1 2 3 TECNOLOGIAS PARA O AGRONEGÓCIO DO GERGELIM 4 5 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Algodão Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento TECNOLOGIAS PARA O AGRONEGÓCIO DO GERGELIM Campina Grande, PB. 2010 6 Exemplares desta publicação podem ser solicitados à: Embrapa Algodão Rua Osvaldo Cruz, 1143 – Centenário Caixa Postal 174 CEP 58107-720 - Campina Grande, PB Telefone: (83) 3315-4300 Fax: (83) 3315-4367 [email protected] http://www.cnpa.embrapa.br Ministério do Desenvolvimento Agrário Secretária da Agricultura Familiar Esplanada dos Ministérios, Bloco A/Ala Norte - CEP 70054-900 - Brasília – DF Telefones: (61) 2109 9927 ; (61) 2191 9860 Embrapa Algodão Revisão técnica: Vicente de Paula Queiroga Revisão de texto: Maria José Silva e Luz Normalização bibliolgráfica: Valter Freire de Castro Editoração Eletrônica: Geraldo Fernandes de Sousa Filho Capa: Flávio Torres de Moura 1ª Edição 1ª impressão (2010) 1.000 exemplares Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610) CIP - Brasil. Catalogação na publicação Embrapa Algodão Tecnologias para o agronegócio do gergelim/ editores técnicos, Vicente de Paula Queiroga, Nair Helena Castro Arriel e Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva; Embrapa Algodão (Campina Grande, PB). 1º ed. 2010. 264p.: il.; 22 cm ISBN 978-85-85760-07-6 1. Cultivo. 2. Sesamun indicum. 3. Agricultura familiar. 4 Colheita. 5. Óleo. I. Queiroga, Vicente de Paula, II. Arriel, Nair Helena Castro, III. Silva, Odilon Reny Ribeiro Ferreira da, IV. Grupo Santana, Natal, RN. V. Embrapa Algodão (Campina Grande, PB). VI. Título. CDD:633.85 Embrapa 2010 7 Autores Vicente de Paula Queiroga Engenheiro agrônomo, Pós-D.Sc. da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, CEP 58107-720, Campina Grande, PB, [email protected] Nair Helena Castro Arriel Engenheira Agrônoma, D.Sc. da Embrapa Algodão, [email protected] Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva Engenheiro Agrícola, D.Sc. da Embrapa Algodão, [email protected] 8 9 Apresentação O gergelim (Sesamum indicum L. ) é uma das primeiras espécies domesticadas pelo homem, sendo na atualidade uma das dez principais oleaginosas do mundo, ocupando área plantada superior a oito milhões de hectares e produz um dos melhores óleos para a alimentação humana, tendo na sua constituição substancias anti-oxidantes como as sesamina e sesamolina e cerca de 40% de seus ácidos-graxas é o oléico, moninsaturado, sendo assim um óleo recomendado para alimentação do homem, além de ser medicinal. A torta ou farelo do gergelim, tem excelente composição de aminoácidos importantes, tais como metionina, cistina, arginina e leucina, e pode se constituir em uma excelente fonte de proteínas. A possibilidade do uso da farinha do gergelim em produtos panificáveis, ou na merenda escolar, abrirá novo mercado e poderá beneficiar a população mais carente do País, a baixo custo. O gergelim é uma planta de fácil cultivo, e no caso do Brasil, de ciclo rápido, entre 90 a 130 dias, podendo ser explorada como lavoura orgânica em quase todo Semi-Árido nordestino e como cultura de safrinha (não orgânica) nas condições do Cerrado, em ambos casos em sistemas solteiros ou consorciados, de sequeiro ou irrigado, sendo pouco tolerante a salinidade e muito resistente a seca, evento muito comum no Nordeste brasileiro. Seu cultivo em bases ecológicas, incluindo sistemas agroecológicos e orgânicos, poderá agregar valor aos seus produtores, desde o grão em si, mas, também seu óleo e o seu farelo. Neste livro, os autores evidenciam a importância desta pedaliaceae, bem como o seu cultivo em bases sustentáveis, com o mínimo de agressão à natureza e produção de alimentação saudável. Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão Chefe Geral da Embrapa Algodão 10 11 Prefácio Por seus antioxidantes naturais sesamina, sesamol, sesamolina e gama tocoferol, o azeite é mais resistente a oxidação ou baixa rancificação, sendo que esta propriedade não foi encontrada em nenhum outro óleo vegetal. Além de retardar o envelhecimento celular, estas substâncias estão presentes apenas no óleo, em razão disso o azeite extravirgem produzido do primeiro prensado à frio se encontra entre os óleos mais caros. Com a torta resultante do processo de extração do óleo, a qual contém entre 40 e 70% de proteína, se poderia elaborar a farinha e usá-lá na preparação de vários produtos alimentícios. Havendo expansão significativa da sua área plantada no Brasil, a verticalização da produção do gergelim irá depender das modificações nos costumes culturais e socias da população, pois o mercado nacional é limitado e por este motivo não valoriza tanto a qualidade do gergelim como o mercado internacional. O Brasil é ainda importador de sementes, e isto equivale a mais de 60% do nosso consumo de gergelim. Um rendimento médio de 800 a 1.000 kg/ ha de sementes no campo contribuiria para que o preço baixasse, tornando o produto mais acessível às classes populares, pois, atualmente, o consumo de gergelim se restringe às classes mais favorecidas do País. Não basta somente produzir a matéria -prima, mas conhecer a cadeia do produto, envolvendo todos os aspectos dos segmentos do agronegócio, principalmente deve ser melhorado o marketing sobre os benéficos a saúde humana proporcionados pelas propriedades químicas naturais existentes nessa espécie. As informações apresentadas neste livro demonstram que já existem conhecimentos e tecnologias sobre o agronegócio do gergelim, que possibilitarão a sua promoção como uma cultura de grande perspectiva econômica, especialmennte para o Semi-Árido do Nordeste e como "cultura de safrinha" nas 12 condições do Cerrado. A simples introdução da segadora-atadora no Brasil para realizar o corte das plantas deiscentes no ponto de colheita, capaz de obter um rendimento de 2 ha/h, poderá incrementar significativamente a área plantada de tal lavoura, sem a necessidade de mudança das cultivares em uso. Os autores deste livro acreditam que todos os conhecimentos à disposição dos produtores, empresários, autoridades do Brasil e da sociedade, poderão tornar o gergelim numa nova opção agrícola de forte conotação social e econômica. Os autores 13 Sumário PARTE 1 Tecnologias Utilizadas no Cultivo do Gergelim Orgânico pelos Produtores Familiares do Nordeste........................................................................ 17 1. Introdução ......................................................................................... 17 2. Tecnologias Sociais Desenvolvidas nas UTDs de Gergelim Orgânico .... 22 2.1 Certificação do campo orgânico .................................................... 23 2.2 Condições de clima e solo ............................................................... 23 2.3 Preparo do solo ............................................................................. 24 2.4 Semeadura manual ........................................................................ 26 2.5 Plantio com semeadora mecânica manual ....................................... 27 2.6 Sementes de cor branca ................................................................. 32 2.7 Espaçamento ................................................................................ 34 2.8 Desbaste ....................................................................................... 35 2.9 Produção de mel orgânico ............................................................... 35 2.10 Adubação ................................................................................... 36 2.11 Capinas ...................................................................................... 37 2.12 Doenças .................................................................................... 2.13 Pragas ........................................................................................ 37 38 2.14 Preparação de macerados ............................................................ 39 2.15 Macerado para lagarta ................................................................. 42 2.16 Macerado para pulgão ................................................................. 43 2.17 Macerado para pulgão e lagarta .................................................... 43 14 2.18 Macerado para mosca-branca adulta .............................................. 2.19 Macerado para ninfas da mosca-branca .......................................... 44 44 2.20 Macerado para cochonilha ............................................................. 45 2.21 Planta de neem ............................................................................ 46 2.22 Macerado para lagartas, pulgões, cigarrinha-verde e mosca-branca.. 49 2.23 Colheita: época do corte manual das plantas .................................. 49 2.24 Secagem dos feixes ...................................................................... 53 2.25 Batedura dos feixes e peneração dos grãos ..................................... 54 2.26 Ventilação de grãos e embalagem .................................................. 59 2.27 Armazenamento dos grãos ............................................................ 2.28 Rotação de culturas ...................................................................... 62 67 2.29 Banco de sementes ....................................................................... 67 3. Custos de Produção das UTDs ........................................................... 70 4. Extração de Óleo na Mini-usina ........................................................... 5. Prensa Piteba ................................................................................... 77 79 6. Produção de Biodiesel na Comunidade .................................................. 82 7. Elaboração de Produtos Alimentícios Industrializados .............................. 84 8. Receitas com Gergelim para Merenda Escolar ....................................... 94 9. Alimentação Animal .......................................................................... 99 10. Construção de Barragens Subterrâneas ............................................... 102 11. Parcerias e UTD ............................................................................... 103 12. Mercado em Geral de Gergelim .......................................................... 105 13. Referências Bibliográficas ................................................................... 121 15 PARTE 2 Tecnologias Utilizadas no Cultivo do Gergelim Mecanizado ................... 125 1. Introdução ....................................................................................... 125 2. Importância do Gergelim ................................................................. 128 3. Tecnologias de Produção e Mecanização do Gergelim ....................... 132 3.1 Planta com frutos por axila .......................................................... 132 3.2 Plantas ramificadas e não ramificadas ........................................... 133 3.3 Cultivares .................................................................................... 134 3.4 Fenômeno da pleiotropia ............................................................... 142 3.5 Clima e solos ............................................................................... 143 3.6 Preparo de solo ............................................................................ 144 3.7 Processo de encapsuladação de sementes ...................................... 151 3.8 Espaçamento e época de semeadura ........................................... 157 3.9 Adubação e calagem .................................................................... 157 3.10 Sistemas de plantio .................................................................... 159 3.11 Herbicida ................................................................................... 163 3.12 Irrigaçâo .................................................................................... 165 3.13 Controle de doenças ................................................................... 168 3.14 Controle de pragas ..................................................................... 175 3.15 Formação de quebra-ventos com plantas de neem e preparação de bioinseticida........................................................................... 183 3.16 Ponto de colheita ....................................................................... 189 3.17 Colheita: época do corte das plantas ........................................... 190 3.18 Vantagens do corte mecânico ..................................................... 194 16 3.19 Colheita mecanizada do gergelim na Venezuela ............................ 200 3.20 Colheita mecanizada do gergelim na Austrália .............................. 211 3.21 Colheita mecanizada do gergelim nos USA ................................... 212 3.22 Armazenamento ......................................................................... 222 4. Elaboração de Produtos Industrializados ........................................... 226 5. Resumo da Cadeia Produtiva do Gergelim ......................................... 245 6. Coeficiente Técnico ....................................................................... 251 7. Referência Bibliográfica .................................................................. 253 17 PARTE 1 TECNOLOGIAS UTILIZADAS NO CULTIVO DO GERGELIM ORGÂNICO PELOS PRODUTORES FAMILIARES DO NORDESTE 1. Introdução A cultura do gergelim (Sesamum indicum L.) constitui-se em alternativa de grande importância econômica e social para as condições semi-áridas do Nordeste brasileiro, por ser de fácil cultivo, apresentar tolerância a estiagem e, principalmente, por gerar renda e trabalho e por ser fonte de alimento para pequenos e médios produtores. As áreas do Semi-Árido do Nordeste brasileiro destacam-se como possuidoras de condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo do gergelim de forma ecológica, em microrregiões que exercem papel preponderante na redução natural de pragas da referida lavoura. Além disso, as características das propriedades locais, ocupadas basicamente por agricultores familiares, que cultivam espécies diversificadas e usam a mão-de-obra familiar, adequam-se à produção de gergelim neste tipo de sistema de exploração. No município de São Francisco de Assis do Piauí-PI, a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) é a entidade coordenadora dos trabalhos nas comunidades 18 rurais e, desde a sua criação, vem desenvolvendo algumas atividades nas áreas de abrangência da paróquia local, visando à diversificação da produção e à melhoria da qualidade de vida dos produtores da região. Para isto, a FFA tem buscado apoio de algumas entidades para capacitar e acompanhar os produtores no desenvolvimento das atividades agrícolas, tais como: apicultura (mel orgânico), criações de animais de pequeno porte (caprinos e galinhas caipiras), cultivo de espécies alimentares, oleaginosas e fibrosas. Neste contexto, a Embrapa Algodão tem sido uma empresa parceira da FFA desde o ano de 2003. Foto: Vicente de Paula Queiroga O primeiro trabalho realizado no município de São Francisco de Assis do Piauí pela Embrapa Algodão foi com a cultura do algodão. Antecipadamente, foi ministrado pelos técnicos da Embrapa um curso teórico de capacitação para os produtores. Em dezembro de 2003, foram instaladas 10 UTDs (Unidade de Teste e Demonstração) nas cinco comunidades (duas UTDs por comunidade) com a participação de mais de 400 produtores. Nos anos seguintes, a FFA continuou com a parceria com a Embrapa Algodão, para a transferência de tecnologia para os cultivos de algodão, mamona e gergelim, sempre usando a metodologia de UTDs. No final de agosto de 2007, um novo curso de gergelim orgânico foi ministrado pelos técnicos da Embrapa Algodão para capacitação de 200 produtores de seis comunidades rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí-PI (Figura 1): Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Vale destacar que a FFA conta com o apoio técnico permanente de quatro agentes comunitários. Fig. 1. Curso de capacitação sobre o gergelim orgânico para os produtores de São Francisco de Assis do Piauí, data: 27 a 29 de agosto de 2007 19 Há uma conscientização efetiva por parte dos produtores do município de São Francisco de Assis do Piauí-PI em buscar culturas ecologicamente corretas, que não agridam o meio ambiente da sua região, pelo fato se empenharem, há mais de 15 anos, em outras atividades da Rede Ecológica, com a exploração do mel orgânico, importante atividade econômica na região. Sob as condições adversas da safra de 2007, a qual foi caracterizada por um inverno bastante irregular e uma precipitação pluvial máxima de 200 mm, os pequenos produtores de São Francisco de Assis do Piauí-PI plantaram cerca de 30 hectares de gergelim e obtiveram um volume de produção de aproximadamente 7.000 kg de sementes, de forma orgânica, sem uso de defensivos químicos. O desempenho produtivo do gergelim superou as expectativas dos produtores, em relação a outros cultivos tradicionais, como os de milho, mamona e feijão, os quais são importantes para o ambiente dessa região em conjunto com essa experiência ecológica de produção e a rusticidade do gergelim. Uma vez definida a nova cultivar de gergelim BRS Seda, de cor branca, espécie que veio se juntar às demais culturas de subsistência, a meta da FFA para 2008 foi ampliar a área de cultivo de gergelim orgânico para 100 ha. Este plantio do gergelim ecológico no município de São Francisco de Assis do Piauí (a 62 km de Simplício Mendes, PI) foi realizado nos dias 28 e 29 de janeiro de 2008, nas seis comunidades rurais citadas anteriormente. Em cada comunidade, foi selecionada uma área de ½ ha de um produtor para funcionar como a UTD matriz (Escola de Campo). Nessas seis UTDs matrizes, os agricultores eram convocados pela rádio local para se reunirem e receberem as aulas práticas diretamente no campo durante as diferentes fases da lavoura do gergelim a partir de orientações de pesquisadores da Embrapa (Figura 2), visando criar um efeito positivo no processo de apropriação tecnológica pelos produtores familiares, cujos conhecimentos adquiridos deverão ser aplicados nos seus lotes (UTDs filiais) e multiplicados aos demais. O projeto delineado pela FFA é transformar os produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí em pequenos empreendedores rurais, visando dar maior sustentabilidade à produção do gergelim orgânico e, principalmente, possibilidades para poderem viver com dignidade na área rural do Semi-Árido brasileiro. Nesse sentido, o nível tecnológico da exploração do gergelim pelas comunidades sofreu alteração, ou seja, o sistema produtivo do gergelim passou Foto: Flávio Tôrres Moura 20 Fig. 2. Tecnologias transferidas pela Embrapa Algodão e apropriadas pelos produtores de seis comunidades, os quais se unem nas UTDs matrizes para realizarem atividades em forma de mutirão. São Francisco de Assis do Piauí, 2008 do estado de "cultura de fundo de quintal" para o de plantio em escala comercial, com lotes de até dois hectares por família. Novas tecnologias como: cultivar recomendada com características de sementes de cor branca e teor de óleo acima de 50%; utilização de plantadeira, que dispensa o desbaste; espaçamentos de 90 cm entre fileiras; época adequada de colheita, indicada pelo amarelecimento do caule, das hastes e das folhas e abertura dos frutos da base do caule; beneficiamento de sementes para evitar a mistura de areia no produto; programação da semeadura, para colheita do gergelim na época de ausência de chuvas; cultivo orgânico; rotação de cultura etc, foram demonstradas nas seis UTDs, pela Embrapa Algodão. Estas ações estratégicas foram suficientes para incrementar, em cerca de 30%, a produção de gergelim nas seis comunidades de São Francisco de Assis do Piauí-PI, que, em organização, podem participar de forma sustentável da economia do município. Já o cultivo de fundo de quintal do gergelim, considerado uma tradição no meio rural nordestino, perpetua a pobreza e destrói a capacidade de competição do produtor no mercado globalizado, principalmente por não aproveitar o potencial econômico do gergelim orgânico e pela pouca opção de cultivo rentável existente para as condições do Semi-Árido do Nordeste. Para se alcançar êxito com a cultura do gergelim orgânico, é necessário fomentar a associatividade dos produtores ao longo da sua cadeia produtiva, 21 visando conseguir maior rentabilidade na sua exploração. Portanto, a verticalização da produção do gergelim poderá ser a próxima meta da FFA, principalmente quando for instalada uma mini usina de extração de óleo de gergelim prensado a frio em São Francisco de Assis do Piauí-PI. Os grãos orgânicos poderão ser utilizados como matéria-prima na elaboração de outros produtos naturais como: cocada, tahine, doce em barra (halawi), gersal, barras de gergelim com mel orgânico, doce caseiro, pão, bolacha, bolo etc. Estes quatros últimos produtos têm potencial para uso na merenda escolar do referido município. No treinamento, a Embrapa Algodão também contemplou o aproveitamento do gergelim, ministrando, para 45 mulheres, o primeiro treinamento para preparação de saborosos produtos culinários, baseados em receitas com gergelim. Segundo os técnicos de tecnologia em alimentos da Embrapa Algodão, a melhor maneira de obter uma oferta exportável competitiva do gergelim orgânico, de qualidade padronizada e com volumes significativos, de acordo com as circunstâncias da região semi-árida do Nordeste, é gerando produtos de qualidade e saudáveis, em conformidade com os requisitos da sustentabilidade ambiental, da segurança alimentar e da viabilidade econômica, mediante a utilização de tecnologias não-agressivas ao meio ambiente e a saúde humana. Especialmente, se recomenda a aplicação e a divulgação de Boas Práticas Agrícolas (BPA) e Boas Práticas de Manufatura (BPM), para que a associação dos produtores de gergelim de São Francisco de Assis do Piauí possa conseguir o selo de certificação de qualidade, devido ao controle do meio ambiente (QUEIROGA et al., 2007). O mercado nacional é limitado e, por este motivo, não valoriza a qualidade do gergelim orgânico tanto quanto o mercado internacional. Esta exportação do gergelim orgânico já vem ocorrendo em pequena escala pelo Brasil, segundo dados levantados por Soares (2004). Outra vantagem da venda do gergelim para o mercado internacional é que os principais países importadores não estabelecem cotas de comercialização, em razão dos mesmos não plantarem gergelim e, portanto, não há concorrência interna com o produto importado. Esta associação de pequenos produtores poderá superar suas principais restrições ao mercado externo, tendo também a oportunidade de aproveitar o potencial agrícola que tem o Brasil frente a outros países competidores internacionais. Esta abertura de mercado irá permitir a agregação de maior valor ao produto gergelim. 22 A questão da exportação de produtos para o exterior depende da organização dos produtores, da qualidade, quantidade e periodicidade do produto e da competência gerencial de quem esteja à frente de uma associação, cooperativa, ou grande empreendedor rural. No caso da associação dos pequenos produtores de gergelim do município de São Francisco de Assis do Piauí este problema não constitui mais um paradigma, porque estes pequenos empreendedores já têm a experiência de vários anos de comercialização da sua produção de mel orgânico para os USA e Europa. Em razão de a experiência técnica de condução das seis UTDs de gergelim instaladas pelas associações de produtores, no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI no ano agrícola de 2008, ter sido bem sucedida, relatam-se neste trabalho as tecnologias e os benefícios socioeconômicos e as oportunidades alimentares geradas pela produção do gergelim orgânico por meio da agricultura familiar. 2. Tecnologias Sociais Desenvolvidas nas UTDs de Gergelim Orgânico Os produtores, orientados por técnicos da Embrapa Algodão, receberam instruções em práticas realizadas diretamente no campo durante as diferentes fases da lavoura do gergelim. Esses técnicos, nas seis UTDS instaladas no município de São Francisco de Assis do Piauí, apresentaram as práticas de manejo do cultivo de gergelim em visitas feitas estrategicamente nos períodos de: 28 a 29 de janeiro de 2008, para realizar o plantio nas áreas previamente preparadas; 17 a 18 de março de 2008, para orientar a eliminação de plantas atípicas, desbaste e controle de pragas com produtos orgânicos; 22 e 23 de abril de 2008, para orientar sobre o corte das plantas de cada UTD e secagem dos feixes; 19 e 20 de maio de 2008, para efetuar a batedura dos feixes, cuidados com a qualidade do produto (não misturar sementes com areia), ventilação e embalagem das sementes de gergelim com baixa umidade; 25 e 26 de junho de 2008, para orientar sobre o armazenamento, beneficiamento e preenchimento de formulários com as despesas de cada UTD. 23 2.1 Certificação do campo orgânico Mesmo em se tratando de pequenas áreas de cultivo, os pequenos produtores nordestinos têm dificuldades para pagar a taxa anual de certificação, junto ao Instituto Biodinâmico - IBD, dos seus campos de gergelim como orgânico (selo verde). Meirelles (2003) destaca que, além do preço cobrado pelo serviço de certificação - o qual é impeditivo para pequenos agricultores - diferentes exigências de selos de cada comprador ou importador, torna este serviço totalmente insustentável. Uma forma de resolver tal problema seria negociar um contrato de terceirização da produção do gergelim orgânico firmado entre os fornecedores da matéria-prima (Fraternidade de São Francisco de Assis) e a indústria de alimentos de produtos naturais; esta indústria ficaria com a responsabilidade de pagar a taxa de certificação dos campos de produção de gergelim e os pequenos produtores apenas assumiriam o papel de cooperados no sistema produtivo do gergelim dessa empresa. Outra exigência adotada pelo IBD para certificação do campo de produção do gergelim orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos só reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas agrícolas manejadas por pelo menos três anos na ausência de defensivos e adubos minerais (SOUZA, 2000). 2.2 Condições de clima e solo Segundo Queiroga et al. (2007), as áreas do Nordeste brasileiro zoneadas para cultivo do algodoeiro, também oferecem as melhores condições climáticas para o cultivo do gergelim. Tomando-se por base esta afirmação, a região semiárida do Nordeste, onde já se plantaram 3,5 milhões de hectares de algodão nos anos 70, poderão constituir-se em uma extensa área para o cultivo do gergelim, quando comparada com outras culturas oleaginosas girassol, mamona e amendoim. A planta de gergelim tem raiz pivotante e é resistente ao estresse hídrico; porém, pode-se obter produtividade superior a 1.000 kg/ha de sementes, se houver boa distribuição de chuvas (500 mm) no seu período de crescimento. A distribuição ótima seria: 35% de chuvas até o início da floração, 45% durante o período de floração, 20% durante o período de formação dos frutos e (0%) no período de colheita (AUGSTBURGER et al., 2000). 24 O gergelim adapta-se a uma grande variedade de tipos de solos, porém, o ideal são solos com boa drenagem, areno-argilosos, férteis e com pH entre 5,4 e 6,7. Valores de pH mais baixos influem drasticamente no crescimento, entretanto, existem variedades que toleram pH até de 8,0. Em condições de irrigação ou de precipitação natural, o gergelim cresce melhor em solos arenosos que em terras pesadas, devido à sua baixa tolerância à retenção de água. Para o plantio de distintas cultivares de gergelim, o MAPA exige que o isolamento mínimo dos campos seja de 1.000 metros para evitar a polinização cruzada pelos insetos, principalmente as abelhas. Já as sementes utilizadas no plantio ecológico não devem ser tratadas com produtos químicos. O gergelim tem apresentado um bom desenvolvimento vegetativo nos solos das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, localizada na região semiárida do Nordeste. Conseqüentemente, a planta fica menos sujeita a infestação de pragas por se tratar de solos de tabuleiros, apesar de que o desempenho produtivo do gergelim não seja bastante promissor, ou seja, a produtividade do gergelim irá depender da fertilidade do solo. Já a incidência de doença nas plantas ecológicas de gergelim é insignificante em São Francisco de Assis do Piauí em razão do clima do município ser caracterizado por baixa umidade relativa do ar e elevada temperatura. A topografia do terreno pode variar, de plana a ondulada, contanto que, em áreas planas não haja problema de encharcamento e nas onduladas ou acidentadas, práticas de conservação sejam observadas e adotadas para evitar erosão do solo; fato que ocorreu na UTD da comunidade Lagoa da Povoação, cujo produtor, Antônio Vital de Souza, deveria ter preparado o terreno em curva de nível, com o auxílio do instrumento pé de galinha (Figura 3). 2.3 Preparo do solo A FFA dispõe de três tratores, os quais são utilizados para atender às diferentes atividades realizadas nas comunidades rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Já na época de chuvas, os tratores trabalham basicamente no preparo das áreas agrícolas. Após as primeiras chuvas ocorridas na região no mês de janeiro de 2008, as áreas destinadas para implantação das UTDS foram aradas e gradeadas com Foto: Tarcísio M. de Souza Gondim 25 Fig. 3. Marcação e preparo do solo em curva de nível: A) - piqueteamento em nível com base no "pé-de-galinha", B) - Marcação da curva de nível por tração animal. trator e com animal (arado de aiveca), exceto a UTD da comunidade de Queimada Nova, que, por falta de chuvas, não pode preparar o campo no referido mês. Foto: Odilon Reny R. Ferreira Silva Foto: Vicente de Paula Queiroga O plantio do gergelim requer um solo bem preparado e limpo (Figura 4), sem torrões e restos de plantas (garranchos secos), para facilitar a semeadura das pequenas sementes com a plantadeira mecânica manual. Por se tratar de um equipamento leve, a irregularidade do terreno, devido à falta de uma boa gradagem, pode contribuir na ocorrência de falhas durante o processo de distribuição das sementes, efetuada por essa máquina. A B Fig. 4. (A) Preparo do solo com arado de aiveca reversível pelos produtores de São Francisco de Assís do Piauí. (B)Topografia plana do terreno e solo bem preparo pelo trator para a semeadura de sementes pequenas de gergelim. 26 2.4 Semeadura manual A época de semeadura é considerada como um tipo de manejo cultural ecológico do gergelim, que pode resultar em maior produção e qualidade dos grãos. A observância da época adequada oferece maior possibilidade de êxito para o produtor dentro das variações de clima a que está sujeita a lavoura na região semi-árida do Nordeste, considerando a grande influência das chuvas sobre a produção, tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA et al., 2007). Recomenda-se iniciar a semeadura quando tiver ocorrido aproximadamente 30 mm, em duas chuvas por semana. Nestas condições o solo apresenta umidade suficiente para a germinação das sementes e desenvolvimento das plantas (BELTRÃO et al., 1989). Os plantios das cinco UTDS realizados nos dias 28 e 29 de janeiro de 2008, pelos produtores de São Francisco Assis do Piauí com o gergelim BRS Seda, foram efetuados em solos preparados por trator e por animal, mas em solo seco. No caso da comunidade de Barreiro Grande, no momento em que foi concluída a semeadura começou a chover; no entanto, nas comunidades de Lagoa do Juá, Lagoa da Povoação, Veredas e Barra Bonita, as precipitações só vieram a ocorrer posteriormente, tendo variado entre três e oito dias depois da instalação das UTDs. Entretanto este tempo sem chuva não comprometeu a germinação das sementes usadas nas UTDs, as quais resultaram em populações de plantas com excelente crescimento e desenvolvimento. Por falta de chuvas para o preparo do solo, não foi possível o plantio da UTD com a plantadeira mecânica manual na comunidade Queimada Nova, no dia 28 de janeiro de 2008 na presença dos técnicos da Embrapa; embora os produtores, que se encontravam no local, tenham recebido uma demonstração prática da semeadura com plantadeira mecânico-manual. A produtora responsável por essa UTD(Justina Lopes de Souza), só conseguiu semear o gergelim no dia 20 de fevereiro de 2008, manualmente, após duas tentativas frustrantes. Segundo ela, essas duas perdas foram devido aos fatores naturais de estiagem, lagarta e formigas. A semeadura dessa unidade demonstrativa, de apenas 0,5 ha, além de ter demorado dois dias para ser efetuada manualmente, foi realizada muito tarde, pois as chuvas apenas foram registradas no município de São Francisco de Assis do Piauí até o dia 10 de abril. 27 Foto: Sérgio Cobel da Silva A profundidade uniforme da semeadura (1,5 - 2,5 cm) é importante para a germinação. Seu controle, o plantio manual, é feito com uma espécie de "riscador" que marca a profundidade de plantio e risca o campo a ser semeado; em seguida, a semeadura manual é realizada por meio de uma lata com furo no fundo (Figura 5) ou com a mão em covas ou sulcos, utilizando-se o pé para cobrir as sementes com terra. Por serem muito pequenas, as sementes que ficarem abaixo de 2,53,0 cm demorarão a emergir e, se não houver umidade suficiente, não germinarão. O consumo de sementes neste sistema de plantio é de 3 kg por hectare e podem ser necessários até três dias para plantar um hectare; também é necessário realizar o desbaste (eliminação do excesso de plantas), o que representa em torno de 10% dos custos de produção. Esta modalidade de plantio foi executada não apenas pela proprietária, Justina Lopes de Souza, na UTD da comunidade Queimada Nova do município de São Francisco de Assis do Piauí, mas por vários produtores de gergelim do referido município. Fig. 5. Semeadora manual apropriada para plantio em covas, usando garrafa pet e lata com furo. 2.5 Plantio com semeadora mecânica manual Atualmente, a FFA conta com duas máquinas semeadoras, compradas ao fabricante, Luiz Leme, da cidade de Várzea-PB, que foram insuficientes para plantar a área de gergelim, cerca de 60 ha, na safra 2008, nas seis comunidades envolvidas na programação, no município de São Francisco de Assis do Piauí. Para que haja incentivo a essa cultura, é necessário reduzirem-se os custos de produção;com o uso desta semeadora pode-se reduzir a mão-de-obra no plantio 28 de um hectare, de cinco dias homem-1 para menos de duas horas e elimina-se a despesa com a mão-de-obra do desbaste. Verificou-se que a semeadora testada nas cinco UTDs atendeu às expectativas dos produtores, necessitando apenas um ligeiro raleamento das plantas de gergelim. Os técnicos da Embrapa Algodão, detectaram apenas a necessidade de um pequeno ajuste na máquina - reduzir em menos um o número de furos no cilindro de PVC (100 mm) de distribuição de sementes ou reduzir o tamanho do orifício de saída das sementes nos dois cilindros de PVC. A regulagem da semeadora foi mais demorada na primeira UTD da comunidade Lagoa do Juá, pertencente ao produtor Francisco Mariano Teixeira, durante a visita dos técnicos da Embrapa, no dia 28 de março de 2008. Em primeiro lugar, com auxílio de uma trena, foi determinado o espaçamento de 90 cm entre as duas pequenas rodas, as quais têm como função a abertura dos sulcos rasos de semeio de sementes de gergelim (Figura 6). Estas rodas estão apoiadas por molas, o que permite acoplá-las nas duas barras fixas da máquina e devem ser fixadas a estas peças com bastante pressão, para suportar as irregularidades do terreno durante a operação de plantio. Caso o produtor precise alterar o espaçamento na máquina, basta deslizar as referidas peças de metal com as pequenas rodas na barra fixa. Foto: Severino Carvalho Logo atrás das pequenas rodas, há duas barras são fixas na máquina, às quais estão acoplados dois cones invertidos de zinco, que fazem o papel da Fig. 6. Regulagem da plantadeira e marcação das linhas de plantio do gergelim nas UTDs das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí-PI, 2008. 29 "mão" do plantador. Eles recebem as sementes de gergelim que caem dos furos dos dois cilindros de PVC (100 mm) de distribuição de sementes; cada um desses cones invertidos possui uma pequena mangueira rígida na sua parte inferior, que se arrasta em contato com o solo. No final de cada fileira, quando a máquina é manobrada por dois homens, para se iniciar o plantio da próxima fileira, pode acontecer que a mangueira entorte e se desaprume, devido ao movimento involuntário de baixar a máquina; como a mangueira a é parte da máquina que entra primeiro em contato com o solo, recebe toda a pressão do peso da máquina e acaba se entortando. Portanto, é necessário a atenção do operador da máquina para desentortá-la manualmente; ela também pode perder sua rigidez natural e entortar, normalmente, durante o plantio, pela ação do calor forte do meio-dia na região de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Foto: Luiz Leme Após os cones invertidos, são fixadas mais duas barras, às quais estão acopladas duas correntes pequenas. A parte da corrente que se arrasta no solo faz o papel do pé de um trabalhador de campo, cobrindo as sementes no sulco, com uma camada muito leve de solo (Figura 7). No plantio manual, é comum que o pé do operário, ao cobrir as pequenas sementes no sulco ou covas, jogue uma pesada camada de solo, o que pode dificultar a emergência das plântulas e ocasionar falhas no estande. Fig. 7. Plantadeira de gergelim arrastando a corrente no solo para cobrir as sementes nos sulcos no plantio do gergelim nas UTDs das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí-PI, 2008. 30 Foto: Luiz Leme Antes do plantio, recomenda-se ajustar a máquina, deixando bem alinhadas as correntes e as mangueiras dos cones invertidos em relação às duas pequenas rodas de abertura dos sulcos, as quais estão posicionadas na frente do referido equipamento. Esta regulagem prévia do equipamento, embora demande cerca de 30 minutos, é indispensável, pois esse ajuste na máquina - a qual foi programada para semear duas linhas por cada percurso realizado - irá melhorar a eficiência da semeadura (Figura 8). Com base neste desempenho da máquina, é possível deduzir-se que ela executa o trabalho de seis pessoas ao mesmo tempo. Fig. 8. Semeadora mecânica manual de duas linhas usada no plantio do gergelim nas UTDs das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí-PI, 2008. Durante a semeadura com a plantadeira no espaçamento de 90 cm, usase uma corda para servir como guia da roda grande de bicicleta da máquina. Uma vez determinada à primeira linha de plantio no terreno (linha mestre, que deve ser em nível, em terreno declivoso), os produtores em cada extremidade do campo marcavam com piquetes suas cabeceiras, usando varas do tamanho de 180 cm (dobro do espaçamento de 90 cm), visando à marcação das demais linhas paralelas de plantio do campo. Em seguida, os produtores se posicionavam em cada linha riscada do terreno (extremidades do campo) e colocavam os piquetes para esticar a corda, no momento em que iniciava o trabalho de semeadura da máquina de duas linhas de plantio, por onde deveria passar a roda grande da máquina (Figura 9). 31 Foto: Luiz Leme Fig. 9. Marcação da distância entre as cordas, determinada em cada extremidade do campo com auxílio de uma vara de 180 cm, no plantio do gergelim nas UTDs das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí-PI, 2008. Após o plantio de cerca de ¼ha, o produtor reabastecia o cilindro de distribuição de sementes (Figura 10), com uma quantidade de sementes, que deve ficar, no máximo, um pouco acima da metade do cilindro, de maneira a permitir o movimento das sementes, principalmente quando a máquina se encontra em plena atividade no campo. Em 2009, a FFA adquiriu dez máquinas semeadoras (total 12). Recentemente, uma máquina de plantio de gergelim de uma linha foi idealizada pela Embrapa Algodão para atender aos pequenos produtores familiares da região semi-árida do Nordeste (Figura 11). Caso o produtor de gergelim se Fig. 10. Reabastecimento do depósito da plantadeira manual de gergelim com ajuda de um funil. Foto: Vicente de Paula Queiroga 32 Fig. 11. Semeadora mecânica manual de uma linha desenvolvida pela Embrapa Algodão para o plantio de sementes de gergelim. interesse em criar sua própria máquina de plantio, é mais simples e barato e o desenvolvimento de um equipamento com o mecanismo de semear uma linha, embora no plantio de um hectare, gaste-se o dobro de tempo em comparação com a máquina de duas linhas. Outro equipamento, que pode ser adaptado pelo produtor para a semeadura do gergelim, é uma máquina adubadora. Para melhorar a eficiência da semeadura, devido ao pequeno tamanho das sementes de gergelim, recomenda-se passar uma determinada quantidade de esterco curtido numa peneira para ser transformado em pó (MAZZANI, 1999); o qual deverá ser usado em mistura com a semente, na proporção de 10 a 20% de sementes de gergelim para cada quilo de esterco em pó. Essa mistura homogeneizada deve ser colocada num depósito do equipamento da adubadora manual, cujo mecanismo de distribuição pode ser de uma ou de duas saídas (Figura 12). O espaçamento entre as duas linhas feitas pelo equipamento deverá ser de 75 a 80 cm. Com este sistema de plantio não é preciso efetuar o desbaste, mas devem-se considerar as boas condições de umidade do solo. 2.6 Sementes de cor branca Agregar valor é alternativa viável para pequenos produtores, que organizados podem incrementar os lucros da atividade agrícola. No mercado convencional, assim como no ecológico, a semente branca e uniforme de gergelim Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Jair Luiz Hermes 33 Fig. 12. Adubadora manual de duas linhas que pode ser adaptada para plantio de sementes de gergelim quando misturadas com esterco em pó: A) máquina com distribuidores paralelos de sementes; B) esquema de linhas de semeadura. tem maior demanda, em razão do maior rendimento do óleo da cultivar BRS Seda (51%) e pela elaboração da farinha para alimentação humana (sem o gosto amargo), quando as sementes são despeliculadas (MAZZANI; LAYRISSE, 1998). O gergelim é exportado principalmente sob três formas: natural sujo de campo, natural limpo de campo e despeliculado. Cada uma apresenta diferentes níveis de processamento, de custos de beneficiamento e de valorização do produto. No entanto, quando a produção de gergelim se destina à exportação, apenas as duas últimas formas atendem à qualidades demandadas pelo mercado externo. A forma natural suja de campo tem uma demanda restrita e seu preço inviabiliza a exploração da cultura (IICA, 2004). Para as comunidades familiares do Nordeste, deve ser aberto mercado para o gergelim despeliculado, incentivando o plantio das cultivares com grãos brancos. Por sua aparência branca e sabor doce, as variedades mais utilizadas no descascamento têm sido Caribe, Inamar e Mejicana. Além da venda das sementes despeliculadas, em geral, estas variedades com grãos brancos de gergelim devem possuir teor de óleo superior a 50% (IICA, 2004). A capacidade instalada dos descascadores de grãos de gergelim nas comunidades terá que ser dimensionada em função do tamanho dos mercados interno e externo. 34 Foto: Vicente de Paula Queiroga Em dezembro de 2007, a Embrapa Algodão lançou uma nova variedade de gergelim de sementes brancas (Figura 13), denominada BRS Seda (EMBRAPA ALGODÃO, 2007). Suas principais características são: ciclo de 85 a 89 dias, início da floração aos 35 dias, porte médio, cor branca das sementes, produtividade de 1.000 kg ha-1, teor de óleo de 51%, tolerante à seca e frutos deiscentes. Futuramente, a Embrapa Algodão deverá lançar a primeira cultivar de gergelim indeiscente (frutos amadurecidos não abrem) e de cor branca, sendo mais indicada para a colheita mecanizada. Fig. 13. Sementes brancas de gergelim da cultivar BRS Seda (material limpo). 2.7 Espaçamento Nas regiões semi-áridas do Nordeste, a semeadura requer aumento das distâncias entre fileiras de 75 a 100 cm e entre plantas de 10 a 15 cm. Este espaçamento dependerá das condições climáticas das distintas microrregiões existentes na referida região. Maior distância propicia a ramificação das plantas, mesmo em se tratando de variedades não ramificadoras. Os produtores de cinco UTDs das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, que usaram a plantadeira mecânica manual, adotaram o espaçamento entre fileiras de 90 cm. Enquanto na UTD da comunidade de Queimada Nova, o espaçamento utilizado foi de 100 cm entre fileiras, porque o plantio da unidade demonstrativa foi manual. 35 2.8 Desbaste Esta operação foi realizada integralmente na UTD da comunidade Queimada Nova, por Justina Lopes de Souza, que utilizou o plantio manual de sementes de gergelim, o que a obrigou a colocar grande quantidade de sementes por cova ou sulco. Esta prática deverá ser feita com o solo úmido e em duas etapas. Beltrão et al. (1994) recomendam que o primeiro desbaste seja realizado quando as plantas estiverem com quatro folhas, deixando-se quatro ou cinco plantas por unidade de espaçamento, e o segundo, quando as plantas atingirem 12 a 15 cm de altura; ou seja, entre 18 a 30 dias após a emergência das plântulas. Se ultrapassar os 30 dias, pode ocasionar significativa queda na produção. Com o uso da semeadora manual nas UTDs das comunidades Lagoa do Juá, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita, a eficiência de plantio, em boa parte das áreas plantadas, foi boa com um "stand" (ideal) entre 10 e 15 plantas por metro linear.Nas áreas onde houve irregularidade na distribuição das sementes, com um "stand" (elevado) entre 16 e 20 plantas, realizou-se desbaste. 2.9 Produção de mel orgânico A introdução de colméias de abelhas no plantio ecológico do gergelim durante o período de floração constitui-se no maior objetivo dos pequenos produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. Nos últimos 15 anos, foi implantado este programa de produção de mel orgânico no município vizinho de Simplício Mendes-PI (Figura 14). Através da Associação dos Apicultores da Micro Região de Simplício Mendes, este mel é exportado para a Europa e os Estados Unidos. A sua produção de mel em 2007 superou os 120 mil litros. A produção do mel natural é um investimento simples e lucrativo e a floração do gergelim é muito atrativa às abelhas, apesar de ser considerada uma espécie autógama. A polinização cruzada pode variar de 15% até 65% e Rao et al. (1980) afirmam que, mediante a polinização cruzada, o produto obtém melhor qualidade pela maturação uniforme e acelerada, além de maiores rendimentos de gergelim. Foto: Paulo José da Silva 36 Fig. 14. Unidade de beneficiamento de mel orgânico da Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) de Simplício Mendes-PI, sendo esta associação de apicultores conhecida como Nutritivomel. 2.10 Adubação No Nordeste, as possibilidades de fertilização mais importantes na produção ecológica do gergelim são a utilização de adubo verde - através da incorporação da vegetação nativa, 30 dias antes da semeadura do gergelim - e a aplicação de adubos orgânicos. O fator limitante para a obtenção de altos rendimentos do gergelim é a disponibilidade, principalmente, de nitrogênio e fósforo. Portanto, as deficiências destes elementos no solo podem ser compensadas pelo uso dos adubos orgânicos e pela aplicação de rocha fosfórica em pó ou farinha de ossos, antes da preparação do terreno. Foi constatada a presença de plantas de gergelim pouco vigorosas na UTD da comunidade de Lagoa da Povoação, por se tratar de um solo inclinado e propenso à erosão - em que não se tomaram medidas preventivas em outros cultivos tradicionais - e cuja fertilidade é baixa. Para a recuperação do solo pobre em matéria orgânica, recomenda-se a aplicação de 20 toneladas de esterco de curral bem curtido por hectare. Já na comunidade Veredas, a UTD de Raimundo Bento de Souza, que recebeu uma aplicação de biofertilizantes aos 47 dias após a emergência das plantas, apresentou plantas mais vigorosas e com um dos melhores rendimentos em grãos. 37 Segundo Queiroz Filho (2005), o processo de produção de biofertilizantes é bastante simples, basta que o produtor tenha esterco de curral disponível na sua comunidade para fazer o preparo descrito a seguir. Numa lata de 20 litros, deve-se colocar meia lata (10 litros) de esterco de curral curtido, cerca de 250 gramas de esterco de galinha e 250 gramas de açúcar (cristalizado ou refinado). Completar com água, deixando-se um espaço de 8 a 10 centímetros antes da borda acima, para evitar transbordar e fechar muito bem a boca da lata, vedando com um saco plástico bem amarrado e deixar por cinco dias em repouso (fermentação anaeróbica). Após esse período, a calda está pronta e deve ser diluída, misturando-se 1 litro da calda para cada 10 litros de água. 2.11 Capinas Devido ao tamanho reduzido da semente, a planta jovem do gergelim se desenvolve lentamente nos primeiros 25 dias, sendo bastante sensível à competição imposta pelas plantas daninhas (BELTRÃO et al., 1997). Para a cultivar BRS Seda - de porte médio, de ciclo precoce (85 dias da emergência à colheita), haste de coloração verde e de hábito de crescimento ramificado -, o período crítico de competição com as plantas daninhas tem sido estimado nos primeiros 45 dias da emergência da cultura, nos experimentos conduzidos pela Embrapa Algodão, sem causar o comprometimento do seu rendimento final. Embora os pequenos produtores tenham realizado apenas uma limpa entre os 10 a 20 dias após sua germinação do gergelim, na fase de colheita, constatouse, nas seis UTDs, das distintas comunidades de São Francisco de Assis do PiauíPI, a ausência de ervas daninhas. Provavelmente, o espaçamento adotado, 90 cm entre fileiras, tenha colaborado para reduzir emergência das ervas daninhas. Os instrumentos utilizados pelos produtores no controle do mato na lavoura orgânica foram: cultivador, entre fileiras, e enxada, entre plantas, ou roço. 2.12 Doenças Na comunidade de Barreiro Grande, do município de São Francisco de Assis do Piauí, houve incidência da doença causada pelo fungo Cercospora sesami, apesar de não ter causado perdas significativas da produção. O que propiciou a 38 infestação da lavoura pelo fungo foi o excesso de chuvas ocorridas na localidade desta referida UTD. O controle fitossanitário biológico mais recomendado por Queiroga et al. (2007) para as principais doenças (cercosporiose, mancha-angular, podridãonegra-do-caule e a murcha-de-fusarium) que ocorrem na região semi-árida do Nordeste são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais doenças da cultura do gergelim. 2.13 Pragas Com relação ao controle ecológico das pragas do gergelim, Augstburger et al. (2000) estabelecem as seguintes medidas de prevenção: 1- Fomentar os predadores naturais (por exemplo, criar um ecossistema com árvores, arbustos, plantio diversificado, impedir a queima dos roçados na região etc); 39 2- Rotação de cultivos sob critério de exclusão de plantas hospedeiras; 3- Semeadura mista para a diversificação do sistema agroecológico, assim algumas pragas se desorientam e os predadores são favorecidos. 4- Cultivo de flores amarelas (girassol) ao redor dos campos de gergelim; a cor da flor atrai as pragas, que são controladas de forma preventiva. 5- No campo e ao seu redor, destruir os resíduos da colheita do gergelim e plantas hospedeiras. Com relação à infestação de insetos, houve ataque de lagarta, formigas e cochonilhas nas lavouras de gergelim das comunidades de Barreiro Grande e Veredas, o que obrigou a realização de replantio parcial das pequenas áreas afetadas das UTDs. Nessa última comunidade, a UTD foi pulverizada com a mistura de Calda Sulfocálcica (500 mL) + óleo bruto de algodão (300 mL) + detergente neutro (50 mL) para combater a cochonilha, evitando maiores danos econômicos à cultura. A lavoura do gergelim em Queimada Nova foi mais afetada pela estiagem no estádio inicial da lavoura e agravada pelo ataque de lagartas e formigas, o que implicou em replantio total da UTD. Cuidados preventivos devem ser tomados no controle dos formigueiros dentro e próximo à área de plantio do gergelim. Apenas as UTDs das comunidades de Lagoa do Juá, Lagoa da Povoação e Barra Bonita ficaram livres de ataque de pragas durante todo o ciclo da cultivar BRS Seda (95 dias). Na Tabela 2, estão apresentadas medidas de controle ecológico das principais pragas do gergelim, constatadas em lavouras da região Nordeste. 2.14 Preparação de macerados Ainda existe no meio rural aquela mentalidade de que "na cultura orgânica, a planta é resistente às pragas", o que leva alguns produtores a apenas replantarem o campo sem pulverizarem as áreas atacadas por pragas, com os produtos naturais (bioinseticidas). Embora tenha sido ministrado um curso sobre preparação de bioinseticidas, pela empresa Terra Ecológica de Petrolina-PE, para 40 Tabela 2. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais pragas da cultura do gergelim. os produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, alguns produtores não tomaram as devidas medidas de controle com a preparação e pulverização de bioinseticidas. Conseqüentemente, houve pequena incidência de pragas no estádio inicial da cultura (lagartas e cochonilhas), sendo sua proliferação favorecida pela instabilidade das chuvas, que são freqüentes no Semi-Árido do Nordeste. 41 Antes do plantio do gergelim, os próprios produtores familiares de cada comunidade devem preparar os macerados para combater as seguintes pragas: lagarta, mosca-branca, pulgão e cochonilha (Figura 15). Segundo Beltrão e Vieira (2001), as lagartas causam danos em folhas terminais, brotos, flores, cápsulas e sementes (Figura 16). Foto: Lúcia Helena Avelino Araújo Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 15. Preparação dos bioinseticidas para combater pragas na cultura do gergelim como mosca-branca, cochonilha, pulgão e lagarta. Fig. 16. Planta de gergelim atacada pela lagarta-enroladeira (Antigastra catalaunalis). 42 No início do inverno na região semi-árida, é freqüente o ataque de lagarta na lavoura de gergelim e recomenda-se preparar o seguinte macerado para o combate (QUEIROZ FILHO, 2005): 2.15 Macerado para lagarta a) Pimenta malagueta (Capsicum frutescens) 200 g de pimenta malagueta; 1 litro de álcool; Misturar a pimenta e o álcool no liquidificador e deixar repousar por uma semana para cura; Depois desse tempo deve coar em pano e acrescentar 100 mL de detergente neutro; Mais 200 mL de óleo de algodão; Utilizar apenas quatro colheres de sopa para cada pulverizador costal de 20 litros; Pulverizar a cada dois dias, nas primeiras horas da manhã, ou ao final da tarde. Fig. 17. Planta de gergelim atacada por pulgões (Aphis sp). Foto: Tarcísio Marcos de Souza Foto: Sérgio Cobel da Silva Segundo Beltrão e Vieira (2001), os pulgões vivem em colônias, são sugadores, o ataque concentra-se em reboleiras, propiciam o desenvolvimento de fumagina e são vetores de viroses (Figura 17). 43 Recomenda-se preparar o seguinte macerado para controle de pulgão e lagarta (DANTAS, 2001): 2.16 Macerado para pulgão a) Cebola (Allium cepa L.) e alho (Allium sativum) Três cebolas médias Cinco cabeças de alho 10 litros de água Triturar as cebolas e alho, misturando aos 5 litros de água; Coar em pano fino, para evitar entupimento do pulverizador, e adicionar à mistura (solução) mais 5 litros de água; Pulverizar ao final da tarde com pulverizador costal de 10 litros 2.17 Macerado para pulgão e lagarta a) Folhas de urtiga (Fleurya aestuans L.) 01 kg de folhas de urtiga picadas 2 litros de água Passar as folhas com a água no liquidificador ou pilão (esmagar e mexer bem) e deixar em repouso por dois dias, para cura; Coar, para evitar o entupimento do pulverizador; Adicionar o conteúdo para cada pulverizador costal e completar o volume com água para 20 litros. b) Folhas de angico (Piptadenia colubrina) 01 kg de folhas de angico picadas; 10 litros de água Passar as folhas com a água no liquidificador e deixar de molho por 8 dias para cura; Coar, para evitar o entupimento do pulverizador costal; Usar 5 litros do extrato no pulverizador costal com capacidade de 20 litros; 44 Segundo Beltrão e Vieira (2001), o dano direto ao gergelim da moscabranca é provocado tanto pelo inseto adulto como pelas ninfas que se estabelecem em colônias, na fase inferior das folhas, onde sugam a seiva da planta. Altas infestações provocam a "mela" e atua como vetor de viroses do grupo geminivirus. Sua infestação é mais freqüente em período de estiagem ou veranicos. Recomenda-se preparar o seguinte macerado para mosca-branca adulta e ninfa (BELTRÃO; VIEIRA, 2001; DANTAS, 2001; DIACONIA, 2006): 2.18 Macerado para mosca-branca adulta a) Folha de fumo (Nicotiana tabacum) Fazer repelente do extrato, cozinhando 2 kg de folhas de fumo em 3 litros de água, durante 10 minutos; Depois de frio, coar o material em pano e usar um copo da solução do extrato em 10 litros de água para pulverização. Manter o produto sempre guardado em garrafa escura e lacrado. b) Urina de vaca Coletar urina de vaca na hora da ordenha; Colocá-la num recipiente lacrado; Deixar no mínimo três dias de repouso para fermentar (liberar a amônia); Diluir 200 mL de urina para 20 litros de água do pulverizador; Se necessário aplicar a cada três dias; Não deve ser aplicada no período de floração, pois induzirá a planta ao aborto. 2.19 Macerado para ninfas da mosca-branca Aplicar detergente neutro, na dosagem de 180 a 200 mL para 20 litros de água ou através de sabão neutro - dissolver 100 mL em 1 litro de água e acrescentar água até completar 20 litros no pulverizador costal. Aplicar pela manhã com os jatos dirigidos à parte inferior da folha para controle dos insetos (Figura 18). Foto: Tarcísio Marcos de Souza Foto: Lucia Helena Avelino Araújo 45 Fig. 18. Planta de gergelim atacada pela mosca-branca Bemisia tabaci/ B. Argentifolii, nas fases adultas e de ninfas, sendo estas últimas mais vulneráveis aos bioinseticidas. O sabão serve para repelir a mosca-branca. Picar 500 gramas de sabão para ser desmanchado em 5 litros de água quente, sendo necessário mexer bem para dissolver o sabão. Pulverizar esta mistura morna sobre as plantas (35 oC). Segundo Guerra (1985), as cochonilhas são extremamente pequenas e o seu controle na fase larval é mais eficiente (Figura 19). Antes de o inseto formar a carapaça (escudo protetor), apresenta o corpo recoberto por secreção cérica branca, assumindo aspecto semelhante à farinha de mandioca, sobre os galhos infestados, nas formas estranhas filamentosas ou pulverulentas. Nesta oportunidade, os bioinseticidas também oferecem boa eficiência. O macerado recomendado para cochonilha foi utilizado pelo produtor Raimundo Bento de Souza da comunidade de Veredas e controlou eficientemente essa praga na pequena área atacada (reboleira) da UTD de gergelim; a calda sulfocálcica usada na mistura foi adquirida já pronta no comércio de Petrolina-PE (AGROBOM). 2.20 Macerado para cochonilha 500 mL de calda sulfocálcica; 300 mL de óleo bruto de algodão; Foto: Tarcísio Marcos de Souza 46 Fig. 19. Ataque de cochonilhas em reboleira, no cultivo de gergelim: A) - murchamento de planta como sintomas do ataque; B) - detalhe da cochonilha e pulgões na parte apical da planta. 50 mL de detergente neutro; Diluir a mistura no pulverizador costal com 19 litros de água e pulverizar a cada 15 dias 2.21 Planta de neem O neem é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto ativo, o Azadirachtina indica, controla os insetos impedindo sua metamorfose em fase de larva, além de repeli-los. Os insetos que se mostraram mais sensíveis ao neem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultados de pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-docartucho do milho (Figura 20), curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiro e cochonilhas. Além de inseticida, a planta de neem tem efeito como repelente, inibidora de crescimento da praga, fungicida e nematicida. Para reduzir os custos de produção do gergelim, a FFA de São Francisco de Assis do Piauí distribuiu mudas de neem para serem plantadas pelos produtores nas seis comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Para se tornar auto-suficiente na produção de bioinseticidas à base de neem, é necessário manterem-se, pelo menos, 50 plantas desta espécie em cada comunidade (Figura 21). Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Lúcia Helena Avelino Araújo 47 Fig. 20. Planta de gergelim atacada por lagarta militar do gênero Spodoptera ssp. Fig. 21. Pequeno bosque de neem com o mínimo de 50 plantas para atender cada comunidade de produtores familiares e que pode também funcionar com barreira quebra-vento, ou área de arborização da propriedade. O rendimento dos frutos do neem varia entre 25 e 50 kg por árvore, de acordo com a temperatura, umidade, tipo de solo e genótipo da planta. Normalmente, 50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as quais produzem em média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de sementes secas contém aproximadamente 3.000 unidades (SOARES et al., 2003). Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de neem devem ser 48 colocadas ao sol, em camadas finas, sobre terreiros cimentados. Deve-se evitar o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Esta operação requer um único dia de sol, já que posteriormente, as sementes devem ser transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cerca de oito dias. Foto: Vicente de Paula Queiroga Os extratos de neem podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura 22), embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração (SOARES et al., 2003). Fig. 22. Produtor colocando as folhagens de neem (cortadas e maceradas no pilão) dentro do tambor para preparo de solução. Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem, consiste no recolhimento e acondicionamento das sementes do neem em sacos de aniagem, para permitir boa aeração e evitar, o aparecimento de fungos patogênicos que possam causar deterioração das mesmas. Satisfeitas essas condições básicas, as sementes de neem podem ser armazenadas por mais de um ano. As recomendações dos preparos dos macerados de neem para sementes despolpadas e folhagem com talos tenros, estão indicadas respectivamente nos trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003). 49 2.22 Macerado para lagartas, pulgões, cigarrinha-verde e moscabranca a) Sementes despolpadas Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados; Após isso as sementes são secas, raladas e imersas em água,na proporção de 30 a 40 g de sementes por litro de água. Deixar em repouso por dois dias para cura. Coar, acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume do pulverizador com água. Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes. Da prensagem da semente pode resultar o óleo e o extrato aquoso. Este extrato pode ser transformado em pó ou em torta prensada para uso como bioinseticida. b) Folhagem e talos tenros 1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40 a 50 g de folhas por litro de água) Passar no liquidificado com 2 litros de água (ou macerado no pilão) Deixar os 20 litros da mistura em repouso por 2 dias para cura; Coar e acrescentar 10 mL de detergente neutro; Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30 a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas. Outra estratégia de uso do neem para o controle de formigas (Figura 23) seria alimentar a cada três dias os formigueiros com folhagem de neem e, fazendo esta substituição regularmente, as formigas deixam de visitar o campo de gergelim. 2.23 Colheita: época do corte manual das plantas A colheita manual mais utilizada no nosso meio consiste no corte da base das plantas com a serra de capim ou facão afiado (Figura 24), devendo ser realizado o corte da haste das plantas na altura da inserção dos primeiros frutos Fig. 24. Corte manual das plantas de gergelim (frutos deiscentes) no ponto de colheita. Fig. 23. Ataque de formigas saúvas (Atta spp) em cultivo de gergelim que pode ser controlado com folhas de neem, renovando as folhagens sobre o formigueiro a cada três dias. Foto: Marenilson Batista da Silva Foto: Tarcísio Marcos de Souza 50 51 (15 a 30 cm), de modo a evitar que os feixes de gergelim fiquem grandes e para não causar dificuldades para o agricultor durante sua batedura sobre lona. Uma maneira de se determinar a época mais oportuna do corte das plantas de gergelim é através da observação do amarelecimento dos frutos, hastes e folhas, durante a maturação (BELTRÃO et al., 1994). Geralmente, a época do corte das plantas de gergelim é determinada pelo produtor pela maturação dos frutos da base do caule, mesmo que os frutos dos ápices do caule estejam imaturos. Apenas o produtor está tentando prevenir a caída das sementes (frutos deiscentes). Quando o produtor antecipa a colheita aumenta a produção de sementes imaturas com menor teor de óleo, de menor influência no rendimento da cultura (perdas invisíveis). Segundo Fonseca (1994), a operação de colheita será realizada assim que as hastes, folhas e cápsulas atingirem o amarelecimento completo, e antes que as cápsulas estejam totalmente abertas. As cápsulas da base, nas cultivares deiscentes, abrem-se mais cedo, o que indica o momento exato para se iniciar a colheita. Este ponto exato do corte das plantas de gergelim recomendado por Fonseca (1994) está de acordo com os trabalhos experimentais conduzidos por Mazzani (1983), de que as plantas de gergelim colhidas mais tarde, quando os frutos da base das hastes começam a abrir-se, produzem sementes em maior número e de maior tamanho. Este é o momento exato da colheita, pois daí em diante a deiscência dos frutos progride rapidamente, chegando àqueles localizados no topo da planta, mesmo que sejam constatados no campo perdas visíveis de sementes, mas consideradas essas perdas insignificantes. Mesmo assim, Mazzani (1999) afirma que quando se retarda por três dias o corte das plantas pode representar incremento de 30% no rendimento de sementes, ou seja, desde que o momento exato do corte coincida com o início da abertura dos frutos baixeiros das plantas deiscentes de gergelim. O plantio do campo de gergelim da cultivar BRS Seda (frutos deiscentes) deve ter articulação com a capacidade diária de corte das plantas do produtor. Isto significa que um determinado produtor de São Francisco de Assis do Piauí não poderia plantar com a máquina manual de duas linhas (Figura 8) o seu campo de 2,5 ha de gergelim em um só dia. Mesmo que a capacidade de plantio do referido equipamento seja de 4 ha dia-1, o ideal seria o produtor dividir sua área total de 2,5 ha em 5 parcelas ou lotes com piquetes (Figura 25), sendo que cada Foto: Vicente de Paula Queiroga 52 Fig. 25. Campo de gergelim de frutos deiscentes dividido em cinco lotes e cada lote semeado em dias diferentes da semana, visando obter uma sincronização com a capacidade de colheita do produtor. parcela de 0,5 ha seria plantada em dias diferentes da semana, ou seja, iniciaria o plantio da primeira parcela (0,5 ha) numa segunda-feira e terminaria de plantar a última parcela (0,5 ha) na sexta-feira. Outra opção seria o trabalho em mutirão entre os produtores. Por ocasião da colheita, o produtor teria que efetuar em cada parcela de 0,5 ha as seguintes etapas: cortar as plantas e agrupá-las em feixes, amarrá-los com barbantes e, finalmente, fazer a disposição dos mesmos nas cercas de arame (Figura 26) para secagem, sendo todas essas tarefas executadas dentro de uma jornada de 8 horas de trabalho, o que exigiria a mão-de-obra de no mínimo três pessoas para cada parcela de 0,5 ha. No dia seguinte, repetiria as mesmas atividades de colheita do gergelim na segunda parcela de 0,5 ha e, assim por diante, para a terceira, quarta e quinta parcela. Este rendimento da colheita do gergelim de 0,2 a 0,3 ha/hora/homem foi obtido pela Embrapa Algodão no Estado da Paraíba (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Para o inexperiente produtor do Nordeste, sua reação inicial é querer plantar de imediato uma grande área de gergelim deiscente sem saber o que pode acontecer durante sua colheita. Esse fato ocorreu no ano de 2007 no município de Sousa-PB, onde o produtor plantou 10 ha de gergelim deiscente, mas não marcou com piquetes o campo em várias parcelas, conforme o plantio manual realizado diariamente. Esta falta de planejamento na instalação do campo resultou numa drástica perda de sementes durante a colheita, em função da abertura natural dos frutos na maturação (ainda na planta), os quais deixam cair às sementes no chão pela simples ação do vento. Além disso, o produtor terá de saber a duração do ciclo da cultivar (85 dias para BRS Seda) e observar o momento do início da abertura dos frutos na base da haste, pois a colheita do gergelim requer tais cuidados. Foto: Tarcísio Marcos de Souza 53 Fig. 26. Disposição dos feixes de gergelim para secagem em cercas de arame. 2.24 Secagem dos feixes O produtor deve sincronizar o plantio (época) com a colheita do gergelim na ausência de chuvas, para evitar o escurecimento das sementes no fruto, provocado pelo contato com a umidade durante a secagem, o que desvaloriza o produto pelo mercado por perda de qualidade. Além de cada feixe amarrado apresentar cerca de 30 cm de diâmetro (Figura 27), o comprimento deles deve ser o mais curto possível (cortar a planta no início da inserção dos frutos) e devem ser amarrados com duas ou três tiras de caroá ou barbante, deixando-se os ápices direcionados para cima, dependendo da intensidade de vento na região durante o período de secagem. Não se deve usar apenas uma tira de amarração por feixe, pois durante o seu deslocamento pelo campo pode ocorrer perda de sementes, fato que ocorreu com o gergelim da comunidade Lagoa da Povoação, cujo produtor, Antônio Vital de Souza, amarrou a base do feixe com apenas uma fita de caroá. Foto: Marenilson Batista da Silva 54 Fig. 27. Feixe de gergelim com cerca de 30 cm de diâmetro sendo amarrado pelo produtor com tiras de caroá. Os produtores das UTDs nas comunidades Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita prenderam os feixes com duas fitas de caroá ou de polietileno, ficando uma fita na base do feixe e a outra, na sua parte média. Na comunidade Lagoa do Juá, os feixes foram amarrados com três tiras de caroá; a terceira fita prendia o ápice das plantas enfeixadas. Os feixes deverão ser agrupados manualmente em medas ou arrumados individualmente junto às cercas de arame do campo para a secagem natural (Figura 28). Uma vez escorados nas cercas, os produtores das seis comunidades de São Francisco de Assis do Piauí mantiveram todos os feixes amarrados, passando uma corda ou arame de forma trançada, para que eles não inclinassem ou caíssem ao solo pela ação do vento, o qual é freqüente na região nos meses de abril a julho de cada ano. 2.25 Batedura dos feixes e peneração dos grãos Devido ao vento forte na região, os produtores familiares das comunidades envolvidas na programação da FFA fizeram três bateduras para soltar todos os Foto: Vicente de Paula Queiroga 55 Fig. 28. Feixes de gergelim apoiados em arame farpado e escorados em lados opostos na UTD da comunidade Veredas. grãos dos feixes, pois os frutos na planta apresentam idades diferentes e também diferentes níveis de maturação. De modo geral, os batimentos dos feixes ocorreram aos 8, 15 e 22 dias após o corte das plantas de gergelim nas diferentes comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. Caso se necessite complementar a secagem dos grãos após a batedura, é recomendável espalhar uma camada fina de grãos sobre a lona plástica, porque os grãos deverão apresentar umidade entre 4 e 6%. O produtor não pode esperar que todos os frutos dos feixes estejam completamente secos para efetuar uma só batedura, porque tal economia de mão-de-obra adotada pelo mesmo poderá comprometer significativamente sua produção de gergelim da cultivar BRS Seda. Ou seja, essa exposição demorada dos feixes por mais de 20 dias no campo contribui bastante pela caída ao chão dos grãos de cápsulas secas pela ação do vento, o qual é bastante freqüente na região semi-árida do Nordeste após o período das chuvas. Para satisfazer às exigências de qualidade do mercado e conseguir melhor preço pelo produto, os grãos de gergelim devem apresentar um padrão de pureza de 99,96%, livre de agentes externos como areia, restos de folhas e fibras, insetos etc (QUEIROGA et al., 2007). Para atingir esse rigoroso padrão de qualidade, durante o processo de batedura do gergelim, sugere-se que as extremidades da lona encerada de polietileno (3 x 3 m) sejam amarradas em vários piquetes de 1 metro de altura (a lona fica parecida com uma canoa), pelos produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí (Figura 29). Foto: Vicente de Paula Queiroga 56 Fig. 29. Batedura dos feixes de gergelim sobre uma lona plástica. Foto: Dalfran Gonçalves Vale No transporte dos feixes para a batedura, os produtores reunidos nas UTDs conduziam os feixes na posição ereta (Figura 30), pois qualquer inclinação dos mesmos representa perdas de grãos. Apenas os feixes secos eram virados totalmente pelos carregadores e apenas quando já estavam sobre a lona estendida em forma de canoa. Na UTD em que se deixaram os feixes de plantas mais curtos, as atividades de virada e de batedura sobre a lona (Figura 31) foram de melhor manuseio da batedura que as dos feixes longos. Recomenda-se cortar a planta da cultivar BRS Seda com facão no início da inserção dos frutos, ou seja, na altura de 30 cm das hastes das plantas (Figura 32). Fig. 30. Transporte dos feixes (feixes grandes) de gergelim em posição ereta para efetuar sua batedura. 57 Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Dalfran Gonçalves Vale Fig. 31. Os produtores executam melhor a batedura do gergelim com feixes curtos. Fig. 32. Altura de 30 cm das hastes cortadas das plantas (próximo à inserção dos primeiros frutos), visando obter feixes de gergelim de ramos mais curtos. Para não ter que transportar os feixes em posição ereta e carregá-los sem deixar cair as sementes por longo percurso do campo até a lona fixada no chão, outra opção, recomendada pela Embrapa Algodão, seria colocar a lona amarrada em forma de canoa numa carroça baixa (Figura 33), que empurrada pelos produtores, deslocar-se-ia no campo em busca dos feixes para a operação de batedura. Esta opção seria mais viável para as três bateduras dos feixes de gergelim, pela redução das perdas das sementes caídas ao chão, pois os feixes são transportados a curta distância. Foto: Vicente de Paula Queiroga 58 Fig. 33. A adaptação de uma lona plástica (3m x 3m) no interior das grades dos diferentes tipos de carroças ou reboques e seu movimento pelo campo facilita a batedura dos feixes de gergelim. Nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, a maioria dos produtores já utiliza a carroça animal para atender às atividades rurais. Conseqüentemente, pode-se esperar que o transporte manual dos feixes de gergelim para efetuar sua batedura na lona, adaptando-a sobre a carroça, seja adotado com bastante eficiência, o que resultará em perda insignificante de sementes dos frutos deiscentes nos feixes secos durante o percurso curto de transporte. A ação dos ventos, os quais são freqüentes nos meses de colheita (maio a julho) na região semi-árida do Nordeste, pode também influenciar a queda das sementes dos feixes secos de gergelim, resultando em queda de produção. Uma vez executada a operação de batedura nos feixes, com auxílio da própria mão ou de um pequeno porrete, os produtores das comunidades de Lagoa do Juá e Lagoa da Povoação realizaram uma limpeza dos grãos depositados na lona, ao transpô-los para um carro de mão através de uma peneira circular (Figura 34). Para ajudá-los nessa tarefa de limpeza dos grãos foi utilizada uma bacia de plástico. Nas comunidades de Veredas e Barreiro Grande, os produtores limparam os grãos diretamente da lona, com uma peneira e transferiam o material limpo para outra metade vazia da lona. Foto: Vicente de Paula Queiroga 59 Fig. 34. Peneiração dos grãos de gergelim após o processo da batedura dos feixes. 2.26 Ventilação de grãos e embalagem Logo após a batedura e antes do ensacamento, recomenda-se ventilar o material resultante para eliminar todo tipo de sujeiras misturadas aos grãos (cascas, insetos, palhas, sementes chochas etc). Para os produtores de São Francisco de Assis do Piauí, a ventilação dos grãos é realizada com arupembas de palhas (peneira rústica) nas horas de ventos, porque nas comunidades praticamente não se dispõe de energia elétrica, inviabilizando a ventilação da produção com ventilador. Outra forma fácil de ventilação do gergelim é apresentada na Figura 35, mas são necessárias uma lona e uma quadra cimentada à disposição da comunidade. Foto: Vicente de Paula Queiroga 60 Fig. 35. Ventilação do gergelim realizada pelos produtores, usando uma lona sobre uma quadra cimentada nas horas de vento ou com ajuda do ventilador. Foto: Vicente de Paula Queiroga Outra técnica simples de ventilação natural dos grãos de gergelim adotada pelos produtores do Nordeste é a utilização de uma peneira feita de madeira, contendo uma chapa de latão perfurada por prego, a qual fica no plano inferior da coluna de descarga do grão efetuada por um operário de campo sobre um tamborete, visando reter as sujeiras pesadas e grandes; enquanto a coluna de descarga dos grãos é afetada pela ação do vento para separar as sujeiras leves e pequenas (Figura 36). Fig. 36. Ventilação natural dos grãos de gergelim usando uma peneira de madeira com chapa de latão perfurada por prego. 61 Foto: Vicente de Paula Queiroga Cabe ao produtor de grãos a obrigação de acondicionar o gergelim em embalagens apropriadas. Normalmente, são utilizados sacos de papel multifoliadovalvulado, com capacidade para 25 kg de grãos (Figura 37), devidamente rotulados ou pelo menos com o nome gergelim. Esta embalagem cumpre a função não só de facilitar o manuseio e o transporte, mas, também, de permitir personalizar a qualidade do produto pela rotulação em cada saco do seguinte nome: "Gergelim de São Francisco de Assis do Piauí". Fig. 37. Armazenamento de um lote de sementes de gergelim da Embrapa SNT, embaladas em sacos de papel multifoliado (valvulado). 62 Devem-se procurar formar, por produtor, lotes de grãos por comunidade cujo tamanho não deve ultrapassar uma tonelada. Periodicamente, é necessário inspecionar os lotes a fim de se verificarem anormalidades como umidade, emboloramento e temperatura elevada etc. Atualmente, a produção de gergelim de São Francisco de Assis do Piauí tem optado por acondicionar os grãos em sacos de ráfia (sacos trançados de polietileno) por ser mais barato, apesar do seu baixo aspecto visual para o mercado. O maior impacto comercial seria com a embalagem dos grãos em sacos de papel multifoliado e valvulado (dispensa a costura dos sacos) produzido pela empresa Klabin de São Paulo, mas ela só aceita pedidos de, no mínimo, 20 mil sacos. Esta situação estabelecida pela Klabin favorece os produtores do agronegócio, porém afeta demasiadamente as comunidades organizadas de pequenos e médios produtores. 2.27 Armazenamento dos grãos Segundo Weiss (1983), os grãos de gergelim perdem rapidamente a qualidade quando manipulados e armazenados sem os devidos cuidados. Colheita fora de época, danos mecânicos na batedura, secagem inadequada (alta umidade) e temperatura de armazenamento parecem ser os principais fatores que afetam as qualidades alimentícias dos grãos armazenados, segundo Culbertson et al. (1961), Franco (1970) e Justice e Bass (1978). É importante mencionar que a qualidade do grão de gergelim é o fator mais importante que afeta toda a cadeia de produção. Em regiões com alta umidade ambiental, o gergelim volta a absorver umidade e corre o risco de embolorar (mofar). Sob estas condições, dever-se-ia armazenar o gergelim num curto espaço de tempo ou, em caso contrário, depositálo em recipiente hermeticamente fechado. Bass et al. (1963), utilizando recipientes herméticos, verificaram que sementes de gergelim se conservam por dois anos quando mantidas em temperatura de 10 ºC e umidade de 7%, enquanto a 21 ºC, a conservação só foi mantida quando o teor de umidade das sementes foi de 4%. O local escolhido do armazenamento deverá ser apropriado, isto é, seguro, seco, com possibilidades de aeração e condições para fácil combate a roedores, insetos e microrganismos; devem-se manter espaços e corredores adequados para a movimentação e a amostragem, bem como divisões que permitam a pronta identificação entre os diferentes lotes de grãos numa mesma fileira. 63 Foto: Vicente de Paula Queiroga Os grãos de gergelim devem ser armazenados em sacos novos de papel multifoliados, aniagem ou polietileno trançado no depósito da FFA, localizado na cidade de São Francisco de Assis do Piauí (Figura 38). Os sacos costurados devem ser empilhados sobre estrados de madeira, mantendo uma distância de 1 metro das paredes. Periodicamente, devem-se inspecionar os lotes, a fim de verificar a ocorrência de anormalidades como umidade, insetos etc. Fig. 38. Depósito da Fraternidade de São Francisco de Assis, em São Francisco de Assis do Piauí, para armazenamento dos grãos de gergelim produzidos pelos produtores familiares das diferentes comunidades. O tamanho de cada lote recomendado, como já referido, é de até uma tonelada para os sacos empilhados, podendo-se separar cada lote por comunidade. Por exemplo, considerando-se que toda a produção obtida pela comunidade de Barra Bonita seja de 4.500 kg de grãos de gergelim, o seu armazenamento deveria ser distribuído em cinco lotes de grãos; quatro lotes com uma tonelada e o quinto lote, com apenas 500 kg. Todas as instalações devem ser limpas antes de serem usadas, para evitar misturas acidentais e não comprometer a qualidade do material estocado. Uma vez cumprida a limpeza do depósito, o agente comunitário da FFA já pode considerar o local seguro para receber a produção do gergelim proveniente das comunidades rurais. Um membro da equipe deverá identificar o número do lote com um lápis piloto nos sacos de gergelim de cada produtor; esse mesmo número 64 deverá ser anotado numa planilha com o respectivo nome do produtor. Exemplificando, se o produtor Justo Teixeira Rodrigues, da comunidade Barreiro Grande, entregasse sua produção de gergelim no depósito da FFA em três etapas, então o seu número de identificação dos sacos seria o mesmo da primeira entrada. Ou seja, se na primeira entrada ele entregou 200 kg de grãos de gergelim em 10 sacos de 20 kg e cada saco recebeu uma determinada numeração do lote (exemplo: L-5), nas demais entregas da sua produção de gergelim, os sacos deverão ser identificados com a mesma numeração; basta o agente comunitário da FFA verificar, na sua planilha, o número do lote que corresponde ao referido produtor. Este controle dos lotes dos produtores é importante para a comercialização (antes de fechar o negócio, o comprador de gergelim exige amostra do produto), pois numa produção de grãos de gergelim que envolve várias comunidades, é possível aparecerem produtos de qualidade inferior, em razão de alguns produtores não terem conduzido bem os processos de beneficiamento dos grãos de gergelim (QUEIROGA et al., 2007). No caso do programa não adotar um controle rígido de identificação das sacarias de cada produtor, com certeza irá haver uma desvalorização no preço geral do produto, em função de mistura aleatória dos sacos de grãos sujos com os limpos, e isto penaliza mais aqueles produtores que produziram grãos com alto padrão de qualidade. Dependendo do tamanho do lote de gergelim, devem-se retirar várias amostras simples dos grãos ensacados de cada lote, num total de 6 a 12 por lote. Em seguida, essas amostras simples devem ser misturadas para formarem uma amostra composta. Essa amostra composta - identificada (número do lote, variedade, safra, quantidade de sacos do lote), embalada em saco de papel ou plástico e na quantidade mínima exigida, de 70 g - deve ser remetida para uma unidade de Laboratório de Sementes, considerada oficial pelo Ministério da Agricultura e Reforma Agrária - MARA, onde as sementes ou grãos deverão ser submetidos aos seguintes testes de rotina: análise de pureza, umidade e germinação. Num prazo de 10 dias, o laboratório emite o Boletim de Análise de Sementes. • Pureza: O teste é feito em uma amostra de 7 g de sementes, que são espalhadas sobre uma mesa específica do Laboratório de Sementes, na qual são realizadas as seguintes separações: sementes puras, sementes de outros cultivos, sementes silvestres e material inerte. 65 • Umidade (U): É determinada pelo método oficial da estufa a 105 °C± 3 °C, durante 24 horas, utilizando-se quatro amostras de 5 g por repetição. Esta amostra é pesada numa balança analítica de 0,0001 de precisão. U (%) = (P¹P²/P¹) x 100 • Germinação: É realizada em quatro repetições de 100 sementes colocadas em caixa acrílica, denominada gerbox, contendo substrato de papel de filtro umedecido com água destilada. O teste é conduzido no germinador nas temperaturas alteradas de 20 ºC a 30 ºC ou na temperatura constante de 25 ºC. Duas contagens são recomendadas: uma aos três dias e outra aos seis dias. As amostras de gergelim de cada UTD de São Francisco de Assis do PiauíPI foram enviadas ao Laboratório de Sementes da Embrapa Algodão de Campina Grande-PB e os resultados dos testes de pureza variaram entre 93,75% e 94,55%, considerados baixos (Figura 39). Se fossem produzidas para atender ao mercado de sementes de gergelim, essas amostras deveriam apresentar 98% Fig. 39. Cópia do Boletim de Análise de Sementes emitida pelo Laboratório de Sementes da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB. 66 de pureza mínima (maior valor cultural); conseqüentemente, os grãos produzidos pelas comunidades familiares desse município teriam de ser submetidos a outra limpeza complementar para elevar sua qualidade física. Provavelmente, esses valores elevados de impurezas contidas nos grãos são reflexo do precário processo de ventilação adotado pelos produtores, no que se refere à ausência de lona com maior dimensão (6,00 x 6,00 m), para facilitar a limpeza do gergelim sob vento forte, que ocorre nessa região. Foto: Ray Langham Após reunir toda a produção de gergelim no depósito de São Francisco de Assis do Piauí, os agentes comunitários da FFA deveriam submeter os grãos a uma ventilação complementar num equipamento simples com alimentação manual, o qual possui um bica de descarga na sua parte inferior por onde saem as sementes limpas (Figura 40). Esse procedimento permitiria aumentar a pureza dos grãos, pois este equipamento tem um desempenho de funcionamento semelhante ao da máquina de ar e peneira utilizada nas Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS). Fig. 40. Máquina de ventilação utilizada na limpeza dos grãos ou sementes de gergelim. 67 2.28 Rotação de culturas Em qualquer atividade agrícola, a prática de rotação de culturas é de suma importância, pois contribui para a manutenção da bio estrutura do solo e para a sanidade vegetal, além de ser prática importante para a conservação do solo. Silva (1983) indica as seguintes rotações para a região do Nordeste: feijãogergelim, milho-gergelim e milho ou mamona-amendoim-gergelim. É importante considerar que, na maior parte das UTDs instaladas nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, a incidência de pragas e doenças nas pequenas áreas de gergelim tem sido insignificante, pois os fatores ambientais favoráveis, baixa umidade e temperatura amena no período chuvoso inibe a infestação na região, principalmente as doenças. Preventivamente, é necessário que o produtor esteja sempre atento, fazendo anualmente a rotação da área do gergelim com outras culturas, cujo manejo irá garantir ao produtor de gergelim menor custo de produção e ausência de pragas na lavoura. 2.29 Banco de sementes Para criar um banco de sementes na comunidade de São Francisco de Assis do Piauí, é necessário destinar algumas UTDs para a produção de sementes de gergelim, e é fundamental que essas áreas selecionadas estejam isoladas (distância de 1000 m) de outras lavouras de grãos ou de campos plantados com outras cultivares de gergelim. A limpeza dos campos (roguing) de gergelim deverá ser efetuada pelos produtores (Figura 41) das UTDS contempladas, visando eliminar as plantas atípicas e garantir a identidade genética do material. Com os produtores gerando sua própria produção de sementes, dará as seis comunidades envolvidas de São Francisco de Assis do Piauí uma auto-suficiência no abastecimento de sementes e também se evitará a introdução de doenças nesse município, o que poderia acontecer se a FFA fosse adquirir anualmente sementes de gergelim produzidas de outras regiões. A contaminação das plantas pode ser de ordem genética e mecânica. Mesmo quando se utilizam sementes com elevada pureza genética para semear, ainda é possível detectar no campo uma pequena segregação na população das Foto: Vicente de Paula Queiroga 68 Fig. 41. Operação de roguing no campo de gergelim para eliminação de plantas atípicas. plantas, as quais deverão ser eliminadas pela operação de "roguing", procedimento usado nos programas de produção de sementes em geral (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). No caso do gergelim, é necessário realizar a operação de eliminação das plantas atípicas nos seguintes estádios fenológicos da cultura (QUEIROGA; BELTRÃO, 2001): 1. Pré-floração - porte distinto, folhagem diferente, presença de pêlos nas folhas, doentes, coloração distinta da haste; 2. Floração - tamanho e intensidade de coloração das flores, florescimento precoce e não uniforme, 3. Pré-Colheita - quanto ao tipo, ao formato e à coloração dos frutos, inclusive as plantas de baixo rendimento; 4. Colheita - remoção das plantas tardias e com deiscência precoce. Na UTD de Barreiro Grande, apareceu na lavoura de gergelim plantas com pintas com coloração cinza-claro nas folhas e nas talos, cujo sintoma se assemelha muito à doença Cercospora, a qual é transmitida pelas sementes. Provavelmente, a incidência da doença na lavoura foi devida à precipitação pluvial elevada e à alta umidade relativa ocorridas na referida comunidade. Portanto, não seria prudente a FFA destinar tal material para o Banco de Sementes para ser semeado na próxima safra, ou seja, o seu melhor destino será comercializar os grãos. 69 Nas comunidades de Lagoa do Juá, Vereda Comprida e Lagoa da Povoação do município de São Francisco de Assis do Piauí foram construídos, em trabalhos de mutirão, pequenos armazéns para o acondicionamento de sementes dos produtores familiares, denominados Casa de Sementes (Figura 42). Foto: Vicente de Paula Queiroga Na casa de sementes, as sementes de gergelim, com a umidade baixa entre 4 e 5 %, devem ser acondicionadas em embalagens herméticas (lata, tambor, garrafa pet, silo, depósitos de vidro etc) e guardadas em prateleiras ou Fig. 42. Casa de sementes na comunidade de Vereda Comprida no município de São Francisco de Assis do Piauí. sobre estrados de madeira (Figura 43). A incidência de fungos em armazéns é mais provável em grãos estocados com elevada umidade, em conseqüência da falta de supervisão do produto armazenado ou por falha no processo de secagem (AUGSTBURGER et al., 2000). O controle de pragas de armazenamento que dispensa o uso de veneno constitui-se de práticas utilizadas pelos produtores rurais (DANTAS, 2001), tais como: Cinza de lenha - mistura a cinza de lenha com as sementes, na proporção de 5% do volume total. Foto:Melchior N. Batista da Silva Foto: Tarcísio Marcos de Souza Foto: Tarcísio Marcos de Souza 70 Fig. 43. Diferentes embalagens utilizadas pelos Bancos de Sementes nas comunidades rurais do Nordeste. Folhas de eucalipto - colocar uma camada fina de folhas frescas e de cheiro forte a cada palmo de sementes. Depois de secas, as folhas devem ser substituídas, porque perdem sua função de repelente. 3. Custos de Produção das UTDs Para avaliar os custos de produção do gergelim orgânico das seis UTDs instaladas nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí - Lagoa do Juá (Tabela 3), Queimada Nova (Tabela 4), Lagoa da Povoação (Tabela 5), Veredas (Tabela 6), Barreiro Grande (Tabela 7) e Barra Bonita (Tabela 8), desde o preparo do solo até a colheita completa, foram anotadas todas as despesas realizadas em cada UTD de ½ ha de área plantada, por comunidade, que foram transformadas para 1 ha. Tiraram-se fotos de cada UTD, com os respectivos responsáveis (Figuras 44 a 49). O plantio dos campos de gergelim foi realizado nos dias 28 e 29 de janeiro de 2008. Os valores das precipitações pluviométricas mensais ocorridas em São Francisco de Assis do Piauí-PI estão representadas na Figura 50, totalizando 647 mm de chuvas. A época de colheita do gergelim, no 71 mês de maio, foi favorecida pela ausência de chuvas na região, o que repercutiu satisfatoriamente na elevação da qualidade do produto colhido. A seguir, são apresentados os custos de produção do gergelim por comunidade: a) UTD da comunidade Lagoa do Juá Foto: Vicente de Paula Queiroga Tabela 3. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Lagoa do Juá no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008. Fig. 44. Produtor Francisco Mariano Teixeira responsável pela UTD de gergelim da comunidade Lagoa do Juá no município de São Francisco de Assis do Piauí. 72 b) UTD da comunidade Queimada Nova Tabela 4. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Queimada Nova no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008. Foto: Vicente de Paula Queiroga Obs. A principal causa da baixa produtividade da UTD de gergelim da comunidade Queimada Nova foi o plantio tardio (20 de fevereiro de 2008). Fig. 45. Produtora Justina Lopez de Souza responsável pela UTD de gergelim da comunidade Queimada Nova no município de São Francisco de Assis do Piauí. 73 c) UTD da comunidade Lagoa da Povoação Tabela 5. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Lagoa da Povoação no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008. Foto: Vicente de Paula Queiroga Obs. O principal problema da baixa produtividade da UTD de gergelim da comunidade Lagoa da Povoação foi a baixa fertilidade do solo, terreno em declive e sujeito à erosão. Fig. 46. Produtor Antônio Vidal de Souza responsável pela UTD de gergelim da comunidade Lagoa da Povoação no município de São Francisco de Assis do Piauí. 74 d) UTD da comunidade Veredas Foto:Dalfran Gonçalves Vale Tabela 6. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Veredas no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008. Fig. 47. Produtor Raimundo Bento de Souza responsável pela UTD de gergelim da comunidade Veredas no município de São Francisco de Assis do Piauí. 75 e) UTD da comunidade Barreiro Grande Tabela 7. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Barreiro Grande no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008. Foto: Vicente de Paula Queiroga Obs. A UTD de gergelim da comunidade Barreiro Grande foi a mais produtiva e a que apresentou menor custo de produção (R$ 0,71/ha). Fig. 48. Produtor Justo Teixeira Rodrigues responsável pela UTD de gergelim da comunidade Barreiro Grande no município de São Francisco de Assis do Piauí. 76 f) UTD da comunidade Barra Bonita Foto: Vicente de Paula Queiroga Tabela 8. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Barra Bonita no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008. Fig. 49. Produtor Juarez de Souza Teixeira responsável pela UTD de gergelim da comunidade Barra Bonita no município de São Francisco de Assis do Piauí. 77 Fig. 50. Precipitações pluviias ocorridas em São Francisco de Assis do Piauí nos anos 2007/2008. Para todas UTDs instaladas no município de São Francisco de Assis do Piauí, houve registro elevado da mão-de-obra na colheita, talvez seja explicado pela pouca experiência dos produtores com a cultura do gergelim. Por outro lado, a FFA está tentando comercializar toda a produção de gergelim orgânico para o mercado nacional ao preço de R$ 4,00 por quilo de grãos, devido à alta qualidade do produto. 4. Extração de Óleo na Mini-usina Para os próximos anos, está prevista a instalação de uma mini-usina em São Francisco de Assis do Piauí, para extração de óleo orgânico de gergelim e elaboração de outros produtos alimentícios. Antes de se definir e instalar uma mini-usina nas comunidades dos pequenos agricultores familiares, recomendase realizar um estudo econômico do mercado das grandes cidades mais próximas da usina à ser instalada, levando-se em consideração as dificuldades, de distribuição e de venda do óleo, impostas pelo mercado. A mini-usina deverá ser instalada, de acordo com as normas de vigilância sanitária para funcionamento de Laboratório de Tecnologia de Alimentos, e nela deverão ser implantados uma mini-prensa (Figura 51) e um filtro da prensa. A finalidade do filtro de prensa é retirar os resíduos que estão misturados com o óleo. No tipo de equipamento apresentado na Figura 52, o óleo passa Foto: Flávio Torres de Moura Foto:Aycê Chaves Silva 78 Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 51. Prensas de extração de óleo de gergelim utilizadas pela Embrapa Algodão. Fig. 52. Pequeno filtro de prensa utilizado pela Embrapa Algodão. através de uma série de 10 filtros, confeccionados com tecido grosso. Em cada filtro, vai sendo retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo. Dependendo da qualidade dos grãos empregados (natural sujo de campo) e do grau de impureza do óleo, pode ser feita uma ou mais etapas de filtragem (QUEIROGA et al., 2007). 79 Foto: Vicente de Paula Queiroga A instalação dos equipamentos da mini-usina deve ser feita num prédio principal, o qual deverá ter espaço planejado para sala de recepção, banheiros e armário para guardar as batas dos operários. Separadamente, deveriam ser construídas: uma sala para despeliculação manual ou mecânica (misturador Hobert), o depósito de grãos e uma sala de ventilação (máquina de pré-limpeza com peneiras). Para atender às normas sanitárias do Ministério da Saúde, o ideal seria azulejar todas as salas da mini-usina. Deveriam ser reservadas também uma sala para funcionamento do secador artificial (Figura 53) e uma área livre ser cimentada (uma quadra), para a secagem natural dos grãos despeliculados ou secagem de grãos com elevada umidade (QUEIROGA et al., 2007), a qual deverá ser sempre lavada com detergente neutro antes da colocação dos grãos. Fig. 53. Secador artificial utilizado no processo de secagem dos grãos. 5. Prensa Piteba A FFA adquiriu duas prensas Piteba, cujo preço de mercado é bastante acessível, para serem utilizadas pelos produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí (Figura 54). Este equipamento pode funcionar perfeitamente em várias posições e cabe ao produtor escolher a melhor maneira de trabalho (Figura 55). 80 Foto: Arquivo da Piteba Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 54. Equipamento Piteba adquirido pela FFA do município de São Francisco de Assis do Piauí. Fig. 55. Diferentes posições de funcionamento do equipamento Piteba: pedalando, em pé e sentado. 81 Recomenda-se colocar as sementes de gergelim bem secas e limpas, com índice de umidade entre 4 - 5%, no depósito superior. Em seguida, deve-se girar a manivela lentamente, em aproximadamente 45 rotações por minuto, para o óleo fluir por uma pequena abertura, a qual deve ser limpa regularmente, com um instrumento pontiagudo, em todos os orifícios e em poucos minutos (PITEBA, 2008). Para o ajuste da Piteba, primeiramente deve-se deixar passar um fluxo livre de torta pelo moinho da prensa; subseqüentemente, o operador deverá fechar gradualmente a saída da torta, girando o parafuso terminal de ajuste do tornilho, até que a torta prensada apareça como finas tiras. Deve-se preparar apenas a quantidade de sementes de gergelim que vai ser prensada numa jornada de um dia, a fim de evitar que as sementes previamente secas, absorvam umidade do ambiente. Caso o operador necessite descansar por 10 minutos, ele não deve apagar o fogo do pavio para não endurecer a torta que se encontrar no interior do equipamento (tornilho). Uma vez concluída a prensagem das sementes, ele terá que limpar o tornilho (rosca) da Piteba imediatamente, ainda quente (PITEBA, 2008). Foto: Arquivo da Piteba O óleo extraído do equipamento Piteba é quente, sendo recomendado esfriálo à temperatura ambiente para facilitar sua clarificação. Em seguida, deve ser decantado por 24 horas e conservado dentro de um vidro lacrado, em um local fresco, até seu consumo ou venda. Essa decantação (repouso) é importante, porque o óleo que sai da prensa é escuro e contém muitas impurezas, resíduos de cascas e endospermas dos grãos, que devem ser decantadas (Figura 56), o que aumenta a eficiência da etapa seguinte - a filtragem. Uma alternativa para Fig. 56. Processo de decantação do óleo extraído pelo equipamento Piteba. 82 os produtores das comunidades rurais é utilizar um pano grosso para fazer a filtragem do óleo que passou pelo processo de decantação (repouso). Este óleo filtrado já pode ser utilizado no preparo dos seus alimentos (PITEBA, 2008). 6. Produção de Biodiesel na Comunidade Diversos tipos de óleos vegetais podem ser usados para produzir biodiesel. As alternativas para o fornecimento de óleo vegetal são diversas e também podem ser obtidas do gergelim cultivado nas seis comunidades de São Francisco de Assis do Piauí-PI, mas tudo é uma questão de opção ou prioridade por parte da diretoria da FFA. As tortas gordas resultantes da extração a frio das mini-usinas (extração mecânica) nos equipamentos do fabricante Ecirtec para a produção do óleo extra virgem de gergelim, podem fornecer mais de 20% de óleo pelo método de extração com solvente. Este sistema de extração de óleo é uma destilação, onde o solvente (hexano, mistura de hidrocarbonetos) é colocado em um balão. Com o aquecimento do sistema, o hexano se evapora, condensa acima do filtro e o líquido condensado entra em contato com o papel filtro, envolvendo o material triturado (torta gorda de gergelim) e retirando o óleo contido nas células (removido por difusão). A extração não é completa, pois o farelo geralmente apresenta um teor de 0,5 a 0,6% de óleo. Posteriormente é necessário fazer uma nova destilação, para separar o óleo do solvente (SOAREZ, 2006). Em princípio, é necessário que a matéria-prima (óleo de gergelim já filtrado) tenha o mínimo de umidade e de acidez, o que é possível pelo processo de neutralização, mediante uma lavagem com uma solução alcalina de hidróxido de sódio ou de potássio, seguida de um processo de secagem ou desumidificação. As especificações do tratamento dependem da natureza e condições da matéria graxa usada como matéria-prima (PARENTE, 2003). A reação de transesterificação é a etapa da conversão do aceite em ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, que constituem o biodiesel. A reação pode ser representada por quaisquer das seguintes equações químicas: 83 Aceite + Metanol Aceite + Etanol Ésteres Metílicos + Glicerol Ésteres Etílicos + Glicerol A primeira equação química representa a reação de conversão, quando se utiliza o metanol (álcool metílico) como agente de transesterificação, obtendose, portanto, como produtos os ésteres metílicos que constituem o biodiesel e o glicerol (glicerina). Enquanto a segunda equação faz referência à utilização do etanol (álcool etílico), como agente de transesterificação, dando como resultado o produto biodiesel, o qual é representado por ésteres etílicos e a glicerina (PARENTE, 2003). Foto: Expedito José de Sá Parente O mini-sistema para produção de biodiesel é constituído por uma unidade compacta para a conversão de óleo vegetal em biodiesel, com capacidade de 100 l·h-1. Este mini-sistema, que tem sido denominado "máquina de biodiesel móvel" é um equipamento de fabricação da empresa Tecbio (Figura 57). O minisistema possui as seguintes características: a) dimensiões de 7.5 m (comprimento) x 3.5 m (largura) x 5.0 m (altura); b) peso aproximado de 3.500 kg; c) unidade móvel, facilmente transportável por caminhão convencional; d) potência elétrica Fig. 57. Mini-sistema móvel para produção de biodiesel, fabricado pela empresa Tecbio de Fortaleza-CE. 84 de 18 kw, quando o gerador de calor é elétrico, e 3 kw, quando a fonte de calor é outra; e) consumo de água de 2.000 litros por dia; f) mão-de-obra de duas pessoas (empregado e auxiliar) e g) processo manual, com várias etapas de transesterificação para produção de biodiesel. Um projeto piloto para produzir biodiesel a partir da matéria-prima do óleo da mamona foi implantado na fazenda Normal, localizada no Município de Quixeramobim-CE, pertencente ao Governo do Estado do Ceará e administrada pela EMATERCE. O biodiesel produzido da mamona é utilizado para alimentar um gerador de energia. A geração de energia elétrica e distribuição aos domicílios foram feitas na comunidade rural "Serrinha de Santa Maria", localizada no mesmo município, sendo os próprios produtores da referida comunidade os responsáveis pela produção da matéria-prima (SEVERINO et al., 2005). 7. Elaboração de Produtos Alimentícios Industrializados Por suas potencialidades, o gergelim torna-se uma alternativa importante para minimizar o agravante quadro de carência alimentar das populações de baixa renda. Devido aos preços compensadores (R$ 3,00/kg de sementes), facilidade de cultivo e amplas possibilidades de bons rendimentos, o gergelim constitui opção promissora para o Semi-Árido nordestino, não só por ser mais uma alternativa de renda e fonte protéica para os pequenos e médios produtores da região, mas, também, por existir no Brasil mercado sempre crescente nos setores de panificação e indústria de biscoitos, e potencialidade de o óleo do gergelim ser explorado de forma viável no mercado nacional para consumo alimentar, fitoterápico e fito cosmético (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Para que o consumo brasileiro cresça, é necessário aumentar a produção agrícola e a divulgação do emprego do produto e derivados do gergelim, além de melhorar o marketing sobre os efeitos benéficos à saúde humana proporcionados pelas propriedades químicas naturais existentes no grão dessa espécie. Somente nos EUA, no início da década de 90, ocorreu o lançamento de aproximadamente 300 tipos de produtos, nos quais o gergelim é utilizado (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Um rendimento médio maior no campo contribuiria para que o preço baixasse, tornando o produto mais acessível às classes populares, pois, atualmente, 85 o consumo de gergelim no Brasil se restringe às classes mais favorecidas do País (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Os produtos industrializados derivados de gergelim mais utilizados pelo mercado brasileiro, na atualidade são os seguintes: gergelim natural limpo (13% do mercado), gergelim despeliculado para pães e biscoitos (62% do mercado), pasta de gergelim (Tahine) (22% do mercado), óleo de gergelim (3% do mercado). No Brasil, a venda de óleo de gergelim no varejo tem se limitado aos comércios de produtos naturais, pois a maior parte dos grãos é destinada ao mercado internacional para a extração do óleo. Este elo da cadeia poderá ser considerado um dos pontos agravantes no sistema produtivo do gergelim no Nordeste, em função do baixo valor agregado do produto, caso o mesmo dependesse apenas da exportação do produto na forma de grãos (QUEIROGA et al., 2007). No caso dos produtores das comunidades organizadas de São Francisco de Assis do Piauí, que desenvolvem um sistema produtivo para o gergelim orgânico em conformidade com os preceitos tecnológicos recomendados pela Embrapa Algodão, há a possibilidade de se obter produção de grãos de elevada qualidade e, também, a oportunidade de se elaborarem produtos derivados do gergelim (industrialização do grão). Segundo Queiroga et al. (2007), a verticalização da produção do gergelim é mais procurada por pequenas associações de produtores ou cooperativas. Os produtos industrializados derivados do gergelim mais utilizados pelos consumidores são: a) Grãos despeliculados mecanicamente Por se tratar de gergelim orgânico, o descascamento dos grãos é considerado como um processo preliminar de industrialização do gergelim; o mais recomendado seria o mecânico (QUEIROGA et al., 2007). Esta técnica de descascamento de fricção mecânica não inclui nenhum agente químico e, após o processo de separação da película, os grãos conservam todos seus atributos naturais e nutricionais. Esses grãos descascados podem ter preço duplicado ou triplicado, quando são destinados para padarias, em relação aos grãos convencionais (Figura 58), e representam 62% do mercado de gergelim. Foto: Vicente de Paula Queiroga 86 Fig. 58. Excelente aparência do pão com grãos de gergelim despeliculados. b) Óleo de gergelim O óleo de gergelim extraído dos grãos é considerado como um dos mais finos azeites no mercado, sendo comumente usado na indústria alimentícia. Este óleo é rico em ácidos graxos insaturados, contendo aproximadamente 47% de ácido oléico e 39% de ácido linoléico e representa de 44 a 58% do seu peso (BELTRÃO; VIEIRA, 2001) e as proteínas oscilam entre 17 e 29% (MAZZANI; LAYRISSE, 1998). Vale destacar que mais de 70% da produção de gergelim são utilizados para a elaboração de azeite comestível. Tanto o óleo como as comidas fritadas com ele tem vida de prateleira longa, devido à presença dos antioxidantes no óleo (não rancifica), melhorando seu sabor, principalmente o dos produtos fritos (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). O óleo extra virgem da mini-usina de Várzea, PB é obtido por prensagem a frio numa sala escura, apenas com iluminação indireta do ambiente externo (sol), e utiliza uma pequena prensa do fabricante Ecirtec-SP. O seu rendimento médio de extração é de 28% (QUEIROGA et al., 2007). Para conservar melhor todas as propriedades químicas naturais do óleo, deve-se realizar o seu envase em embalagem de vidro escuro. Embalagens transparentes de vidro e de plástico, usadas comumente pelos fabricantes, alteram as características do produto (Figura 59). Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Paulo de Tarso Firmino Foto: Vicente de Paula Queiroga 87 Fig. 59. Diferentes tipos de embalagem para óleo de gergelim: A) plástico, B) vidro transparentes e C) vidro escuro. Este produto é um excelente azeitador, dando melhor sabor aos alimentos e as saladas de verduras. O óleo de gergelim possui "flavour" (sabor) característico e agradável e maior estabilidade oxidativa, quando comparado com a maioria dos óleos vegetais, por causa da sua composição de ácidos graxos e pela presença dos antioxidantes naturais - sesamolina, sesamina, sesamol e gama tocoferol (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). c) Tahine (creme de gergelim) O delicioso creme de gergelim, que em árabe se denomina "tahine", deve ser preparado com gergelim de cor branca, de sementes descascadas ou despeliculadas, visando eliminar o gosto amargo de oxalato de cálcio presente na sua película. Este tipo de tahine é o mais refinado e mais valorizado no mercado, pois é reconhecido por sua riqueza em proteínas e por ser uma das melhores fontes de energia para o corpo humano; ademais, a pasta elaborada é 100% natural (sem conservantes químicos). Este creme de gergelim é preparado tostando-se ½ kg de semente branca numa frigideira seca ou panela (Figura 60), durante 5 a 10 minutos a 180 ºC, 88 para que as sementes sejam descascadas naturalmente (eliminação das películas), antes de serem moídas. Após esfriar, mexe-se a massa à qual se adiciona água fervida (a temperatura ambiente) e sal rosado líquido até se obter uma pasta consistente (MOLLER, 2006), que deve ser envasada em frasco de vidro, o qual, depois de aberto, deve ser guardado sempre em geladeira. Esta receita nem sempre é cumprida pelos fabricantes de tahine, pois alguns elaboram a pasta com sementes não brancas e/ou não realizam a separação das películas das sementes (despeliculação), resultando num produto com gosto amargo que é característico do gergelim. No comércio de produtos naturais, o tahine pode ser encontrado em distintas embalagens e com diferentes tonalidades de cor (Figura 61). Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Diego Antônio Nóbrega Foto: Diego Antônio Nóbrega Fig. 60. Panela com tampa perfurada usada especialmente para tostar gergelim Fig. 61. Embalagens do creme de gergelim (tahine) em vidro (cor clara e achocolatado) e em lata. 89 d) Doce de gergelim (halawi) Foto: Vicente de Paula Queiroga O halawi é um doce árabe bastante apreciado pelos consumidores. A empresa Istambul de São Paulo produz o halawi em forma de balas, enquanto no Chile, ele vem em forma de barra, parecido a uma embalagem de chocolate, e com outra denominação de mantecol (Figura 62). Fig. 62. Doces de halawi em embalagens distintas. A receita para elaboração do doce halawi é: 200 g de creme de gergelim branco (tahine), 100 g de mel, 100 g de açúcar, uma colher de açúcar vanile e uma colher de suco de limão, que deve ser adicionada antes de atingir o ponto. Misturar todos os ingredientes e bater até formar uma mistura homogênea. Enformar a mistura e levar ao refrigerador. Para variar a receita, pode-se misturar pistache, chocolate, etc. (MOLLER, 2006). e) Barra de gergelim e mel As receitas para a fabricação de barras de cereais são as mais variadas possíveis. A barra de gergelim e mel de abelha já foi desenvolvida pelo Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão, e sua receita poderá ser disponibilizada para FFA, a qual é responsável pela gestão do beneficiamento e comercialização do mel orgânico de abelha, da empresa Nutritivomel de Simplício Mendes-PI. A barra de cereais é um produto obtido da compactação de materiais hidratados (gergelim), com adicionamento de mel, sal e outras substâncias comestíveis, secos, laminados e tostados. Depois da mistura, efetua-se a formatação da barra, com um equipamento especificamente desenvolvido para esse fim. Sendo este produto muito bem aceito pelos consumidores, graças à 90 sua leveza e ao seu sabor apurado e natural (MOLLER, 2006). Criado especialmente para aquelas pessoas que buscam equilibrar na dieta numa alimentação rica em fibras (dietas menos calóricas) e carboidratos com praticidade e sabor. Foto: Diego Antônio Nóbrega Foto: Diego Antônio Nóbrega Foto: Diego Antônio Nóbrega Foto: Vicente de Paula Queiroga Em geral, as barras de cerais têm como principais características: alto teor de carboidratos, baixa perecibilidade e baixo teor de umidade; como todos os cereais monocotiledonares possuem germe, onde se concentra a fração lipoprotéica. Alguns equipamentos são exigidos pelas empresas de alimentos, para aumentar a velocidade e eficiência na produção de barras de cereais, tais como: misturador, máquina de compactação, secador e embaladora do produto (Figura 63). Fig. 63. Máquinas de misturação, compactação e embaladora de barra de cereais 91 A vantagem dos equipamentos é a considerável redução de mão-de-obra com a automação do processo de produção das barras de cereais. A máquina embaladora é do fabricante Bosch, enquanto os demais equipamentos são fabricados em Taiwan (marca Seng Din). Uma receita caseira para a fabricação de barras de cereais com gergelim e mel (Figura 64) poderia ser utilizada pela FFA (Nutritivomel), usando os sguintes ingredientes: 1 xícara de gergelim integral branco 1 xícara de fibra de trigo fina (farelo) 1 xícara de flocos de centeio integral (pré cozido) Uva passa preta sem semente 1 xícara de castanha de caju torrada, salgada e picada 2 xícara de aveia integral em flocos finos 2 xícara de açúcar mascavo tradicional 1 xícara (chá) de água 1 xícara (chá) de mel Preparo: • Ferver a água, o açúcar e o mel até obter ponto de fio. • Colocar por cima dos ingredientes secos, misturar, despejar em uma forma, abrir sobre um plástico, moldar, retirar o plástico e cortar as barrinhas. • Embalar em papel celofane. Foto: Diego Antônio Nóbrega • Rende 30 barras de tamanho padrão Fig. 64. Barra de cereais de gergelim e mel para fabricação caseira. 92 f) Sesamin (balas) Foto: Diego Antônio Nóbrega Foto: Vicente de Paula Queiroga O sesamin é elaborado com a receita tradicional combinando sementes despeliculadas de gergelim (branca) e o mel de abelha. Com estes dois ingredientes se consegue um delicioso e saudável doce, considerado um produto alimentício de alto teor de proteínas (Figura 65). Os ingredientes são misturados sob fogo baixo. Em seguida, são empacotados em forma unitária (MOLLER, 2006). Fig. 65. Bombons de sesamin e gelinda preparados com gergelim. Outra receita do bombom de gergelim é: lavar ½ kg de sementes brancas, secar e tostar em tacho seco. Moer na processadora, misturar com ½ kg de mel de abelha e, depois, colocar em forma de bombons, acrescentando o coco ralado. Por fim, guardar em geladeira (MOLLER, 2006). g) Gersal O gersal é um condimento bastante comum na alimentação vegetariana e macrobiótica (Figura 66). É um produto obtido a partir de sementes de gergelim integral (FIRMINO, et al., 2005). O gersal pode ser usado na água do cozimento do arroz ou salpicado sobre o prato pronto. O gersal combate a acidez estomacal. É ainda descalcificante do sangue. Ingredientes: Um copo de gergelim torrado Sal a gosto. 93 Modo de preparar Triturar o gergelim em pilão, moinho ou liquidificador. Adicionar sal a gosto e armazenar em recipiente de vidro, mantendo-o lacrado. Modo de usar Foto: Vicente de Paula Queiroga Pôr uma colher (de café) sobre a comida. Fig. 66. Gersal usado na alimentação como condimento. h) Farinhal A boa qualidade do azeite de gergelim deve-se, essencialmente, ao alto teor do ácido linoléico, que varia entre 35 a 41% do óleo total. Por seus antioxidantes sesamina e sesamolina, o azeite de gergelim, cuja característica não foi encontrada em nenhum outro óleo vegetal, é mais resistente à oxidação ou baixa rancificação (BUDOWSHI; MARKLEY, 1951). O farelo ou farinha contém entre 40 e 70% de proteínas e 2,8% de óleo, o que é um excelente alimento para o ser humano (sementes brancas) e para os animais (sementes de outras cores). Quando a farinha de gergelim se destina ao consumo humano, é necessária uma atenção especial à qualidade da matéria-prima e seu tratamento, objetivando segurança, sanidade, qualidade e valor nutricional da torta extraída (SUBRAMANIAN, 1980). As etapas de descasque, secagem da semente descascada, extração do óleo e dessolventização, usadas na produção da farinha de gergelim, utilizam 94 calor. O tratamento térmico severo implica na diminuição da qualidade protéica, enquanto o uso do calor moderado pode aumentar a qualidade nutricional da farinha (CARTER et al., 1961). Para conservar todo o valor das proteínas do gergelim, as operações tecnológicas utilizadas devem preservar ao máximo, os aminoácidos no nível de composição, digestibilidade e disponibilidade (FABRY, 1980). Foto: Diego Antônio Nóbrega Em muitos países, uma parte considerável da população tem difícil acesso aos alimentos protéicos de origem animal. Nestes casos, existe a possibilidade da utilização de fontes protéicas vegetais que podem suprir as necessidades nutricionais de diferentes grupos da população. Portanto, a partir da torta resultante do processo de extração do óleo das sementes brancas pela miniusina, poder-se-ia elaborar a farinha e usá-la na preparação de pão e bolacha para a alimentação dos habitantes (ou merenda escolar) nas comunidades rurais. Considerada um subproduto, a farinha contém, em média, 50% de proteína, pois a semente é rica em aminoácidos sulfurados, característica rara entre as proteínas de origem vegetal (Figura 67). Fig. 67. Farinha de gergelim obtida da torta resultante do processo de extração do óleo das sementes brancas. 8. Receitas com Gergelim para Merenda Escolar Com a torta resultante do processo de extração do óleo poderia elaborar a farinha e usá-la na preparação de pão e bolacha para a alimentação dos habitantes (ou merenda escolar) das comunidades rurais de São Francisco de Assis do Piauí. 95 Foto: Vicente de Paula Queiroga No intuito de contribuir com a diversificação dos alimentos para a merenda escolar das escolas públicas do município de São Francisco de Assis do Piauí, de modo a fornecer opções de alimentos saborosos, nutritivos, adaptados ao paladar dos estudantes, um técnico do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão ministrou o primeiro treinamento de preparação de produtos com receitas de gergelim para 45 mulheres na referida cidade (Figura 68), em setembro de 2007; durante o evento, houve distribuição de um manual de receitas com sementes de gergelim (FIRMINO, et al., 2005). Fig. 68. Curso de preparação de receitas com gergelim oferecido pela Embrapa Algodão para uma turma de mulheres de São Francisco de Assis do Piauí. Todos os produtos abaixo mencionados, com exceção do pão de gergelim, foram elaborados pelas mulheres de São Francisco de Assis do Piauí, durante o curso de receitas de gergelim organizado pela Embrapa Algodão: a) Pão de Gergelim (Figura 69) Ingredientes 800 g de farinha de trigo 96 200 g de farinha semi desengordurada de gergelim 40 g de açúcar 40 g de gordura vegetal 10 g de melhorador 500 mL de água 40 g de fermento. Modo de preparar Misturar todos os ingredientes até formar uma massa lisa e enxuta. Fazer uma bola com a massa e deixá-la descansar durante 30 minutos. Fazer os pães e arrumá-los em assadeira untada com óleo vegetal. Deixá-los fermentar durante 90 minutos. Foto: Paulo de Tarso Firmino Assar os pães por aproximadamente 15 minutos, em temperatura de 200°C Fig. 69. Pãezinhos caseiros de gergelim elaborados pelo Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão. b) Biscoito de gergelim (Figura 70) Tipo Massa Flora Ingredientes 800 g de farinha de trigo 200 g de farinha semi desengordurada de gergelim 97 300 g de manteiga (marca Primor é melhor, pois não derrete) 4 ovos 300 g de açúcar cristal. Modo de preparar Misturar todos os ingredientes na batedeira elétrica doméstica, adicionando as farinhas aos poucos, até formar um creme. Modelar os biscoitos. Assá-los em forno elétrico por aproximadamente 15 minutos, em temperatura de 180 °C. Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 70. Biscoito de gergelim elaborado pelas mulheres de São Francisco de Assis do Piauí, durante o curso de preparação de receitas com gergelim. c) Bolo de gergelim (Figura 71) Ingredientes 1 xícara (chá) de farinha de gergelim 3 xícaras (chá) de farinha de trigo 1 xícara (chá) de leite 2 xícaras (chá) de açúcar 3 colheres (sopa) de manteiga (marca Primor) 1 colher (sobremesa) de fermento 1 colher (café) de sal 1 colher (sopa) de canela, cravo e erva doce (todos juntos 98 4 ovos Modo de preparar Torram-se as sementes de gergelim e, em seguida, trituram-se no liquidificador Bate-se a manteiga com o açúcar e os ovos inteiros, até formar um creme Acrescenta-se a farinha de trigo, sal, alternando com leite, farinha de gergelim e o fermento Coloca-se a massa em forma untada e polvilhada Coloca-se sementes por cima para decorar Leva-se ao forno brando para assar por aproximadamente 30 minutos. Foto: Vicente de Paula Queiroga Obs: Usar forma com fundo central número 24. Fig. 71. Bolo de gergelim elaborado pelas mulheres de São Francisco de Assis do Piauí, durante o curso de preparação de receitas com gergelim. d) Doce de gergelim ou espécie (Figura 72) Ingredientes 1 copo de gergelim 1 copo de farinha de mandioca 1 colher de sopa de manteiga 1 colher de sopa de cravo da índia torrado ½ copo de castanha de caju assada e sem pele 4 copos de mel de rapadura, coados. 99 Modo de preparar Colocar o gergelim numa caçarola e levar ao fogo para apurar Quando estiver estalando, retirar do fogo e continuar mexendo, até esfriar um pouco. Medir o cravo, a erva-doce e a castanha, e misturar tudo. Passar no moinho ou liquidificador (com cuidado para não embolar. Para tanto, colocar no liquidificador igual quantidade de farinha de mandioca) e colocar numa caçarola. Juntar o mel e a manteiga. Levar ao fogo, mexendo sempre. Retirar do fogo quando começar a aparecer o fundo da panela Foto: Vicente de Paula Queiroga Colocar numa vasilha de boca larga com tampa. Fig. 72. Doce de gergelim elaborado pelas mulheres de São Francisco de Assis do Piauí durante o curso de preparação de receitas com gergelim. 9. Alimentação Animal A Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) possui uma organização coletiva de criação de caprinos, a qual tem por objetivo o empréstimo de animais por um determinado tempo aos produtores familiares das distintas comunidades (no máximo 3 anos). Atualmente, a gestão da FFA está tentando montar um projeto de duas câmaras para abatedouro e para carne (frigorífico) para ser instalado na região de Simplício Mendes-PI (Figura 73). Foto: José Anchieta Moura 100 Fig. 73. Projeto futuro da FFA de instalação de câmaras para abatedouro e para carne de caprinos em Simplício Mendes-PI. Os produtores familiares das diferentes comunidades de São Francisco de Assis do Piauí receberam treinamentos sobre preparação de silagem para os animais ruminantes e sobre confecção dos silos tipos "buraco" e "em cima da terra", cujos tamanhos variaram de 4 x 2 m até 6 x 2 m. Mesmo assim, o referido município foi bastante castigado por uma grande estiagem em 2007 e a solução para muitos produtores foi a alimentação dos caprinos com feixes de gergelim triturados em máquina forrageira. O aproveitamento do gergelim triturado pelos caprinos tem sido satisfatório em São Francisco de Assis do Piauí, mas existe a possibilidade da ingestão isolada 101 do material volumoso e fibroso do gergelim causar o cálculo renal no animal. Para que os caprinos sejam mais bem alimentados e não morram por falta de ração no período de entressafra, seria recomendável equilibrar o material fibroso do gergelim com palma forrageira, ambos triturados. A essa mistura sugere-se a adição de melaço de cana-de-açúcar. Foto: Manoel Francisco de Sousa Além de ser abundante na região de São Francisco de Assis do Piauí, a maniçoba nativa (Manihot glaziovii Muell. Arg.) é um excelente alimento para os caprinos (Algodão Agroecológico, 2007), após ser bem triturado (pedaços pequenos) na máquina forrageira (o ácido cianídrico é volatizado da maniçoba triturada), o que ainda não está sendo aproveitado para a confecção de silagem (Figura 74). Na ausência da palma, o fibroso de gergelim triturado poderá ser misturado com a forragem de maniçoba proveniente do silo de armazenamento tipo "buraco", adicionando um pouco de melaço, para alimentação dos animais no período seco (PRODUÇÃO, 2007). Fig. 74. Silo para armazenar forragem de maniçoba triturada na máquina forrageira. Dimensões do buraco: 2 m de comprimento x 1 m de largura x 0,80 m de altura. Revestir o buraco com lona de plástico de 4 ou 6 m de largura com espessura de 200 micros 102 Os técnicos da Embrapa Algodão orientaram os produtores a guardarem os feixes de gergelim, após o processo de batimento , numa sombra de árvore, ou a triturarem todo o material de imediato e ensacá-lo para os caprinos alimentarem-se posteriormente, misturando essa silagem com a palma ou a maniçoba, quando não houver mais a presença do pasto natural na região (período de estiagem). Também o produtor poderá aproveitar a rica forragem, formada com a folhagem das plantas de gergelim resultantes da peneiração das sementes, para alimentar os animais. Segundo Augstburger et al. (2000), a palha de gergelim cuidadosamente seca pode ser aproveitada em forma limitada como forragem. 10. Construção de Barragens Subterrâneas Essa tecnologia social aproveita as águas das enxurradas e de pequenos riachos disponíveis na região e mantém a umidade naquela área inundada. No espaço úmido, é possível plantar todo tipo de fruteiras, verduras e culturas anuais. Além disso, a água pode ser fornecida aos caprinos por meio de um poço escavado. Foto: Dalfran Gonçalves Vale A parede da barragem é cavada para baixo da superfície do chão em solo raso, em direção ao subsolo cristalino impermeável, podendo ser executado em trabalhos de mutirão pelas comunidades locais. Em seguida, uma barreira de terra ou pedras é construída e coberta com uma lona ou folha de PVC, do lado que vem a água, para evitar vazamentos (Figura 75). Fig. 75. Construção de barragens subterrâneas nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí para aproveitamento das águas dos riachos. 103 Foto: Vicente de Paula Queiroga A barragem subterrânea irá manter um nível de água satisfatório no lençol freático do terreno à jusante da parede, o que permitirá a perfuração de poços artesianos (Figura 76) com possibilidade de atender apenas uma irrigação de salvamento na lavoura do gergelim orgânico, através de um sistema de gotejamento, quando submetida a um período de 25 dias de veranico. Fig. 76. Poço artesiano utilizado pelo produtor nordestino para irrigar a lavoura através de motor bomba a eletricidade ou a diesel. 11. Parcerias e UTD A parceria formada entre a Embrapa Algodão e a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) permitiu a instalação de seis UTDs (Unidade de Teste e de Demonstração) de gergelim no município de São Francisco de Assis do Piauí, envolvendo as seguintes comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Os resultados gerados das UTDs ajudaram nas informações básicas para elaboração do presente "Documentos 190" de gergelim orgânico. 1. Embrapa Algodão Dr. Napoleão Esberard de Macedo Beltrão Chefe Geral da Embrapa Algodão Embrapa Algodão Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário CEP: 58107-720 Campina Grande - PB CNPJ: 00.348.003/0044-50 104 2. Fraternidade de São Francisco de Assis - FFA Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon Dirigente da Fraternidade de São Francisco de Assis Fraternidade de São Francisco de Assis Praça da Matriz, 656 centro CEP: 64.745-000 São Francisco de Assis do Piauí-PI CNPJ: 06.109.666/0001-69 3. Locais de implantação das UTDs: safra 2008 Tabela 9. Comunidade, área plantada, produtividade e responsável pela Unidade de Teste e de Demonstração - UTD - de gergelim no município de São Francisco de Assis do Piauí Estima-se que, para o ano agrícola de 2008, o município de São Francisco de Assis do Piauí tenha cultivado quase 60 ha de gergelim, sendo que tal fato representa a maior concentração de áreas de agricultura familiar plantadas com gergelim branco orgânico do país, pois as sementes básicas da BRS Seda foram distribuídas pela FFA para mais de 100 produtores familiares, cabendo a cada produtor a missão de plantar ½ ha. Por outro lado, para atender à produção de gergelim orgânico com qualidade nesse município, a Embrapa Algodão adotou o modelo estratégico de transferência de tecnologia denominado UTD (Unidade de Teste e de Demonstração) em cada uma das comunidades escolhidas. Esta escola de campo (UTD) é um instrumento para transferência de tecnologia em tempo real, visando à organização dos produtores familiares das seis comunidades envolvidas na programação da FFA do município de São 105 Francisco de Assis do Piauí, que, de forma associada e partilhada, foram informados através de aulas práticas no campo de produção (treino-visita), contemplando as diversas fases de condução da lavoura do gergelim orgânico. Foto: Flávio Tôrres de Moura O objetivo da UTD em São Francisco de Assis do Piauí foi nortear o processo de profissionalização dos produtores familiares no manejo da cadeia produtiva do gergelim, tendo a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) atuado nesse trabalho em parceria com a Embrapa Algodão. As orientações técnicas dadas pelos pesquisadores da Embrapa aos vários produtores reunidos na UTD matriz permitiram criar um efeito positivo no processo de apropriação tecnológica pelos produtores familiares, cujos conhecimentos adquiridos foram aplicados nos seus lotes (UTDs filiais). Na Figura 77, encontra-se o organograma das UTDs. Fig. 77. Modelo estratégico, para transferência de tecnologia, adotado pela Embrapa Algodão para produção de gergelim orgânico nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. 12. Mercado em Geral de Gergelim O cultivo do gergelim, produzido em grande escala comercial por comunidades de agricultores familiares, depende, portanto, das modificações nos costumes culturais e sociais da população. Nos últimos anos, o consumo do gergelim pela população brasileira tem aumentado consideravelmente e isto se 106 deve à importação de sementes de alta qualidade (mais de 60% do consumo do Brasil é importado), principalmente de cor branca (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Tendo em vista as boas perspectivas dos mercados nacionais e internacionais, as sementes de gergelim, que contêm em média 50% de óleo de elevada qualidade com aplicações diversas, encontram-se em plena ascensão, devido ao aumento da quantidade de produtos industrializáveis para o consumo, que tem crescido em torno de 15% ao ano, gerando demanda do produto "in natura" e mercado potencial capaz de absorver quantidades superiores à atual oferta (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Foto: Dalfran Gonçalves Vale Espera-se que o gergelim orgânico possa ser uma alternativa socioeconômica para os produtores das seis comunidades de São Francisco de Assis do Piauí (Figura 78), mas também é necessária a presença de Deus na vida de cada um deles para que todo ano ocorram bom inverno e prosperidade de colheita, de modo que esses produtores possam gerar emprego e renda para a população do campo, contribuindo, assim, para o desenvolvimento sustentável do referido município. Fig. 78. Visita de produtores em campo de gergelim orgânico, com excelente crescimento, do produtor Juarez de Souza Teixeira da comunidade de Barra Bonita, município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. 107 Visando entender melhor aos padrões de qualidades dos grãos de gergelim exigidos pelo mercado e estreitar os elos da sua cadeia produtiva, a seguir é destacada a relação dos padrões de qualidade para os grãos de gergelim, alguns produtores de gergelim do Nordeste, principais compradores nacionais e internacionais de gergelim, além de fornecedores de equipamentos, fabricante de embalagem, descascadores de grãos e beneficiadores de grãos de gergelim. 1- Compradores de Gergelim Região Noredeste: CEARÁ George Luiz Lucas de Lima Fortaleza- CE (0xx85) 3261-5685 Celular (0xx85) 9957-7245 E-mail: [email protected] Micro-Indústria de Alimentos Fortaleza-CE (Paulo) (0xx85) 3227-3542 (0xx85) 9977-7774 Crivel Engenharia Ltda Rua Joaquim Nabuco - 2270 Fortaleza - CE Fone: (0xx85) 3244-4044 Arnaldo de Carvalho AV: Dioguinho - 4200 - Apto - 113 - Praia do Futuro CEP: 60181 - 770 - Fortaleza - CE Fone/Fax: (0xx85) 3234-0413 Celular (0xx85) 9121-4020 BAHIA EDVALDO CARNEIRO E SILVA Fazenda Estiva - Itapeipu CEP: 44.7000.000 - Jacobina - Bahia TEL/FAX: (0xx47) 3229 - 8059 (0xx43) 662064 - 8501 - Áustria ( Residência) 108 MARANHÃO Empresa 3B Parteness (Compra gergelim orgânico) Av. Dos Holandeses, condomínio Barra Mar 1, BL 09A, Apto 103, Calhau CEP 65.075-441 São Luís/Maranhão, Brasil. Contato: Bruno Linczowski Tel/fax: 0055 (98) 3248-2264 Celular: 0055 (98) 9124-0414 E-mail: [email protected] MSN: [email protected] SKYPE: brunolinczowski PARAÍBA Coopernut Multimistura - Cooperativa de Produtos e Suplementos Naturais de Campina Grande Rua Avenida Juscelino Kubischeck - 20 - Distrito do Velame CEP: 58.107-000 Campina Grande-PB Fone (0XX83) 3336-2413 (contato: Avani) E-mail: [email protected] Mini-usinas de Extração de Óleo e Produtos Naturais de Gergelim Luiz Leme ou Ronaldo (óleo, tahine, gersal, doce em barra etc e plantadeira manual para sementes de gergelim) Várzea - PB (0xx83) 3469 -1076 (0xx83) 9136-3668 E-mail: [email protected] Jacinto Martins do Nascimento Rua: Mário da Costa Agra - 194 - Bairro do Catolé Fone: (0xx83) 3331 - 2156 58.110.105 - Campina Grande - PB Pedro Abrantes Rua 496 - Baim/ Aeroporto - Acesso BR 230 - Cajazeiras Fone: (0xx83) 3531 - 1106 Fax: (0xx83) 3531 - 1198 109 Coopaib Ricardo - Presidente da Cooperativa Pocinhos-PB Fone: (0xx83) 3384-1226 / (0xx83) 9971-0542 Suzy Antonino da Silva (0xx83) 9975-2735 Profissional Liberal (Pastoral da Criança - Multi mistura ) Washington Guarabira - PB (0xx83) 9996-3830 PERNAMBUCO Micro empresa Moá Moacir Soares Costa (óleo, tahine, bolacha, pão, biscoito, bala, fubá, doce cremoso, cocada etc ) E-mail: [email protected] Venda: (81) 3223-0754 / (81) 9268-6094 Albanita Carneiro Rua: Do Riachuelo - 641 CEP - 220-6003 - Boa Vista - Recife- PE. Nutriteles Indústria e Comércio de Alimentos Ltda C.N.P.J.: 07.524.096/0001-36 Insc. Est.: 18.5.700.0328692-4 Caixa Postal 58 Paudalho-PE - CEP 55.825-000 Fones: 81.3252.1569 / 81.9421.6031 PIAUÍ Usina Livramento Ind. Com. Ltda (DUREINO) Presidente: João de Almendra Freitas Filho Contorno Rodoviário - 1999 Fone: (0xx86) 3232-3377 ou (0xx86) 3234-1140 Teresina - PI 110 RIO GRANDE DO NORTE Santana Sementes Ivanilson Araújo (0xx84) 3234-4046, (0xx84) 9974-1951, Fax (0xx84) 3206-5972 Natal-RN (Usina Algodoeira e de Extração de Óleo em Alto do Rodrigues-RN, próximo à cidade de Açu-RN) (Usina Algodoeira e de Extração de Óleo em São Mamede-PB) Leonardo Bezerra de Melo Tinoco Rua: Bartolomeu Fagundes - 471 - Bairro Petrópolis Fone: (0xx84) 9983 - 2533 ou (0xx84) 3202-2333 ou (0xx84) 3202-3966 CEP - 59.020.014 - Natal - RN Gilberto Fonseca Tinoco Filho Fone: (0xx84) 3221-6332 Natal-RN Rogério Menezes de C. Pires - Crivel Engenharia Ltda Rua: Wenceslau Braz - 571 Mossóro - RN Tel/Fax: (0xx84) 3321 - 2623 REGIÃO CENTRO-OESTE: MATO GROSSO Araguassu Óleos Vegetais Márcia Nespolo - Contato Empresa Tel.: (0xx66) 3569-1284 Endereço, Br 158 km 598 - Zona Rural CEP: 78655-000 Cidade: Porto Alegre do Norte-MT Luis Carlos Lima Cocalinhos-MT Fone: (0XX61) 3586-1176 111 GOIÁS Granol CEP 75905-190 - Rio Verde/GO. Fone/Fax (0xx64) 3602-1278 / (0xx64) 3602-1190 GO 320, Km 01 - Trevo. CEP 75650-000 - Edéia/GO. Telefone (0xx64) 3492-1390 Hedesa Tecnologias (Biodiesel) Rua 6 Q 13E, 1 S Ind Munir Calixto CEP: 75133-700 Anápolis-GO Tel. (0xx62) 3316-3400 / (0xx62) 3316-3500 REGIÃO SUDESTE: São Paulo Indústrias de Produtos Alimentícios Istambul Rua: Antônio Lobo - 95/103 - Penha Fone: (0XX11) 3294 - 8088 São Paulo - SP Rio de Janeiro - (0XX) 2266-7955/9975-4781 Sesamo Real Produtora de alimentos à base de gergelim Campinas-SP Tel. (0xx19) 3881-1791 (André Negri) Frontemar Importadora e Exportadora Ltda Rua: Polignano A. Maré - 211 - Brás Fone: (0xx11) 3229-5333 São Paulo-SP Macrozen Indústrias e Comércio de Alimentos Integrais Rua: Conselheiro Furtado - 688/702 - Liberdade Fone: (0xx11) 3278-3411 São Paulo-SP Zacharias Elias Irmão Ltda Rua: Ivaí - 114 - Tatuapé Fone: (0xx11) 3295-1055 São Paulo - SP 112 Cyro Cavalcante (produtor e comprador de gergelim) Tel (0xx11) 2087-1703 São Paulo-SP E-mail: [email protected] Alex Ferro Ribeirão Preto - SP Comprador Tel. (0xx16) 3630-5900 Empresa: [email protected] Sérgio Di Bonaventura-SP Comprador (0xx11) 4718-8700/ (0xx11) 3735-2828 Campestre Indústrias e Comércio de Óleos Vegetais Ltda Rua: Luisiania - 135 - Bairro Taboão Fone: (0xx11) 4178-0255/ (0xx11)4178-0717/ (0xx11) 4178-0108 FAX; (0xx11) 4178-8546 São Bernardo do Campo - SP www.campestre.com.br/ e-mail: [email protected] Yoki Alimentos S.A Rua: Miro Vetorazzo - 661,1681 - Jardim Valdibia CEP 09820-130 - São Bernardo do Campo - SP Por telefone: (0xx11) 2188-8444 [email protected] Erno Brasil Eder Ferreira São Paulo-SP 0 XX 9274 - 7922 Consultoria Cliente (Interessado na compra de gergelim) São Paulo 3167 - 6006 Túlio Benatti - Indústria Sésamo Real Alimentos Ltda Ricardo E. Rivet Campinas-SP Tel. (0xx19) 3381-1583 / (0xx19) 3881-1791 Email: [email protected] 113 Rio de Janeiro José Luiz Delgado - Crivel Engenharia Ltda Av: Presidente Vargas - 482 - Gr 405/412 Fone: (0xx21) 3516-8331 Fax: (0xx21) 3233-6465 CEP: 20.071.000 - Rio de Janeiro Minas Gerais Ecobrazil Organics Aristidez Rizzi [email protected] Av: Contorno - 4023 - sala 1106 Belo Horizonte - MG Fone (0xx31) 3227-1008 Fax (0xx31) 3227-2543 www.ecobrazil.bio.br REGIÃO SUL: Macro Brasil Fone: (0xx41) 3276-6533 Curitiba - PR Roberto Maculan Fone: (0xx21) 3511-0869 ou (0xx21) 3274-5626 FAX (0xx21) 323017 Indústrias e Comércio de Desidratados AV: Comendador Franco - 210 A/C Makro Brasil Fone: (0xx41) 3264-9944 Curitiba - PR 2- Produtores de Gergelim Estado do Piauí Fraternidade São Francisco de Assis (FFA) Praça da Matriz, 656 centro CEP: 64.700-000 São Francisco de Assis do Piauí-PI 114 Safra 2008- Plantou 50 ha de gergelim orgânico da cultivar BRS Seda (sementes de cor branca). Programa Coordenado pelo Padre Geraldo da Paróquia de São Francisco de Assis do Piauí-PI (distante 62 km de Simplício Mendes-PI). E-mail: [email protected] Tel. (0xx89) 3482-1218 (contato: Sr. José Anchieta Moura - Agente da Pastoral) Estado da Paraíba Eneida - Gilson Rua da Aurora, 333/1004- Miramar; CEP 58.043-270 João Pessoa-PB Plantou em Pombal 03 ha de gergelim cultivar BRS Seda (safra 2008) (0xx83) 9315-1540; (0xx83) 8861-0228; (0xx83) 3244-9494 E-mail: [email protected] Associação de Produtores da Comunicade de Areal Luizinho Mogeiro-PB (0xx83) 9111-7970/ (0xx83) 3281-1012 Francivaldo Produtor de Patos-Paraíba - PB Plantio irrigado; E-mail: [email protected] Estado do Rio Grande do Norte Núcleo de Estudos Brasileiros Contato: Olivan e Jair Fone: (84) 3641-1653/ 8842-7489 [email protected] Rua João Noberto, 536- Ponta Negra 59.090-670 Natal-RN Estado da Bahia Instituto de Permacultura da Bahia Produtores de gergelim Município de Umburanas-BA Tel. (0xx74) 3528-1067. 115 Estado de Goiás Claudio Henrique Moraes Produtor de Goiás Tel. (0xx64) 3653-1511/ (0xx64) 8403-7557 VALONS Produtor de Goiás Tel. (0xx62) 9606-8895 (Contato para produtores em Goiás) EMPAER Carlos Luiz Milhomen de Abreu/ Marcus Lacerda- Contato para produtores de Goiás (0xx65) 3613-1734/ (0xx65) 8123-8843 Estado de Mato Grosso Rodrigo Sippert Produtor de Mato Grosso Tel. (0xx66) 3478-3110/ (0xx66) 9988-2825 Estado do Mato Grosso do Sul Centro de Recuperação Gileade Chapadão do Sul - MS - Produtor GILEADE - (0xx67) 3562-4172 Estado do Pará José Peixoto de Alencar Produtor de Pará-Paragominas-PA Tel. (0xx91) 3729-0995 3 - Perfil dos Importadores de Gergelim Orgânico (KOEKOEK, 2006) 1. Importadores e processadores de gergelim 1.1. Worlée Naturprodukte GmbH, Hamburgo Worlée Naturprodukte GmbH de Hamburgo faz parte do Grupo Worlée e é uma empresa familiar fundada em Hamburgo em 1851. É um provedor de ingredientes de alta qualidade para a indústria alimentícia européia. Esta empresa 116 importa gergelim orgânico e tem unidade própria de processamento. A Worlée importa cerca de 400 toneladas de sementes de gergelim por ano. A semente deve estar completamente limpa (100%), sem nenhum teor de areia. 1.2. Davert Mühle, Senden, Alemanha Davert é, em primeiro lugar, uma empresa distribuidora que abastece uma rede de alimentos saudáveis na Alemanha, usando sua própria marca Davert. Esta é uma das marcas líderes na Alemanha. Ademais, a empresa importa, processa e embala produtos orgânicos. Alguns produtos se comercializam em atacado, ainda que a empresa também venda parte de seus produtos aos supermercados. Davert é uma importadora muito importante de gergelim orgânico, chegando a alcançar uns 20 contêineres anuais de gergelim natural. Este produto é processado pela Davert antes de vendê-lo a varejistas e panificadoras. As demandas de qualidade são muito altas, requerendo-se um grau de limpeza de 99,96 por cento. 1.3. Tradin BV Amisterdã Tradin BV é uma empresa importadora e exportadora líder no comércio de produtos básicos orgânicos e um dos maiores importadores de gergelim orgânico. O proprietário da Tradin tem sido um dos protagonistas no desenvolvimento da produção de gergelim orgânico no México, Paraguai e Zâmbia. 1.4. Doens Foor Ingredients BV IJzendijke, Holanda Doens é uma empresa familiar dedicada à importação e ao processamento de produtos básicos, sobretudo grãos e sementes. A empresa, fundada em 1880, é dirigida por Walter Doens e está especializada em limpeza, classificação e moagem de produtos básicos. A empresa é uma importadora importante de gergelim orgânico. 1.5. DO-IT BV, Holanda DO-IT é um importador importante de produtos básicos orgânicos, mas sua presença no mercado de gergelim é relativamente pequena, com possibilidades de incrementar a compra de gergelim. 117 1.6. A.L. van Eck & Zonen BV, Zevenbergen, Holanda Van Eck & Zn é tanto importador como fornecedor de sementes para a indústria de panificação. Os centros de produção estão localizados nos EE.UU., especialmente os de sementes de girassol. A empresa abastece as panificadoras de toda Europa. Esta empresa deseja abrir uma linha orgânica. O gergelim convencional é obtido da Índia. 2. Empresa extratora de azeite 2.1. Provence Regime SA, Pont St. Espris, França Provence Regime é uma empresa extratora e importadora. Para a extração do óleo usa o método frio. A empresa oferece azeite orgânico e convencional extraído com o método frio e produtos elaborados orgânicos sobre a base de gergelim, como o tahini. A empresa importa volumes substanciais de gergelim diretamente de Burkina Faso ou de outro país produtor. 2.2. Ölmühle Kroppenstedt GmbH, Kroppenstedt, Alemanha Compra pequenas quantidades de gergelim de abastecedores alemães. 2.3. Huilerie Moog, Bram, França Uma das três maiores extratoras da França. A semente de gergelim é comprada diretamente no país de origem de produção, de Burkina Faso e Etiópia. 2.4. Ölmühle Solling, GmbH, Bevern, Alemanha Compra as sementes de gergelim de fornecedores europeus. 2.5. Soluna Ölmanufaktur - Werkhof Ringenwalde, Alemanha É uma extratora pequena que abastece azeite de gergelim orgânico de alta qualidade. 118 4 - Padrões de qualidade das sementes de gergelim Tabela 10. Padrões de qualidade das sementes de gergelim adotados pelos importadores. 5- Empresas Fabricantes de Equipamentos Ecirtec Rua Maurita Vaz Malmonge, nº 2-235-Distrito Industrial II CEP 17.039-770 Bauru-SP Tel. (0xx14) 3231-2256 / (0xx14) 3231-2325 / (0xx14) 3281-1515 Fabricante de mini-usina de extração de óleo de gergelim (prensa, filtro de 119 prensa, forno, classificação e limpeza de sementes, etc) www.ercitec.com.br Nux Metalúrgica Ltda Caixa Postal 132 CEP 13.970-970 - Itabira-SP Desenvolveu uma trilhadeira mecânica em parceria com Sésamo Real (SP) que produz até cinco toneladas de sementes por dia. Tel. (0xx19) 3863-2750 Fax (0xx19) 3863-2600 Luiz Leme Microempresa que desenvolveu uma plantadeira manual para sementes de gergelim, que dispensa o desbaste. Várzea - PB (0xx83) 3469 -1076 (0xx83) 9136-3668 E-mail: [email protected] Empresa Irmão Amádio São Paulo-SP Tel. (0xx11) 6618-1655 (Gerson Amádio), Fax (0xx11) 6697-2909 Fabricante de batedeira planetária com capacidade de 20 litros (modelo 20 LA) ou mais litros para despeliculação mecânica de sementes de gergelim. 6- Descascadores (ou despeliculação dos grãos) Indústria de Máquinas D Andréa S/A. Avenida Souza Queiroz, 267 Limeira-SP CEP: 13485-119 Telefone: (19)3451-8888 Fax : (19)3451-3251 Site : http://www.maquinasdandrea.com.br Máquinas Agrícolas Graciano Ind.e Com.Ltda. Avenida Conde Francisco Matarazzo, 502 Catanduva-SP CEP: 15803-145 120 Telefone: (17)3522-5150 Fax : (17)3522-5150 Site: http://www.mgraciano.com.br Máquinas Suzuki S/A. Rua José Zacura, 223 -C.P. 101 Santa Cruz do Rio Pardo-SP CEP: 18900-000 Telefone: (14)3372-5533 Fax: (14)3372-2151 Site: http://www.msuzuki.com.br Pinhalense S/A. Máquinas Agrícolas Rua Honório Soares, 80 Espírito Santo do Pinhal-SP CEP: 13990-000 Telefone: (19)3651-9200 Fax: (19)3651-9204 Site: http://www.pinhalense.com.br 7- Beneficiador de sementes (fornecedores) Indústria e Comércio Mecmaq Ltda. Avenida Pompeia, 1719 Piracicaba-SP CEP: 13425-620 Telefone: (19)3426-4239 Fax: (19)3426-6019 Site http://www.mecmaq.com.br Jr-Indústria e Comercio de Máquinas Agrícolas Ltda Avenida do Manganês, 105 Assis-SP CEP: 19812-080 Telefone: (18)3322-2674 Fax: (18)3322-2674 Site: http://www.entringer.com.br 8 - Sacos de papel multifoliado valvulado para sementes e grãos (gergelim) Indústria KLABIN Klabin de São Paulo. Telefone (11) 3046-5888. Produz saco de papel valvulado para sementes. Pedido mínimo: 20.000 unidades Dimensão do saco (15 kg): 87 cm x 70 cm 121 9 - Operador de máquina colheitadeira e aluguel (Gergelim) Francisco Trajano de Sousa Vila Umari São João do Rio do Peixe-PB (4 km de Marizópolis-PB) Fone: (83) 9111-8079 (Aluga máquina para colher arroz, a qual pode ser adaptada para a lavoura de gergelim, principalmente para as cultivares indeiscentes e semi-deiscentes) 13. Referências Bibliográficas AUGSTBURGER, F.; BERGER, J.; CENSKOWSKY, U.; HEID, P.; MILZ, J.; STREIT, C. 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Essa espécie, de distribuição tropical e subtropical, é tolerante à seca e sua produção é proveniente de pequenos e médios agricultores, exercendo, portanto, uma apreciável função social no meio rural. Os grãos de gergelim - fonte de óleo comestível de excelente qualidade, grande estabilidade e resistente à rancificação - são também utilizados na confecção de massas, doces, tortas, tintas, sabões, cosméticos e remédios (GODOY et al., 1985; SAVY FILHO et al., 1988; RAM et al., 1990; SAVY FILHO et al., 1998). Os grãos inteiros, apenas descascados (despeliculados) e polidos, são, atualmente, muito utilizados como confeito, no pão de hambúrguer e em outros produtos da panificação. A diversificação do uso e o aumento do consumo acarretaram uma significativa demanda por melhores informações sobre o seu cultivo, visando o aumento da produção e à redução das importações. As exportações mundiais de gergelim foram, durante o período 1990-2001, lideradas pela Índia, pelo Sudão e pela China, países que no ano 2001 contribuíram 126 com 62% do total do mercado. Já os principais importadores mundiais de gergelim são Japão, Egito, Coréia, UUEE, USA e China, que representam cerca de 70% das importações mundiais. As estimativas indicam que a demanda mundial terá um incremento anual entre 6 e 8%, até o ano 2012. Também se estima que a demanda exceda os volumes de produção nos próximos 5 anos (IICA, 2004). Atualmente, o mercado de gergelim encontra-se em plena ascensão, devido ao aumento da quantidade de produtos industrializáveis para o consumo, que tem crescido em torno de 15% ao ano, gerando demanda do produto in natura e mercado potencial capaz de absorver quantidades superiores à atual oferta. Segundo levantamento estatístico feito pelo IICA , 88% do comércio mundial deste produto é de sementes de gergelim, seguido da torta de gergelim, que constitui uns 8% e o óleo com 4%. A principal demanda de gergelim provém da indústria alimentícia, sendo que 70% da produção na maioria dos países importadores são utilizados para a elaboração de óleo e farinha. No Brasil, o preço do produto colhido sem beneficiamento é da ordem de US$ 600,00/t de sementes, enquanto o do produto industrializado (descascado e classificado) é cerca de US$ 1.500,00/t (COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL, 1998). No setor industrial, existem algumas firmas que são compradoras tradicionais de grãos de gergelim - como a Istambul e a Sésamo Real, ambas em SP - e outras pequenas empresas que efetuam o processamento industrial do gergelim - para produção de concentrados protéicos - e o esmagamento - para obtenção de óleo vegetal. No Centro-Oeste, o Estado de Goiás vem se firmando como um dos maiores plantadores de gergelim, havendo um avanço significativo de 85% em relação à área plantada em 2004, com excelentes perspectivas para o fomento da cultura. Já existem empresas, como a Granol e Hedesa, que efetuam a comercialização de várias oleaginosas, provenientes de produtores dessa Região (QUEIROGA et al., 2007). Os maiores avanços na agricultura moderna têm sido obtidos com as culturas que permitem práticas mecanizadas desde a semeadura até a fase de colheita com o mínimo de interferência de mão-de-obra. A mecanização da cultura do gergelim é um componente fundamental para os produtores, visando diminuir os custos de produção e o tempo de execução das atividades correspondentes numa exploração em escala comercial. Mas, no Brasil, o gergelim ainda é bastante 127 cultivado por produtores familiares, em pequenas áreas "cultura de fundo de quintal", quando o ideal seria que seu cultivo fosse em escala comercial, em áreas de, no mínimo, 2 ha por produtor, de forma organizada, em associação ou cooperativa (QUEIROGA et al., 2007). Recentemente, a Embrapa Algodão tem sido procurada por várias empresas do Centro Oeste e Sudeste, interessadas em tecnologias demandadas pela cadeia produtiva do gergelim mecanizado, visando aumentar sua área de exploração. O mesmo sucedeu nos últimos anos com a cultura do girassol, quando a instalação de uma indústria de grande porte em Mato Grosso-MT favoreceu o incremento da sua área de plantio no País, que passou rapidamente de 30 mil ha para mais de 120 mil ha. O maior diferencial da cultura do gergelim no Brasil acontecerá com o lançamento de variedades com frutos indeiscentes e sementes de cor branca, previsto para o ano de 2010, pela Embrapa Algodão. Segundo Mazzani e Larysse (1998), as características intrínsecas dessas novas cultivares terão que atender aos padrões mínimos internacionais de mercado - 50-52% de óleo das sementes e 21% de proteínas nas sementes descascadas -, para terem maior aceitabilidade nos mercados nacionais e internacionais. Vale salientar que a consolidação da cadeia produtiva de uma determinada espécie sempre tem reflexo direto sobre o nível tecnológico utilizado pelos produtores. Ou seja, no momento em que o produtor de gergelim demandar por tecnologias avançadas (sementes encapsuladas, semeaduras de precisão, variedades indeiscentes ou semi-deiscentes de cor branca, aplicações de herbicidas e dessecantes, ponto de colheita, colheita mecanizada, etc), semelhantes às adotadas pelos USA (Texas) e pela Venezuela, haverá a possibilidade de todos os elos da cadeia produtiva do gergelim serem estruturados e organizados no País, porque os produtores do agronegócio terão como foco o abastecimento dos grandes mercados nacionais e internacionais. De certa forma, estes pacotes tecnológicos irão beneficiar os médios e pequenos produtores parceiros do País, porque eles passarão a utilizar sementes das cultivares com características químicas dos grãos de maior aceitação pelas indústrias em geral (QUEIROGA et al., 2007). A introdução de antigas segadoras-atadoras de cereais na Venezuela, para substituir o duro trabalho do corte manual das plantas no período de maturação 128 das cultivares deiscentes, deu um impulso significativo às semeaduras nas áreas tradicionais de cultivo do gergelim. Colheitadeiras do tipo combinada, usadas pelo produtor na colheita e na trilha do arroz, começaram também a ser adaptadas às operações de trilha do gergelim (SUAREZ, 1995). Este salto tecnológico levou a cultura do gergelim a cobrir um espaço muito importante entre os principais cultivos oleaginosos produzidos na Venezuela, que alcançou, em 1970, a superfície cultivada máxima - 178.000 ha. Vale destacar que a mecanização do gergelim nas operações mais exigentes em mãode-obra, relacionadas às práticas agrícolas de semeadura e colheita, mudou substancialmente o tamanho médio das áreas cultivadas. Antes da mecanização do gergelim, o produtor venezuelano não conseguia plantar áreas de produção extensas, devido às limitações impostas pelas operações manuais; mas, com a adoção do sistema semi-mecanizado, principalmente na colheita, houve um incremento de 68% na produção do gergelim em escala comercial, com as áreas cultivadas variando de 50 a 200 ha (SUAREZ, 1995). 2. Importância do Gergelim O cultivo do gergelim, produzido em escala comercial por pequenos, médios e grandes produtores, depende, portanto, das modificações dos costumes culturais e sociais da população. Nos últimos anos, o consumo do gergelim pela população brasileira tem aumentado consideravelmente e isto se deve à importação de sementes de alta qualidade (mais de 60% da semente consumida no Brasil são importados), principalmente as de cor branca (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Tendo em vista as boas perspectivas dos mercados nacionais e internacionais, as sementes de gergelim - que contém, em média 50% de óleo de elevada qualidade com aplicações diversas - encontram-se em plena ascensão, devido ao aumento da quantidade de produtos industrializáveis para o consumo, que tem crescido em torno de 15% ao ano, gerando demanda do produto "in natura" e mercado potencial capaz de absorver quantidades superiores à atual oferta (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). As sementes de gergelim são consumidas "in natura" ou em produtos confeitados como os de panificação. Quando inteiras, as sementes apresentam sabor amargo, devido à acidez oxálica presente no tegumento (película), que 129 pode ser removida pelos processos: manual, mecânico, físico e químico (QUEIROGA et al., 2007). Mais de 70% da produção de gergelim são utilizados na elaboração de azeite comestível. O teor de óleo está entre 40 e 60% e o de proteína oscila entre 17 e 29% (MAZZANI; LAYRISSE, 1998). O azeite produzido do primeiro prensado a frio encontra-se entre os azeites comestíveis mais caros. Com um rendimento de quase 30%, o extra-virgem é um azeite de cor amarelo claro, não secante e suporta altas temperaturas. A boa qualidade do azeite de gergelim deve-se, essencialmente, ao alto teor do ácido linoléico, que varia entre 35 e 41% do óleo total. Por seus antioxidantes - sesamina e sesamolina -, o azeite de gergelim é mais resistente a oxidação ou a baixa rancificação (BUDOWSHI; MARKLEY, 1951), característica que não foi encontrada em nenhum outro óleo vegetal. A torta do prensado contém entre 40 e 70% de proteínas e 12% de óleo, constituindo-se em excelente alimento para o ser humano (sementes brancas) e para os animais (sementes de outras cores). O gergelim já era muito conhecido e apreciado pelo povo na antiga Grécia (MOLLER, 2006), tanto que Hipócrates - considerado o pai da medicina recomendava o gergelim em suas prescrições curativas. É provavel que esta espécie tenha lhe inspirado a seguinte frase: "Que teu alimento seja o teu remédio e que teu remédio seja teu alimento". Vale destacar que na dieta alimentar da população japonesa estão presentes vários produtos à base de gergelim, sendo um dos mais importantes no seu consumo diário o azeite de gergelim tostado (Figura 1). É muito usado na cozinha oriental como tempero ou condimento, para fritar, para assar pão no forno, ou para elaborar molhos e azeitar saladas. Este azeite tostado de gergelim é altamente poli-insaturado e livre de colesterol (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, é no arquipélago do sol nascente que se concentra o maior número de pessoas acima dos 100 anos. O número de idosos com mais de cem anos de idade no Japão ultrapassou a cifra dos 32 mil centenários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). O segredo para tal longevidade ainda não foi claramente revelado pelos japoneses Foto: Nair Helena Castro Arriel 130 Fig. 1. Azeite tostado de gergelim usado na culinária japonesa, chinesa e coreana. e permanece um mistério. Mas, na maioria das vezes essa longevidade está associada ao bem-estar da população, principalmente, aos seus hábitos alimentares. As argumentações anteriores reforçam a idéia da nobreza do óleo de gergelim para a alimentação humana e, ao mesmo tempo, levanta a suspeita de que a resposta sobre o segredo da longevidade de vida dos japoneses tenha sido descobrir a sabedoria contida na frase de Hipócrates: FAÇA DO ALIMENTO O SEU MEDICAMENTO. Thomas Jefferson, presidente dos USA no período de 1801-1809, escreveu a seguinte frase: "O gergelim está entre as mais valiosas aquisições feitas pelos USA e não acredito que exista outro azeite tão perfeito que possa substituí-lo" (LANGHAM et al., 2006). Os componentes mais importantes do gergelim - entre eles, sesamina, sesamolina, sesamol e pinoresino - são antioxidantes naturais, pertencentes à família das lignanas. Estes compostos fenólicos conferem maior estabilidade aos ácidos graxos presentes na semente razão pela qual o óleo de gergelim, mesmo sendo poli-insaturado, é muito utilizado na cozinha oriental - e têm demonstrado produzir os seguintes efeitos: retardam o envelhecimento celular, prolongando a vida útil das células; atuam contra fungos e bactérias; inibem o desenvolvimento de células cancerígenas; possuem ação antiparasitária; eliminam radicais livres, 131 interrompendo processos de oxidação celular; potencializam-se com a vitamina E (gama tocoferol) presente na semente, melhorando sua absorção no organismo e, conseqüentemente, sua ação antioxidante (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).Moller (2006) acrescenta que eles também atuam como afrodisíaco, laxante e na atividade mental. Ainda não se constatou a presença desses antioxidantes naturais em outros óleos vegetais. Atualmente, pesquisas revelam que o hábito de comer gergelim cotidiamente pode trazer benefícios para a saúde humana, auxiliando na prevenção de várias doenças: depressão, osteoporose (por ser rico em cálcio), colesterol (lecitina) e arteriosclerose. A composição dos antioxidantes naturais da semente de gergelim branca, preta ou marrom, foi comparada por Yoshida et al. (1997) com a da semente torrada e não. O teor de sesamina foi maior para a semente branca, enquanto o de sesamolina foi maior para a marrom. Com a torrefação o teor desses antioxidantes diminuiu com o tempo de aquecimento, enquanto o de sasamol aumentou. Esses resultados mostram que as composições dos antioxidantes naturais apresentam variações insignificantes entre sementes de distintas cores, o que derruba o mito: "as sementes pretas são as mais indicadas para os tratamentos medicinais". Para que o consumo brasileiro de gergelim cresça, é necessário aumentar a produção agrícola e a divulgação do seu emprego e dos seus derivados, além de melhorar o "marketing" sobre os benefícios à saúde humana, proporcionados pelas propriedades químicas naturais existentes nessa espécie. O aumento do rendimento médio contribuiria para que o preço baixasse, tornando o produto mais acessível às classes populares, pois, atualmente, o consumo de gergelim no Brasil se restringe às classes mais favorecidas do País (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Somente nos EUA, no início da década de 90, ocorreu o lançamento de aproximadamente 300 tipos de produtos, nos quais o gergelim é utilizado (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Os produtos industrializados derivados de gergelim mais comercializado no Brasil, na atualidade, são gergelim natural limpo (13% do mercado), gergelim despeliculado para pães e biscoitos (62% do mercado), pasta de gergelim -Tahine - (22% do mercado) e óleo de gergelim (3% do mercado). 132 A venda de óleo de gergelim no varejo tem se limitado aos comércios de produtos naturais, pois a maior parte dos grãos é destinada ao mercado internacional para a extração do óleo. Este elo da cadeia poderá ser considerado um dos pontos agravantes no sistema produtivo do gergelim no País, em função do baixo valor agregado do produto, caso o mesmo depender apenas da exportação do produto na forma de grãos (QUEIROGA et al., 2007). 3. Tecnologias de Produção e Mecanização do Gergelim 3.1 Planta com frutos por axila Fotos: Ray Langham Outro passo importante para obtenção de cultivares mais produtivas é o desenvolvimento de plantas com duas ou três cápsulas por axila (caráter recessivo) em relação a uma cápsula por axila (dominante). Salvo algumas exceções, o rendimento do gergelim tem estado correlacionado à maioria das características morfo-agronômicas (LANGHAM et al., 2006; LANGHAM; RODRÍGUEZ, 1945), em que as mais importantes são comprimento da cápsula, número de cápsulas por planta (Figura 2) e número de ramos por planta . Fig. 2. Plantas de gergelim com um fruto por axila e três frutos por axila. 133 Por outro lado, Yermanos (1980) constatou que as cultivares com duas ou três cápsulas por axila foliar perdem, às vezes, tais estruturas, quando a planta é submetida a estresse, como o hídrico ou o nutricional. 3.2 Plantas ramificadas e não ramificadas De acordo com Alam et al. (1999), o genótipo ideal para obtenção de maior rendimento de sementes/planta, deve apresentar sistema radicular profundo, porte elevado, grande número de ramos e de cápsulas/ramo, alto peso de sementes e elevado índice de colheita. Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim Para obterem-se altos rendimentos, utilizam-se elevadas densidades de plantio (MAZZANI, 1999). Nas variedades não ramificadas (Figuras 3 e 4) utilizamse populações entre 250.000 e 350.000 plantas/ha (30-40 cm, entre fileiras, e 7,5 cm , entre plantas); nas variedades ramificadoras, a população pode ficar entre 150.000 e 200.000 plantas/ha (50-60 cm, entre fileiras, e 10 - 15 cm , entre plantas). Fig. 3. Planta não ramificada de gergelim precoce, com frutos deiscentes e sementes brancas, desenvolvida na Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE. Foto: Ray Langham 134 Fig. 4. Plantio ultraadensado de gergelim de cultivar não ramificadora. Segundo Cardenas (1978), a colheita mecânica tem dado melhores resultados com variedades pouco ramificadas, cuja altura, do solo até a primeira cápsula, seja de aproximadamente 30 cm. A altura da primeira ramificação e o crescimento da planta, que também têm influência sobre a colheita mecanizada, são diretamente afetados pelo ambiente e pelo manejo cultural que envolve precipitação pluvial (quantidade e distribuição), comprimento do dia (fotoperiodismo), densidade de sementes e de plantio (estande) entre outros (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). 3.3 Cultivares As variedades de gergelim normalmente se dividem em três tipos: deiscentes, indeiscentes e semi-deiscentes. a) Variedades deiscentes: A maioria das variedades deste tipo, que se cultivam nos Estados Unidos, tem sido produzida a partir da variedade Kansas 10 ou K-10, não ramificada (Figura 5), cujas sementes têm um alto teor de óleo (acima de 50%), mas, tem seu valor limitado no mercado, devido ao seu sabor amargo (OPLINGER, 1990). Outras variedades deiscentes cultivadas nos Estados Unidos são: Margo, Oro, Blanco, Dulce e Ambia (Tabela 1). Várias cultivares de gergelim desenvolvidas na Venezuela têm sido introduzidas no Brasil desde a década de 1950. Estas cultivares eram mais precoce Foto: Ray Langham 135 Fig. 5. Frutos de gergelim deiscente Tabela 1. Rendimento de grãos (kg/ha) e características varietais (cor de sementes, altura e maturidade) das plantas de gergelim deiscentes desenvolvidas nos USA. Lubbock, Texas. 1 Média = 90 a 150 cm; Alta > 150 cm. Precoce = 90 a 105; Média = 106 a 120. 2 (90 dias) que os tipos locais (120 dias) e, em condições de sequeiro, eram 40% mais produtivas. Com base nesses estudos, recomendavam-se para o cultivo na região Nordeste, as cultivares Venezuela 51, Venezuela 52, Morada, Inamar e Aceitera. Entretanto, essas cultivares exóticas, apesar da precocidade e da uniformidade, não apresentavam a adaptabilidade e a tolerância à seca dos tipos locais, preferidos pelos agricultores (ARRIEL et al., 2001). Na Tabela 2, 136 Tabela 2. Características agronômicas de algumas variedades deiscentes de gergelim desenvolvidas na Venezuela. b: branco c: cremoso o: escuro s: esverdeado a: ausente p: presente encontram-se as principais características das cultivares de gergelim desenvolvidas na Venezuela (MAZZANI, 1999). A maioria das cultivares deiscentes de gergelim lançadas pela Embrapa Algodão foi direcionada para o Nordeste - microrregiões Sertão e Seridó, com exceção da cultivar BRS Seda, que é indicada também para as regiões Centro Oeste - Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso - e Sudeste -São Paulo (EMBRAPA, 2007). Esta cultivar pode ser plantada no cerrado em janeiro/ ou fevereiro (cultura de safrinha), após a colheita de soja, arroz ou milho precoces. Na Tabela 3, encontram-se as principais características das cultivares deiscentes geradas pela Embrapa (EMBRAPA, 2007). Savy Filho (2008) admite que, quando cultivo da cultivar IAC-Guatemala é realizado na região Sudeste, os seus frutos são semi-deiscentes proporcionando maior período de colheita com perdas menores. Em ensaios realizados na região do Nordeste -ambiente de alta temperatura (calor) - pela Embrapa Algodão, 137 Tabela 3. Características das cultivares deiscentes de gergelim desenvolvidas pela Embrapa Algodão. Campina Grande, PB. verificou-se que seus frutos tiveram comportamento deiscentes. Na Tabela 4, encontram-se as principais características das três cultivares de gergelim desenvolvidas pelo IAC. b) Variedades indeiscentes: As variedades indeiscentes têm sido desenvolvidas para colheita mecânica (Figura 6), embora, suas sementes normalmente, contenham teor de óleo abaixo de 50% - sendo, consequentemente, utilizada unicamente para a produção de óleo (OPLINGER, 1990). Baco, Paloma, UCR3, SW-16 e SW-17 são algumas variedades indeiscentes dos USA (Tabela 5). Para solucionar o problema da colheita mecanizada do gergelim, o setor de melhoramento da EMBRAPA Algodão estará lançando no Brasil sua primeira cultivar indeiscente (semente branca), em 2010, e avaliando mais 4 progênies, com esta mesma característica. 138 Foto: Derald Langham Tabela 4. Características das cultivares deiscentes de gergelim desenvolvidas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Campinas-SP. Fig. 6. Frutos de gergelim indeiscente. 139 Tabela 5. Rendimento de grãos (kg/ha) e características varietais (cor de sementes, altura e maturidade) das plantas de gergelim indeiscentes desenvolvidas nos USA. Lubbock, Texas. 1 2 Baixa até 90 cm; Média = 90 a 150 cm. Precoce = 90 a 105; Média = 106 a 120 dias Desde o descobrimento do mutante indeiscente de gergelim, o retrocruzamento, como método de melhoramento, tem sido utilizado nessa cultura com bastante êxito na Venezuela (MAZZANI et al., 1975). Segundo Montilla et al. (1990), através dos trabalhos de cruzamento entre variedades comerciais e tipos indeiscentes, usando-se este último como doador, foram obtidas as variedades Morada Indeiscente e Inamar Indeiscente (Tabela 6). Tabela 6. Principais características das cultivares de gergelim Morada e Inamar indeiscentes plantadas no Estado de Portuguesa, Venezuela. b: branco c: cremoso p: presente Bennett (2004) recomenda apenas o uso de quatro cultivares de gergelim para os produtores da Austrália, as quais são indeiscentes e utilizadas na colheita mecânica - Aussie Gold, Beech's Choic, Yori 77 e Edith; suas características são apresentadas na Tabela 7. 140 Tabela 7. Algumas características das cultivares de gergelim australiano indeiscentes. Foto: Ray Langham c) Variedades semi-deiscentes: As cultivares de gergelim semi-deiscentes da empresa Sesaco foram patenteadas no Texas (Figura 7) e não se recomenda o uso de dessecante para acelerar a colheita. Assim, o ciclo dessas cultivares pode se prolongar de 130 a 150 dias (LANGHAM et al., 2006). Embora as plantas permaneçam no campo para secar até atingir a umidade máxima de 6% das sementes (equivalente a 12% do milho), consequentemente elas irão manter a maioria das sementes dentro da cápsula (sementes retidas pela placenta do fruto). As principais características das cultivares semi-deiscentes são apresentadas na Tabela 8. Fig. 7. Frutos de gergelim semi-deiscente com maior retenção das sementes no fruto. 141 Tabela 8. Principais características agronômicas das cultivares de gergelim com frutos semi-deiscentes (retenção de sementes na cápsula) produzidas pela Empresa Sesaco. Texas, USA. - Os dois locais dos ensaios: UV= Uvalde no Texas e CP= Caprock em Lorenzo, Texas. - As diferentes produtividades da cultura foram influenciadas pelas épocas de plantio, condições meteorológicas, tratos culturais, umidades e fertilidades de solos. 142 3.4 Fenômeno da pleiotropia O gergelim, Sesamum indicum L., é uma espécie oleaginosa anual com formação abundante de flores, cada uma das quais origina um fruto com 40 a 50 sementes, aproximadamente. A domesticação da planta de gergelim é ainda parcial, pois seus frutos abrem uma vez quando estão secos, através de aberturas das cápsulas que facilitam a dispersão das sementes, como nas espécies silvestres. Caso a colheita seja realizada quando o fruto se encontra seco, as perdas de grãos em campo podem originar redução no rendimento de 15 a 25% (MONTILLA; MAZZANI, 1966), principalmente quando se emprega o sistema de colheita semimecanizado de duas etapas (corte e trilha), que predomina na Venezuela. A cultivar Morada Indeiscente apresenta baixa fertilidade, tal como foi destacado por Berlingeri (2000), o qual é ocasionado principalmente por ter carga reduzida de pólen sobre o estigma e menor número de tubos polínicos no estilete, bem como pela incapacidade do órgão feminino em promover o crescimento dos tubos polínicos - quando comparada com a Morada Deiscente; sua eficiência reprodutiva é baixa e expressa-se pelo menor número de sementes por fruto e de flores por axila. Este conjunto de fatores negativos nas cultivares indeiscentes se deve à ação de um gen (id) pleiótropo recessivo (LANGHAN, 1946), que ademais produz deformação nas folhas e flores, desenvolvimento de neoplasias em ambos os órgãos, deformação das cápsulas e engrossamento do mesocarpo (ASHRI; LADIJISKI, 1964; DAY, 2000; MAZZANI; HOROVITZ, 1952). Mazzani e Horovitz (1952), que descobriram que o efeito do gen id é afetado por genes modificadores, conseguiram materiais genéticos com grandes níveis de indeiscência e boa fertilidade, os quais permitiram levantar a hipótese de que os modificadores são de efeitos simples, afetando cada um deles uma característica em particular, mas, não todas em conjunto e, em conseqüência disso, poderiam acumular-se os efeitos relacionados com a fertilidade, sem perder a indeiscência dos frutos. Os modificadores podem alterar substancialmente a fertilidade das cultivares indeiscentes, chegando ao ponto de se observar uma ausência de correlação entre a abertura da cápsula e o rendimento de sementes em alguns casos (DELGADO et al., 1994). 143 Desde o descobrimento do primeiro mutante indeiscente, os melhoristas têm dado ênfase ao desenvolvimento de cultivares que se adaptem à colheita mecânica. A obtenção de novas cultivares que retenham as sementes depois da maturação poderia ser alcançada através do manejo dos seguintes caracteres: indeiscência dos frutos e/ou sementes fortemente aderidas à placenta ou cápsulas papiráceas (ARRIEL et al., 2001). A diferença entre frutos deiscentes e indeiscentes está relacionada com o número de células do mesocarpo na zona de deiscência. A cultivar indeiscente de gergelim tem mais camadas de células, média de 11,6 camadas, na zona da deiscência, contra 1,3 camadas nas deiscentes. A deiscência do fruto tem início no ápice, em direção à base. A maior ou menor velocidade de deiscência dos frutos deve ser observada na planta de gergelim, pois, há cultivares cujos frutos se abrem rapidamente e perdem as sementes, que caem no chão, reduzindo a produtividade da cultura (BELTRÃO et al., 2001). A indeiscência ou a semi-indeiscência são os caracteres que oferecem as melhores possibilidades para resolverem-se problemas de perdas de sementes e adaptação da cultura à colheita mecanizada. Mazzani e Horovitz (1952) têm detectado efeitos pleiotrópicos dos genes para indeiscência, que afetam folhas, flores, frutos, ciclo vegetativo e rendimento, além dos genes modificadores, que influem sobre a fertilidade e a deiscência dos frutos. 3.5 Clima e solos O gergelim é uma planta de elevado nível de adaptabilidade, sendo cultivado atualmente em diversas localidades, entre 25ºS e 25ºN, em áreas com altitude de até 1.250 m, temperaturas médias do ar entre 23 ºC e 30 ºC e precipitação pluvial entre 300 e 850 mm anuais bem distribuídos durante o ciclo de cultivo. Os solos ideais para o seu cultivo são os profundos, de textura francoarenoso, bem drenados e de boa fertilidade natural. A planta apresenta maior capacidade de produção em solos de pH próximo de 7; não tolera acidez elevada, pH abaixo de 5,5, nem alcalinidade excessiva pH acima de 8,0. Deve ter 50% de volume de sólidos - 45% de matéria mineral, 5% de matéria orgânica e 50% de porosidade -,dos quais 33,5% de microsporos - armazenadores de água - e o restante, 16,5% de macrosporos - armazenadores de ar -, incluindo o oxigênio, 144 elemento vital para a respiração das plantas (KIEHL, 1979). O gergelim é extremamente sensível à deficiência ou falta temporária desse elemento no solo (BELTRÂO et al., 1994), causada pela compactação do ambiente edáfico - que reduz substancialmente a macroporosidade (poros com diâmetro acima de 50 micras), devido à destruição dos agregados do solo (PRIMAVESI, 1985) - ou pelo excesso de água - que leva à ausência do oxigênio no ambiente edáfico, tecnicamente denominada de anoxia. Mesmo que seja temporária, a anoxia acarreta consequências nefastas para o metabolismo vegetal, especialmente, com relação à absorção de nutrientes e ao metabolismo dos carboidratos nas raízes, com surgimento da fermentação (MENGEL; KIRKBY, 1979). A planta de gergelim, de raiz pivotante, é resistente ao estresse hídrico, porém, se houver boa distribuição de chuvas (500 mm) no seu período de crescimento, pode-se obter rendimento superior a 1.000 kg/ha de sementes. A distribuição ótima seria: 35% da germinação ao florescimento, 45% durante o florescimento, 20% durante o período de formação dos frutos (maturação) e de escassez de chuvas (0%) no período de colheita (QUEIROGA et al., 2007). A topografia do solo pode variar de plana a ondulada, contanto que em áreas planas não haja problema de encharcamento e nas ondulada ou acidentadas, práticas de conservação sejam observadas e adotadas para evitar erosão do solo, ou seja, o preparo do terreno deve ser em curva de nível (Figura 8). 3.6 Preparo do solo O preparo do solo, para o cultivo do gergelim, realizado de forma correta desempenha um importante papel na germinação das sementes - em razão do seu diminuto tamanho - e no posterior crescimento e desenvolvimento das plantas cultivadas - devido ao seu crescimento inicial muito lento, sobretudo, nos primeiros 25 dias da emergência das plântulas ( BELTRÃO et al., 1994; MAZZANI, 1983). O gergelim é uma planta que necessita de solo bem preparado, seja convencionalmente, com o uso de aração e gradagem, seja com técnicas de preparo mínimo. O importante no preparo do solo é o uso adequado das máquinas e implementos agrícolas para cada tipo de solo e a operação feita no momento oportuno. Os solos arenosos ou de textura franco-arenosa, já trabalhados muitas vezes, no seu preparo, só há necessidade de uma ou duas gradagens (Figura 9). Fig. 8. Preparo do solo em curva de nível em terreno ondulado. Foto: José da Cunha Medeiros Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Diego Antonio Nóbrega 145 Fig. 9. Preparo do solo para plantio de gergelim apenas com gradagem niveladora. 146 Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva Com respeito à profundidade, ao relevo, ao grau de estrutura e à classe textural, podem-se adotar dois procedimentos básicos para o preparo do solo, objetivando mantê-lo mais produtivo, aumentar o controle de plantas daninhas e armazenar mais água (BELTRÃO et al., 2001). O primeiro, refere-se ao preparo com o solo seco, em que, inicialmente, deve-se fazer a trituração e a préincorporação dos restos culturais e de plantas daninhas tardias com o uso de grade, que não seja muito pesada e nem aradora. Em seguida, utiliza-se o arado, na profundidade de 20-30 cm, dependendo do solo, e, no início das chuvas, realiza-se o plantio. O segundo, refere-se ao preparo com solo úmido, que é feito de maneira semelhante à técnica anterior: trituram-se e incorporam-se os restos culturais e as plantas daninhas com o uso de uma grade leve (Figura 10) ou niveladora e entre sete e quinze dias após a incorporação, realiza-se uma aração profunda, dependendo do tipo de solo, usando-se o arado de aiveca, evitando-se o uso de grade aradora (Figura 11). Fig. 10. Incorporação dos restos culturais em solo úmido com a grade niveladora. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva 147 Fig. 11. O uso da grade aradora no preparo do solo deve ser evitado. O solo não deve ser compactado e o controle de planta daninha deve ser rigoroso nos primeiros 45 dias após a semeadura. Deve-se dispensar o uso de grades pesadas e solos com muitos torrões, pois, estes dificultam a semeadura e a uniformidade de germinação. Recomenda-se o uso de grades leves e a incorporação de restos de culturas na profundidade entre 10 a 20 cm, em cultivo de safrinha, após o arroz e o milho. A profundidade de preparo do solo deve ser modificada em cada período de cultivo. Se a camada compactada estiver a menos de 30 cm de profundidade, ela pode ser rompida com arado de aivecas ou arado escarificador (Figura 12), atuando nesta profundidade (CASTRO; LOMBARDI NETO, 1992). O arado de aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há enterrio total dos restos de cultura. O arado de aiveca produz uma inversão do solo melhor que a do arado de discos (Figura 13), mas apresenta restrições ao uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável a estas obstruções, pois, o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991). Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva 148 Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva Fig. 12. Preparo do solo com arado de aiveca ou arado escarificador. Fig. 13. Preparo do solo com arado de discos. 149 Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva A subsolagem serve para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo, devendo somente ser recomendada quando houver uma camada muito endurecida, em profundidades não atingidas por outros implementos (Figura 14). Para otimizar a penetração no solo, alguns subsoladores permitem a regulagem de inclinação das hastes, em cuja extremidade inferior existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (ALOISI et al., 1992; GADANHA JÚNIOR et al., 1991, 1992). O arado escarificador é semelhante a um subsolador, mas, trabalha em profundidades menores, exigindo menor esforço tratório para execução das operações agrícolas. Fig. 14. Preparo do solo com arado subsolador. O processo produtivo do gergelim na região Nordeste do Brasil apresenta com freqüência falhas na população de plantas no período entre a semeadura e a emergência das plântulas, que depende das condições pluviais prevalecentes durante todo ciclo da cultura. Em razão da semente de gergelim ser muito pequena, na Venezuela recomenda-se preparar a área de gergelim na forma de sulco e camalhão com a superfície retangular (Figura 15), visando realizar a semeadura mecânica, principalmente quando se trata de regiões sujeitas a estiagem prolongada, ou para o caso de solo com sua crosta bastante endurecida (FONAIAP, 1988). Fotos: Ray Langham 150 A B Fig. 15. Preparação de sulco e camalhão com superfície retangular por meio de um sulcador adaptado e a lavoura do gergelim na fase (A) de plântula e na fase (B) de planta em adiantado crescimento vegetativo. Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva Esta tecnologia adotada de sulco e camalhão com superfície retangular é preparada com o sulcador adaptado (lâmina sobre as asas sulcadoras), o que tem permitido alcançar o estabelecimento de populações adequadas de plântulas em pouco espaço de tempo (Figura 16). Vale destacar também que, após as precipitações, parte da umidade é retida pelo solo e o excesso de água é drenado pelos sulcos (FONAIAP, 1988). Fig. 16. Preparação de sulco e camalhão (leirão) com superfície abaulada através do sulcador. 151 Foto: Diego Antonio Nóbrega Além do espaçamento de 0,60 m entre leirões, a semeadora empregada da Figura 17, terá que ser ajustada para que os discos de semeadura (descarga das sementes) coincidam com o centro do camalhão, sem esquecer sua graduação na profundidade desejada de 3 cm. Fig. 17. A semeadura mecanizada do gergelim sobre os camalhões na Venezuela. 3.7 Processo de encapsuladação de sementes As sementes de gergelim (Sesamum indicum L.) caracterizam-se pelo pequeno tamanho, pouco peso e formato irregular, o que dificulta a sua individualização e distribuição, tanto no processo manual quanto mecânico de semeadura (BELTRÃO et al., 2001). Assim, a semeadura direta de precisão é extremamente importante para os produtores conseguirem uma população homogênea de plantas. Esta operação é facilitada quando as sementes pequenas de gergelim são encapsuladas (uma semente por unidade), visando aumentar seu peso e tamanho, para que elas fluam facilmente na semeadora (Figura 18). Fotos: Vicente de Paula Queiroga 152 Fig. 18. Sementes de gergelim normais (à esquerda) e encapsuladas (à direita) utilizadas para plantio de precisão. O sistema mecanizado de distribuição de sementes encapsuladas (Figura 19) é um método de precisão muito utilizado para semeadura de sementes pequenas em lavouras de alta tecnologia, permitindo que o trator trabalhe a grande velocidade (MAZZANI, 1999). Foi com essa tecnologia que a Espanha conseguiu expandir a área de produção de beterraba para extração de açúcar, tendo como objetivo atender a toda demanda do produto consumido pela sua população (Figura 20). Com a utilização de sementes encapsuladas de gergelim, reduzem- se os custos de produção durante a fase de plantio, pois, diminui o consumo de sementes, por facilitar a mecanização da semeadura e por eliminar a prática do desbaste de plantas excedentes. Soma-se a isto, a possibilidade de incorporação de nutrientes e outros agroquímicos (fungicidas e inseticidas) durante o processo de encapsulação, podendo constituir melhorias na sanidade das sementes e no estabelecimento das plântulas (SUAREZ, 1995). No caso do gergelim não encapsulado, é necessária a quantidade de 3 kg de sementes para se plantar um hectare (preço de R$ 6,00/kg), além das despesas com a operação de desbaste. Embora a técnica de revestimento de sementes tenha sido desenvolvida há vários anos, as informações referentes à composição dos materiais empregados e à confecção das sementes recobertas são pouco difundidas, uma vez que esta técnica permanece inacessível junto às empresas de sementes e às companhias Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Bruno Mazzani 153 Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 19. Semeadura mecanizada com sementes de gergelim encapsuladas. Fig. 20. Sementes de beterraba normais e encapsuladas utilizadas pelos produtores da Espanha. 154 processadoras dos revestimentos das sementes (Exemplo da empresa de PelotasRS: ([email protected]). De acordo com Mazzani (1999), o plantio das sementes de gergelim com e sem recobrimentos foi comparado entre si, tendo o mesmo concluído que os resultados de campo acusaram ganhos ligeiramente satisfatórios em favor das sementes normais (Tabela 9). Tabela 9. Resultados de germinação das sementes de gergelim normais e encapsuladas em condições de campo. No processo de encapsulação de sementes, basicamente se aplicam sucessivas camadas de material seco e inerte (pó) dentro de uma espécie de betoneira em constante movimento, dando-lhes formato arredondado, maior massa e acabamento liso, o que facilita a sua distribuição e o seu manuseio, especialmente daquelas muito pequenas, rugosas ou deformadas. Vários produtos adesivos já foram testados em revestimento de sementes pequenas; dos que não apresentaram efeitos adversos sobre a germinação e crescimento das plântulas citam-se: composto de material celulósico solúvel em água, amido solúvel em água, metil-celulose (methocel), goma arábica mais sacarose e celulose mais hemi-celulose de pasta de madeira (QUEIROGA et al., 2007). Recentemente, um projeto de pesquisa da Embrapa Algodão para encapsulação de sementes de gergelim foi financiado pelo BNB. Segundo Suarez (1995), o encapsulamento das sementes de gergelim têm demonstrado ser um método eficiente, para lograr melhor manejo do material por parte dos vários equipamentos comuns de semeaduras (matraca, plantadeiras à tração animal e motriz, Figura 21). Com o lançamento da primeira cultivar indeiscente de gergelim desenvolvida pela Embrapa Algodão, previsto para final de 2009, é possível que essa tecnologia passe a ocupar um espaço no seu sistema produtivo. Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva 155 Fig. 21. Plantio de sementes de gergelim encapsuladas nos seguintes sistemas: mecânico manual, animal e tratorizado. Para a variedade de gergelim Aceitera, Suarez (1995) conseguiu uma encapsulação esférica, polida, com tamanho entre 3,25 mm e 4 mm de diâmetro, com umidade de 8,2%, com aumento de peso de 1 kg de sementes normais para 16 kg de sementes encapsuladas. A germinação inicial de 93%, após 4 anos de armazenamento em embalagem hermética, foi reavaliada sobre papel germitest e o resultado baixou para 78%. Em trabalho realizado com sementes de algodão, em laboratório, Queiroga et al. (2007) observaram que não houve perdas na qualidade fisiológica das sementes encapsuladas, mesmo apresentando uma camada distinta de pó envolvendo as sementes; pois, essa capa de revestimento rompeu-se facilmente em pouco tempo quando as mesmas entraram em contato com a umidade do papel de filtro durante o processo germinativo (Figuras 22 a 25). Foto: Vicende de Paula Queiroga Fig. 22. Sementes de algodão encapsuladas (com e sem corante) com 6 horas de contato com a umidade do papel de filtro. Foto: Vicende de Paula Queiroga Fig. 23. Sementes de algodão encapsuladas (com e sem corante) com 24 horas de contato com a umidade do papel de filtro. Foto: Vicende de Paula Queiroga Fig. 24. Sementes de algodão encapsuladas (com e sem corante) com 48 horas de contato com a umidade do papel de filtro. Foto: Vicende de Paula Queiroga 156 Fig. 25. Sementes de algodão encapsuladas (com e sem corante) com 72 horas de contato com a umidade do papel de filtro. 157 3.8 Espaçamento e época de semeadura Os espaçamentos mais comuns utilizados para o cultivo do gergelim estão entre 0,7 m e 1,0 m entre linhas, com 10 a 12 plantas por metro linear, mas, para o cultivo mecanizado, alguns produtores têm utilizado espaçamentos a partir de 0,3 m até 0,73 m entre linhas (MAZZANI, 1999). Dependendo do espaçamento e da profundidade, os gastos com sementes são de 2 a 6 kg/ha, podendo ser alterados conforme o estande que se quer atingir. Por serem sementes pequenas, deve-se ter o cuidado de enterrá-las no máximo até 3 cm de profundidade para não comprometer a emergência das plântulas e manter um estande próximo do ideal. No plantio manual com matraca, deve-se ralear as linhas de plantio, deixando-se 8 a 10 plantas por metro (BELTRÃO el al., 1989). Nas demais regiões do Brasil, especialmente no Centro-Oeste e no Sudeste, onde o período chuvoso é bem definido, o gergelim pode ser utilizado como primeira ou como segunda cultura, conforme o interesse do produtor. È necessário que haja sempre sincronia entre o ciclo da cultivar e o período chuvoso, de modo que a colheita seja realizada na época de seca, para não prejudicar a qualidade da semente. Para as referidas regiões, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) recomenda plantar as variedades IAC-Ouro, IAC-China e IAC-Guatemala no período de outubro a novembro e de janeiro a fevereiro. Como tais cultivares têm boa tolerância à seca, recomenda-se sua utilização na safrinha como cultura secundária (SAVY FILHO, 2008). Na região semi-árida do Nordeste, especialmente no município de São Francisco de Assis do Piauí, PI, o gergelim foi cultivado nos dias 28 e 29 de janeiro de 2008, em áreas em que a precipitação pluvial variou entre 300 e 500 mm, o atraso de 30 dias na época de plantio (final de fevereiro) entre as Unidades de Teste e Demonstração (UTDs), foi fator de redução significativa na produtividade da cultura, a qual passou de 680 kg/ha para 200 kg/ha, segundo os resultados obtidos nas UTDs por Queiroga et al. (2008). 3.9 Adubação e calagem O gergelim não tolera solos ácidos, sendo necessária a correção da acidez. A espécie é exigente em macro e micro nutrientes, e, como cultura de safrinha, 158 deve-se aproveitar ao máximo os restos de cultivos para minimizar os custos com adubos químicos. A adubação e calagem para o gergelim devem ser feitas de acordo com a análise química do solo. O calcário deve ser aplicado para elevar a saturação de bases a 70% e o teor de magnésio a um mínimo de 5 mmolc/dm3. Segundo Savy Filho (2008), a adubação mineral do gergelim deve ser nas quantidades recomendadas na Tabela 10. Tabela 10. Recomendação da adubação para o gergelim em função da análise química do solo. Uma vez constatada a acidez do solo, pela determinação do pH e dosagem do alumínio trocável, deve-se proceder à correção, com o uso de calcário, de preferência, dolomítico, que possui de 25 a 30% de CaO e mais de 12% de MgO, ou por meio do magnesiano, que apresenta de 31% a 39% de CaO e de 6% a 12% de MgO. O calcário deve ser aplicado a lanço, de modo uniforme, e depois, incorporado até a profundidade de 20 cm. Essa operação deve ser executada bem antes do plantio, no mínimo dois meses (SANTOS; HERNANDEZ, 1997). No caso do gesso, que é usado para corrigir solos sódicos e solos salinossódicos, com pH elevado, o radical sulfato liberado da hidrólise, favorece o abaixamento do pH, formando sulfato de sódio hidratado que é lixiviado, reduzindo, assim, o problema de sódio no solo (SANTOS; HERNANDEZ, 1997). 159 3.10 Sistemas de plantio Foto: Luiz Leme Para tornar essa operação mais fácil e de baixo custo, visando atender aos produtores familiares, um técnico de Várzea-PB desenvolveu uma semeadora manual, baseada em equipamentos de plantio de cenoura, cujo sistema de distribuição das sementes é do tipo cilindro perfurado, feito de tubo de PVC com diâmetro de 100 mm, colocado sobre um chassi de cano de ferro, dotado de uma roda de bicicleta, na parte dianteira, de duas rodas pequenas como sulcador, tendo logo atrás, dois cilindros de descarga de sementes e, no final, duas correntes como cobridor de sementes (Figura 26). A semeadora aproveita o movimento da roda para acionar o depósito por intermédio de um eixo. O depósito contém, na sua parte central, 6 orifícios de 4 mm de diâmetro e, ao girar, movimenta as sementes, que caem por gravidade através do orifício para dentro do sulco; em seguida, as sementes são aterradas por duas correntes pequenas. Este mecanismo apresenta uma aceitável distribuição das sementes, desde que se mantenha uma quantidade acima de 1/3 da sua capacidade de abastecimento. Para melhor desempenho da semeadora, o solo deve está bem preparado e isento de torrões, pedras e restos de vegetação. Nestas condições, a semeadora de duas linhas tem capacidade de plantar 4 ha em um dia de trabalho, além de dispensar a operação de desbaste (QUEIROGA et al., 2008). Fig. 26. Semeadora mecânica manual de duas linhas usada no plantio de sementes de gergelim. 160 Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim Com o plantio mecanizado, solo bem preparado e uso de sementes de elevado valor cultural, com pureza de 98% e germinação acima de 95%, a Embrapa Algodão instalou com sucesso um campo de gergelim na Estação Experimental da Embrapa Algodão, em Missão Velha, CE. Foi feita apenas uma pequena adaptação na plantadeira da marca Semeato (Figura 27), para o plantio definitivo no espaçamento de 90 cm entre fileiras, deixando-se de 12 a 15 plantas por metro linear e sem a operação de desbaste. Para o plantio das pequenas sementes de gergelim, utilizaram-se os discos recomendados pelo fabricante para sementes deslintadas de algodão. Esta adaptação consistiu em fecharem-se os furos dos discos com Durepox e, em seguida, abrirem-se novamente todos eles através de furadeira e broca de 0,6 polegadas, para re-uso no plantio de gergelim. Outra opção seria mandar confeccionar um novo conjunto de discos com orifícios menores. Fig. 27. Plantio de sementes de gergelim numa plantadeira adaptada no ensaio de campo da Estação Experimental da Embrapa Algodão de Missão Velha, CE. O sistema pneumático de distribuição de sementes é um método de precisão de alta tecnologia e muito utilizado para a semeadura de sementes de gergelim, permitindo que se trabalhe a grande velocidade (Figura 28). É uma tecnologia bem mais cara que a dos métodos tradicionais, pois, necessita da tomada de 161 Foto: Jerry Riney força do trator para seu acionamento, além de requerer cuidado permanente da estanqueidade do ar e ajustes na seleção das sementes. Existem várias formas construtivas; a mais comum consiste de um platô vertical com sucção lateral, em que a face interna fica em contato com um depósito de sementes e, a externa, recoberta por uma camada onde se cria a sucção por meio de uma turbina, única para todos os elementos semeadores. A sucção faz a adesão das sementes aos orifícios do platô, arrastando-as até uma zona de descarga, quando a sucção desaparece e as sementes caem por gravidade para dentro do sulco. Para evitar que a sucção transporte várias sementes no orifício, existe uma unha dentada de posição regulável que limita o número de sementes selecionadas. Os orifícios do platô são menores que a semente; para sementes hortícolas, existem orifícios cujo diâmetro varia entre 0,4 e 2 mm. O número de sementes por metro linear é regulado pelo número de furos do disco e da distância percorrida pela roda motora para cada volta do disco (SILVA et al., 2001). Fig. 28. Plantio de gergelim tratorizado pelo sistema pneumático de distribuição de sementes. Além de usar a rotação com as culturas de algodão, feijão, soja e milho, Langham et al. (2006) recomenda utilizar, para semeadura direta do gergelim em rotação com o trigo, a semeadora da marca John Deere de sistema dosificador pneumático com 24 bocas de descarga entre as fileiras do cultivo anterior (Figura 29). Esta máquina tem disco especial liso na parte dianteira para cortar as plantas 162 Foto: Jimmy Meeks daninhas e abrir um sulco muito delgado para colocar o fertilizante. Possui também outro disco conjugado de borda liso para abrir o sulco de semeadura e um sistema de dobro disco inclinado para depositar as sementes. E na parte final, tem um sistema para tapar e prensar o sulco formado pelas duas rodas inclinadas (JOHN DEERE HARVESTER WORKS, 1992). Fig. 29. Semeadura direta de gergelim pelo sistema pneumático de distribuição de sementes em rotação com o trigo. O mecanismo dosificador é pneumático e para o plantio da semente natural de gergelim é usado o disco que a firma John Deere recomenda para beterraba açucareira, nº H-136445 de 45 orifícios, e o disco específico para sorgo, nº A430366 também com 45 orifícios. A roda de terra tem pneumático nº 7.60-15 para um perímetro de 2,20 m, com uma pressão de inflado de 2,8 bar (40 lb/ polegada2). A caixa de câmbio ou jogo de engrenagens tem 5 engrenagens impulsores e 5 impulsores para 25 alternativas de separação das sementes na fileira e nos intervalos, alto e baixo, para um total de 50 alternativas de densidade de plantio em linha (LANGHAM et al., 2006). Algumas plantadeiras adaptadas de algodão são indicadas por Langham e Wiemers (2007) para o plantio com sementes de gergelim no Texas, USA, as quais incluem as seguintes marcas de máquinas e modelos: 163 • John Deere modelo 71 Flex: Disco B-Sorgo 00-30. • John Deere modelo 800: Disco B-Sorgo 00-30. • John Deere modelo 80: Disco para sorgo. • John Deere modelo Max-emerge: disco A-36323. • John Deere modelo Max-emerge II. Plantadeira a vácuo: Disco para beterraba. 3.11 Herbicida O gergelim é considerado uma planta de folhas largas (dicotiledônea), semelhante às outras espécies como girassol, algodão, feijão e soja. Portanto, a maioria dos herbicidas usados nas mesmas áreas das respectivas culturas precedentes ao plantio de safrinha do gergelim, não causará problema a essa subsequente plantação. Se tiver havido falhas com a colheita da cultura anterior, problemas potenciais podem ocorre com o posterior campo de gergelim (LANGHAM et al., 2008). O controle químico de plantas daninhas é feito através de herbicidas, e vários fatores devem ser considerados, entre eles, a composição textural do solo e teor de matéria orgânica; solos com baixo teor de argila (menor que 15%) e com baixo teor de matéria orgânica (menos de 2%) devem receber doses menores que os solos com elevado teor de argila (acima de 35%) e com elevado teor de matéria orgânica (acima de 4%). É importante também conhecer os tipos de ervas predominantes (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Os herbicidas (diuron, pendimenthalin, e alachlor), testados no gergelim são, na maioria, pré-emergentes. O produtor deve preparar a área, plantar em solo úmido e, logo depois aplicar o herbicida. Os herbicidas Diuron e Pendimenthalin foram testados em pré-emergência, em solo Bruno não cálcico, de textura francoarenosa; nestas condições, as dosagens de 0,50 kg (diuron) + 0,75 kg (pendimenthalin) do ingrediente ativo/hectare foram suficientes para um bom nível de controle das plantas daninhas. Em solo tipo Vertissolo de textura argilosa, além dos herbicidas citados acima, usou-se o Alachlor. As seguintes dosagens foram suficientes para um excelente nível de controle de plantas daninhas: O,75 kg (diuron) + 1,25 kg (pendimenthalin) e 0,75 kg (diuron) + 1,44 kg (alachlor) do ingrediente ativo/hectare. Nestas condições, o custo da capina química proporcionou, uma redução média de 73%, em relação ao custo da capina manual, com enxada (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). 164 Quando se usa o herbicida na lavoura do gergelim, deve-se ter o cuidado para se cobrir bem as sementes com terra e elas não ficarem muito na superfície, como 1 a 1,5 cm, pois, dependendo das características químicas e físicas do herbicida, poderá haver lixiviação; conseqüentemente, o produto pode entrar em contato com as sementes e danificá-las. De acordo com Weiss (1983), o ideal é colocar as sementes de 3 a 5 cm de profundidade e esse ajuste dependerá do tipo de solo. Segundo Saad (1972), o importante é usar o herbicida correto para cada situação, a qual envolve dosagens, época de aplicação e vazão de calda, com o pulverizador em pleno estado de funcionamento e calibrado, com o tipo de bico recomendado para a formulação do produto, bem como o melhor filtro a ser utilizado. Fotos: Ray Langham Com base no tamanho da área plantada, o herbicida pode ser aplicado por diferentes tipos de pulverizadores mecânicos (SAAD, 1972; Figura 30). Mesmo assim, a escolha desse equipamento pelo produtor está praticamente associada às suas condições financeiras, uma vez que seu emprego fica restrito apenas A C B Fig. 30. Aplicações de herbicidas em préemergência na cultura do gergelim com os seguintes equipamentos: A) pulverizador de herbicida manual com sistema de bombeamento movido por rodas, B) pulverizador de herbicida a tração animal com sistema de bombeamento movido por rodas, e C) pulverizador de barra tratorizado aplicando o herbicida de pré-emergência após a semeadura do campo de gergelim. 165 aos produtos herbicidas; isso porque muitos produtores não sabem lavá-lo convenientemente, visando usá-lo corretamente no combate de pragas da lavoura com os inseticidas. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ainda vale destacar que no município de São João do Sabugi-RN, os produtores estão realizando a capina da lavoura de gergelim (espaçamento de 90 cm entre fileiras) com os mini-tratores cultivadores, do tipo Tobatta com uma bitola de 80 cm, alugados de uma associação de pequenos produtores do referido município (Figura 31). O produtor paga R$ 12,00 /hora de serviço prestado para essa associação, já incluindo o operador da máquina; o rendimento por hectare do mini-trator fica em torno de 6 horas (R$ 72,00). Fig. 31. Mini-trator cultivador utilizado pelos produtores de São João do Sabugi, RN para capinar os campos de gergelim. 3.12 Irrigação O gergelim é extremamente sensível ao encharcamento e, segundo Weiss (1983), o excesso de umidade em qualquer estádio do desenvolvimento da cultura aumenta a incidência de doenças fúngicas, reduzindo sua produtividade. Geralmente, o gergelim oferece mais retorno para o produtor com menor custo (menor risco) do que a maioria das outras opções de culturas (LANGHAM et al., 2008). 166 Foto: Nair Helena de Castro Arriel Langham et al.(2006) têm afirmado que o gergelim é uma das culturas mais tolerantes à seca do mundo, mas, as mais altas produtividades - 2,5 kg/ha ou mais - são obtidas quando a cultura se desenvolve sob condições irrigadas, principalmente nas regiões áridas (Figura 32), pois, o clima quente e seco é mais favorável à cultura, uma vez que a baixa umidade reduz a incidência de doenças fúngicas (BEECH, 1981). Fig. 32. Campo de gergelim irrigado pelo sistema de pivô central na propriedade Bebida Velha, Touros, RN. Com relação ao cultivo do gergelim, Langham (2008) cita dois tipos. O primeiro tipo de gergelim refere- se às cultivares adaptadas para as regiões áridas e secas, as quais poderão ser susceptíveis a muitas doenças se forem plantadas em zonas úmidas; o segundo tipo, refere- se às cultivares desenvolvidas para regiões mais chuvosas que, se forem cultivadas em ambiente seco, irão apresentar baixo desempenho produtivo. Com relação aos sistemas de irrigação, Langham (2008) recomenda três, para o cultivo dessa oleaginosa - sulco, aspersão convencional e pivô central. Para o sistema de sulco, a recomendação é que as irrigações no gergelim sejam rápidas e leves e o turno de rega, freqüente. Deve-se dar preferência aos métodos de irrigação por superfície quando a quantidade de água não é limitante, a fonte se encontra numa posição mais elevada do que a área a ser irrigada, a declividade 167 Foto: Ray Langham não for acentuada nem o solo arenoso (Figura 33). Ele constatou que, na ausência de chuva no ciclo da cultura, há necessidade de uma pré-irrigação realizada durante a semeadura (mantendo a lâmina de água retida no sulco) e que as demais irrigações (deixando-se o excesso de água do sulco escorrer no final do processo) , poderão ser realizadas até a quinta semana, em uma ou duas irrigações, com intervalo de 10 a 16 dias. Havendo ocorrência de 50 mm ou mais de chuvas, dentro desse intervalo estabelecido, essa chuva ocasional pode ser considerada como substituto da irrigação pelo método de sulco. Fig. 33. Campo de gergelim irrigado por sulco no Texas, USA Quando houver necessidade de bombeamento e a água não for salina, a aspersão convencional é o método de irrigação que tem mais chance de ser usado pelos pequenos produtores de gergelim no Nordeste do Brasil. Utilizando-se o método de irrigação por pivô central, uma lâmina de água de 50 a 100 mm poderá ser aplicada, dependendo da quantidade de umidade existente no perfil do solo. Langham (2008) verificou que, se uma pré-irrigação for realizada durante a semeadura e não ocorrer chuva no ciclo da cultura, as demais irrigações deverão ser efetuadas até a quinta semana, em duas ou três irrigações com a lâmina de água entre 25 mm e 38 mm, em intervalo de 7 a 12 dias. Havendo ocorrência de 38 mm ou mais de chuva, dentro desse intervalo 168 estabelecido, essa chuva ocasional pode ser considerada como substituto da irrigação pelo método de pivô central. Este número de irrigações e seu intervalo dependem do solo. Em solos leves, a planta do gergelim necessita de irrigações com mais freqüência. Langham (2008) recomenda, ainda, que a irrigação pelo sistema de pivô central seja encerrada quando for atingido 50% da capacidade de floração da planta, o que ocorre entre 70 e 80 dias, dependendo da cultivar Sesaco utilizada. Atualmente, as variedades Sesaco 26 e Sesaco 28 são as mais indicadas para irrigação. O mesmo autor admite que a sub-irrigação é mais satisfatória para o desenvolvimento da planta do gergelim que o excesso de irrigação, mas, é necessário impor-se certo estresse hídrico às plantas, para que as raízes se tornem mais profundas. 3.13 Controle de doenças A cultura do gergelim apresenta suscetibilidade a várias doenças (FRANCO, 1970), algumas das quais de grande importância econômica. No Brasil, as doenças fúngicas, como a cercosporiose, a mancha angular, a podridão negra do caule e a murcha de Fusarium, constituem as principais doenças que ocorrem em áreas de cultivo. O grau de severidade de ataque das doenças é determinado, principalmente, pela suscetibilidade das cultivares, das condições ambientais e da idade da planta na época da infecção. a) Mancha de cercospora O agente etiológico desta doença é o fungo Cercospora sesami Zimm, pertencente à classe Deuteromycetes, ordem Moniliales e família Dematiaceae. Alta umidade relativa do ar e precipitação pluvial elevada concorrem para o maior desenvolvimento da doença. O fungo é transmitido através da semente, tanto externa como internamente (CARDONA, 1943; MALAGUTI, 1973); o patógeno penetra no interior da cápsula e alcança as sementes (Figura 34), tornando-as enegrecidas. As lesões encontradas nos cotilédones das plântulas apresentam abundante inóculo do patógeno, o qual dará origem às infecções secundárias (MALAGUTI, 1973). 169 Sintomas Fotos: Fernando Antônio Souto Batista Nas folhas e frutos, os sintomas caracterizam-se pela presença de manchas arredondadas, mais ou menos regulares, com o centro de coloração cinza-claro a esbranquiçado e bordas marrons. Nos caules e pecíolos, as lesões são largas e elípticas, chegando a formar cancros com áreas necrosadas e deprimidas. Quando a doença incide severamente, as plantas ficam quase que totalmente desfolhadas (LIMA; BATISTA, 1997). Fig. 34. Manchas foliares (à esquerda) e manchas nas cápsulas (à direita) causadas por Cercospora sesami. Para evitar a disseminação do fungo para áreas onde não ocorre a doença, recomenda-se a utilização de sementes sadias, livres do patógeno. O tratamento das sementes com fungicidas, à base de Carbendazin e Tiofanato metílico, pode ser empregado para o controle (KUROZAWA et al., 1985). Pulverizações preventivas com fungicidas que tenham, como ingrediente ativo, o sulfato de cobre, quando as plantas atingirem a altura de 25-30 cm, têm proporcionado controle eficiente desta doença (CARDONA, 1943; MALAGUTI, 1973). 170 O uso de cultivares resistentes é o método de controle mais eficiente e econômico. O estudo do comportamento de diferentes cultivares comerciais e daquelas pertencentes à seleção de germoplasma, realizado na Venezuela, evidenciou que aquelas testadas foram suscetíveis (MALAGUTI, 1973). Enquanto Arias (1987) observou que as variedades Maporal, Morada indeiscente, Acarigua e Inamar mostraram-se menos suscetíveis. No Brasil, Kurozawa et al. (1985) verificaram que todas as cultivares testadas existentes no país apresentavam suscetibilidade à moléstia; dentre elas a Morada e a Morada Indeiscente comportaram- se como as mais resistentes em condições de campo. b) Mancha angular A doença é causada pelo o fungo Cylindrosporium sesami Hansford, pertencente à classe Deuteromycetes, ordem Melanconiales e família Melanconiaceae. Além do gergelim, este patógeno pode afetar também a soja (COOK, 1981). O C. sesami é transmitido através da semente (MALAGUTI, 1973; ORELLANA, 1961), que é responsável pela disseminação do inóculo de um local para outro. A propagação da doença na área plantada ocorre por meio da disseminação dos esporos através do vento, da chuva e do homem; alta umidade (85%) e temperaturas acima de 22% são condições ideais para a proliferação da doença (MALAGUTI, 1973). O fungo penetra nas folhas através de aberturas naturais e, uma vez colonizados, os tecidos formam acérvulos subepidermais de cor clara, de onde crescem conidióforos curtos, simples que dão lugar a conídios hialinos filiformes, retos ou curvados e multiseptados (Figura 35). Sintomas A doença apresenta-se em plantas adultas, afetando geralmente as folhas, e caracterizam-se pela presença de lesões angulares, poligonais e irregulares, limitadas quase sempre em um ou mais lados pelas nervuras. Estas lesões apresentam coloração parda ou pardo-escura e são uniformes, com tonalidade mais clara na face inferior da folha. Estruturas do patógeno podem ser encontradas em ambas as faces da folha, sendo mais abundantes na face adaxial. A mancha angular afeta com maior intensidade, folhas baixas mais velhas, localizadas no terço inferior das plantas, induzindo à desfolha nesta região (LIMA; BATISTA, 1997). Fotos: Fernando Antônio Souto Batista 171 Fig. 35. Sintomas foliares de mancha angular em gergelim. Para o controle desta doença, recomenda-se a desinfecção das sementes (MALAGUTI; CICCARONE, 1967); contudo, o controle mais eficiente e econômico é a utilização de cultivares resistentes (FERRER, 1960; ORELLANA, 1961). Nos cultivos em áreas de baixa umidade relativa (< 60%) e altas temperaturas (>28°C), os danos foliares são mínimos. Estudos realizados, por Lima e Soares (1992), em 16 cultivares de gergelim, evidenciaram diferenças significativas quanto ao nível de resistência a esta doença, tendo as cultivares Seridó 1 SM2 e CNPA G2, comportado-se como as mais resistentes. Entretanto, para a cultivar CNPA G2 têm-se observado um aumento crescente dos danos causados pela doença. c) Podridão negra do caule A doença é causada pelo fungo Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid, cujo estágio esclerocial corresponde a Sclerotium batatícola Taub. Este fungo 172 pertence à classe dos Deuteromycetes, ordem Sphaeropsidales e família Sphaeropsidaceae. Macrophomina phaseolina; afeta mais de 500 espécies cultivadas e não cultivadas em diferentes partes do mundo (WEISS, 1983), dentre as quais a mamoneira, o algodoeiro, o feijoeiro, a soja, o girassol, o milho e várias outras espécies de plantas de importância econômica. Sintomas Fotos: Fernando Antônio Souto Batista Os sintomas caracterizam-se pela presença de lesões de coloração marromclara nos caules e ramos da planta, que podem circundar os referidos órgãos ou neles se estenderem longitudinalmente, podendo alcançar o broto terminal da planta (Figura 36). À medida que o dano avança, ramos, cápsulas e folhas secam. As plantas afetadas murcham e morrem (LIMA et al., 1997). Fig. 36. Lesões de coloração marrom-clara nos caules (à esquerda) e ramos (à direita) da planta. 173 O desenvolvimento da doença e o crescimento do patógeno são favorecidos sob condições de altas temperaturas (20°C a 35°C) e baixa umidade do solo. O nível de infecção é agravado em solos arenosos onde a capacidade de retenção da água é menor; baixa disponibilidade de potássio no solo também está relacionada a um alto índice desta moléstia (WEISS, 1983; PINEDA e AVILA, 1990). Para evitar a introdução deste patógeno em áreas onde a doença não ocorre, devemse utilizar sementes sadias, provenientes de campos isentos da doença. De acordo com Pineda e Ávila (1990), o fungicida Propineb, usado no tratamento de sementes, na dose de 1% em combinação com o tratamento do solo com o herbicida Alachlor, pode reduzir a população de M. phaseolina no solo e, conseqüentemente, a percentagem de plantas afetadas pela podridão negra. Fertilizações ricas em nitrogênio favorecem a redução da densidade do inóculo. Al-Beldawi et al., citados por Cook (1981), conseguiram diminuir, substancialmente, a incidência da doença em condições experimentais, adicionando Benomyl ao solo infestado, numa proporção de 0,3-2,4g para 5kg de solo. Experimentos em laboratório, realizados por Lima et al. (1997), comprovaram a eficiência do Benomyl e do herbicida Alachlor no controle deste patógeno. Embora, o uso de cultivares resistentes pareça ser o método de controle mais eficiente, não se dispõe de genótipos de gergelim que apresentem alto nível de resistência a esta doença. Pesquisas realizadas por Al-Ani et al. (1970) concluíram que todas as cultivares avaliadas apresentaram suscetibilidade a esta doença; dentre estas, a Gheza 10 e a Gheza 23 comportaram-se como as menos suscetíveis. Segundo Mazzani (1999) a espécie S. radiatum e diversos cultivares africanos se constituem em importante fonte resistência ou tolerância às doenças do gergelim. Estudos realizados por Urdaneta e Bauer (1981) em diferentes regiões do México, constataram que, dentre vários genótipos de gergelim avaliados os cultivares Calinda, Eva, Oro, Verde Nacional, Rubio de la Huacana e Instituto 71, comportaram-se como as mais resistentes. Segundo Correa (1990) as cultivares colombianas de gergelim, ICA pacande, ICA Ambalá, ICA Matoso e SESICA M. 11, são tolerantes à podridão negra do caule. Na Venezuela, foram desenvolvidas as cultivares resistentes Maporal, Arawaca e Aceitera (MAZZANI et al. 1981; MONTILLA et al. 1990). 174 No Brasil, pesquisas realizadas por Arriel et al. (1997) evidenciaram que a maioria dos genótipos avaliados foram suscetíveis. Os genótipos Ahnsan, Morada 6717, Tasso 8, CNPA Joro 11, CNPA 86-101, CNPA 86-77, CNPA 86-131, Zirra FAO e Seridó 1 SM apresentaram os menores níveis de infecção, enquanto a Inamar e a SB-S-5-LP-85 comportaram-se como tolerantes à doença. d) Murcha de Fusarium A doença é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sesami Cast., pertencente à classe Deuteromycetes, ordem Moniliales e família Tuberculariaceae. Quando o fungo se estabelece nos vasos do xilema passa a segregar enzimas pectolíticas que atuam sobre substâncias pécticas dos vasos vasculares ocorrendo a produção de melaninas de coloração parda, que são absorvidas pelas paredes lignificadas dos vasos xilemáticos, dando lugar à coloração marrom, que é característica da presença da enfermidade, conforme Figura 37. Sintomas Os sintomas caracterizam-se pela flacidez e pela murcha das plantas, as quais, posteriormente, morrem e secam. Por meio de um corte transversal feito no caule de uma planta doente, pode-se observar o enegrecimento dos tecidos do sistema vascular. A doença incide em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, desde a fase de plântula até a maturação (MALAGUTI, 1959). O fusarium é um fungo de solo e vive saprofiticamente em restos de cultura, podendo sobreviver por longos períodos sob a forma de esporos de resistência, os clamidosporos; a sua disseminação ocorre, principalmente, através de partículas de solo contaminado e pela água de chuva ou de irrigação; a disseminação a longas distâncias é facilitada pelo fato de o patógeno infectar as sementes tanto via interna como externa (ABD EL CHANY et al., 1970). Aliados ao uso de cultivares resistentes, a rotação de cultura, a eliminação de restos culturais, a aplicação de calcário dolomítico e a fertilização rica em nitrogênio e fósforo são medidas que podem auxiliar na redução da densidade de inóculo do patógeno no solo. 175 Foto: Fernando Antônio Souto Batista A cultivar Aceitera é resistente à doença (MAZZANI et al., 1981), enquanto as Glauca, Acarigua, Morada e Venezuela 51 são moderadamente resistentes (FRANCO, 1970). Fig. 37. Planta afetada pela murcha de Fusarium. 3.14 Controle de pragas Em geral, o gergelim é afetado por inúmeros insetos, a maioria polífagos que afetam outras plantas, especialmente oleaginosas. A seguir serão apresentados a caracterização dos danos das principais pragas do gergelim constatadas em lavouras brasileiras e o seu controle. a) Lagarta enroladeira - Antigastra catalaunalis (Duponchel) (Lepidoptera: Pyralidae) Caracterização do dano As lagartas enrolam as folhas terminais e, dentro delas tecem teias, alimentando-se de brotos, flores, cápsulas imaturas e sementes. Atacam o cultivo 176 Fotos: Lúcia Helena Avelino Araújo a partir dos 15 dias de crescimento até o amadurecimento das cápsulas. No estágio inicial, os maiores danos ocorrem nas folhas e nos ramos terminais, originando crescimento atrofiado (Figura 38). Altas infestações fazem a planta parecer enferma e de aspecto sujo. Uma lagarta pode destruir 2 a 3 plantas jovens. Na floração, as lagartas alimentam-se das flores, causando sua infertilidade e reduzindo grandemente a produção (TOVAR et al., 2000). Fig. 38. Danos ocasionados pela lagarta enroladeira no ápice da planta (superior) e na cápsula (inferior). Controle: plantio antecipado, para regiões com estações chuvosas definidas; eliminação das ervas daninhas próximo ao cultivo, já que estas servem de hospedeiras para a praga (APONTE, 1990); uso dos inseticidas deltamethrin ou carbaril, aplicados durante os estágios de crescimento da cultura anteriores à frutificação (CHOUDHARY,1986; VIEIRA et al.,1986). Choudhary (1986) observou que o incremento diário de um grau à temperatura máxima provocou considerável declínio na infestação de A. catalaunalis. b) Cigarrinha Verde - Empoasca sp. (Homoptera: Cicadellidae) Caracterização do dano Os danos caracterizam-se pela sucção da seiva e pela inoculação de toxinas, que comprometem o desenvolvimento da planta e de sua produção. As plantas 177 Fotos: Lúcia Helena Avelino Araújo atacadas apresentam as folhas com uma coloração verde-amarelado, com bordas enroladas para baixo e estiolamento dos ramos tenros. Quanto mais cedo este inseto for controlado, menores serão os danos na produção (Figura 39). São agentes transmissores de viroses e da filoidia do gergelim, especialmente quando existem lavouras de feijão macassar (Vigna unguiculata L. Walp.) e malváceas (guaxumas e vassourinhas) infectadas com viroses em áreas próximas ao plantio (BELTRÃO e FREIRE, 1986). Fig. 39. Danos causados pela cigarrinha verde Controle: o controle químico deve ser efetuado com inseticidas sistêmicos, à base de demeton-metílico, thiometon ou pirimicarb (Beltrão e Freire, 1986). c) Pulgão - Aphis sp.; Myzus persicae (SULZER, 1776) (Hemiptera: Aphididae) Trata-se de uma praga importante, em particular nas culturas conduzidas sob irrigação e/ou consorciadas com algodoeiro; contudo, seu ataque está mais ligado às condições climáticas - dias nublados, quentes e relativamente úmidos, favorecem o seu aparecimento (Figura 40). Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim Foto: Sérgio Cobel 178 Fig. 40. Colônia de pulgões em folhas de gergelim. Caracterização do dano Inicialmente, seu ataque se concentra em reboleiras e, depois, atinge toda a plantação; encontram-se, preferencialmente, na face inferior das folhas e quando o ataque é severo ocorre a paralisação do crescimento das plantas. Ao sugarem a seiva, os pulgões retiram o açúcar da planta, excretando-o em forma de melado, que recobre as folhas e, posteriormente, servirá de substrato para o desenvolvimento do fungo denominado vulgarmente "fumagina", o qual impede a fotossíntese. São eficientes transmissores de viroses (GONDIM et al.,1993). Controle: aplicação de inseticidas sistêmicos quando houver necessidade para que não se elimine a população de inimigos naturais, como os parasitóides (Lysiphlebus testaceipes (Figura A), Aphidius spp.) e predadores (Cycloneda sanguinea (Figura B), Chrysoperla externa (Figura C), Orius sp. (Figura 41). Chuvas intensas diminuem as populações de pulgões. Foto: Sérgio Cobel Fotos: A e B - Lúcia Helena Avelino Araújo 179 Fig. 41. A) Ninfas de pulgões parasitados pela vespinha Lysiphlebus testaceipes; B) Larva de joaninha Cycloneda sanguinea; C) Adulto de Crysoperla externa d) Mosca branca - Bemisia argentifolii (BELLOWS; PERRING,1994); Bemisia tabaci (Gennadius,1889) (Homoptera, Aleyrodidae). Caracterização do dano O dano direto ao cultivo é provocado tanto pelo inseto adulto como pelas ninfas, que se estabelecem em colônias na face inferior das folhas, onde sugam a seiva da planta (Figura 42). Altas infestações da praga definham as plantas, provocando "mela", um complexo de açúcares, que promove o crescimento de fungos saprófitas, geralmente do gênero Capnodium, ocasionando o aparecimento da "fumagina" sobre folhas, ramos e vagens, reduzindo a capacidade fotossintética da planta (VILLAS BOAS et al.,1997). Fig. 42. Adultos de mosca branca (superior) e Ninfas de mosca branca (inferior). Foto: Lúcia Helena Avelino Araújo Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim 180 Controle: eliminar as ervas daninhas próximas ao cultivo; evitar plantar gergelim próximo a lavouras infestadas com a praga; fazer barreiras com milho ou sorgo forrageiro, servindo de quebra-vento e, também, utilizar inseticidas para adultos e ninfas de mosca branca; utilizar detergentes neutros (160ml/20litros d'água) ou óleos (0,5 a 0,8%) ou sabões, para redução do número de ninfas, em pulverizações dirigidas à parte inferior da folha. Esta pulverização deve ser feita cedo da manhã ou após as 16:00 horas para evitar fitotoxidade; não repetir o mesmo princípio ativo nem usar mistura de produtos, pois esta prática facilita o aparecimento de resistência a inseticidas (ARAUJO et al., 1998). e)Saúvas -Atta spp.(Hymenoptera, Formicidae) Os prejuízos causados pelas formigas cortadeiras são consideráveis, pois, cortam as folhas e ramos tenros, podendo destruir completamente as plantas na 181 Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim sua fase inicial de desenvolvimento (Figura 43). O controle químico, através de iscas tóxicas granuladas, é muito utilizado, mas deve ser evitado em dias chuvosos e solos úmidos. As iscas devem ser distribuídas em porções ou dentro de portaiscas, ao lado dos carreiros ativos. É importante que vistorias freqüentes sejam realizadas na área de plantio (MARICONI, 1990). Em áreas recém desmatadas deve-se, efetuar o controle das saúvas para evitar falhas na lavoura (BELTRÃO et al., 1994). Fig. 43. Ataque de formigas saúvas (Atta spp) em cultivo de gergelim. 182 Por outro lado, é importante que o produtor efetue inspeções periódicas na área, pois, uma vez fora de controle, dificilmente algum método, mesmo o químico trará resultados satisfatórios no combate das pragas (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Na Tabela 11, encontram-se listados alguns produtos químicos sugeridos para o controle das principais pragas do gergelim. Tabela 11. Produtos químicos sugeridos para o controle das pragas do gergelim. AT - Altamente tóxico; MT - mediamente tóxico; PT - pouco tóxico; PNT - Praticamente não tóxico Dependendo do tamanho do campo de gergelim, as pulverizações contra as pragas poderão ser realizadas com os seguintes tipos de equipamentos (Figura 44): pulverizador costal (até 3 ha), pulverização electrotástica com o Electrodyn (até 5 ha), pulverizador a tração animal (até 10 ha), pulverizador tratorizado de barra (entre 50 a 100 ha) e pulverização por avião (acima de 100 ha). Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva 183 A B C D E F Fig. 44. Diferentes pulverizadores utilizados no controle de pragas do gergelim: A) pulverizador costal, B) electrodyn, C) pulverizador a tração animal, D, E) pulverizador tratorizado tipo barra e F) pulverização por avião. - Obs: O recipiente do electrodyn pode ser reabastecido com: 50% de óleo bruto de algodão (ou óleo de girassol) + 50% de Endosulfan 3.15 Formação de quebra-ventos com plantas de neem e preparação de bioinseticida Estudando o efeito das barreiras de quebra-ventos sobre o desempenho produtivo das plantas deiscentes de gergelim na Venezuela, Moreno (1985) 184 constatou que o rendimento de sementes foi 47% superior para as planta que cresceram sem proteção, quando esse campo foi protegido por quebra-ventos altos, e de 39%, quando a proteção do campo foi feita com barreiras de porte médio (Tabela 12). Esta proteção média contra os ventos pode ser obtida com plantio de neem no espaçamento de 2,5 m a 3,0 m entre covas (Figura 45); a proteção alta, pode ser obtida plantando-se alternadamente o neem e eucalipto, no espaçamento de 3 metros entre covas. Fotos: Vicente de Paula Queiroga Tabela 12. Alturas dos quebra-ventos utilizadas nos campos de gergelim deiscentes da Venezuela e suas influências sobre o rendimento de sementes. Fig. 45. Quebra-ventos com plantas de neem para proteção média da lavoura de gergelim: A) Barreira adensada, com espaçamento de 2,5 m entre plantas e B) Barreira pouca adensada com espaçamento de 4 m. 185 A influência dos ventos sobre as perdas de frutos das plantas de gergelim foi observada por Langham (2008), o qual verificou, em campo, que as cápsulas sofriam fricção das hastes e dos ramos por influência dos constantes ventos de uma determinada região, o que provocava a queda dos frutos da planta. As vezes, embora alguns frutos em atritos com os ramos possam permanecer fixos às plantas, pode ocorrer escurecimento da superfície do epicarpo (área lesionada), o que poderá provocar o amadurecimento precoce; no caso da cultivar deiscente, as sementes das cápsulas lesionadas vão cair no chão mais cedo (amadurecimento fisiológico desuniforme). Dependendo da intensidade dos ventos, Langham (2008) admite que em um campo de gergelim mais adensado, perdas dos frutos podem chegar a 70%. Este fato ocorreu no sul da França, o que inviabilizou seu plantio naquele País. O neem, que pode se usado como barreira vegetal (quebra-ventos) e como cerca viva ecológica, é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto ativo, o Azadirachtina indica, repele os insetos e controla-os, impedindo sua metamorfose em fase de larva. Os insetos que se mostraram mais sensíveis ao neem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultados de pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-docartucho do milho, curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiro e cochonilhas. Além de inseticida, a planta de neem atua como como repelente, inibidor de crescimento de pragas, fungicida e nematicida. O uso do neem poderá controlar as pragas do gergelim e reduzir seus custos de produção. Em razão disso, a Embrapa Algodão recomenda adquirir mudas de neem para serem plantadas pelos produtores das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Para atingir a auto-suficiência na produção de bioinseticidas a base de neem, é necessário apenas manter uma ou duas fileiras de plantas de neem em redor do campo do gergelim, visando também reduzir as perdas de frutos das plantas e/ou sementes das cápsulas pela ação do vento. Langham (1999) afirma que o neem está habilitado para ser usado na cultura do gergelim, após seu reconhecimento pelo Departamento de Agricultura dos USA para controle de pragas (bio-inseticida). Antes do plantio do gergelim, os próprios produtores devem preparar preventivamente o macerado de neem para combater as pragas na fase inicial de infestação (lagartas ainda pequenas, pulgões, cochonilhas na fase larval, 186 Foto: Vicente de Paula Queiroga cigarrinha, mosca-branca na fase de ninfa, etc), pois, as mesmas são mais vulneráveis à ação dos bioinseticidas. Recomenda-se guardar a solução de neem em depósito de plástico lacrado (Figura 46) para evitar a perda do seu princípio ativo e armazenar a solução na quantidade suficiente para uma ou duas pulverizações no campo de gergelim. Fig. 46. Armazenamento preventivo da solução de neem em depósito de plástico como estratégia de controle das pragas do gergelim O rendimento dos frutos do neem varia entre 25 e 50 kg por árvore, de acordo com temperatura, umidade, tipo de solo e genótipo da planta. Normalmente, 50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as quais produzem em média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de sementes secas contém, aproximadamente, 3.000 unidades (SOARES et al., 2003). Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de neem devem ser colocadas ao sol, em camadas finas, sobre terreiros cimentados. Deve-se evitar o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Esta operação requer um único dia de sol, já que, posteriormente, as sementes devem ser transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cerca de oito dias. 187 Foto: Vicente de Paula Queiroga Os extratos de neem podem ser preparados com a simples trituração das sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24 horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura 47), embora a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração (SOARES et al., 2003). Fig. 47. Operário colocando as folhagens de neem (cortadas) dentro do tambor para preparo de solução Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem, é o recolhimento e o acondicionamento das sementes do neem em sacos de aniagem, para permitir boa aeração e evitar o aparecimento de fungos patogênicos, que possam causar deterioração das mesmas. Satisfeitas essas condições básicas, as sementes de neem podem ser armazenadas por mais de um ano. As recomendações dos preparos dos macerados de neem, para sementes despolpadas e folhagens com talos tenros, estão indicadas, respectivamente, nos trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003). 188 Preparo de macerado para lagartas, pulgões, cigarrinha-verde e moscabranca: a) Sementes despolpadas • • Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados; • Após isso as sementes são secas, raladas e imersas em água; • Na proporção de 30 a 40 g de sementes por litro de água; • Deixar em repouso por dois dias para cura; • Coar, acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume do pulverizador com água; • Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes. Da prensagem da semente pode resultar o óleo e o extrato aquoso. O extrato aquoso pode ser transformado em pó ou em torta prensada para uso como bioinseticida. b) Folhagem e talos tenros • 1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40 a 50 g de folhas por litro de água); • Passar no liquidificado com 2 litros de água (ou macerado no pilão); • Deixar os 20 litros da mistura em repouso, por 2 dias, para cura; • Coar e acrescentar 10 mL de detergente neutro; • Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de 30 a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas. Outra estratégia ecológica de uso do neem para o controle de formigas seria alimentar a cada três dias os formigueiros com folhagem de neem e, fazendo esta substituição regularmente, as formigas deixam de visitar o campo de gergelim. 189 3.16 Ponto de colheita O lançamento periódico de novas cultivares exige estudos sobre as melhores práticas culturais pertinentes a elas, inclusive no que se refere ao momento adequado da colheita para se obter maior produção e melhor qualidade das sementes. Mazzani e Allievi (1966), em estudos com cultivares venezuelanas de gergelim, verificaram que o máximo rendimento e tamanho dos grãos foram obtidos aos 97 dias após a semeadura na cultivar Glauca e aos 89 dias na 'Aceitera'. Uma característica da maioria das cultivares, especialmente das deiscentes, é o processo acelerado de deiscência natural dos frutos (cápsulas), com conseqüente queda dos grãos, que ocorre logo após o ponto ótimo de maturação, o que, no caso de colheitas retardadas, pode levar a sérias perdas na produção. Weiss (1971) estima que essas perdas podem variar de 20% a 50%. As colheitas antecipadas também podem causar perdas no rendimento, decorrentes da imaturidade e do desenvolvimento incompleto dos grãos (LAGO et al., 1994; MAZZANI e ALLIEVI, 1966). Essas perdas na produção, provocadas pela antecipação ou retardamento na colheita - mesmo que sejam de poucos dias -, podem ser significativas. Na Venezuela, em plantios com a cultivar Glauca, colheitas realizadas três dias antes ou quatro dias após o ponto ótimo (97 dias) causaram perdas de, respectivamente 38,6% e 32,7% (MAZZANI; ALLIEVI, 1966). Lago et al. (1994), estudando a cultivar IAC Ouro no ano agrícola 1988/1989, observaram que colheitas antecipadas ou retardadas por cinco dias em relação à faixa ótima (100-105 dias após emergência no campo) refletiram em decréscimos na produção de 33,2% e 24,6%, respectivamente. Lago et al. (1994) e Rincón e Silva (1993) observaram que tanto o rendimento como a época de colheita podem variar significativamente com o ano agrícola numa mesma cultivar e região de produção. Eles detectaram variações, de um ano para outro, entre 16% e 20%, quanto ao ponto ótimo de colheita (dias após plantio), e entre 39% e 51%, quanto à produção (kg/ha). A determinação do ponto de colheita é fundamental para o sucesso econômico da cultura; corresponde ao momento em que a semente atingiu a sua plena maturação fisiológica e é caracterizado como o período em que a semente 190 pára de receber nutrientes da planta (não há mais ganho de matéria seca). Para reduzir as perdas de sementes nos campos dos produtores, o ponto de maturação é determinado em todas as variedades comerciais de gergelim da Venezuela (Tabela 13, MAZZANI, 1999). Tabela 13. Ponto de maturação e algumas características agronômicas referentes às principais variedades de gergelim cultivadas na Venezuela. am: amarelado va: verde amarelento arx: arroxeado a: alto m: médio b: baixo 3.17 Colheita: época do corte das plantas Uma maneira de se determinar a época mais oportuna do corte das plantas de gergelim é através da observação do amarelecimento dos frutos, hastes e folhas, durante a maturação (BELTRÃO et al., 1994). Geralmente, a época do corte é determinada pelo produtor pela maturação dos frutos da base do caule, mesmo que os frutos dos ápices do caule estejam imaturos. Agindo assim, o produtor está tentando prevenir a queda das sementes (frutos deiscentes). Quando o produtor antecipa a colheita, aumenta a produção de sementes imaturas com 191 menor teor de óleo, de menor influência no rendimento da cultura (perdas invisíveis). Segundo Fonseca (1994), a operação de colheita será realizada tão logo as hastes, folhas e cápsulas atinjam o amarelecimento completo e antes que as cápsulas estejam totalmente abertas. As cápsulas da base, nas cultivares deiscentes, abrem-se mais cedo, o que indica o momento exato para se iniciar a colheita. Este ponto exato para o corte das plantas de gergelim, recomendado por Fonseca (1994), está de acordo com os trabalhos experimentais conduzidos por Mazzani (1983), o qual verificou que as plantas de gergelim colhidas mais tarde, quando os frutos da base das hastes começam a abrir-se, produzem sementes em maior número e de maior tamanho. Este é o momento exato da colheita pois, daí em diante a deiscência dos frutos progride rapidamente, chegando àqueles localizados no topo da planta -, mesmo que sejam constatadas no campo perdas visíveis de sementes, essas perdas são consideradas insignificantes. Mesmo assim, Mazzani (1999) afirma que o retardamento do corte das plantas por três dias pode representar incremento de 30% no rendimento de sementes, ou seja, desde que o momento exato do corte coincida com o início da abertura dos frutos do baixeiro das plantas deiscentes de gergelim. Fig. 48. Corte manual das plantas de gergelim (frutos deiscentes) no ponto de colheita Foto: Marenilson Batista da Silva A colheita manual mais utilizada no Brasil consiste no corte da base das plantas com a serra de capim ou facão afiado (Figura 48). Neste caso, o corte da haste das plantas deve ser realizado na altura da inserção dos primeiros frutos 192 (15 a 30 cm), para evitar que os feixes de gergelim fiquem grandes e para não causar dificuldades ao agricultor durante sua batedura sobre lona. De acordo com estudo realizado pela Embrapa Algodão, no Estado da Paraíba (BELTRÃO; VIEIRA, 2001), por ocasião da colheita manual do gergelim, o produtor teria que efetuar em cada hectare as seguintes etapas: cortar as plantas e agrupá-las em feixes, amarrá-los com barbante (Figura 49) e, finalmente, fazer a disposição dos mesmos nas cercas de arame para secagem; todas essas tarefas deveriam ser executadas dentro de uma jornada de 8 horas de trabalho, o que exigiria a mão-de-obra de, no mínimo seis pessoas (0,2 a 0,3 ha/hora/ homem). Foto: Marenilson Batista da Silva No caso da colheita semi-mecanizada, o plantio do campo de gergelim da cultivar BRS Seda (frutos deiscentes) deve ter articulação com a capacidade diária de corte das plantas de 16 ha realizado pela máquina segadora-atadora. Isto significa que um determinado produtor de gergelim não poderia plantar, com a plantadeira adaptada de doze linhas, o seu campo de 75 ha de gergelim em 3 dias (Figura 50). Mesmo que a plantadeira tenha sua capacidade diária de plantio Fig. 49. Feixe de gergelim com cerca de 30 cm de diâmetro sendo amarrado pelo produtor com tiras de caroá ou barbante 193 Foto: Diego Antonio Nóbrega de 25 ha por dia, o ideal seria o produtor dividir sua área total de 75 ha em 5 parcelas ou lotes com piquetes (Figura 51). Assim, cada parcela de 15 ha seria plantada (solo úmido) em dias diferentes da semana, ou seja, o plantio da primeira parcela (15 ha) seria iniciado na segunda-feira e o da última parcela (15 ha) terminaria na sexta-feira. Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 50. Plantadeira adaptada de doze linhas para o plantio de sementes de gergelim Fig. 51. Campo de gergelim de frutos deiscentes dividido em cinco lotes e cada lote semeado em dias diferentes da semana, visando obter uma sincronização com a capacidade de colheita do produtor 194 Para um produtor de gergelim inexperiente , a reação inicial é querer plantar de imediato uma grande área de gergelim deiscente, por não saber o que pode acontecer durante a colheita, como ocorreu no ano de 2007, no município de Sousa-PB. Um produtor plantou 10 ha de gergelim deiscente, mas não demarcou no campo, com piquetes, as parcelas, conforme o plantio manual realizado diariamente. Esta falta de planejamento na instalação do campo resultou numa drástica perda de sementes durante a colheita - em função da abertura natural dos frutos na maturação (ainda na planta), os quais deixam cair às sementes no chão pela simples ação do vento. Além desse planejamento, o produtor precisa saber a duração do ciclo da cultivar (por exemplo, para a BRS Seda, o ciclo é de 85 dias) e observar o momento do início da abertura dos frutos na base da haste, pois, a colheita do gergelim requer tais cuidados. 3.18 Vantagens do corte mecânico Foto: Bruno Mazzani Na utilização de cultivares deiscentes, é indispensável para o produtor o emprego da máquina segadora-atadora (Figura 52) no sistema de colheita semimecanizado, principalmente se a área semeada for acima de 10 ha. Atrelado a um trator, este equipamento é utilizado na Venezuela para cortar as plantas do gergelim no ponto de colheita (capacidade de 2 ha/h). À medida que a esteira da máquina vai enchendo com plantas cortadas a gaveta ou caixa ao lado, o operador, que fica sentado (tipo cadeira), vai controlando o lançamento dos pequenos feixes de plantas, já amarrados, ao solo (MAZZANI, 1999). Em seguida, os feixes lançados pela ceifadora-atadora são reunidos em várias medas bem alinhadas no Fig. 52. Segadora-atadora utilizada para cortar plantas de gergelim deiscentes no ponto de colheita. 195 Foto: Ray Langham campo pelos trabalhadores (Figura 53). Após três semanas de secagem ao sol, uma máquina trilhadeira é alimentada manualmente ou mecanicamente. Provavelmente, as medas em formato de cone protejam melhor os frutos secos das cultivares deiscentes da ação dos ventos, pois, neste sistema semi-mecanizado de colheita, os feixes de gergelim só serão utilizados para alimentar a máquina trilhadeira, após completa secagem dos frutos. Fig. 53. Secagem em campo das medas de gergelim alinhadas Mesmo sendo considerado o maior produtor de gergelim do Brasil, os produtores de gergelim do Estado de Goiás ainda utilizam o sistema manual de corte das plantas no ponto de colheita das cultivares deiscentes. Após completar 15 a 20 dias do corte, os feixes secos, organizados em medas, são alimentados manualmente numa trilhadeira de arroz adaptada (Figura 54). As comunidades organizadas de produtores familiares ou as pequenas cooperativas de produtores interessadas no plantio (em mutirão) em escala comercial de áreas contínuas de gergelim deiscente para atender os mercados nacionais e internacionais, poderão empregar na sua colheita a míni-máquina segadora para auxiliar o corte das plantas (6 ha/dia), cujo implemento pode ser importado da Índia (Figura 55). Havendo um patrocinador capaz de alocar recursos financeiros ao projeto da mini-máquina segadora, esse protótipo modificado da mini-máquina poderá ser desenvolvido pela Embrapa Algodão. Fig. 54. Sistema semimecanizado de colheita do gergelim utilizado pelos produtores do Estado de Goiás, onde os feixes secos são alimentados manualmente na trilhadeira. Foto: Cyro Cavalcante Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo 196 Fig. 55. Sistema semimecanizado que corta as plantas de gergelim com a minimáquina segadora Se fossem plantar 6 ha de gergelim por dia, os pequenos produtores familiares precisariam utilizar duas plantadeiras de duas linhas, produzidas por Luiz Leme em Várzea-PB (Figura 26), e demandariam 5 dias para plantar toda área de gergelim deiscente (exemplo: 30 ha de BRS Seda). Porém, o processo de batedura dos feixes, em trabalhos de mutirão, poderia ser totalmente manual. A outra opção para os pequenos produtores seria eles utilizarem o seguinte sistema de colheita semi-mecanizado: cortar as plantas de gergelim (deiscente) 197 Foto: Churl-Whan Kang Fig. 56. Corte das plantas de gergelim da Coréia do Sul, realizado pelo cortador mecânico de arroz de uma fileira Foto: Embrapa Arroz e Feijão com equipamento cortador de arroz adotado pelos produtores da Coréia do Sul (KANG, 1985; Figura 56), agrupar os feixes em medas para secar e alimentar manualmente os feixes numa pequena máquina trilhadeira de arroz (Figura 57), desenvolvida pela Embrapa Arroz e Feijão, desde que seja substituída a peneira para furos redondos de 1/8 polegadas (Mazzani, 1999). Em lugar da trilhagem na máquina da Embrapa, o produtor poderia fazer a batedura dos feixes secos de gergelim manualmente sobre uma lona ou dentro de um reboque (revestido com lona) em movimento pelo campo, para encurtar a distância com os feixes secos (Figura 58). Fig. 57. Equipamento com ventilador e peneira para batedura de arroz desenvolvido pela Embrapa Arroz e Feijão, podendo ser adaptado para trilhar os feixes secos de gergelim Fotos: Vicente de Paula Queiroga 198 Fig. 58. Lona plástica ou reboque em movimento pelo campo, facilita a batedura dos feixes de gergelim A Empresa Nux de Itabira (SP) desenvolveu uma trilhadeira mecânica em parceria com a Sésamo Real (SP) que produz até cinco toneladas de sementes por dia. Por outro lado, no município de São João do Rio do Peixe, PB (Vila Umarí, que fica a 4 km de Marizópolis, PB) existem duas máquinas colheitadeiras de arroz de um particular, a qual é alugada com freqüência pelos produtores do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, município de Sousa-PB, para a colheita mecânica do arroz dos seus lotes. Estas máquinas podem ser adaptadas para a colheita do gergelim, mas, é necessário que as plataformas da colheitadeira tenham uma chapa cortadeira posicionada bem abaixo do molinete grande (altura acima da planta), devendo a mesma se estender até o limite da metade do molinete (Figura 59). Segundo Mazzani (1999), é preciso também ajustar as peneiras vibradoras para perfurações redondas de 1/8 de polegadas (orifícios com 3 mm), devido ao pequeno tamanho da semente de gergelim. Além disso, as cultivares indeiscentes de gergelim deverão ser colhidas pelo molinete a uma velocidade do cilindro lento (450 a 500 RPM). Esta colheitadeira de arroz da Massey-Ferguson, modelo 3640 (Figura 59), apresenta as seguintes características: plataforma tipo molinete, cilindro batedor, esteira que transporta os grãos para o peneirão na parte superior, ventiladores, peneiras reguláveis na parte inferior do peneirão, elevadores de grãos para o tanque de armazenamento (capacidade de 2 t ou 40 sacos), tubo de descarga (fuso de rosca-sem-fim) para abastecer o carroção (Figura 60). Foto: Vicente de Paula Queiroga 199 Foto: Jerry Riney A Fig. 59. A) - Colheitadeira de arroz que pode ser adaptada para gergelim e B) - destaque da plataforma tipo molinete, efetuando a colheita direta do gergelim Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo B Fig. 60. Máquina trilhadeira de arroz adaptada realiza a pré-limpeza das sementes de gergelim para, depois, descarregá-las num carroção 200 3.19 Colheita mecanizada do gergelim na Venezuela Com base na gradativa redução da mão-de-obra no campo, o sistema de colheita do gergelim na Venezuela pode ser classificado em três formas diferentes: a) Sistema Tradicional Fotos: Rafael E. Davila Cardenas Para as cultivares deiscentes de gergelim é utilizado na Venezuela uma ceifadora-atadora de cereais para o corte das plantas no ponto de colheita dos frutos de cada cultivar (Figura 61), a qual corta de 3 a 4 fileiras de plantas, desde que sejam plantadas no espaçamento de 60 cm, e as deposita sobre um esteira transportadora. Essas plantas cortadas são transportadas para encher Fig. 61. Operação de corte de plantas de gergelim realizado pela máquina segadora atadora e vários feixes atados no solo. 201 Foto: Rafael E. Davila Cardenas uma caixa ao lado e, uma vez agrupada num feixe pequeno, passar através de um mecanismo atador. Vale destacar que cada rolo de cordão instalado na máquina tem uma autonomia para atender o amarrio das plantas cortadas de um ha. À medida que vai sendo confeccionado cada feixe (Figura 62), o operador que fica sentado na máquina (tipo cadeira) vai controlando com uma alavanca o lançamento do mesmo já atado ao solo (CARDENAS, 1978). Fig. 62. Detalhe da máquina segadora-atadora lançando o feixe amarrado de gergelim ao solo Em seguida, os feixes lançados pela segadora-atadora são reunidos em várias medas bem alinhadas no campo por oito operários (Figura 63). Após 3 semanas de secagem ao sol, uma máquina trilhadeira, do tipo ensacadora, é alimentada manualmente, por quatro operários - dois encarregados de pegar os feixes secos das medas e outros dois que os recebem para introduzi-los na máquina (Figura 64). Além do operador da trilhadeira, na parte superior da máquina vão dois operários encarregados de amarrar os sacos com as sementes e deixá-los deslizar sobre uma rampa até cair ao solo, o qual será apanhado por outro trator equipado com um carroção. Este sistema de colheita tradicional é considerado semi-mecanizado (MAZZANI, 1999). Fig. 63. Preparação e secagem das medas de gergelim Fotos: Rafael E. Davila Cardenas Foto: Bruno Mazzani Foto: Ray Langham 202 Fig. 64. Operação de alimentação dos feixes secos de gergelim na trilhadeira 203 b) Sistema Colaone Foto: Rafael E. Davila Cardenas O sistema Colaone é semelhante ao tradicional e envolve, também, a operação de corte com a máquina segadora-atadora, seguindo o mesmo procedimento descrito anteriormente. A diferença está na operação de recolhimento das medas para trilhar, porque a colheitadeira já vem equipada com um dispositivo frontal mecânico para recolher as medas e introduzi-las na máquina. Esta plataforma consiste de uma estrutura metálica de aparência cúbica com a parte superior aberta e com um dos lados acionado por uma alavanca manipulada pelo operador da trilhadeira (Figura 65), o qual a movimenta quando coloca a plataforma ao lado de cada meda (Figura 66). Uma vez impulsionada para a parte interior da estrutura metálica, a meda de gergelim é levada por uma esteira transportadora até o cilindro batedor da máquina (Figura 67), onde os feixes são imediatamente trilhados. A colheitadeira pode ser do tipo ensacador ou a granel (Figura 68), preferindo-se este último por necessitar menos mão-deobra. Fig. 65. Plataforma de estrutura metálica com abertura ao lado para recolher as medas Foto: Ray Langham Foto: Rafael E. Davila Cardenas Foto: Ray Langham 204 Foto: Rafael E. Davila Cardenas Fig. 66. Introdução mecânica da meda na plataforma metálica para ser trilhada Fig. 67. Detalhe da esteira transportadora das medas para o cilindro batedor da máquina 205 Foto: Ray Langham Fig. 68. Trilhadeira tipo a granel efetuando o transporte dos grãos para o carroção Foto: Bruno Mazzani Outro modelo de colheitadeira, tipo a granel, adaptada para o gergelim (MAZZANI, 1999) consiste no seguinte processo: o operador da colheitadeira aciona um braço mecânico em forma de gancho para o recolhimento da meda que será transportada para trilhar, sendo que essa introdução da meda ocorre na parte superior da referida máquina com o auxílio de outro operário (Figura 69). Fig. 69. Operação de trilha das medas de gergelim no sistema Colaone 206 c) Sistema Schultz Este sistema de colheita do gergelim, desenvolvido pelo agricultor Rodolfo Schultz, apresenta a característica marcante de ser totalmente mecanizado (CARDENAS, 1978), sendo esse fator o grande diferencial em relação aos dois sistemas de colheita semi-mecanizada citados anteriormente (Tradicional e Colaone). O processo consiste no corte direto das plantas de gergelim e sua imediata trilhagem com a mesma máquina, podendo ser ensacado ou armazenado no tanque com capacidade para duas toneladas (40 sacos). Mas, o sistema Schultz pode ser igual ao Colaone, caso o produtor de gergelim tenha preferência pelo tipo de máquina colheitadeira a granel (MAZZANI, 1999). Para realizar a colheita das cultivares de gergelim indeiscentes, são requeridas certas condições técnicas, as quais vão permitir a utilização da colheitadeira combinada (ceifa e trilha) com maior eficiência. Entre elas podemse citar as seguintes: 1) Aplicação de Dessecante No sistema de colheita direta das cultivares de gergelim indeiscentes, é utilizada a colheitadeira combinada, que ceifa e trilha ao mesmo tempo (MAZZANI, 1999), sendo necessária uma prévia pulverização com dessecante químico (diquat ou paraquat) na época de maturação dos frutos. Dependendo do tamanho da área cultivada de gergelim indeiscente na Venezuela (50 a 200 ha), o dessecante poderá ser aplicado por meio de trâmpulo ou avião (Figura 70). Após cinco ou seis dias de secagem (Figura 71), a colheitadeira combinada é utilizada sobre as plantas secas (Figura 72). A finalidade da utilização dos dessecantes é acelerar e uniformizar a secagem das plantas de gergelim, facilitando assim a colheita mecanizada. Trabalhando com o dessecante Reglone, Urdaneta e Mazzani (1978) utilizaram duas épocas de pulverização, aos 96 e 103 dias, e dosagens entre 1,5 e 2,5 L/ha, aplicados com o pulverizador costal (250 litros de água por ha), alguns dias antes e depois de completar seu ciclo de maturação (101 dias após germinação) sobre as plantas da variedade "Aceitera R". O objetivo foi avaliar o Fotos: Diego Antonio Nóbrega 207 Foto: Bruno Mazzani Fig. 71. Campo de gergelim na Venezuela com as plantas secas para colheita mecanizada, após aplicação do dessecante Foto: Bruno Mazzani Fig. 70. Aplicação de dessecantes um dia antes do ponto de colheita por meio do trâmpulo ou avião, dependendo do tamanho da área plantada de gergelim Fig. 72. Sistema de colheita direta do campo de gergelim de cultivar indeiscente por uma trilhadeira combinada com cabeçal de plataforma de fileira 208 efeito do dessecante na percentagem de folhagens, cápsulas e caules secos por planta, após 5 dias de sua aplicação, e no rendimento de grãos, em relação à testemunha - sem dessecante. Os resultados obtidos indicam que aplicação de Reglone (diquat) na dose de 2 L/ha teve melhor efeito dessecante sobre a cultivar Aceitera R para a pulverização antecipada (96 dias) do que a dose baixa de 1,5 L/ha com a pulverização tardia (103 dias). Verificou-se, ainda, redução de 15% no rendimento da dose mais baixa (1,5 L/ha) e aplicada na época mais tardia (103 dias), e de 97% no rendimento da dose mais alta (2 L/ha) e aplicada na época mais precoce (96 dias). Ou seja, este último tratamento (dose 2 e época 1) contribuiu para o aumento da percentagem de sementes chochas em comparação ao tratamento "sem aplicação de dessecante e a realização da colheita no ponto de maturação" (testemunha). Também recomendam utilizar o Reglone, nas doses 1,5 - 2,5 litros por hectares em 50-75 litros de água, aplicado por avião, para se conseguir um nível satisfatório de desfolhas das plantas de gergelim. Em vários testes com produtos dessecantes (Reglone, Gramoxone e P.C.P.) e desfolhantes (NH4 NO3, NaCI e CaCI2) conduzidos no ensaio experimental de Maracay, pesquisadores do Ministério de Agricultura e Criação de Venezuela chegaram à conclusão de que só o Reglone em doses maiores causou o efeito dessecante desejado na planta de gergelim (MINISTÉRIO DE AGRICULTURA E CRIAÇÃO DE VENEZUELA,1974). Já Pérez e González (1970), avaliando o efeito do dessecante Gramoxone a 1% sobre a variedade Morada indeiscente de gergelim, concluíram que não existem diferenças de rendimento entre os tratamentos estudados, com exceção do teor de óleo. 2) Selecionar características varietais Para realizar uma colheita mecânica adequada do gergelim indeiscente, Cardenas (1978) recomendava selecionar naquela época algumas características varietais: Ausência de ramificação, cápsulas agrupadas nos 2/3 superiores da planta, pouca flexibilidade do caule etc. Segundo Mazzani (1999), as plantas indeiscentes e ramificadas são consideradas atualmente as mais produtivas. Além disso, essas plantas ramificadas de gergelim não oferecem mais dificuldades para serem colhidas mecanicamente, quando tal operação é efetuada por trilhadeira de arroz adaptada (MAZZANI, 1999). 209 3) Gergelim Indeiscente Como alternativa para minimizar as perdas de grãos durante a colheita, o produtor terá de optar pelo plantio de cultivares indeiscentes de gergelim com elevados rendimentos. Esses materiais indeiscentes permitem garantir que não haja altas perdas de sementes durante a colheita, mesmo diante de situações que sejam influenciadas por efeitos naturais (chuvas, ventos etc) ou se, no momento da colheita, a máquina trilhadeira entrar em contato com a planta. Mazzani (1983) reporta algumas vantagens do cultivo em grande escala do gergelim indeiscente: a) menor urgência para completar a colheita, b) menor duração das operações para efetuar a colheita direta e c) menor custo de colheita, já que a ceifa e a trilha das plantas são feitas em uma só operação. Apesar disso, os materiais indeiscentes a nível comercial não têm recebido boa aceitação pelos produtores venezuelanos, devido aos baixos rendimentos apresentados pelas suas cultivares, como produto de uma reduzida fertilidade, em comparação às cultivares deiscentes. De acordo com Mazzani (1999), algumas especificações técnicas da colheitadeira de arroz adaptada (Figura 72), empregada no sistema de colheita direta do gergelim indeiscente, sãos as seguintes: a) A máquina trilhadeira executa a colheita de 4 a 7 fileiras, dependendo das distâncias de semeadura de 50 a 80 centímetros entre fileiras; b) o rendimento da trilhadeira é de 2,5 hectares por hora em condições normais de campo; c) Registrou-se a percentagem de 5 a 10% de sementes de gergelim ligeiramente danificadas por ocasião da trilha; d) Verificou-se um incremento de 4 a 8% nos custos do sistema Schultz (colheita direta) em relação ao sistema Colaone, usado na Venezuela (corte das plantas com o equipamento segadora-atadora, secagem ao sol e alimentação mecânica da trilhadeira); e) O equipamento trilhadeira não é específico para arroz nem gergelim, também pode ser usado para a colheita de sorgo, girassol e outras espécies similares. Em resumo, Cardenas (1978) relata as principais vantagens e desvantagens dos três sistemas de colheitas de gergelim utilizados pelos produtores venezuelanos (Tabela 14), conforme as cultivares, deiscentes ou indeiscentes, além do nível de redução progressiva da mão-de-obra necessária durante a operação de colheita. 210 Tabela 14. Comparação entre os sistemas de colheita do gergelim utilizados na Venezuela: tradicional, Colaone e Schultz, com base nas vantagens e desvantagens apresentadas por cada sistema. Recomenda-se o uso do sistema de colheita tradicional , quando o produtor já dispõe de máquinas adequadas para esse fim, desde que haja disponibilidade de mão-de-obra na região e não afete negativamente a colheita. Para as comunidades organizadas de produtores familiares, que dispõem de mão-deobra suficiente, este sistema pode ser utilizado na colheita do gergelim, desde que as normas de seguridade sejam mantidas no transcurso da operação (CARDENAS, 1978). 211 A colheita pelo sistema Colaone é considerado superior à colheita tradicional, porque a operação de trilha, que é mais crítica, não depende de mãode-obra adicional. Por outro lado, o aspecto da incerteza das condições climáticas, as quais podem influir sobre o êxito da colheita, pode ser minimizado, mediante o plantio de uma variedade precoce ou mediante uma semeadura programada para que a colheita seja realizada numa época de ausência de chuvas (CARDENAS, 1978). O sistema Schultz tem sido mais indicado no Estado de Portuguesa, Venezuela, porque a colheita controlada com dessecante leva menor tempo (5 dias) de exposição das plantas às condições climáticas da região (CARDENAS, 1978). Como é necessário um manejo adequado da cultura para a colheita mecanizada, os produtores utilizam variedade com baixa deiscência (indeiscente), visando reduzir as perdas de sementes. 3.20 Colheita mecanizada do gergelim na Austrália A dificuldade para colher mecanicamente o gergelim deve-se ao hábito de crescimento indeterminado apresentado pela planta, o qual acarreta, subseqüentemente, o amadurecimento não uniforme das cápsulas. Atualmente, algumas tecnologias têm sido desenvolvidas para melhorar o processo de colheita, visando reduzir, para menos de 10%, as perdas de sementes (MAZZANI, 1999). É importante que a planta de gergelim esteja completamente seca antes da colheita, pois, a presença de cápsulas ainda verdes durante a colheita pode alterar a uniformidade da cor padrão da variedade e contaminar as sementes, criando um aroma anormal nos subseqüentes produtos elaborados. O procedimento recomendado na Austrália para a colheita do gergelim é pulverizar o campo com um dessecante, quando pelo menos 70% das cápsulas mudarem sua coloração verde para verde clara ou amarelada. No Norte do País, uma aplicação aérea de 1L/ha de Reglone provou ser eficaz. Já no sul do Estado de Queensland, o melhor resultado do Reglone foi obtido aumentado-se a dosagem (de dois a três litros por hectares), ou seja, em regiões de temperaturas amenas, houve necessidade de elevar a dose do referido dessecante (BENNETT, 2004). A colheita mecânica do gergelim indeiscente somente deve ser efetivada quando 100% das cápsulas apresentarem a cor marrom (Figura 73), o que pode 212 Foto: Malcolm Bennett ocorrer aproximadamente 10 a 15 dias após aplicação do dessecante. Nesta fase, o índice de umidade do grão deverá se encontrar entre 6 e 7%, no Norte da Austrália. Entretanto, em áreas mais temperadas do País, o teor de umidade dos grãos é mais elevado e sua secagem é mais demorada, o que exige do produtor de gergelim retardar por mais tempo a colheita (BENNETT, 2004). Fig. 73. Campo de gergelim indeiscente na Austrália em condições de colheita Bennett (2004) admite que a colheita do gergelim é mais eficiente quando a velocidade da trilhadeira é de 4 a 6 km/h, pois, assim evita danos mecânicos às sementes (delicadas). Caso se reduza pela metade a velocidade do molinete da máquina (daquela exigida para cereais), a presença de sementes com danos pode ser inferior a 10%. Estes danos provocados na semente durante a colheita afetam a sua viabilidade durante o armazenamento e a qualidade do óleo. 3.21 Colheita mecanizada do gergelim nos USA Langham et al. (2008) reportam que 99% do gergelim cultivado no mundo ainda é colhido manualmente, em razão de que as cápsulas deiscentes das plantas se abrirem quando estão secas, podendo deixar os grãos caírem no chão se ultrapassar seu ponto de colheita. Mesmo assim, as cultivares deiscentes recomendadas para colheita manual cultivadas nos USA eram colhidas diretamente pela trilhadeira combinada, ocasionando perdas elevadas de grãos no terreno (entre 60 e 90%). Para Langham (2008) a fase de secagem do gergelim das cultivares semideiscentes está dividida em três estágios: maturidade completa, secagem inicial e secagem tardia. 213 a) Estágio de maturidade completa O estágio completo de maturidade fisiológica refere- se ao tempo que, no campo, as plantas de gergelim levam para atingir até 90% do amadurecimento das sementes (LANGHAM, 2008). A empresa Sesaco não avalia diariamente os dados das sementes maduras, apenas faz uma estimação baseada numa escala dos dados obtidos nos anos anteriores. Este tempo de maturação ocorre aproximadamente entre 107 e 112 dias após a emergência das plântulas e apresenta um tempo de duração de uma semana. Foto: Ray Langham No caso da colheita mecânica direta, sem o uso de dessecante para induzir a colheita, este estágio deixa de ser importante. Ao contrário, quando se aplica o dessecante no campo (como no sistema Schultz da Venezuela), as plantas de gergelim morrem de imediato e as suas sementes deixam de encher. Perto do final deste estágio, que é 112 dias, as plantas apresentam um elevado potencial de rendimento, mas sofrerão uma estagnação se, a fim de acelerar a secagem dos frutos, for aplicado dessecante, porque, as cápsulas superiores da planta irão contribuir para a produção de sementes imaturas (LANGHAM, 2008). Apesar disso, ainda não se conseguiu determinar um tempo preciso para se obter um ponto de maturação satisfatório (Figura 74). Essencialmente, a finalidade da colheita induzida com aplicação do dessecante é permitir colher o gergelim mais rápido (Figura 75) e evitar que a qualidade do produto seja afetada pelas condições climáticas ocasionais (MAZZANI, 1999). Fig. 74. À medida que se aproxima o ponto de maturação das sementes, percebe-se que as folhas das plantas passam a cair de forma desuniforme, mesmo assim, ainda mantêm uma porção de folhas verdes na parte superior Fotos: Ray Langham 214 Fig. 75. Colheita mecânica da plantas de gergelim submetidas à colheita induzida pela aplicação de um dessecante para acelerar sua secagem Foto: Ray Langham Também se observa no campo de gergelim que à medida que a fase de amadurecimento avança na planta mais folhas passam a cair sem o uso de nenhum produto químico (Figura 76). Langham (2008) não recomenda a aplicação de dessecante neste momento, mesmo quando se deseje obter uma colheita induzida, porque haveria uma redução substancial do rendimento do gergelim, já que a maioria dos frutos na parte superior da planta não encheu as sementes (imaturas). Embora existem algumas exceções (Figura 77), Langham (2008) considera que os grãos do gergelim só estão completamente cheios quando todas as folhas caem da planta. Fig. 76. A fase inicial de maturação onde as plantas deixam cair naturalmente às folhas no terreno 215 Foto: Ray Langham Fig. 77. No Paraguai, as plantas de gergelim são cortadas ainda verdes e com bastantes folhas. Foto: Jay S. Simon Foto: Ray Langham No início da maturação das plantas de gergelim, as folhas vão tornando-se amareladas. As plantas só estão fisiologicamente maduras, quando as sementes de ¾ dos frutos apresentam uma mudança na sua tonalidade de branco leitosa (branco neve) para ligeiramente branco (branco gelo, Figura 78). Nas recentes variedades da Sesaco, essa maturação fisiológica normalmente está ocorrendo entre 96 e 106 dias após plantio, porém, em condições de estresse hídrico, a maturação da planta poderá ser antecipada, como também poderá ser retardada, principalmente em situação de alta umidade e fertilidade do solo (LANGHAM, 2008). Fig. 78. Cultivar de gergelim semi-deiscente desenvolvida pela empresa Sesaco, Texas, USA, com retenção das sementes nos frutos (placenta) de coloração branco neve (A) e branco gelo (B). 216 Em situação de baixa umidade do solo ou alta população de plantas, as variedades semi-deiscentes da Sesaco começam logo a deixar cair folhas no chão, embora as plantas ainda se encontrem na fase de floração (LANGHAM, 2008). Dependendo da umidade e da fertilidade solo, as recentes variedades da Sesaco (Sesaco 32) poderão parar a floração cerca de 72 a 90 dias após o plantio (LANGHAM et al.,2008). Também foi constatado em campo que a autodesfoliação e maturidade das sementes das cultivares semi-deiscentes começam apenas quando interrompe a floração. A planta normalmente só consegue parar de desfolhar quando a maturação das sementes alcança as cápsulas da parte apical. b) Estágio de secagem inicial Foto: Ray Langham Este estágio inicial de secagem (Figura 79) é considerado quando o campo de gergelim apresenta até 10% de todas as sementes maduras, pois, isto significa que as plantas têm apenas uma cápsula seca. As plantas usadas nessa avaliação devem ser as plantas verdes que apresentem secagem natural, com exclusão das plantas de gergelim que morrerem por causa de doenças. Em áreas plantadas adensadas e de muito vento, as plantas podem friccionarem-se uma contra a outra, o que pode provocar ranhuras nos frutos. Estes vão secar mais rápido, mas, não poderão ser considerados como frutos secos. Este tempo de secagem inicial ocorre entre 113 e 126 dias, após a emergência das plântulas, e apresenta um tempo de duração de aproximadamente duas semanas (LANGHAM, 2008). Fig. 79. O campo de gergelim adquire uma tonalidade verde mais clara com um tingimento amarelo, quando as plantas começam a secar e suas folhas passam a cair normalmente 217 c) Estágio tardio de secagem Fig. 80. Campo de gergelim com 50% das plantas secas adquire uma tonalidade marrom, quando se trata de colheita não induzida (sem dessecante) Foto: Ray Langham Foto: Ray Langham O estágio tardio de secagem caracteriza-se pelo elevado grau de secagem das plantas no campo de gergelim, até que essas plantas apresentem sementes com 6% de umidade, no máximo. Em certos anos, no Texas (USA), as plantas de gergelim com 50% de secagem (Figura 80) podem levar mais tempo para mudarem para 95% de secagem (Figura 81). Este tempo de secagem tardia ocorre entre 126 e 146 dias após a emergência das plântulas e apresenta um tempo de duração de aproximadamente três semanas (LANGHAM, 2008). Fig. 81. Campo de gergelim com quase 95% das plantas secas adquire uma tonalidade amarelada (sem uso de dessecante) 218 Dependendo da temperatura (elevada) da região, a planta de gergelim pode necessitar de um adicional de 10 dias para o restante das cápsulas amadurecerem. A secagem inicia-se pelas cápsulas e, em seguida, vem a secagem do caule. As cápsulas secas abrem-se ligeiramente e expõem suas sementes. Uma vez aberta as cápsulas, a secagem das sementes torna-se rápida. Esta situação passa a ser considerada crítica em razão dos seguintes aspectos: a) a abertura das cápsulas permite que as sementes sejam liberadas com um mínimo de força da plantadeira combinada; b) as sementes que secam mais rápido são as do fundo da cápsula aberta e c) a exposição das sementes às chuvas aumenta. Este problema de chuvas na colheita pode comprometer a qualidade dos grãos (escurecimento), portanto, é importante planejar o plantio das cultivares semi-deiscentes, para que não ocorram precipitações pluviais durante sua colheita (MAZZANI, 1999). Apenas a Empresa Sesaco do Texas (USA) conseguiu desenvolver variedades de gergelim semi-deiscentes (E.U. patente número 6.100.452), as quais permitem realizar a colheita direta no campo por meio da colheitadeira combinada. Estas variedades poderão ser deixadas para secar no campo e irão manter a maioria das sementes dentro dos frutos (sementes retidas pela placenta do fruto) até o momento de usar a referida plantadeira. Langham e Wiemers (2002) advertem que é necessário ajustar a plantadeira com as configurações corretas das fileiras de plantio do gergelim, assim as cápsulas irão liberar as sementes com danos mínimos. Uma vez que as sementes de gergelim estejam bastante secas no campo e tenham a umidade de 6% ou menos, a colheitadeira já pode colher o gergelim diretamente, usando um cabeçal de plataforma tipo fileira ou um cabeçal de plataforma tipo molinete (Figura 82). Na colheita inteiramente mecanizada, as cápsulas foram modificadas de modo que as sementes fiquem retidas nas cápsulas durante os 30-50 dias de secagem natural. Após a secagem, as cápsulas passam a liberar as sementes com a força física mínima no momento em que a planta entra em contato com a colheitadeira (LANGHAM, 1999; 2006). Para o caso do cabeçal de plataforma tipo fileira, Langham et al. (2006) preferem usar a marca John Deere das séries 200 e 900. Mas, é necessário que o espaçamento entre fileiras de gergelim esteja ajustado à configuração da máquina, pois, a mesma permite colher até 6 fileiras de plantas em cada passada. O mesmo autor recomenda o cabeçal de plataforma tipo molinete, marca John Deere e da série 630R, para a colheita do gergelim semi-deiscente (Figura 83). A B Foto: Jerry Riney Foto: Jay S. Simon 219 Fotos: Ray Langham Fig. 82. A colheitadeira combinada só entra em atividade quando as sementes apresentam umidade abaixo de 6%, sendo usadas as duas modalidades de plataformas: A) Cabeçal tipo fileira e B) Cabeçal tipo molinete. Fig. 83. Colheita das cultivares de gergelim da Sesaco realizada pela trilhadeira com plataforma tipo molinete, marca John Deere 220 Segundo Lagham et al. (2006), os maiores rendimentos do gergelim podem ser obtidos quando se prevê, para as cultivares, o tempo de sua colheita mecanizada. Ou seja, a partir do momento em que a floração das cultivares semi-deiscentes termina, é possível estabelecer um prazo de 60 a 70 dias para efetuar sua colheita em campo. Dependendo da cultivar Sesaco, o ciclo da lavoura pode ser de 120 a 150 dias após o plantio. Para solos de alta fertilidade e umidade, essa colheita mecânica das cultivares Sesaco poderá ser mais tardia (LANGHAM, 1999). Fotos: Ray Langham Na maioria das vezes, a limpeza das sementes de gergelim é feita na própria colheitadeira (Figura 84), embora seja necessário que transportá-las para uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), para uma limpeza adicional (Figura 85¸LANGHAM, 2008). Fig. 84. Trilhadeira combinada transportando as sementes de gergelim para o caminhão graneleiro, visando de imediato beneficiá-las na UBS Foto: Diógenes Galindo Diniz Foto: Diógenes Galindo Diniz Foto: Jerry Riney 221 Fig. 85. Descarga de sementes de gergelim dentro da Unidade de Beneficiamento de Sementes, após a operação de colheita realizada pela trilhadeira combinada A importância do conhecimento dos estágios de secagem das plantas está intimamente relacionada com o tipo de colheita mecanizado que se pretende utilizar, principalmente nos campos de gergelim cultivados nas regiões áridas dos estados americanos do Texas, Oklaroma, Arizona e Kansas. Estas duas formas de colheita do gergelim são: a) com aplicação de dessecante para induzir sua colheita mecanizada e b) sem aplicação de dessecante para efetuar a colheita mecânica tardia. Este último tipo de colheita tem sido economicamente viável para os produtores americanos por reduzir os custos de produção da lavoura, dispensando, assim, a aquisição do produto dessecante (Reglone) no mercado e sua aplicação por avião (LANGHAM et al, 2006). Com relação ao Brasil, a região semi-árida do Nordeste ofereceria condições ambientais apropriadas (região quente e de poucas chuvas) para realizar o plantio de sequeiro do gergelim semi-deiscente das cultivares da Sesaco, principalmente pelo sistema de colheita mecânica tardia (sem uso de dessecante). Também esse sistema de colheita tardia seria viável para o Centro-Oeste, como cultura de safrinha, sem considerar o sistema irrigado 222 de plantio do gergelim semi-deiscente, cujo ponto de colheita pode ser programado para os meses de verão. Langham (2008) estabeleceu os principais requisitos para a mecanização do gergelim das cultivares Sesacos plantadas nos USA: a) as plantas terão que encerrar sua floração; b) as plantas devem deixar cair todas suas folhas; c) as sementes nas cápsulas devem amadurecer antes da sua abertura; d) as cápsulas devem conservar a sua semente até o momento da planta ser cortada pela trilhadeira combinada e e) as cápsulas devem libertar as sementes quando entrarem em contato com a trilhadeira combinada. 3.22 Armazenamento As sementes do gergelim, por seus antioxidantes naturais, como o sesamol (MAZZANI, 1983), têm grande capacidade de conservação, mantendo a germinação mesmo em ambiente com umidade relativa elevada, como é o caso de Campina Grande-PB, em que elas podem ser armazenadas por mais de seis meses, sem perder a taxa de germinação inicial (QUEIROGA;BELTÃO, 2001). Para o armazenamento seguro no longo prazo, a semente de gergelim deve estar limpa e com o teor de umidade em torno de 6%, a fim de ser armazenada em ambiente controlado com umidade relativa aproximada de 50% e temperatura abaixo de 18ºC. Sob condições ótimas de armazenamento o gergelim pode ser acondicionado aproximadamente por 1 ano (FA0, 2006). No caso do armazenamento em depósitos mistos, os produtos convencionais e biológicos deverão ser devidamente separados para evitar problemas de contaminação; de preferência, guardar o gergelim em silos. Não é permitido realizar o tratamento das sementes de gergelim no armazém misto ou expurgar os produtos com brometo de metila. As embalagens de armazenamento devem estar livres de inseticidas. A eliminação do ácido oxálico dentro da película ou casca da semente deve ser realizada mediante tratamento a vapor. Não é permitido realizar o tratamento das sementes de gergelim no armazém com brometo de metila (expurgo) ou óxido de etileno nem tampouco o uso de raios ionizados (FAO, 2006). Com o objetivo de satisfazer os requerimentos de qualidade adotados pelo mercado e de evitar uma eventual contaminação das sementes de gergelim, o 223 seu beneficiamento pós-colheita deverá ser efetuado em condições de absoluta higiene e limpeza. Na Tabela 15, apresentam-se algumas características de qualidade do gergelim, inclusive seus graus de exigência, mínimos e máximos (FA0, 2006). Tabela 15. Padrões de qualidade das sementes de gergelim adotados pelo mercado. 224 Em regiões com alta umidade ambiental, as sementes de gergelim voltam a absorver umidade e correm o risco de embolorar (mofar). Sob estas condições, dever-se-iam armazená-las por curto espaço de tempo; no caso de necessitar de armazenamento por período longo, devem ser depositadas em recipiente hermeticamente fechado. Bass et al. (1963), utilizando recipientes herméticos, verificaram que sementes de gergelim conservaram-se por dois anos, quando mantidas em temperatura de 10 ºC e umidade de 7%; em temperatura de 21 ºC, a conservação só foi mantida quando o teor de umidade das sementes foi de 4%. O local escolhido para o armazenamento deverá ser apropriado, isto é, seguro, seco, com possibilidades de aeração e condições para fácil combate a roedores, insetos e microrganismos (POPINIGIS, 1985). Devem-se manter espaços e corredores adequados para movimentação e amostragem, bem como divisões que permitam pronta identificação entre os diferentes lotes de grãos numa mesma fileira. Foto: Vicente de Paula Queiroga Os grãos de gergelim devem ser armazenados no depósito em sacos novos de papel multifoliados (Figura 86), aniagem ou polietileno trançado. Estes sacos devem ser empilhados sobre estrados de madeira, mantendo uma distância de 1 metro das paredes. Periodicamente, devem-se inspecionar os lotes a fim de verificar anormalidades como umidades, insetos etc (QUEIROGA;BELTRÃO, 2001). Fig. 86. Lote de sementes de gergelim acondicionados em sacos de papel multifoliados/ valvulados e empilhados sobre estrados de madeira 225 O tamanho de cada lote recomendado é até uma tonelada com sacos empilhados, podendo separar cada lote por produtor. Limpar todas as instalações antes de usá-las, para evitar misturas acidentais e não comprometer a qualidade do material estocado. Recomenda-se identificar o número do lote com um lápis piloto nos sacos de gergelim de cada lote. Este controle dos lotes dos produtores é fundamental para a comercialização (antes de fechar o negócio, o comprador de gergelim exige amostra do produto), pois, numa produção de grãos de gergelim, que envolve vários fornecedores, é possível aparecerem produtos de qualidade inferior, em razão de alguns produtores não terem conduzido bem os processos de beneficiamento dos grãos (QUEIROGA et al., 2007). No caso de não se adotar um controle rígido de identificação das sacarias de cada produtor, com certeza irá haver uma desvalorização no preço geral do produto, em função de mistura aleatória dos sacos de grãos sujos com os limpos. Fotos: Vicente de Paula Queiroga Visando aumentar a pureza dos grãos, após o processo de colheita seria conveniente efetuar uma ventilação complementar num equipamento simples com alimentação manual, o qual possui um bica de descarga na sua parte inferior por onde saem as sementes limpas. Esta máquina descascadora de sementes dos frutos de mamona - produzida pela Metalúrgica GSDourado, de Irecê-BA -, pode ser adaptada para a limpeza das sementes de gergelim, quando se substitui a peneira de mamona por outra peneira de orifícios redondos de 3 mm (1/8 de polegadas). Esta máquina deve ser acionada pela tomada de força do trator com a rotação entre 450 rpm a 500 rpm (Figura 87), mas, para limpar o gergelim é Fig. 87. Máquina de ventilação utilizada na limpeza dos grãos ou sementes de gergelim, adaptando uma peneira de orifícios redondos de 3 mm e usando a rotação máxima de 500 rpm. 226 necessário que o material passe primeiro por uma peneira comum de pedreiro, para tirar as impurezas pesadas, e só depois a limpeza deve ser complementada pela máquina, para eliminar as impurezas pequenas (leves). O referido fabricante pretende desenvolver uma máquina idêntica, de pequeno porte, para gergelim, adaptando um redutor de velocidade e colocando um motor na máquina, para trabalhar diretamente com energia. 4. Elaboração de Produtos Industrializados Com base nos produtos industrializados do gergelim mais demandados pelo mercado brasileiro, apenas quatro produtos derivados do gergelim serão abordados detalhadamente: azeite extra-virgem, grãos despeliculados de gergelim, tahine e o mais novo produto com o advento do biodiesel. Os produtos industrializados derivados do gergelim mais utilizados pelos consumidores são: a) Óleo de gergelim Os óleos industrializados de gergelim são: óleo extra virgem, óleo refinado e ultra-refinado, óleo tostado e óleo bruto de gergelim. O óleo de gergelim extraído dos grãos é considerado como um dos mais finos azeites no mercado, sendo comumente usado na indústria alimentícia. Este óleo é rico em ácidos graxos insaturados, contendo aproximadamente 47% de ácido oléico e 39% de ácido linoléico e representa de 44 a 58% do seu peso (BELTRÃO; VIEIRA, 2001); os teores de proteína oscilam entre 17 e 29% (MAZZANI; LAYRISSE, 1998). Tanto o óleo como as comidas fritas com ele tem vida de prateleira longa, devido à presença dos antioxidantes (não rancifica), que melhoram seu sabor (BELTRÃO;VIEIRA, 2001). 1. Óleo extra virgem O óleo extra virgem da mini-usina de Várzea, PB, é obtido por prensagem a frio numa sala escura, apenas com iluminação indireta do ambiente externo (sol), e utiliza uma pequena prensa do fabricante Ecirtec-SP. O seu rendimento 227 B Foto: Vicente de Paula Queiroga A Foto: Paulo de Tarso Firmino Foto: Vicente de Paula Queiroga médio de extração de óleo a frio é de 28% (QUEIROGA et al., 2007). Para conservar melhor todas as propriedades químicas naturais do óleo, deve-se realizar o seu envase em embalagem de vidro escuro. Embalagens transparentes de vidro e de plástico, usadas comumente pelos fabricantes, alteram as características do produto (Figura 88). C Fig. 88. Diferentes tipos de embalagem para óleo de gergelim: A) plástico, B) vidro transparentes e C) vidro escuro. Este produto é um excelente azeitador, dando melhor sabor aos alimentos e às saladas de verduras. O óleo de gergelim possui "flavour" (sabor) característico e agradável e maior estabilidade oxidativa, quando comparado com a maioria dos óleos vegetais, por causa dos ácidos graxos em sua composição e pela presença dos antioxidantes naturais, sesamolina, sesamina, sesamol e gama tocoferol (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). O óleo extra virgem é considerado poderoso átomo de energia e potência concentrada, utilizado na confecção de cremes hidratantes, sabonetes, loções para alopecia e, recentemente, na composição de loções como filtros solares (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Por este motivo, o óleo extra virgem de gergelim é considerado o óleo mais caro no mercado (R$ 60,00 o litro). 228 2. Óleo refinado O óleo refinado é considerado como um dos mais finos azeites disponíveis no mercado. O azeite de gergelim refinado é usado comumente, não somente na indústria do processamento dos alimentos, mas também em numerosas aplicações como na indústria farmacêutica e de cosméticos. Este azeite destaca-se por suas poderosas propriedades antioxidantes naturais, as quais prolongam o período de conservação de produtos fritos. As características desse produto têm incrementado a rápida diversificação de alimentos (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Foto: Diego Antonio Nóbrega Atualmente, o óleo de gergelim refinado é obtido de grãos não torrados e, portanto, sua tonalidade é clara (Figura 89). O contrário ocorre com o óleo bruto, ele é marrom porque os grãos foram torrados. As etapas para a obtenção do óleo refinado são: cozimento com vapor, prensagem, neutralização, branqueamento e desodorização (consiste na destilação a vapor sob pressão reduzida). A etapa de tratamento térmico dos grãos de gergelim, antes da extração, não é mais empregada pelas indústrias de óleo (BELTRÃO;VIEIRA, 2001). Quando o óleo refinado é submetido novamente à etapa de filtragem, então é obtido o óleo ultra-refinado de gergelim. Fig. 89. Azeite refinado de gergelim de grãos não torrados 229 3. Óleo tostado de gergelim Foto: Diego Antonio Nóbrega Os alimentos preparados com o óleo de gergelim tostado têm uma excelente resistência à rancificação, devido aos antioxidantes formados durante o processo de torrefação (Figura 90). Vale frisar que no processo de torrefação não se usa nenhum tipo de aditivos, conservantes ou produtos químicos (BELTRÃO e VIEIRA, 2001). Fig. 90. Óleo tostado de gergelim obtido após torrefação dos grãos ou aquecimento do óleo Em forno pré-aquecido, é possível obter-se óleo de qualidade, após torrefação do grão, a 180ºC por 20 minutos ou por 15 minutos a 200ºC, ou do aquecimento do óleo. Com o processo de torrefação do grão, ocorre redução nos teores dos antioxidantes sesamina, sesamolina e g tocoferol, e aumento nos teores de sesamol, devido à decomposição de sesamolina - o sesamol possui atividade antioxidante maior que o seu percursor (sesamolina). Com o aumento da temperatura, ocorre redução da qualidade da proteína - devido ao escurecimento pela perda de aminoácidos sulfurados - e redução da digestibilidade e da solubilidade. Quando torrado, é indispensável nas cozinhas japonesa, chinesa e coreana, em razão do seu 'flavour', ou seja, seu sabor agradável (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). 230 4. Óleo bruto Foto: Diego Antonio Nóbrega A extração do óleo bruto é feita pelas seguintes etapas: torrefação dos grãos, cozimento com vapor, prensagem e filtragem. Esta extração é realizada diretamente nos grãos inteiros, mas, devido ao alto teor de óleo e ao baixo teor de fibra presentes nos grãos, o rendimento do processo é mais baixo do que seria obtido na extração por solvente (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Assim, a torta resultante da extração por prensagem ainda contém teor residual de óleo em torno de 17%. O óleo obtido por prensagem sempre arrasta resíduos que tendem a turvá-lo. A separação deste material pode ser por sedimentação ou por filtragem. O tipo de óleo de gergelim obtido por solvente é considerado um produto barato e comercializado nos supermercados dos países da Colômbia e da Venezuela com o nome de "aceite natural de ajonjolí" (Figura 91). Fig. 91. Óleo de gergelim extraído por solvente, usado no preparo dos alimentos domésticos Antes de definir e instalar uma mini-usina nas comunidades rurais recomenda-se realizar um estudo econômico do mercado das grandes cidades mais próximas a ela, levando-se em conta as dificuldades de distribuição e venda do óleo, impostas pelo mercado. Segundo Queiroga et al. (2007), a verticalização da produção do gergelim é mais procurada por pequenas associações de produtores ou cooperativas. 231 Foto: Arquivo da maneklalexports A usina de porte médio com capacidade de até 5 toneladas em 8 horas poderá ser instalada, de acordo com as normas de vigilância sanitária, desde que funcione como Laboratório de Tecnologia de Alimentos, onde deverão ser implantados os equipamentos: prensa (Figura 92) e filtro da prensa. Fig. 92. Prensa de extração de óleo de gergelim de porte médio (www.maneklalexports.com/.../OilMill.htm) A filtragem tem a finalidade de retirar os resíduos que estão misturados com o óleo. No tipo de equipamento empregado (Figura 93), o óleo passa através de uma série de filtros (10), feitos de tecido grosso. Em cada filtro, vai sendo retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo. Dependendo da qualidade dos grãos empregados (natural sujo de campo) e do grau de impureza do óleo, pode ser feita uma ou mais etapas de filtragem (QUEIROGA et al., 2007). É necessário instalarem-se os equipamentos da usina de óleo num prédio principal, o qual deverá ter espaço planejado para sala de recepção, banheiros e armário para guardar as batas dos operários. Separadamente, deveriam ser construídas: uma sala para despeliculação manual ou mecânica (misturador Hobert), o depósito de grãos e uma sala de ventilação (máquina de pré-limpeza com peneiras). Para atender às normas sanitárias do Ministério da Saúde, o ideal seria que todas as salas da usina fossem azulejadas. Outra sala deveria ser reservada para funcionamento do secador artificial (Figura 94). Foto: Arquivo da maneklalexports 232 Foto: Vicente de Paula Queiroga Fig. 93. Bomba e filtro de prensa de porte médio utilizados na extração do óleo de gergelim (capacidade de kg/h: 170-220 kg) Fig. 94. Secador artificial utilizado no processo de secagem dos grãos Despeliculação dos grãos de gergelim Além da utilização de sementes de cor branca, outra forma de agregar valor ao óleo de gergelim é realizando a operação de despeliculação (Figuras 95 e 96) dos grãos pelos seguintes métodos: manual, físico, mecânico e químico. 233 Foto: Vicente de Paula Queiroga Foto: Diego Antonio Nóbrega Fig. 95. A estrutura da semente integral de gergelim com detalhe do tegumento (t) envolvendo todo endosperma (end), cotilédones (cot) e radícula (rad) Fig. 96. Destaca o brilho e a uniformidade dos grãos despeliculados de gergelim 1- Despeliculação manual O processo manual de despeliculação consiste em colocar os grãos com casca numa bacia de plástico e adicionar água para o umedecimento dos mesmos por 3 horas. Após serem umedecidos, é preciso ficar esfregando numa superfície rugosa (peneira de malha ou de metal) manualmente os grãos emergidos em água por determinado período de tempo e depois lavá-los com água limpa. Uma 234 vez separados das sujeiras por densidade, os grãos são expostos ao sol para secar até alcançar umidade de 4%. Antes do ensacamento dos grãos despeliculados, é feita a ventilação do material para eliminar as películas remanescentes (QUEIROGA et al., 2007). 2- Despeliculação física O método físico de despeliculação de grãos é apresentado no item mais adiante, quando é relatado o processo de preparação da receita do 'tahine'. 3- Despeliculação mecânica Foto: Vicente de Paula Queiroga O descascamento dos grãos é considerado como um processo preliminar de industrialização do gergelim; o mais recomendado seria o mecânico (QUEIROGA et al., 2007). Esta técnica de descascamento de fricção mecânica não inclui nenhum agente químico e, após o processo de separação da película, os grãos conservam todos seus atributos naturais e nutricionais. Esses grãos descascados podem ter preço duplicado ou triplicado quando são destinados para padarias, em relação aos grãos convencionais (Figura 97) e representam 62% do mercado de gergelim. Fig. 97. Excelente aparência do pão com grãos de gergelim despeliculados 235 Foto: Vicente de Paula Queiroga No processo mecânico de despeliculação, os grãos com casca são umedecidos em água apenas por 6 horas. Depois eles são colocados no misturador Hobart ou Planetário (Figura 98) por 5 minutos, usando a velocidade três (MAZZANI, 1999). Uma vez completada esta operação de despeliculação, os grãos são separados das cascas por flutuação e por peneiração; em seguida, são expostos ao sol para secar até alcançarem 4% de umidade. Antes do ensacamento dos grãos despeliculados, é feita a ventilação do material para eliminação das películas soltas. Fig. 98. Misturador Hobert ou Planetário usado no processo de despeliculação mecânica de grãos de gergelim 4- Despeliculação química Esta forma de apresentação implica os processos de limpeza, despeliculação e embalagem . Estes processos são os seguintes: a) Descarga em moega ou descarga manual no tanque A; b) Transporte manual do produto (ou através de um elevador) até tanques A e B para umidificação dos grãos. Os grãos com casca são umedecidos em água normal apenas por 3 horas, no tanque A . No tanque B, adicionam-se água (a 90 °C) e soda caústica (solução de 0,06%), deixando-se o produto em repouso por 1 minuto (RAMACHANDRAN et al., 1970; SHAMANTHAKA et al., 1970); c) Depois de 1 minuto, a água e a soda caústica são extraídas, e o grão umedecido 236 é levado ao descascador - uma espécie de batedeira -, onde, por fricção e adição de água fria (25 °C), se tira a película do grão (MAZZANI, 1999); d) Quando o gergelim sai da batedeira, os grãos são transportados para tanques de decantação (Tanque A com água renovada), para eliminar objetos pesados como metais, areia ou qualquer vestígio de material não desejável; e) No tanque A, o gergelim é lavado com água fria sob pressão, para eliminar completamente a película; f) Os grãos de gergelim são levados a um centrifugador, para extrair a água exterior dos grãos, e logo transportados, através de outro elevador, a um cilindro pré-secador. g) O produto é, então, transportado por elevador para um secador não intermitente (ou estacionário). Por intermédio de turbulência do ar quente que atravessa uma tela muito fina, a água interna das sementes é extraída, até alcançar um grau de secagem que oscila entre 3 e 5% em base úmida. h) Os grãos secos de gergelim passam para uma moega e para outro elevador que os leva a uma máquina classificadora. Quando termina a classificação, o gergelim descascado passa para outra moega, que destina o material para embalagem (Figura 99). Esta semente de gergelim é acondicionada e armazenada de acordo com o grau de processamento a que tenha sido submetida. O produto (natural sujo e limpo) é ensacado a vácuo e armazenado, sendo recomendado fazer sua classificação (anotação na sacaria por lote) em função das cultivares, cor e qualidade (DELTATECH, 2005). Foto: Flávio Tôrres de Moura Limpadora Secadora Água quente Centrifuga contínua Tanque B Tanque A Misturador Hobart Painel de controle Embalagem a vácuo Fig. 99. Fluxograma dos processos semi-contínuos de despeliculação química de sementes de gergelim 237 Quando o processo químico de despeliculação do gergelim visa atender a uma pequena demanda do mercado (Figura 100), as sementes passam pelas seguintes etapas: a) 03 kg de sementes são colocadas dentro de um vasilhame, tendo em seu fundo uma espécie de peneira bastante fina que as retém; b) este A B C D E F G H Fig. 100. Esquema dos processos descontínuos de despeliculação química das sementes de gergelim para atender às micro-empresas de comunidades rurais organizadas. Fotos: A, B, C, D, G, H - Vicente de Paula Queiroga Fotos: E, F - Foto: Adilson Manzano 238 vasilhame com as sementes é submerso em balde (azul) com água normal (25 ºC) durante 3 horas (molho); c) em seguida, as sementes no vasilhame permanecem por um minuto dentro de outro balde (preto), contendo em seu interior água quente (temperatura de 90 ºC) numa solução feita de 0,06% de soda cáustica; c) as sementes são submetidas por 6 minutos a batedeira industrial na velocidade de rotação número 3; d) o excesso de umidade é extraído dos grãos pela centrífuga de uma desnatadeira adaptada, apenas tapando o fundo da panela de inox com uma tela fina, prendendo-a com fita adesiva, para evitar a passagem dos grãos; e) a secagem complementar dos grãos pode ser efetuada num secador rotativo da Ecirtec; f) as sementes são peneiradas e ventiladas dentro da máquina de marca Ecirtec ou no assoprador Souht Dakota (Figura 101); g) as sementes limpas são envasadas com 4% de umidade em sacos de plástico pela embaladora a vácuo; e h) sementes de gergelim despeliculadas quimicamente. Foto: Alek Sandro Dutra A despeliculação é mais valorizada quando realizada com grãos brancos como os da a BRS Seda, porque quando se remove a película o oxalato de cálcio e fibra não digerível são eliminados; conseqüentemente, o grão fica mais doce Fig. 101. Assoprador Souht Dakota usado para separar as impurezas das sementes pequenas de gergelim 239 por perder o gosto amargo, que é característico da espécie. Já nos grãos de outras cores, este gosto amargo não é eliminado totalmente, quando se remove sua película, pelo fato do oxalato de cálcio estar presente no endosperma dos grãos. Uma vez completada a despeliculação dos grãos de cor branca, o produto terá melhor preço no mercado por elevar sua qualidade alimentícia, podendo chegar a duplicar ou triplicar o seu valor de mercado em relação aos grãos convencionais (QUEIROGA et al., 2007). O grão descascado é mais utilizado no consumo direto pelas padarias, confeitarias e outras indústrias alimentícias. Os grãos despeliculados de gergelim devem ser processados com base na quantidade demandada pela indústria. Ou seja, não é recomendado armazenar grãos descascados para ficar esperando pelo mercado. Dependendo do processo utilizado para despeliculação, o grão que teve contato com a água pode mudar de cor (grão escuro) entre um e dois meses (MAZZANI, 1999). Num trabalho de despeliculação de gergelim realizado na Venezuela, Mazzani (1999) observou que o índice de peróxido (oxidação) foi ligeiramente maior na amostra descascada mecanicamente nas seis semanas de armazenamento, quando comparada com a amostra descascada quimicamente (hidróxido de sódio a 0,06%). Entretanto, esta última amostra apresentou maior deterioração a partir da oitava semana de armazenamento, ficando mais acentuada a mudança de cor. c) 'Tahine' (creme de gergelim) O delicioso creme de gergelim, que em árabe se denomina "tahine", deve ser preparado com gergelim de cor branca, de sementes descascadas ou despeliculadas, visando eliminar o gosto amargo de oxalato de cálcio presente da sua película. Este tipo de 'tahine' é o mais refinado e mais valorizado no mercado, pois, é reconhecido por sua riqueza em proteínas e por ser uma das melhores fontes de energia para o corpo humano; ademais, a pasta elaborada é 100% natural (sem conservantes químicos). Este creme de gergelim é preparado tostando-se ½ kg de sementes branca numa frigideira seca ou panela (Figura 102), durante 5 a 10 minutos a 180ºC. Ao serem tostadas, as sementes descascam-se naturalmente (método físico de Foto: Diego Antônio Nóbrega 240 Fig. 102. O método físico de despeliculação de grãos utiliza uma panela com tampa perfurada especialmente para tostar gergelim Fotos: Vicente de Paula Queiroga eliminação das películas), antes de serem moídas. Após esfriar, mexe-se a massa adicionando água fervida (a temperatura ambiente) e sal rosado líquido até obter uma pasta consistente (MOLLER, 2006). Envasar em frasco de vidro e depois de aberto o recipiente, guardar sempre na geladeira. Esta receita nem sempre é cumprida pelos fabricantes de 'tahine', pois alguns elaboram a pasta com sementes não brancas e/ ou não realizam a separação das películas das sementes (despeliculação), resultando num produto de gosto amargo, que é característico do gergelim. No comércio de produtos naturais, o 'tahine' pode ser encontrado com distintas embalagens e tonalidades de cor (Figura 103). Fig. 103. Embalagens do creme de gergelim ('tahine') em vidro (cor clara e achocolatado) e em lata. 241 d) Produção de biodiesel Foto: Diógenes Galindo Diniz Diversos tipos de óleos vegetais podem ser usados para produzir biodiesel. Mas, havendo interesse por parte do produtor de gergelim em atender ao programa de biodiesel, há duas vias como alternativas para extração do óleo a partir da torta gorda (a qual é resultante da primeira extração do óleo a frio das sementes para produzir o óleo extra-virgem, em razão de sua alta viabilidade econômica). Na primeira alternativa, a extração do óleo seria realizada por prensagem da torta gorda pré-aquecida em usinas adaptadas para extração de óleo de algodão (Figura 104); as máquinas que fazem a operação de extração a quente necessitam trabalhar com uma temperatura de 120 °C (FAO, 2006). Na segunda alternativa, a extração do óleo da torta gorda seria pelo método de extração com solvente, o qual poderia fornecer em até 20% de óleo bruto. Fig. 104. Usina de extração a quente de óleo de caroço de algodão, podendo ser adaptada para grão de gergelim A extração química de óleos vegetais utiliza uma mistura de hidrocarbonetos denominada de "hexana" (fração do petróleo) com ponto de ebulição ao redor de 70 ºC, que passa pela matéria-prima devidamente preparada. Esta passagem do solvente pela matéria-prima é denominada "lavagem" e sua eficiência será maior quando o contato com as células de óleo for facilitada pela exposição de uma superfície maior. O óleo da matéria-prima que está na superfície é retirado por simples dissolução e o óleo presente no interior de células intactas são removidos por difusão. Assim, a velocidade de extração do óleo decresce com o decurso do processo. Mesmo com a extração por solvente não se tem uma eficiência de 242 100%, pois, o farelo ficará ainda com um teor de 0,5 a 0,6% (em geral 1%) de óleo. A mistura de óleo com solvente é chamada de "miscela" e o equilíbrio no sistema óleo-miscela-solvente é o fator que determina a velocidade de extração. A difusão do solvente será mais rápida quanto melhor for a preparação da matériaprima e quanto maior for a temperatura de extração (próximo à temperatura de ebulição do solvente). A extração não é completa, pois, o farelo geralmente apresenta um teor de 0,5 a 2,0% de óleo. Posteriormente é necessário fazer uma nova destilação, para separar o óleo do solvente (SOAREZ, 2006). Na extração química contínua, pode-se utilizar o sistema "Rotocel", que é um cilindro horizontal dividido em setores, onde é colocada a matéria-prima, mantido em baixa rotação; a matéria-prima inicial recebe a miscela mais concentrada e depois, gradativamente, com miscelas mais diluídas. Na extração química descontínua, utiliza-se um ou mais extratores (aparelhos tipo tanque vertical com boca de carga e descarga, sistema de aquecimento por meio de camisa com vapor indireto, tomadas para entrada e saída de líquidos e gases). Dependendo do número de extratores montados na planta, após circulação de miscela (solvente com óleo), o solvente limpo é circulado sobre o material quase completamente desengordurado. Este solvente sairá do extrator já em forma de miscela, sendo reutilizado nos extratores seguintes, que apresentam teores cada vez mais elevados em óleo (ECIRTEC, 2008). Outro método para extração de óleos essenciais de sementes e tortas de gergelim utiliza o sistema de Extração por Arraste de Vapor. A extração desses óleos é feita por destilação. Uma corrente de vapor passa pela matéria-prima e arrasta com ela o óleo essencial. Quando esse vapor condensa, temos dois líquidos imiscíveis: água e óleo essencial. A Ecirtec dispõe de vários modelos com diversas capacidades de produção (Figura 105). Em princípio, é necessário que se obtenha matéria-prima (óleo de gergelim já filtrado) com o mínimo de umidade e de acidez. Isto é possível quando a mesma é submetida a um processo de neutralização, mediante uma lavagem com uma solução alcalina de hidróxido de sódio ou de potássio, seguida de um processo de secagem ou desumidificação. As especificações do tratamento dependem da natureza e condições da matéria graxa usada como matéria-prima (PARENTE, 2003). Foto: Adilson Manzano 243 Fig.105. Extração por arraste de vapor dorna: A) equipamento com capacidade de 15 litros e B) equipamento com capacidade de 500 litros A reação de transesterificação é a etapa da conversão do azeite em ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, que constituem o biodiesel. A reação pode ser representada por quaisquer das seguintes equações químicas: Azeite + Metanol Azeite + Etanol Ésteres Metílicos + Glicerol Ésteres Etílicos + Glicerol A primeira equação química representa a reação de conversão, quando se utiliza o metanol (álcool metílico) como agente de transesterificação, obtendose, portanto, como produtos, os ésteres metílicos que constituem o biodiesel e o glicerol (glicerina). Enquanto a segunda equação faz referência à utilização do etanol (álcool etílico), como agente de transesterificação, dando como resultado o produto biodiesel, o qual é representado por ésteres etílicos e a glicerina (PARENTE, 2003). O mini-sistema para produção de biodiesel é constituído por uma unidade compacta para a conversão de óleo vegetal em biodiesel, com capacidade de 100 l·h-1. Este mini-sistema, que tem sido denominado "máquina de biodiesel móvel", é um equipamento de fabricação da empresa Tecbio (Figura 106). O 244 Fotos: Expedito José de Sá Parente mini-sistema possui as seguintes características: a) Dimensões: 7,5 m (comprimento) x 3,5 m (largura) x 5,0 m (altura); b) peso aproximado: 3.500 kg; c) unidade móvel, facilmente transportável por caminhão convencional; d) potência elétrica: 18 kw, quando o gerador de calor é elétrico e 3 kw quando a fonte de calor é outra; e) consumo de água: 2.000 litros por dia; f) mão-de-obra de duas pessoas (empregado e auxiliar) e g) processo manual com várias etapas de transesterificação para produção de biodiesel. Fig. 106. Mini-sistema móvel para produção de biodiesel e planta piloto industrial com capacidade de produção de 8.000 litros diários de biodiesel da Universidade Federal do Piauí de Teresina, PI, fabricados pela empresa Tecbio de Fortaleza-CE Para atender aos programas da agricultura familiar, a empresa Linard Engenharia e Fundição, do município de Missão Velha, CE, e o Instituto de Ensino Tecnológico (Centec), também em Juazeiro do Norte, encamparam o projeto de fabricação de mini-usinas de biodiesel. Uma dessas usinas foi apresentada no parque de Exposição Agropecuária do Crato, CE (Expocrato), em 2008 (Figura 107). Um projeto piloto para produzir biodiesel a partir da matéria-prima do óleo da mamona foi implantado na fazenda Normal, localizada no Município de Quixeramobim, CE, pertencente ao Governo do Estado do Ceará e administrada pela EMATERCE. O biodiesel produzido da mamona é utilizado para alimentar um Foto: Vicente de Paula Queiroga 245 Fig. 107. Unidade Piloto industrial de produção de biodiesel para diversos óleos vegetais do fabricante Linard Engenharia e Fundição de Missão Velha, CE gerador de energia. A geração de energia elétrica e a distribuição aos domicílios foram feitas na comunidade rural "Serrinha de Santa Maria", localizada no mesmo município, sendo os próprios produtores da referida comunidade os responsáveis pela produção da matéria-prima (SEVERINO et al., 2005). 5. Resumo da Cadeia Produtiva do Gergelim a) Demandas do mercado Variedades: grãos brancos que podem ser exportados em estado natural e/ou despeliculados. Em alguns países da América Central e do Sul, as cooperativas dos produtores trabalham na comercialização do produto diretamente com mercados da União Européia, USA e Japão. A capacidade instalada dos descascadores de grãos de gergelim nas comunidades familiares do Brasil terá que ser dimensionada em função do tamanho dos mercados interno e externo. Além disso, deve ser aberto mercado para o gergelim despeliculado, incentivando o plantio das cultivares com grãos brancos. Por sua aparência branca e sabor doce, as variedades mais utilizadas no descascamento têm sido Caribe, Inamar e Mejicana (IICA, 2004). Recentemente, a Embrapa Algodão lançou uma nova variedade de gergelim de sementes brancas, denominada de BRS Seda. Além da venda das sementes despeliculadas, em geral, estas variedades com grãos brancos de gergelim devem possuir teor de óleo superior a 50% (IICA, 2004). 246 b) Qualidade de exportação O gergelim é exportado principalmente sob três formas: natural sujo de campo, natural limpo de campo e despeliculados. Cada uma apresenta diferentes níveis de processamento, de preços e de custos. No entanto, quando a produção de gergelim é destinada à exportação, apenas as duas últimas formas são as demandadas pelo mercado; a forma natural suja de campo tem uma demanda restrita, devido à desvantagem do seu preço estipulado pelo mercado (IICA, 2004). Em relação às exportações de óleo de gergelim pelos produtores, a informação sobre tal mercado é escassa (representa menos de 4% do mercado), por ser o óleo mais explorado pelas grandes indústrias para abastecer os vários distribuidores varejistas. Numa situação favorável de incentivo do governo brasileiro para a cultura do gergelim no Brasil, nos próximos 5 anos, provavelmente poderia aparecer uma estrutura global e organizada da cadeia do gergelim com os seguintes cenários apresentados na Figura 108, baseando-se para isso em dados extraídos da cadeia produtiva dos produtores da Nicarágua que guarda uma estreita relação com a realidade dos pequenos e médios produtores do Brasil: Esta cadeia do gergelim se constitui numa estrutura insumo-produto em que intervêm agentes, processos, produtos e canais de comercialização, os quais se engrenam em quatro elos principais: A fase primária ou produção agrícola, a fase do processamento ou transformação agroindustrial, o elo da comercialização (que inclui os circuitos de comercialização interna e de exportação) e o consumo (IICA, 2004). c) Agro industrialização ou processamento Este elo da cadeia poderá ser considerado um dos pontos agravantes no sistema produtivo do gergelim no Brasil, em função do baixo valor agregado do produto, caso o mesmo dependesse apenas da exportação na forma de sementes. Ou seja, os baixos níveis de industrialização do produto limitam as expectativas de obterem-se preços mais altos pelas exportações e, de certa maneira, frustraria a consolidação da cadeia do gergelim por parte dos produtores. 247 Aquisição de bens e serviços relacionados a assistência técnica e serviços especializados Fig. 108. Cadeia produtiva do gergelim visando à expansão da cultura no Brasil. d) Fornecedor de grãos O manejo pós-colheita na empresa de óleo é iniciado pelo fornecedor dos grãos. O usineiro pode adquirir a semente de gergelim por duas vias: a) Do produtor diretamente, sendo o produto entregue na usina de óleo e b) através de intermediários. A intervenção dos intermediários estabelece-se por existir um espaço que não está sendo coberto pela cadeia produtiva. Independente do volume produzido, o produtor vende sua colheita de gergelim ou parte dela aos 248 intermediários por dois motivos: por desconhecer que existem outros agentes que pagam melhores preços - e por falta de meios de transporte e da distância para levar o produto a outro mercado mais promissor (IICA, 2004). e) Fatores incidentes no preço do produto Os preços compactuados dependem essencialmente da variedade e da qualidade do produto. É do conhecimento de alguns produtores de gergelim, que fornecem suas produções diretamente para as empresas de óleo, que a decisão de compra se realiza após uma série de provas de laboratório efetuadas sobre uma amostra do produto (sementes) para determinar os seguintes aspectos: qualidade, sujeiras, imperfeições e condições do grão. A primeira prova é puramente visual. Mas, em geral, são realizadas as provas de laboratório para evitar uma avaliação subjetiva do produto. Quando chega o momento do produtor ou intermediário entregar o produto na usina processadora de óleo, novas amostragens de grãos são realizadas em cada saco de gergelim para constatar se o produto que se está recebendo coincide realmente com a primeira amostra analisada. Caso os resultados sejam diferentes, o produto é reclassificado e se estabelece outro valor de compra para o mesmo. O poder de negociação dependerá da maior ou menor oferta do produto no mercado. Quando a oferta do produto é baixa, as exigências por qualidade e variedade diminuem (IICA, 2004). Limitações no fornecimento de gergelim. 1. Alto grau de sujeira (terra, materiais estranhos) do produto entregue pelo agricultor. 2. Os intermediários realizam as misturas dos produtos com distintas qualidades para evitar a rejeição de parte ruim do produto pelos classificadores da usina de óleo. 3. Antes da compra do produto, através dos procedimentos para examinar e classificar os grãos, utilizados pelos encarregados da empresa de óleo, podese cometer fraude para desvalorizar o produto. 4. O mercado nacional deveria criar os mostruários padrões em cada usina de 249 óleo, os quais serviriam de parâmetros para uma classificação da qualidade do produto mais justa e transparente. Todavia, dependendo da classificação de qualidade que se realiza sobre o material em negociação e do grau de limpeza que o mesmo tenha , este pode sofrer ainda uma redução no preço acordado (IICA, 2004). f) Classificação do Produto e Processamento Agroindustrial O gergelim no Brasil comercializa-se sob três formas de apresentação: Natural Sujo de Campo, Natural Limpo e Despeliculado. Cada uma destas formas tem seu próprio processo, desde as atividades mais simples às mais complexas. Foto: Vicente de Paula Queiroga 1. Gergelim Natural Sujo de Campo. Este constitui-se num processo simples, uma vez que seja classificado como produto indesejável - quando não está apto para ser comprado. Mas, quando o produto é desejável (Figura 109), existem três categorias de classificação por qualidade: baixa, intermediaria e excelente. O produto é armazenado, ficando pronto para ser comercializado. Fig. 109. Gergelim natural sujo de campo 2. Gergelim Natural Limpo. O produto embalado em sacos é transportado para o depósito da unidade processadora (Unidade de Beneficiamento de SementesUBS), sendo descarregado na moega. Através de um elevador mecânico, os grãos são transportados a uma peneira classificadora e vibradora, que fica submetida a um mecanismo de turbulência de ar, cuja finalidade é a eliminação 250 Foto: Diego Antonio Nóbrega dos materiais estranhos contidos no produto (pedra, areia, material orgânico em forma de casca, folhas etc). Em seguida, o produto está pronto para a segunda fase de limpeza. Ou seja, outra descarga do material é feita na moega e, através de um elevador, os grãos são colocados numa segunda máquina e, por meio de um mecanismo de turbulência e peneira, eliminam-se o material fino e as sementes em mal estado. No final, o produto é acondicionado em novo saco e transportado para o depósito, onde se armazena o produto natural limpo (IICA, 2004; Figura 110). Fig. 110. Gergelim natural limpo 3. Gergelim Despeliculado. Esta forma de apresentação implica nos processos de limpeza, despeliculamento e embalagem tipo exportação, já abordados anteriormente. 251 6. Coeficiente Técnico Tabela 16. Estimativas de custos variáveis por hectare para o cultivo manual do gergelim. Tabela 17. Estimativas de custos variáveis por hectare para o cultivo semi-mecanizado do gergelim. 252 Tabela 18. Estimativas de custos variáveis por hectare para o cultivo mecanizado do gergelim Fontes das tabelas 16, 17 e 18: Arriel (1997); Cardenas (1978); Langham et al. (2006); Mazzani (1999). 253 7. Referências Bibliográficas ABD EL CHANY, A. K.; EZZ EL RAFEI, M.; BEKHIT, M. R.; EL YAMANY, T. Studies on root wilt disease of sesame. Agricultural Research Review, v.48, n.3, p.85-99, 1970. ALAM, S.; BISWAS, A. K.; MANDAL, A. B. Heterosis in sesame (Sesamum indicum L.). Journal of Interacademicia. v. 3, n. 2, p. 134-139, 1999. AL-ANI, H. Y.; NATOUR, R. M.; EL-BEHADLI, A. H. Charcoal root of sesame in Iraq. Phytopathology Mediterranean , v.9, p.50-53, 1970. ALOISI, R. R.; PAGGIARO, C. M.; BIBIAN, R.; MACHADO JÚNIOR, A. P.; ALBUQUERQUE, F. C. Uso de hastes subsoladoras em áreas de cana-de-açúcar. STAB - Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, v. 10, n. 6, p. 26-30, 1992. APONTE, G. A. Plagas del ajonjoli. In: IICA (Quito, Equador). VI curso corto tecnologia de la producción de ajonjoli. Acarigua, 1990. p.25-128. ARAUJO, L. H. A.; BLEICHER, E.; HAJI, F. N. P; BARBOSA, F. R; SILVA, P. H. S da; CARNEIRO, J. da S.; ALENCAR, J. A de. 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