III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores Lins, 17 21 de outubro de 2011 GERUNDISMO RESUMO As discussões em torno do gerundismo cada vez mais geram polêmica, entre os falantes da língua portuguesa. O presente trabalho visa demonstrar, aos falantes, a diferença entre gerúndio e gerundismo e o porquê não se deve fazer confusão entre tais termos, já que um é uma forma verbal indiscutivelmente existente, desde muito tempo, e o outro é apenas mais um vício de linguagem, que está presente em nossos dias e, aos poucos, vem assombrando os admiradores das normas cultas da língua portuguesa. Palavras-chaves: Gerundismo. Gerúndio. Vicio de linguagem. Forma verbal. ABSTRACT Discussions around the Girona increasingly generate controversy among the speakers of Portuguese. This paper demonstrates the difference between the speakers and gerund gerundive and why you should not make confusion between the terms, since one is definitely a verb form that has existed since long and the other is just an addiction to the little language that has haunted the admirers of the rules learned the English language. Keywords: Girona. Gerund. Addiction to Language. Verbal Form. INTRODUÇÃO Sabe-se que, se uma língua é utilizada por diferentes pessoas, de diferentes regiões, esta tende a se modificar, ao longo do tempo. A língua portuguesa está sempre mudando, adequando-se ao que a maioria da população usa, para se comunicar. Essa concepção de mudança e aceitação de formas de se comunicar é 1/5 III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores Lins, 17 21 de outubro de 2011 mais aceita entre os linguistas, que são considerados os mais liberais , quando o assunto é comunicação. Já para os gramáticos, mais conservadores, o que importa são as regras de uso adequado da gramática (por isso, denominada normativa). O objetivo desta pesquisa é demonstrar essa tensão presente na constante evolução da língua: não se pode deixar de estudar e conhecer o que é correto , segundo os gramáticos mais conservadores, mas também não se deve menosprezar as considerações dos linguistas, em relação ao que é permitido, lícito, aos falantes, visto que estes prezam, prioritariamente, a comunicação. Em se tratando especificamente do uso do gerúndio em construções inadequadas, evidenciar tal tensão é condição sine qua non, a fim de que se possa argumentar, tanto favoravelmente quanto de forma contrária, e até mesmo para que não haja equívocos, quanto à utilização desses termos. O gerúndio caracteriza-se como uma forma nominal aplicável em algumas circunstâncias, tais como: indicar uma ação contínua ou simultânea a outra ação; exprimir a ideia de progressão indefinida. Tal definição está de acordo com a gramática normativa, ou com a língua padrão. Portanto, é indiscutível sua utilização lícita, em certas situações. No entanto, o gerundismo (alcunha recebida por esse fenômeno da utilização excessiva do gerúndio, oriunda, principalmente, da linguagem do telemarketing) é considerado por muitos gramáticos como um vício de linguagem. Essa utilização diferente do gerúndio, que consiste em usá-lo juntamente com dois verbos (verbo ir em forma finita do presente do indicativo + o verbo estar no infinitivo + o gerúndio de outro verbo), causa muita polêmica e divide opiniões. Muitas dessas críticas vêm acompanhadas de um equívoco, pois há pessoas que demitem o gerúndio do nosso idioma, almejando, na verdade, acabar com o gerundismo. Tal fato decorre da falta de informação e de cultura, por não saber diferenciar um do outro. Considerando essa temática, esta pesquisa objetiva pesquisar a respeito da utilização lícita desse fenômeno, o gerúndio, bem como do desvio dessa utilização, o gerundismo, através de gramáticas normativas e teorias que nortearam os estudos da Línguística, ciência que estuda a Linguagem. A fim de refletir linguística e gramaticalmente sobre essa ocorrência, quanto aos procedimentos, será bibliográfica, pois recorre à análise de material já elaborado, tais como documentos, livros, artigos científicos, pertinentes a essa discussão, a fim de alcançar um resultado que contribua para iluminar essa polêmica. Quanto à metodologia, será exploratória, à medida que objetiva proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipótese e descritiva, visto que possui, como objetivo primordial, a descrição das características de determinada fenômeno. . O FENÔMENO GERUNDISMO Para a origem desse vício de linguagem não há uma explicação única. Há quem diga que essa prática advém de traduções do inglês, realizadas de forma literal, mas outros tantos dizem que essa praga (como também é conhecido) da gramática foi espalhada pelos atendentes de telemarketing. Sob essa perspectiva, 2/5 III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores Lins, 17 21 de outubro de 2011 esse fenômeno passou a ser conhecido como Síndrome do Vamos Estar Transferindo a sua Ligação . Cabe ressaltar, no entanto, que os atendentes acabam optando pela utilização do gerundismo a fim de evitar um compromisso com o cliente, ou mesmo para tranquilizá-lo, deixando a entender que a situação será, em algum momento, resolvida. Devido a essa falta de compromisso para com a língua materna, o exgovernador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, pronunciou-se favorável a demitir o gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal: O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA: Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal. Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA. Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 28 de setembro de 2007.(2007) Para justificar tal medida, o ex-governador alegou que algumas pessoas estavam se utilizando do gerúndio para enrolarem , no trabalho. Em suas palavras, O gerúndio é uma arma da burocracia para adiar e não tomar providências imediatamente. A ironia é para chamar a atenção contra a ineficiência da máquina pública. A demissão do gerúndio é uma idéia para gerar polêmica e fazer as pessoas se mexerem. (2007) Como bem se pode imaginar, esse decreto gerou muita polêmica entre os entendidos da língua. Principalmente em decorrência de o ex-governador ter se equivocado ao demitir o gerúndio, quando, na verdade, o que objetivava era acabar com o vício de linguagem, que, sob seu ponto de vista, era o grande responsável pelas desculpas para tanta demora em resoluções de problemas, nos órgãos públicos. Muito se falou sobre o decreto e o governador recebeu inúmeras críticas. Primeiramente, porque não se pode obrigar que os falantes mudem sua maneira de falar apenas pelo fato de alguém não simpatizar com determinado vício de linguagem utilizado. Além disso, algumas pessoas (em especial os linguistas) defendem que tudo é permitido, quando o que se considera é a comunicação: se há entendimento, tudo o que se fala é correto. O próprio paradigma de erro passa a ser revisitado, a partir de tais pressupostos. Sob essa perspectiva, Sírio Possenti (2004) postula a existência de três tipos de gramática: a normativa, ou o conjunto de regras que devem ser seguidas pelos falantes de uma determinada língua; a descritiva, ou o conjunto de regras que são, de fato, seguidas por estes e ainda a internalizada, ou o conjunto de regras que todo o falante de determinada língua domina. Nesse caso específico, o maior erro de Arruda foi o de decretar algo sem ao menos saber diferenciar uma forma nominal lícita (o gerúndio) de um vício de linguagem (esteticamente inadequado para alguns), o gerundismo. Se, ao contrário, 3/5 III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores Lins, 17 21 de outubro de 2011 o ex-governador estivesse realmente demitindo o gerundismo, talvez não recebesse tantas criticas e, até mesmo, ganhasse alguns adeptos: aqueles que conservam a maneira de falar, de acordo com as normas cultas da língua portuguesa. Diante do exposto, cabe perguntar: vale, de fato, tudo, quando o assunto em pauta é a comunicação? Até que ponto podemos afirmar se está certo ou errado o uso de locuções com gerúndio? E até mesmo: o que pode ser considerado correto e errado, tratando-se de língua e linguagem? Tais questionamentos permeiam esta pesquisa, à medida que suscitam discussões e reflexões extremamente profícuas, à problematização dessa temática. Um fato deve ser considerado, entretanto: o gerundismo, além de ser um vício de linguagem (pois está catalogado, ou enquadrado , como tal), é considerado pouco econômico, pois se utiliza de três verbos para afirmar algo que poderia ser dito com apenas um, como se pode ler neste exemplo: vou estar passando o seu recado , que poderia naturalmente ser substituído por passarei ( ou vou passar) o seu recado quando for possível . Como se pode verificar, além de pouco econômica, essa oração está gramaticalmente errada, pois, se o gerúndio é uma forma que exprime uma ação contínua, isso significaria que a pessoa, ao utilizar essa frase, estaria sempre passando o seu recado, simultaneamente. Por esse motivo, o uso deste trenzinho verbal é considerado errado, para muitos. Vale, no entanto, ressaltar que, de fato, a comunicação, nesse caso ocorre, pois a pessoa sabe que seu recado será passado. No entanto, resta a dúvida de quando esse recado será realmente transmitido à pessoa que se deseja. Esse é um dado relevante a ser considerado, pois é um dos problemas deste vício de linguagem, que tanto causa polemica: sabe-se que algo vai acontecer, mas não se pode afirmar quando vai acontecer. Em outras palavras, além de não obedecer ao princípio da economia, contribui para tornar o discurso obscuro, quando o que se objetiva é a clareza. CONCLUSÃO Não há como negar o fato de que a língua portuguesa está sempre em evolução, pois seus falantes estão sempre em busca de facilitar o ato de se comunicar, para serem entendidos por muitas pessoas. No caso específico desta pesquisa, o gerundismo, não é possível afirmar se sua utilização está correta ou não sem avaliar seus prós e contras, a partir de uma bibliografia pertinente, sobre essa temática. Da mesma forma, não há como ignorar uma certeza: mesmo quando determinadas regras, em língua, são consideradas certas ou erradas, quem decide se fará ou não uso destas (e se o fará desta ou daquela forma) é o próprio falante desta língua. Cabe a nós, entretanto, como profissionais da língua materna, contribuir para que o maior número possível de falantes esteja consciente de suas escolhas linguísticas, de modo que lhe seja possível julgar, de modo crítico e reflexivo, se estas são ou não adequadas, às diversas situações de uso, aos quais está exposto, 4/5 III ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO Educação e Pesquisa: a produção do conhecimento e a formação de pesquisadores Lins, 17 21 de outubro de 2011 cotidianamente, visto que tais opções, na utilização da linguagem, revelam sua identidade. REFERÊNCIAS ALI, M. Said. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1971. BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Lucerna, 2009. BRANDÃO, C. Sintaxe clássica portuguesa. Belo Horizonte: Bernardo Álvares, 1975. Carlos Emilio Faraco, Francisco Marto Moura. Gramática. São Paulo: Ática, 2009. CEGALLA, Domingos Paschoal. 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