A CENTRALIDADE DO TRABALHO NOS MARCOS DA SOCIABILIDADE CAPITALISTA CONTEMPORANEA Alison Cleiton de Araujo¹, Maria Augusta Tavares² ¹UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA- PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – RUA FRANCISCO ROBERTO, 275 – CENTENÁRIO – CAMPINA GRANDE – [email protected] ²UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA- PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL – [email protected] Resumo- O referido artigo é produto da dissertação de mestrado em andamento que possui como objetivo analisar a centralidade do trabalho nos marcos da sociabilidade capitalista do tempo presente. Em sendo assim, constitui em uma análise dos elementos constitutivos das determinações histórico-concretas da ordem burguesa, expressa pela incansável necessidade de valorização do capital, tendo para tanto que adensar o processo devastador da subsunção do trabalho ao capital. Vivenciamos no fardo presente o contexto de uma sociabilidade que ilusoriamente apresenta no plano ideocultural o fim da sociedade do trabalho, o anacronismo de análises que versam sobre a categoria trabalho, e por fim, que atestam à construção de novos e repõem velhos referências de análise do movimento real. É diante de uma crise estrutural do capital que apresenta os seus limites históricos do sistema sociometábolico que percebemos a fragilidade e inconsistência destas análises. O trabalho na contemporaneidade constitui a categoria fundante do ser social, sem este cancelamos o fundamento ontológico do ser social, e devido a isto, percebemos que este é ineliminável da vida social. Palavras-chave: TRABALHO, CAPITAL, CENTRALIDADE, SER SOCIAL Área do Conhecimento: CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS Introdução O presente artigo é resultado das análises desenvolvidas acerca das mutações na organização do trabalho nas últimas décadas e suas implicações no âmbito da produção e reprodução social, fruto da pesquisa em andamento no programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFPB. O propósito deste estudo é analisar a centralidade do trabalho nos tempos atuais, alicerçado na tradição marxista, enquanto práxis fundante do ser social. Neste sentido, busca-se apreender os nexos filosóficos, ontológicos e políticos postos no debate acerca da categoria trabalho, calcado em Marx, e suas implicações na vida social. O debate acerca da centralidade do trabalho nos tempos atuais As tentativas de superação das crises estruturais do capital suscitaram e levaram nos marcos atuais ao propalado ideário neoliberal, o revigoramento neoconservador no âmbito das lutas sociais, ao equívoco discurso do “esgotamento” da perspectiva revolucionária e, por fim, a falsa concepção de fim da história. Tal concepção conduz à conformação e ao amoldamento do ideário burguês como protoforma e modelo de vida eterna e imutável. Aposta-se a favor do pretenso esfacelamento da perspectiva de construção coletiva em prol de outra sociabilidade, devido à reoxigenação do sistema sociometabólico do capital. Com isso, reafirma-se a capacidade de o capital enfrentar por sucessivas vezes as crises e contradições postas pelo processo de valorização e acumulação do capital, mitigando uma possível conformação e fabricando o consenso no âmbito da vida social, destituído de resistências e de outra possibilidade de racionalidade e sociabilidade para além do capitalismo. Dentre estes discursos afirma-se a falência da centralidade do trabalho com elemento fundante da vida social, observa-se uma seara de concepções e visões destoantes da tradição marxista, as quais afirmam a negação da centralidade do trabalho na sociabilidade contemporânea. Estas, partem do princípio que as transformações na organização do trabalho o dotaram de novas resignificações, de tal forma, que as teses apresentadas por Marx estão obsoletas e incompatíveis com o real. Neste sentido, as categorias defendidas por Marx, principalmente no cerne de seu método, o materialismo histórico-dialético, não seriam a chave para desvendar e compreender as atuais transformações no mundo do trabalho. Em sendo assim, o trabalho não constituiria mais a categoria fundante do ser social, a luta de classes não possuiria materialidade diante da pretensa XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 inexistência do conflito entre capital e trabalho e a lei do valor não se aplicaria às novas formatações de trabalho que são praticadas na contemporaneidade. No interior deste debate, a centralidade da categoria trabalho vem sendo posta em evidência. Em meio a novas teorizações e perspectivas, destacam-se as formulações centradas na negação da categoria trabalho como fundante do ser social, sendo a mesma esfacelada, obscurecida e negada. Tais análises alicerçam-se nas transformações operadas no trabalho diante das crises estruturais do capital, sobretudo, nas modificações engendradas na organização do trabalho, na derrocada das experiências socialistas, e no distanciamento da tradição marxista dos fenômenos atuais. Enfim, ora o marxismo é distorcido ou adulterado, ora é uma teoria datada. Diferentemente destes, estamos no campo da tradição marxista que analisa as transformações presentes na atualidade como produto de terminações histórico-concretas, que afirmar a centralidade do trabalho como eixo fundante da vida social, e ineliminável necessidade humana. Para Marx, a práxis transformadora exercida pelo trabalho funda o ser social, dota-o de racionalidade, de liberdade, consciência, funda a sociabilidade, e a sua historicidade. Esta relação dialética de transformação do meio condiciona a autotransformação do homem, devido a este adquirir novos conhecimentos e habilidades, tendo como conseqüência uma tendência à universalização da sua ação transformadora, ou seja, da objetivação do seu trabalho. É através do trabalho que o homem satisfaz suas necessidades. Podemos apontar que a evolução da humanidade é caracterizada pelas maneiras e modos de produzir os bens necessários para a sobrevivência do ser social. Sendo assim, o referido autor destaca que esta evolução pode ser assinalada pelos modos de produção da vida social (MARX, 1996). Para Lessa (1999), a história humana se constitui no surgimento e desenvolvimento de relações sociais, sendo assim, seguindo os passos elaborados por Marx, a vida social alicerça-se nos modos de produção que o homem historicamente desenvolveu para atender as suas necessidades. Segundo o referido autor, ao longo da história dos homens, o processo (re)produtivo das sociedades se complexifica, à medida que ocorre o desenvolvimento das forças produtivas, proporcionando um complexo processo que termina dando origem a relações entre os homens que não mais se limitam ao trabalho enquanto tal, ou seja, constitui a reprodução social. Ao analisar os modos de produção da vida social, desde o período comunal/primitivo, passando pelo modo asiático, feudal, até o atual sistema capitalista, percebe-se que as análises da tradição marxista quanto à centralidade do trabalho na constituição do ser social não deixam dúvida. O trabalho embora adquira configurações distintas em cada momento histórico, alicerça-se como categoria indispensável à sociabilidade humana, eterna necessidade do homem. Sendo assim, após dois séculos depois das análises desenvolvidas por Marx, a essência permanece a mesma: o sistema capitalista fundase na expropriação do sobreproduto social produzido pela classe trabalhadora; o trabalho continua e continuará sendo o ponto axial da vida social. As transformações destacadas anteriormente no processo produtivo, longe de porem fim ao trabalho expressam a barbárie vivenciada hoje na sociabilidade capitalista. A valorização do capital só é possível através do processo de extração da mais-valia, do trabalho vivo. A ampliação dos serviços, o crescimento exponencial do trabalho informal e a redução do trabalho formal não descredencializam as categorias marxianas, ao contrário, expressam e validam a análise desenvolvida centrada na totalidade da vida social, pensada na perspectiva histórica e dialética. As transformações postas são expressões potenciadas da subsunção do trabalho ao capital. Contudo, permeado por um processo contraditório, heterogêneo e complexo, o trabalho constitui-se no único meio da existência humana. Estas transformações operadas pela acumulação flexível (HARVEY, 2005) modificaram as bases de valorização do capital, através de modernas formas de extração da mais-valia, potencializando o trabalho informal, sobretudo com as terceirizações, que por sua vez, possibilitam uma interação cada vez mais presente entre a informalidade e a produção capitalista. Francisco Teixeira no mais recente livro Marx no século XXI enfrenta as atuais polêmicas no âmbito do pensamento social contemporâneo, desenvolvendo uma análise acerca das novas formas de valorização do capital. O autor realiza uma importante análise sobre o trajeto que a produção no seio do estágio monopolista vem adotando. É latente, no tocante a produção e serviços, a incorporação de grupos monopólicos e grupos locais, de produções limitadas, centrados na pretensa autonomia, com características da cooperação simples, que possibilitam a potencialização da acumulação do capital (2008). Para Teixeira (2008), contemporaneamente, tem-se a constituição da cooperação complexa, um processo contraditório, posto pelo movimento das relações sociais XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 capitalistas e das forças produtivas, que proporciona formas exasperadas de acumulação e valorização do capital. Esse movimento calca-se na centralização e concentração monopólica do capital, na reestruturação produtiva, na constituição de um novo trabalhador coletivo combinado, agregando formas de trabalho que não estão ligadas formalmente à produção capitalista, porém, indiretamente estão vinculadas e são indissociáveis do processo de valorização do capital. Com isso, o autor não quer dizer que houve uma involução no processo de acumulação do capital. Ao contrário, para Teixeira (2008), contemporaneamente, tem-se a constituição da cooperação complexa, um processo contraditório, posto pelo movimento das relações sociais capitalistas e das forças produtivas, que proporciona formas exasperadas de acumulação e valorização do capital. Esse movimento calca-se na centralização e concentração monopólica do capital, na reestruturação produtiva, na constituição de um novo trabalhador coletivo combinado, agregando formas de trabalho que não estão ligadas formalmente à produção capitalista, porém, indiretamente estão vinculadas e são indissociáveis do processo de valorização do capital. A título de exemplificação, pode-se destacar os arranjos produtivos locais, que sob a égide do processo de acumulação do capital, são camuflados pelas perspectivas da autonomia, autogestão, solidarismo, cooperação e socialização da riqueza produzida. Concretamente, o sistema se utiliza de instrumentos aparentemente anticapitalistas, mas através deles continua acumulando capital. Empresas monopólicas investem na precarização e na informalidade, aproveitando-se de grupos produtivos, que contribuem para o processo de valorização do capital, produzindo um amálgama entre os grandes grupos monopólicos do capital e estes arranjos produtivos, pautados em atividades realizadas localmente. É neste processo de exploração da força de trabalho e transformação desta em mercadoria, que a relação capital-trabalho condiciona a reprodução, acumulação e valorização do capital, ou seja, tem-se a subsunção do trabalho ao capital. RESULTADOS PRELIMINARES Ernest Mandel destaca que é através da produtividade do trabalho que se tem o desenvolvimento e progresso da civilização. Neste sentido, quanto maior a produtividade do trabalho, maior a luta pela posse desse excedente. Para este autor, este excedente constitui o sobreproduto social que historicamente vem sendo apropriado pela classe que possui os meios de produção para a realização do trabalho. Portanto, a aparição, regularização e generalização da produção de mercadorias possibilitaram a modificação radical da forma como os homens organizam-se em sociedade (1975). Para Lessa (1999), a história humana se constitui no surgimento e desenvolvimento de relações sociais, sendo assim, seguindo os passos elaborados por Marx, a vida social alicerça-se nos modos de produção que o homem historicamente desenvolveu para atender as suas necessidades. Segundo o referido autor, ao longo da história dos homens, o processo (re)produtivo das sociedades se complexifica, à medida que ocorre o desenvolvimento das forças produtivas, proporcionando um complexo processo que termina dando origem a relações entre os homens que não mais se limitam ao trabalho enquanto tal, ou seja, constitui a reprodução social. Ao analisar os modos de produção da vida social, desde o período comunal/primitivo, passando pelo modo asiático, feudal, até o atual sistema capitalista, percebe-se que as análises da tradição marxista quanto à centralidade do trabalho na constituição do ser social não deixam dúvida. O trabalho embora adquira configurações distintas em cada momento histórico, alicerça-se como categoria indispensável à sociabilidade humana, eterna necessidade do homem. Sendo assim, após dois séculos depois das análises desenvolvidas por Marx, a essência permanece a mesma: o sistema capitalista fundase na expropriação do sobreproduto social produzido pela classe trabalhadora; o trabalho continua e continuará sendo o ponto axial da vida social. As transformações destacadas anteriormente no processo produtivo, longe de porem fim ao trabalho expressam a barbárie vivenciada hoje na sociabilidade capitalista. A valorização do capital só é possível através do processo de extração da mais-valia, do trabalho vivo. A ampliação dos serviços, o crescimento exponencial do trabalho informal e a redução do trabalho formal não descredencializam as categorias marxianas, ao contrário, expressam e validam a análise desenvolvida centrada na totalidade da vida social, pensada na perspectiva histórica e dialética. As interpretações que negam Marx não são neutras nem inocentes. Ao contrário, além de obscurecerem a exploração capitalista, têm implicações práticas que aprofundam a questão social, a que nos referimos inicialmente. Portanto, o objeto que se pretende pesquisar reveste-se de grande importância para o Serviço Social. Buscase desenvolver uma análise acerca da centralidade do trabalho, sob a orientação do pensamento marxista, tendo como referência o XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 movimento do real na contemporaneidade. Portanto, busca-se apreender os nexos ontológicos, filosóficos e políticos presentes neste debate, em contraposição a uma parcela significativa das ciências sociais, que vem adotando referenciais teóricos presentes nas abordagens de autores como André Gorz, Claus Offe, Habermas, Kurz e outros. Referências Bibliográficas ANTUNES, Ricardo. O sentido do trabalho: ensaios sobre a negação do trabalho. São Paulo, Boitempo, 1999. _______________(org). A dialética do trabalho – escritos de Marx e Engels. São Paulo, Expressão Popular, 2004. HAVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo, Loyola, 2005. HUBERMAN, Leo. 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