Artigo Original/Original Article/Artículo Original Tratamento cirúrgico vs. conservador de estenose lombar degenerativa Surgical vs. conservative treatment for degenerative lumbar stenosis Tratamiento quirúrgico vs. conservador para la estenosis lumbar degenerativa Caio Roncon Dias1, Nelson Astur1, Ricardo Shigueaki Galhego Umeta1, Maria Fernanda Silber Caffaro1, Osmar Avanzi1, Robert Meves1 RESUMO Objetivos: Comparar os resultados clínicos entre os pacientes com estenose lombar degenerativa que foram tratados por descompressão com aqueles que aguardam o mesmo tipo de tratamento para a doença. Métodos: Estudo retrospectivo que dividiu os pacientes com estenose lombar degenerativa com indicação cirúrgica em dois grupos, operados e que aguardam o procedimento. Foram aplicados o questionário Oswestry Disability Index (ODI), Escala Visual Analógica (EVA) e SF36. Resultados: Foram incluídos 12 pacientes operados e 18 pacientes que aguardam o procedimento. A média de idade dos operados foi 59 anos (43-70) e a dos que aguardam a cirurgia foi 55 (37-82) (p = 0,3). O grupo operado teve ODI médio de 38,67 contra 59,72 dos que aguardavam (p < 0,05). A escala analógica da dor teve resultado lombar de 5,33 e de dor irradiada para os membros inferiores de 3,83 nos operados, contra 6,78 (p > 0,05) e 7,22 (p < 0,05), respectivamente, no grupo que aguarda cirurgia. Quanto à escala SF36, capacidade funcional, limitação por aspectos físicos e dor tiveram resultado médio de 36,25, 19,58 e 21,67 nos pacientes operados contra 35,94, 27,50 e 32,61, respectivamente, nos ainda não operados (p > 0,05). Conclusão: Os pacientes operados apresentaram melhora da dor reflexa nos membros inferiores (EVA Perna) e melhora na função (Oswestry), porém não demonstraram alteração significativa da qualidade de vida segundo a escala SF36 e dor lombar (EVA Lombar). Descritores: Estenose espinal; Vértebras lombares; Dor lombar; Terapêutica; Qualidade de vida. ABSTRACT Objectives: To compare the clinical outcomes between patients with degenerative lumbar stenosis who were treated by decompression with those awaiting the same kind of treatment for the disease. Methods: Retrospective study which divided patients with degenerative lumbar stenosis with surgical indication in 2 groups, operated and awaiting the procedure. The Oswestry Disability Index (ODI) questionnaire, visual analog scale and SF36 were applied. Results: Twelve operated patients and 18 awaiting the procedure were included. The average age of those operated was 59 years (43-70), and 55 (37-82) (p=0.3) for those awaiting surgery. The operated group had a mean ODI of 38.67 against 59.72 (p<0.05) in the non-operated group. The pain analog scale had lumbar result of 5.33 and pain radiating to the lower limbs of 3.83 in operated patients, against 6.78 (p>0.05) and 7.22 (p<0.05) in the awaiting surgery patients, respectively. As for the SF36 scale, functional capacity, limitations due to physical aspects and pain had an average score of 36.25, 19.58 and 21.67 in the operated group against 35.94, 27.50 and 32.61 in the awaiting group (p>0.05), respectively. Conclusion: The operated patients showed improvement of referred pain in the lower limbs (leg VAS) and improved function (Oswestry), however showed no significant change in quality of life according to SF36 scale and low back pain (lumbar VAS) were found. Keywords: Spinal Stenosis; Lumbar vertebrae; Low back pain; Therapeutics; Quality of life. RESUMEN Objetivos: Comparar los resultados clínicos entre los pacientes con estenosis lumbar degenerativa tratados mediante descompresión y los que esperan el procedimiento para la enfermedad. Métodos: Estudio retrospectivo que dividió a los pacientes con estenosis degenerativa lumbar con indicación quirúrgica en dos grupos, operado y en espera del procedimiento. Se aplicaron el cuestionario de Oswestry Disability Index (ODI), el SF36 y la escala visual analógica (EVA). Resultados: Se incluyeron 12 pacientes que recibieron tratamiento quirúrgico y 18 pacientes en espera de la cirugía. La edad media de los operados fue de 59 años (43-70), y de los que esperaban el procedimiento fue de 55 (37-82) (p = 0,3). El grupo operado tuvo ODI promedio de 38.67 contra 59.72 del grupo de espera (p < 0,05). La escala analógica del dolor lumbar tuvo resultado de 5,33 y el dolor que se irradia a las extremidades inferiores de 3,83 en los operados contra 6,78 (p > 0,05) y 7,22 (p < 0,05), respectivamente, en el grupo de espera de la cirugía. En cuanto a la escala SF-36, la capacidad funcional, las limitaciones debidas a aspectos físico y el dolor tuvieron puntuación media de 36,25, 19,58 y 21,67 en pacientes operados contra 35,94, 27,50 y 32,61, respectivamente, en los que esperan la cirugía (p > 0,05). Conclusión: Los pacientes operados mostraron una mejoría del dolor referido en las extremidades inferiores (EVA de la pierna) y mejoría de la función (Oswestry). Sin embargo, no se observaron cambios significativos con respecto al dolor lumbar (EVA lumbar) ni en la calidad de vida medida a través del cuestionario SF-36. Descriptores: Estenosis espinal; Vértebras lumbares; Dolor de la región lumbar; Terapéutica; Calidad de vida. 1. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - Pavilhão “Fernandinho Simonsen”, Departamento de Ortopedia e Tramatologia, São Paulo, SP, Brasil. Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - Pavilhão “Fernandinho Simonsen”, Departamento de Ortopedia e Traumatologia, São Paulo, SP, Brasil. Correspondência: Rua Dr. Cesário Motta Jr, 112. São Paulo, SP, Brasil. 01227-900. [email protected] Recebido em 15/03/2015, aceito em 25/06/2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1808-185120151403147185 Coluna/Columna. 2015;14(3):202-4 Tratamento cirúrgico vs. conservador de estenose lombar degenerativa INTRODUÇÃO A estenose lombar é caracterizada pela diminuição do espaço disponível para os elementos neurais no canal vertebral da coluna lombar, frequentemente levando a sintomas clínicos. Quando de caráter degenerativo, é atribuída a uma série de alterações progressivas das estruturas que compõe e envolvem o canal vertebral. Em geral, há hipertrofia degenerativa dos ligamentos e cápsulas, osteofitose, e degeneração progressiva do disco intervertebral com consequente instabilidade ou hipermobilidade das articulações facetárias levando também à sua hipertrofia. O estreitamento do canal disponível para a cauda equina na coluna lombar quando sintomático se manifesta com dor irradiada para membros inferiores e frequentemente com claudicação neurogênica, além da dor lombar mecânica. O diagnóstico é feito pela combinação do quadro clínico com exames de imagem, como a radiografia e a ressonância magnética.1 Na ausência de déficit neurológico, o tratamento inicial da estenose lombar é conservador, com bons resultados em 15 a 50% dos pacientes sem necessidade de procedimento cirúrgico.2 Este esta reservado para casos de claudicação neurogênica ou dor incapacitante sem melhora após o tratamento conservador. A cirurgia apresenta melhores resultados em pacientes com estenose em um único nível, fraqueza com menos de seis semanas de duração, idade inferior a 65 anos e monoradiculopatia. Weinstein et al.3 indicam cirurgia para pacientes com claudicação neurogênica ou sintomas radiculares por mais de 12 semanas associado a estenose do canal observado no corte axial da ressonância. A indicação cirúrgica para estenose lombar ainda é controversa e os critérios nem sempre são claros. Estudos mais recentes4-8 questionam a eficácia real do procedimento e se os resultados melhoram significativamente a qualidade de vida dos pacientes. É difícil comparar de forma objetiva a melhora do paciente após a cirurgia, visto que, mesmo após amplas descompressões, alguns pacientes continuam apresentando sintomas. O objetivo deste trabalho é comparar a eficácia do tratamento cirúrgico para estenose lombar nos pacientes já operados com os pacientes que têm indicação cirúrgica mas ainda aguardam a realização do procedimento. MATERIAIS E MÉTODOS Após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da nossa instituição, foi realizado uma busca retrospectiva pelos prontuários dos pacientes que realizam seguimento médico no Grupo de Coluna do Departamento de Ortopedia e Traumatologia que receberam tratamento cirúrgico de descompressão e artrodese instrumentada por via posterior para a estenose vertebral lombar e aqueles com o mesmo diagnóstico confirmado por ressonância magnética, sintomas há mais de 12 semanas e indicação cirúrgica, mas que ainda aguardavam o agendamento da cirurgia. Foram utilizados como critério de inclusão: prontuário e exames de imagem completo, seguimento mínimo de 3 meses e ausência de neoplasia, osteoporose ou fratura vertebral associada. Foram excluídos os pacientes que não desejaram participar do estudo, pacientes com diagnóstico outro que não de estenose vertebral da coluna lombar ou espondilolistese associada, pacientes sem confirmação do diagnóstico (prontuário incompleto ou exames de imagem perdidos) ou pacientes com cirurgia de coluna prévia para outra finalidade. Após seleção dos potenciais participantes, estes foram convocados a comparecer para avaliação clínica e funcional. No período de Abril de 2013 a Dezembro 2013 foram identificados um total de 30 pacientes, todos desejaram participar do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os pacientes selecionados foram alocados em dois grupos: Grupo 1 para os já submetidos ao tratamento cirúrgico de descompressão e artrodese instrumentada por via posterior (Figura 1); e, Grupo 2 para aqueles que aguardam o tratamento cirúrgico. Todos os pacientes recrutados foram submetidos de maneira transversal a avaliação clínica através de questionários já consagrados como o Coluna/Columna. 2015;14(3):202-4 203 Short Form 36 (SF36),9 Oswestry Disability Index (ODI),10 e escala visual analógica de dor (EVA). O questionário SF36 é um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, de fácil administração e compreensão, é um questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em oito escalas ou componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. O ODI é utilizado para avaliação funcional da coluna lombar, incorporando medidas de dor e atividade física. A escala consiste em 10 questões com seis alternativas. A primeira pergunta avalia a intensidade da dor e as outras nove, o efeito da dor sobre as atividades diárias. Pacientes do Grupo 1 também foram questionados se preferiam não terem sido submetidos ao tratamento cirúrgico. A análise estatística constou de comparação entre grupos pelo teste t-student. Foi considerado um valor de p<0.05 para significância estatística. Foram analizadas variação unidirecional, quando se quer mostrar que o resultado é apenas para melhora ou piora; e bidirecional, quando se quer mostrar que o resultado é diferente do grupo controle, não importando se melhor ou pior. Figura 1. Caso clínico paciente submetido a tratamento cirúrgico. RESULTADOS Após alocação dos pacientes em grupos, foram identificados 12 pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico (Grupo 1) e 18 pacientes que aguardavam o mesmo tratamento (Grupo 2). A idade média do Grupo 1 foi de 59 anos (43-70), e no Grupo 2 de 55 (37-82) (p=0,3). Quanto ao sexo, no Grupo 1 tivemos 59% mulheres e 41% homens, contra 78% mulheres e 22% homens no Grupo 2. Foram analisados os resultados do SF36 quanto a “capacidade funcional”, “dor” e “limitação por aspectos físicos”, ODI e também a escala analógica da dor (EVA). Como resultado, o Grupo operado teve um ODI médio de 38,67 contra 59,72 dos que aguardavam, com diferença estatística. A escala analógica da dor teve um resultado lombar de 5,33 e dor irradiada para membros inferiores de 3,83 nos operados, contra 6,78 e 7,22 respectivamente no Grupo que aguarda a cirurgia. Quanto aos resultados do SF36, a capacidade funcional, limitação por aspectos físicos e dor teve um resultado médio de 36,25, 19,58 e 21,67 nos pacientes operados contra 35,94, 27,50 e 32,61 respectivamente nos ainda não operados. Os resultados estão representados de maneira esquemática na Figura 2 e Tabela 1. A Figura 2 precisa ser interpretada, lembrando que quanto maior o resultado nos valores do SF36 menos sintomas o paciente apresenta, sendo o contrário de EVA e Oswestry. Na Tabela 1 é possível ver os valores obtidos bem como sua análise estatística, tanto para um resultado esperado unidirecional; quanto para um valor indeterminado (melhor ou pior), no multidirecional (conforme a metodologia da aplicação do teste t-student). Através da análise dos resultados entre os grupos, podemos observar que nenhum parâmetro do questionário de qualidade de vida SF36 teve diferença significativa, e ainda observa-se um resultado pior nos operados quanto a dor e limitação por aspectos físicos. Dos pacientes do grupo 1 (submetidos a tratamento cirúrgico), quando perguntados se gostariam de não ter sido operados, apenas 25% (4/12) responderam que sim, e 75% (8/12) disseram que não, que melhoraram após a cirurgia. 204 Aguardando Operados OSWENTRY EVA lombar Dor Limitação EVA perna Capacidade funcional Figura 2. Análise gráfica dos resultados. Tabela 1. Resultado dos questionários e do cálculo estatístico. sf36 EVA EVA Idade Oswestry Lombar Perna Cap Limitação Func Operados 59,08 38,67 5,33 3,83 36,25 19,58 21,67 Aguardando 55,11 59,72 6,78 7,22 35,94 27,50 32,61 0,2491 0,0125 0,9738 0,5533 0,3763 0,1245 0,0062 0,4869 0,2766 0,1881 Média t Student variação 0,3050 0,0046 bidirecional t Student variação 0,0023 unidirecional Este trabalho demonstrou que pacientes com Estenose Lombar sem espondilolistese, com diagnóstico confirmado pela ressonância magnética se beneficiaram com o tratamento cirúrgico, diminuindo a dor referida nos membros inferiores (EVA Perna com p<0,05) e melhora na função (Oswestry com p<0,05), porém não demonstrou alteração na qualidade de vida segundo a escala SF36 (p>0,05). Semelhante aos resultados deste estudo, Atlas et al.7 concluíram após análise de pacientes operados e tratados clinicamente que após 8-10 anos de seguimento, ambos os grupos apresentavam dor lombar baixa e satisfação com o tratamento semelhantes, porém o grupo operado apresentava melhor função e menos dor referida nos membros inferiores. Weinstein et al.3 realizou um estudo multicêntrico prospectivo no grupo SPORT (Spinal Patient Outcomes Research Trial) e concluiu que no grupo “de acordo com o tratamento instituído”, os pacientes operados mostraram melhora significante na dor, função e satisfação se comparados aos não operados. Apesar de nem todos os quesitos terem melhora significativa, os pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico não se arrependem do tratamento instituído, este trabalho apresenta uma crítica e falha, por ser retrospectivo, não comparou a resposta do questionário de um mesmo paciente antes e depois do procedimento, com isso, apesar da melhora obtida, em alguns casos o paciente pode não se considerar muito satisfeito com o tratamento (de acordo com os scores), mas ele se recorda que estava pior antes do procedimento e não se arrepende de o ter realizado. Dor CONCLUSÃO Em pacientes com estenose lombar do canal vertebral, não houve mudança na qualidade de vida dos pacientes operados quando comparado com os que aguardam o procedimento, porém houve melhora significativa da incapacidade e da dor naqueles que receberam tratamento cirúrgico. A maioria dos pacientes operados não se arrependem do procedimento. DISCUSSÃO AGRADECIMENTOS A estenose lombar degenerativa é uma doença cada vez mais identificada na população devido tanto ao seu envelhecimento quanto ao acesso facilitado à assistência médica e exames de imagem que confirmam a patologia.7 Apesar deste aumento real na incidência, ainda não está claro o real benefício do tratamento cirúrgico descompressivo para essa população. Agradecemos Rafael Carboni de Souza, Rodrigo Góes Medéa de Mendonça e José Alfredo Corredor Santos. Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo. REFERÊNCIAS 1. Dunlop RB, Adams MA, Hutton WC. Disc space narrowing and the lumbar facet joints. J Bone Joint Surg Br. 1984;66(5):706-10. 2. Amundsen T, Weber H, Nordal HJ, Magnaes B, Abdelnoor M, Lilleâs F. Lumbar spinal stenosis: conservative or surgical management?: A prospective 10-year study. Spine (Phila Pa 1976). 2000 ;25(11):1424-35. 3. 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