inoculação do tumor (n=10). 58 Figura 17: Sobrevida dos camundongos inoculados com melanoma B/16 vacinados pela via subcutânea. O tempo é definido como dias após a inoculação do tumor. Vacinado com 1 μL. Vacinado com 10 μL. Controle. Vacinados com 100 μL. 59 Figura 18: Cinética do crescimento do tumor melanoma B/16 em camundongos imunizados com diferentes doses da Vacina Hasumi por Via Intraperitoneal a cada 7 dias. Houve diferença estatística entre os volumes tumorais de todos os animais vacinados com a Vacina Hasumi (* p ≤ 0,05) em relação ao grupo controle 10 dias e 12 dias após a inoculação do tumor (n=10). 60 Figura 19: Sobrevida dos camundongos inoculados com melanoma B/16 Vacinados pela via intraperitoneal. O tempo é definido como dias após a inoculação do tumor. Vacinado com 1 μL. Vacinado com 10 μL. Controle. Vacinados com 100 μL. 61 Figura 20: Ratos inoculados com o tumor de Walker 256 16 dias após a vacinação. O animal imunizado com a vacina Hasumi apresenta um tumor de tamanho bem menor que o animal controle. 62 14 LISTA DE ABREVIATURAS AAT – Antígenos Associados aos Tumores BCG – Bacilo Calmette-Guérin CTL – Linfócito T Citotóxico DMSO – Dimetilsulfóxido EDTA - Ácido Etilenodiamino Tetracético ELISA – Enzyme Linked Immunosorbent Assay GM-CSF – Fator Estimulante de Colônia HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana HLA – Antígeno Leucocitário Humano HPLC – Cromatografia Líquida de Alta Pressão IFN-γ - Interferon gama IgG – Imunoglobulina G IgM – Imunoglobulina M IL-1 – Interleucina 1 IL-2 – Interleucina 2 IL-4 – Interleucina 4 INCA – Instituto Nacional do Câncer MHC – Complexo de Histocompatibilidade Principal NK – Natural Killer PBS – Solução Tampão Fosfato PCA – Anafilaxia Cutânea Passiva PGE2 – Prostaglandina 2 PGF2 – Prostaglandina F2 OMS – Organização Mundial de Saúde OPD – OrthophenyleneDiamine OVA – Ovalbumina do ovo de galinha TNF – Fator de Necrose Tumoral TxB2 – Tramboxano B2 15 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA Avaliação Experimental da Atividade Antitumoral de uma Vacina Peptídica Anticâncer (Vacina Hasumi®) Marcio Roberto Pinho Pereira Orientador: Manoel Odorico de Moraes Filho Resumo A vacina Hasumi é formada de peptídeos localizados na membrana plasmática de células tumorais e um extrato de baço bovino associado a substâncias imunoestimulantes. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o possível efeito anticâncer da vacina Hasumi, e seu possível mecanismo de ação, em animais inoculados com tumores experimentais. Para a avaliação da atividade antitumoral in vivo foram utilizados dois grupos de ratos Wistar fêmeas inoculados com 1,0 X 106 células do carcinossarcoma de Walker 256 via subcutânea na região da axila. Os animais dos grupos controle e tratado foram imediatamente vacinados com 500 μL de vacina Hasumi (3 μg de peptídeos) e 500 μL de salina, respectivamente, pela via subcutânea e receberam reforços dessas doses em dias alternados até sua morte. Os parâmetros avaliados foram a sobrevida e o crescimento tumoral durante o período de tratamento. Amostras de sangue foram coletadas dos animais controles e tratados para a obtenção do hemograma. Outros dois grupos de ratos também foram inoculados com 1,0 X 106 células do carcinossarcoma de Walker 256 mas sofreram excisão cirúrgica do tumor 5 dias após a sua inoculação. Após a cirurgia, receberam o mesmo tratamento dos outros dois grupos acima citados. Em um outro experimento, quatro grupos de camundongos C57BL/6 foram inoculados com 1,0 X 106 células de melanoma B/16 mantido em cultura. Três grupos foram imediatamente vacinados com 1 μL, 10 μL, 100 μL de vacina Hasumi (0,006 μg, 0,06 μg, e 0,6 μg de peptídeos) diluídos em 200 μL de solução salina, e o quarto grupo recebeu 200 μL de salina pela via subcutânea. Todos os camundongos receberam reforços dessas doses a cada 7 dias até a sua morte. Foram avaliados o crescimento tumoral e a sobrevida do animal. Outros quatro grupos de camundongos C57BL/6 também foram tratados da mesma forma que os grupos anteriores, a não ser pela vacinação intraperitoneal. Para a avaliação da imunogenicidade da vacina Hasumi, cinco grupos de camundongos Swiss foram imunizados pela via subcutânea com 200 μL (2,4 μg de peptídeos) de vacina Hasumi para identificação de anticorpos anti-peptídeos. Como controle positivo, outro grupo de camundongos foi imunizado com 100μg de Ovalbumina. Os ratos inoculados com carcinosarcoma de Walker 256 vacinados tiveram seu tumor parcialmente inibido. O hemograma revelou a ausência de aumento da quantidade de leucócitos 10 dias após a inoculação do tumor nos animais imunizados, sugerindo uma atividade antiinflamatória da vacina. Os ratos que sofreram retirada cirúrgica do tumor de Walker 256 e foram vacinados também sofreram inibição do crescimento do tumor, sendo que um animal ficou completamente curado. Os camundongos inoculados com o melanoma e vacinados pela via intraperitoneal tiveram seu cresimento tumoral inibido de forma significativamente superior quando comparados aos animais vacinados pela via subcutânea em todas as doses testadas. Foi constatado a presença de anticorpos IgG1 anti-peptídeos pelo método do PCA, indicando uma resposta imune do tipo Th2 que é favorável à atividade antiinflamatória, mas não foi possível detectar anticorpos anti-peptídeos pelo método de ELISA. Nossos resultados sugerem que a vacina Hasumi, assim como a maioria das vacinas anticâncer em estudo, apresenta uma atividade antitumoral in vivo com eficiência diferente para cada animal, favorecendo a indução de uma resposta imune do tipo Th2. 16 FEDERAL UNIVERSITY OF CEARÁ MEDICINE FACULTY GRADUATION PROGRAM IN PHARMACOLOGY Experimental Approach of the Antitumoral Activity of a Peptide Anticancer Vaccine (Hasumi Vaccine®) Marcio Roberto Pinho Pereira Advisor: Manoel Odorico de Moraes Filho Summary The Hasumi vaccine is based on peptides of plasmatic membrane of tumor cells and a extract of bovine spleen associated with immunostimulants substances. The aim of the present work was to evaluate the possible anticancer effect of the Hasumi vaccine and its mechanism of action in animals inoculated with experimental tumors. For the evaluation of the in vivo antitumoral activity, two groups of female Wistar rats were subcutaneously inoculated with 1.0 X 106 cells of the Walker 256 carcinossarcoma in the armpit area. The groups were subcutaneously vaccinated immediately with 500 μL of Hasumi vaccine (250 μg of peptides) or 500 μL of saline, and then, they received boosters of these doses every other day until their death. It was analyzed their survival function and the volume of tumor growth during the treatment period. The blood of these animals was taken for cell count. Other two groups of rats were also inoculated with 1.0 X 106 cells of the Walker 256 carcinossarcoma but they suffered surgical excision of the tumor 5 days after inoculation. After surgery, they received the same treatment of the above mentioned groups. In another set of experiments, four groups of mice C57BL/6 were inoculated with 1.0 X 106 melanoma B/16 cells maintained in culture. Three groups were subcutaneously vaccinated with 1 μL, 10 μL, 100 μL of Hasumi vaccine (0.006 g, 0.06 g, and 0.6 g of peptides) diluted in 200 μL of saline solution, and the fourth group received only 200 μL of saline. The animals received reinforcements of those doses every 7 days until their death. During the treatment, it was measured the volume of the tumor and the survival time of the animals. Other four groups of mice C57BL/6 were also treated in the same way that the previous groups, however the vaccination were performed by intraperitoneal injection. For the evaluation of the immunogenicity of the Hasumi vaccine, five groups of Swiss mice were immunized with 200 μL (100 μg of peptides) of Hasumi vaccine. Egg-albumine (100 μg) was used as positive control. The results showed that inoculated animals treated with Hasumi vaccine had their tumor partially inhibited. The total blood count revealed the Hasumi vaccine reverted the leukocytes rising observed in control group, suggesting an anti-inflammatory activity of the vaccine. The animals that suffered surgical retreat of the tumor plus vaccination also presented an inhibition of the tumor growth, and an animal was completely cured. The Hasumi vaccine was also active in mice inoculated with melanoma, and the vaccine seemed to be more efficient when injected intraperitoneally. The presence of antibodies IgG1 was verified by the method of PCA, indicating an immune answer of the Th2 type that is favorable to the anti-inflammatory activity, but it was not possible to detect antipeptides antibodies using ELISA assay. Our results suggest that Hasumi vaccine, as the most alike against cancer vaccines, shows an antitumor in vivo activity with some efficiency, suiting an induction of an immune response of Th2 type. 17 INTRODUÇÃO 1- A VACINAÇÃO A vacinação pode ser definida como a atividade de imunização que leva uma pessoa à proteção contra uma determinada doença infecciosa (Ehreth, 2002). Não há dúvidas de que a vacinação foi uma das maiores intervenções mundiais no campo da saúde pública no século passado, protegendo milhões de pessoas da morte contra as mais diferentes doenças infecciosas, causando, inclusive, um impacto global no quadro de crescimento populacional. Apesar desses avanços, a cada ano nascem 130 milhões de crianças que não tem acesso à vacinação (Ehreth, 2002). Acredita-se que em 1990, 80 % das crianças com até 5 anos foram vacinadas pelo menos uma vez, mas essa estimativa baixou para 70 % em 1999. De acordo com a Aliança Global para Vacinação e Imunização (GAVI, 2001), uma em cada quatro crianças no mundo não está vacinada contra doenças infecciosas que possuem uma vacina específica. A vacinação em larga escala pode levar à erradicação de epidemias, como a poliomielite e a varíola, e ao controle da proliferação de outras como tétano e o sarampo. Até o presente, sabese que a varíola contaminou 350 milhões de pessoas e provocou a morte de mais 40 milhões de pessoas (Andrus, 2001). A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem feito grandes investimentos para a erradicação completa e definitiva da doença como o Programa de Intensificação da Erradicação da Varíola que recebeu mais de 300 milhões de dólares nos últimos 11 anos. Esse investimento é reembolsado quando vidas humanas são salvas, evitando custos adicionais com internação hospitalar e o tratamento da doença (WHO, 2001). Outro grande feito da vacinação foi a erradicação do vírus da poliomielite no hemisfério oeste do Globo. Dos três tipos existentes de poliovírus, apenas o tipo 2 foi detectado pela última vez em 1999 nessa região e parece já ter sido erradicado. Mais de 190 países estão livres da poliomielite e apenas 20 países da região sudeste da Ásia ainda sofrem com a sua presença. Desde 1998, o número de casos de poliomielite caiu para 1 % em termos globais de acordo com a OMS. No ano 2000, menos de 3.000 casos de poliomielite foram reportados em todo o mundo. Esse é um resultado surpreendente, se lembrarmos dos 35.000 casos reportados em 1988 (CDCP, 2001). 18 Em termos econômicos, podemos notar uma clara racionalização nos programas de vacinação nos países em desenvolvimento. Mesmo assim, o impacto é comprovado e o benefício é imenso, pois são programas de alta eficiência preventiva e têm elevado valor econômico para os programas de saúde pública (Swartz & Loevinsohn, 1999). O Banco Mundial considera que as intervenções na área de saúde possuem um custo-benefício favorável se o custo dessa intervenção mantiver um indivíduo completamente saudável durante o ano com um gasto menor do que o Produto Interno Bruto anual de uma nação. A maioria das imunizações custa, por ano, menos do que U$ 50,00 por pessoa. É bem mais barato, por exemplo, do que o tratamento da hipertensão, estimado nos EUA entre U$ 4.340,00 e U$ 87.940,00 por pessoa por ano (TWB, 2001). Quando as doenças infecciosas não são controladas, elas podem gerar uma grande despesa para a economia de uma comunidade ou de um país. Para cada dólar gasto com vacinação, de U$ 3,94 a U$ 4,91 são poupados (White et al; 1985). Apesar dos comprovados benefícios econômicos e sociais das vacinas, a queda da prática intervencionista da vacinação está cada vez maior. Nos países industrializados, esse fato pode ser explicado, em parte, pelos órgãos responsáveis e até mesmo pela população em geral subestimarem tanto a gravidade das doenças infecciosas quanto os benefícios que a vacinação pode trazer para a prática de prevenção tais como a economia nas despesas hospitalares e internação de pacientes infectados (Breiman, 2001; Henderson, 2000). O processo de erradicação das epidemias de varíola e poliomielite, consideradas na época um verdadeiro milagre, só foi possível graças a um trabalho de prevenção com vacinação em larga escala. Nos países em desenvolvimento a disparidade é ainda maior. Em alguns países na África, uma criança tem dez vezes mais chance de morrer de uma doença infecciosa que possui vacina específica comparada à de um país industrializado. Embora as vacinas salvem cerca de três milhões de crianças por ano, outros três milhões morrem de doenças que possuem vacinas específicas (tabela 1). Seria possível diminuir essa incidência de mortalidade para mais da metade se o uso das vacinas fosse corretamente intensificado, ou se os órgãos financiadores estimulassem novas pesquisas para a descoberta de vacinas que neutralizassem outras doenças infecciosas, como malária, dengue, doença de chagas e alguns tipos de câncer (Breiman, 2001). 19 Tabela 1: Impacto estimado do aumento da técnica de vacinação em uma população com doenças prevenidas por vacinas. Doença Número de mortes por ano causadas por doenças prevenidas por vacinas Hepatite B 900.000 Sarampo 888.000 Tétano Neonatal 215.000 Tétano 195.000 Febre Amarela 30.000 Difteria 5.000 Poliomielite Total 720 2.979.720 2- O CÂNCER Uma célula normal pode sofrer alterações no DNA dos genes, ocorrendo assim mutação genética. Essas mutações podem ocorrer ocasionalmente ou por indução, a partir de agentes carcinogênicos (Figura 1). Os carcinógenos atuam alterando a estrutura genética (DNA) das células. O surgimento do câncer depende da intensidade e duração da exposição das células aos agentes causadores de câncer. Por exemplo, o risco de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão é diretamente proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao número de anos que ela vem fumando (INCA-III, 2002). 20 Gênese do Câncer Ondas de UV Radiação Fatores Ambientais, Alimentos Fumo Microorganismos Agentes Químicos Células Normais Invasão e Metástase Câncer Célula Neoplásica Angiogênege Figura 1: Esquema ilustrativo da transformação de uma célula normal em uma célula cancerosa. Esses agentes induzem as células, com material genético alterado, a receber instruções erradas para as suas atividades metabólicas e fisiológicas. As alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados protooncogenes, que, em princípio, são inativos em células normais. Quando ativados, os protooncogenes transformam-se em oncogenes, responsáveis pela transformação maligna, comumente chamada “malignização” (cancerização), das células normais. Essas células transformadas são denominadas cancerosas (INCA-I, 2002). 21 Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco à vida. Atualmente, o câncer é a segunda causa de morte por doença no Brasil e, em 1994, as neoplasias foram responsáveis por 10,86% dos 887.594 óbitos registrados, sendo que 53,81% dos óbitos por neoplasia ocorreram entre os homens e 46,05%, entre as mulheres. Atualmente, os seguintes recursos são usados no tratamento do câncer: cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia. Esses recursos podem ser usados ou de forma isolada ou combinada (INCA-II, 2002). As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas nas células normais. De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns deles são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros estão em estudo, tais como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos são ainda completamente desconhecidos. O envelhecimento traz mudanças nas células que aumentam a sua suscetibilidade à transformação maligna. Isso, somado ao fato de as células das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco para câncer, explica em parte o porquê de o câncer ser mais freqüente nesses indivíduos. 22 3- IMUNOLOGIA TUMORAL: UM ALVO PARA NOVAS ABORDAGENS TERAPÊUTICAS CONTRA O CÂNCER Durante todos os estágios do desenvolvimento tumoral as células neoplásicas interagem, em maior ou menor escala, com células de defesas do organismo, principalmente na circulação sangüínea quando migram para colonizar em órgãos alvo. Há mais de cem anos, Wiliam Coley observou que a regressão tumoral poderia ser induzida pela estimulação do sistema imune por toxinas bacterianas (Weinstock, 1999). Por volta de 1960, surgiu a teoria da “vigilância imunológica” do câncer, segundo a qual as células do sistema imune estariam continuamente “patrulhando” o organismo e eliminando as células em processo de transformação maligna. Esse conceito de vigilância imunológica foi proposto pela primeira vez por Paul Ehrlich em 1909, tendo sido reformulado posteriormente por MacFarlane Burnet (1973). Tem sido observado na prática, entretanto, que a reação imunológica do hospedeiro frente ao desenvolvimento das neoplasias permite detectar tumores do tipo imunogênico e não imunogênico. Tumores imunogênicos são aqueles cujas células expressam determinantes que podem ser reconhecidos como estranhos pelo sistema imune e contra os quais pode ser montada uma resposta efetiva. Esses determinantes são moléculas expressas na célula tumoral e são denominados antígenos tumorais. Os tumores não imunogênicos, são aqueles em que o sistema imune não reconhece a existência das células tumorais. A transformação maligna, por outro lado, pode ser acompanhada por alterações fenotípicas, incluindo a perda de componentes antigênicos na superfície celular, em um mecanismo conhecido como “escape tumoral” (Seliger et al., 2000). A função do sistema imune no controle do desenvolvimento tumoral e progressão metastática é feita principalmente pela imunidade celular, com os linfócitos T, células “Natural Killer” (NK) e macrófagos. Uma observação histológica comum que sugere a imunogenicidade de alguns tumores é a presença de infiltrados de células mononucleares compostos de linfócitos T, células “Natural Killer” e macrófagos ao redor da massa tumoral. O prognóstico de certos tipos de tumores, dessa maneira, encontra-se favoravelmente associado à identificação histológica, no sítio tumoral, de um abundante infiltrado de células imunes (Cerundolo, 1999). 23 A imunidade tumoral mediada pelas células T tem início com a apresentação de antígenos às células Tc CD8+ ou Th CD4+. Essa apresentação dá-se através de células especializadas denominadas Células Apresentadoras de Antígenos, as quais devem encontrar-se associadas a moléculas MHC (complexo principal de histocompatibilidade) de classe I e II. As moléculas de MHC são glicoproteínas integrais de membrana. Para que assim sejam apresentadas pelo MHC II, as moléculas antigênicas são fagocitadas ou endocitadas pela Célula Apresentadoras de Antígenos e degradadas em pequenos peptídeos nos lisossomos. Os fragmentos peptídicos são então seletivamente associados a moléculas classe II e o complexo transportado para a superfície celular. Da mesma forma, ocorre com as Células Apresentadoras de Antígenos que apresentam MHC I, com a diferença que os antígenos não são fagocitados, mas sintetizados dentro das próprias células, como proteínas virais ou oncogênicas (Abbas et al., 2000). As células Th podem também ser ativadas por células tumorais. Melanomas humanos freqüentemente expressam moléculas MHC II. As Células Apresentadoras de Antígenos produzem ainda citocinas envolvidas na ativação dos linfócitos, principalmente a IL-1 que vai ativar a célula Th estimulada por antígenos (Cavaillon, 1994). A IL-1 ativa ainda as células NK e os macrófagos, induzindo neste último a produção de TNF. Após a estimulação pela IL-1, as células Th tanto expressam receptores para IL-2, como começam a produzir a própria IL-2, efetuando uma ação autócrina. A IL-2 é a principal citocina secretada pela célula Th, sendo um importante fator estimulador de crescimento para linfócitos e macrófagos. As células Th ativadas secretam outras citocinas, como o TNF, IFN-γ entre outros que, junto com a IL-2, vão atuar nas populações celulares envolvidas na imunidade celular, como os linfócitos T citotóxicos (Tc), macrófagos e células exterminadoras naturais (NK), além dos linfócitos B (Arenzana et al., 1985; Anton et al., 1996; Drapier & Hibbs Jr, 1988; Green et al., 1992; Allavena et al., 1990). Inicia-se assim, uma cascata de fenômenos humorais e celulares que resultará na imunidade antitumoral (Figura 2). As citocinas liberadas pelas células Th podem ainda induzir inflamação e necrose hemorrágica (Fitzpatrick, 2001). Em algumas circunstâncias, as células Th secretam citocinas, como a linfotoxina, capazes de recrutar efetores não específicos diretamente para o sítio de crescimento tumoral (Kreitman, 1999). 24 Ativação de Fagócitos Expansão Clonal Produção de Anticorpos pelos Linfócitos B Inflamação Citocinas (IL-2) Células de Memória Lise da Célula Infectada Célula Infectada Figura 2: Ativação do linfócito Th CD4+ levando às ações efetoras da resposta imune mediada por células. 25 Dentre as citocinas mais importantes que atuam sobre o tumor, podemos destacar o IFN (Intereron). O subtipo IFN-α é utilizado como imunoterepia de segunda escolha no tratamento do câncer de bexiga superficial em pacientes que não respondem ao tratamento com BCG. Além disso, essa citocina pode ser utilizada com sucesso na prevenção de hepatocarcinoma em pacientes que soropositivos para hepatite C (Santhanam, et al., 2002). Mais recentemente, o IFN-α está sendo utilizado como imunoterapia de primeira escolha contra a leucemia mielóide crônica devido o aumento da sobrevida observado nesses pacientes quando comparado à quimioterapia convencional (Bacarani, et al., 2003). Mas a atuação dessa citocina não se restringe apenas a esses tipos de tumores. Câncer de cabeça e pescoço, Sarcoma de Kaposi, câncer de pulmão, câncer de ovário, de mama e metástases provenientes de diferentes tumore sólidos são considerados potenciais alvos de imunoterapia com IFN-α (Wall, et al., 2003; Santhanam, et al., 2002; Sternberg, 2003). As células Tc CD8+, por sua vez, reconhecem os antígenos tumorais quando os mesmos estão em associação com moléculas do MHC classe I (van Endert, 1999). A ligação do complexo antígeno tumoral/molécula MHC I com os receptores nas células Tc dá início a uma sinalização intracelular para o núcleo do linfócito, estimulando a expressão de suas funções efetoras que, no caso, é destruir a célula tumoral alvo por meio de liberação de linfotoxinas como: perforinas, cuja função é induzir lise da célula alvo por desrregulação osmótica, granzimas que são proteínas ativadoras de caspases e apoptose celular, e finalmente a ativação da molécula do Fas e Fas ligante, onde a união dessas moléculas induz sinais intracelulares para ativação de caspases e apoptose celular (Abbas et al., 2000). A resposta das células Tc pode consistir em proliferação, aumento da regulação de moléculas de superfície, ativação da maquinaria lítica e/ou secreção de citocinas como IL-2, IFN-γ , GM-CSF e TNF-α (Klimp et al., 2002). Para a célula Tc tornar-se completamente ativada, ela deve receber estímulos adicionais, provenientes da ligação de citocinas aos seus receptores de superfície, citocinas essas secretadas pelas células Th. Após uma ativação bem sucedida, a célula Tc divide-se em vários clones, todos com especificidade antigênica idêntica. Estes clones vão estar aptos a efetuar a função de vigilância imunológica, reconhecendo e destruindo de células potencialmente malignas, as quais expressam peptídeos derivados de proteínas celulares mutantes em associação a moléculas MHC I (Figura 3). É interessante notar que o TNF e IFN-γ 26 secretados pelas células Th podem aumentar a expressão da molécula do MHC I em células alvo e, conseqüentemente, a lise das mesmas pelos linfócitos Tc (Sharon, 1998). Apresentação do Antígeno tumoral ao Linfócito T CD8+ (CTL) Ativação do Linfócito T Liberação de Substâncias Citotóxicas (Linfotoxinas) Desligamento da CTL Lise da Célula Alvo Figura 3: Ativação do linfócito T CD8+ e seu mecanismo de eliminação da célula cancerosa. 27 A interação entre as células Tc e as células tumorais, entretanto, depende ainda de uma interação entre a integrina LFA-1, expressa nos linfócitos, e a molécula ICAM-1 (intercellular adhesion molecule-1), expressa na célula alvo tumoral e cuja expressão é estimulada por TNF, IL-1, IFN- ou IL-6. Essa ligação entre LFA-1 e ICAM-1 estabiliza o conjugado citolítico entre linfócitos Tc e a célula tumoral. A perda da expressão de ICAM-1 parece permitir às células tumorais circulantes evitar o estabelecimento de conjugados citolíticos estáveis, podendo significar a evasão da destruição pelos linfócitos Tc (Jonjic et al., 1992; Webb et al., 1991; Bernasconi et al., 1991). A terceira linha de defesa na imunidade celular seriam os macrófagos associados a tumores (TAM-"Tumor-Associated Macrophages") que representam o maior componente do infiltrado de vários tumores humanos (Klimp et al., 2002). Em adição à apresentação de antígenos, os macrófagos possuem, eles mesmos, uma capacidade citotóxica tumoral mas, apenas quando ativados por citocinas secretadas por células Th (como IFN-γ) (Yagisawa et al., 1999, Boehm et al., 1997). As propriedades tumoricidas dos macrófagos têm sido demonstradas extensivamente in vitro. Os mecanismos de destruição celular incluem a liberação de TNF, IL-1, radicais livres, proteases e óxido nítrico (Kroncke et al., 1995; Adams & Hamilton, 1992). As citocinas liberadas pelos macrófagos, por sua vez, vão recrutar células imunes secundárias para o sítio tumoral, de maneira a amplificar os efeitos tumoricidas não-específicos. Os macrófagos podem, também, destruir células tumorais sensibilizadas por anticorpos, atuando como efetor não específico da via de citotoxicidade celular antígeno-específica dependente de anticorpo (ADCC) (Shaw et al., 1978; Kawase et al., 1985). Os TAM portanto, parecem ter uma função central nas vias de ambas as imunidades antitumorais, a específica (através da ativação inicial de células CD4+) e a não-específica (através de suas propriedades tumoricidas e de sua função de secreção de citocinas). Um outro tipo de resposta, que não a celular, é a resposta imune humoral. Embora a imunidade celular seja a mais importante resposta antitumoral, os hospedeiros que portam um tumor produzem anticorpos contra antígenos tumorais. O potencial de destruição das células tumorais mediado por anticorpos tem sido largamente demonstrado in vitro e é atribuído à opsonização, ativação do complemento, ou à citotoxicidade celular dependente de anticorpos, 28 tendo como efetores macrófagos ou células NK (Fan et al., 1991; Johnson et al., 1986). A função real in vivo para esse mecanismo de destruição dependente de imunoglobulina permanece desconhecida, não existindo evidências para uma função protetora contra o desenvolvimento e progressão tumoral. As Células Dendríticas também desempenham um importante papel na imunologia tumoral. Essas células são consideradas as principais apresentadoras de antígeno para linfócitos T. Uma Célula Dendrítica fenotipicamente imatura é capaz de fagocitar células apoptóticas e necróticas (Por exemplo, células tumorais), micróbios e antígenos solúveis em geral. As Células Denríticas também são capazes de ativar lifócitos B para sintetizar anticorpos contra antígenos tumorais por um processo ainda não muito bem esclarecido (Dallal & Lotze, 2000). O infiltrado tumoral recebe as Células Dendríticas circulantes do sangue ou células mononucleares que se diferenciam em Células Dendríticas devido a ação de citocinas e a fagocitose de antígenos associados ao tumor. Após a fagocitose, a célula amadurece e processa o antígeno, apresentandoo ao linfócito T promovendo sua ativação nos órgãos secundários (Alters et al., 1997). Atualmente existem numerosas estratégias para manipular as Células Dendríticas contra células tumorais. Pepitídeos tumorais, células neoplásicas lisadas ou apoptóticas e RNA mensageiro pulsados associam-se ao MHC no interior de Célula Dendrítica otimizando sua ação para ativar linfócitos T antitumorais (Ashley et al., 1997). 4- VACINAS ANTICÂNCER A idéia de inibir o crescimento de um tumor estimulando o sistema imune não é recente. Na verdade, a mais de um século, os pesquisadores acreditam que é possível criar uma vacina conta o câncer, seja ela específica ou não. Por essa razão, o termo “vacina anticâncer” tem sido utilizado de forma indiscriminada para designar qualquer imunofármaco capaz de estimular o sistema imune para combater células neoplásicas (Moingeon, 2001). A primeira tentativa de estimular a resposta imune para combater o câncer foi usando um extrato de bactérias (Coley, 1893), sendo depois substituído por BCG, este último sendo extensivamente utilizado até hoje 29 como terapia imunoadjuvante contra o câncer (Morales et al., 1976; Lipton et al., 1991; Zorn et al., 1997). Citocinas estimulatórias também foram usados contra muitos tipos de câncer, mas apesar de alguns resultados positivos, em particular no melanoma e câncer renal, já foi comprovado que a sua utilização no tratamento é limitada pela sua forte toxicidade sistêmica (Marincola et al., 1995). A transferência passiva de células citotóxicas (linfócitos infiltrados, células NK) foi subseqüentemente testada em humanos com algum progresso (Rosenberg et al., 1988). Entretanto, esse processo rapidamente também demonstrou algumas limitações, como a ineficiência da maioria dos linfócitos não terem a capacidade de se dirigirem especificamente para tumor, provavelmente pela ausência de algumas moléculas de adesão nas células tumorais, o que dificultaria a infiltração dos linfócitos. Nos últimos anos, novas observações no campo da biologia molecular e da própria imunologia tumoral, tem aumentado o interesse em desenvolver a imunoterapia anticâncer. Uma outra alternativa para a imunoterapia anticâncer foi a utilização de anticorpos monoclonais direcionados para antígenos tumorais. Esse método obteve bons resultados clínicos e hoje podem ser encontrados na clínica alguns exemplos bem sucedidos dessa terapia como o anticorpo 17-1A para o tratamento câncer coloretal metastático, o antiCD20 para linfoma de células B e o mais conhecido, o anti-Her 2 para o câncer de mama metastático (Scott & Welt; 1997). Atualmente, um grande número de vacinas anticâncer está sendo testado em animais e em seres humano visando o aperfeiçoamento das vacinas contra o câncer. Em teoria, as vacinas anticâncer deveriam ser terapias ausentes de efeitos indesejados capazes de induzir uma resposta específica tanto contra o tumor primário, como contra a metástase. Adiciona-se a esse raciocínio, que uma poderosa imunização deve ser estabelecida pela memória imunológica, impedindo a recorrência do tumor. A natureza da resposta imune que se estabelece após a imunização com esses antígenos de superfície ainda não está claro, mas já é consenso de que uma boa vacina anticâncer deve induzir uma ampla resposta imune. Isso dificulta a especificidade do processo, o que pode acarretar em efeitos colaterais ainda não controláveis. Por essa razão, vacinas que utilizam anticorpos específicos, seja por imunização ativa ou passiva, contra os antígenos de superfície podem ser extremamente úteis como uma terapia de maior especificidade, e ainda induzem um processo efetor de ADCC. Em uma outra análise, a indução de uma forte resposta imune celular parece também exercer um papel 30 relevante. Linfócitos T citotóxicos ativados apresentam uma forte atividade lítica contra células tumorais se forem bem redirecionados, e parece ser o método mais eficaz para uma resposta terapêutica (Yee et al., 1997). Mas a descoberta de maior impacto na terapia anticâncer foi os Antígenos Associados ao Tumor (AAT), uma coleção de peptídeos ou glicopeptídeos de superfície de membrana que podem ser usados para fins de imunização ativa (Van der Eynde & Brichard, 1995; Rosemberg, 1997; Gilboa, 1999; Offringa et al., 2000). As últimas pesquisas vêem apontando o reconhecimento das AAT como as candidatas de maior importância e eficácia para uma imunização eficiente e duradoura contra o câncer. Alguns AAT já estão bem caracterizados, como o P1A, gp100, Mart1, TRP1, TRP2, p53, entre outros. A tabela 2 especifica os diferentes tipos de AAT e os tumores onde foram encontrados. Os Antígenos Associados ao Tumor podem ser encontrados em células neoplásicas e em células normais do organismo. Em experimentos com animais, esses peptídeos são utilizados para imunização de forma pura, ou com adjuvantes, ou até mesmo apresentado pelo DNA recombinate de plasmídio ou de vírus. Este último existe um interesse especial, pois pode infectar uma célula apresentadora de antígeno e induzi-la a apresentar este antígeno em associação com o MHC de classe I e gerar uma forte resposta citotóxica via linfócito T (Restifo, 1996). Outra grande barreira que pode ser ultrapassada com a imunização dos AAT é a quebra da tolerância imunológica induzida pelas células tumorais. Os linfócitos que percorrem a periferia sofrem um processo de tolerância contra esses antígenos, ou seja, eles se encontram anérgicos. Esse é um dos maiores problemas a ser enfrentado pelos imunologistas do câncer quando utilizam os AAT como componentes de vacinas. Alguns experimentos em animais permitiram demonstrar que essas vacinas podem até derrubar a barreira da tolerância, mas podem induzir também sinais inaceitáveis de autoimunizade (Naftzger et al., 1996). Contudo, ainda existe muita polêmica em relação aos modelos animais usados para esses experimentos. Isso porque os animais e as linhagens tumorais utilizados nesses experimentos não reproduzem o desenvolvimento tumoral em seres humanos. 31 Tabela 2: Tipos de vacinas anticâncer mais recentes. Tipos de Vacinas Células Alogênicas Proteínas de Choque Térmico Gangliosídios Peptídeos DNA Vantagens Desvantagens - Apresenta antígenos relevantes apenas ao paciente. - Apresenta numerosos antígenos. - Requer produção de vacina individual. - Requer uso de adjuvantes. - Apresenta antígenos relevantes apenas ao paciente. - Apresenta numerosos antígenos. - Requer produção de vacina individual. - Imunogenicidade ainda contestada. - Componentes bem caracterizados. - Imunogenicidade e segurança comprovada. - Difícil de preparar. - Requer uso de adjuvantes. - Simples de preparar - Segurança bem estabelecida. - Requer uso de adjuvantes. - Apresenta apenas epitopos simples. - Apresentação restrita ao HLA. - Simples de preparar. - Apresenta numerosos antígenos. - Presença de seqüências imunoestimulatórias no próprio vetor. - Resultados clínicos contestáveis. 32 Uma conseqüência desse fato é a provável ausência de resultados positivos em testes pré-clínicos com vacinas direcionadas para a terapia em seres humanos. Para atender a necessidade de possibilitar a terapêutica das diferentes linhagens tumorais, vários tipos de vacina foram desenvolvidas (Wolchok & Livingston, 2001). Vacinas de células alogênicas: Existem dois tipos de vacinas produzidas com células neoplásicas: as alogênicas e as autólogas. As vacinas de células alogênicas têm a vantagem de conter um potencial antigênico muito maior, além da simplicidade para o seu preparo. Entretanto, apesar da alta antigenicidade, esse tipo de vacina apresenta uma baixa imunogenicidade, o que dificulta um potente estímulo imunológico contra o tumor. As células alogênicas vem sendo estudadas por muitos grupos de pesquisadores. Existem evidências bem documentadas de que esse tipo de vacina pode induzir uma resposta imune humoral contra muitos antígenos, principalmente de melanoma, incluindo gangliosídios e antígenos de diferenciação do melanoma (Hsueh, 1998; Takahashi et al., 1999). Os comerciais CancerVax e Melacina são os dois principais exemplos de vacinas de células autólogas que existem no mercado com uma eficácia garantida. Estudos de fase III desenvolvidos no Instituto do Câncer John Wayne nos EUA indicam que essas vacinas são de maior interesse na prevenção contra a recorrência do tumor após o tratamento inicial. Uma das imunoterapias que são derivadas das vacinas de células alogênicas é o uso de antígenos oriundos de linhagens de células tumorais, que são subseqüentemente mantidos em cultura para manutenção. As imunizações recorrentes desses antígenos mostraram uma alta indução da ativação de células T contra antígenos do tumor. Todavia, é necessário um estudo randomisado para saber o real benefício clínico dessa técnica (Reynolds et al., 1998). 33 Vacinas de células autólogas: Vacinas de células autólogas possuem a grande vantagem de conter apenas os antígenos relevantes para o paciente portador do tumor. Com essa filosofia, cada paciente terá uma vacina específica para o tratamento do próprio câncer. A maioria das vacinas é preparada associada a um hapteno: o dinitrofluorobenzeno. Uma de suas maiores desvantagens é o tempo necessário para criar uma vacina específica para cada paciente e, além disso, a baixa imunogenicidade dos antígenos expressos no tumor. Uma intrigante descoberta sobre as vacinas de células autólogas é a sua habilidade de induzir inflamação nos locais metastáticos distantes da área de imunização (Berd et al., 1991). Ainda existem muitas críticas em relação a esse tipo de vacina, principalmente quanto ao seu potencial em aumentar a sobrevida de pacientes com recorrência do tumor. Isso indica uma maior necessidade de estudos clínicos randomizados. A introdução de genes que codificam citocinas ou quimiocinas nas células autólogas tem sido explorada com a intenção de aumentar a potência da resposta imune. Experimentos de Dranof e colaboradores (1993) sugerem que o fator estimulador de colônias de granulócito/macrófago (GM-CSF) tem a habilidade de aumentar a atividade antitumoral em modelo de melanoma B16 em camundongos. Nesse sentido, pesquisas clínicas em fase inicial com vacinas de células autólogas que expressam o gene codificador do GM-CSF tem mostrado que a vacina pode induzir uma resposta inflamatória localizada, bem como na região de lesão metástica distante do tumor primário. (Soiffer et al., 1998; Ellem et al., 1997; Dranoff et al., 1997). Apesar das respostas clínicas apontarem para o sucesso dessa terapia, a interpretação dos resultados estatísticos fica comprometida pelo baixo número de pacientes onde a vacina foi testada. Mais experimentos são necessários para esclarecer o verdadeiro impacto que essas vacinas podem exercer na terapêutica. Vacinas Gangliosídicas: As vacinas preparadas com antígenos caracterizados e purificados possuem várias vantagens em relação aos outros preparados. Os antígenos possuem alta imunogenicidade e induzem especificidade na resposta imune. Podemos, inclusive, escolher o tipo de resposta imune desejado baseado na natureza do antígeno ou 34 do adjuvante em questão. Vários modelos pré-clínicos e testes clínicos suportam o fato dessas vacinas, quando usados como tratamento adjuvante, induzirem a formação de anticorpos que por ADCC eliminam células tumorais de micrometástases (Wolchok & Livingston, 2001). Os alvos para as vacinas que induzem anticorpos devem ser as moléculas de membrana das células tumorais, onde o complexo antígeno-anticorpo se liga a um receptor Fc nas células fagocitárias, facilitando os mecanismos efetores de opsonização. Por esse motivo, um dos alvos moleculares mais utilizados na imunoteraêutica anticâncer são os gangliosídios, antígenos expressos na superfície dos tumores, especialmente os de melanoma. Gangliosídios são estruturas ácidas de glicolipídios que possuem em sua estrutura uma cadeia de ceramida hidrofóbica e uma porção glicosídica constituída de açúcares neutro e siálico. São extremamente abundantes na superfície de células do melanoma e, por conseguinte, são umas das maiores fontes de vacinas contra esse tipo de tumor. Os antígenos mais conhecidos são o GM3 e o GD3. Mas ainda podemos citar o GD2, GM2 (este o mais imunogênico gangliosídeo e alvo de várias pesquisas), e o O-acetil GD3 expressos em grande abundância (Zhang et al., 1997). Testes iniciais com vacinas de gangliosídios mostraram uma forte relação entre a presença de anticorpos anti-GM2 em soro de pacientes imunizados e sobrevida aumentada desses pacientes. 122 pacientes apresentando estágio III de melanoma sofreram uma cirurgia para a retirada do tumor, mas o risco de recorrência era ainda muito grande. Então, foi realizado um estudo randomizado onde uma parte dos pacientes foi imunizada com GM2 associado ao BCG, e outra parte foi imunizada apenas com BCG. O resultado foi uma resposta anti-GM2 humoral com presença de IgM específica em 85 % dos pacientes tratados, com uma pequena margem de sobrevida significante para os pacientes tratados com GM2/BCG (Livingston et al., 1994). Esse experimento foi a primeira evidência de que os anticorpos anti-gangliosídios poderiam trazer benefícios clínicos para pacientes com melanoma. As novas formulações para vacinas contendo GM2, chamadas de GMK, apresentam um conjugado (“keyhole limpet haemocyanin”), e uma associação com o adjuvante QS21. Com essa formulação, aproximadamente 100% dos pacientes apresentam anticorpos anti-GM2. Além desses resultados, a vacina GMK tem sido testada em estudos de fase III randomisado e os 35 resultados indicam um pequeno aumento de 15 % na sobrevida dos pacientes que são vacinados com o gangliosídio (Helling et al., 1995; Chapman et al., 2000). O GM2 constitui apenas uma pequena minoria de um grande grupo de gangliosídios presente na superfície de células do melanoma, entretanto é uma das moléculas mais importantes para o tumor. Por esse motivo, menos de 20% das células do melanoma podem ser lisadas pelo sistema complemento e anticorpos monoclonais contra o GM2. Conseqüentemente, anticorpos adicionais têm que ser induzidos contra outros gangliosídios da superfície das células neoplásicas para se chegar a um resultado clínico favorável. Ragupathi e colaboradores (2000) demonstraram que anticorpos anti-GD2 e GD3 pode ser induzido na maioria dos pacientes após sua imunização associado quando conjugado ao “keyhole limpet haemocyanin”. Outra maneira seria o uso de anticorpos monoclonais antiidiotípicos que mimetizem os gangliosídios. Essa prática pode ser útil para quebrar a tolerância e induzir células T a se ativarem e induzir a síntese da classe G de anticorpos (Sen et al., 1997; Cheung et al., 1993; Saleh et al., 1993; McCaffery et al., 1996; Yao et al., 1999; Foon et al., 2000). Vacinas de peptídeos: Os avanços nos últimos 15 anos na Biologia Molecular e na Imunologia nos permitiram conhecer com mais detalhes os mecanismos efetores das células T. Em especial, os peptídeos de superfície da membrana plasmática tem sido intensamente estudados e identificados por serem pequenas proteínas endógenas que se ligam ao MHC de classe I para apresentação ao linfócito T CD8+ e, portanto, terem um alto potencial antigênico. Um dos primeiros peptídeos caracterizado foi o derivado da tirosinase, uma enzima envolvida da biosíntese de melanina. Outros antígenos que mostraram mediar o reconhecimento das células neoplásica pelas células T são: gp100, proteína-2 relacionada a tirosinase (TRP-2), Melan-A/MART-1, Her2 neu, Muc, Syalyl Tn, KSA, MAGE, BAGE, GAGE, entre muitos outros, todos candidatos em potencial a serem usados como vacinas anticâncer (Moingeon, 2000). A tabela 3 mostra os principais peptídeos caracterizados e o seu tumor de origem. 36 Já existem vários testes clínicos sendo realizados com estes antígenos. Alguns deles, como o gp100 são usados na uma forma alterada quimicamente para intensificar a ligação do peptídeo à molécula de MHC de classe I e dessa forma intensificar a resposta imune contra o agressor. Os efeitos da estimulação da resposta imune celular aos peptídeos podem ser constatados quando, por exemplo, isolamos células T periféricas de pacientes com câncer e estimulamos estas mesmas células T in vitro pelo menos durante 7 dias na presença do peptídeo antes de serem inseridas no paciente a fim de destruir o tumor. Essa técnica de estimulação ex vivo de células T vem sendo utilizado com sucesso como tratamento adjuvante de muitos tumores. Por alguma razão desconhecida, a estimulação in vivo dessas mesmas células T não produz o mesmo efeito para combater o tumor quanto a estimulação in vitro (Lee et al., 1999). Na maioria dos experimentos, os peptídeos são administrados com o adjuvante incompleto de Freund (Jager et al., 1996; Rosenberg et al., 1998; Marchand et al., 1999). Os adjuvantes são necessários pelo fato dos peptídeos terem baixo poder imunogênico, e para quebrar a barreira da tolerância imunológica imposta pelo próprio tumor. Muitos dos adjuvantes usados em associação com peptídeos são extremamente tóxicos para seres humanos. Outros adjuvantes, como os sais de alumínio, adjuvante incompleto de Freund, QS-21 ou GM-CSF, são de interessante particular, pois podem induzir o recrutamento de células dendríticas ao local de imunização. Acredita-se que cada peptídeo pode induzir uma resposta diferente quando associada com um determinado adjuvante. Com esse intuito, Schaed e colaboradores (2000) verificaram que a resposta imune foi mais intensa quando antígenos de melanoma, como a tirosinase e gp100, são associados ao GM-CSF ou ao QS-21 e menos intensa quando usado o adjuvante incompleto de Freund. Nesse experimento, o GM-CSF e o QS-21 estimularam de forma muito mais agressiva linfócitos T CD8+ (resposta imune citotóxica) contra os peptídeos de membrana, iniciando uma resposta antitumoral. Os estudos continuam visando descobrir a melhor combinação de adjuvantes para cada peptídeo. 37 Tabela 3: Peptídeos de membrana de células neoplásicas utilizados como alvos moleculares. Peptídeo MAGE 1, MAGE 3 Tumor de Origem Melanoma, Pulmão, Cabeça e Pescoço, Bexiga gp100 / gp100 modificado Melanoma Mart 1 Melanoma Mart 1, tirusinase, gp100 Melanoma Her2 neu Mama, Adenocarcinoma de cólon Ras Mutado Melanoma, Câncer de Pâncreas MUC1 (lipopeptídeo) Câncer de Mama Gastrina Câncer de estômago, Pâncreas 38 Vacinas baseadas em proteínas de choque térmico: Nos últimos anos, proteínas que sofriam um processo de choque térmico (HSPs) começaram a serem utilizadas como estimulantes do sistema imune com fins de atividade antitumoral. HSPs são moléculas tumorais intracelulares que são reconhecidas por terem a função de carreadores de peptídeos com alto potencial imunogênico (Srivastava et al., 1994; Blachere & Srivastava, 1995; Heike et al., 1996; Srivastava, 1997; Janetzki et al., 1998). A purificação de HSPs de células tumorais tem gerado uma vasta lista de moléculas aptas a induzir uma imunidade antitumoral. Sabe-se que os HSPs são realmente importante para a indução da resposta imune, embora o mecanismo exato da apresentação do peptídeo-HSP ainda seja tópico de investigação. Uma hipótese seria a ligação específica de HSPs a superfície das células apresentadoras de antígenos, sendo então fagocitado e, uma vez no interior da célula, estimularia a síntese da molécula de MHC de classe I (Castellino et al., 2000). Outro possível mecanismo da estimulação da apresentação do MHC de classe I envolve uma rota citoplasmática na qual o HSPs é associado ao TAP e proteasomas do citosol (Arnold-Schild et al., 1999). Alguns estudos clínicos de fase I com preparados de HSPs autólogos já estão em andamento para combater alguns tumores. Em um destes estudos, HSPs (particularmente o HSP96) foi purificado de tumores do próprio paciente e injetado por via intradérmica. Os resultados mostraram que a técnica é segura e realmente possui uma ação antitumoral, ainda que seja pequena (Wolchok & Livingston, 2001). Vacinas de DNA: A imunização com o DNA de plasmídio que codificam antígenos de células tumorais é a mais recente e promissora estratégia desenvolvida para induzir a ativação de células T e a produção de anticorpos específicos. Nessa técnica, o plasmídio contendo a seqüência gênica que codificará o antígeno tumoral é administrado na pele ou no músculo do paciente onde será processado por células apresentadoras de antígeno profissionais, como as células dendríticas. A maneira exata como o antígeno é introduzido nestas células ainda é foco de investigação (Porgador et al, 1998; Casares et al., 1997; Akbari et al., 1999). Uma das hipóteses mais aceita é a introdução do gene em células que não são boas apresentadoras de antígenos, como keratinócitos ou miócitos. Estas células farão a transcrição e tradução dos genes que codificam as proteínas tumorais nas quais serão secretadas para o exterior da célula. Em seguida, as células dendríticas fagocitam e processam a proteína tumoral, e a apresentam para as células T em locais apropriados, como nos nódulos linfáticos de drenagem. Embora as células dendríticas 39 sejam apenas minoria entre outras existentes na região da pele ou do músculo, a grande habilidade dessas células de apresentarem antígenos permite o sucesso da metodologia. A imunização por DNA oferece várias vantagens. Uma delas é o fato de permitir múltiplos epitopos em potencial, pois não é necessária uma restrição do antígeno ao MHC, como é necessário nas imunizações clássicas. Outra, é o plasmídio, utilizado nas imunizações, conter seqüências CpG imunoestimulatórias não-metiladas na qual pode agir como um potente adjuvante imunológico (Klinman et al., 1996; Sato et al., 1996). Além disso, a molécula de DNA em si é fácil de ser purificado em grandes quantidades para qualquer prática. 5- VACINA HASUMI: INFORMAÇÕES GERAIS A Vacina Hasumi foi desenvolvida em 1935 pelo médico Kiichiro Hasumi, sendo o seu uso clínico iniciado no Japão em 1948, para tratamento do câncer. Trata-se de um imunoterápico que associa um adjuvante obtido de extratos celulares do baço bovino e antígenos tumorais obtidos de extratos da membrana de células neoplásicas de cada tipo histopatológico de câncer. A vacina Hasumi vêm sendo usada a mais de 50 anos, no Japão e em outros países, em mais de 100.000 pacientes com câncer. Além disso, tem sido também indicada para o tratamento de 40 Vacina Hasumi Adjuvante Antígenos Tumorais MHC I e II Célula de Langerhans Célula Dendrítica Figura 4: Aparente mecanismo apresentação dos antígenos em Células Dentríticas ativadas pelo adjuvante da vacina Hasumi. 41 doenças inflamatórias, sem que tenha sido observado, em ambos os casos, efeitos colaterais relevantes. A Vacina Hasumi é constituida por dois componentes baseados em adjuvantes e antígenos. O adjuvante é retirado de células de baço de bezerros e o antígeno, de diversas formas de tumor. Trata-se de um material fisiologicamente ativo, contendo ácidos graxos não-saturados e outras substâncias que, aparentemente, estimulam a maturação das células dendríticas (Figura 4). O antígeno é preparado isoladamente, a partir de um extrato de membranas de células de tumores bem definidos patologicamente. Após a homogeneização do tecido neoplásico, utiliza-se uma solução de colagenase e EDTA para fazer a suspensão das células. Em seguida a extração osmótica e a sonicação, os componentes da parede celular são fracionados com o uso de centrífuga com gradiente de densidade. Então, após o processo de solubilização, utiliza-se a cromatografia de coluna de lectina para recolher os polissacarídeos e as glicoproteínas. A Vacina Hasumi é um líquido incolor estéril, acondicionado em ampolas de vidro, no volume de 0,5 mL, separadamente, antígeno tumoral e extrato de baço bovino (Shukokai do Brasil, 1999). A Vacina Hasumi já existia muito antes da implantação dos modernos regulamentos de registro de fármacos e somente era usada sob prescrição médica. Como o seu uso era condicionado ao acompanhamento médico e não havia efeitos adversos significantes, ela continuou a ser utilizada sem restrições. Recentemente, a Shukokai Incorporated, responsável pela fabricação da vacina, em função da grande procura do seu produto, encorajou-se para preencher todas as exigências requeridas para o seu registro em diversos países. No Brasil, o nosso trabalho pretende contribuir com um estudo pré-clínico da vacina Hasumi para um possível registro de patente e utilização terapêutica desse imunofármaco no país. 42 OBJETIVOS GERAIS: Estudo farmacológico da atividade antitumoral pré-clínico da vacina anticâncer Hasumi. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1- Quantificar as proteínas existentes nas ampolas da Vacina Hasumi. 2- Demonstrar a capacidade da vacina Hasumi de inibir o crescimento tumoral in vivo do carcinossarcoma de Walker 256 em ratos “Wistar” que foram submetidos, ou não, à retirada cirúrgica do tumor, bem como de influenciar alguma alteração no hemograma dos animais. 3- Demonstrar a capacidade da vacina Hasumi de inibir o crescimento tumoral in vivo e do melanoma B16 em camundongos C57BL/6. 4- Estudar a eficiência da vacina Hasumi em aumentar a sobrevida de animais experimentais com Walker 256 e melanoma B16, bem como o possível mecanismo de ação da vacina. 5- Contribuir para uma maior compreensão dos mecanismos de ativação do sistema imune contra o melanoma B16 por diferentes vias de imunização. 43 MATERIAL E MÉTODOS 1- VACINA: A vacina Hasumi foi cedida pela Shukokai do Brasil – Ltd (São Paulo, SP, Brasil). A composição dos peptídeos e do adjuvante contidos nas ampolas da vacina Hasumi está exposta nas tabelas 4 e 5. 2- REAGENTES: Álcool 70% - MERCK Azul de Trypan 0,4% - MERK Azul de Evans - MERK Solução Fisiológica – MADREVITA Soro Fetal Bovino – CULTILAB Tripsina – DIFCO Imunoglobulinas Policlonais de Cabra Anti–Camundongos Conjugados a Peroxidase – SEROTEC Leite Desnatado – NESTLÉ Solução Reveladora da Peroxidade – SIGMA Penicilina/Gentamicina - CULTILAB 44 Tabela 4: Peptídeos contidos na vacina Hasumi e seu(s) respectivo(s) tumor(es) de origem. Peptídeo Tumor de origem Gp100 Melanoma MART-1/MelanA Melanoma TRP-1 (gp75) Melanoma Tyrosinase Melanoma b-catenin Melanoma MUM-1 Melanoma CDK4 Melanoma GnTV Melanoma p15 Melanoma MAGE-1 Melanoma MAGE-3 Melanoma BAGE GAGE-1,2 RAGE Mucin HER-2/neu CEA HLA-A2 bcr-abl KIAA0205’ Melanoma, Bexiga Melanoma, Sarcoma, Bexiga Sarcoma Mama, Ovário e Pâncreas Mama, Ovário Cólon, Pulmão, Mama Rim Carcinoma de Mama Bexiga 45 Tabela 5: Composição química do extrato alcoólico do baço bovino. Substância Tipo de detecção D. Glicose Glicoseoxidase Glicose Neutra Oreinol Sulfúrico Lipidios Totais Fosfovanisilina Proteína Total Biuro Fofolipídio Enzima Colesterol Enzima Triglicerídio Enzima Ácidos Graxoluire Enzima Glicoproteína Enzima Ácido Graxoperóxido TBA Vitamina A HPLC concentração ND* 0,12mg 0,25mg 0,002mg 0,105mg 0,07mg 0,011mg 0,08 mEq ND 0,01p mol 0,075U.L. GRUPO PROSTAGLANDINA TXB 2 11 Dehidro TXB 2 6-ceto pgf 1 PGF 2 PGE PGE 2 ND ND ND ND ND ND 18.28 pg 100 pg 1807 pg 394.7 pg 1240 pg 1.2 pg FUNÇÃO ÁCIDO GRAXO Ácido mirístico Ácido Palmílico Palmitoleico Esteático Oleico Linileico Araquidico Linoleico Elcosenóico Eicosadienosóico Elcosatrienóico Beoinico Araquidônico Euricico Elcosapentaenoico Lignocerico Neivonico Docosapentaenico Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa Cromatografia Gasosa 1.25 µg 25.28 µg 0.9 µg 15.2 µg 18.05 µg 8.8 µg Tr** Tr 0.25 µg 0.3 µg 1.95 µg 0.15 µg 7.15 µg ND* ND* ND* ND* 0.35 µg * Não descrito pela indústria. ** Traços. 46 3- EQUIPAMENTOS: Agitador magnético – ADVANCED Autoclave (modelo ASV – 302) – CORPORATION Balança analítica – METTLER Câmara de Neubauer – CLAY ADAMS Capela de fluxo laminar vertical – VECO Centrífuga refrigerada – EPPENDORF Citocentrífuga – SHANDON Cromatografia líquida de alta pressão (HPLC) – SHUMADZ Destilador / Deionizador – TECNAL Espectrofotômetro – BACKMAM Estufa incubadora de CO2 – NUARE Freezer -20°C – PROSDÓCIMO Freezer -70°C – REVCO Microscópio Óptico de inversão – LEITZ Microscópio Óptico Olympus CH-2 – Olympus 4- MATERIAIS DIVERSOS Agulhas hipodérmicas Seringas de 1, 3, 5, 10, 20 cc – BD Espátula Eppendorf Luvas cirúrgicas látex – LEMGRUDER S.A. Material cirúrgico: pinça, bisturi, tesoura – EDLO 47 Paquímetro Placas de Petri – PYREX Provetas 25, 50 e 100 mL – PYREX Pipetas graduadas de 1,0; 5,0; 10;0 – BRAND Pipetas graduadas de 20, 200, 1000 μL e ponteiras Tubos de centrífuga – FALCON Placas de ELISA – Cultilab 5- ANIMAIS Foram utilizados camundongos C57BL/6 fêmeas (25 a 30 g), provindos do Biotério Central da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, camundongos Swiss fêmeas (25 a 30 g) e ratos albinos Wistar fêmeas (120 a 140 g), provindos do Biotério Central da Universidade Federal do Ceará (UFC), mantidos em colônia fechada no Departamento de Fisiologia e Farmacologia da (UFC). 6- SOLUÇÕES Solução de Ringer com lactato de Sódio: Química Farmacêutica Gaspar Viana, 6g NaCl; 0,30g KCl; 0,2g CaCl2H2O; 3,1g lactato de sódio. Soro Fetal Bovino (FCS): o soro estéril da cultilab foi estocado a -20°C em garrafas de 100mL. Antes do uso foi descongelado e estocado a 4°C. Foi usado no RPMI numa concentração final de 10% (v/v). Bicarbonato de sódio: uma solução de 7,5% (p/v) foi preparada dissolvendo 7,5 g de bicarbonato de sódio em 100 mL de água destilada e deionizada, sendo em seguida filtrada em filtro millipore e estocada a 4°C. Na preparação do meio, foi utilizada uma concentração final de 10 % (v/v). 48 Azul de Tripan: o pó “tripan blue” foi obtido da Serale Diagnostics e preparado a 1% (p/v) em solução PBS, o qual foi filtrado através de filtro de papel para remover partículas insolúveis. Meio RPMI: o meio foi obtido da Cultilab, sendo diluído em água destilada, deionizada e esterelizada. A solução foi filtrada com ajuda do filtro Millipore com diâmetro de 0,22 μm. Posteriormente, foi completado com 10% de soro fetal, 1% de glutamina, 1% de antibióticos, 1% de bicarbonato (0,75%) e 25 mM de HEPES. Água: a água de torneira contém grande quantidade de íons, muito dos quais são tóxicos para as células, e pode ainda conter endotoxinas produzidas pelo crescimento de bactérias gram negativas. Por esse motivo, as soluções foram preparadas com água tridestilada, ou de preferência, bidestilada e deionizada (desmineralizada). Solução de Glutamina: 3g de glutamina foram lentamente dissolvidos em 100mL de água bidestilada e deonizada. Posteriormente a solução foi esterelizada por filtração com membrana Millipore (0,22μm). Soluções para dosagem de proteína: Solução A – diluiu-se em 100mL de água bidestilada, 4g de hidróxido de sódio e 20g de carbonato de sódio (Na2CO3). Solução 2 – diluiu-se em 100mL de água bidestilada, 2g de tartarato de sódio (KNaCuH.4H2O). Solução 3 – diluiu-se em 100mL de água bidestilada, 1g de sulfato de cobre pentaidratado (CuSO4.5H2O). 49 Solução C – para cada 100mL de solução A, adicionou-se 1mL da solução 2 e 1mL da solução 3. Para cada 5mL de Folin Ciocalteau adicionou-se 22,5mL de água bidestilada. Tripsina: solução de tripsina 0,23% foi usada para desprender as culturas celulares do frasco antes da repicagem. Diluiu-se 2,5g em 100mL de diluente de tripsina (1:250 Difco) e 1g Dglicose anidra, agitou-se por 1h ou 2h a frio para ser obtida uma solução mais límpida possível. Esterelizou-se por filtração e subdividiu-se em frascos de 100 e 200mL. Fez-se a prova de esterilidade e conservou-se a 4°C. Diluente da tripsina: NaCl 8g KCl 0,4g Na2PO4.7H2O 0,06g Vermelho Fenol 0,02g EDTA 1g Colocou-se 50mL de água tridestilada num frasco, e com agitação contínua foram adicionados os componentes, um a um, na ordem indicada. Esperou-se que cada um se dissolvesse antes de juntar o seguinte. Completou-se o volume para 100mL, com água tridestilada. Em seguida a solução foi filtrada sob pressão e aliquotada em volumes de 25mL. O pH foi acertado para 7,8 a 8,0 com Na2HCO3 a 10%. 50 7- CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PRESSÃO: 1mL da ampola contendo os peptídeos da vacina Hasumi foi submetida a uma cromatografia líquida de alta pressão (HPLC). Primeiramente foi realizado um “scan” entre 200 e 800nm em um espectofotômetro para estabelecer o melhor comprimento de onda. Em seguida foi usado o gradiente 70/30 de metanol/água em fase móvel, com um comprimento de onda de 210nm, num fluxo de 1mL/min por injeção automática, uma temperatura de 35° C e a pressão da bomba de 105 kgf. 8- DOSAGEM DE PROTEÍNAS A determinação de proteínas na vacina Hasumi foi realizada segundo Eagle e Foley (1958). A concentração de proteínas foi estimada com relação a uma curva padrão obtida com albumina sérica bovina. 9- IMUNIZAÇÃO DOS ANIMAIS Grupo de 10 camundongos “Swiss” (fêmeas provenientes do Biotério Central da Universidade federal do Ceará) com 25 a 30g foram imunizados pela via subcutânea com 100 μL (0,6 μg de peptídeos) de vacina Hasumi, respectivamente, sendo aplicado um reforço da mesma dose 21 dias após a primeira imunização. A coleta de sangue para obtenção do antissoro foi realizada em três momentos: 24 horas antes da imunização (soro pré-imune), 7, 14, 21 dias após a primeira imunização para avaliação da resposta primária, e 28, 35 e 42 dias após a primeira imunização para avaliação da resposta secundária. Em um outro experimento, 2 grupos de 10 camundongos “Swiss” (fêmeas provenientes do Biotério Central da Universidade federal do Ceará) com 25 a 30g foram imunizados pela via subcutânea com 100 μg de ovalbumina, respectivamente, sendo aplicado um reforço da mesma dose 21 dias após a primeira imunização. A coleta de sangue foi realizada da mesma forma do grupo anteriormente citado. 51 10- OBTENÇÃO DOS ANTISSOROS As amostras de sangue foram coletadas com pipetas Pasteur por punção no plexo retroorbital dos camundongos. O sangue foi deixado em repouso durante duas horas à temperatura ambiente para a retração do coágulo após o que o soro foi recolhido e centrifugado a 3.000 g por 5 minutos para que as hemácias fossem separadas e desprezadas. Em seguida, o antissoro obtido foi armazenado a 20°C. Este procedimento foi adotado para todos os experimentos. 11- SOROLOGIA: 11.1- Enzyme Linked Immunosorbent Assay (ELISA) Os antissoros foram submetidos ao teste de ELISA indireto (Enzyme Linked Immunosorbent Assay). Para esse ensaio, as placas foram sensibilizadas com 100 μL (1,2 μg) de peptídeos, ou 10 μg de ovalbumina diluída em 100 μL de solução salina em cada poço. As placas foram incubadas “overnight” (18 horas) a uma temperatura de 4°C. Em seguida, as placas foram lavadas com solução salina 0,9% contendo Tween-20 (0,05%) e bloqueadas por 2h a uma temperatura de 37°C em solução de bloqueio (solução salina contendo 5% de Molico). Após a lavagem das placas, foram adicionados 100 μL dos antissoros (obtidos dos camundongos imunizados) diluídos em 1:10, 1:100 e 1:1.000 em solução de bloqueio nos devidos poços e as placas foram incubadas “overnight” (18 horas) a uma temperatura de 4°C. As placas foram novamente lavadas e em cada uma adicionado o conjugado imunoglobulinas policlonais antimouse ligadas à peroxidase, em uma diluição de 1:1.000 em solução de bloqueio a uma temperatura de 37°C. A seguir, as placas foram lavadas com solução salina 0,9% contendo Tween-20. A reação foi desenvolvida pela a adição de orthophenylenediamine (OPD) após a placa ter sido incubada por 20 minutos a temperatura de 37°C. A intensidade da reação foi avaliada espectofotometricamente em um comprimento de onda de 490 nm com um micro ELISA espectofotômetro BECKMAN. 52 11.2- Anafilaxia Cutânea Pasiva (PCA) Os anticorpos IgG1 presentes em respostas de camundongos imunizados foram quantificados através da técnica de PCA como descrito por Ovary (1958) e modificado por Mota & Wong, adaptado para o uso do camundongo. O título de PCA foi definido como o logarítimo na base dois do inverso da diluição máxima do antissoro (Dmax) capaz de provocar uma reação cutânea positiva. Título de PCA = log 2 1/Dmax A região da pele dorsal dos camundongos swiss foi depilada sob leve anestesia com éter e em cada animal 4 pontos foram marcados nos quais 50 μL das diluições seriadas dos antissoros foram injetados em cada ponto, por via intradérmica. Após um período de duas horas, as reações foram desencadeadas da seguinte maneira: foi injetado nos camundongos por via endovenosa, no plexo retro-orbital, 250 μL de azul de Evans a 0,5 % em solução salina contendo 125 μL (1,5 μg) de peptídeos. 12- LINHAGEM CELULAR A linhagem celular congelada usada para os estudos in vivo foi o melanona B/16 mantido em meio RPMI 1640 e suplementadas com 10% de soro fetal bovino. A passagem das células foi realizada 3 vezes por semana, na fase de crescimento rápido. A cultura foi mantida a 37°C em 5% de CO2. A viabilidade das células excedeu 95% quando determinadas pelo azul de trypan (McAteer & Davis, 1994) (A linhagem do melanoma B/16 tem como característica a aderência das células, e por esse motivo as células deveriam ser lavadas com solução de tripsina para a possível passagem in vivo) 13- VIABILIDADE CELULAR Para determinar a viabilidade, uma alíquota da suspensão de células foi diluída 1:10 a uma solução azul de tripan a 1% (p/v), depois de 2 a 3 min, as células foram examinadas na 53 câmara de Newbauer. As células coradas em azul escuro foram consideradas não viáveis. A viabilidade foi expressa pelo número de células não coradas multiplicadas por 105 céls./mL. 14- CONGELAMENTO DAS CÉLULAS Após tripsinização, as células foram resuspensas em meio a 10% de soro, e centrifugadas durante 5 min, a 1.000 rpm. Em seguida, o sobrenadante foi removido, e o precipitado foi resuspendido em meio a 5 ou 10% de DMSO. A suspensão de células foi colocada em uma ampola, sendo levada à geladeira por 30 min, posteriormente para o freezer a -70°C durante 24 h, e em seguida armazenada a -180°C (nitrogênio). 15- DESCONGELAMENTO DAS CÉLULAS As células foram descongeladas rapidamente em banho-maria a 37°C. O conteúdo foi retirado da ampola e colocado gota a gota num tubo de centrífuga contendo meio RPMI a 10%. Posteriormente o precipitado foi re-suspendido em meio de cultura recém preparado. Com o auxílio de uma pipeta, foi agitado lentamente. A suspensão de células foi transferida para um ou mais frascos de cultura, sendo posteriormente incubada em estufa a 5% de CO2 a 37°C. 16- TESTE DA ATIVIDADE ANTITUMORAL 16.1- Via de administração da vacina Hasumi As vias utilizadas para a administração da vacina foram a subcutânea, por ser uma via clássica de desencadeamento da resposta imunológica, e a intraperitoneal por se tratar de uma via com indução de resposta imune a nível sistêmico. Os ratos foram inoculados com 500μL da associação de duas ampolas, uma com os peptídeos e outra com adjuvante, que formam a Vacina Hasumi. O tratamento foi de 2 em 2 dias até a morte dos animais para a avaliação da sobrevida. Em camundongos, o tratamento era de 7 em 7 dias também para a avaliação da sobrevida. Nesse 54 caso, após a associação do conteúdo das ampolas, eram diluídas em solução salina 0,9% num volume final de 200 μL para se obter várias doses diferentes. 16.2- Avaliação do hemograma de ratos inoculados com carcinossarcoma de Walker 256 Os animais que foram submetidos a retirada de sangue tiveram seu hemograma avaliado. A sangria foi realizada pelo plexo retro-orbital com o auxílio de um capilar. O sangue dos animais foram retirados antes de receber as células tumorais e 10 dias após a inoculação das células. O sangue foi imediatamente armazenado em tubos vacutainer (Becton Dickinson and Company, Franklin Lakes, NJ, USA) para evitar a coagulação e analisados em um contador ajustado para células de ratos. 16.3 - Avaliação da atividade antitumoral em carcinossarcoma de Walker 256 Nesse primeiro estudo foi utilizado o carcinossarcoma de Walker 256 com 8 a 10 dias de implante. O rato doador ou de manutenção foi sacrificado com éter etílico e feita na região do tumor assepsia com álcool iodado. Em seguida foram realizadas a incisão com remoção da epiderme do animal e posterior retirada do tumor através de pinça e tesoura. O tumor foi colocado em placa de Petri contendo solução de Ringer lactato com gentamicina. Após a retirada de vasos e partes necrosadas, foram selecionados fragmentos tumorais de aproximadamente 2 a 3mm de diâmetro, sendo estes transferidos para outra placa de petri contendo a mesma solução. Os fragmentos tumorais foram triturados com tesoura, peneirados e a solução restante foi submetida ao teste de viabilidade celular para contagem das células viáveis. O rato receptor foi anestesiado com éter etílico tendo sido feita a sua assepsia com álcool iodado no local da inoculação. Dois grupos de 7-9 ratos foram inoculados com 1,0 X 106 células por via subcutânea na região axilar de acordo com a metodologia de Stock et al. (1955) modificado por Moraes Filho (1982), sendo o primeiro grupo imediatamente vacinado com 500 μL (3 μg de peptídeos) da vacina Hasumi, e o segundo grupo vacinado com solução salina 0,9%. Reforços da mesma dose foram administrados em dias alternados até a morte dos animais. Nesse experimento foram avaliados a sobrevida e o volume do tumor durante o período de tratamento. Os animais desses 55 dois grupos foram submetidos a retirada de sangue para a avaliação do hemograma como explicado anteriormente. No segundo estudo, dois grupos de animais também foram inoculados com 1,0 X 106 células por via subcutânea na região axilar. Cinco dias após a inoculação das células, os animais sofreram a retirada cirúrgica do tumor palpável. Imediatamente após a cirurgia, o grupo experimental foi imunizado com 500 μL (3μg de peptídeos) da Vacina Hasumi e o grupo controle com 500 μL de solução salina 0,9%. Nesse experimento também foram avaliados a sobrevida e o volume do tumor durante o período de tratamento. 16.4- Avaliação da atividade antitumoral em melanoma B/16 O melanoma B/16, mantido em cultura, foi tripsinizado e realizado o teste de viabilidade celular para contagem das células viáveis. 4 grupos de 6-7 camundongos C57BL/6, fêmeas, pesando de 25 a 30g, foram inoculados por via subcutânea na região axilar 1,0 X 106 células em 500 μL de salina, sendo o animal imediatamente imunizado com 1, 10 e 100 μL de vacina (0,006 μg, 0,06 μg e 0,6 μg de peptídeos) diluída em um volume final de 200 μL respectivamente para cada grupo. O controle foi vacinado com 200 μL de solução salina 0,9%. Os animais receberam reforços da mesma dose a cada 7 dias até a sua morte. Nesse experimento foram avaliados a sobrevida, a variação do peso e o volume do tumor durante o período de tratamento. Em outra série de experimentos, 4 grupos de 6-7 animais foram tratados da mesma forma que o grupo anterior, com a diferença que os animais foram imunizados por via intraperitoneal. Também foram avaliados a sobrevida e o volume do tumor durante o período de tratamento. 17- CÁLCULO DA CURVA DE CRESCIMENTO A curva de crescimento tumoral foi mensurada no decorrer do tratamento. O volume tumoral foi calculado a cada 2 dias segundo a fórmula de Steel (1987): V(cm3) = D.d2/2 56 Onde: D = diâmetro maior do tumor d = diâmetro menor do tumor 18- ANÁLISE ESTATÍSTICA: Para a avaliação da sobrevida, foi utilizado o teste não paramétrico Kaplan-Meyer. Para ou outros foram utilizados o teste t-student e a análise de variância (ANOVA). Considerou-se que havia diferença entre os grupos tratados e o controle quando o p-valor foi menor ou igual a 0,05, existindo diferença significativa a 5%, e menor ou igual a 0,01, com significância a 1% (Armitage & Berry, 1985). 57 RESULTADOS 1- TEOR DE PROTEÍNA DO EXTRATO TOTAL O teor de proteínas na ampola contendo os peptídeos da Vacina Hasumi de acordo com o método de Eagle e Foley (1958), foi de 12 μg de proteína por 1mL de solução. 2- CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA PRESSÃO O cromatograma da ampola contendo os peptídeos da vacina Hasumi revelou a presença de seis picos em um gradiente de concentração 70/30 (metanol/água), indicando uma propriedade apolar dos peptídeos. Os diferentes tempos de retenção estão especificados na figura 5. O maior pico foi obtido com um tempo de 2,4 minutos após o início da cromatografia, sendo este também o pico de maior percentagem de área retida (52,3473 %), seguido dos picos de 2,7; 2,9; 3,1; 3,6; e 4 minutos (Tabela 6). 3- AVALIAÇÃO DA RESPOSTA IMUNOLÓGICA 3.1- Determinação da Síntese de Anticorpos Específicos, Avaliada por ELISA, em Camundongos Imunizados com a Vacina Hasumi. A figura 6 mostra a ausência da detecção da síntese de anticorpos anti-peptídeos nos camundongos imunizados com a vacina Hasumi. Não foram detectados anticorpos específicos em nenhum dos sete dias de sangria. 58 0.00 1 2 0.02 Volts 0.02 0.04 4 .0 0 0 6 5 2 6 9 Retention Time Area 2 .4 3 1 5 2 3 4 7 3 Volts 0.04 3 .6 5 3 3 0 3 9 1 Detector A KREBS KREBS (00) 2 .7 9 9 8 3 5 6 7 2 .9 4 6 1 0 8 2 2 3 .1 0 8 2 6 6 6 7 0 CURVA PADRÃO PARA DCTN 0.00 3 4 5 6 Minutes Figura 5: Cromatografia Líquida de Alta Pressão (HPLC) da ampola contendo os peptídeos da Vacina Hasumi. O gráfico mostra o tempo de retenção dos picos com as respectivas percentagens de área do gráfico. 59 Tabela 6: Tempo de retenção e área calculada dos picos retidos da ampola contendo os peptídeos da vacina Hasumi em Cromatografia Líquida de Alta Pressão. N° de Picos Tempo de Retenção em Minutos % da Área Retida Pico n° 1 2,431 523,473 Pico n° 2 2,799 83,567 Pico n° 3 2,946 10,822 Pico n° 4 3,108 266,670 Pico n° 5 3,653 30,391 Pico n° 6 4,000 65,269 60 3.2- Determinação da Síntese de Anticorpos Específicos, Avaliada por ELISA, em Camundongos Imunizados com a Ovalbumina (OVA). É sabido que ovalbumina habitualmente induz resposta imune em camundongos quando imunizados pela via subcutânea. Por essa razão, foi feito um grupo controle-positivo onde os animais foram imunizados com 100 μg de OVA, com reforços no 21° e 35° dias. Como era de esperar, foi observado uma curva clássica da síntese de anticorpos anti-OVA, começando com uma resposta primária de baixa intensidade e uma resposta secundária e terciária de maior eficiência (Figura 6). 3.3- Determinação da Síntese de Anticorpos Específicos, Avaliada por PCA, em Camundongos Imunizados com a Vacina Hasumi. Como podemos observar na figura 7, os camundongos imunizados com a Vacina Hasumi induziram uma fraca síntese de IgG1 no 21° dia, com um leve aumento nos dias 28 e 35. No 21° dia foi obtido um título de 0,25, enquanto os positivos do 28° e 35° dias foram obtidos títulos 0,89 e 0,91 respectivamente (Figura 8). 4- AVALIAÇÃO DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO TUMORAL E SOBREVIDA EM RATOS INOCULADOS COM O CARCINOSSARCOMA DE WALKER 256 IMUNIZADOS COM A VACINA HASUMI. A figura 9 mostra a curva de crescimento tumoral nos animais inoculados com 1,0 x 106 células do tumor de Walker 256. Os resultados mostram a evolução do tumor frente à ação da vacina Hasumi. Os valores foram obtidos pela avaliação da cinética de crescimento do tumor a cada dois dias até que todos os animais tenham falecido. 61 600 500 ELISA 400 OVA 300 HV 200 100 0 0 7 14 21 28 35 42 Dias após a imunização Figura 6: Cinética da síntese de anticorpos em camundongos imunizados com Ovalbumina (OVA) e Vacina Hasumi. O dia “0” representa o soro pré-imune. As setas representam as imunizações (100 μL de Vacina Hasumi) (n=10). 62 Figura 7: Síntese de anticorpos anti-peptídeos da vacina Hasumi IgG1 revelados em camundongos pela técnica de PCA. A seta indica a reação positiva do antissoro 35 dias após a primeira imunização diluído na proporção de 1:2. 63 2 1,8 1,6 1,4 Título 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 7 14 21 28 35 Dias após a imunização Figura 8: Cinética da síntese de anticorpos IgG1 em camundongos "Swiss" imunizados com a vacina Hasumi. O dia “0” representa o soro pré-imune. As setas indicam as imunizações com 100 μL de Vacina (n=10). 64 (Volume do tumor (em cm3) 14 12 10 8 CNTL Hasumi 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 Dias após a inoculação do tumor Figura 9: Cinética do crescimento do tumor de Walker 356 em ratos imunizados com 500 μL da Vacina Hasumi em dias alternados. Não houve diferença estatística entre os grupos experimental (vacinado) e o grupo controle (n=10). Controle De acordo com a figura, apesar de não haver diferença significativa no volume tumoral dos animais imunizados frente ao controle, podemos observar uma tendência para que o tumor 65 imunizado não chegasse à mesma média de crescimento do tumor controle. No décimo segundo dia, os animais do controle tiveram uma média de 9,87 cm3 de volume tumoral, enquanto o grupo vacinado teve uma média de 5,89 cm3 de volume. O alto valor do desvio padrão foi obtido devido às diferentes respostas no crescimento tumoral de cada animal. A figura 10 apresenta a cinética do crescimento tumoral de dois animais do grupo imunizado com a vacina Hasumi. O gráfico mostra cinéticas completamente diferentes. Enquanto um dos animais obteve a cura total do tumor 50 dias após a primeira vacinação, o outro animal morreu 62 dias também após a primeira vacinação. A sobrevida dos animais controle e vacinados foram diferentes a nível estatístico. O grupo controle apresentou uma sobrevida média de 15,5 dias, enquanto o grupo vacinado obteve uma sobrevida média de 41,2 dias (p ≤ 0,05) com 2 animais apresentando cura total do tumor (Figura 11). 5- AVALIAÇÃO DO HEMOGRAMA DOS RATOS INOCULADOS COM O CARCINOSSARCOMA DE WALKER 256 IMUNIZADOS COM A VACINA HASUMI Os animais do grupo discutido anteriormente sofreram sangria para a avaliação do hemograma completo. Foram analisados hemácias, hemoglobinas, leucócitos totais, neutrófilos, linfócitos, eosinófilos, monócitos e plaquetas. A figura 12 revela que todos os leucócitos totais, assim como os seus subtipos tiveram um aumento no número total de células analisadas 10 dias depois da inoculação do tumor, o que já era esperado, pois o tumor de Walker 256 induz forte reação inflamatória e quadro anêmico (Benítez-Verguizas et al., 1999). Já no grupo vacinado, esse aumento não foi observado. 66 50 3 Volume do tumor (em cm ) 45 40 35 30 Rato 1 25 Rato 4 20 15 10 5 60 56 52 48 44 40 36 32 28 24 20 16 12 8 4 0 0 Dias após a primeira vacinação Figura 10: Cinética da curva de crescimento do tumor de Walker 256 nos ratos 1 e 4 imunizados com 500 μL da vacina Hasumi em dias alternados até o 60° após a inoculação do tumor. O gráfico mostra duas cinéticas de crescimento tumoral diferentes, apesar dos animais receberem o mesmo tratamento. 67 Figura 11: Sobrevida dos ratos inoculados com o tumor de Walker 256 que sofreram, ou não, retirada cirúrgica do tumor imunizados com a vacina Hasumi. O tempo é definido como dias após a inoculação do tumor. Controle com cirurgia. Controle sem cirurgia. Vacinado sem cirurgia. Vacinados com cirurgia. 68 30.000 Células em mm 3 25.000 20.000 Leucócitos Neutrófilos Linfócitos 15.000 Monócitos * 10.000 * 5.000 * * 0 Dia 0 Controle Dia 0 Hasumi Dia 10 Controle Dia 10 Hasumi Figura 12: Leucograma dos animais inoculados com o tumor de Walker 256 imunizados com a vacina Hasumi. 10 dias após a inoculação do tumor os níveis de leucócitos em animais imunizados estão diferentes do controle (* p ≤ 0,05) (n=10). 69 Com relação aos glóbulos vermelhos, observou-se exatamente o contrário (Figura 13). Outra característica do tumor de Walker 256 é a apresentação de um quadro anêmico, com diminuição dos níveis de hemoglobina (Vido et al., 2000), confirmado pelo hemograma dos animais. O tumor induziu queda nos níveis de hemácias e na própria hemoglobina, 10 dias depois da inoculação do tumor, enquanto os animais vacinados continuaram com seus níveis não alterados. 6- AVALIAÇÃO DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO TUMORAL E SOBREVIDA EM RATOS QUE SOFRERAM RETIRADA CIRÚRGICA DO CARCINOSSARCOMA DE WALKER 256 IMUNIZADOS COM A VACINA HASUMI. Dos ratos que sofreram retirada cirúrgica do tumor de Walker 256, apenas três foram excluídos por não apresentaram uma reincidência pós-cirúrgica, sendo dois animais do grupo controle e um animal do grupo vacinado. A cinética da curva de crescimento do tumor nos grupos controle e vacinado foi semelhante ao grupo que não sofreu cirurgia (Figuras 14 e 9), inclusive quando analisamos valor dos desvios. Mas quando observamos os animais de forma individual, fica claro que a maioria dos ratos imunizados apresentou uma inibição no crescimento tumoral quando comparados ao controle (Figura 15). No oitavo dia após o início da vacinação, o grupo controle teve uma média de 12,03 cm3 de volume tumoral, enquanto o grupo vacinado teve uma média de 5,57 cm3 de volume. Quanto à sobrevida, os animais vacinados tiveram uma média de 26 dias, apresentando um rato com cura total do tumor. O grupo controle obteve a média de 21 dias (Figura 11). 70 16 * Número de Células em mm 3 14 12 Hemoglobina 10 Hemacias * 8 6 4 2 0 Dia 0 Controle Dia 0 Hasumi Dia 10 Controle Dia 10 Hasumi Figura 13: Hemograma dos animais inoculados com tumor de Walker 256 imunizados com a vacina Hasumi. 10 dias após a inoculação do tumor os níveis de hemoglobina e hemácias em animais imunizados estão diferentes do controle (* p ≤ 0,05) (n=10). 71 16 3 Volume do tumor (cm ) 14 12 10 Controle 8 Hasumi 6 4 2 0 0 2 4 6 8 Dias após a cirurgia Figura 14: Cinética do volume do tumor de Walker 256 após a retirada cirúrgica do tumor em ratos imunizados com 500 μL da Vacina Hasumi em dias alternados. Não houve diferença estatística entre os grupos experimental (vacinado) e o grupo controle (n=10). 72 18 3 Volume do tumor (em cm ) 16 14 Controle Hasumi 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 Ratos Figura 15: Volume do tumor de Walker 256 em ratos imunizados com a 500 μL de Vacina Hasumi em dias alternados 8 dias após a cirurgia. Os animais 2, 3, 4 e 6 do grupo vacinado obtiveram uma inibição do crescimento tumoral, enquanto os animais 1 e 5 não apresentaram a mesma inibição. 73 7- AVALIAÇÃO DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO TUMORAL E SOBREVIDA EM CAMUNDONGOS INOCULADOS COM MELANOMA B/16 IMUNIZADOS COM A VACINA HASUMI PELA VIA SUBCUTÂNEA. A cinética da curva de crescimento do melanoma em camundongos foi extremamente agressivo. O tumor iniciou seu crescimento no oitavo dia, mas já no 12° dia os animais começaram a morrer. Apenas as doses de 1 μL (0,006 μg) apresentou uma diferença significante (p ≤ 0,05) na inibição do volume tumoral 10 e 12 dias após a primeira vacinação (Figura 16) . Apesar de não haver diferença significativa nas outras doses, observa-se uma tendência para inibir o crescimento do tumor. A sobrevida dos animais do grupo controle foi de 18,83 dias (figura 17), enquanto a dos grupos vacinados com 1 μL, 10 μLe 100 μL (0,006 μg, 0,06 μg e 0,6 μg de peptídeos) foram respectivamente 21,71 dias, 23,83 dias e 22,14 dias após a primeira vacinação. Todas as doses apresentaram diferença estatística na sobrevida dos animais em relação ao controle (p ≤ 0,05). 8- AVALIAÇÃO DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO TUMORAL E SOBREVIDA EM CAMUNDONGOS INOCULADOS COM MELANOMA B/16 IMUNIZADOS COM A VACINA HASUMI PELA VIA INTRAPERITONEAL. A figura 18 mostra a cinética da curva de crescimento tumoral do melanoma nos animais imunizados com a vacina Hasumi em diferentes doses. Como no experimento anterior, o tumor iniciou seu crescimento no oitavo dia, mas já no 12° dia os animais começaram a morrer. Entretanto, todas as doses testadas inibiram o crescimento do tumor de forma significativa nos dias 10 e 12 após a primeira vacinação (p ≤ 0,05). Quanto à sobrevida (figura 19), os animais do grupo controle tiveram uma média de 17,8 dias, enquanto os grupos vacinados tiveram uma média de 17,8 dias, 19 dias (p ≤ 0,05), e 19,5 dias respectivamente para as doses de 1 μL (0,006 μg), 10 μL (0,06 μg) e 100 μL (0,6 μg). 74 0,5 3 Volume do tumor (em cm ) 0,6 0,4 Controle Hasumi 0,006 mg 0,3 Hasumi 0,06 mg Hasumi 0,6 mg 0,2 0,1 * 0 8 10 12 Dias após a inoculação do tumor Figura 16: Cinética do crescimento do tumor melanoma B/16 em camundongos imunizados com diferentes doses da Vacina Hasumi por Via Subcutânea 7 em 7 dias. Houve diferença estatística entre os volumes tumorais do grupo imunizado com 0,006 μg de peptídeos (* p ≤ 0,05) em relação ao grupo controle 10 dias após a inoculação do tumor (n=10). 75 Figura 17: Sobrevida dos camundongos inoculados com melanoma B/16 vacinados pela via subcutânea. O tempo é definido como dias após a inoculação do tumor. Vacinado com 1 μL. Vacinado com 10 μL. Controle. Vacinados com 100 μL. 76 4 Controle 3 Volume do tumor (em cm ) 3,5 H asumi 0,006 mg 3 Hasumi 0,06mg Hasumi 0,6 mg 2,5 2 1,5 * ** 1 0,5 * * * 0 6 8 10 12 Dias após a inoculação do tumor Figura 18: Cinética do crescimento do tumor melanoma B/16 em camundongos imunizados com diferentes doses da Vacina Hasumi por Via Intraperitoneal a cada 7 dias. Houve diferença estatística entre os volumes tumorais de todos os animais vacinados com a Vacina Hasumi (* p ≤ 0,05) em relação ao grupo controle 10 dias e 12 dias após a inoculação do tumor (n=10). 77 Figura 19: Sobrevida dos camundongos inoculados com melanoma B/16 Vacinados pela via intraperitoneal. O tempo é definido como dias após a inoculação do tumor. Vacinado com 1 μL. Vacinado com 10 μL. Controle. Vacinados com 100 μL. 78 Controle: Hasumi: Figura 20: Ratos inoculados com o tumor de Walker 256 após 16 dias de vacinação. O animal imunizado com a vacina Hasumi apresenta um tumor de tamanho bem menor que o animal controle. 79 DISCUSSÃO A indústria farmacêutica vem procurando novas formas de combate ao Câncer desde o início do século XX. Com a declaração da “guerra contra o Câncer” em 1971 (Lillehei et al., 1999), acreditava-se que os avanços nas terapias anticâncer seriam maiores, mas as pesquisas nesse campo estão cheias de resultados decepcionantes. A cirurgia e a quimioterapia promovem um benefício em apenas um número limitado de tipos de tumores. A grande ausência de benefícios associada a essas terapias convencionais encorajou os pesquisadores a procurarem novas formas de combater a doença. Uma delas foi a utilização de vacinas. As vacinas têm efeito profilático e são utilizadas em indivíduos saudáveis para impedir a instalação de uma patologia (infecção) quaisquer. Mesmo assim, grandes esforços vêm sendo feitos para encontrar vacinas que curem os indivíduos já portadores de patologias, como as vacinas para o HIV, a tuberculose, úlceras gástricas e até mesmo a doença de Alzheimer. Com a exceção da vacina anti-HIV, nenhuma ganhou tanto destaque quanto as vacinas anti-câncer (Sela et al., 2002). A idéia de usar o sistema imune para erradicar tumores não é nova. Há mais de 100 anos, William Coley (1893) reportou pela primeira vez que toxinas de bactérias poderiam estimular inespecificamente o sistema imune para combater tumores sólidos. Desde então, muito se tem descoberto sobre o complexo sistema imunológico, mas nenhuma época foi tão reveladora para a imunologia do Câncer como a década de 90. Nessa década foi descoberta uma infinidade de antígenos de membrana que poderiam ser usadas para estimular o sistema imune especificamente contra o câncer (Jaffee & Pardoll, 1996). A tabela 6 mostra vários antígenos, certificados pela cromatografia líquida de alta pressão (Fig 5), na vacina Hasumi. Essa variedade de antígenos tumorais pode atribuir à vacina uma característica inespecífica, ou seja, que pode ser utilizada com a mesma eficácia para todos os tumores. Mas, na realidade espera-se que ela seja mais eficiente contra os tumores de origem dos antígenos tumorais. As vacinas de peptídeos geralmente necessitam de adjuvantes, pois o baixo peso molecular está associado à baixa imunogenicidade, exatamente por ser uma molécula menor, e assim, possui um número menor de epitopos (Pereira, 2000). O adjuvante da vacina Hasumi possui, entre outros componentes, Vitamina A e prastaglandinas (TXB 2, PGE, PGF 2, PGE 2), 80 cuja função é estimular de forma mais abrangente o sistema imune (Calder, 2001; Lu et al., 2000). Mas, mesmo com o uso do adjuvante, não foi possível detectar uma resposta imune humoral anti-Hasumi (Figura 6) no método de ELISA. Por outro lado, o método de PCA detectou a presença de anticorpos IgG1 anti-Hasumi em baixos títulos (Figuras 7 e 8), o que seria razoável já que se espera uma baixa imunogenicidade dos peptídeos. No caso do ELISA, usamos um controle positivo para descartarmos a possibilidade de uma falha na metodologia. Na figura 6 podemos notar que houve uma clássica cinética da síntese de anticorpos anti-OVA, com uma resposta primária tênue e uma resposta secundária com maior intensidade (Florindo et al., 2002). É possível que o preparado da ampola contenha substâncias que impeçam a correta fixação dos peptídeos nas placa de ELISA, já que muito dos componentes da Vacina não foram divulgados por tratar-se de um produto patenteado. Um dos maiores desafios dos imunologistas do câncer não é a falta de compreensão do funcionamento do sistema imunológico, mas sim de como funciona o mecanismo de escape dos tumores a um ataque do sistema imune. Muitas são as teorias para explicar o baixo desempenho das células de defesa do organismo contra uma eventual formação tumoral. A baixa imunogenicidade dos antígenos das células neoplásicas, ou até mesmo uma eficiente produção de citocinas supressoras sintetizadas pelo próprio tumor, pode ser a resposta para tal fenômeno (Anton et al., 1996; Moingeon, 2000). As figuras 9 e 14 revelam que a vacina Hasumi tende a inibir o crescimento tumoral em ratos inoculados com o tumor de Walker 256, sem o tratamento e com o tratamento cirúrgico. Não foi possível obter uma diferença estatística significante em nenhum dos casos, pois a Vacina Hasumi induzia uma resposta diferente para cada animal. Alguns animais vacinados sofreram redução completa após alguns dias, enquanto outros não tiveram o mesmo resultado e acabaram morrendo, tornando a curva de sobrevida bastante singular (figuras 10 e 15). Existem várias explicações para este tipo de fenômeno. Sabe-se que as vacinas de peptídeos acabam tendo uma restrição no seu uso por serem moléculas MHC restritas, ou seja, apenas aqueles animais que possuem tal seqüência de genes de MHC com capacidade para ligar-se aos peptídeos e apresentá-las de forma eficiente aos linfócitos T (Wolchok & Livingston, 2001). Outra possibilidade é a diferença da resposta de um tumor tratado por um quimioterápico e um imunofármaco. O quimioterápico atinge seu alvo específico na própria 81 célula tumoral, enquanto o imunofármaco precisa induzir uma resposta imune eficiente para, esta sim, atacar o tumor (Moingeon, 2000). Além disso, a resposta imune, por mais que tenha suas definições e respostas clássicas a um antígeno, ela é realmente diferente de um animal para outro. Ainda uma outra explicação é a certeza de que os peptídeos, por se tratarem de aloantígenos, dependem da via de administração do antígeno e da interação perfeita entre o receptor do linfócito T e a molécula de MHC, esta altamente polimórfica em indivíduos alogênicos (Gérard et al., 2001). De qualquer forma, já é consenso entre os imunocancerologistas que a imunoterapia, logo após o tratamento cirúrgico, favorece resultados positivos em maior grau (Berd et al., 1997; Kirkwood et al., 1996.). As figuras 12 e 13 mostram o resultado do hemograma realizado em ratos inoculados com o tumor de Walker 256 vacinados, ou não, com a vacina Hasumi. Pelos níveis de leucócitos e, mais especificamente, neutrófilos e linfócitos apresentados, os gráficos revelam que, possivelmente, a vacina tenha exercido um efeito antiinflamatório nos animais tratados. O tumor de Walker parece induzir uma proliferação de células inflamatórias, não só local (figura 20) como sistêmica (Fitzpatrick, 2001). Uma outra característica provocada pelo tumor é o quadro de anemia nos animais. A vacinação parece ter inibido esse quadro, justificado pela não diminuição dos níveis de hemoglobina nos animais imunizados (Gagic et al., 1997; Vido et al., 2000). A atividade antiinflamatória da vacina Hasumi pode estar diretamente relacionada com a síntese de anticorpos IgG1 anti-Hasumi (figura 4) e a presença de prostaglandinas E 2 na composição do adjuvante. Uma sub-população de linfócitos chamada Th2 libera interleucina 4 (IL-4) e induz a síntese de anticorpos IgG1 pelos linfócitos B. A IL-4 é conhecida por sua propriedade antiinflamatória (Balkwill & Mantovani, 2001), o que pode explicar os resultados encontrados no hemograma. Além disso, a prostaglandina E 2 inibe a fabricação de citocinas inflamatórias como INF-γ e IL-2, pelos linfócitos T (Harris et al., 2002) permitindo as citocinas antiinflamatórias terem uma atividade mais potente. Apesar da polêmica sobre o papel da PGE 2 no sistema imunológico (Bloom, et al., 1999), pois se sabe que essa prostaglandina é extremamente sintetizada no processo inflamatório, a grande maioria dos trabalhos reporta essa prostaglandina como indutora primária da resposta Th2 (Harris et al., 2002). 82 A análise das figuras 16 e 18 revela os níveis de inibição do melanoma e conduz à mesma discussão obtida no tumor de Walker. Os camundongos imunizados por via subcutânea com a vacina Hasumi, nas 3 doses testadas (0,006 μg, 0,06 μg e 0,6 μg de peptídeos) não conseguiram obter diferença estatística, com exceção da dose de 0,006 μg no dia 10 após a vacinação. O gráfico também nos leva a pensar sobre a possibilidade da vacina conseguir induzir uma resposta eficiente nos primeiros dias contra o tumor, e com doses baixas, mas depois não obter o mesmo efeito, provavelmente porque o mecanismo de escape das células neoplásicas seja eficiente o bastante para enganar o sitema imunológico (Restifo, 2000). A eficiência da dose baixa (0,006 μg) em relação às outras pode ser explicado pela possibilidade das doses maiores induzirem um processo de tolerância imunológica (Czerkinsky et al., 1999). Por outro lado, a figura 18 apresenta uma inibição eficiente do melanoma quando os camundongos são vacinados pela via intraperitoneal. Esse resultado foi, de certa forma, surpreendente, considerando que o protocolo original de vacinação da vacina Hasumi é pela via subcutânea. Como já foi dito, existe uma estreita relação entre a via de administração do antígeno e o tipo de resposta efetora. Por exemplo, algumas proteínas administradas pela via parenteral induzem formação de anticorpos específicos. Quando as mesmas são administradas pela via oral, observa-se uma supressão da síntese de anticorpos específicos (Melo et al., 1996). Acredita-se que o local da via de administração induz o contato do antígeno com diferentes células do sistema imune. Estas células, dependendo da sua maturidade, podem induzir a síntese de diferentes citocinas e influenciariam a resposta imunológica, seja para o estímulo, seja para a supressão (Czerkinsky et al., 1999). Seguindo esse raciocínio, podemos concluir que a resposta imune induzida pela vacina Hasumi nos camundongos quando imunizados pela via intraperitoneal, nas 3 doses testadas, foi mais eficiente que a imunização subcutânea para combater o crescimento do tumor. Além disso, não observamos os altos valores de desvio padrão nessa via de imunização quando comparados a via subcutânea. A imunização intraperitoneal estimula linfócitos T CD4+ e CD8+ circulantes, ainda nativos da recente maturação do timo (Madrenas & Germain, 1996). Essas células ainda não entraram em contato com o tumor e não sofreram o processo de anergia clonal induzida pela célula neoplásica. Essa característica torna a via mais adequada para o tipo de resposta que se quer obter. Apesar do aumento significativo da sobrevida, infelizmente, não foi observado cura de camundongos em nenhum dos dois grupos (figuras 17 e 19). Mesmo que a vacina Hasumi seja constituída de aloantígenos, era esperada uma resposta antitumoral mais 83 eficiente da Vacina contra o melanoma, já que a maioria dos peptídeos é de origem desse mesmo tipo de tumor. A alta virulência do melanoma e seus conhecidos mecanismos de escape ao ataque do sistema imunológico (Restifo, 2000) ainda são fatores a serem resolvidos pelas vacinas imunoestimulantes. 84 CONCLUSÕES 1- Os peptídeos da Vacina induziram síntese de anticorpos IgG1 específicos, indicando uma propriedade antiinflamatória confirmada pelo hemograma, já que este subtipo de anticorpo representa a ativação de linfócitos Th do tipo 2. 2- A Vacina Hasumi inibiu o crescimento tumoral de forma não linear em ratos inoculados com Carcinossarcoma de Walker 256 que sofreram , ou não, retirada cirúrgica do tumor. Esse resultado é considerado normal quando se trabalha com antígenos autólogos em animais não-isogênicos. 3- A Vacina Hasumi parece ter prolongado o período de latência do crescimento do melanoma, não sendo capaz de manter essa inibição por muitos dias, possivelmente por causa da exacerbada agrecividade do tumor, ou da dose utilizada nesse trabalho, e dos mecanismos de escape que o melanoma exerce no sistema imunológico. 4- O mecanismo de ação da vacina Hasumi parece ser pela via de estimulação da resposta Th2, já que observamos a síntese de anticorpos IgG1 anti-peptídeos da vacina. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; POBER, J. S. 2000. Cellular and molecular immunology. 4ª Ed. W. B. Saunders Company, Philadelphia, USA. ADAMS, O. D. & HAMILTON, T.A. 1992. Molecular basis of macrophage activation and its origins. New York: Oxford University Press, 75-114. ALLAVENA, P.; PECATORI, F.; MAGGIONI, D. 1990. Intraperitoneal recombinant gammainterferon in patients with recurrent ascetic ovarian carcinoma: moculation of citotoxicity and cytokine production in tumor-associated effectors and of major histocompatibility antigen expression on tumor cells. Cancer Res., 50: 7318. AKBARI, O.; PANJWANI, N.; GARCIA, S.; et al. 1999. DNA vaccination: transfection and activation of dendritic cells as key events for immunity. Journ of Exp. Med., 189: 169-178. ALTERS, S.; GADEA, J.R.; PHILIP, R. 1997. Immunotherapy of cancer. Generation of CEA specific CTL using CEA peptide pulsed dendritic cells. Adv. Exp. Med. Biol., 417: 519524. ANTON, P.; KIRCHNER, U.; ATZPODIEN, J. 1996. Cytokines and tumor vaccination. Cancer Biotherapy & Radiopharmaceuticals, 11(5): 315-318. ANDRUS JK. Acessado em 23 de junho de 2001. Vaccinology and Immunization. In: (http://www.epibiostatnesf.edu/igh/programmes/programmes.html). ARENZANA SEISDEDOS, F.; VIRELIZIER, J. L.; FIERS W. 1985. Interferons as macrophage-activating factors. III. Preferential effects of interferon-gamma on the interleukin-1 secretory potential of fresh or aged human monocytes. Journ Immunol., 134: 2444. 86 ARMITAGE, P. & BERRY, G. 1985. Statistical methods in medic research. Second Edition; Blackwell Scientific Publications. ARNOLD-SCHILD, D.; HANAU, D.; SPEHNER, D.; et al. 1999. Cutting edge: receptormediated endocytosis of heat shock proteins by professional antigen-presenting cells. Journ. of Immunol., 162: 3757-3760. ASHEY, D. M.; FAIOLA, B.; NAIR, S.; HALE, L. P.; BIGNER, D. D.; GILBOA, E.1997. Bone Marrow-generated dendritic cell pulsed with tumor extracts or tumor RNA induce antitumor immunity against central nervous system tumors. Journ. Exp. Med., 186: 1177-1182. BACCARANI M, RUSSO D, ROSTI G, MARTINELLI G. 2003. Interferon-alfa for chronic myeloid leukemia. Semin Hematol, 40(1): 22-33. BALKWILL, F. & MANTOVANI, A. 2001. Inflammation and cancer: back to virchow. Lancet 357: 539-345. BENÍTEZ-VERGUIZAS, J.; LOARTE, D.; DE MIGUEL, F.; ESBRIT, P. 1999. Effects of transforming growth factor β1 on cell growth and parathyroid hormone-related protein in Walker 256 tumor cells. Life Sciences, 65(17): 1807-1816. BERD, D.; MURPHY, G.; MAGUIRE, H. C.; MASTRANGELO, M. J. 1991. Immunization with haptenized, autologus tumour cells induces inflammation of human melanoma metastases. Cancer Res., 51: 2731-2734. BERNASCONI, S.; PERI, G.; SIRONI, M.; MANTOVANI, A. 1991. Involvement of leucocyte (beta 2) integrins (CD18/CD11) in human monocyte tumoricidal activity. Inter. Journ. of Cancer, 49: 267. 87 BLACHERE, N. F. & SRIVASTAVA, P. K. 1995. Heat shock protein-based câncer vaccines and related thoughts on immunogenicity of human tumours. Semin. Cancer Biol., 6: 249355. BLOOM, D.; et al. 1999. Prostaglandin E2 enhancement interferon-γ production by antigenstimulated type 1 helper T cells. Cell Immunol., 194: 21-27. BOEHM, U.; KLAMP, T.; GROOT, M. HOWARD, J. C. 1997. Cellular responses to interferongamma. Annu. Rev. in Immunol., 15: 749. BURNETT, F. M. 1973. Implications of cancer immunity. Aust. New Zealand J. of Med, 3: 71. BREIMAN, R.F. 2001. Vaccines as tools for advancing more than public health perspectives of a former director of the national vaccine programme office. Clin. Infect Dis, 32(2): 283-8. CALDER, P. C. 2001. Nutrition et fonction immunitaire: nutrition and immune function. Nutrition Clinique et Métabolisme, 15(4): 286-297. CASARES, S.; INABA, K.; BRUMEAU, T. D.; et al. 1997. Antigen presentation by dentritic cells after immunization with DNA encoding a major histocompatibility complex class IIrestricted viral epitope. Journ. of Exp. Med., 186: 1481-1486. CASTELLINO, F.; BOUCHER, P. E.; EICHELBERG, K.; et al. 2000. Receptor-mediated uptake of antigen/heat shock protein complexes results in major histocompatibility complex class I antigen presentation via two distinct processing pathways. Journ. of Exp. Med., 191: 1957-1964. CAVAILLON, J. M. 1994. Citokines and macrophages. Biomed Pharmacoter, 48: 445. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDCP). 1994. General recommendations on immunization. MMWR, 43: 1-38. 88 CERUNDOLO, V. 1999. Tumor immunology: T cells work together to fight cancer. Current Biology, 9: 695-697. CHAPMAN, P. B.; MORRISSEY, D. M.; PANAGEAS, K. S.; et al. 2000. Induction of antibodies against GM2 ganglioside by immunizing melanoma patients using GM2-KLH + QS21 vaccine: a dose-response study. Clin. Cancer Res., 6: 874-879. CHEUNG, N. K. V.; CANETE, A.; CHEUNG, I. Y.; et al. 1993. Disialoganglioside GD2 antiidiotipic monoclonal antibodies. Intern. Journ. of Cancer, 54: 499-505. COLEY, W. B. 1893. The treatment of malignant tumors by repeated inoculation of erysipelas: report of ten original cases. Am. Journ. of Med. Sci., 105: 487-511. CZERKINSKY, C.; ANJUERE, F.; McGHEE, J. R.; GEORGE-CHANDY, A.; HOLMGREN, J.; KIENY, M. P.; FUJIYASHI, K.; MESTECKY, J. F.; PIERREFITE-CARLE, V.; RASK, C.; SUN, J. B. 1999. Mucosal immunity and tolerance: relevance to vaccine development. Immunol. Reviews, 170: 197-222. DALLAL, R. M. & LOTZE, M. T. 2000. The dendritic cells and human cancer vaccines. Current opinion in Immunol., 12: 583-588. DRANOFF, G.; JAFFEE, E.; LAZENBY, A.; et al. 1993. Vaccination with irradiated tumor cell engineered to secrete murine granulocyte-macrophage colony-stimulating factor stimulates potent, specific, and long-lasting anti-tumor immunity. Proc Natl. Acad. Sci. USA, 90: 3539-3543. DRANOFF, G.; SOIFFER, R.; LYNCH, T.; et al. 1997. A phase I study of vaccination with autologous, irradiated melanoma cells engineered to secrete human granulocyte-macrophage colony stimulating factor. Hum. Gene Ther., 8: 111-123. 89 DRAPIER, J. C.; HIBBS Jr, J.B. 1988. Differentiation of murine macrophages to express nonspecific citotoxicity for tumor cells results in L-arginine-dependent inhibition of mitochondrial iron-sulfur enzymes in the macrophage effector cells. Journ. Immunol., 140: 2829. EAGLE, H. & FOLEY, G. E. 1958. Cytotoxicity in human cell cultures as primary screen for the detection of anti-tumor agents. Cancer Research, 18: 1017-1025. EHRETH, J. 2002. The global value of vaccination. Vaccine, 3569: 1-5. ELLEM, K. A.; O’ROURKE, M. G.; JOHNSON, G. R.; et al. 1997. A case report: immune responses and clinical course of the first human use of granulocyte/macrophage-colonystimulating-factor-transduced autologous melanoma cells for immunotherapy. Cancer Immunol. Immunother., 44: 10-20. FAN, S.; FEHR, H. G.; ADAMS, D. 1991. Activation of macrophages for ADCC in vitro: effects of IL-4, TNF, interferons-alfa/beta, interferon-gamma, and GM-CSF. Cell Immunol., 135: 78. FITZPATRICK, F. A. 2001. Inflammation, carcinogenesis and cancer. Intern. Immunopharmacol., 1: 1651-1667. FLORINDO, M. I.; DE ARAGÃO, M E. F.; DA SILVA, A. C. M.; OTOCH, M. L.; FERNANDES DE MELO, D. J.; LIMA, A. A.; SILVA LIMA, M. G. 2002. Immune response induced in mice oral immunization with cowpea severe mosaic virus. Braz. J. Méd. Biol. Res., 35(7): 827-835. 90 FOON, K. A., LUTZKY, J. BARAL, R. N.; et al. 2000. Clinical and immune responses in advanced melanoma patients immunized with an anti-idiotype antibody mimicking disialoganglioside GD2. Journ. of Clin. Oncol., 18: 376-384. GAGIC, K.; CAMPAGNARO, E.; LABORDE, C. J.; EDAVETTAL, M.; LEVINE, E. A.; POTTER, B. J.; RACEY, L. A.; BURNS, A. H. 1997. The effect of clenbuterol and recombinant erythropoietin on tumor growth and the anemia caused by the Walker 256 carcinosarcoma.. Life Sciences, 61(25): 2475-2484. GÉRARD, C. M.; BAUDSON, N.; KRAEMER, K.; BRUCK, C.; GARÇON, N.; PATERSON, Y.; PAN, Z. K.; PARDOLL, D. 2001 Therapeutic potential of protein and adjuvant vaccinations on tumour growth. Vaccine, 19: 2583-2589. GILBOA, E. 1999. The makings of a tumor rejection antigen. Immunity, 11: 263-270. Global Alliance for Vaccines and Immunisation (GAVI). 2001. Fascículo 169. GREEN, S. J.; CHEN, T. Y.; CRAWFORD, R. M.; NACY, C. A.; MORRISON, D. C.; MELTZER, M. S. 1992. Citotoxic activity and production of toxic nitrogen oxides by macrophages treated with IFN-gamma and monoclonal antibodies against the 73kDa lipopolysaccharide receptor. Journ Immunol., 149: 2069. HARRIS, S. G.; PADILLA, J.; KOUMAS, L.; RAY, D.; PHIPP, R. P. 2002. Prostaglandins as modulators of immunity. Trends in Immunol., 23(3): 144-150. HEIKE, M.; NOLL, B.; MEYER ZUM BUSCHENFELDE, K. H. 1996. Heat shock proteinpeptide complexes for use in vaccines. Journ. of Leukoc. Biol., 60: 153-158. . HELLING, F.; ZHANG, S.; SHANG, A.; et al. 1995. GM2-KLH conjugate vaccine: increased immunogenicity in melanoma patients after administration with immunological adjuvant QS-21. Cancer Res., 55: 2783-2788. 91 HENDERSON, D. A. Acessado em 14 de junho de 2001. Johns Hopkins University Annapolis Center for Science-based public policy, award acceptance remarks. In: (http://www.annapoliscenter.org/henderson.html). HSUEH, E. C.; GUPTA, R. K.; QI, K.; MORTON, D. L.; et al. 1998. Correlation of specific immune responses with survival in melanoma patients with distant metastases receiving polyvalent melanoma cell vaccine. Journ. Clin. Oncol., 16: 2913-2920. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA-I). Acessado em 28 de maio de 2002. Como surge o câncer? In: (http://www.inca.gov.br/cancer/comosurge.html). INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA-II). Acessado em 28 de maio de 2002. O que é o câncer? In: (http://www.inca.gov.br/cancer/cancer.html). INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA-III). Acessado em 28 de maio de 2002. O que causa o câncer? In: (http://www.inca.gov.br/cancer/causacancer.html). JAFFEE, E. M.; PARDOL, D. M. 1996. Murine tumor antigens is it worth the search? Curr. Opin. In Immunol., 8: 622-627. JAGER, E.; BERNHARD, H.; ROMERO, P.; et al. 1996. Generation of cytotoxic T-cell responses with synthetic melanoma-associated peptides in vivo: implications for tumour vaccines with melanoma-associated antigens. Int. Journ. of Cancer, 66: 162-169. JANETZKI, S.; BLACHERE, N. E.; SRIVASTAVA, P. K. 1998. Generation of tumour-specific cytotoxic T lymphocytes and memory T cells by immunization with tumour-derived heat shock protein gp 96. Journ. of Immunother., 21: 269-276. 92 JONJIC, N.; ALBERTI, S.; BERNASCONI, S. 1992. Heterogeneous susceptibility of human melanoma clones to monocyte cytotoxicity: role of ICAM-1 defined by antibody blocking and gene transfer. Eur. Journ. of Immunol., 22: 2255. KAWASE, I.; KOMUTA, K.; OGURA, T.; FUJIWARA, H.; HAMAOKA, T.; KISHIMOTO, S. 1985. Murine tumor cell lysis by antibody-dependent macrophage-mediated citotoxicity using syngeneic monoclonal antibodies. Cancer Res., 45: 1663. KIRKWOOD, J. M.; STRAWDERMAN, M. H.; ERNSTOFF, M. S.; et al. 1996. Interferon alfa2b adjuvant therapy of high-risk resected cutaneous melanoma: The Eastern Cooperative Oncology Group trial EST 1684. Journ. of Clin Oncol., 14: 7-17. KLIMP, A. H.; de VRIES, E. G. E.; SCHERPHOF, G. L.; DAEMEN, T. 2002. A potential role of macrophage activation in the treatment of cancer. Critical Rev. in Oncol./Hematol., 44: 143-161. KLINMAN, D. M.; YI, A. K.; BEAUCAGE, S. L.; et al. 1996. CpG motifs present in bacteria DNA rapidly induce lymphocytes to secrete interleukin 6, interleukin 12, and interferongamma. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 93: 2879-2883. KREITMAN, R. J. 1999. Immunotoxins in cancer therapy. Current Opinion in Immunol., 11: 570-578. KRONCKE, K. D.; FEHSEL, K.; KOLB BACHOFEN, V. 1995. Inducible nitric oxide synthase and its product nitric oxide, a small molecule with complex biological activities. Biol. Chem. Hoppe Seyler, 376: 327. LEE, P. P.; YEE, C.; SAVAGE, P. A.; et al. 1999. Characterization of circulating T cells specific for tumour-associated antigens in melanoma patients. Nat. Med., 5: 677-685. 93 LILLEHEI, K. O.; LIU, Y.; KONG, Q. 1999. Current perspectives in immunotherapy. Ann Thorac Surg., 68: 28-33. LIMPTON, A.; HARVEY, H. A.; BALCH, C. M. 1991. Corynebacterium parvum versus Bacille de Calmette et Guérin adjuvant immunotherapy of stage II malignant melanoma. Journ. of Clin. Oncol., 9: 1151-1156. LIVINGSTON, P. O.; WONG, G. Y. C.; ADLURI, S.; et al. 1994. Improved survival in stage III melanoma patients with GM2 antibodies: a randomized trial of adjuvant vaccination with GM2 ganglioside. Journ of Clinical Oncol., 12: 1036-1044. LU, J.; FIELD, C. J.; BASU, T. K. 2000. The immune responses to diabetes in BB rats supplemented with vitamin A. The Journ.of Nut. Bioch., 11(10): 515-520. MADRENAS, J. & GERMAIN, R. N. 1996. Varient TCR ligands: new insights into the molecular basis of antigen-dependent signal transduction and T-cell activation. Semin. Immunol., 8: 83-101. MARCHAND, M.; VAN BAREN, N.; WEYNANTS, P.; et al. 1999. Tumour regression observed in patients with metastatic melanoma treated with an antigenic peptide encoded by gene MAGE-3 and presented by HLA-A1. Int. Journ. of Cancer, 80: 219-230. MARINCOLA, F. M.; WHITE, D. E.; WISE, A. P.; ROSENBERG, S. A. 1995. Combination therapy with interferon α-2a and interleukin-2 for the treatment of metastatic cancer. Journ. of Clin. Oncol., 13: 1110-1122. McCAFFERY, M.; YAO, T-J., WILLIAMS, L.; et al. 1996. Enhanced immunogenicity of BEC2 anti-idiotipic monoclonal antibody that mimics GD3 ganglioside when combined with adjuvant. Clin. Cancer Res., 2: 679-686. 94 MELO, V. M. M.; XAVIER-FILHO, J.; SILVA-LIMA, M.; PROUVOST-DANON, A. 1994. Allergenicity and tolerance to proteins from Brazil nut (Bertholletia excelsa H. B. K.). Food & Agricultural Immunol., 6: 185-195. MOINGEON, P. 2001. Cancer vaccines. Vaccine, 19: 1305-1326. MORAES FILHO, M. O. 1982. Efeitos antineoplásicos do Croton mucronifolius Mull. Arg. No Carcinossarcoma 256 de Walker. 1° Congresso Brasileiro de Farmacologia e Terapêutica Experimental (Anais): 156. MORALES, A.; EIDINGER, D.; BRUCE, A. W. 1976. Intracavitary bacillus Calmette-Guérin in the treatment of superficial bladder tumors. Journ. of Urol., 116: 180-183. NAFTZGER, C.; TAKECHI, Y.; KOHDA, H.; HARA, I.; VIJAYASARADHI, S.; HOUGHTON, A. N. 1996. Immune response to a differentiation antigen induced by altered antigen: a study of tumor rejection and autoimmunity. Proc. Nalt. Acad. Sci. USA, 93: 14809-14814. OFFRINGA, E.; van der BURG, S. H.; OSSENDORP, F.; TOES, R. E. M.; MELIEF, C. J. M. 2000. Design and evaluation of antigen-specific vaccination strategies against cancer. Current Opinion in Immunol., 2: 576-582. PEREIRA, M. R. P. 2000 Resposta imunológica humoral em camundongos “swiss” alimentados com proteínas de sementes de Lablab purpureus (L.) Sweet (Mangalô). Monografia de Bacharelado, UFC. 95 PORGADOR, A.; IRVINE, K. R.; IWASAKI, A. et al. 1998. Predominant role for directly transfected dendritic cells in antigen presentation to CD8+ T cells after gene gun immunization. Journ of Exp. Med., 188: 1075-1082. RAGUPATHI, G.; MEYERS, M.; ADLURI, S.; et al. 2000. Induction of antibodies against GD3 ganglioside in melanoma patients by vaccination with GD3-lactone-KLH conjugate plus immunological adjuvant QS-21. Intern. Journ. of Cancer, 85: 659-666. RESTIFO, N. P. 1996. The new vaccines: building viruses that elicit antitumor immunity. Current Opinion in Immunol., 8: 658-663. RESTIFO, N. P. 2000. Not so Fas: re-evaluating the mechanisms if immune privilege and tumor escape. Nat. Med., 6: 493-495. REYNOLDS, S. R.; CELIS, E.; SETTE, A.; et al. 1998. HLA-independent heterogeneity of CD8+ T cell responses to MAGE-3, Melan-A/MART-1, gp100, tyrosinase, MC1R, and TRP-2 in vaccine-treated melanoma patients. Journ. of Immunol., 161: 6970-6976. ROSEMBERG, S. A.; PACKARD, B. S.; AEBERSOLD, P. M.; SOLOMON, D.; TOPALLIAN, S. L.; TOY, S. T. SIMON, P.; LOTZE, M. T.; YANG, J. C.; SEIPP, C. A. SIMPSON, C.; CARTER, C.; BOCK, S.; SCHUWARTZENTRUBER, D.; WEI, J. P.; WHITE, D. E. 1988. Use of tumor-infiltrating lymphocytes and interleukin-2 in the immunotherapy of patients with metastatic melanoma. New Engl. Journ. of Med. 319: 1676-1680. ROSEMBERG, S. A.; YANG, J. C.; SCHWARTZENTRUBER, D. J. et al. 1998. Immunologic and therapeutic evaluation of a synthetic peptide vaccine for the treatment of patients with metastatic melanoma. Nat. Med., 4: 321-327. ROSENBERG, S. A. 1997. Cancer vaccines based on the identification of genes encoding cancer regression antigens. Immunol. Today, 18: 175-182. 96 ROSENBERG, S. A. 1999. A new era for cancer immunotherapy based on the genes that encode cancer antigens. Immunity, 10: 281-287. SALEH, M. N.; STAPLETON, J. D.; KHAZAELI, M. B.; LOBUGLIO, A. F. 1993. Generation of a human anti-idiotypic antibody that mimics the GD2 antigen. Journ. of Immunol., 151: 3390-3398. SANTHANAM S, DECATRIS M, O'BYRNE K. 2002. Potential of interferon-alpha in solid tumours: part 2. BioDrugs, 16(5): 349-72. SATO, Y.; ROMAN, M.; TIGHE, H.; et al. 1996. Immunostimulatory DNA sequences necessary for effective intradermal gene immunization. Science, 273: 352-354. SCHAED, S. G.; HOUGHTON, A. N.; KLIMEK, V. M.; et al. 2000. Immunization of melanoma patients with both tyrosinase (370D) and GP100 (210M) peptides: comparasion of adjuvants and peptide immunogenicity. Proc. Annu. Meet. Am. Assoc. Cancer Res., 41: (abstr 4029). SCOTT, A. M. & WELT, S. 1997. Antibody-based immunological therapies. Current Opinion. In Immunol., 9: 717-722. SELA, M.; ARNON, R.; SCHECHTER, B.2002. Therapeutic vaccines: realities of today and hopes for the futures. Drug Disc. Today, 7(12): 664-673. SELIGER, B.; MAEURER, M. J.; FERRONE, S. 2000. Antigen-processing machinery breakdown and tumor growth. Immunol. Today, 21(9): 456-464. 97 SEN, G.; CHAKRABORTY, M.; FOON, K .A; et al. 1997. Preclinical evaluation in nonhumam primates of murine monoclonal anti-idiotype antibody that mimics the disialoganglioside GD2. Clin. Cancer Res., 3: 1969-1976. SHARON, J. 1998. Basic Immunology. Williams & Wilkins, Baltimore, USA. SHAW, G. M.; LEVY, P. C.; LOBUGLIO, A. F. 1978. Human monocyte citotoxicity to tumor cells. I. Antibody-dependent citotocicity using syngeneic monoclonal antibodies. Cancer Res., 45: 1663. SOIFFER, R.; LYNCH, T.; MIHM, M.; et al. 1998. Vaccination with irradiated autologous melanoma cells engineered to secrete human granulocyte-macrophage colony-stimulating factor generates potent antitumour immunity in patients with metastatic melanoma. Proc Natl Acad Sci. USA, 95: 13141-13146. SRIVASTAVA, P. K.; Purification of heat shock protein-peptide complexes for use in vaccination against cancers and intracellular pathogens. Methods, 12: 165-171. STEEL, G. G. 1987. In; Groeth kinectics of tumours (Clarendon Press, Oxford): 5-55. STOCK, C.C.; CLARKE, D.A.; PHILIPS, F.S. 1955. Sarcoma 180 inhibition screening data. Cancer Research, 2: 179-194. STERNBERG, C. N. 2003. Metastatic renal cell cancer treatments. Drugs Today, 39: 39-59. TAKAHASHI, T.; JOHNSON, T. D.; NISHINAKA, Y.; et al. 1999. IgM anti-ganglioside antibodies induced by melanoma cell vaccine correlate with survival of melanoma patients. Journ. of Invest in Dermatol., 112: 205-209. 98 THE WORLD BANK. Acessado em 14 de junho de 2001. The World Bank and vaccines. In: (http://www.worldbank.org/html/extdr/hnp/healthlppi/pldevs.html). THOMAS, L. 1982. On immunosurveillance in human cancer. Yale J. of Biol. Med, 55: 329. VAN den EYNDE, B. & BRICHARD, V. G. New tumor antigens recognized by T cells. Current Opinion in Immunol., 7: 674-681. VAN ENDERT, P. M. 1999. Genes regulating MHC class I processing of antigen. Current Opinion in Immunol., 11: 82-88. VIDO, A. A.; CAVALCANTI, T .C; GUIMARÃES, F.; VIEIRA-MATOS, A. N.; RETTON, O. 2000. The hemolytic component of cancer anemia: effects of osmotiv and metabolic stress on the erythrocytes of rats bearing multifocal inoculations of the Walker 256 tumor. Bras. Journ of Med. and Biol. Res., 33: 815-822. WALL L, BURKE F, SMYTH JF, BALKWILL F. 2003. The anti-proliferative activity of interferon-gamma on ovarian cancer: in vitro and in vivo. Gynecol Oncol, 88: 149-51. WEBB, D. S.; MOSTOWSKI, H. S.; GERRARD, T. L. 1991. Cytokine-induced enhancement of ICAM-1 expression results in increased vulnerability of tumor cells to monocyte-mediated lysis. Journ. of Immunol., 146: 3682. WEINSTOCK, M. A. 1999. Do sunscreens increase or decrease melanoma risk: an epidemiological evaluation. J. Investing. Dermatol. Symp. Proc, 4: 97-100. WHITE, C. C.; KOPLAN, J.P.; ORENSTEIN, W.A. 1985. Benefits and costs of immunization for measles mumps and rubella. Am. J. Public Health, 75: 739-44. WOLCHOK, J. D. & LIVINGSTON, P. O. 2001. Vaccines for melanoma: translating basic immunology into new therapies. Lancet Oncol., 2: 205-211. 99 WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Acessado em 14 de junho de 2001. Disease eradication, elimination goals. In: (http://www.who.int/aboutwho/en/disease.er.html). YAGISAWA, M.; SAEKI, K.; OKUMA, E. 1999. Signal transduction pathways in normal human monocytes stimulated by cytokines and mediators: comparative study with normal human neutrophils or transformed cells and the putative roles in functionality and cell biology. Exp. Hematol., 27: 1063. YAO, T-J.; MEYERS, M.; LIVINGSTON, P. O.; et al. 1999. Immunisation of melanoma patients with BEC2-Keyhole limpet hemocyanin plus BCG intradermally followed by intravenous booster immunizations with BEC2 to induce anti-GD3 ganglioside antibodies. Clin. Cancer Res., 5: 77-81. YEE, C.; RIDDELL, S. R.; GREENBERG, P. D. 1997. Prospects for adoptive T cell therapy. Current Opinion in Immunol., 9: 702-708. ZHANG, S.; CORDON-CARDO, C.; ZHANG, H. S.; et al. 1997. Selection of tumor antigens as targets for immune attack using immunohistochemistry: I. Focus on gangliosides. Intern. Journ. of Cancer, 73: 42-49. ZORN, U.; DUENSING, S.; LANGKOPF, F.; ANASTASSIOU, G.; KIRCHNER, H.; HADAM, M.; KNÜNER-HOPF, J.; ATZPODIEN, J. 1997. Active Specific Immunotherapy of renal cell carcinoma: cellular and humoral immune responses. Cancer Biot. & Radiopharmac. 12(3): 157-165. 100