Tecnologias para o agronegócio do gergelim

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TECNOLOGIAS PARA O AGRONEGÓCIO
DO GERGELIM
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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Algodão
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
TECNOLOGIAS PARA O AGRONEGÓCIO
DO GERGELIM
Campina Grande, PB.
2010
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Exemplares desta publicação podem ser solicitados à:
Embrapa Algodão
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Embrapa Algodão
Revisão técnica: Vicente de Paula Queiroga
Revisão de texto: Maria José Silva e Luz
Normalização bibliolgráfica: Valter Freire de Castro
Editoração Eletrônica: Geraldo Fernandes de Sousa Filho
Capa: Flávio Torres de Moura
1ª Edição
1ª impressão (2010) 1.000 exemplares
Todos os direitos reservados
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui
violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610)
CIP - Brasil. Catalogação na publicação
Embrapa Algodão
Tecnologias para o agronegócio do gergelim/ editores técnicos, Vicente de Paula
Queiroga, Nair Helena Castro Arriel e Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva; Embrapa
Algodão (Campina Grande, PB). 1º ed. 2010.
264p.: il.; 22 cm
ISBN 978-85-85760-07-6
1. Cultivo. 2. Sesamun indicum. 3. Agricultura familiar. 4 Colheita. 5. Óleo.
I. Queiroga, Vicente de Paula, II. Arriel, Nair Helena Castro, III. Silva, Odilon Reny
Ribeiro Ferreira da, IV. Grupo Santana, Natal, RN. V. Embrapa Algodão (Campina
Grande, PB). VI. Título.
CDD:633.85
 Embrapa 2010
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Autores
Vicente de Paula Queiroga
Engenheiro agrônomo, Pós-D.Sc. da Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143,
Centenário, CEP 58107-720, Campina Grande, PB,
[email protected]
Nair Helena Castro Arriel
Engenheira Agrônoma, D.Sc. da Embrapa Algodão,
[email protected]
Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
Engenheiro Agrícola, D.Sc. da Embrapa Algodão,
[email protected]
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Apresentação
O gergelim (Sesamum indicum L. ) é uma das primeiras espécies
domesticadas pelo homem, sendo na atualidade uma das dez principais oleaginosas
do mundo, ocupando área plantada superior a oito milhões de hectares e produz
um dos melhores óleos para a alimentação humana, tendo na sua constituição
substancias anti-oxidantes como as sesamina e sesamolina e cerca de 40% de
seus ácidos-graxas é o oléico, moninsaturado, sendo assim um óleo recomendado
para alimentação do homem, além de ser medicinal. A torta ou farelo do gergelim,
tem excelente composição de aminoácidos importantes, tais como metionina,
cistina, arginina e leucina, e pode se constituir em uma excelente fonte de
proteínas. A possibilidade do uso da farinha do gergelim em produtos panificáveis,
ou na merenda escolar, abrirá novo mercado e poderá beneficiar a população
mais carente do País, a baixo custo. O gergelim é uma planta de fácil cultivo, e
no caso do Brasil, de ciclo rápido, entre 90 a 130 dias, podendo ser explorada
como lavoura orgânica em quase todo Semi-Árido nordestino e como cultura de
safrinha (não orgânica) nas condições do Cerrado, em ambos casos em sistemas
solteiros ou consorciados, de sequeiro ou irrigado, sendo pouco tolerante a
salinidade e muito resistente a seca, evento muito comum no Nordeste brasileiro.
Seu cultivo em bases ecológicas, incluindo sistemas agroecológicos e orgânicos,
poderá agregar valor aos seus produtores, desde o grão em si, mas, também seu
óleo e o seu farelo. Neste livro, os autores evidenciam a importância desta
pedaliaceae, bem como o seu cultivo em bases sustentáveis, com o mínimo de
agressão à natureza e produção de alimentação saudável.
Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão
Chefe Geral da Embrapa Algodão
10
11
Prefácio
Por seus antioxidantes naturais sesamina, sesamol, sesamolina e gama
tocoferol, o azeite é mais resistente a oxidação ou baixa rancificação, sendo que
esta propriedade não foi encontrada em nenhum outro óleo vegetal. Além de
retardar o envelhecimento celular, estas substâncias estão presentes apenas no
óleo, em razão disso o azeite extravirgem produzido do primeiro prensado à frio
se encontra entre os óleos mais caros. Com a torta resultante do processo de
extração do óleo, a qual contém entre 40 e 70% de proteína, se poderia elaborar
a farinha e usá-lá na preparação de vários produtos alimentícios.
Havendo expansão significativa da sua área plantada no Brasil, a
verticalização da produção do gergelim irá depender das modificações nos
costumes culturais e socias da população, pois o mercado nacional é limitado e
por este motivo não valoriza tanto a qualidade do gergelim como o mercado
internacional. O Brasil é ainda importador de sementes, e isto equivale a mais de
60% do nosso consumo de gergelim. Um rendimento médio de 800 a 1.000 kg/
ha de sementes no campo contribuiria para que o preço baixasse, tornando o
produto mais acessível às classes populares, pois, atualmente, o consumo de
gergelim se restringe às classes mais favorecidas do País. Não basta somente
produzir a matéria -prima, mas conhecer a cadeia do produto, envolvendo todos
os aspectos dos segmentos do agronegócio, principalmente deve ser melhorado
o marketing sobre os benéficos a saúde humana proporcionados pelas propriedades
químicas naturais existentes nessa espécie.
As informações apresentadas neste livro demonstram que já existem
conhecimentos e tecnologias sobre o agronegócio do gergelim, que possibilitarão
a sua promoção como uma cultura de grande perspectiva econômica,
especialmennte para o Semi-Árido do Nordeste e como "cultura de safrinha" nas
12
condições do Cerrado. A simples introdução da segadora-atadora no Brasil para
realizar o corte das plantas deiscentes no ponto de colheita, capaz de obter um
rendimento de 2 ha/h, poderá incrementar significativamente a área plantada de
tal lavoura, sem a necessidade de mudança das cultivares em uso.
Os autores deste livro acreditam que todos os conhecimentos à disposição
dos produtores, empresários, autoridades do Brasil e da sociedade, poderão tornar
o gergelim numa nova opção agrícola de forte conotação social e econômica.
Os autores
13
Sumário
PARTE 1
Tecnologias Utilizadas no Cultivo do Gergelim Orgânico pelos Produtores
Familiares do Nordeste........................................................................
17
1. Introdução .........................................................................................
17
2. Tecnologias Sociais Desenvolvidas nas UTDs de Gergelim Orgânico ....
22
2.1 Certificação do campo orgânico ....................................................
23
2.2 Condições de clima e solo ...............................................................
23
2.3 Preparo do solo .............................................................................
24
2.4 Semeadura manual ........................................................................
26
2.5 Plantio com semeadora mecânica manual .......................................
27
2.6 Sementes de cor branca .................................................................
32
2.7 Espaçamento ................................................................................
34
2.8 Desbaste .......................................................................................
35
2.9 Produção de mel orgânico ...............................................................
35
2.10 Adubação ...................................................................................
36
2.11 Capinas ......................................................................................
37
2.12 Doenças ....................................................................................
2.13 Pragas ........................................................................................
37
38
2.14 Preparação de macerados ............................................................
39
2.15 Macerado para lagarta .................................................................
42
2.16 Macerado para pulgão .................................................................
43
2.17 Macerado para pulgão e lagarta ....................................................
43
14
2.18 Macerado para mosca-branca adulta ..............................................
2.19 Macerado para ninfas da mosca-branca ..........................................
44
44
2.20 Macerado para cochonilha .............................................................
45
2.21 Planta de neem ............................................................................
46
2.22 Macerado para lagartas, pulgões, cigarrinha-verde e mosca-branca..
49
2.23 Colheita: época do corte manual das plantas ..................................
49
2.24 Secagem dos feixes ......................................................................
53
2.25 Batedura dos feixes e peneração dos grãos .....................................
54
2.26 Ventilação de grãos e embalagem ..................................................
59
2.27 Armazenamento dos grãos ............................................................
2.28 Rotação de culturas ......................................................................
62
67
2.29 Banco de sementes .......................................................................
67
3. Custos de Produção das UTDs ...........................................................
70
4. Extração de Óleo na Mini-usina ...........................................................
5. Prensa Piteba ...................................................................................
77
79
6. Produção de Biodiesel na Comunidade ..................................................
82
7. Elaboração de Produtos Alimentícios Industrializados ..............................
84
8. Receitas com Gergelim para Merenda Escolar .......................................
94
9. Alimentação Animal ..........................................................................
99
10. Construção de Barragens Subterrâneas ...............................................
102
11. Parcerias e UTD ...............................................................................
103
12. Mercado em Geral de Gergelim ..........................................................
105
13. Referências Bibliográficas ...................................................................
121
15
PARTE 2
Tecnologias Utilizadas no Cultivo do Gergelim Mecanizado ...................
125
1. Introdução .......................................................................................
125
2. Importância do Gergelim .................................................................
128
3. Tecnologias de Produção e Mecanização do Gergelim .......................
132
3.1 Planta com frutos por axila ..........................................................
132
3.2 Plantas ramificadas e não ramificadas ...........................................
133
3.3 Cultivares ....................................................................................
134
3.4 Fenômeno da pleiotropia ...............................................................
142
3.5 Clima e solos ...............................................................................
143
3.6 Preparo de solo ............................................................................
144
3.7 Processo de encapsuladação de sementes ......................................
151
3.8 Espaçamento e época de semeadura ...........................................
157
3.9 Adubação e calagem ....................................................................
157
3.10 Sistemas de plantio ....................................................................
159
3.11 Herbicida ...................................................................................
163
3.12 Irrigaçâo ....................................................................................
165
3.13 Controle de doenças ...................................................................
168
3.14 Controle de pragas .....................................................................
175
3.15 Formação de quebra-ventos com plantas de neem e preparação
de bioinseticida...........................................................................
183
3.16 Ponto de colheita .......................................................................
189
3.17 Colheita: época do corte das plantas ...........................................
190
3.18 Vantagens do corte mecânico .....................................................
194
16
3.19 Colheita mecanizada do gergelim na Venezuela ............................ 200
3.20 Colheita mecanizada do gergelim na Austrália .............................. 211
3.21 Colheita mecanizada do gergelim nos USA ................................... 212
3.22 Armazenamento ......................................................................... 222
4. Elaboração de Produtos Industrializados ...........................................
226
5. Resumo da Cadeia Produtiva do Gergelim .........................................
245
6. Coeficiente Técnico .......................................................................
251
7. Referência Bibliográfica ..................................................................
253
17
PARTE 1
TECNOLOGIAS UTILIZADAS NO CULTIVO DO
GERGELIM ORGÂNICO PELOS PRODUTORES
FAMILIARES DO NORDESTE
1. Introdução
A cultura do gergelim (Sesamum indicum L.) constitui-se em alternativa
de grande importância econômica e social para as condições semi-áridas do
Nordeste brasileiro, por ser de fácil cultivo, apresentar tolerância a estiagem e,
principalmente, por gerar renda e trabalho e por ser fonte de alimento para
pequenos e médios produtores.
As áreas do Semi-Árido do Nordeste brasileiro destacam-se como
possuidoras de condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo do gergelim de
forma ecológica, em microrregiões que exercem papel preponderante na redução
natural de pragas da referida lavoura. Além disso, as características das
propriedades locais, ocupadas basicamente por agricultores familiares, que
cultivam espécies diversificadas e usam a mão-de-obra familiar, adequam-se à
produção de gergelim neste tipo de sistema de exploração.
No município de São Francisco de Assis do Piauí-PI, a Fraternidade de São
Francisco de Assis (FFA) é a entidade coordenadora dos trabalhos nas comunidades
18
rurais e, desde a sua criação, vem desenvolvendo algumas atividades nas áreas
de abrangência da paróquia local, visando à diversificação da produção e à melhoria
da qualidade de vida dos produtores da região. Para isto, a FFA tem buscado
apoio de algumas entidades para capacitar e acompanhar os produtores no
desenvolvimento das atividades agrícolas, tais como: apicultura (mel orgânico),
criações de animais de pequeno porte (caprinos e galinhas caipiras), cultivo de
espécies alimentares, oleaginosas e fibrosas. Neste contexto, a Embrapa Algodão
tem sido uma empresa parceira da FFA desde o ano de 2003.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
O primeiro trabalho realizado no município de São Francisco de Assis do
Piauí pela Embrapa Algodão foi com a cultura do algodão. Antecipadamente, foi
ministrado pelos técnicos da Embrapa um curso teórico de capacitação para os
produtores. Em dezembro de 2003, foram instaladas 10 UTDs (Unidade de Teste
e Demonstração) nas cinco comunidades (duas UTDs por comunidade) com a
participação de mais de 400 produtores. Nos anos seguintes, a FFA continuou
com a parceria com a Embrapa Algodão, para a transferência de tecnologia para
os cultivos de algodão, mamona e gergelim, sempre usando a metodologia de
UTDs. No final de agosto de 2007, um novo curso de gergelim orgânico foi
ministrado pelos técnicos da Embrapa Algodão para capacitação de 200 produtores
de seis comunidades rurais do município de São Francisco de Assis do Piauí-PI
(Figura 1): Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro
Grande e Barra Bonita. Vale destacar que a FFA conta com o apoio técnico
permanente de quatro agentes comunitários.
Fig. 1. Curso de
capacitação sobre o
gergelim orgânico
para os produtores
de São Francisco de
Assis do Piauí, data:
27 a 29 de agosto
de 2007
19
Há uma conscientização efetiva por parte dos produtores do município de
São Francisco de Assis do Piauí-PI em buscar culturas ecologicamente corretas,
que não agridam o meio ambiente da sua região, pelo fato se empenharem, há
mais de 15 anos, em outras atividades da Rede Ecológica, com a exploração do
mel orgânico, importante atividade econômica na região.
Sob as condições adversas da safra de 2007, a qual foi caracterizada por
um inverno bastante irregular e uma precipitação pluvial máxima de 200 mm, os
pequenos produtores de São Francisco de Assis do Piauí-PI plantaram cerca de
30 hectares de gergelim e obtiveram um volume de produção de aproximadamente
7.000 kg de sementes, de forma orgânica, sem uso de defensivos químicos. O
desempenho produtivo do gergelim superou as expectativas dos produtores, em
relação a outros cultivos tradicionais, como os de milho, mamona e feijão, os
quais são importantes para o ambiente dessa região em conjunto com essa
experiência ecológica de produção e a rusticidade do gergelim.
Uma vez definida a nova cultivar de gergelim BRS Seda, de cor branca,
espécie que veio se juntar às demais culturas de subsistência, a meta da FFA
para 2008 foi ampliar a área de cultivo de gergelim orgânico para 100 ha. Este
plantio do gergelim ecológico no município de São Francisco de Assis do Piauí (a
62 km de Simplício Mendes, PI) foi realizado nos dias 28 e 29 de janeiro de
2008, nas seis comunidades rurais citadas anteriormente. Em cada comunidade,
foi selecionada uma área de ½ ha de um produtor para funcionar como a UTD
matriz (Escola de Campo). Nessas seis UTDs matrizes, os agricultores eram
convocados pela rádio local para se reunirem e receberem as aulas práticas
diretamente no campo durante as diferentes fases da lavoura do gergelim a
partir de orientações de pesquisadores da Embrapa (Figura 2), visando criar um
efeito positivo no processo de apropriação tecnológica pelos produtores familiares,
cujos conhecimentos adquiridos deverão ser aplicados nos seus lotes (UTDs filiais)
e multiplicados aos demais.
O projeto delineado pela FFA é transformar os produtores das comunidades
de São Francisco de Assis do Piauí em pequenos empreendedores rurais, visando
dar maior sustentabilidade à produção do gergelim orgânico e, principalmente,
possibilidades para poderem viver com dignidade na área rural do Semi-Árido
brasileiro. Nesse sentido, o nível tecnológico da exploração do gergelim pelas
comunidades sofreu alteração, ou seja, o sistema produtivo do gergelim passou
Foto: Flávio Tôrres Moura
20
Fig. 2. Tecnologias
transferidas pela Embrapa
Algodão e apropriadas pelos
produtores de seis
comunidades, os quais se
unem nas UTDs matrizes para
realizarem atividades em
forma de mutirão. São
Francisco de Assis do Piauí,
2008
do estado de "cultura de fundo de quintal" para o de plantio em escala comercial,
com lotes de até dois hectares por família. Novas tecnologias como: cultivar
recomendada com características de sementes de cor branca e teor de óleo
acima de 50%; utilização de plantadeira, que dispensa o desbaste; espaçamentos
de 90 cm entre fileiras; época adequada de colheita, indicada pelo amarelecimento
do caule, das hastes e das folhas e abertura dos frutos da base do caule;
beneficiamento de sementes para evitar a mistura de areia no produto;
programação da semeadura, para colheita do gergelim na época de ausência de
chuvas; cultivo orgânico; rotação de cultura etc, foram demonstradas nas seis
UTDs, pela Embrapa Algodão.
Estas ações estratégicas foram suficientes para incrementar, em cerca
de 30%, a produção de gergelim nas seis comunidades de São Francisco de
Assis do Piauí-PI, que, em organização, podem participar de forma sustentável
da economia do município. Já o cultivo de fundo de quintal do gergelim, considerado
uma tradição no meio rural nordestino, perpetua a pobreza e destrói a capacidade
de competição do produtor no mercado globalizado, principalmente por não
aproveitar o potencial econômico do gergelim orgânico e pela pouca opção de
cultivo rentável existente para as condições do Semi-Árido do Nordeste.
Para se alcançar êxito com a cultura do gergelim orgânico, é necessário
fomentar a associatividade dos produtores ao longo da sua cadeia produtiva,
21
visando conseguir maior rentabilidade na sua exploração. Portanto, a verticalização
da produção do gergelim poderá ser a próxima meta da FFA, principalmente
quando for instalada uma mini usina de extração de óleo de gergelim prensado a
frio em São Francisco de Assis do Piauí-PI. Os grãos orgânicos poderão ser
utilizados como matéria-prima na elaboração de outros produtos naturais como:
cocada, tahine, doce em barra (halawi), gersal, barras de gergelim com mel
orgânico, doce caseiro, pão, bolacha, bolo etc. Estes quatros últimos produtos
têm potencial para uso na merenda escolar do referido município. No treinamento,
a Embrapa Algodão também contemplou o aproveitamento do gergelim,
ministrando, para 45 mulheres, o primeiro treinamento para preparação de
saborosos produtos culinários, baseados em receitas com gergelim.
Segundo os técnicos de tecnologia em alimentos da Embrapa Algodão, a
melhor maneira de obter uma oferta exportável competitiva do gergelim orgânico,
de qualidade padronizada e com volumes significativos, de acordo com as
circunstâncias da região semi-árida do Nordeste, é gerando produtos de qualidade
e saudáveis, em conformidade com os requisitos da sustentabilidade ambiental,
da segurança alimentar e da viabilidade econômica, mediante a utilização de
tecnologias não-agressivas ao meio ambiente e a saúde humana. Especialmente,
se recomenda a aplicação e a divulgação de Boas Práticas Agrícolas (BPA) e
Boas Práticas de Manufatura (BPM), para que a associação dos produtores de
gergelim de São Francisco de Assis do Piauí possa conseguir o selo de certificação
de qualidade, devido ao controle do meio ambiente (QUEIROGA et al., 2007).
O mercado nacional é limitado e, por este motivo, não valoriza a qualidade
do gergelim orgânico tanto quanto o mercado internacional. Esta exportação do
gergelim orgânico já vem ocorrendo em pequena escala pelo Brasil, segundo
dados levantados por Soares (2004). Outra vantagem da venda do gergelim para
o mercado internacional é que os principais países importadores não estabelecem
cotas de comercialização, em razão dos mesmos não plantarem gergelim e,
portanto, não há concorrência interna com o produto importado.
Esta associação de pequenos produtores poderá superar suas principais
restrições ao mercado externo, tendo também a oportunidade de aproveitar o
potencial agrícola que tem o Brasil frente a outros países competidores
internacionais. Esta abertura de mercado irá permitir a agregação de maior valor
ao produto gergelim.
22
A questão da exportação de produtos para o exterior depende da
organização dos produtores, da qualidade, quantidade e periodicidade do produto
e da competência gerencial de quem esteja à frente de uma associação,
cooperativa, ou grande empreendedor rural. No caso da associação dos pequenos
produtores de gergelim do município de São Francisco de Assis do Piauí este
problema não constitui mais um paradigma, porque estes pequenos
empreendedores já têm a experiência de vários anos de comercialização da sua
produção de mel orgânico para os USA e Europa.
Em razão de a experiência técnica de condução das seis UTDs de gergelim
instaladas pelas associações de produtores, no município de São Francisco de
Assis do Piauí-PI no ano agrícola de 2008, ter sido bem sucedida, relatam-se
neste trabalho as tecnologias e os benefícios socioeconômicos e as oportunidades
alimentares geradas pela produção do gergelim orgânico por meio da agricultura
familiar.
2. Tecnologias Sociais Desenvolvidas nas UTDs de Gergelim
Orgânico
Os produtores, orientados por técnicos da Embrapa Algodão, receberam
instruções em práticas realizadas diretamente no campo durante as diferentes
fases da lavoura do gergelim. Esses técnicos, nas seis UTDS instaladas no município
de São Francisco de Assis do Piauí, apresentaram as práticas de manejo do
cultivo de gergelim em visitas feitas estrategicamente nos períodos de: 28 a 29
de janeiro de 2008, para realizar o plantio nas áreas previamente preparadas;
17 a 18 de março de 2008, para orientar a eliminação de plantas atípicas,
desbaste e controle de pragas com produtos orgânicos; 22 e 23 de abril de
2008, para orientar sobre o corte das plantas de cada UTD e secagem dos
feixes; 19 e 20 de maio de 2008, para efetuar a batedura dos feixes, cuidados
com a qualidade do produto (não misturar sementes com areia), ventilação e
embalagem das sementes de gergelim com baixa umidade; 25 e 26 de junho de
2008, para orientar sobre o armazenamento, beneficiamento e preenchimento
de formulários com as despesas de cada UTD.
23
2.1 Certificação do campo orgânico
Mesmo em se tratando de pequenas áreas de cultivo, os pequenos
produtores nordestinos têm dificuldades para pagar a taxa anual de certificação,
junto ao Instituto Biodinâmico - IBD, dos seus campos de gergelim como orgânico
(selo verde). Meirelles (2003) destaca que, além do preço cobrado pelo serviço
de certificação - o qual é impeditivo para pequenos agricultores - diferentes
exigências de selos de cada comprador ou importador, torna este serviço
totalmente insustentável. Uma forma de resolver tal problema seria negociar um
contrato de terceirização da produção do gergelim orgânico firmado entre os
fornecedores da matéria-prima (Fraternidade de São Francisco de Assis) e a
indústria de alimentos de produtos naturais; esta indústria ficaria com a
responsabilidade de pagar a taxa de certificação dos campos de produção de
gergelim e os pequenos produtores apenas assumiriam o papel de cooperados no
sistema produtivo do gergelim dessa empresa.
Outra exigência adotada pelo IBD para certificação do campo de produção
do gergelim orgânico está relacionada à escolha do terreno, pois seus técnicos
só reconhecem a lavoura ecologicamente correta quando cultivada em áreas
agrícolas manejadas por pelo menos três anos na ausência de defensivos e
adubos minerais (SOUZA, 2000).
2.2 Condições de clima e solo
Segundo Queiroga et al. (2007), as áreas do Nordeste brasileiro zoneadas
para cultivo do algodoeiro, também oferecem as melhores condições climáticas
para o cultivo do gergelim. Tomando-se por base esta afirmação, a região semiárida do Nordeste, onde já se plantaram 3,5 milhões de hectares de algodão nos
anos 70, poderão constituir-se em uma extensa área para o cultivo do gergelim,
quando comparada com outras culturas oleaginosas girassol, mamona e
amendoim.
A planta de gergelim tem raiz pivotante e é resistente ao estresse hídrico;
porém, pode-se obter produtividade superior a 1.000 kg/ha de sementes, se
houver boa distribuição de chuvas (500 mm) no seu período de crescimento. A
distribuição ótima seria: 35% de chuvas até o início da floração, 45% durante o
período de floração, 20% durante o período de formação dos frutos e (0%) no
período de colheita (AUGSTBURGER et al., 2000).
24
O gergelim adapta-se a uma grande variedade de tipos de solos, porém, o
ideal são solos com boa drenagem, areno-argilosos, férteis e com pH entre 5,4 e
6,7. Valores de pH mais baixos influem drasticamente no crescimento, entretanto,
existem variedades que toleram pH até de 8,0. Em condições de irrigação ou de
precipitação natural, o gergelim cresce melhor em solos arenosos que em terras
pesadas, devido à sua baixa tolerância à retenção de água.
Para o plantio de distintas cultivares de gergelim, o MAPA exige que o
isolamento mínimo dos campos seja de 1.000 metros para evitar a polinização
cruzada pelos insetos, principalmente as abelhas. Já as sementes utilizadas no
plantio ecológico não devem ser tratadas com produtos químicos.
O gergelim tem apresentado um bom desenvolvimento vegetativo nos solos
das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, localizada na região semiárida do Nordeste. Conseqüentemente, a planta fica menos sujeita a infestação
de pragas por se tratar de solos de tabuleiros, apesar de que o desempenho
produtivo do gergelim não seja bastante promissor, ou seja, a produtividade do
gergelim irá depender da fertilidade do solo. Já a incidência de doença nas plantas
ecológicas de gergelim é insignificante em São Francisco de Assis do Piauí em
razão do clima do município ser caracterizado por baixa umidade relativa do ar e
elevada temperatura.
A topografia do terreno pode variar, de plana a ondulada, contanto que,
em áreas planas não haja problema de encharcamento e nas onduladas ou
acidentadas, práticas de conservação sejam observadas e adotadas para evitar
erosão do solo; fato que ocorreu na UTD da comunidade Lagoa da Povoação,
cujo produtor, Antônio Vital de Souza, deveria ter preparado o terreno em curva
de nível, com o auxílio do instrumento pé de galinha (Figura 3).
2.3 Preparo do solo
A FFA dispõe de três tratores, os quais são utilizados para atender às
diferentes atividades realizadas nas comunidades rurais do município de São
Francisco de Assis do Piauí-PI. Já na época de chuvas, os tratores trabalham
basicamente no preparo das áreas agrícolas.
Após as primeiras chuvas ocorridas na região no mês de janeiro de 2008,
as áreas destinadas para implantação das UTDS foram aradas e gradeadas com
Foto: Tarcísio M. de Souza Gondim
25
Fig. 3. Marcação e preparo do solo em curva de nível: A) - piqueteamento em nível
com base no "pé-de-galinha", B) - Marcação da curva de nível por tração animal.
trator e com animal (arado de aiveca), exceto a UTD da comunidade de Queimada
Nova, que, por falta de chuvas, não pode preparar o campo no referido mês.
Foto: Odilon Reny R. Ferreira Silva
Foto: Vicente de Paula Queiroga
O plantio do gergelim requer um solo bem preparado e limpo (Figura 4),
sem torrões e restos de plantas (garranchos secos), para facilitar a semeadura
das pequenas sementes com a plantadeira mecânica manual. Por se tratar de
um equipamento leve, a irregularidade do terreno, devido à falta de uma boa
gradagem, pode contribuir na ocorrência de falhas durante o processo de
distribuição das sementes, efetuada por essa máquina.
A
B
Fig. 4. (A) Preparo do solo com arado de aiveca reversível pelos produtores de São
Francisco de Assís do Piauí. (B)Topografia plana do terreno e solo bem preparo pelo
trator para a semeadura de sementes pequenas de gergelim.
26
2.4 Semeadura manual
A época de semeadura é considerada como um tipo de manejo cultural
ecológico do gergelim, que pode resultar em maior produção e qualidade dos
grãos. A observância da época adequada oferece maior possibilidade de êxito
para o produtor dentro das variações de clima a que está sujeita a lavoura na
região semi-árida do Nordeste, considerando a grande influência das chuvas sobre
a produção, tanto em quantidade como em qualidade (QUEIROGA et al., 2007).
Recomenda-se iniciar a semeadura quando tiver ocorrido aproximadamente
30 mm, em duas chuvas por semana. Nestas condições o solo apresenta umidade
suficiente para a germinação das sementes e desenvolvimento das plantas
(BELTRÃO et al., 1989).
Os plantios das cinco UTDS realizados nos dias 28 e 29 de janeiro de
2008, pelos produtores de São Francisco Assis do Piauí com o gergelim BRS
Seda, foram efetuados em solos preparados por trator e por animal, mas em solo
seco. No caso da comunidade de Barreiro Grande, no momento em que foi
concluída a semeadura começou a chover; no entanto, nas comunidades de Lagoa
do Juá, Lagoa da Povoação, Veredas e Barra Bonita, as precipitações só vieram
a ocorrer posteriormente, tendo variado entre três e oito dias depois da instalação
das UTDs. Entretanto este tempo sem chuva não comprometeu a germinação
das sementes usadas nas UTDs, as quais resultaram em populações de plantas
com excelente crescimento e desenvolvimento.
Por falta de chuvas para o preparo do solo, não foi possível o plantio da
UTD com a plantadeira mecânica manual na comunidade Queimada Nova, no dia
28 de janeiro de 2008 na presença dos técnicos da Embrapa; embora os
produtores, que se encontravam no local, tenham recebido uma demonstração
prática da semeadura com plantadeira mecânico-manual.
A produtora responsável por essa UTD(Justina Lopes de Souza), só
conseguiu semear o gergelim no dia 20 de fevereiro de 2008, manualmente,
após duas tentativas frustrantes. Segundo ela, essas duas perdas foram devido
aos fatores naturais de estiagem, lagarta e formigas. A semeadura dessa unidade
demonstrativa, de apenas 0,5 ha, além de ter demorado dois dias para ser
efetuada manualmente, foi realizada muito tarde, pois as chuvas apenas foram
registradas no município de São Francisco de Assis do Piauí até o dia 10 de abril.
27
Foto: Sérgio Cobel da Silva
A profundidade uniforme da semeadura (1,5 - 2,5 cm) é importante para a
germinação. Seu controle, o plantio manual, é feito com uma espécie de "riscador"
que marca a profundidade de plantio e risca o campo a ser semeado; em seguida,
a semeadura manual é realizada por meio de uma lata com furo no fundo (Figura
5) ou com a mão em covas ou sulcos, utilizando-se o pé para cobrir as sementes
com terra. Por serem muito pequenas, as sementes que ficarem abaixo de 2,53,0 cm demorarão a emergir e, se não houver umidade suficiente, não germinarão.
O consumo de sementes neste sistema de plantio é de 3 kg por hectare e podem
ser necessários até três dias para plantar um hectare; também é necessário
realizar o desbaste (eliminação do excesso de plantas), o que representa em
torno de 10% dos custos de produção. Esta modalidade de plantio foi executada
não apenas pela proprietária, Justina Lopes de Souza, na UTD da comunidade
Queimada Nova do município de São Francisco de Assis do Piauí, mas por vários
produtores de gergelim do referido município.
Fig. 5. Semeadora manual apropriada para plantio em covas, usando garrafa pet e lata
com furo.
2.5 Plantio com semeadora mecânica manual
Atualmente, a FFA conta com duas máquinas semeadoras, compradas ao
fabricante, Luiz Leme, da cidade de Várzea-PB, que foram insuficientes para
plantar a área de gergelim, cerca de 60 ha, na safra 2008, nas seis comunidades
envolvidas na programação, no município de São Francisco de Assis do Piauí.
Para que haja incentivo a essa cultura, é necessário reduzirem-se os custos de
produção;com o uso desta semeadora pode-se reduzir a mão-de-obra no plantio
28
de um hectare, de cinco dias homem-1 para menos de duas horas e elimina-se a
despesa com a mão-de-obra do desbaste.
Verificou-se que a semeadora testada nas cinco UTDs atendeu às
expectativas dos produtores, necessitando apenas um ligeiro raleamento das
plantas de gergelim. Os técnicos da Embrapa Algodão, detectaram apenas a
necessidade de um pequeno ajuste na máquina - reduzir em menos um o número
de furos no cilindro de PVC (100 mm) de distribuição de sementes ou reduzir o
tamanho do orifício de saída das sementes nos dois cilindros de PVC.
A regulagem da semeadora foi mais demorada na primeira UTD da
comunidade Lagoa do Juá, pertencente ao produtor Francisco Mariano Teixeira,
durante a visita dos técnicos da Embrapa, no dia 28 de março de 2008. Em
primeiro lugar, com auxílio de uma trena, foi determinado o espaçamento de 90
cm entre as duas pequenas rodas, as quais têm como função a abertura dos
sulcos rasos de semeio de sementes de gergelim (Figura 6). Estas rodas estão
apoiadas por molas, o que permite acoplá-las nas duas barras fixas da máquina e
devem ser fixadas a estas peças com bastante pressão, para suportar as
irregularidades do terreno durante a operação de plantio. Caso o produtor precise
alterar o espaçamento na máquina, basta deslizar as referidas peças de metal
com as pequenas rodas na barra fixa.
Foto: Severino Carvalho
Logo atrás das pequenas rodas, há duas barras são fixas na máquina, às
quais estão acoplados dois cones invertidos de zinco, que fazem o papel da
Fig. 6. Regulagem da
plantadeira e marcação
das linhas de plantio do
gergelim nas UTDs das
comunidades de São
Francisco de Assis do
Piauí-PI, 2008.
29
"mão" do plantador. Eles recebem as sementes de gergelim que caem dos furos
dos dois cilindros de PVC (100 mm) de distribuição de sementes; cada um desses
cones invertidos possui uma pequena mangueira rígida na sua parte inferior, que
se arrasta em contato com o solo. No final de cada fileira, quando a máquina é
manobrada por dois homens, para se iniciar o plantio da próxima fileira, pode
acontecer que a mangueira entorte e se desaprume, devido ao movimento
involuntário de baixar a máquina; como a mangueira a é parte da máquina que
entra primeiro em contato com o solo, recebe toda a pressão do peso da máquina
e acaba se entortando. Portanto, é necessário a atenção do operador da máquina
para desentortá-la manualmente; ela também pode perder sua rigidez natural e
entortar, normalmente, durante o plantio, pela ação do calor forte do meio-dia
na região de São Francisco de Assis do Piauí-PI.
Foto: Luiz Leme
Após os cones invertidos, são fixadas mais duas barras, às quais estão
acopladas duas correntes pequenas. A parte da corrente que se arrasta no solo
faz o papel do pé de um trabalhador de campo, cobrindo as sementes no sulco,
com uma camada muito leve de solo (Figura 7). No plantio manual, é comum que
o pé do operário, ao cobrir as pequenas sementes no sulco ou covas, jogue uma
pesada camada de solo, o que pode dificultar a emergência das plântulas e
ocasionar falhas no estande.
Fig. 7. Plantadeira de
gergelim arrastando a
corrente no solo para
cobrir as sementes nos
sulcos no plantio do
gergelim nas UTDs das
comunidades de São
Francisco de Assis do
Piauí-PI, 2008.
30
Foto: Luiz Leme
Antes do plantio, recomenda-se ajustar a máquina, deixando bem alinhadas
as correntes e as mangueiras dos cones invertidos em relação às duas pequenas
rodas de abertura dos sulcos, as quais estão posicionadas na frente do referido
equipamento. Esta regulagem prévia do equipamento, embora demande cerca
de 30 minutos, é indispensável, pois esse ajuste na máquina - a qual foi programada
para semear duas linhas por cada percurso realizado - irá melhorar a eficiência
da semeadura (Figura 8). Com base neste desempenho da máquina, é possível
deduzir-se que ela executa o trabalho de seis pessoas ao mesmo tempo.
Fig. 8. Semeadora
mecânica manual de duas
linhas usada no plantio do
gergelim nas UTDs das
comunidades de São
Francisco de Assis do
Piauí-PI, 2008.
Durante a semeadura com a plantadeira no espaçamento de 90 cm, usase uma corda para servir como guia da roda grande de bicicleta da máquina.
Uma vez determinada à primeira linha de plantio no terreno (linha mestre, que
deve ser em nível, em terreno declivoso), os produtores em cada extremidade do
campo marcavam com piquetes suas cabeceiras, usando varas do tamanho de
180 cm (dobro do espaçamento de 90 cm), visando à marcação das demais
linhas paralelas de plantio do campo. Em seguida, os produtores se posicionavam
em cada linha riscada do terreno (extremidades do campo) e colocavam os piquetes
para esticar a corda, no momento em que iniciava o trabalho de semeadura da
máquina de duas linhas de plantio, por onde deveria passar a roda grande da
máquina (Figura 9).
31
Foto: Luiz Leme
Fig. 9. Marcação da
distância entre as cordas,
determinada em cada
extremidade do campo
com auxílio de uma vara
de 180 cm, no plantio do
gergelim nas UTDs das
comunidades de São
Francisco de Assis do
Piauí-PI, 2008.
Após o plantio de cerca de ¼ha, o produtor reabastecia o cilindro de
distribuição de sementes (Figura 10), com uma quantidade de sementes, que
deve ficar, no máximo, um pouco acima da metade do cilindro, de maneira a
permitir o movimento das sementes, principalmente quando a máquina se encontra
em plena atividade no campo. Em 2009, a FFA adquiriu dez máquinas semeadoras
(total 12).
Recentemente, uma máquina de plantio de gergelim de uma linha foi
idealizada pela Embrapa Algodão para atender aos pequenos produtores familiares
da região semi-árida do Nordeste (Figura 11). Caso o produtor de gergelim se
Fig. 10. Reabastecimento
do depósito da plantadeira
manual de gergelim com
ajuda de um funil.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
32
Fig. 11. Semeadora mecânica manual de uma linha desenvolvida pela Embrapa Algodão
para o plantio de sementes de gergelim.
interesse em criar sua própria máquina de plantio, é mais simples e barato e o
desenvolvimento de um equipamento com o mecanismo de semear uma linha,
embora no plantio de um hectare, gaste-se o dobro de tempo em comparação
com a máquina de duas linhas.
Outro equipamento, que pode ser adaptado pelo produtor para a semeadura
do gergelim, é uma máquina adubadora. Para melhorar a eficiência da semeadura,
devido ao pequeno tamanho das sementes de gergelim, recomenda-se passar
uma determinada quantidade de esterco curtido numa peneira para ser
transformado em pó (MAZZANI, 1999); o qual deverá ser usado em mistura
com a semente, na proporção de 10 a 20% de sementes de gergelim para cada
quilo de esterco em pó. Essa mistura homogeneizada deve ser colocada num
depósito do equipamento da adubadora manual, cujo mecanismo de distribuição
pode ser de uma ou de duas saídas (Figura 12). O espaçamento entre as duas
linhas feitas pelo equipamento deverá ser de 75 a 80 cm. Com este sistema de
plantio não é preciso efetuar o desbaste, mas devem-se considerar as boas
condições de umidade do solo.
2.6 Sementes de cor branca
Agregar valor é alternativa viável para pequenos produtores, que
organizados podem incrementar os lucros da atividade agrícola. No mercado
convencional, assim como no ecológico, a semente branca e uniforme de gergelim
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Jair Luiz Hermes
33
Fig. 12. Adubadora manual de duas linhas que pode ser adaptada para plantio de
sementes de gergelim quando misturadas com esterco em pó: A) máquina com
distribuidores paralelos de sementes; B) esquema de linhas de semeadura.
tem maior demanda, em razão do maior rendimento do óleo da cultivar BRS Seda
(51%) e pela elaboração da farinha para alimentação humana (sem o gosto
amargo), quando as sementes são despeliculadas (MAZZANI; LAYRISSE, 1998).
O gergelim é exportado principalmente sob três formas: natural sujo de
campo, natural limpo de campo e despeliculado. Cada uma apresenta diferentes
níveis de processamento, de custos de beneficiamento e de valorização do
produto. No entanto, quando a produção de gergelim se destina à exportação,
apenas as duas últimas formas atendem à qualidades demandadas pelo mercado
externo. A forma natural suja de campo tem uma demanda restrita e seu preço
inviabiliza a exploração da cultura (IICA, 2004).
Para as comunidades familiares do Nordeste, deve ser aberto mercado
para o gergelim despeliculado, incentivando o plantio das cultivares com grãos
brancos. Por sua aparência branca e sabor doce, as variedades mais utilizadas
no descascamento têm sido Caribe, Inamar e Mejicana. Além da venda das
sementes despeliculadas, em geral, estas variedades com grãos brancos de
gergelim devem possuir teor de óleo superior a 50% (IICA, 2004). A capacidade
instalada dos descascadores de grãos de gergelim nas comunidades terá que ser
dimensionada em função do tamanho dos mercados interno e externo.
34
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Em dezembro de 2007, a Embrapa Algodão lançou uma nova variedade
de gergelim de sementes brancas (Figura 13), denominada BRS Seda (EMBRAPA
ALGODÃO, 2007). Suas principais características são: ciclo de 85 a 89 dias,
início da floração aos 35 dias, porte médio, cor branca das sementes, produtividade
de 1.000 kg ha-1, teor de óleo de 51%, tolerante à seca e frutos deiscentes.
Futuramente, a Embrapa Algodão deverá lançar a primeira cultivar de gergelim
indeiscente (frutos amadurecidos não abrem) e de cor branca, sendo mais indicada
para a colheita mecanizada.
Fig. 13. Sementes
brancas de gergelim da
cultivar BRS Seda
(material limpo).
2.7 Espaçamento
Nas regiões semi-áridas do Nordeste, a semeadura requer aumento das
distâncias entre fileiras de 75 a 100 cm e entre plantas de 10 a 15 cm. Este
espaçamento dependerá das condições climáticas das distintas microrregiões
existentes na referida região. Maior distância propicia a ramificação das plantas,
mesmo em se tratando de variedades não ramificadoras.
Os produtores de cinco UTDs das comunidades de São Francisco de Assis
do Piauí, que usaram a plantadeira mecânica manual, adotaram o espaçamento
entre fileiras de 90 cm. Enquanto na UTD da comunidade de Queimada Nova, o
espaçamento utilizado foi de 100 cm entre fileiras, porque o plantio da unidade
demonstrativa foi manual.
35
2.8 Desbaste
Esta operação foi realizada integralmente na UTD da comunidade Queimada
Nova, por Justina Lopes de Souza, que utilizou o plantio manual de sementes de
gergelim, o que a obrigou a colocar grande quantidade de sementes por cova ou
sulco.
Esta prática deverá ser feita com o solo úmido e em duas etapas. Beltrão
et al. (1994) recomendam que o primeiro desbaste seja realizado quando as
plantas estiverem com quatro folhas, deixando-se quatro ou cinco plantas por
unidade de espaçamento, e o segundo, quando as plantas atingirem 12 a 15 cm
de altura; ou seja, entre 18 a 30 dias após a emergência das plântulas. Se
ultrapassar os 30 dias, pode ocasionar significativa queda na produção.
Com o uso da semeadora manual nas UTDs das comunidades Lagoa do
Juá, Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita, a eficiência
de plantio, em boa parte das áreas plantadas, foi boa com um "stand" (ideal)
entre 10 e 15 plantas por metro linear.Nas áreas onde houve irregularidade na
distribuição das sementes, com um "stand" (elevado) entre 16 e 20 plantas,
realizou-se desbaste.
2.9 Produção de mel orgânico
A introdução de colméias de abelhas no plantio ecológico do gergelim
durante o período de floração constitui-se no maior objetivo dos pequenos
produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. Nos últimos 15
anos, foi implantado este programa de produção de mel orgânico no município
vizinho de Simplício Mendes-PI (Figura 14). Através da Associação dos Apicultores
da Micro Região de Simplício Mendes, este mel é exportado para a Europa e os
Estados Unidos. A sua produção de mel em 2007 superou os 120 mil litros.
A produção do mel natural é um investimento simples e lucrativo e a
floração do gergelim é muito atrativa às abelhas, apesar de ser considerada uma
espécie autógama. A polinização cruzada pode variar de 15% até 65% e Rao et
al. (1980) afirmam que, mediante a polinização cruzada, o produto obtém melhor
qualidade pela maturação uniforme e acelerada, além de maiores rendimentos
de gergelim.
Foto: Paulo José da Silva
36
Fig. 14. Unidade de
beneficiamento de mel
orgânico da
Fraternidade de São
Francisco de Assis
(FFA) de Simplício
Mendes-PI, sendo esta
associação de
apicultores conhecida
como Nutritivomel.
2.10 Adubação
No Nordeste, as possibilidades de fertilização mais importantes na produção
ecológica do gergelim são a utilização de adubo verde - através da incorporação
da vegetação nativa, 30 dias antes da semeadura do gergelim - e a aplicação de
adubos orgânicos. O fator limitante para a obtenção de altos rendimentos do
gergelim é a disponibilidade, principalmente, de nitrogênio e fósforo. Portanto,
as deficiências destes elementos no solo podem ser compensadas pelo uso dos
adubos orgânicos e pela aplicação de rocha fosfórica em pó ou farinha de ossos,
antes da preparação do terreno.
Foi constatada a presença de plantas de gergelim pouco vigorosas na
UTD da comunidade de Lagoa da Povoação, por se tratar de um solo inclinado e
propenso à erosão - em que não se tomaram medidas preventivas em outros
cultivos tradicionais - e cuja fertilidade é baixa. Para a recuperação do solo
pobre em matéria orgânica, recomenda-se a aplicação de 20 toneladas de esterco
de curral bem curtido por hectare.
Já na comunidade Veredas, a UTD de Raimundo Bento de Souza, que
recebeu uma aplicação de biofertilizantes aos 47 dias após a emergência das
plantas, apresentou plantas mais vigorosas e com um dos melhores rendimentos
em grãos.
37
Segundo Queiroz Filho (2005), o processo de produção de biofertilizantes
é bastante simples, basta que o produtor tenha esterco de curral disponível na
sua comunidade para fazer o preparo descrito a seguir. Numa lata de 20 litros,
deve-se colocar meia lata (10 litros) de esterco de curral curtido, cerca de 250
gramas de esterco de galinha e 250 gramas de açúcar (cristalizado ou refinado).
Completar com água, deixando-se um espaço de 8 a 10 centímetros antes da
borda acima, para evitar transbordar e fechar muito bem a boca da lata, vedando
com um saco plástico bem amarrado e deixar por cinco dias em repouso
(fermentação anaeróbica). Após esse período, a calda está pronta e deve ser
diluída, misturando-se 1 litro da calda para cada 10 litros de água.
2.11 Capinas
Devido ao tamanho reduzido da semente, a planta jovem do gergelim se
desenvolve lentamente nos primeiros 25 dias, sendo bastante sensível à
competição imposta pelas plantas daninhas (BELTRÃO et al., 1997). Para a cultivar
BRS Seda - de porte médio, de ciclo precoce (85 dias da emergência à colheita),
haste de coloração verde e de hábito de crescimento ramificado -, o período
crítico de competição com as plantas daninhas tem sido estimado nos primeiros
45 dias da emergência da cultura, nos experimentos conduzidos pela Embrapa
Algodão, sem causar o comprometimento do seu rendimento final.
Embora os pequenos produtores tenham realizado apenas uma limpa entre
os 10 a 20 dias após sua germinação do gergelim, na fase de colheita, constatouse, nas seis UTDs, das distintas comunidades de São Francisco de Assis do PiauíPI, a ausência de ervas daninhas. Provavelmente, o espaçamento adotado,
90 cm entre fileiras, tenha colaborado para reduzir emergência das ervas
daninhas. Os instrumentos utilizados pelos produtores no controle do mato na
lavoura orgânica foram: cultivador, entre fileiras, e enxada, entre plantas, ou
roço.
2.12 Doenças
Na comunidade de Barreiro Grande, do município de São Francisco de
Assis do Piauí, houve incidência da doença causada pelo fungo Cercospora sesami,
apesar de não ter causado perdas significativas da produção. O que propiciou a
38
infestação da lavoura pelo fungo foi o excesso de chuvas ocorridas na localidade
desta referida UTD.
O controle fitossanitário biológico mais recomendado por Queiroga et al.
(2007) para as principais doenças (cercosporiose, mancha-angular, podridãonegra-do-caule e a murcha-de-fusarium) que ocorrem na região semi-árida do
Nordeste são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais doenças da cultura
do gergelim.
2.13 Pragas
Com relação ao controle ecológico das pragas do gergelim, Augstburger
et al. (2000) estabelecem as seguintes medidas de prevenção:
1- Fomentar os predadores naturais (por exemplo, criar um ecossistema com
árvores, arbustos, plantio diversificado, impedir a queima dos roçados na região
etc);
39
2- Rotação de cultivos sob critério de exclusão de plantas hospedeiras;
3- Semeadura mista para a diversificação do sistema agroecológico, assim algumas
pragas se desorientam e os predadores são favorecidos.
4- Cultivo de flores amarelas (girassol) ao redor dos campos de gergelim; a cor
da flor atrai as pragas, que são controladas de forma preventiva.
5- No campo e ao seu redor, destruir os resíduos da colheita do gergelim e plantas
hospedeiras.
Com relação à infestação de insetos, houve ataque de lagarta, formigas e
cochonilhas nas lavouras de gergelim das comunidades de Barreiro Grande e
Veredas, o que obrigou a realização de replantio parcial das pequenas áreas
afetadas das UTDs. Nessa última comunidade, a UTD foi pulverizada com a mistura
de Calda Sulfocálcica (500 mL) + óleo bruto de algodão (300 mL) + detergente
neutro (50 mL) para combater a cochonilha, evitando maiores danos econômicos
à cultura.
A lavoura do gergelim em Queimada Nova foi mais afetada pela estiagem
no estádio inicial da lavoura e agravada pelo ataque de lagartas e formigas, o que
implicou em replantio total da UTD. Cuidados preventivos devem ser tomados no
controle dos formigueiros dentro e próximo à área de plantio do gergelim.
Apenas as UTDs das comunidades de Lagoa do Juá, Lagoa da Povoação e
Barra Bonita ficaram livres de ataque de pragas durante todo o ciclo da cultivar
BRS Seda (95 dias). Na Tabela 2, estão apresentadas medidas de controle
ecológico das principais pragas do gergelim, constatadas em lavouras da região
Nordeste.
2.14 Preparação de macerados
Ainda existe no meio rural aquela mentalidade de que "na cultura orgânica,
a planta é resistente às pragas", o que leva alguns produtores a apenas
replantarem o campo sem pulverizarem as áreas atacadas por pragas, com os
produtos naturais (bioinseticidas). Embora tenha sido ministrado um curso sobre
preparação de bioinseticidas, pela empresa Terra Ecológica de Petrolina-PE, para
40
Tabela 2. Medidas de controle ecológico adotadas para as principais pragas da cultura
do gergelim.
os produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, alguns
produtores não tomaram as devidas medidas de controle com a preparação e
pulverização de bioinseticidas. Conseqüentemente, houve pequena incidência de
pragas no estádio inicial da cultura (lagartas e cochonilhas), sendo sua proliferação
favorecida pela instabilidade das chuvas, que são freqüentes no Semi-Árido do
Nordeste.
41
Antes do plantio do gergelim, os próprios produtores familiares de cada
comunidade devem preparar os macerados para combater as seguintes pragas:
lagarta, mosca-branca, pulgão e cochonilha (Figura 15).
Segundo Beltrão e Vieira (2001), as lagartas causam danos em folhas
terminais, brotos, flores, cápsulas e sementes (Figura 16).
Foto: Lúcia Helena Avelino Araújo
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 15. Preparação dos
bioinseticidas para
combater pragas na
cultura do gergelim como
mosca-branca,
cochonilha, pulgão e
lagarta.
Fig. 16. Planta de gergelim atacada pela lagarta-enroladeira (Antigastra catalaunalis).
42
No início do inverno na região semi-árida, é freqüente o ataque de lagarta
na lavoura de gergelim e recomenda-se preparar o seguinte macerado para o
combate (QUEIROZ FILHO, 2005):
2.15 Macerado para lagarta
a) Pimenta malagueta (Capsicum frutescens)
200 g de pimenta malagueta;
1 litro de álcool;
Misturar a pimenta e o álcool no liquidificador e deixar repousar por uma
semana para cura;
Depois desse tempo deve coar em pano e acrescentar 100 mL de detergente
neutro;
Mais 200 mL de óleo de algodão;
Utilizar apenas quatro colheres de sopa para cada pulverizador costal de 20
litros;
Pulverizar a cada dois dias, nas primeiras horas da manhã, ou ao final da
tarde.
Fig. 17. Planta de gergelim atacada por pulgões (Aphis sp).
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
Foto: Sérgio Cobel da Silva
Segundo Beltrão e Vieira (2001), os pulgões vivem em colônias, são
sugadores, o ataque concentra-se em reboleiras, propiciam o desenvolvimento
de fumagina e são vetores de viroses (Figura 17).
43
Recomenda-se preparar o seguinte macerado para controle de pulgão e
lagarta (DANTAS, 2001):
2.16 Macerado para pulgão
a) Cebola (Allium cepa L.) e alho (Allium sativum)
Três cebolas médias
Cinco cabeças de alho
10 litros de água
Triturar as cebolas e alho, misturando aos 5 litros de água;
Coar em pano fino, para evitar entupimento do pulverizador, e adicionar à
mistura (solução) mais 5 litros de água;
Pulverizar ao final da tarde com pulverizador costal de 10 litros
2.17 Macerado para pulgão e lagarta
a) Folhas de urtiga (Fleurya aestuans L.)
01 kg de folhas de urtiga picadas
2 litros de água
Passar as folhas com a água no liquidificador ou pilão (esmagar e mexer bem)
e deixar em repouso por dois dias, para cura;
Coar, para evitar o entupimento do pulverizador;
Adicionar o conteúdo para cada pulverizador costal e completar o volume com
água para 20 litros.
b) Folhas de angico (Piptadenia colubrina)
01 kg de folhas de angico picadas;
10 litros de água
Passar as folhas com a água no liquidificador e deixar de molho por 8 dias para
cura;
Coar, para evitar o entupimento do pulverizador costal;
Usar 5 litros do extrato no pulverizador costal com capacidade de 20 litros;
44
Segundo Beltrão e Vieira (2001), o dano direto ao gergelim da moscabranca é provocado tanto pelo inseto adulto como pelas ninfas que se estabelecem
em colônias, na fase inferior das folhas, onde sugam a seiva da planta. Altas
infestações provocam a "mela" e atua como vetor de viroses do grupo geminivirus.
Sua infestação é mais freqüente em período de estiagem ou veranicos.
Recomenda-se preparar o seguinte macerado para mosca-branca adulta e
ninfa (BELTRÃO; VIEIRA, 2001; DANTAS, 2001; DIACONIA, 2006):
2.18 Macerado para mosca-branca adulta
a) Folha de fumo (Nicotiana tabacum)
Fazer repelente do extrato, cozinhando 2 kg de folhas de fumo em 3 litros
de água, durante 10 minutos;
Depois de frio, coar o material em pano e usar um copo da solução do
extrato em 10 litros de água para pulverização. Manter o produto sempre guardado
em garrafa escura e lacrado.
b) Urina de vaca
Coletar urina de vaca na hora da ordenha;
Colocá-la num recipiente lacrado;
Deixar no mínimo três dias de repouso para fermentar (liberar a amônia);
Diluir 200 mL de urina para 20 litros de água do pulverizador;
Se necessário aplicar a cada três dias;
Não deve ser aplicada no período de floração, pois induzirá a planta ao aborto.
2.19 Macerado para ninfas da mosca-branca
Aplicar detergente neutro, na dosagem de 180 a 200 mL para 20 litros
de água ou através de sabão neutro - dissolver 100 mL em 1 litro de água e
acrescentar água até completar 20 litros no pulverizador costal. Aplicar pela
manhã com os jatos dirigidos à parte inferior da folha para controle dos insetos
(Figura 18).
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
Foto: Lucia Helena Avelino Araújo
45
Fig. 18. Planta de gergelim atacada pela mosca-branca Bemisia tabaci/ B. Argentifolii,
nas fases adultas e de ninfas, sendo estas últimas mais vulneráveis aos bioinseticidas.
O sabão serve para repelir a mosca-branca. Picar 500 gramas de sabão
para ser desmanchado em 5 litros de água quente, sendo necessário mexer bem
para dissolver o sabão. Pulverizar esta mistura morna sobre as plantas (35 oC).
Segundo Guerra (1985), as cochonilhas são extremamente pequenas e o
seu controle na fase larval é mais eficiente (Figura 19). Antes de o inseto formar
a carapaça (escudo protetor), apresenta o corpo recoberto por secreção cérica
branca, assumindo aspecto semelhante à farinha de mandioca, sobre os galhos
infestados, nas formas estranhas filamentosas ou pulverulentas. Nesta
oportunidade, os bioinseticidas também oferecem boa eficiência.
O macerado recomendado para cochonilha foi utilizado pelo produtor
Raimundo Bento de Souza da comunidade de Veredas e controlou eficientemente
essa praga na pequena área atacada (reboleira) da UTD de gergelim; a calda
sulfocálcica usada na mistura foi adquirida já pronta no comércio de Petrolina-PE
(AGROBOM).
2.20 Macerado para cochonilha
500 mL de calda sulfocálcica;
300 mL de óleo bruto de algodão;
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
46
Fig. 19. Ataque de cochonilhas em reboleira, no cultivo de gergelim: A) - murchamento
de planta como sintomas do ataque; B) - detalhe da cochonilha e pulgões na parte
apical da planta.
50 mL de detergente neutro;
Diluir a mistura no pulverizador costal com 19 litros de água e pulverizar a
cada 15 dias
2.21 Planta de neem
O neem é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto
ativo, o Azadirachtina indica, controla os insetos impedindo sua metamorfose
em fase de larva, além de repeli-los. Os insetos que se mostraram mais sensíveis
ao neem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultados
de pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-docartucho do milho (Figura 20), curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiro e
cochonilhas. Além de inseticida, a planta de neem tem efeito como repelente,
inibidora de crescimento da praga, fungicida e nematicida.
Para reduzir os custos de produção do gergelim, a FFA de São Francisco
de Assis do Piauí distribuiu mudas de neem para serem plantadas pelos produtores
nas seis comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova, Lagoa da Povoação,
Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Para se tornar auto-suficiente na
produção de bioinseticidas à base de neem, é necessário manterem-se, pelo menos,
50 plantas desta espécie em cada comunidade (Figura 21).
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Lúcia Helena Avelino Araújo
47
Fig. 20. Planta de gergelim
atacada por lagarta militar do
gênero Spodoptera ssp.
Fig. 21. Pequeno
bosque de neem com o
mínimo de 50 plantas
para atender cada
comunidade de
produtores familiares e
que pode também
funcionar com barreira
quebra-vento, ou área
de arborização da
propriedade.
O rendimento dos frutos do neem varia entre 25 e 50 kg por árvore, de
acordo com a temperatura, umidade, tipo de solo e genótipo da planta.
Normalmente, 50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as
quais produzem em média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de
sementes secas contém aproximadamente 3.000 unidades (SOARES et al., 2003).
Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de neem devem ser
48
colocadas ao sol, em camadas finas, sobre terreiros cimentados. Deve-se evitar
o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Esta operação
requer um único dia de sol, já que posteriormente, as sementes devem ser
transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cerca de oito dias.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Os extratos de neem podem ser preparados com a simples trituração das
sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24
horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo
procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura 22), embora
a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração (SOARES et al.,
2003).
Fig. 22. Produtor
colocando as
folhagens de neem
(cortadas e
maceradas no pilão)
dentro do tambor
para preparo de
solução.
Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem,
consiste no recolhimento e acondicionamento das sementes do neem em sacos
de aniagem, para permitir boa aeração e evitar, o aparecimento de fungos
patogênicos que possam causar deterioração das mesmas. Satisfeitas essas
condições básicas, as sementes de neem podem ser armazenadas por mais de
um ano.
As recomendações dos preparos dos macerados de neem para sementes
despolpadas e folhagem com talos tenros, estão indicadas respectivamente nos
trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003).
49
2.22 Macerado para lagartas, pulgões, cigarrinha-verde e moscabranca
a) Sementes despolpadas
Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados;
Após isso as sementes são secas, raladas e imersas em água,na proporção
de 30 a 40 g de sementes por litro de água.
Deixar em repouso por dois dias para cura.
Coar, acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume do
pulverizador com água.
Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes.
Da prensagem da semente pode resultar o óleo e o extrato aquoso. Este
extrato pode ser transformado em pó ou em torta prensada para uso como
bioinseticida.
b) Folhagem e talos tenros
1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40
a 50 g de folhas por litro de água)
Passar no liquidificado com 2 litros de água (ou macerado no pilão)
Deixar os 20 litros da mistura em repouso por 2 dias para cura;
Coar e acrescentar 10 mL de detergente neutro;
Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água
Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam
para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de
30 a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas.
Outra estratégia de uso do neem para o controle de formigas (Figura 23)
seria alimentar a cada três dias os formigueiros com folhagem de neem e, fazendo
esta substituição regularmente, as formigas deixam de visitar o campo de gergelim.
2.23 Colheita: época do corte manual das plantas
A colheita manual mais utilizada no nosso meio consiste no corte da base
das plantas com a serra de capim ou facão afiado (Figura 24), devendo ser
realizado o corte da haste das plantas na altura da inserção dos primeiros frutos
Fig. 24. Corte manual
das plantas de
gergelim (frutos
deiscentes) no ponto
de colheita.
Fig. 23. Ataque de
formigas saúvas (Atta
spp) em cultivo de
gergelim que pode ser
controlado com folhas
de neem, renovando
as folhagens sobre o
formigueiro a cada três
dias.
Foto: Marenilson Batista da Silva
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
50
51
(15 a 30 cm), de modo a evitar que os feixes de gergelim fiquem grandes e para
não causar dificuldades para o agricultor durante sua batedura sobre lona.
Uma maneira de se determinar a época mais oportuna do corte das plantas
de gergelim é através da observação do amarelecimento dos frutos, hastes e
folhas, durante a maturação (BELTRÃO et al., 1994). Geralmente, a época do
corte das plantas de gergelim é determinada pelo produtor pela maturação dos
frutos da base do caule, mesmo que os frutos dos ápices do caule estejam imaturos.
Apenas o produtor está tentando prevenir a caída das sementes (frutos
deiscentes). Quando o produtor antecipa a colheita aumenta a produção de
sementes imaturas com menor teor de óleo, de menor influência no rendimento
da cultura (perdas invisíveis).
Segundo Fonseca (1994), a operação de colheita será realizada assim que
as hastes, folhas e cápsulas atingirem o amarelecimento completo, e antes que
as cápsulas estejam totalmente abertas. As cápsulas da base, nas cultivares
deiscentes, abrem-se mais cedo, o que indica o momento exato para se iniciar a
colheita.
Este ponto exato do corte das plantas de gergelim recomendado por Fonseca
(1994) está de acordo com os trabalhos experimentais conduzidos por Mazzani
(1983), de que as plantas de gergelim colhidas mais tarde, quando os frutos da
base das hastes começam a abrir-se, produzem sementes em maior número e de
maior tamanho. Este é o momento exato da colheita, pois daí em diante a
deiscência dos frutos progride rapidamente, chegando àqueles localizados no
topo da planta, mesmo que sejam constatados no campo perdas visíveis de
sementes, mas consideradas essas perdas insignificantes. Mesmo assim, Mazzani
(1999) afirma que quando se retarda por três dias o corte das plantas pode
representar incremento de 30% no rendimento de sementes, ou seja, desde que
o momento exato do corte coincida com o início da abertura dos frutos baixeiros
das plantas deiscentes de gergelim.
O plantio do campo de gergelim da cultivar BRS Seda (frutos deiscentes)
deve ter articulação com a capacidade diária de corte das plantas do produtor.
Isto significa que um determinado produtor de São Francisco de Assis do Piauí
não poderia plantar com a máquina manual de duas linhas (Figura 8) o seu campo
de 2,5 ha de gergelim em um só dia. Mesmo que a capacidade de plantio do
referido equipamento seja de 4 ha dia-1, o ideal seria o produtor dividir sua área
total de 2,5 ha em 5 parcelas ou lotes com piquetes (Figura 25), sendo que cada
Foto: Vicente de Paula Queiroga
52
Fig. 25. Campo de gergelim
de frutos deiscentes dividido
em cinco lotes e cada lote
semeado em dias diferentes
da semana, visando obter
uma sincronização com a
capacidade de colheita do
produtor.
parcela de 0,5 ha seria plantada em dias diferentes da semana, ou seja, iniciaria
o plantio da primeira parcela (0,5 ha) numa segunda-feira e terminaria de plantar
a última parcela (0,5 ha) na sexta-feira. Outra opção seria o trabalho em mutirão
entre os produtores.
Por ocasião da colheita, o produtor teria que efetuar em cada parcela de
0,5 ha as seguintes etapas: cortar as plantas e agrupá-las em feixes, amarrá-los
com barbantes e, finalmente, fazer a disposição dos mesmos nas cercas de
arame (Figura 26) para secagem, sendo todas essas tarefas executadas dentro
de uma jornada de 8 horas de trabalho, o que exigiria a mão-de-obra de no
mínimo três pessoas para cada parcela de 0,5 ha. No dia seguinte, repetiria as
mesmas atividades de colheita do gergelim na segunda parcela de 0,5 ha e,
assim por diante, para a terceira, quarta e quinta parcela. Este rendimento da
colheita do gergelim de 0,2 a 0,3 ha/hora/homem foi obtido pela Embrapa Algodão
no Estado da Paraíba (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Para o inexperiente produtor do Nordeste, sua reação inicial é querer plantar
de imediato uma grande área de gergelim deiscente sem saber o que pode
acontecer durante sua colheita. Esse fato ocorreu no ano de 2007 no município
de Sousa-PB, onde o produtor plantou 10 ha de gergelim deiscente, mas não
marcou com piquetes o campo em várias parcelas, conforme o plantio manual
realizado diariamente. Esta falta de planejamento na instalação do campo resultou
numa drástica perda de sementes durante a colheita, em função da abertura
natural dos frutos na maturação (ainda na planta), os quais deixam cair às sementes
no chão pela simples ação do vento. Além disso, o produtor terá de saber a
duração do ciclo da cultivar (85 dias para BRS Seda) e observar o momento do
início da abertura dos frutos na base da haste, pois a colheita do gergelim requer
tais cuidados.
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
53
Fig. 26. Disposição dos
feixes de gergelim para
secagem em cercas de
arame.
2.24 Secagem dos feixes
O produtor deve sincronizar o plantio (época) com a colheita do gergelim
na ausência de chuvas, para evitar o escurecimento das sementes no fruto,
provocado pelo contato com a umidade durante a secagem, o que desvaloriza o
produto pelo mercado por perda de qualidade.
Além de cada feixe amarrado apresentar cerca de 30 cm de diâmetro
(Figura 27), o comprimento deles deve ser o mais curto possível (cortar a planta
no início da inserção dos frutos) e devem ser amarrados com duas ou três tiras
de caroá ou barbante, deixando-se os ápices direcionados para cima, dependendo
da intensidade de vento na região durante o período de secagem. Não se deve
usar apenas uma tira de amarração por feixe, pois durante o seu deslocamento
pelo campo pode ocorrer perda de sementes, fato que ocorreu com o gergelim
da comunidade Lagoa da Povoação, cujo produtor, Antônio Vital de Souza,
amarrou a base do feixe com apenas uma fita de caroá.
Foto: Marenilson Batista da Silva
54
Fig. 27. Feixe de gergelim com cerca
de 30 cm de diâmetro sendo amarrado
pelo produtor com tiras de caroá.
Os produtores das UTDs nas comunidades Veredas, Barreiro Grande e
Barra Bonita prenderam os feixes com duas fitas de caroá ou de polietileno,
ficando uma fita na base do feixe e a outra, na sua parte média. Na comunidade
Lagoa do Juá, os feixes foram amarrados com três tiras de caroá; a terceira fita
prendia o ápice das plantas enfeixadas.
Os feixes deverão ser agrupados manualmente em medas ou arrumados
individualmente junto às cercas de arame do campo para a secagem natural
(Figura 28). Uma vez escorados nas cercas, os produtores das seis comunidades
de São Francisco de Assis do Piauí mantiveram todos os feixes amarrados,
passando uma corda ou arame de forma trançada, para que eles não inclinassem
ou caíssem ao solo pela ação do vento, o qual é freqüente na região nos meses
de abril a julho de cada ano.
2.25 Batedura dos feixes e peneração dos grãos
Devido ao vento forte na região, os produtores familiares das comunidades
envolvidas na programação da FFA fizeram três bateduras para soltar todos os
Foto: Vicente de Paula Queiroga
55
Fig. 28. Feixes de
gergelim apoiados em
arame farpado e
escorados em lados
opostos na UTD da
comunidade Veredas.
grãos dos feixes, pois os frutos na planta apresentam idades diferentes e também
diferentes níveis de maturação. De modo geral, os batimentos dos feixes
ocorreram aos 8, 15 e 22 dias após o corte das plantas de gergelim nas diferentes
comunidades de São Francisco de Assis do Piauí. Caso se necessite complementar
a secagem dos grãos após a batedura, é recomendável espalhar uma camada
fina de grãos sobre a lona plástica, porque os grãos deverão apresentar umidade
entre 4 e 6%.
O produtor não pode esperar que todos os frutos dos feixes estejam
completamente secos para efetuar uma só batedura, porque tal economia de
mão-de-obra adotada pelo mesmo poderá comprometer significativamente sua
produção de gergelim da cultivar BRS Seda. Ou seja, essa exposição demorada
dos feixes por mais de 20 dias no campo contribui bastante pela caída ao chão
dos grãos de cápsulas secas pela ação do vento, o qual é bastante freqüente na
região semi-árida do Nordeste após o período das chuvas.
Para satisfazer às exigências de qualidade do mercado e conseguir melhor
preço pelo produto, os grãos de gergelim devem apresentar um padrão de pureza
de 99,96%, livre de agentes externos como areia, restos de folhas e fibras,
insetos etc (QUEIROGA et al., 2007). Para atingir esse rigoroso padrão de
qualidade, durante o processo de batedura do gergelim, sugere-se que as
extremidades da lona encerada de polietileno (3 x 3 m) sejam amarradas em
vários piquetes de 1 metro de altura (a lona fica parecida com uma canoa), pelos
produtores das comunidades de São Francisco de Assis do Piauí (Figura 29).
Foto: Vicente de Paula Queiroga
56
Fig. 29. Batedura
dos feixes de
gergelim sobre
uma lona plástica.
Foto: Dalfran Gonçalves Vale
No transporte dos feixes para a batedura, os produtores reunidos nas
UTDs conduziam os feixes na posição ereta (Figura 30), pois qualquer inclinação
dos mesmos representa perdas de grãos. Apenas os feixes secos eram virados
totalmente pelos carregadores e apenas quando já estavam sobre a lona estendida
em forma de canoa. Na UTD em que se deixaram os feixes de plantas mais
curtos, as atividades de virada e de batedura sobre a lona (Figura 31) foram de
melhor manuseio da batedura que as dos feixes longos. Recomenda-se cortar a
planta da cultivar BRS Seda com facão no início da inserção dos frutos, ou seja,
na altura de 30 cm das hastes das plantas (Figura 32).
Fig. 30. Transporte dos
feixes (feixes grandes)
de gergelim em posição
ereta para efetuar sua
batedura.
57
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Dalfran Gonçalves Vale
Fig. 31. Os produtores
executam melhor a
batedura do gergelim
com feixes curtos.
Fig. 32. Altura de 30 cm das hastes cortadas das plantas (próximo à inserção dos
primeiros frutos), visando obter feixes de gergelim de ramos mais curtos.
Para não ter que transportar os feixes em posição ereta e carregá-los sem
deixar cair as sementes por longo percurso do campo até a lona fixada no chão,
outra opção, recomendada pela Embrapa Algodão, seria colocar a lona amarrada
em forma de canoa numa carroça baixa (Figura 33), que empurrada pelos
produtores, deslocar-se-ia no campo em busca dos feixes para a operação de
batedura. Esta opção seria mais viável para as três bateduras dos feixes de
gergelim, pela redução das perdas das sementes caídas ao chão, pois os feixes
são transportados a curta distância.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
58
Fig. 33. A adaptação de uma
lona plástica (3m x 3m) no
interior das grades dos
diferentes tipos de carroças
ou reboques e seu
movimento pelo campo
facilita a batedura dos feixes
de gergelim.
Nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, a maioria dos
produtores já utiliza a carroça animal para atender às atividades rurais.
Conseqüentemente, pode-se esperar que o transporte manual dos feixes de
gergelim para efetuar sua batedura na lona, adaptando-a sobre a carroça, seja
adotado com bastante eficiência, o que resultará em perda insignificante de
sementes dos frutos deiscentes nos feixes secos durante o percurso curto de
transporte. A ação dos ventos, os quais são freqüentes nos meses de colheita
(maio a julho) na região semi-árida do Nordeste, pode também influenciar a queda
das sementes dos feixes secos de gergelim, resultando em queda de produção.
Uma vez executada a operação de batedura nos feixes, com auxílio da
própria mão ou de um pequeno porrete, os produtores das comunidades de Lagoa
do Juá e Lagoa da Povoação realizaram uma limpeza dos grãos depositados na
lona, ao transpô-los para um carro de mão através de uma peneira circular (Figura
34). Para ajudá-los nessa tarefa de limpeza dos grãos foi utilizada uma bacia de
plástico. Nas comunidades de Veredas e Barreiro Grande, os produtores limparam
os grãos diretamente da lona, com uma peneira e transferiam o material limpo
para outra metade vazia da lona.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
59
Fig. 34. Peneiração dos grãos de
gergelim após o processo da
batedura dos feixes.
2.26 Ventilação de grãos e embalagem
Logo após a batedura e antes do ensacamento, recomenda-se ventilar o
material resultante para eliminar todo tipo de sujeiras misturadas aos grãos (cascas,
insetos, palhas, sementes chochas etc). Para os produtores de São Francisco de
Assis do Piauí, a ventilação dos grãos é realizada com arupembas de palhas
(peneira rústica) nas horas de ventos, porque nas comunidades praticamente
não se dispõe de energia elétrica, inviabilizando a ventilação da produção com
ventilador. Outra forma fácil de ventilação do gergelim é apresentada na Figura
35, mas são necessárias uma lona e uma quadra cimentada à disposição da
comunidade.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
60
Fig. 35. Ventilação do gergelim realizada pelos produtores, usando uma lona sobre
uma quadra cimentada nas horas de vento ou com ajuda do ventilador.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Outra técnica simples de ventilação natural dos grãos de gergelim adotada
pelos produtores do Nordeste é a utilização de uma peneira feita de madeira,
contendo uma chapa de latão perfurada por prego, a qual fica no plano inferior
da coluna de descarga do grão efetuada por um operário de campo sobre um
tamborete, visando reter as sujeiras pesadas e grandes; enquanto a coluna de
descarga dos grãos é afetada pela ação do vento para separar as sujeiras leves
e pequenas (Figura 36).
Fig. 36. Ventilação natural dos grãos de gergelim usando uma peneira de madeira com
chapa de latão perfurada por prego.
61
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Cabe ao produtor de grãos a obrigação de acondicionar o gergelim em
embalagens apropriadas. Normalmente, são utilizados sacos de papel multifoliadovalvulado, com capacidade para 25 kg de grãos (Figura 37), devidamente rotulados
ou pelo menos com o nome gergelim. Esta embalagem cumpre a função não só
de facilitar o manuseio e o transporte, mas, também, de permitir personalizar a
qualidade do produto pela rotulação em cada saco do seguinte nome: "Gergelim
de São Francisco de Assis do Piauí".
Fig. 37. Armazenamento
de um lote de sementes de
gergelim da Embrapa SNT,
embaladas em sacos de
papel multifoliado
(valvulado).
62
Devem-se procurar formar, por produtor, lotes de grãos por comunidade
cujo tamanho não deve ultrapassar uma tonelada. Periodicamente, é necessário
inspecionar os lotes a fim de se verificarem anormalidades como umidade,
emboloramento e temperatura elevada etc.
Atualmente, a produção de gergelim de São Francisco de Assis do Piauí
tem optado por acondicionar os grãos em sacos de ráfia (sacos trançados de
polietileno) por ser mais barato, apesar do seu baixo aspecto visual para o mercado.
O maior impacto comercial seria com a embalagem dos grãos em sacos de papel
multifoliado e valvulado (dispensa a costura dos sacos) produzido pela empresa
Klabin de São Paulo, mas ela só aceita pedidos de, no mínimo, 20 mil sacos.
Esta situação estabelecida pela Klabin favorece os produtores do agronegócio,
porém afeta demasiadamente as comunidades organizadas de pequenos e médios
produtores.
2.27 Armazenamento dos grãos
Segundo Weiss (1983), os grãos de gergelim perdem rapidamente a
qualidade quando manipulados e armazenados sem os devidos cuidados. Colheita
fora de época, danos mecânicos na batedura, secagem inadequada (alta umidade)
e temperatura de armazenamento parecem ser os principais fatores que afetam
as qualidades alimentícias dos grãos armazenados, segundo Culbertson et al.
(1961), Franco (1970) e Justice e Bass (1978). É importante mencionar que a
qualidade do grão de gergelim é o fator mais importante que afeta toda a cadeia
de produção.
Em regiões com alta umidade ambiental, o gergelim volta a absorver
umidade e corre o risco de embolorar (mofar). Sob estas condições, dever-se-ia
armazenar o gergelim num curto espaço de tempo ou, em caso contrário, depositálo em recipiente hermeticamente fechado. Bass et al. (1963), utilizando recipientes
herméticos, verificaram que sementes de gergelim se conservam por dois anos
quando mantidas em temperatura de 10 ºC e umidade de 7%, enquanto a 21 ºC,
a conservação só foi mantida quando o teor de umidade das sementes foi de 4%.
O local escolhido do armazenamento deverá ser apropriado, isto é, seguro,
seco, com possibilidades de aeração e condições para fácil combate a roedores,
insetos e microrganismos; devem-se manter espaços e corredores adequados
para a movimentação e a amostragem, bem como divisões que permitam a pronta
identificação entre os diferentes lotes de grãos numa mesma fileira.
63
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Os grãos de gergelim devem ser armazenados em sacos novos de papel
multifoliados, aniagem ou polietileno trançado no depósito da FFA, localizado na
cidade de São Francisco de Assis do Piauí (Figura 38). Os sacos costurados
devem ser empilhados sobre estrados de madeira, mantendo uma distância de 1
metro das paredes. Periodicamente, devem-se inspecionar os lotes, a fim de
verificar a ocorrência de anormalidades como umidade, insetos etc.
Fig. 38. Depósito da Fraternidade de São Francisco de Assis, em São Francisco de
Assis do Piauí, para armazenamento dos grãos de gergelim produzidos pelos produtores
familiares das diferentes comunidades.
O tamanho de cada lote recomendado, como já referido, é de até uma
tonelada para os sacos empilhados, podendo-se separar cada lote por comunidade.
Por exemplo, considerando-se que toda a produção obtida pela comunidade de
Barra Bonita seja de 4.500 kg de grãos de gergelim, o seu armazenamento deveria
ser distribuído em cinco lotes de grãos; quatro lotes com uma tonelada e o quinto
lote, com apenas 500 kg.
Todas as instalações devem ser limpas antes de serem usadas, para evitar
misturas acidentais e não comprometer a qualidade do material estocado. Uma
vez cumprida a limpeza do depósito, o agente comunitário da FFA já pode
considerar o local seguro para receber a produção do gergelim proveniente das
comunidades rurais. Um membro da equipe deverá identificar o número do lote
com um lápis piloto nos sacos de gergelim de cada produtor; esse mesmo número
64
deverá ser anotado numa planilha com o respectivo nome do produtor.
Exemplificando, se o produtor Justo Teixeira Rodrigues, da comunidade Barreiro
Grande, entregasse sua produção de gergelim no depósito da FFA em três
etapas, então o seu número de identificação dos sacos seria o mesmo da primeira
entrada. Ou seja, se na primeira entrada ele entregou 200 kg de grãos de gergelim
em 10 sacos de 20 kg e cada saco recebeu uma determinada numeração do lote
(exemplo: L-5), nas demais entregas da sua produção de gergelim, os sacos
deverão ser identificados com a mesma numeração; basta o agente comunitário
da FFA verificar, na sua planilha, o número do lote que corresponde ao referido
produtor.
Este controle dos lotes dos produtores é importante para a comercialização
(antes de fechar o negócio, o comprador de gergelim exige amostra do produto),
pois numa produção de grãos de gergelim que envolve várias comunidades, é
possível aparecerem produtos de qualidade inferior, em razão de alguns produtores
não terem conduzido bem os processos de beneficiamento dos grãos de gergelim
(QUEIROGA et al., 2007). No caso do programa não adotar um controle rígido
de identificação das sacarias de cada produtor, com certeza irá haver uma
desvalorização no preço geral do produto, em função de mistura aleatória dos
sacos de grãos sujos com os limpos, e isto penaliza mais aqueles produtores que
produziram grãos com alto padrão de qualidade.
Dependendo do tamanho do lote de gergelim, devem-se retirar várias
amostras simples dos grãos ensacados de cada lote, num total de 6 a 12 por
lote. Em seguida, essas amostras simples devem ser misturadas para formarem
uma amostra composta. Essa amostra composta - identificada (número do lote,
variedade, safra, quantidade de sacos do lote), embalada em saco de papel ou
plástico e na quantidade mínima exigida, de 70 g - deve ser remetida para uma
unidade de Laboratório de Sementes, considerada oficial pelo Ministério da
Agricultura e Reforma Agrária - MARA, onde as sementes ou grãos deverão ser
submetidos aos seguintes testes de rotina: análise de pureza, umidade e
germinação. Num prazo de 10 dias, o laboratório emite o Boletim de Análise de
Sementes.
• Pureza: O teste é feito em uma amostra de 7 g de sementes, que são espalhadas
sobre uma mesa específica do Laboratório de Sementes, na qual são realizadas
as seguintes separações: sementes puras, sementes de outros cultivos,
sementes silvestres e material inerte.
65
• Umidade (U): É determinada pelo método oficial da estufa a 105 °C± 3 °C,
durante 24 horas, utilizando-se quatro amostras de 5 g por repetição. Esta
amostra é pesada numa balança analítica de 0,0001 de precisão. U (%) = (P¹P²/P¹) x 100
• Germinação: É realizada em quatro repetições de 100 sementes colocadas em
caixa acrílica, denominada gerbox, contendo substrato de papel de filtro
umedecido com água destilada. O teste é conduzido no germinador nas
temperaturas alteradas de 20 ºC a 30 ºC ou na temperatura constante de
25 ºC. Duas contagens são recomendadas: uma aos três dias e outra aos seis
dias.
As amostras de gergelim de cada UTD de São Francisco de Assis do PiauíPI foram enviadas ao Laboratório de Sementes da Embrapa Algodão de Campina
Grande-PB e os resultados dos testes de pureza variaram entre 93,75% e
94,55%, considerados baixos (Figura 39). Se fossem produzidas para atender
ao mercado de sementes de gergelim, essas amostras deveriam apresentar 98%
Fig. 39. Cópia do Boletim de Análise de Sementes emitida pelo Laboratório de Sementes
da Embrapa Algodão de Campina Grande, PB.
66
de pureza mínima (maior valor cultural); conseqüentemente, os grãos produzidos
pelas comunidades familiares desse município teriam de ser submetidos a outra
limpeza complementar para elevar sua qualidade física. Provavelmente, esses
valores elevados de impurezas contidas nos grãos são reflexo do precário processo
de ventilação adotado pelos produtores, no que se refere à ausência de lona com
maior dimensão (6,00 x 6,00 m), para facilitar a limpeza do gergelim sob vento
forte, que ocorre nessa região.
Foto: Ray Langham
Após reunir toda a produção de gergelim no depósito de São Francisco de
Assis do Piauí, os agentes comunitários da FFA deveriam submeter os grãos a
uma ventilação complementar num equipamento simples com alimentação manual,
o qual possui um bica de descarga na sua parte inferior por onde saem as sementes
limpas (Figura 40). Esse procedimento permitiria aumentar a pureza dos grãos,
pois este equipamento tem um desempenho de funcionamento semelhante ao da
máquina de ar e peneira utilizada nas Unidades de Beneficiamento de Sementes
(UBS).
Fig. 40. Máquina de ventilação
utilizada na limpeza dos grãos ou
sementes de gergelim.
67
2.28 Rotação de culturas
Em qualquer atividade agrícola, a prática de rotação de culturas é de suma
importância, pois contribui para a manutenção da bio estrutura do solo e para a
sanidade vegetal, além de ser prática importante para a conservação do solo.
Silva (1983) indica as seguintes rotações para a região do Nordeste: feijãogergelim, milho-gergelim e milho ou mamona-amendoim-gergelim.
É importante considerar que, na maior parte das UTDs instaladas nas
comunidades de São Francisco de Assis do Piauí, a incidência de pragas e doenças
nas pequenas áreas de gergelim tem sido insignificante, pois os fatores ambientais
favoráveis, baixa umidade e temperatura amena no período chuvoso inibe a
infestação na região, principalmente as doenças. Preventivamente, é necessário
que o produtor esteja sempre atento, fazendo anualmente a rotação da área do
gergelim com outras culturas, cujo manejo irá garantir ao produtor de gergelim
menor custo de produção e ausência de pragas na lavoura.
2.29 Banco de sementes
Para criar um banco de sementes na comunidade de São Francisco de
Assis do Piauí, é necessário destinar algumas UTDs para a produção de sementes
de gergelim, e é fundamental que essas áreas selecionadas estejam isoladas
(distância de 1000 m) de outras lavouras de grãos ou de campos plantados com
outras cultivares de gergelim.
A limpeza dos campos (roguing) de gergelim deverá ser efetuada pelos
produtores (Figura 41) das UTDS contempladas, visando eliminar as plantas
atípicas e garantir a identidade genética do material. Com os produtores gerando
sua própria produção de sementes, dará as seis comunidades envolvidas de São
Francisco de Assis do Piauí uma auto-suficiência no abastecimento de sementes
e também se evitará a introdução de doenças nesse município, o que poderia
acontecer se a FFA fosse adquirir anualmente sementes de gergelim produzidas
de outras regiões.
A contaminação das plantas pode ser de ordem genética e mecânica.
Mesmo quando se utilizam sementes com elevada pureza genética para semear,
ainda é possível detectar no campo uma pequena segregação na população das
Foto: Vicente de Paula Queiroga
68
Fig. 41. Operação de roguing no campo de gergelim para eliminação de plantas atípicas.
plantas, as quais deverão ser eliminadas pela operação de "roguing", procedimento
usado nos programas de produção de sementes em geral (BELTRÃO; VIEIRA,
2001).
No caso do gergelim, é necessário realizar a operação de eliminação das
plantas atípicas nos seguintes estádios fenológicos da cultura (QUEIROGA;
BELTRÃO, 2001):
1. Pré-floração - porte distinto, folhagem diferente, presença de pêlos nas folhas,
doentes, coloração distinta da haste;
2. Floração - tamanho e intensidade de coloração das flores, florescimento precoce
e não uniforme,
3. Pré-Colheita - quanto ao tipo, ao formato e à coloração dos frutos, inclusive
as plantas de baixo rendimento;
4. Colheita - remoção das plantas tardias e com deiscência precoce.
Na UTD de Barreiro Grande, apareceu na lavoura de gergelim plantas
com pintas com coloração cinza-claro nas folhas e nas talos, cujo sintoma se
assemelha muito à doença Cercospora, a qual é transmitida pelas sementes.
Provavelmente, a incidência da doença na lavoura foi devida à precipitação pluvial
elevada e à alta umidade relativa ocorridas na referida comunidade. Portanto,
não seria prudente a FFA destinar tal material para o Banco de Sementes para
ser semeado na próxima safra, ou seja, o seu melhor destino será comercializar
os grãos.
69
Nas comunidades de Lagoa do Juá, Vereda Comprida e Lagoa da Povoação
do município de São Francisco de Assis do Piauí foram construídos, em trabalhos
de mutirão, pequenos armazéns para o acondicionamento de sementes dos
produtores familiares, denominados Casa de Sementes (Figura 42).
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Na casa de sementes, as sementes de gergelim, com a umidade baixa
entre 4 e 5 %, devem ser acondicionadas em embalagens herméticas (lata,
tambor, garrafa pet, silo, depósitos de vidro etc) e guardadas em prateleiras ou
Fig. 42. Casa de sementes na comunidade de Vereda Comprida no município de São
Francisco de Assis do Piauí.
sobre estrados de madeira (Figura 43). A incidência de fungos em armazéns é
mais provável em grãos estocados com elevada umidade, em conseqüência da
falta de supervisão do produto armazenado ou por falha no processo de secagem
(AUGSTBURGER et al., 2000).
O controle de pragas de armazenamento que dispensa o uso de veneno
constitui-se de práticas utilizadas pelos produtores rurais (DANTAS, 2001), tais
como:
Cinza de lenha - mistura a cinza de lenha com as sementes, na proporção
de 5% do volume total.
Foto:Melchior N. Batista da Silva
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
Foto: Tarcísio Marcos de Souza
70
Fig. 43. Diferentes embalagens utilizadas
pelos Bancos de Sementes nas
comunidades rurais do Nordeste.
Folhas de eucalipto - colocar uma camada fina de folhas frescas e de
cheiro forte a cada palmo de sementes. Depois de secas, as folhas devem ser
substituídas, porque perdem sua função de repelente.
3. Custos de Produção das UTDs
Para avaliar os custos de produção do gergelim orgânico das seis UTDs
instaladas nas comunidades de São Francisco de Assis do Piauí - Lagoa do Juá
(Tabela 3), Queimada Nova (Tabela 4), Lagoa da Povoação (Tabela 5), Veredas
(Tabela 6), Barreiro Grande (Tabela 7) e Barra Bonita (Tabela 8), desde o preparo
do solo até a colheita completa, foram anotadas todas as despesas realizadas
em cada UTD de ½ ha de área plantada, por comunidade, que foram
transformadas para 1 ha. Tiraram-se fotos de cada UTD, com os respectivos
responsáveis (Figuras 44 a 49). O plantio dos campos de gergelim foi realizado
nos dias 28 e 29 de janeiro de 2008. Os valores das precipitações pluviométricas
mensais ocorridas em São Francisco de Assis do Piauí-PI estão representadas na
Figura 50, totalizando 647 mm de chuvas. A época de colheita do gergelim, no
71
mês de maio, foi favorecida pela ausência de chuvas na região, o que repercutiu
satisfatoriamente na elevação da qualidade do produto colhido. A seguir, são
apresentados os custos de produção do gergelim por comunidade:
a) UTD da comunidade Lagoa do Juá
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Tabela 3. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Lagoa do Juá
no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008.
Fig. 44. Produtor Francisco
Mariano Teixeira responsável
pela UTD de gergelim da
comunidade Lagoa do Juá no
município de São Francisco de
Assis do Piauí.
72
b) UTD da comunidade Queimada Nova
Tabela 4. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Queimada
Nova no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Obs. A principal causa da baixa produtividade da UTD de gergelim da
comunidade Queimada Nova foi o plantio tardio (20 de fevereiro de 2008).
Fig. 45. Produtora Justina Lopez de Souza responsável pela UTD de gergelim da
comunidade Queimada Nova no município de São Francisco de Assis do Piauí.
73
c) UTD da comunidade Lagoa da Povoação
Tabela 5. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Lagoa da
Povoação no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Obs. O principal problema da baixa produtividade da UTD de gergelim da
comunidade Lagoa da Povoação foi a baixa fertilidade do solo, terreno em declive
e sujeito à erosão.
Fig. 46. Produtor Antônio Vidal de Souza responsável pela UTD de gergelim da
comunidade Lagoa da Povoação no município de São Francisco de Assis do Piauí.
74
d) UTD da comunidade Veredas
Foto:Dalfran Gonçalves Vale
Tabela 6. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Veredas no
município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008.
Fig. 47. Produtor Raimundo Bento de Souza responsável pela UTD de gergelim da
comunidade Veredas no município de São Francisco de Assis do Piauí.
75
e) UTD da comunidade Barreiro Grande
Tabela 7. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Barreiro
Grande no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Obs. A UTD de gergelim da comunidade Barreiro Grande foi a mais produtiva e a
que apresentou menor custo de produção (R$ 0,71/ha).
Fig. 48. Produtor Justo Teixeira Rodrigues responsável pela UTD de gergelim da
comunidade Barreiro Grande no município de São Francisco de Assis do Piauí.
76
f) UTD da comunidade Barra Bonita
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Tabela 8. Custo de produção da UTD (1 ha) de gergelim da comunidade Barra Bonita
no município de São Francisco de Assis do Piauí-PI. Ano agrícola 2008.
Fig. 49. Produtor Juarez de Souza Teixeira responsável pela UTD de gergelim da
comunidade Barra Bonita no município de São Francisco de Assis do Piauí.
77
Fig. 50. Precipitações pluviias ocorridas em São Francisco de Assis do Piauí nos anos
2007/2008.
Para todas UTDs instaladas no município de São Francisco de Assis do
Piauí, houve registro elevado da mão-de-obra na colheita, talvez seja explicado
pela pouca experiência dos produtores com a cultura do gergelim. Por outro
lado, a FFA está tentando comercializar toda a produção de gergelim orgânico
para o mercado nacional ao preço de R$ 4,00 por quilo de grãos, devido à alta
qualidade do produto.
4. Extração de Óleo na Mini-usina
Para os próximos anos, está prevista a instalação de uma mini-usina em
São Francisco de Assis do Piauí, para extração de óleo orgânico de gergelim e
elaboração de outros produtos alimentícios. Antes de se definir e instalar uma
mini-usina nas comunidades dos pequenos agricultores familiares, recomendase realizar um estudo econômico do mercado das grandes cidades mais próximas
da usina à ser instalada, levando-se em consideração as dificuldades, de
distribuição e de venda do óleo, impostas pelo mercado.
A mini-usina deverá ser instalada, de acordo com as normas de vigilância
sanitária para funcionamento de Laboratório de Tecnologia de Alimentos, e nela
deverão ser implantados uma mini-prensa (Figura 51) e um filtro da prensa.
A finalidade do filtro de prensa é retirar os resíduos que estão misturados
com o óleo. No tipo de equipamento apresentado na Figura 52, o óleo passa
Foto: Flávio Torres de Moura
Foto:Aycê Chaves Silva
78
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 51. Prensas de extração de óleo de gergelim
utilizadas pela Embrapa Algodão.
Fig. 52. Pequeno filtro de
prensa utilizado pela
Embrapa Algodão.
através de uma série de 10 filtros, confeccionados com tecido grosso. Em cada
filtro, vai sendo retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo. Dependendo
da qualidade dos grãos empregados (natural sujo de campo) e do grau de impureza
do óleo, pode ser feita uma ou mais etapas de filtragem (QUEIROGA et al.,
2007).
79
Foto: Vicente de Paula Queiroga
A instalação dos equipamentos da mini-usina deve ser feita num prédio
principal, o qual deverá ter espaço planejado para sala de recepção, banheiros e
armário para guardar as batas dos operários. Separadamente, deveriam ser
construídas: uma sala para despeliculação manual ou mecânica (misturador
Hobert), o depósito de grãos e uma sala de ventilação (máquina de pré-limpeza
com peneiras). Para atender às normas sanitárias do Ministério da Saúde, o ideal
seria azulejar todas as salas da mini-usina. Deveriam ser reservadas também
uma sala para funcionamento do secador artificial (Figura 53) e uma área livre
ser cimentada (uma quadra), para a secagem natural dos grãos despeliculados
ou secagem de grãos com elevada umidade (QUEIROGA et al., 2007), a qual
deverá ser sempre lavada com detergente neutro antes da colocação dos grãos.
Fig. 53. Secador artificial utilizado no
processo de secagem dos grãos.
5. Prensa Piteba
A FFA adquiriu duas prensas Piteba, cujo preço de mercado é bastante
acessível, para serem utilizadas pelos produtores das comunidades de São
Francisco de Assis do Piauí (Figura 54). Este equipamento pode funcionar
perfeitamente em várias posições e cabe ao produtor escolher a melhor maneira
de trabalho (Figura 55).
80
Foto: Arquivo da Piteba
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 54. Equipamento
Piteba adquirido pela
FFA do município de
São Francisco de
Assis do Piauí.
Fig. 55. Diferentes posições de
funcionamento do equipamento Piteba:
pedalando, em pé e sentado.
81
Recomenda-se colocar as sementes de gergelim bem secas e limpas, com
índice de umidade entre 4 - 5%, no depósito superior. Em seguida, deve-se girar
a manivela lentamente, em aproximadamente 45 rotações por minuto, para o
óleo fluir por uma pequena abertura, a qual deve ser limpa regularmente, com
um instrumento pontiagudo, em todos os orifícios e em poucos minutos (PITEBA,
2008).
Para o ajuste da Piteba, primeiramente deve-se deixar passar um fluxo
livre de torta pelo moinho da prensa; subseqüentemente, o operador deverá fechar
gradualmente a saída da torta, girando o parafuso terminal de ajuste do tornilho,
até que a torta prensada apareça como finas tiras. Deve-se preparar apenas a
quantidade de sementes de gergelim que vai ser prensada numa jornada de um
dia, a fim de evitar que as sementes previamente secas, absorvam umidade do
ambiente. Caso o operador necessite descansar por 10 minutos, ele não deve
apagar o fogo do pavio para não endurecer a torta que se encontrar no interior
do equipamento (tornilho). Uma vez concluída a prensagem das sementes, ele
terá que limpar o tornilho (rosca) da Piteba imediatamente, ainda quente (PITEBA,
2008).
Foto: Arquivo da Piteba
O óleo extraído do equipamento Piteba é quente, sendo recomendado esfriálo à temperatura ambiente para facilitar sua clarificação. Em seguida, deve ser
decantado por 24 horas e conservado dentro de um vidro lacrado, em um local
fresco, até seu consumo ou venda. Essa decantação (repouso) é importante,
porque o óleo que sai da prensa é escuro e contém muitas impurezas, resíduos
de cascas e endospermas dos grãos, que devem ser decantadas (Figura 56), o
que aumenta a eficiência da etapa seguinte - a filtragem. Uma alternativa para
Fig. 56. Processo de decantação do óleo extraído pelo equipamento Piteba.
82
os produtores das comunidades rurais é utilizar um pano grosso para fazer a
filtragem do óleo que passou pelo processo de decantação (repouso). Este óleo
filtrado já pode ser utilizado no preparo dos seus alimentos (PITEBA, 2008).
6. Produção de Biodiesel na Comunidade
Diversos tipos de óleos vegetais podem ser usados para produzir biodiesel.
As alternativas para o fornecimento de óleo vegetal são diversas e também
podem ser obtidas do gergelim cultivado nas seis comunidades de São Francisco
de Assis do Piauí-PI, mas tudo é uma questão de opção ou prioridade por parte
da diretoria da FFA.
As tortas gordas resultantes da extração a frio das mini-usinas (extração
mecânica) nos equipamentos do fabricante Ecirtec para a produção do óleo extra
virgem de gergelim, podem fornecer mais de 20% de óleo pelo método de extração
com solvente.
Este sistema de extração de óleo é uma destilação, onde o solvente
(hexano, mistura de hidrocarbonetos) é colocado em um balão. Com o aquecimento
do sistema, o hexano se evapora, condensa acima do filtro e o líquido condensado
entra em contato com o papel filtro, envolvendo o material triturado (torta gorda
de gergelim) e retirando o óleo contido nas células (removido por difusão). A
extração não é completa, pois o farelo geralmente apresenta um teor de 0,5 a
0,6% de óleo. Posteriormente é necessário fazer uma nova destilação, para
separar o óleo do solvente (SOAREZ, 2006).
Em princípio, é necessário que a matéria-prima (óleo de gergelim já filtrado)
tenha o mínimo de umidade e de acidez, o que é possível pelo processo de
neutralização, mediante uma lavagem com uma solução alcalina de hidróxido de
sódio ou de potássio, seguida de um processo de secagem ou desumidificação.
As especificações do tratamento dependem da natureza e condições da matéria
graxa usada como matéria-prima (PARENTE, 2003).
A reação de transesterificação é a etapa da conversão do aceite em ésteres
metílicos ou etílicos de ácidos graxos, que constituem o biodiesel. A reação pode
ser representada por quaisquer das seguintes equações químicas:
83
Aceite + Metanol
Aceite + Etanol
Ésteres Metílicos + Glicerol
Ésteres Etílicos + Glicerol
A primeira equação química representa a reação de conversão, quando se
utiliza o metanol (álcool metílico) como agente de transesterificação, obtendose, portanto, como produtos os ésteres metílicos que constituem o biodiesel e o
glicerol (glicerina). Enquanto a segunda equação faz referência à utilização do
etanol (álcool etílico), como agente de transesterificação, dando como resultado
o produto biodiesel, o qual é representado por ésteres etílicos e a glicerina
(PARENTE, 2003).
Foto: Expedito José de Sá Parente
O mini-sistema para produção de biodiesel é constituído por uma unidade
compacta para a conversão de óleo vegetal em biodiesel, com capacidade de
100 l·h-1. Este mini-sistema, que tem sido denominado "máquina de biodiesel
móvel" é um equipamento de fabricação da empresa Tecbio (Figura 57). O minisistema possui as seguintes características: a) dimensiões de 7.5 m (comprimento)
x 3.5 m (largura) x 5.0 m (altura); b) peso aproximado de 3.500 kg; c) unidade
móvel, facilmente transportável por caminhão convencional; d) potência elétrica
Fig. 57. Mini-sistema móvel para
produção de biodiesel, fabricado pela
empresa Tecbio de Fortaleza-CE.
84
de 18 kw, quando o gerador de calor é elétrico, e 3 kw, quando a fonte de calor
é outra; e) consumo de água de 2.000 litros por dia; f) mão-de-obra de duas
pessoas (empregado e auxiliar) e g) processo manual, com várias etapas de
transesterificação para produção de biodiesel.
Um projeto piloto para produzir biodiesel a partir da matéria-prima do óleo
da mamona foi implantado na fazenda Normal, localizada no Município de
Quixeramobim-CE, pertencente ao Governo do Estado do Ceará e administrada
pela EMATERCE. O biodiesel produzido da mamona é utilizado para alimentar um
gerador de energia. A geração de energia elétrica e distribuição aos domicílios
foram feitas na comunidade rural "Serrinha de Santa Maria", localizada no mesmo
município, sendo os próprios produtores da referida comunidade os responsáveis
pela produção da matéria-prima (SEVERINO et al., 2005).
7. Elaboração de Produtos Alimentícios Industrializados
Por suas potencialidades, o gergelim torna-se uma alternativa importante
para minimizar o agravante quadro de carência alimentar das populações de
baixa renda. Devido aos preços compensadores (R$ 3,00/kg de sementes),
facilidade de cultivo e amplas possibilidades de bons rendimentos, o gergelim
constitui opção promissora para o Semi-Árido nordestino, não só por ser mais
uma alternativa de renda e fonte protéica para os pequenos e médios produtores
da região, mas, também, por existir no Brasil mercado sempre crescente nos
setores de panificação e indústria de biscoitos, e potencialidade de o óleo do
gergelim ser explorado de forma viável no mercado nacional para consumo
alimentar, fitoterápico e fito cosmético (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Para que o consumo brasileiro cresça, é necessário aumentar a produção
agrícola e a divulgação do emprego do produto e derivados do gergelim, além de
melhorar o marketing sobre os efeitos benéficos à saúde humana proporcionados
pelas propriedades químicas naturais existentes no grão dessa espécie. Somente
nos EUA, no início da década de 90, ocorreu o lançamento de aproximadamente
300 tipos de produtos, nos quais o gergelim é utilizado (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Um rendimento médio maior no campo contribuiria para que o preço
baixasse, tornando o produto mais acessível às classes populares, pois, atualmente,
85
o consumo de gergelim no Brasil se restringe às classes mais favorecidas do País
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Os produtos industrializados derivados de gergelim mais utilizados pelo
mercado brasileiro, na atualidade são os seguintes: gergelim natural limpo (13%
do mercado), gergelim despeliculado para pães e biscoitos (62% do mercado),
pasta de gergelim (Tahine) (22% do mercado), óleo de gergelim (3% do mercado).
No Brasil, a venda de óleo de gergelim no varejo tem se limitado aos
comércios de produtos naturais, pois a maior parte dos grãos é destinada ao
mercado internacional para a extração do óleo. Este elo da cadeia poderá ser
considerado um dos pontos agravantes no sistema produtivo do gergelim no
Nordeste, em função do baixo valor agregado do produto, caso o mesmo
dependesse apenas da exportação do produto na forma de grãos (QUEIROGA et
al., 2007).
No caso dos produtores das comunidades organizadas de São Francisco de
Assis do Piauí, que desenvolvem um sistema produtivo para o gergelim orgânico
em conformidade com os preceitos tecnológicos recomendados pela Embrapa
Algodão, há a possibilidade de se obter produção de grãos de elevada qualidade
e, também, a oportunidade de se elaborarem produtos derivados do gergelim
(industrialização do grão). Segundo Queiroga et al. (2007), a verticalização da
produção do gergelim é mais procurada por pequenas associações de produtores
ou cooperativas.
Os produtos industrializados derivados do gergelim mais utilizados pelos
consumidores são:
a) Grãos despeliculados mecanicamente
Por se tratar de gergelim orgânico, o descascamento dos grãos é
considerado como um processo preliminar de industrialização do gergelim; o mais
recomendado seria o mecânico (QUEIROGA et al., 2007). Esta técnica de
descascamento de fricção mecânica não inclui nenhum agente químico e, após o
processo de separação da película, os grãos conservam todos seus atributos
naturais e nutricionais. Esses grãos descascados podem ter preço duplicado ou
triplicado, quando são destinados para padarias, em relação aos grãos
convencionais (Figura 58), e representam 62% do mercado de gergelim.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
86
Fig. 58. Excelente aparência
do pão com grãos de gergelim
despeliculados.
b) Óleo de gergelim
O óleo de gergelim extraído dos grãos é considerado como um dos mais
finos azeites no mercado, sendo comumente usado na indústria alimentícia. Este
óleo é rico em ácidos graxos insaturados, contendo aproximadamente 47% de
ácido oléico e 39% de ácido linoléico e representa de 44 a 58% do seu peso
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001) e as proteínas oscilam entre 17 e 29% (MAZZANI;
LAYRISSE, 1998).
Vale destacar que mais de 70% da produção de gergelim são utilizados
para a elaboração de azeite comestível. Tanto o óleo como as comidas fritadas
com ele tem vida de prateleira longa, devido à presença dos antioxidantes no
óleo (não rancifica), melhorando seu sabor, principalmente o dos produtos fritos
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
O óleo extra virgem da mini-usina de Várzea, PB é obtido por prensagem a
frio numa sala escura, apenas com iluminação indireta do ambiente externo (sol),
e utiliza uma pequena prensa do fabricante Ecirtec-SP. O seu rendimento médio
de extração é de 28% (QUEIROGA et al., 2007). Para conservar melhor todas
as propriedades químicas naturais do óleo, deve-se realizar o seu envase em
embalagem de vidro escuro. Embalagens transparentes de vidro e de plástico,
usadas comumente pelos fabricantes, alteram as características do produto (Figura
59).
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Paulo de Tarso Firmino
Foto: Vicente de Paula Queiroga
87
Fig. 59. Diferentes tipos de embalagem para óleo de gergelim: A) plástico, B) vidro
transparentes e C) vidro escuro.
Este produto é um excelente azeitador, dando melhor sabor aos alimentos
e as saladas de verduras. O óleo de gergelim possui "flavour" (sabor) característico
e agradável e maior estabilidade oxidativa, quando comparado com a maioria
dos óleos vegetais, por causa da sua composição de ácidos graxos e pela presença
dos antioxidantes naturais - sesamolina, sesamina, sesamol e gama tocoferol
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
c) Tahine (creme de gergelim)
O delicioso creme de gergelim, que em árabe se denomina "tahine", deve
ser preparado com gergelim de cor branca, de sementes descascadas ou
despeliculadas, visando eliminar o gosto amargo de oxalato de cálcio presente na
sua película. Este tipo de tahine é o mais refinado e mais valorizado no mercado,
pois é reconhecido por sua riqueza em proteínas e por ser uma das melhores
fontes de energia para o corpo humano; ademais, a pasta elaborada é 100%
natural (sem conservantes químicos).
Este creme de gergelim é preparado tostando-se ½ kg de semente branca
numa frigideira seca ou panela (Figura 60), durante 5 a 10 minutos a 180 ºC,
88
para que as sementes sejam descascadas naturalmente (eliminação das películas),
antes de serem moídas. Após esfriar, mexe-se a massa à qual se adiciona água
fervida (a temperatura ambiente) e sal rosado líquido até se obter uma pasta
consistente (MOLLER, 2006), que deve ser envasada em frasco de vidro, o qual,
depois de aberto, deve ser guardado sempre em geladeira. Esta receita nem
sempre é cumprida pelos fabricantes de tahine, pois alguns elaboram a pasta
com sementes não brancas e/ou não realizam a separação das películas das
sementes (despeliculação), resultando num produto com gosto amargo que é
característico do gergelim. No comércio de produtos naturais, o tahine pode ser
encontrado em distintas embalagens e com diferentes tonalidades de cor (Figura
61).
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Fig. 60. Panela com tampa perfurada
usada especialmente para tostar
gergelim
Fig. 61. Embalagens do creme de gergelim (tahine) em vidro (cor clara e achocolatado)
e em lata.
89
d) Doce de gergelim (halawi)
Foto: Vicente de Paula Queiroga
O halawi é um doce árabe bastante apreciado pelos consumidores. A
empresa Istambul de São Paulo produz o halawi em forma de balas, enquanto no
Chile, ele vem em forma de barra, parecido a uma embalagem de chocolate, e
com outra denominação de mantecol (Figura 62).
Fig. 62. Doces de halawi em embalagens distintas.
A receita para elaboração do doce halawi é: 200 g de creme de gergelim
branco (tahine), 100 g de mel, 100 g de açúcar, uma colher de açúcar vanile e
uma colher de suco de limão, que deve ser adicionada antes de atingir o ponto.
Misturar todos os ingredientes e bater até formar uma mistura homogênea.
Enformar a mistura e levar ao refrigerador. Para variar a receita, pode-se misturar
pistache, chocolate, etc. (MOLLER, 2006).
e) Barra de gergelim e mel
As receitas para a fabricação de barras de cereais são as mais variadas
possíveis. A barra de gergelim e mel de abelha já foi desenvolvida pelo Laboratório
de Tecnologia de Alimentos da Embrapa Algodão, e sua receita poderá ser
disponibilizada para FFA, a qual é responsável pela gestão do beneficiamento e
comercialização do mel orgânico de abelha, da empresa Nutritivomel de Simplício
Mendes-PI.
A barra de cereais é um produto obtido da compactação de materiais
hidratados (gergelim), com adicionamento de mel, sal e outras substâncias
comestíveis, secos, laminados e tostados. Depois da mistura, efetua-se a
formatação da barra, com um equipamento especificamente desenvolvido para
esse fim. Sendo este produto muito bem aceito pelos consumidores, graças à
90
sua leveza e ao seu sabor apurado e natural (MOLLER, 2006). Criado
especialmente para aquelas pessoas que buscam equilibrar na dieta numa
alimentação rica em fibras (dietas menos calóricas) e carboidratos com praticidade
e sabor.
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Em geral, as barras de cerais têm como principais características: alto
teor de carboidratos, baixa perecibilidade e baixo teor de umidade; como todos
os cereais monocotiledonares possuem germe, onde se concentra a fração
lipoprotéica. Alguns equipamentos são exigidos pelas empresas de alimentos,
para aumentar a velocidade e eficiência na produção de barras de cereais, tais
como: misturador, máquina de compactação, secador e embaladora do produto
(Figura 63).
Fig. 63. Máquinas de misturação, compactação e embaladora de barra de cereais
91
A vantagem dos equipamentos é a considerável redução de mão-de-obra
com a automação do processo de produção das barras de cereais. A máquina
embaladora é do fabricante Bosch, enquanto os demais equipamentos são
fabricados em Taiwan (marca Seng Din).
Uma receita caseira para a fabricação de barras de cereais com gergelim
e mel (Figura 64) poderia ser utilizada pela FFA (Nutritivomel), usando os sguintes
ingredientes:
1 xícara de gergelim integral branco
1 xícara de fibra de trigo fina (farelo)
1 xícara de flocos de centeio integral (pré cozido)
Uva passa preta sem semente
1 xícara de castanha de caju torrada, salgada e picada
2 xícara de aveia integral em flocos finos
2 xícara de açúcar mascavo tradicional
1 xícara (chá) de água
1 xícara (chá) de mel
Preparo:
• Ferver a água, o açúcar e o mel até obter ponto de fio.
• Colocar por cima dos ingredientes secos, misturar, despejar em uma forma,
abrir sobre um plástico, moldar, retirar o plástico e cortar as barrinhas.
• Embalar em papel celofane.
Foto: Diego Antônio Nóbrega
• Rende 30 barras de tamanho padrão
Fig. 64. Barra de cereais de
gergelim e mel para fabricação
caseira.
92
f) Sesamin (balas)
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Foto: Vicente de Paula Queiroga
O sesamin é elaborado com a receita tradicional combinando sementes
despeliculadas de gergelim (branca) e o mel de abelha. Com estes dois ingredientes
se consegue um delicioso e saudável doce, considerado um produto alimentício
de alto teor de proteínas (Figura 65). Os ingredientes são misturados sob fogo
baixo. Em seguida, são empacotados em forma unitária (MOLLER, 2006).
Fig. 65. Bombons de sesamin e gelinda preparados com gergelim.
Outra receita do bombom de gergelim é: lavar ½ kg de sementes brancas,
secar e tostar em tacho seco. Moer na processadora, misturar com ½ kg de mel
de abelha e, depois, colocar em forma de bombons, acrescentando o coco ralado.
Por fim, guardar em geladeira (MOLLER, 2006).
g) Gersal
O gersal é um condimento bastante comum na alimentação vegetariana e
macrobiótica (Figura 66). É um produto obtido a partir de sementes de gergelim
integral (FIRMINO, et al., 2005). O gersal pode ser usado na água do cozimento
do arroz ou salpicado sobre o prato pronto. O gersal combate a acidez estomacal.
É ainda descalcificante do sangue.
Ingredientes:
Um copo de gergelim torrado
Sal a gosto.
93
Modo de preparar
Triturar o gergelim em pilão, moinho ou liquidificador.
Adicionar sal a gosto e armazenar em recipiente de vidro, mantendo-o lacrado.
Modo de usar
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Pôr uma colher (de café) sobre a comida.
Fig. 66. Gersal usado na
alimentação como condimento.
h) Farinhal
A boa qualidade do azeite de gergelim deve-se, essencialmente, ao alto
teor do ácido linoléico, que varia entre 35 a 41% do óleo total. Por seus
antioxidantes sesamina e sesamolina, o azeite de gergelim, cuja característica
não foi encontrada em nenhum outro óleo vegetal, é mais resistente à oxidação
ou baixa rancificação (BUDOWSHI; MARKLEY, 1951). O farelo ou farinha contém
entre 40 e 70% de proteínas e 2,8% de óleo, o que é um excelente alimento
para o ser humano (sementes brancas) e para os animais (sementes de outras
cores).
Quando a farinha de gergelim se destina ao consumo humano, é necessária
uma atenção especial à qualidade da matéria-prima e seu tratamento, objetivando
segurança, sanidade, qualidade e valor nutricional da torta extraída
(SUBRAMANIAN, 1980).
As etapas de descasque, secagem da semente descascada, extração do
óleo e dessolventização, usadas na produção da farinha de gergelim, utilizam
94
calor. O tratamento térmico severo implica na diminuição da qualidade protéica,
enquanto o uso do calor moderado pode aumentar a qualidade nutricional da
farinha (CARTER et al., 1961). Para conservar todo o valor das proteínas do
gergelim, as operações tecnológicas utilizadas devem preservar ao máximo, os
aminoácidos no nível de composição, digestibilidade e disponibilidade (FABRY,
1980).
Foto: Diego Antônio Nóbrega
Em muitos países, uma parte considerável da população tem difícil acesso
aos alimentos protéicos de origem animal. Nestes casos, existe a possibilidade
da utilização de fontes protéicas vegetais que podem suprir as necessidades
nutricionais de diferentes grupos da população. Portanto, a partir da torta
resultante do processo de extração do óleo das sementes brancas pela miniusina, poder-se-ia elaborar a farinha e usá-la na preparação de pão e bolacha
para a alimentação dos habitantes (ou merenda escolar) nas comunidades rurais.
Considerada um subproduto, a farinha contém, em média, 50% de proteína, pois
a semente é rica em aminoácidos sulfurados, característica rara entre as proteínas
de origem vegetal (Figura 67).
Fig. 67. Farinha de gergelim
obtida da torta resultante do
processo de extração do óleo
das sementes brancas.
8. Receitas com Gergelim para Merenda Escolar
Com a torta resultante do processo de extração do óleo poderia elaborar a
farinha e usá-la na preparação de pão e bolacha para a alimentação dos habitantes
(ou merenda escolar) das comunidades rurais de São Francisco de Assis do Piauí.
95
Foto: Vicente de Paula Queiroga
No intuito de contribuir com a diversificação dos alimentos para a merenda
escolar das escolas públicas do município de São Francisco de Assis do Piauí, de
modo a fornecer opções de alimentos saborosos, nutritivos, adaptados ao paladar
dos estudantes, um técnico do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Embrapa
Algodão ministrou o primeiro treinamento de preparação de produtos com receitas
de gergelim para 45 mulheres na referida cidade (Figura 68), em setembro de
2007; durante o evento, houve distribuição de um manual de receitas com
sementes de gergelim (FIRMINO, et al., 2005).
Fig. 68. Curso de preparação de receitas com gergelim oferecido pela Embrapa
Algodão para uma turma de mulheres de São Francisco de Assis do Piauí.
Todos os produtos abaixo mencionados, com exceção do pão de gergelim,
foram elaborados pelas mulheres de São Francisco de Assis do Piauí, durante o
curso de receitas de gergelim organizado pela Embrapa Algodão:
a) Pão de Gergelim (Figura 69)
Ingredientes
800 g de farinha de trigo
96
200 g de farinha semi desengordurada de gergelim
40 g de açúcar
40 g de gordura vegetal
10 g de melhorador
500 mL de água
40 g de fermento.
Modo de preparar
Misturar todos os ingredientes até formar uma massa lisa e enxuta.
Fazer uma bola com a massa e deixá-la descansar durante 30 minutos.
Fazer os pães e arrumá-los em assadeira untada com óleo vegetal. Deixá-los
fermentar durante 90 minutos.
Foto: Paulo de Tarso Firmino
Assar os pães por aproximadamente 15 minutos, em temperatura de 200°C
Fig. 69. Pãezinhos caseiros de gergelim elaborados pelo Laboratório de Tecnologia de
Alimentos da Embrapa Algodão.
b) Biscoito de gergelim (Figura 70)
Tipo Massa Flora
Ingredientes
800 g de farinha de trigo
200 g de farinha semi desengordurada de gergelim
97
300 g de manteiga (marca Primor é melhor, pois não derrete)
4 ovos
300 g de açúcar cristal.
Modo de preparar
Misturar todos os ingredientes na batedeira elétrica doméstica, adicionando
as farinhas aos poucos, até formar um creme.
Modelar os biscoitos.
Assá-los em forno elétrico por aproximadamente 15 minutos, em
temperatura de 180 °C.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 70. Biscoito de
gergelim elaborado pelas
mulheres de São Francisco
de Assis do Piauí, durante
o curso de preparação de
receitas com gergelim.
c) Bolo de gergelim (Figura 71)
Ingredientes
1 xícara (chá) de farinha de gergelim
3 xícaras (chá) de farinha de trigo
1 xícara (chá) de leite
2 xícaras (chá) de açúcar
3 colheres (sopa) de manteiga (marca Primor)
1 colher (sobremesa) de fermento
1 colher (café) de sal
1 colher (sopa) de canela, cravo e erva doce (todos juntos
98
4 ovos
Modo de preparar
Torram-se as sementes de gergelim e, em seguida, trituram-se no
liquidificador
Bate-se a manteiga com o açúcar e os ovos inteiros, até formar um creme
Acrescenta-se a farinha de trigo, sal, alternando com leite, farinha de
gergelim e o fermento
Coloca-se a massa em forma untada e polvilhada
Coloca-se sementes por cima para decorar
Leva-se ao forno brando para assar por aproximadamente 30 minutos.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Obs: Usar forma com fundo central número 24.
Fig. 71. Bolo de gergelim
elaborado pelas mulheres de São
Francisco de Assis do Piauí,
durante o curso de preparação de
receitas com gergelim.
d) Doce de gergelim ou espécie (Figura 72)
Ingredientes
1 copo de gergelim
1 copo de farinha de mandioca
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de sopa de cravo da índia torrado
½ copo de castanha de caju assada e sem pele
4 copos de mel de rapadura, coados.
99
Modo de preparar
Colocar o gergelim numa caçarola e levar ao fogo para apurar
Quando estiver estalando, retirar do fogo e continuar mexendo, até esfriar
um pouco.
Medir o cravo, a erva-doce e a castanha, e misturar tudo.
Passar no moinho ou liquidificador (com cuidado para não embolar. Para
tanto, colocar no liquidificador igual quantidade de farinha de mandioca) e colocar
numa caçarola.
Juntar o mel e a manteiga.
Levar ao fogo, mexendo sempre.
Retirar do fogo quando começar a aparecer o fundo da panela
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Colocar numa vasilha de boca larga com tampa.
Fig. 72. Doce de gergelim
elaborado pelas mulheres de
São Francisco de Assis do
Piauí durante o curso de
preparação de receitas com
gergelim.
9. Alimentação Animal
A Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) possui uma organização
coletiva de criação de caprinos, a qual tem por objetivo o empréstimo de animais
por um determinado tempo aos produtores familiares das distintas comunidades
(no máximo 3 anos). Atualmente, a gestão da FFA está tentando montar um
projeto de duas câmaras para abatedouro e para carne (frigorífico) para ser
instalado na região de Simplício Mendes-PI (Figura 73).
Foto: José Anchieta Moura
100
Fig. 73. Projeto futuro da
FFA de instalação de
câmaras para abatedouro e
para carne de caprinos em
Simplício Mendes-PI.
Os produtores familiares das diferentes comunidades de São Francisco de
Assis do Piauí receberam treinamentos sobre preparação de silagem para os
animais ruminantes e sobre confecção dos silos tipos "buraco" e "em cima da
terra", cujos tamanhos variaram de 4 x 2 m até 6 x 2 m. Mesmo assim, o
referido município foi bastante castigado por uma grande estiagem em 2007 e a
solução para muitos produtores foi a alimentação dos caprinos com feixes de
gergelim triturados em máquina forrageira.
O aproveitamento do gergelim triturado pelos caprinos tem sido satisfatório
em São Francisco de Assis do Piauí, mas existe a possibilidade da ingestão isolada
101
do material volumoso e fibroso do gergelim causar o cálculo renal no animal.
Para que os caprinos sejam mais bem alimentados e não morram por falta de
ração no período de entressafra, seria recomendável equilibrar o material fibroso
do gergelim com palma forrageira, ambos triturados. A essa mistura sugere-se a
adição de melaço de cana-de-açúcar.
Foto: Manoel Francisco de Sousa
Além de ser abundante na região de São Francisco de Assis do Piauí, a
maniçoba nativa (Manihot glaziovii Muell. Arg.) é um excelente alimento para os
caprinos (Algodão Agroecológico, 2007), após ser bem triturado (pedaços
pequenos) na máquina forrageira (o ácido cianídrico é volatizado da maniçoba
triturada), o que ainda não está sendo aproveitado para a confecção de silagem
(Figura 74). Na ausência da palma, o fibroso de gergelim triturado poderá ser
misturado com a forragem de maniçoba proveniente do silo de armazenamento
tipo "buraco", adicionando um pouco de melaço, para alimentação dos animais
no período seco (PRODUÇÃO, 2007).
Fig. 74. Silo para armazenar
forragem de maniçoba triturada
na máquina forrageira.
Dimensões do buraco: 2 m de
comprimento x 1 m de largura x
0,80 m de altura. Revestir o
buraco com lona de plástico de
4 ou 6 m de largura com
espessura de 200 micros
102
Os técnicos da Embrapa Algodão orientaram os produtores a guardarem
os feixes de gergelim, após o processo de batimento , numa sombra de árvore,
ou a triturarem todo o material de imediato e ensacá-lo para os caprinos
alimentarem-se posteriormente, misturando essa silagem com a palma ou a
maniçoba, quando não houver mais a presença do pasto natural na região (período
de estiagem). Também o produtor poderá aproveitar a rica forragem, formada
com a folhagem das plantas de gergelim resultantes da peneiração das sementes,
para alimentar os animais. Segundo Augstburger et al. (2000), a palha de gergelim
cuidadosamente seca pode ser aproveitada em forma limitada como forragem.
10. Construção de Barragens Subterrâneas
Essa tecnologia social aproveita as águas das enxurradas e de pequenos
riachos disponíveis na região e mantém a umidade naquela área inundada. No
espaço úmido, é possível plantar todo tipo de fruteiras, verduras e culturas anuais.
Além disso, a água pode ser fornecida aos caprinos por meio de um poço escavado.
Foto: Dalfran Gonçalves Vale
A parede da barragem é cavada para baixo da superfície do chão em solo
raso, em direção ao subsolo cristalino impermeável, podendo ser executado em
trabalhos de mutirão pelas comunidades locais. Em seguida, uma barreira de
terra ou pedras é construída e coberta com uma lona ou folha de PVC, do lado
que vem a água, para evitar vazamentos (Figura 75).
Fig. 75. Construção de
barragens subterrâneas
nas comunidades de São
Francisco de Assis do
Piauí para aproveitamento
das águas dos riachos.
103
Foto: Vicente de Paula Queiroga
A barragem subterrânea irá manter um nível de água satisfatório no lençol
freático do terreno à jusante da parede, o que permitirá a perfuração de poços
artesianos (Figura 76) com possibilidade de atender apenas uma irrigação de
salvamento na lavoura do gergelim orgânico, através de um sistema de
gotejamento, quando submetida a um período de 25 dias de veranico.
Fig. 76. Poço artesiano
utilizado pelo produtor
nordestino para irrigar a
lavoura através de
motor bomba a
eletricidade ou a diesel.
11. Parcerias e UTD
A parceria formada entre a Embrapa Algodão e a Fraternidade de São
Francisco de Assis (FFA) permitiu a instalação de seis UTDs (Unidade de Teste e
de Demonstração) de gergelim no município de São Francisco de Assis do Piauí,
envolvendo as seguintes comunidades rurais: Lagoa do Juá, Queimada Nova,
Lagoa da Povoação, Veredas, Barreiro Grande e Barra Bonita. Os resultados
gerados das UTDs ajudaram nas informações básicas para elaboração do presente
"Documentos 190" de gergelim orgânico.
1. Embrapa Algodão
Dr. Napoleão Esberard de Macedo Beltrão
Chefe Geral da Embrapa Algodão
Embrapa Algodão
Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário
CEP: 58107-720 Campina Grande - PB
CNPJ: 00.348.003/0044-50
104
2. Fraternidade de São Francisco de Assis - FFA
Pe. Henrique Geraldo Martinho Gereon
Dirigente da Fraternidade de São Francisco de Assis
Fraternidade de São Francisco de Assis
Praça da Matriz, 656 centro
CEP: 64.745-000 São Francisco de Assis do Piauí-PI
CNPJ: 06.109.666/0001-69
3. Locais de implantação das UTDs: safra 2008
Tabela 9. Comunidade, área plantada, produtividade e responsável pela Unidade de
Teste e de Demonstração - UTD - de gergelim no município de São Francisco de Assis
do Piauí
Estima-se que, para o ano agrícola de 2008, o município de São Francisco
de Assis do Piauí tenha cultivado quase 60 ha de gergelim, sendo que tal fato
representa a maior concentração de áreas de agricultura familiar plantadas com
gergelim branco orgânico do país, pois as sementes básicas da BRS Seda foram
distribuídas pela FFA para mais de 100 produtores familiares, cabendo a cada
produtor a missão de plantar ½ ha. Por outro lado, para atender à produção de
gergelim orgânico com qualidade nesse município, a Embrapa Algodão adotou o
modelo estratégico de transferência de tecnologia denominado UTD (Unidade de
Teste e de Demonstração) em cada uma das comunidades escolhidas.
Esta escola de campo (UTD) é um instrumento para transferência de
tecnologia em tempo real, visando à organização dos produtores familiares das
seis comunidades envolvidas na programação da FFA do município de São
105
Francisco de Assis do Piauí, que, de forma associada e partilhada, foram
informados através de aulas práticas no campo de produção (treino-visita),
contemplando as diversas fases de condução da lavoura do gergelim orgânico.
Foto: Flávio Tôrres de Moura
O objetivo da UTD em São Francisco de Assis do Piauí foi nortear o processo
de profissionalização dos produtores familiares no manejo da cadeia produtiva do
gergelim, tendo a Fraternidade de São Francisco de Assis (FFA) atuado nesse
trabalho em parceria com a Embrapa Algodão. As orientações técnicas dadas
pelos pesquisadores da Embrapa aos vários produtores reunidos na UTD matriz
permitiram criar um efeito positivo no processo de apropriação tecnológica pelos
produtores familiares, cujos conhecimentos adquiridos foram aplicados nos seus
lotes (UTDs filiais). Na Figura 77, encontra-se o organograma das UTDs.
Fig. 77. Modelo estratégico,
para transferência de
tecnologia, adotado pela
Embrapa Algodão para
produção de gergelim
orgânico nas comunidades de
São Francisco de Assis do
Piauí.
12. Mercado em Geral de Gergelim
O cultivo do gergelim, produzido em grande escala comercial por
comunidades de agricultores familiares, depende, portanto, das modificações
nos costumes culturais e sociais da população. Nos últimos anos, o consumo do
gergelim pela população brasileira tem aumentado consideravelmente e isto se
106
deve à importação de sementes de alta qualidade (mais de 60% do consumo do
Brasil é importado), principalmente de cor branca (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Tendo em vista as boas perspectivas dos mercados nacionais e
internacionais, as sementes de gergelim, que contêm em média 50% de óleo de
elevada qualidade com aplicações diversas, encontram-se em plena ascensão,
devido ao aumento da quantidade de produtos industrializáveis para o consumo,
que tem crescido em torno de 15% ao ano, gerando demanda do produto "in
natura" e mercado potencial capaz de absorver quantidades superiores à atual
oferta (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Foto: Dalfran Gonçalves Vale
Espera-se que o gergelim orgânico possa ser uma alternativa socioeconômica
para os produtores das seis comunidades de São Francisco de Assis do Piauí
(Figura 78), mas também é necessária a presença de Deus na vida de cada um
deles para que todo ano ocorram bom inverno e prosperidade de colheita, de
modo que esses produtores possam gerar emprego e renda para a população do
campo, contribuindo, assim, para o desenvolvimento sustentável do referido
município.
Fig. 78. Visita de produtores em campo de gergelim orgânico, com excelente
crescimento, do produtor Juarez de Souza Teixeira da comunidade de Barra Bonita,
município de São Francisco de Assis do Piauí-PI.
107
Visando entender melhor aos padrões de qualidades dos grãos de gergelim
exigidos pelo mercado e estreitar os elos da sua cadeia produtiva, a seguir é
destacada a relação dos padrões de qualidade para os grãos de gergelim, alguns
produtores de gergelim do Nordeste, principais compradores nacionais e
internacionais de gergelim, além de fornecedores de equipamentos, fabricante
de embalagem, descascadores de grãos e beneficiadores de grãos de gergelim.
1- Compradores de Gergelim
Região Noredeste:
CEARÁ
George Luiz Lucas de Lima
Fortaleza- CE
(0xx85) 3261-5685
Celular (0xx85) 9957-7245
E-mail: [email protected]
Micro-Indústria de Alimentos
Fortaleza-CE (Paulo)
(0xx85) 3227-3542
(0xx85) 9977-7774
Crivel Engenharia Ltda
Rua Joaquim Nabuco - 2270 Fortaleza - CE
Fone: (0xx85) 3244-4044
Arnaldo de Carvalho
AV: Dioguinho - 4200 - Apto - 113 - Praia do Futuro
CEP: 60181 - 770 - Fortaleza - CE
Fone/Fax: (0xx85) 3234-0413
Celular (0xx85) 9121-4020
BAHIA
EDVALDO CARNEIRO E SILVA
Fazenda Estiva - Itapeipu CEP: 44.7000.000 - Jacobina - Bahia
TEL/FAX: (0xx47) 3229 - 8059
(0xx43) 662064 - 8501 - Áustria ( Residência)
108
MARANHÃO
Empresa 3B Parteness (Compra gergelim orgânico)
Av. Dos Holandeses, condomínio Barra Mar 1, BL 09A, Apto 103, Calhau
CEP 65.075-441 São Luís/Maranhão, Brasil.
Contato: Bruno Linczowski
Tel/fax: 0055 (98) 3248-2264
Celular: 0055 (98) 9124-0414
E-mail: [email protected]
MSN: [email protected]
SKYPE: brunolinczowski
PARAÍBA
Coopernut Multimistura - Cooperativa de Produtos e Suplementos Naturais de
Campina Grande
Rua Avenida Juscelino Kubischeck - 20 - Distrito do Velame
CEP: 58.107-000
Campina Grande-PB
Fone (0XX83) 3336-2413 (contato: Avani)
E-mail: [email protected]
Mini-usinas de Extração de Óleo e Produtos Naturais de Gergelim
Luiz Leme ou Ronaldo (óleo, tahine, gersal, doce em barra etc e plantadeira
manual para sementes de gergelim)
Várzea - PB
(0xx83) 3469 -1076
(0xx83) 9136-3668
E-mail: [email protected]
Jacinto Martins do Nascimento
Rua: Mário da Costa Agra - 194 - Bairro do Catolé
Fone: (0xx83) 3331 - 2156
58.110.105 - Campina Grande - PB
Pedro Abrantes
Rua 496 - Baim/ Aeroporto - Acesso BR 230 - Cajazeiras
Fone: (0xx83) 3531 - 1106
Fax: (0xx83) 3531 - 1198
109
Coopaib
Ricardo - Presidente da Cooperativa
Pocinhos-PB
Fone: (0xx83) 3384-1226 / (0xx83) 9971-0542
Suzy Antonino da Silva
(0xx83) 9975-2735
Profissional Liberal (Pastoral da Criança - Multi mistura )
Washington
Guarabira - PB
(0xx83) 9996-3830
PERNAMBUCO
Micro empresa Moá
Moacir Soares Costa (óleo, tahine, bolacha, pão, biscoito, bala, fubá, doce cremoso,
cocada etc )
E-mail: [email protected]
Venda: (81) 3223-0754 / (81) 9268-6094
Albanita Carneiro
Rua: Do Riachuelo - 641
CEP - 220-6003 - Boa Vista - Recife- PE.
Nutriteles Indústria e Comércio de Alimentos Ltda
C.N.P.J.: 07.524.096/0001-36
Insc. Est.: 18.5.700.0328692-4
Caixa Postal 58
Paudalho-PE - CEP 55.825-000
Fones: 81.3252.1569 / 81.9421.6031
PIAUÍ
Usina Livramento Ind. Com. Ltda (DUREINO)
Presidente: João de Almendra Freitas Filho
Contorno Rodoviário - 1999
Fone: (0xx86) 3232-3377 ou (0xx86) 3234-1140
Teresina - PI
110
RIO GRANDE DO NORTE
Santana Sementes
Ivanilson Araújo
(0xx84) 3234-4046, (0xx84) 9974-1951, Fax (0xx84) 3206-5972
Natal-RN
(Usina Algodoeira e de Extração de Óleo em Alto do Rodrigues-RN, próximo à
cidade de Açu-RN)
(Usina Algodoeira e de Extração de Óleo em São Mamede-PB)
Leonardo Bezerra de Melo Tinoco
Rua: Bartolomeu Fagundes - 471 - Bairro Petrópolis
Fone: (0xx84) 9983 - 2533 ou (0xx84) 3202-2333 ou (0xx84) 3202-3966
CEP - 59.020.014 - Natal - RN
Gilberto Fonseca Tinoco Filho
Fone: (0xx84) 3221-6332
Natal-RN
Rogério Menezes de C. Pires - Crivel Engenharia Ltda
Rua: Wenceslau Braz - 571
Mossóro - RN
Tel/Fax: (0xx84) 3321 - 2623
REGIÃO CENTRO-OESTE:
MATO GROSSO
Araguassu Óleos Vegetais
Márcia Nespolo - Contato Empresa
Tel.: (0xx66) 3569-1284
Endereço, Br 158 km 598 - Zona Rural
CEP: 78655-000
Cidade: Porto Alegre do Norte-MT
Luis Carlos Lima
Cocalinhos-MT
Fone: (0XX61) 3586-1176
111
GOIÁS
Granol
CEP 75905-190 - Rio Verde/GO.
Fone/Fax (0xx64) 3602-1278 / (0xx64) 3602-1190
GO 320, Km 01 - Trevo.
CEP 75650-000 - Edéia/GO.
Telefone (0xx64) 3492-1390
Hedesa Tecnologias (Biodiesel)
Rua 6 Q 13E, 1 S Ind Munir Calixto
CEP: 75133-700 Anápolis-GO
Tel. (0xx62) 3316-3400 / (0xx62) 3316-3500
REGIÃO SUDESTE:
São Paulo
Indústrias de Produtos Alimentícios Istambul
Rua: Antônio Lobo - 95/103 - Penha
Fone: (0XX11) 3294 - 8088
São Paulo - SP
Rio de Janeiro - (0XX) 2266-7955/9975-4781
Sesamo Real
Produtora de alimentos à base de gergelim
Campinas-SP
Tel. (0xx19) 3881-1791 (André Negri)
Frontemar Importadora e Exportadora Ltda
Rua: Polignano A. Maré - 211 - Brás
Fone: (0xx11) 3229-5333
São Paulo-SP
Macrozen Indústrias e Comércio de Alimentos Integrais
Rua: Conselheiro Furtado - 688/702 - Liberdade
Fone: (0xx11) 3278-3411
São Paulo-SP
Zacharias Elias Irmão Ltda
Rua: Ivaí - 114 - Tatuapé
Fone: (0xx11) 3295-1055
São Paulo - SP
112
Cyro Cavalcante (produtor e comprador de gergelim)
Tel (0xx11) 2087-1703
São Paulo-SP
E-mail: [email protected]
Alex Ferro
Ribeirão Preto - SP
Comprador
Tel. (0xx16) 3630-5900
Empresa: [email protected]
Sérgio Di Bonaventura-SP
Comprador
(0xx11) 4718-8700/ (0xx11) 3735-2828
Campestre Indústrias e Comércio de Óleos Vegetais Ltda
Rua: Luisiania - 135 - Bairro Taboão
Fone: (0xx11) 4178-0255/ (0xx11)4178-0717/ (0xx11) 4178-0108
FAX; (0xx11) 4178-8546
São Bernardo do Campo - SP
www.campestre.com.br/ e-mail: [email protected]
Yoki Alimentos S.A
Rua: Miro Vetorazzo - 661,1681 - Jardim Valdibia
CEP 09820-130 - São Bernardo do Campo - SP
Por telefone: (0xx11) 2188-8444
[email protected]
Erno Brasil
Eder Ferreira
São Paulo-SP
0 XX 9274 - 7922
Consultoria Cliente (Interessado na compra de gergelim)
São Paulo 3167 - 6006
Túlio Benatti - Indústria Sésamo Real Alimentos Ltda
Ricardo E. Rivet
Campinas-SP
Tel. (0xx19) 3381-1583 / (0xx19) 3881-1791
Email: [email protected]
113
Rio de Janeiro
José Luiz Delgado - Crivel Engenharia Ltda
Av: Presidente Vargas - 482 - Gr 405/412
Fone: (0xx21) 3516-8331
Fax: (0xx21) 3233-6465
CEP: 20.071.000 - Rio de Janeiro
Minas Gerais
Ecobrazil Organics
Aristidez Rizzi
[email protected]
Av: Contorno - 4023 - sala 1106
Belo Horizonte - MG
Fone (0xx31) 3227-1008
Fax (0xx31) 3227-2543
www.ecobrazil.bio.br
REGIÃO SUL:
Macro Brasil
Fone: (0xx41) 3276-6533
Curitiba - PR
Roberto Maculan
Fone: (0xx21) 3511-0869 ou (0xx21) 3274-5626
FAX (0xx21) 323017
Indústrias e Comércio de Desidratados
AV: Comendador Franco - 210
A/C Makro Brasil
Fone: (0xx41) 3264-9944
Curitiba - PR
2- Produtores de Gergelim
Estado do Piauí
Fraternidade São Francisco de Assis (FFA)
Praça da Matriz, 656 centro
CEP: 64.700-000 São Francisco de Assis do Piauí-PI
114
Safra 2008- Plantou 50 ha de gergelim orgânico da cultivar BRS Seda (sementes
de cor branca).
Programa Coordenado pelo Padre Geraldo da Paróquia de São Francisco de Assis
do Piauí-PI (distante 62 km de Simplício Mendes-PI).
E-mail: [email protected]
Tel. (0xx89) 3482-1218 (contato: Sr. José Anchieta Moura - Agente da Pastoral)
Estado da Paraíba
Eneida - Gilson
Rua da Aurora, 333/1004- Miramar; CEP 58.043-270 João Pessoa-PB
Plantou em Pombal 03 ha de gergelim cultivar BRS Seda (safra 2008)
(0xx83) 9315-1540; (0xx83) 8861-0228; (0xx83) 3244-9494
E-mail: [email protected]
Associação de Produtores da Comunicade de Areal
Luizinho
Mogeiro-PB
(0xx83) 9111-7970/ (0xx83) 3281-1012
Francivaldo
Produtor de Patos-Paraíba - PB
Plantio irrigado;
E-mail: [email protected]
Estado do Rio Grande do Norte
Núcleo de Estudos Brasileiros
Contato: Olivan e Jair
Fone: (84) 3641-1653/ 8842-7489
[email protected]
Rua João Noberto, 536- Ponta Negra
59.090-670 Natal-RN
Estado da Bahia
Instituto de Permacultura da Bahia
Produtores de gergelim
Município de Umburanas-BA
Tel. (0xx74) 3528-1067.
115
Estado de Goiás
Claudio Henrique Moraes
Produtor de Goiás
Tel. (0xx64) 3653-1511/ (0xx64) 8403-7557
VALONS
Produtor de Goiás
Tel. (0xx62) 9606-8895 (Contato para produtores em Goiás)
EMPAER
Carlos Luiz Milhomen de Abreu/ Marcus Lacerda- Contato para produtores de
Goiás
(0xx65) 3613-1734/ (0xx65) 8123-8843
Estado de Mato Grosso
Rodrigo Sippert
Produtor de Mato Grosso
Tel. (0xx66) 3478-3110/ (0xx66) 9988-2825
Estado do Mato Grosso do Sul
Centro de Recuperação Gileade
Chapadão do Sul - MS - Produtor
GILEADE - (0xx67) 3562-4172
Estado do Pará
José Peixoto de Alencar
Produtor de Pará-Paragominas-PA
Tel. (0xx91) 3729-0995
3 - Perfil dos Importadores de Gergelim Orgânico (KOEKOEK, 2006)
1. Importadores e processadores de gergelim
1.1. Worlée Naturprodukte GmbH, Hamburgo
Worlée Naturprodukte GmbH de Hamburgo faz parte do Grupo Worlée e
é uma empresa familiar fundada em Hamburgo em 1851. É um provedor de
ingredientes de alta qualidade para a indústria alimentícia européia. Esta empresa
116
importa gergelim orgânico e tem unidade própria de processamento. A Worlée
importa cerca de 400 toneladas de sementes de gergelim por ano. A semente
deve estar completamente limpa (100%), sem nenhum teor de areia.
1.2. Davert Mühle, Senden, Alemanha
Davert é, em primeiro lugar, uma empresa distribuidora que abastece uma
rede de alimentos saudáveis na Alemanha, usando sua própria marca Davert.
Esta é uma das marcas líderes na Alemanha. Ademais, a empresa importa,
processa e embala produtos orgânicos. Alguns produtos se comercializam em
atacado, ainda que a empresa também venda parte de seus produtos aos
supermercados.
Davert é uma importadora muito importante de gergelim orgânico,
chegando a alcançar uns 20 contêineres anuais de gergelim natural. Este produto
é processado pela Davert antes de vendê-lo a varejistas e panificadoras. As
demandas de qualidade são muito altas, requerendo-se um grau de limpeza de
99,96 por cento.
1.3. Tradin BV Amisterdã
Tradin BV é uma empresa importadora e exportadora líder no comércio de
produtos básicos orgânicos e um dos maiores importadores de gergelim orgânico.
O proprietário da Tradin tem sido um dos protagonistas no desenvolvimento da
produção de gergelim orgânico no México, Paraguai e Zâmbia.
1.4. Doens Foor Ingredients BV IJzendijke, Holanda
Doens é uma empresa familiar dedicada à importação e ao processamento
de produtos básicos, sobretudo grãos e sementes. A empresa, fundada em 1880,
é dirigida por Walter Doens e está especializada em limpeza, classificação e
moagem de produtos básicos. A empresa é uma importadora importante de
gergelim orgânico.
1.5. DO-IT BV, Holanda
DO-IT é um importador importante de produtos básicos orgânicos, mas
sua presença no mercado de gergelim é relativamente pequena, com possibilidades
de incrementar a compra de gergelim.
117
1.6. A.L. van Eck & Zonen BV, Zevenbergen, Holanda
Van Eck & Zn é tanto importador como fornecedor de sementes para a
indústria de panificação. Os centros de produção estão localizados nos EE.UU.,
especialmente os de sementes de girassol. A empresa abastece as panificadoras
de toda Europa. Esta empresa deseja abrir uma linha orgânica. O gergelim
convencional é obtido da Índia.
2. Empresa extratora de azeite
2.1. Provence Regime SA, Pont St. Espris, França
Provence Regime é uma empresa extratora e importadora. Para a extração
do óleo usa o método frio. A empresa oferece azeite orgânico e convencional
extraído com o método frio e produtos elaborados orgânicos sobre a base de
gergelim, como o tahini. A empresa importa volumes substanciais de gergelim
diretamente de Burkina Faso ou de outro país produtor.
2.2. Ölmühle Kroppenstedt GmbH, Kroppenstedt, Alemanha
Compra pequenas quantidades de gergelim de abastecedores alemães.
2.3. Huilerie Moog, Bram, França
Uma das três maiores extratoras da França. A semente de gergelim é
comprada diretamente no país de origem de produção, de Burkina Faso e Etiópia.
2.4. Ölmühle Solling, GmbH, Bevern, Alemanha
Compra as sementes de gergelim de fornecedores europeus.
2.5. Soluna Ölmanufaktur - Werkhof Ringenwalde, Alemanha
É uma extratora pequena que abastece azeite de gergelim orgânico de
alta qualidade.
118
4 - Padrões de qualidade das sementes de gergelim
Tabela 10. Padrões de qualidade das sementes de gergelim adotados pelos
importadores.
5- Empresas Fabricantes de Equipamentos
Ecirtec
Rua Maurita Vaz Malmonge, nº 2-235-Distrito Industrial II
CEP 17.039-770 Bauru-SP
Tel. (0xx14) 3231-2256 / (0xx14) 3231-2325 / (0xx14) 3281-1515
Fabricante de mini-usina de extração de óleo de gergelim (prensa, filtro de
119
prensa, forno, classificação e limpeza de sementes, etc)
www.ercitec.com.br
Nux Metalúrgica Ltda
Caixa Postal 132
CEP 13.970-970 - Itabira-SP
Desenvolveu uma trilhadeira mecânica em parceria com Sésamo Real (SP)
que produz até cinco toneladas de sementes por dia.
Tel. (0xx19) 3863-2750
Fax (0xx19) 3863-2600
Luiz Leme
Microempresa que desenvolveu uma plantadeira manual para sementes de
gergelim, que dispensa o desbaste.
Várzea - PB
(0xx83) 3469 -1076
(0xx83) 9136-3668
E-mail: [email protected]
Empresa Irmão Amádio
São Paulo-SP
Tel. (0xx11) 6618-1655 (Gerson Amádio), Fax (0xx11) 6697-2909
Fabricante de batedeira planetária com capacidade de 20 litros (modelo 20
LA) ou mais litros para despeliculação mecânica de sementes de gergelim.
6- Descascadores (ou despeliculação dos grãos)
Indústria de Máquinas D Andréa S/A.
Avenida Souza Queiroz, 267
Limeira-SP
CEP: 13485-119
Telefone: (19)3451-8888 Fax : (19)3451-3251
Site : http://www.maquinasdandrea.com.br
Máquinas Agrícolas Graciano Ind.e Com.Ltda.
Avenida Conde Francisco Matarazzo, 502
Catanduva-SP
CEP: 15803-145
120
Telefone: (17)3522-5150 Fax : (17)3522-5150
Site: http://www.mgraciano.com.br
Máquinas Suzuki S/A.
Rua José Zacura, 223 -C.P. 101
Santa Cruz do Rio Pardo-SP
CEP: 18900-000
Telefone: (14)3372-5533 Fax: (14)3372-2151
Site: http://www.msuzuki.com.br
Pinhalense S/A. Máquinas Agrícolas
Rua Honório Soares, 80
Espírito Santo do Pinhal-SP
CEP: 13990-000
Telefone: (19)3651-9200 Fax: (19)3651-9204
Site: http://www.pinhalense.com.br
7- Beneficiador de sementes (fornecedores)
Indústria e Comércio Mecmaq Ltda.
Avenida Pompeia, 1719
Piracicaba-SP
CEP: 13425-620
Telefone: (19)3426-4239 Fax: (19)3426-6019
Site http://www.mecmaq.com.br
Jr-Indústria e Comercio de Máquinas Agrícolas Ltda
Avenida do Manganês, 105
Assis-SP
CEP: 19812-080
Telefone: (18)3322-2674 Fax: (18)3322-2674
Site: http://www.entringer.com.br
8 - Sacos de papel multifoliado valvulado para sementes e grãos
(gergelim)
Indústria KLABIN
Klabin de São Paulo. Telefone (11) 3046-5888.
Produz saco de papel valvulado para sementes. Pedido mínimo: 20.000
unidades
Dimensão do saco (15 kg): 87 cm x 70 cm
121
9 - Operador de máquina colheitadeira e aluguel (Gergelim)
Francisco Trajano de Sousa
Vila Umari
São João do Rio do Peixe-PB (4 km de Marizópolis-PB)
Fone: (83) 9111-8079
(Aluga máquina para colher arroz, a qual pode ser adaptada para a lavoura de
gergelim, principalmente para as cultivares indeiscentes e semi-deiscentes)
13. Referências Bibliográficas
AUGSTBURGER, F.; BERGER, J.; CENSKOWSKY, U.; HEID, P.; MILZ, J.; STREIT,
C. Agricultura orgánica en el trópico y subtrópico: guías de 18 cultivos: ajonjolí
(sésamo). Gräfelfing: Naturland, 2000. 30 p.
BASS, L. N.; CLARK, D. C.; EDWIN, J. Vacuum and inert gas storage of safflower
and sesame seeds. Crop Science, Stanford, n. 3, p. 237-240, 1963.
BELTRÃO, N. E. de M.; VIEIRA, D. J. O agronegócio do gergelim no Brasil. Brasília,
DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p. 121-160. 348 p.
BELTRÃO, N. E. de M.; NÓBREGA, L. B. da; SOUZA, R. P. de; SOUZA, J. E. G.
de. Efeitos da adubação, configuração de plantio e cultivares na cultura do gergelim
no Nordeste do Brasil. Campina Grande: Embrapa Algodão, 1989. 23 p. (Embrapa
Algodão. Boletim de Pesquisa, 21).
BELTRÃO, N. E. de M.; VIEIRA, D. J.; NÓBREGA, L. B. da; AZEVÊDO, D. M. P.
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florístico daninho e o gergelim no Estado da Paraíba. Campina Grande: Embrapa
Algodão, 1997. 7 p. (Embrapa Algodão. Comunicado Técnico, 45).
BUDOWSKI, P.; MARKLEY, K. S. The chemical and physiological properties of
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composition of sesame seed and meal. J. Amer. Gil Chem. v. 38, p.148-150,
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cosecha de semillas de oleaginosas. In: STEFFERUD, A. (Ed.). Semillas.
Washington: Companhia Editorial Continental México, 1961. p. 354-368.
DANTAS, I, P. Manual técnico: receitas simples, puras, ecológicas e sustentáveis.
[S.l.: s.n.], 2001.
DIACONIA. Produção agroecológica: algodão. Recife, 2006. 23 p. (Série Cultivos
Agroecológicos).
EMBRAPA ALGODÃO (Campina Grande, PB). Gergelim BRS Seda. Campina
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FONSECA, K. S. Avaliação da maturação fisiológica do gergelim (Sesamum
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Universidade Federal da Paraíba, 1994. 35 p. (Dissertação de Estágio
Supervisionado).
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Fortaleza: BNB-ETENE, 1970. 69 p.
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de ajonjolí seleccionados de la colección venezolana de germoplasma. Agronomía
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em. <http://www.piteba.com> Acesso em: 20 junho 2008.
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Agroecológico, Paraíba, out. 2007.
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SEVERINO, L. S.; PALMA, H.; ANHALT, J.; ALBUQUERQUE, I. C. de; PARENTE
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de O.; SILVA, D. R. G. Cultivo e usos do nim (Azadirachta indica A. Juss). Boletim
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SOAREZ, P. A. Z. Produção de biodiesel na fazenda. Viçosa: Centro de Produções
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WEISS, E. A. Sesame. In: WEISS, E. A. (Ed.). Oilseed crops. London: Longman,
1983. p. 282-340.
YOSHIDA, H.; TAKAGI, S. Effect of seed roasting temperature and time on the
quality characteristics of sesame (Sesame indicum) oil. Journal of the Science of
Food and Agriculture, v. 75, n. 1, p. 19-26, 1997.
125
PARTE 2
TECNOLOGIAS UTILIZADAS NO CULTIVO DO
GERGELIM MECANIZADO
1. Introdução
O gergelim (Sesamum indicum L.), da família Pedaliácea, é a mais antiga
oleaginosa conhecida. Essa espécie, de distribuição tropical e subtropical, é
tolerante à seca e sua produção é proveniente de pequenos e médios agricultores,
exercendo, portanto, uma apreciável função social no meio rural.
Os grãos de gergelim - fonte de óleo comestível de excelente qualidade,
grande estabilidade e resistente à rancificação - são também utilizados na
confecção de massas, doces, tortas, tintas, sabões, cosméticos e remédios
(GODOY et al., 1985; SAVY FILHO et al., 1988; RAM et al., 1990; SAVY
FILHO et al., 1998). Os grãos inteiros, apenas descascados (despeliculados) e
polidos, são, atualmente, muito utilizados como confeito, no pão de hambúrguer
e em outros produtos da panificação. A diversificação do uso e o aumento do
consumo acarretaram uma significativa demanda por melhores informações sobre
o seu cultivo, visando o aumento da produção e à redução das importações.
As exportações mundiais de gergelim foram, durante o período 1990-2001,
lideradas pela Índia, pelo Sudão e pela China, países que no ano 2001 contribuíram
126
com 62% do total do mercado. Já os principais importadores mundiais de gergelim
são Japão, Egito, Coréia, UUEE, USA e China, que representam cerca de 70%
das importações mundiais. As estimativas indicam que a demanda mundial terá
um incremento anual entre 6 e 8%, até o ano 2012. Também se estima que a
demanda exceda os volumes de produção nos próximos 5 anos (IICA, 2004).
Atualmente, o mercado de gergelim encontra-se em plena ascensão, devido
ao aumento da quantidade de produtos industrializáveis para o consumo, que
tem crescido em torno de 15% ao ano, gerando demanda do produto in natura e
mercado potencial capaz de absorver quantidades superiores à atual oferta.
Segundo levantamento estatístico feito pelo IICA , 88% do comércio mundial
deste produto é de sementes de gergelim, seguido da torta de gergelim, que
constitui uns 8% e o óleo com 4%. A principal demanda de gergelim provém da
indústria alimentícia, sendo que 70% da produção na maioria dos países
importadores são utilizados para a elaboração de óleo e farinha. No Brasil, o
preço do produto colhido sem beneficiamento é da ordem de US$ 600,00/t de
sementes, enquanto o do produto industrializado (descascado e classificado) é
cerca de US$ 1.500,00/t (COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA
INTEGRAL, 1998).
No setor industrial, existem algumas firmas que são compradoras
tradicionais de grãos de gergelim - como a Istambul e a Sésamo Real, ambas em
SP - e outras pequenas empresas que efetuam o processamento industrial do
gergelim - para produção de concentrados protéicos - e o esmagamento - para
obtenção de óleo vegetal. No Centro-Oeste, o Estado de Goiás vem se firmando
como um dos maiores plantadores de gergelim, havendo um avanço significativo
de 85% em relação à área plantada em 2004, com excelentes perspectivas
para o fomento da cultura. Já existem empresas, como a Granol e Hedesa, que
efetuam a comercialização de várias oleaginosas, provenientes de produtores
dessa Região (QUEIROGA et al., 2007).
Os maiores avanços na agricultura moderna têm sido obtidos com as
culturas que permitem práticas mecanizadas desde a semeadura até a fase de
colheita com o mínimo de interferência de mão-de-obra. A mecanização da cultura
do gergelim é um componente fundamental para os produtores, visando diminuir
os custos de produção e o tempo de execução das atividades correspondentes
numa exploração em escala comercial. Mas, no Brasil, o gergelim ainda é bastante
127
cultivado por produtores familiares, em pequenas áreas "cultura de fundo de
quintal", quando o ideal seria que seu cultivo fosse em escala comercial, em
áreas de, no mínimo, 2 ha por produtor, de forma organizada, em associação ou
cooperativa (QUEIROGA et al., 2007).
Recentemente, a Embrapa Algodão tem sido procurada por várias empresas
do Centro Oeste e Sudeste, interessadas em tecnologias demandadas pela cadeia
produtiva do gergelim mecanizado, visando aumentar sua área de exploração. O
mesmo sucedeu nos últimos anos com a cultura do girassol, quando a instalação
de uma indústria de grande porte em Mato Grosso-MT favoreceu o incremento
da sua área de plantio no País, que passou rapidamente de 30 mil ha para mais
de 120 mil ha.
O maior diferencial da cultura do gergelim no Brasil acontecerá com o
lançamento de variedades com frutos indeiscentes e sementes de cor branca,
previsto para o ano de 2010, pela Embrapa Algodão. Segundo Mazzani e Larysse
(1998), as características intrínsecas dessas novas cultivares terão que atender
aos padrões mínimos internacionais de mercado - 50-52% de óleo das sementes
e 21% de proteínas nas sementes descascadas -, para terem maior aceitabilidade
nos mercados nacionais e internacionais.
Vale salientar que a consolidação da cadeia produtiva de uma determinada
espécie sempre tem reflexo direto sobre o nível tecnológico utilizado pelos
produtores. Ou seja, no momento em que o produtor de gergelim demandar por
tecnologias avançadas (sementes encapsuladas, semeaduras de precisão,
variedades indeiscentes ou semi-deiscentes de cor branca, aplicações de herbicidas
e dessecantes, ponto de colheita, colheita mecanizada, etc), semelhantes às
adotadas pelos USA (Texas) e pela Venezuela, haverá a possibilidade de todos os
elos da cadeia produtiva do gergelim serem estruturados e organizados no País,
porque os produtores do agronegócio terão como foco o abastecimento dos
grandes mercados nacionais e internacionais. De certa forma, estes pacotes
tecnológicos irão beneficiar os médios e pequenos produtores parceiros do País,
porque eles passarão a utilizar sementes das cultivares com características
químicas dos grãos de maior aceitação pelas indústrias em geral (QUEIROGA et
al., 2007).
A introdução de antigas segadoras-atadoras de cereais na Venezuela, para
substituir o duro trabalho do corte manual das plantas no período de maturação
128
das cultivares deiscentes, deu um impulso significativo às semeaduras nas áreas
tradicionais de cultivo do gergelim. Colheitadeiras do tipo combinada, usadas
pelo produtor na colheita e na trilha do arroz, começaram também a ser adaptadas
às operações de trilha do gergelim (SUAREZ, 1995).
Este salto tecnológico levou a cultura do gergelim a cobrir um espaço
muito importante entre os principais cultivos oleaginosos produzidos na Venezuela,
que alcançou, em 1970, a superfície cultivada máxima - 178.000 ha. Vale
destacar que a mecanização do gergelim nas operações mais exigentes em mãode-obra, relacionadas às práticas agrícolas de semeadura e colheita, mudou
substancialmente o tamanho médio das áreas cultivadas. Antes da mecanização
do gergelim, o produtor venezuelano não conseguia plantar áreas de produção
extensas, devido às limitações impostas pelas operações manuais; mas, com a
adoção do sistema semi-mecanizado, principalmente na colheita, houve um
incremento de 68% na produção do gergelim em escala comercial, com as áreas
cultivadas variando de 50 a 200 ha (SUAREZ, 1995).
2. Importância do Gergelim
O cultivo do gergelim, produzido em escala comercial por pequenos, médios
e grandes produtores, depende, portanto, das modificações dos costumes culturais
e sociais da população. Nos últimos anos, o consumo do gergelim pela população
brasileira tem aumentado consideravelmente e isto se deve à importação de
sementes de alta qualidade (mais de 60% da semente consumida no Brasil são
importados), principalmente as de cor branca (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Tendo em vista as boas perspectivas dos mercados nacionais e
internacionais, as sementes de gergelim - que contém, em média 50% de óleo de
elevada qualidade com aplicações diversas - encontram-se em plena ascensão,
devido ao aumento da quantidade de produtos industrializáveis para o consumo,
que tem crescido em torno de 15% ao ano, gerando demanda do produto "in
natura" e mercado potencial capaz de absorver quantidades superiores à atual
oferta (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
As sementes de gergelim são consumidas "in natura" ou em produtos
confeitados como os de panificação. Quando inteiras, as sementes apresentam
sabor amargo, devido à acidez oxálica presente no tegumento (película), que
129
pode ser removida pelos processos: manual, mecânico, físico e químico
(QUEIROGA et al., 2007).
Mais de 70% da produção de gergelim são utilizados na elaboração de
azeite comestível. O teor de óleo está entre 40 e 60% e o de proteína oscila
entre 17 e 29% (MAZZANI; LAYRISSE, 1998). O azeite produzido do primeiro
prensado a frio encontra-se entre os azeites comestíveis mais caros. Com um
rendimento de quase 30%, o extra-virgem é um azeite de cor amarelo claro, não
secante e suporta altas temperaturas.
A boa qualidade do azeite de gergelim deve-se, essencialmente, ao alto
teor do ácido linoléico, que varia entre 35 e 41% do óleo total. Por seus
antioxidantes - sesamina e sesamolina -, o azeite de gergelim é mais resistente a
oxidação ou a baixa rancificação (BUDOWSHI; MARKLEY, 1951), característica
que não foi encontrada em nenhum outro óleo vegetal. A torta do prensado
contém entre 40 e 70% de proteínas e 12% de óleo, constituindo-se em excelente
alimento para o ser humano (sementes brancas) e para os animais (sementes de
outras cores).
O gergelim já era muito conhecido e apreciado pelo povo na antiga Grécia
(MOLLER, 2006), tanto que Hipócrates - considerado o pai da medicina recomendava o gergelim em suas prescrições curativas. É provavel que esta
espécie tenha lhe inspirado a seguinte frase: "Que teu alimento seja o teu remédio
e que teu remédio seja teu alimento".
Vale destacar que na dieta alimentar da população japonesa estão presentes
vários produtos à base de gergelim, sendo um dos mais importantes no seu
consumo diário o azeite de gergelim tostado (Figura 1). É muito usado na cozinha
oriental como tempero ou condimento, para fritar, para assar pão no forno, ou
para elaborar molhos e azeitar saladas. Este azeite tostado de gergelim é altamente
poli-insaturado e livre de colesterol (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Segundo o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, é no
arquipélago do sol nascente que se concentra o maior número de pessoas acima
dos 100 anos. O número de idosos com mais de cem anos de idade no Japão
ultrapassou a cifra dos 32 mil centenários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). O
segredo para tal longevidade ainda não foi claramente revelado pelos japoneses
Foto: Nair Helena Castro Arriel
130
Fig. 1. Azeite tostado de gergelim usado na
culinária japonesa, chinesa e coreana.
e permanece um mistério. Mas, na maioria das vezes essa longevidade
está associada ao bem-estar da população, principalmente, aos seus hábitos
alimentares.
As argumentações anteriores reforçam a idéia da nobreza do óleo de
gergelim para a alimentação humana e, ao mesmo tempo, levanta a suspeita de
que a resposta sobre o segredo da longevidade de vida dos japoneses tenha sido
descobrir a sabedoria contida na frase de Hipócrates: FAÇA DO ALIMENTO O
SEU MEDICAMENTO.
Thomas Jefferson, presidente dos USA no período de 1801-1809,
escreveu a seguinte frase: "O gergelim está entre as mais valiosas aquisições
feitas pelos USA e não acredito que exista outro azeite tão perfeito que possa
substituí-lo" (LANGHAM et al., 2006).
Os componentes mais importantes do gergelim - entre eles, sesamina,
sesamolina, sesamol e pinoresino - são antioxidantes naturais, pertencentes à
família das lignanas. Estes compostos fenólicos conferem maior estabilidade aos
ácidos graxos presentes na semente razão pela qual o óleo de gergelim, mesmo
sendo poli-insaturado, é muito utilizado na cozinha oriental - e têm demonstrado
produzir os seguintes efeitos: retardam o envelhecimento celular, prolongando a
vida útil das células; atuam contra fungos e bactérias; inibem o desenvolvimento
de células cancerígenas; possuem ação antiparasitária; eliminam radicais livres,
131
interrompendo processos de oxidação celular; potencializam-se com a vitamina
E (gama tocoferol) presente na semente, melhorando sua absorção no organismo
e, conseqüentemente, sua ação antioxidante (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).Moller
(2006) acrescenta que eles também atuam como afrodisíaco, laxante e na
atividade mental. Ainda não se constatou a presença desses antioxidantes naturais
em outros óleos vegetais.
Atualmente, pesquisas revelam que o hábito de comer gergelim
cotidiamente pode trazer benefícios para a saúde humana, auxiliando na
prevenção de várias doenças: depressão, osteoporose (por ser rico em cálcio),
colesterol (lecitina) e arteriosclerose.
A composição dos antioxidantes naturais da semente de gergelim branca,
preta ou marrom, foi comparada por Yoshida et al. (1997) com a da semente
torrada e não. O teor de sesamina foi maior para a semente branca, enquanto o
de sesamolina foi maior para a marrom. Com a torrefação o teor desses
antioxidantes diminuiu com o tempo de aquecimento, enquanto o de sasamol
aumentou. Esses resultados mostram que as composições dos antioxidantes
naturais apresentam variações insignificantes entre sementes de distintas cores,
o que derruba o mito: "as sementes pretas são as mais indicadas para os
tratamentos medicinais".
Para que o consumo brasileiro de gergelim cresça, é necessário aumentar
a produção agrícola e a divulgação do seu emprego e dos seus derivados, além
de melhorar o "marketing" sobre os benefícios à saúde humana, proporcionados
pelas propriedades químicas naturais existentes nessa espécie. O aumento do
rendimento médio contribuiria para que o preço baixasse, tornando o produto
mais acessível às classes populares, pois, atualmente, o consumo de gergelim no
Brasil se restringe às classes mais favorecidas do País (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Somente nos EUA, no início da década de 90, ocorreu o lançamento de
aproximadamente 300 tipos de produtos, nos quais o gergelim é utilizado
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Os produtos industrializados derivados de gergelim
mais comercializado no Brasil, na atualidade, são gergelim natural limpo (13%
do mercado), gergelim despeliculado para pães e biscoitos (62% do mercado),
pasta de gergelim -Tahine - (22% do mercado) e óleo de gergelim (3% do
mercado).
132
A venda de óleo de gergelim no varejo tem se limitado aos comércios de
produtos naturais, pois a maior parte dos grãos é destinada ao mercado
internacional para a extração do óleo. Este elo da cadeia poderá ser considerado
um dos pontos agravantes no sistema produtivo do gergelim no País, em função
do baixo valor agregado do produto, caso o mesmo depender apenas da exportação
do produto na forma de grãos (QUEIROGA et al., 2007).
3. Tecnologias de Produção e Mecanização do Gergelim
3.1 Planta com frutos por axila
Fotos: Ray Langham
Outro passo importante para obtenção de cultivares mais produtivas é o
desenvolvimento de plantas com duas ou três cápsulas por axila (caráter recessivo)
em relação a uma cápsula por axila (dominante). Salvo algumas exceções, o
rendimento do gergelim tem estado correlacionado à maioria das características
morfo-agronômicas (LANGHAM et al., 2006; LANGHAM; RODRÍGUEZ, 1945),
em que as mais importantes são comprimento da cápsula, número de cápsulas
por planta (Figura 2) e número de ramos por planta .
Fig. 2. Plantas de gergelim com um fruto por axila e três frutos por axila.
133
Por outro lado, Yermanos (1980) constatou que as cultivares com duas ou
três cápsulas por axila foliar perdem, às vezes, tais estruturas, quando a planta
é submetida a estresse, como o hídrico ou o nutricional.
3.2 Plantas ramificadas e não ramificadas
De acordo com Alam et al. (1999), o genótipo ideal para obtenção de
maior rendimento de sementes/planta, deve apresentar sistema radicular
profundo, porte elevado, grande número de ramos e de cápsulas/ramo, alto peso
de sementes e elevado índice de colheita.
Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Para obterem-se altos rendimentos, utilizam-se elevadas densidades de
plantio (MAZZANI, 1999). Nas variedades não ramificadas (Figuras 3 e 4) utilizamse populações entre 250.000 e 350.000 plantas/ha (30-40 cm, entre fileiras, e
7,5 cm , entre plantas); nas variedades ramificadoras, a população pode ficar
entre 150.000 e 200.000 plantas/ha (50-60 cm, entre fileiras, e 10 - 15 cm ,
entre plantas).
Fig. 3. Planta não ramificada de gergelim precoce, com frutos deiscentes e sementes
brancas, desenvolvida na Estação Experimental da Embrapa Algodão de Barbalha, CE.
Foto: Ray Langham
134
Fig. 4. Plantio ultraadensado de gergelim
de cultivar não
ramificadora.
Segundo Cardenas (1978), a colheita mecânica tem dado melhores
resultados com variedades pouco ramificadas, cuja altura, do solo até a primeira
cápsula, seja de aproximadamente 30 cm. A altura da primeira ramificação e o
crescimento da planta, que também têm influência sobre a colheita mecanizada,
são diretamente afetados pelo ambiente e pelo manejo cultural que envolve
precipitação pluvial (quantidade e distribuição), comprimento do dia
(fotoperiodismo), densidade de sementes e de plantio (estande) entre outros
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
3.3 Cultivares
As variedades de gergelim normalmente se dividem em três tipos:
deiscentes, indeiscentes e semi-deiscentes.
a) Variedades deiscentes: A maioria das variedades deste tipo, que se
cultivam nos Estados Unidos, tem sido produzida a partir da variedade Kansas 10
ou K-10, não ramificada (Figura 5), cujas sementes têm um alto teor de óleo
(acima de 50%), mas, tem seu valor limitado no mercado, devido ao seu sabor
amargo (OPLINGER, 1990). Outras variedades deiscentes cultivadas nos Estados
Unidos são: Margo, Oro, Blanco, Dulce e Ambia (Tabela 1).
Várias cultivares de gergelim desenvolvidas na Venezuela têm sido
introduzidas no Brasil desde a década de 1950. Estas cultivares eram mais precoce
Foto: Ray Langham
135
Fig. 5. Frutos de gergelim deiscente
Tabela 1. Rendimento de grãos (kg/ha) e características varietais (cor de sementes,
altura e maturidade) das plantas de gergelim deiscentes desenvolvidas nos USA.
Lubbock, Texas.
1
Média = 90 a 150 cm; Alta > 150 cm.
Precoce = 90 a 105; Média = 106 a 120.
2
(90 dias) que os tipos locais (120 dias) e, em condições de sequeiro, eram 40%
mais produtivas. Com base nesses estudos, recomendavam-se para o cultivo na
região Nordeste, as cultivares Venezuela 51, Venezuela 52, Morada, Inamar e
Aceitera. Entretanto, essas cultivares exóticas, apesar da precocidade e da
uniformidade, não apresentavam a adaptabilidade e a tolerância à seca dos tipos
locais, preferidos pelos agricultores (ARRIEL et al., 2001). Na Tabela 2,
136
Tabela 2. Características agronômicas de algumas variedades deiscentes de gergelim
desenvolvidas na Venezuela.
b: branco
c: cremoso
o: escuro
s: esverdeado
a: ausente
p: presente
encontram-se as principais características das cultivares de gergelim
desenvolvidas na Venezuela (MAZZANI, 1999).
A maioria das cultivares deiscentes de gergelim lançadas pela Embrapa
Algodão foi direcionada para o Nordeste - microrregiões Sertão e Seridó, com
exceção da cultivar BRS Seda, que é indicada também para as regiões Centro
Oeste - Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso - e Sudeste -São Paulo (EMBRAPA,
2007). Esta cultivar pode ser plantada no cerrado em janeiro/ ou fevereiro (cultura
de safrinha), após a colheita de soja, arroz ou milho precoces. Na Tabela 3,
encontram-se as principais características das cultivares deiscentes geradas pela
Embrapa (EMBRAPA, 2007).
Savy Filho (2008) admite que, quando cultivo da cultivar IAC-Guatemala
é realizado na região Sudeste, os seus frutos são semi-deiscentes proporcionando
maior período de colheita com perdas menores. Em ensaios realizados na região
do Nordeste -ambiente de alta temperatura (calor) - pela Embrapa Algodão,
137
Tabela 3. Características das cultivares deiscentes de gergelim desenvolvidas pela
Embrapa Algodão. Campina Grande, PB.
verificou-se que seus frutos tiveram comportamento deiscentes. Na Tabela 4,
encontram-se as principais características das três cultivares de gergelim
desenvolvidas pelo IAC.
b) Variedades indeiscentes: As variedades indeiscentes têm sido
desenvolvidas para colheita mecânica (Figura 6), embora, suas sementes
normalmente, contenham teor de óleo abaixo de 50% - sendo, consequentemente,
utilizada unicamente para a produção de óleo (OPLINGER, 1990). Baco, Paloma,
UCR3, SW-16 e SW-17 são algumas variedades indeiscentes dos USA (Tabela
5).
Para solucionar o problema da colheita mecanizada do gergelim, o setor
de melhoramento da EMBRAPA Algodão estará lançando no Brasil sua primeira
cultivar indeiscente (semente branca), em 2010, e avaliando mais 4 progênies,
com esta mesma característica.
138
Foto: Derald Langham
Tabela 4. Características das cultivares deiscentes de gergelim desenvolvidas pelo
Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Campinas-SP.
Fig. 6. Frutos de gergelim
indeiscente.
139
Tabela 5. Rendimento de grãos (kg/ha) e características varietais (cor de sementes,
altura e maturidade) das plantas de gergelim indeiscentes desenvolvidas nos USA.
Lubbock, Texas.
1
2
Baixa até 90 cm; Média = 90 a 150 cm.
Precoce = 90 a 105; Média = 106 a 120 dias
Desde o descobrimento do mutante indeiscente de gergelim, o
retrocruzamento, como método de melhoramento, tem sido utilizado nessa cultura
com bastante êxito na Venezuela (MAZZANI et al., 1975). Segundo Montilla et
al. (1990), através dos trabalhos de cruzamento entre variedades comerciais e
tipos indeiscentes, usando-se este último como doador, foram obtidas as
variedades Morada Indeiscente e Inamar Indeiscente (Tabela 6).
Tabela 6. Principais características das cultivares de gergelim Morada e Inamar
indeiscentes plantadas no Estado de Portuguesa, Venezuela.
b: branco
c: cremoso
p: presente
Bennett (2004) recomenda apenas o uso de quatro cultivares de gergelim
para os produtores da Austrália, as quais são indeiscentes e utilizadas na colheita
mecânica - Aussie Gold, Beech's Choic, Yori 77 e Edith; suas características
são apresentadas na Tabela 7.
140
Tabela 7. Algumas características das cultivares de gergelim australiano indeiscentes.
Foto: Ray Langham
c) Variedades semi-deiscentes: As cultivares de gergelim semi-deiscentes
da empresa Sesaco foram patenteadas no Texas (Figura 7) e não se recomenda
o uso de dessecante para acelerar a colheita. Assim, o ciclo dessas cultivares
pode se prolongar de 130 a 150 dias (LANGHAM et al., 2006). Embora as
plantas permaneçam no campo para secar até atingir a umidade máxima de 6%
das sementes (equivalente a 12% do milho), consequentemente elas irão manter
a maioria das sementes dentro da cápsula (sementes retidas pela placenta do
fruto). As principais características das cultivares semi-deiscentes são
apresentadas na Tabela 8.
Fig. 7. Frutos de gergelim semi-deiscente com
maior retenção das sementes no fruto.
141
Tabela 8. Principais características agronômicas das cultivares de gergelim com frutos
semi-deiscentes (retenção de sementes na cápsula) produzidas pela Empresa Sesaco.
Texas, USA.
- Os dois locais dos ensaios: UV= Uvalde no Texas e CP= Caprock em Lorenzo, Texas.
- As diferentes produtividades da cultura foram influenciadas pelas épocas de plantio, condições meteorológicas,
tratos culturais, umidades e fertilidades de solos.
142
3.4 Fenômeno da pleiotropia
O gergelim, Sesamum indicum L., é uma espécie oleaginosa anual com
formação abundante de flores, cada uma das quais origina um fruto com 40 a 50
sementes, aproximadamente. A domesticação da planta de gergelim é ainda
parcial, pois seus frutos abrem uma vez quando estão secos, através de aberturas
das cápsulas que facilitam a dispersão das sementes, como nas espécies silvestres.
Caso a colheita seja realizada quando o fruto se encontra seco, as perdas de
grãos em campo podem originar redução no rendimento de 15 a 25% (MONTILLA;
MAZZANI, 1966), principalmente quando se emprega o sistema de colheita semimecanizado de duas etapas (corte e trilha), que predomina na Venezuela.
A cultivar Morada Indeiscente apresenta baixa fertilidade, tal como foi
destacado por Berlingeri (2000), o qual é ocasionado principalmente por ter carga
reduzida de pólen sobre o estigma e menor número de tubos polínicos no estilete,
bem como pela incapacidade do órgão feminino em promover o crescimento dos
tubos polínicos - quando comparada com a Morada Deiscente; sua eficiência
reprodutiva é baixa e expressa-se pelo menor número de sementes por fruto e
de flores por axila.
Este conjunto de fatores negativos nas cultivares indeiscentes se deve à
ação de um gen (id) pleiótropo recessivo (LANGHAN, 1946), que ademais produz
deformação nas folhas e flores, desenvolvimento de neoplasias em ambos os
órgãos, deformação das cápsulas e engrossamento do mesocarpo (ASHRI;
LADIJISKI, 1964; DAY, 2000; MAZZANI; HOROVITZ, 1952).
Mazzani e Horovitz (1952), que descobriram que o efeito do gen id é afetado
por genes modificadores, conseguiram materiais genéticos com grandes níveis
de indeiscência e boa fertilidade, os quais permitiram levantar a hipótese de que
os modificadores são de efeitos simples, afetando cada um deles uma
característica em particular, mas, não todas em conjunto e, em conseqüência
disso, poderiam acumular-se os efeitos relacionados com a fertilidade, sem perder
a indeiscência dos frutos. Os modificadores podem alterar substancialmente a
fertilidade das cultivares indeiscentes, chegando ao ponto de se observar uma
ausência de correlação entre a abertura da cápsula e o rendimento de sementes
em alguns casos (DELGADO et al., 1994).
143
Desde o descobrimento do primeiro mutante indeiscente, os melhoristas
têm dado ênfase ao desenvolvimento de cultivares que se adaptem à colheita
mecânica. A obtenção de novas cultivares que retenham as sementes depois da
maturação poderia ser alcançada através do manejo dos seguintes caracteres:
indeiscência dos frutos e/ou sementes fortemente aderidas à placenta ou cápsulas
papiráceas (ARRIEL et al., 2001).
A diferença entre frutos deiscentes e indeiscentes está relacionada com o
número de células do mesocarpo na zona de deiscência. A cultivar indeiscente
de gergelim tem mais camadas de células, média de 11,6 camadas, na zona da
deiscência, contra 1,3 camadas nas deiscentes. A deiscência do fruto tem início
no ápice, em direção à base. A maior ou menor velocidade de deiscência dos
frutos deve ser observada na planta de gergelim, pois, há cultivares cujos frutos
se abrem rapidamente e perdem as sementes, que caem no chão, reduzindo a
produtividade da cultura (BELTRÃO et al., 2001).
A indeiscência ou a semi-indeiscência são os caracteres que oferecem as
melhores possibilidades para resolverem-se problemas de perdas de sementes e
adaptação da cultura à colheita mecanizada. Mazzani e Horovitz (1952) têm
detectado efeitos pleiotrópicos dos genes para indeiscência, que afetam folhas,
flores, frutos, ciclo vegetativo e rendimento, além dos genes modificadores, que
influem sobre a fertilidade e a deiscência dos frutos.
3.5 Clima e solos
O gergelim é uma planta de elevado nível de adaptabilidade, sendo cultivado
atualmente em diversas localidades, entre 25ºS e 25ºN, em áreas com altitude
de até 1.250 m, temperaturas médias do ar entre 23 ºC e 30 ºC e precipitação
pluvial entre 300 e 850 mm anuais bem distribuídos durante o ciclo de cultivo.
Os solos ideais para o seu cultivo são os profundos, de textura francoarenoso, bem drenados e de boa fertilidade natural. A planta apresenta maior
capacidade de produção em solos de pH próximo de 7; não tolera acidez elevada,
pH abaixo de 5,5, nem alcalinidade excessiva pH acima de 8,0. Deve ter 50%
de volume de sólidos - 45% de matéria mineral, 5% de matéria orgânica e 50%
de porosidade -,dos quais 33,5% de microsporos - armazenadores de água - e o
restante, 16,5% de macrosporos - armazenadores de ar -, incluindo o oxigênio,
144
elemento vital para a respiração das plantas (KIEHL, 1979). O gergelim é
extremamente sensível à deficiência ou falta temporária desse elemento no solo
(BELTRÂO et al., 1994), causada pela compactação do ambiente edáfico - que
reduz substancialmente a macroporosidade (poros com diâmetro acima de 50
micras), devido à destruição dos agregados do solo (PRIMAVESI, 1985) - ou pelo
excesso de água - que leva à ausência do oxigênio no ambiente edáfico,
tecnicamente denominada de anoxia. Mesmo que seja temporária, a anoxia
acarreta consequências nefastas para o metabolismo vegetal, especialmente,
com relação à absorção de nutrientes e ao metabolismo dos carboidratos nas
raízes, com surgimento da fermentação (MENGEL; KIRKBY, 1979).
A planta de gergelim, de raiz pivotante, é resistente ao estresse hídrico,
porém, se houver boa distribuição de chuvas (500 mm) no seu período de
crescimento, pode-se obter rendimento superior a 1.000 kg/ha de sementes. A
distribuição ótima seria: 35% da germinação ao florescimento, 45% durante o
florescimento, 20% durante o período de formação dos frutos (maturação) e de
escassez de chuvas (0%) no período de colheita (QUEIROGA et al., 2007).
A topografia do solo pode variar de plana a ondulada, contanto que em
áreas planas não haja problema de encharcamento e nas ondulada ou acidentadas,
práticas de conservação sejam observadas e adotadas para evitar erosão do
solo, ou seja, o preparo do terreno deve ser em curva de nível (Figura 8).
3.6 Preparo do solo
O preparo do solo, para o cultivo do gergelim, realizado de forma correta
desempenha um importante papel na germinação das sementes - em razão do
seu diminuto tamanho - e no posterior crescimento e desenvolvimento das plantas
cultivadas - devido ao seu crescimento inicial muito lento, sobretudo, nos primeiros
25 dias da emergência das plântulas ( BELTRÃO et al., 1994; MAZZANI, 1983).
O gergelim é uma planta que necessita de solo bem preparado, seja
convencionalmente, com o uso de aração e gradagem, seja com técnicas de
preparo mínimo. O importante no preparo do solo é o uso adequado das máquinas
e implementos agrícolas para cada tipo de solo e a operação feita no momento
oportuno. Os solos arenosos ou de textura franco-arenosa, já trabalhados muitas
vezes, no seu preparo, só há necessidade de uma ou duas gradagens (Figura 9).
Fig. 8. Preparo do
solo em curva de nível
em terreno ondulado.
Foto: José da Cunha Medeiros
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Diego Antonio Nóbrega
145
Fig. 9. Preparo do solo para plantio de gergelim apenas com gradagem niveladora.
146
Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
Com respeito à profundidade, ao relevo, ao grau de estrutura e à classe
textural, podem-se adotar dois procedimentos básicos para o preparo do solo,
objetivando mantê-lo mais produtivo, aumentar o controle de plantas daninhas e
armazenar mais água (BELTRÃO et al., 2001). O primeiro, refere-se ao preparo
com o solo seco, em que, inicialmente, deve-se fazer a trituração e a préincorporação dos restos culturais e de plantas daninhas tardias com o uso de
grade, que não seja muito pesada e nem aradora. Em seguida, utiliza-se o arado,
na profundidade de 20-30 cm, dependendo do solo, e, no início das chuvas,
realiza-se o plantio. O segundo, refere-se ao preparo com solo úmido, que é feito
de maneira semelhante à técnica anterior: trituram-se e incorporam-se os restos
culturais e as plantas daninhas com o uso de uma grade leve (Figura 10) ou
niveladora e entre sete e quinze dias após a incorporação, realiza-se uma aração
profunda, dependendo do tipo de solo, usando-se o arado de aiveca, evitando-se
o uso de grade aradora (Figura 11).
Fig. 10. Incorporação dos restos culturais em solo úmido com a grade niveladora.
Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
147
Fig. 11. O uso da grade aradora no preparo do solo deve ser evitado.
O solo não deve ser compactado e o controle de planta daninha deve ser
rigoroso nos primeiros 45 dias após a semeadura. Deve-se dispensar o uso de
grades pesadas e solos com muitos torrões, pois, estes dificultam a semeadura e
a uniformidade de germinação. Recomenda-se o uso de grades leves e a
incorporação de restos de culturas na profundidade entre 10 a 20 cm, em cultivo
de safrinha, após o arroz e o milho.
A profundidade de preparo do solo deve ser modificada em cada período
de cultivo. Se a camada compactada estiver a menos de 30 cm de profundidade,
ela pode ser rompida com arado de aivecas ou arado escarificador (Figura 12),
atuando nesta profundidade (CASTRO; LOMBARDI NETO, 1992). O arado de
aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam
dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há
enterrio total dos restos de cultura. O arado de aiveca produz uma inversão do
solo melhor que a do arado de discos (Figura 13), mas apresenta restrições ao
uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos
de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável
a estas obstruções, pois, o movimento giratório dos discos faz com que eles
girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991).
Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
148
Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
Fig. 12. Preparo do solo
com arado de aiveca ou
arado escarificador.
Fig. 13. Preparo do solo com arado de discos.
149
Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
A subsolagem serve para tornar soltas as camadas compactadas, sem,
entretanto, causar inversão das camadas de solo, devendo somente ser
recomendada quando houver uma camada muito endurecida, em profundidades
não atingidas por outros implementos (Figura 14). Para otimizar a penetração no
solo, alguns subsoladores permitem a regulagem de inclinação das hastes, em
cuja extremidade inferior existe uma ponteira que pode ter diversos formatos,
de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (ALOISI
et al., 1992; GADANHA JÚNIOR et al., 1991, 1992). O arado escarificador é
semelhante a um subsolador, mas, trabalha em profundidades menores, exigindo
menor esforço tratório para execução das operações agrícolas.
Fig. 14. Preparo do solo com arado subsolador.
O processo produtivo do gergelim na região Nordeste do Brasil apresenta
com freqüência falhas na população de plantas no período entre a semeadura e
a emergência das plântulas, que depende das condições pluviais prevalecentes
durante todo ciclo da cultura. Em razão da semente de gergelim ser muito pequena,
na Venezuela recomenda-se preparar a área de gergelim na forma de sulco e
camalhão com a superfície retangular (Figura 15), visando realizar a semeadura
mecânica, principalmente quando se trata de regiões sujeitas a estiagem
prolongada, ou para o caso de solo com sua crosta bastante endurecida (FONAIAP,
1988).
Fotos: Ray Langham
150
A
B
Fig. 15. Preparação de sulco e camalhão com superfície retangular por meio de um
sulcador adaptado e a lavoura do gergelim na fase (A) de plântula e na fase (B) de
planta em adiantado crescimento vegetativo.
Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
Esta tecnologia adotada de sulco e camalhão com superfície retangular é
preparada com o sulcador adaptado (lâmina sobre as asas sulcadoras), o que tem
permitido alcançar o estabelecimento de populações adequadas de plântulas em
pouco espaço de tempo (Figura 16). Vale destacar também que, após as
precipitações, parte da umidade é retida pelo solo e o excesso de água é drenado
pelos sulcos (FONAIAP, 1988).
Fig. 16. Preparação de sulco e camalhão (leirão) com superfície abaulada através do
sulcador.
151
Foto: Diego Antonio Nóbrega
Além do espaçamento de 0,60 m entre leirões, a semeadora empregada
da Figura 17, terá que ser ajustada para que os discos de semeadura (descarga
das sementes) coincidam com o centro do camalhão, sem esquecer sua graduação
na profundidade desejada de 3 cm.
Fig. 17. A semeadura mecanizada do gergelim sobre os camalhões na Venezuela.
3.7 Processo de encapsuladação de sementes
As sementes de gergelim (Sesamum indicum L.) caracterizam-se pelo
pequeno tamanho, pouco peso e formato irregular, o que dificulta a sua
individualização e distribuição, tanto no processo manual quanto mecânico de
semeadura (BELTRÃO et al., 2001). Assim, a semeadura direta de precisão é
extremamente importante para os produtores conseguirem uma população
homogênea de plantas. Esta operação é facilitada quando as sementes pequenas
de gergelim são encapsuladas (uma semente por unidade), visando aumentar seu
peso e tamanho, para que elas fluam facilmente na semeadora (Figura 18).
Fotos: Vicente de Paula Queiroga
152
Fig. 18. Sementes de gergelim normais (à esquerda) e encapsuladas (à direita) utilizadas
para plantio de precisão.
O sistema mecanizado de distribuição de sementes encapsuladas (Figura
19) é um método de precisão muito utilizado para semeadura de sementes pequenas
em lavouras de alta tecnologia, permitindo que o trator trabalhe a grande
velocidade (MAZZANI, 1999). Foi com essa tecnologia que a Espanha conseguiu
expandir a área de produção de beterraba para extração de açúcar, tendo como
objetivo atender a toda demanda do produto consumido pela sua população (Figura
20).
Com a utilização de sementes encapsuladas de gergelim, reduzem- se os
custos de produção durante a fase de plantio, pois, diminui o consumo de sementes,
por facilitar a mecanização da semeadura e por eliminar a prática do desbaste de
plantas excedentes. Soma-se a isto, a possibilidade de incorporação de nutrientes
e outros agroquímicos (fungicidas e inseticidas) durante o processo de
encapsulação, podendo constituir melhorias na sanidade das sementes e no
estabelecimento das plântulas (SUAREZ, 1995). No caso do gergelim não
encapsulado, é necessária a quantidade de 3 kg de sementes para se plantar um
hectare (preço de R$ 6,00/kg), além das despesas com a operação de desbaste.
Embora a técnica de revestimento de sementes tenha sido desenvolvida
há vários anos, as informações referentes à composição dos materiais empregados
e à confecção das sementes recobertas são pouco difundidas, uma vez que esta
técnica permanece inacessível junto às empresas de sementes e às companhias
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Bruno Mazzani
153
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 19. Semeadura mecanizada
com sementes de gergelim
encapsuladas.
Fig. 20. Sementes de beterraba normais e encapsuladas utilizadas pelos produtores da
Espanha.
154
processadoras dos revestimentos das sementes (Exemplo da empresa de PelotasRS: ([email protected]). De acordo com Mazzani (1999), o plantio das sementes
de gergelim com e sem recobrimentos foi comparado entre si, tendo o mesmo
concluído que os resultados de campo acusaram ganhos ligeiramente satisfatórios
em favor das sementes normais (Tabela 9).
Tabela 9. Resultados de germinação das sementes de gergelim normais e encapsuladas
em condições de campo.
No processo de encapsulação de sementes, basicamente se aplicam
sucessivas camadas de material seco e inerte (pó) dentro de uma espécie de
betoneira em constante movimento, dando-lhes formato arredondado, maior
massa e acabamento liso, o que facilita a sua distribuição e o seu manuseio,
especialmente daquelas muito pequenas, rugosas ou deformadas. Vários produtos
adesivos já foram testados em revestimento de sementes pequenas; dos que não
apresentaram efeitos adversos sobre a germinação e crescimento das plântulas
citam-se: composto de material celulósico solúvel em água, amido solúvel em
água, metil-celulose (methocel), goma arábica mais sacarose e celulose mais
hemi-celulose de pasta de madeira (QUEIROGA et al., 2007). Recentemente,
um projeto de pesquisa da Embrapa Algodão para encapsulação de sementes de
gergelim foi financiado pelo BNB.
Segundo Suarez (1995), o encapsulamento das sementes de gergelim têm
demonstrado ser um método eficiente, para lograr melhor manejo do material
por parte dos vários equipamentos comuns de semeaduras (matraca, plantadeiras
à tração animal e motriz, Figura 21). Com o lançamento da primeira cultivar
indeiscente de gergelim desenvolvida pela Embrapa Algodão, previsto para final
de 2009, é possível que essa tecnologia passe a ocupar um espaço no seu
sistema produtivo.
Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
155
Fig. 21. Plantio de sementes
de gergelim encapsuladas nos
seguintes sistemas: mecânico
manual, animal e tratorizado.
Para a variedade de gergelim Aceitera, Suarez (1995) conseguiu uma
encapsulação esférica, polida, com tamanho entre 3,25 mm e 4 mm de diâmetro,
com umidade de 8,2%, com aumento de peso de 1 kg de sementes normais
para 16 kg de sementes encapsuladas. A germinação inicial de 93%, após 4
anos de armazenamento em embalagem hermética, foi reavaliada sobre papel
germitest e o resultado baixou para 78%. Em trabalho realizado com sementes
de algodão, em laboratório, Queiroga et al. (2007) observaram que não houve
perdas na qualidade fisiológica das sementes encapsuladas, mesmo apresentando
uma camada distinta de pó envolvendo as sementes; pois, essa capa de
revestimento rompeu-se facilmente em pouco tempo quando as mesmas entraram
em contato com a umidade do papel de filtro durante o processo germinativo
(Figuras 22 a 25).
Foto: Vicende de Paula Queiroga
Fig. 22. Sementes de algodão
encapsuladas (com e sem corante)
com 6 horas de contato com a
umidade do papel de filtro.
Foto: Vicende de Paula Queiroga
Fig. 23. Sementes de algodão
encapsuladas (com e sem corante)
com 24 horas de contato com a
umidade do papel de filtro.
Foto: Vicende de Paula Queiroga
Fig. 24. Sementes de algodão
encapsuladas (com e sem corante)
com 48 horas de contato com a
umidade do papel de filtro.
Foto: Vicende de Paula Queiroga
156
Fig. 25. Sementes de algodão
encapsuladas (com e sem corante)
com 72 horas de contato com a
umidade do papel de filtro.
157
3.8 Espaçamento e época de semeadura
Os espaçamentos mais comuns utilizados para o cultivo do gergelim estão
entre 0,7 m e 1,0 m entre linhas, com 10 a 12 plantas por metro linear, mas,
para o cultivo mecanizado, alguns produtores têm utilizado espaçamentos a partir
de 0,3 m até 0,73 m entre linhas (MAZZANI, 1999).
Dependendo do espaçamento e da profundidade, os gastos com sementes
são de 2 a 6 kg/ha, podendo ser alterados conforme o estande que se quer
atingir. Por serem sementes pequenas, deve-se ter o cuidado de enterrá-las no
máximo até 3 cm de profundidade para não comprometer a emergência das
plântulas e manter um estande próximo do ideal. No plantio manual com matraca,
deve-se ralear as linhas de plantio, deixando-se 8 a 10 plantas por metro
(BELTRÃO el al., 1989).
Nas demais regiões do Brasil, especialmente no Centro-Oeste e no Sudeste,
onde o período chuvoso é bem definido, o gergelim pode ser utilizado como primeira
ou como segunda cultura, conforme o interesse do produtor. È necessário que
haja sempre sincronia entre o ciclo da cultivar e o período chuvoso, de modo que
a colheita seja realizada na época de seca, para não prejudicar a qualidade da
semente. Para as referidas regiões, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
recomenda plantar as variedades IAC-Ouro, IAC-China e IAC-Guatemala no
período de outubro a novembro e de janeiro a fevereiro. Como tais cultivares
têm boa tolerância à seca, recomenda-se sua utilização na safrinha como cultura
secundária (SAVY FILHO, 2008).
Na região semi-árida do Nordeste, especialmente no município de São
Francisco de Assis do Piauí, PI, o gergelim foi cultivado nos dias 28 e 29 de
janeiro de 2008, em áreas em que a precipitação pluvial variou entre 300 e 500
mm, o atraso de 30 dias na época de plantio (final de fevereiro) entre as Unidades
de Teste e Demonstração (UTDs), foi fator de redução significativa na
produtividade da cultura, a qual passou de 680 kg/ha para 200 kg/ha, segundo
os resultados obtidos nas UTDs por Queiroga et al. (2008).
3.9 Adubação e calagem
O gergelim não tolera solos ácidos, sendo necessária a correção da acidez.
A espécie é exigente em macro e micro nutrientes, e, como cultura de safrinha,
158
deve-se aproveitar ao máximo os restos de cultivos para minimizar os custos
com adubos químicos.
A adubação e calagem para o gergelim devem ser feitas de acordo com a
análise química do solo. O calcário deve ser aplicado para elevar a saturação de
bases a 70% e o teor de magnésio a um mínimo de 5 mmolc/dm3. Segundo Savy
Filho (2008), a adubação mineral do gergelim deve ser nas quantidades
recomendadas na Tabela 10.
Tabela 10. Recomendação da adubação para o gergelim em função da análise química
do solo.
Uma vez constatada a acidez do solo, pela determinação do pH e dosagem
do alumínio trocável, deve-se proceder à correção, com o uso de calcário, de
preferência, dolomítico, que possui de 25 a 30% de CaO e mais de 12% de
MgO, ou por meio do magnesiano, que apresenta de 31% a 39% de CaO e de
6% a 12% de MgO. O calcário deve ser aplicado a lanço, de modo uniforme, e
depois, incorporado até a profundidade de 20 cm. Essa operação deve ser
executada bem antes do plantio, no mínimo dois meses (SANTOS; HERNANDEZ,
1997).
No caso do gesso, que é usado para corrigir solos sódicos e solos salinossódicos, com pH elevado, o radical sulfato liberado da hidrólise, favorece o
abaixamento do pH, formando sulfato de sódio hidratado que é lixiviado, reduzindo,
assim, o problema de sódio no solo (SANTOS; HERNANDEZ, 1997).
159
3.10 Sistemas de plantio
Foto: Luiz Leme
Para tornar essa operação mais fácil e de baixo custo, visando atender
aos produtores familiares, um técnico de Várzea-PB desenvolveu uma semeadora
manual, baseada em equipamentos de plantio de cenoura, cujo sistema de
distribuição das sementes é do tipo cilindro perfurado, feito de tubo de PVC com
diâmetro de 100 mm, colocado sobre um chassi de cano de ferro, dotado de uma
roda de bicicleta, na parte dianteira, de duas rodas pequenas como sulcador,
tendo logo atrás, dois cilindros de descarga de sementes e, no final, duas correntes
como cobridor de sementes (Figura 26). A semeadora aproveita o movimento da
roda para acionar o depósito por intermédio de um eixo. O depósito contém, na
sua parte central, 6 orifícios de 4 mm de diâmetro e, ao girar, movimenta as
sementes, que caem por gravidade através do orifício para dentro do sulco; em
seguida, as sementes são aterradas por duas correntes pequenas. Este mecanismo
apresenta uma aceitável distribuição das sementes, desde que se mantenha uma
quantidade acima de 1/3 da sua capacidade de abastecimento. Para melhor
desempenho da semeadora, o solo deve está bem preparado e isento de torrões,
pedras e restos de vegetação. Nestas condições, a semeadora de duas linhas
tem capacidade de plantar 4 ha em um dia de trabalho, além de dispensar a
operação de desbaste (QUEIROGA et al., 2008).
Fig. 26. Semeadora mecânica manual de duas linhas usada no plantio de sementes de
gergelim.
160
Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Com o plantio mecanizado, solo bem preparado e uso de sementes de
elevado valor cultural, com pureza de 98% e germinação acima de 95%, a
Embrapa Algodão instalou com sucesso um campo de gergelim na Estação
Experimental da Embrapa Algodão, em Missão Velha, CE. Foi feita apenas uma
pequena adaptação na plantadeira da marca Semeato (Figura 27), para o plantio
definitivo no espaçamento de 90 cm entre fileiras, deixando-se de 12 a 15 plantas
por metro linear e sem a operação de desbaste. Para o plantio das pequenas
sementes de gergelim, utilizaram-se os discos recomendados pelo fabricante para
sementes deslintadas de algodão. Esta adaptação consistiu em fecharem-se os
furos dos discos com Durepox e, em seguida, abrirem-se novamente todos eles
através de furadeira e broca de 0,6 polegadas, para re-uso no plantio de gergelim.
Outra opção seria mandar confeccionar um novo conjunto de discos com orifícios
menores.
Fig. 27. Plantio de sementes de gergelim numa plantadeira adaptada no ensaio de
campo da Estação Experimental da Embrapa Algodão de Missão Velha, CE.
O sistema pneumático de distribuição de sementes é um método de precisão
de alta tecnologia e muito utilizado para a semeadura de sementes de gergelim,
permitindo que se trabalhe a grande velocidade (Figura 28). É uma tecnologia
bem mais cara que a dos métodos tradicionais, pois, necessita da tomada de
161
Foto: Jerry Riney
força do trator para seu acionamento, além de requerer cuidado permanente da
estanqueidade do ar e ajustes na seleção das sementes. Existem várias formas
construtivas; a mais comum consiste de um platô vertical com sucção lateral,
em que a face interna fica em contato com um depósito de sementes e, a externa,
recoberta por uma camada onde se cria a sucção por meio de uma turbina, única
para todos os elementos semeadores. A sucção faz a adesão das sementes aos
orifícios do platô, arrastando-as até uma zona de descarga, quando a sucção
desaparece e as sementes caem por gravidade para dentro do sulco. Para evitar
que a sucção transporte várias sementes no orifício, existe uma unha dentada
de posição regulável que limita o número de sementes selecionadas. Os orifícios
do platô são menores que a semente; para sementes hortícolas, existem orifícios
cujo diâmetro varia entre 0,4 e 2 mm. O número de sementes por metro linear é
regulado pelo número de furos do disco e da distância percorrida pela roda motora
para cada volta do disco (SILVA et al., 2001).
Fig. 28. Plantio de gergelim tratorizado pelo sistema pneumático de distribuição de
sementes.
Além de usar a rotação com as culturas de algodão, feijão, soja e milho,
Langham et al. (2006) recomenda utilizar, para semeadura direta do gergelim
em rotação com o trigo, a semeadora da marca John Deere de sistema dosificador
pneumático com 24 bocas de descarga entre as fileiras do cultivo anterior (Figura
29). Esta máquina tem disco especial liso na parte dianteira para cortar as plantas
162
Foto: Jimmy Meeks
daninhas e abrir um sulco muito delgado para colocar o fertilizante. Possui também
outro disco conjugado de borda liso para abrir o sulco de semeadura e um sistema
de dobro disco inclinado para depositar as sementes. E na parte final, tem um
sistema para tapar e prensar o sulco formado pelas duas rodas inclinadas (JOHN
DEERE HARVESTER WORKS, 1992).
Fig. 29. Semeadura direta de gergelim pelo sistema pneumático de distribuição de
sementes em rotação com o trigo.
O mecanismo dosificador é pneumático e para o plantio da semente natural
de gergelim é usado o disco que a firma John Deere recomenda para beterraba
açucareira, nº H-136445 de 45 orifícios, e o disco específico para sorgo, nº A430366 também com 45 orifícios. A roda de terra tem pneumático nº 7.60-15
para um perímetro de 2,20 m, com uma pressão de inflado de 2,8 bar (40 lb/
polegada2). A caixa de câmbio ou jogo de engrenagens tem 5 engrenagens
impulsores e 5 impulsores para 25 alternativas de separação das sementes na
fileira e nos intervalos, alto e baixo, para um total de 50 alternativas de densidade
de plantio em linha (LANGHAM et al., 2006).
Algumas plantadeiras adaptadas de algodão são indicadas por Langham e
Wiemers (2007) para o plantio com sementes de gergelim no Texas, USA, as
quais incluem as seguintes marcas de máquinas e modelos:
163
• John Deere modelo 71 Flex: Disco B-Sorgo 00-30.
• John Deere modelo 800: Disco B-Sorgo 00-30.
• John Deere modelo 80: Disco para sorgo.
• John Deere modelo Max-emerge: disco A-36323.
• John Deere modelo Max-emerge II. Plantadeira a vácuo: Disco para beterraba.
3.11 Herbicida
O gergelim é considerado uma planta de folhas largas (dicotiledônea),
semelhante às outras espécies como girassol, algodão, feijão e soja. Portanto, a
maioria dos herbicidas usados nas mesmas áreas das respectivas culturas
precedentes ao plantio de safrinha do gergelim, não causará problema a essa
subsequente plantação. Se tiver havido falhas com a colheita da cultura anterior,
problemas potenciais podem ocorre com o posterior campo de gergelim
(LANGHAM et al., 2008).
O controle químico de plantas daninhas é feito através de herbicidas, e
vários fatores devem ser considerados, entre eles, a composição textural do solo
e teor de matéria orgânica; solos com baixo teor de argila (menor que 15%) e
com baixo teor de matéria orgânica (menos de 2%) devem receber doses menores
que os solos com elevado teor de argila (acima de 35%) e com elevado teor de
matéria orgânica (acima de 4%). É importante também conhecer os tipos de
ervas predominantes (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Os herbicidas (diuron, pendimenthalin, e alachlor), testados no gergelim
são, na maioria, pré-emergentes. O produtor deve preparar a área, plantar em
solo úmido e, logo depois aplicar o herbicida. Os herbicidas Diuron e Pendimenthalin
foram testados em pré-emergência, em solo Bruno não cálcico, de textura francoarenosa; nestas condições, as dosagens de 0,50 kg (diuron) + 0,75 kg
(pendimenthalin) do ingrediente ativo/hectare foram suficientes para um bom
nível de controle das plantas daninhas. Em solo tipo Vertissolo de textura argilosa,
além dos herbicidas citados acima, usou-se o Alachlor. As seguintes dosagens
foram suficientes para um excelente nível de controle de plantas daninhas:
O,75 kg (diuron) + 1,25 kg (pendimenthalin) e 0,75 kg (diuron) + 1,44 kg
(alachlor) do ingrediente ativo/hectare. Nestas condições, o custo da capina
química proporcionou, uma redução média de 73%, em relação ao custo da
capina manual, com enxada (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
164
Quando se usa o herbicida na lavoura do gergelim, deve-se ter o cuidado
para se cobrir bem as sementes com terra e elas não ficarem muito na superfície,
como 1 a 1,5 cm, pois, dependendo das características químicas e físicas do
herbicida, poderá haver lixiviação; conseqüentemente, o produto pode entrar
em contato com as sementes e danificá-las. De acordo com Weiss (1983), o
ideal é colocar as sementes de 3 a 5 cm de profundidade e esse ajuste dependerá
do tipo de solo.
Segundo Saad (1972), o importante é usar o herbicida correto para cada
situação, a qual envolve dosagens, época de aplicação e vazão de calda, com o
pulverizador em pleno estado de funcionamento e calibrado, com o tipo de bico
recomendado para a formulação do produto, bem como o melhor filtro a ser
utilizado.
Fotos: Ray Langham
Com base no tamanho da área plantada, o herbicida pode ser aplicado por
diferentes tipos de pulverizadores mecânicos (SAAD, 1972; Figura 30). Mesmo
assim, a escolha desse equipamento pelo produtor está praticamente associada
às suas condições financeiras, uma vez que seu emprego fica restrito apenas
A
C
B
Fig. 30. Aplicações de herbicidas em préemergência na cultura do gergelim com os
seguintes equipamentos: A) pulverizador
de herbicida manual com sistema de
bombeamento movido por rodas, B)
pulverizador de herbicida a tração animal
com sistema de bombeamento movido por
rodas, e C) pulverizador de barra tratorizado
aplicando o herbicida de pré-emergência
após a semeadura do campo de gergelim.
165
aos produtos herbicidas; isso porque muitos produtores não sabem lavá-lo
convenientemente, visando usá-lo corretamente no combate de pragas da lavoura
com os inseticidas.
Foto: Odilon Reny Ribeiro
Ainda vale destacar que no município de São João do Sabugi-RN, os
produtores estão realizando a capina da lavoura de gergelim (espaçamento de
90 cm entre fileiras) com os mini-tratores cultivadores, do tipo Tobatta com uma
bitola de 80 cm, alugados de uma associação de pequenos produtores do referido
município (Figura 31). O produtor paga R$ 12,00 /hora de serviço prestado para
essa associação, já incluindo o operador da máquina; o rendimento por hectare
do mini-trator fica em torno de 6 horas (R$ 72,00).
Fig. 31. Mini-trator cultivador utilizado pelos produtores de São João do Sabugi, RN
para capinar os campos de gergelim.
3.12 Irrigação
O gergelim é extremamente sensível ao encharcamento e, segundo Weiss
(1983), o excesso de umidade em qualquer estádio do desenvolvimento da cultura
aumenta a incidência de doenças fúngicas, reduzindo sua produtividade.
Geralmente, o gergelim oferece mais retorno para o produtor com menor custo
(menor risco) do que a maioria das outras opções de culturas (LANGHAM et al.,
2008).
166
Foto: Nair Helena de Castro Arriel
Langham et al.(2006) têm afirmado que o gergelim é uma das culturas
mais tolerantes à seca do mundo, mas, as mais altas produtividades - 2,5 kg/ha
ou mais - são obtidas quando a cultura se desenvolve sob condições irrigadas,
principalmente nas regiões áridas (Figura 32), pois, o clima quente e seco é mais
favorável à cultura, uma vez que a baixa umidade reduz a incidência de doenças
fúngicas (BEECH, 1981).
Fig. 32. Campo de gergelim irrigado pelo sistema de pivô central na propriedade
Bebida Velha, Touros, RN.
Com relação ao cultivo do gergelim, Langham (2008) cita dois tipos. O
primeiro tipo de gergelim refere- se às cultivares adaptadas para as regiões áridas
e secas, as quais poderão ser susceptíveis a muitas doenças se forem plantadas
em zonas úmidas; o segundo tipo, refere- se às cultivares desenvolvidas para
regiões mais chuvosas que, se forem cultivadas em ambiente seco, irão apresentar
baixo desempenho produtivo.
Com relação aos sistemas de irrigação, Langham (2008) recomenda três,
para o cultivo dessa oleaginosa - sulco, aspersão convencional e pivô central.
Para o sistema de sulco, a recomendação é que as irrigações no gergelim sejam
rápidas e leves e o turno de rega, freqüente. Deve-se dar preferência aos métodos
de irrigação por superfície quando a quantidade de água não é limitante, a fonte
se encontra numa posição mais elevada do que a área a ser irrigada, a declividade
167
Foto: Ray Langham
não for acentuada nem o solo arenoso (Figura 33). Ele constatou que, na ausência
de chuva no ciclo da cultura, há necessidade de uma pré-irrigação realizada
durante a semeadura (mantendo a lâmina de água retida no sulco) e que as
demais irrigações (deixando-se o excesso de água do sulco escorrer no final do
processo) , poderão ser realizadas até a quinta semana, em uma ou duas irrigações,
com intervalo de 10 a 16 dias. Havendo ocorrência de 50 mm ou mais de chuvas,
dentro desse intervalo estabelecido, essa chuva ocasional pode ser considerada
como substituto da irrigação pelo método de sulco.
Fig. 33. Campo de
gergelim irrigado
por sulco no
Texas, USA
Quando houver necessidade de bombeamento e a água não for salina, a
aspersão convencional é o método de irrigação que tem mais chance de ser
usado pelos pequenos produtores de gergelim no Nordeste do Brasil.
Utilizando-se o método de irrigação por pivô central, uma lâmina de água
de 50 a 100 mm poderá ser aplicada, dependendo da quantidade de umidade
existente no perfil do solo. Langham (2008) verificou que, se uma pré-irrigação
for realizada durante a semeadura e não ocorrer chuva no ciclo da cultura, as
demais irrigações deverão ser efetuadas até a quinta semana, em duas ou três
irrigações com a lâmina de água entre 25 mm e 38 mm, em intervalo de 7 a 12
dias. Havendo ocorrência de 38 mm ou mais de chuva, dentro desse intervalo
168
estabelecido, essa chuva ocasional pode ser considerada como substituto da
irrigação pelo método de pivô central.
Este número de irrigações e seu intervalo dependem do solo. Em solos
leves, a planta do gergelim necessita de irrigações com mais freqüência. Langham
(2008) recomenda, ainda, que a irrigação pelo sistema de pivô central seja
encerrada quando for atingido 50% da capacidade de floração da planta, o que
ocorre entre 70 e 80 dias, dependendo da cultivar Sesaco utilizada. Atualmente,
as variedades Sesaco 26 e Sesaco 28 são as mais indicadas para irrigação. O
mesmo autor admite que a sub-irrigação é mais satisfatória para o desenvolvimento
da planta do gergelim que o excesso de irrigação, mas, é necessário impor-se
certo estresse hídrico às plantas, para que as raízes se tornem mais profundas.
3.13 Controle de doenças
A cultura do gergelim apresenta suscetibilidade a várias doenças (FRANCO,
1970), algumas das quais de grande importância econômica. No Brasil, as doenças
fúngicas, como a cercosporiose, a mancha angular, a podridão negra do caule e
a murcha de Fusarium, constituem as principais doenças que ocorrem em áreas
de cultivo. O grau de severidade de ataque das doenças é determinado,
principalmente, pela suscetibilidade das cultivares, das condições ambientais e
da idade da planta na época da infecção.
a) Mancha de cercospora
O agente etiológico desta doença é o fungo Cercospora sesami Zimm,
pertencente à classe Deuteromycetes, ordem Moniliales e família Dematiaceae.
Alta umidade relativa do ar e precipitação pluvial elevada concorrem para o
maior desenvolvimento da doença. O fungo é transmitido através da semente,
tanto externa como internamente (CARDONA, 1943; MALAGUTI, 1973); o
patógeno penetra no interior da cápsula e alcança as sementes (Figura 34),
tornando-as enegrecidas. As lesões encontradas nos cotilédones das plântulas
apresentam abundante inóculo do patógeno, o qual dará origem às infecções
secundárias (MALAGUTI, 1973).
169
Sintomas
Fotos: Fernando Antônio Souto Batista
Nas folhas e frutos, os sintomas caracterizam-se pela presença de manchas
arredondadas, mais ou menos regulares, com o centro de coloração cinza-claro a
esbranquiçado e bordas marrons. Nos caules e pecíolos, as lesões são largas e
elípticas, chegando a formar cancros com áreas necrosadas e deprimidas. Quando
a doença incide severamente, as plantas ficam quase que totalmente desfolhadas
(LIMA; BATISTA, 1997).
Fig. 34. Manchas foliares (à esquerda) e manchas nas cápsulas (à direita) causadas
por Cercospora sesami.
Para evitar a disseminação do fungo para áreas onde não ocorre a doença,
recomenda-se a utilização de sementes sadias, livres do patógeno. O tratamento
das sementes com fungicidas, à base de Carbendazin e Tiofanato metílico, pode
ser empregado para o controle (KUROZAWA et al., 1985).
Pulverizações preventivas com fungicidas que tenham, como ingrediente
ativo, o sulfato de cobre, quando as plantas atingirem a altura de 25-30 cm, têm
proporcionado controle eficiente desta doença (CARDONA, 1943; MALAGUTI,
1973).
170
O uso de cultivares resistentes é o método de controle mais eficiente e
econômico. O estudo do comportamento de diferentes cultivares comerciais e
daquelas pertencentes à seleção de germoplasma, realizado na Venezuela,
evidenciou que aquelas testadas foram suscetíveis (MALAGUTI, 1973). Enquanto
Arias (1987) observou que as variedades Maporal, Morada indeiscente, Acarigua
e Inamar mostraram-se menos suscetíveis. No Brasil, Kurozawa et al. (1985)
verificaram que todas as cultivares testadas existentes no país apresentavam
suscetibilidade à moléstia; dentre elas a Morada e a Morada Indeiscente
comportaram- se como as mais resistentes em condições de campo.
b) Mancha angular
A doença é causada pelo o fungo Cylindrosporium sesami Hansford,
pertencente à classe Deuteromycetes, ordem Melanconiales e família
Melanconiaceae. Além do gergelim, este patógeno pode afetar também a soja
(COOK, 1981). O C. sesami é transmitido através da semente (MALAGUTI,
1973; ORELLANA, 1961), que é responsável pela disseminação do inóculo de
um local para outro. A propagação da doença na área plantada ocorre por meio
da disseminação dos esporos através do vento, da chuva e do homem; alta umidade
(85%) e temperaturas acima de 22% são condições ideais para a proliferação
da doença (MALAGUTI, 1973). O fungo penetra nas folhas através de aberturas
naturais e, uma vez colonizados, os tecidos formam acérvulos subepidermais de
cor clara, de onde crescem conidióforos curtos, simples que dão lugar a conídios
hialinos filiformes, retos ou curvados e multiseptados (Figura 35).
Sintomas
A doença apresenta-se em plantas adultas, afetando geralmente as folhas,
e caracterizam-se pela presença de lesões angulares, poligonais e irregulares,
limitadas quase sempre em um ou mais lados pelas nervuras. Estas lesões
apresentam coloração parda ou pardo-escura e são uniformes, com tonalidade
mais clara na face inferior da folha. Estruturas do patógeno podem ser encontradas
em ambas as faces da folha, sendo mais abundantes na face adaxial. A mancha
angular afeta com maior intensidade, folhas baixas mais velhas, localizadas no
terço inferior das plantas, induzindo à desfolha nesta região (LIMA; BATISTA,
1997).
Fotos: Fernando Antônio Souto Batista
171
Fig. 35. Sintomas foliares de mancha angular em gergelim.
Para o controle desta doença, recomenda-se a desinfecção das sementes
(MALAGUTI; CICCARONE, 1967); contudo, o controle mais eficiente e econômico
é a utilização de cultivares resistentes (FERRER, 1960; ORELLANA, 1961). Nos
cultivos em áreas de baixa umidade relativa (< 60%) e altas temperaturas
(>28°C), os danos foliares são mínimos.
Estudos realizados, por Lima e Soares (1992), em 16 cultivares de gergelim,
evidenciaram diferenças significativas quanto ao nível de resistência a esta doença,
tendo as cultivares Seridó 1 SM2 e CNPA G2, comportado-se como as mais
resistentes. Entretanto, para a cultivar CNPA G2 têm-se observado um aumento
crescente dos danos causados pela doença.
c) Podridão negra do caule
A doença é causada pelo fungo Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid,
cujo estágio esclerocial corresponde a Sclerotium batatícola Taub. Este fungo
172
pertence à classe dos Deuteromycetes, ordem Sphaeropsidales e família
Sphaeropsidaceae. Macrophomina phaseolina; afeta mais de 500 espécies
cultivadas e não cultivadas em diferentes partes do mundo (WEISS, 1983), dentre
as quais a mamoneira, o algodoeiro, o feijoeiro, a soja, o girassol, o milho e várias
outras espécies de plantas de importância econômica.
Sintomas
Fotos: Fernando Antônio Souto Batista
Os sintomas caracterizam-se pela presença de lesões de coloração marromclara nos caules e ramos da planta, que podem circundar os referidos órgãos ou
neles se estenderem longitudinalmente, podendo alcançar o broto terminal da
planta (Figura 36). À medida que o dano avança, ramos, cápsulas e folhas secam.
As plantas afetadas murcham e morrem (LIMA et al., 1997).
Fig. 36. Lesões de coloração marrom-clara nos caules (à esquerda) e ramos (à direita)
da planta.
173
O desenvolvimento da doença e o crescimento do patógeno são favorecidos
sob condições de altas temperaturas (20°C a 35°C) e baixa umidade do solo. O
nível de infecção é agravado em solos arenosos onde a capacidade de retenção
da água é menor; baixa disponibilidade de potássio no solo também está relacionada
a um alto índice desta moléstia (WEISS, 1983; PINEDA e AVILA, 1990). Para
evitar a introdução deste patógeno em áreas onde a doença não ocorre, devemse utilizar sementes sadias, provenientes de campos isentos da doença.
De acordo com Pineda e Ávila (1990), o fungicida Propineb, usado no
tratamento de sementes, na dose de 1% em combinação com o tratamento do
solo com o herbicida Alachlor, pode reduzir a população de M. phaseolina no solo
e, conseqüentemente, a percentagem de plantas afetadas pela podridão negra.
Fertilizações ricas em nitrogênio favorecem a redução da densidade do inóculo.
Al-Beldawi et al., citados por Cook (1981), conseguiram diminuir,
substancialmente, a incidência da doença em condições experimentais, adicionando
Benomyl ao solo infestado, numa proporção de 0,3-2,4g para 5kg de solo.
Experimentos em laboratório, realizados por Lima et al. (1997), comprovaram a
eficiência do Benomyl e do herbicida Alachlor no controle deste patógeno.
Embora, o uso de cultivares resistentes pareça ser o método de controle
mais eficiente, não se dispõe de genótipos de gergelim que apresentem alto nível
de resistência a esta doença. Pesquisas realizadas por Al-Ani et al. (1970)
concluíram que todas as cultivares avaliadas apresentaram suscetibilidade a esta
doença; dentre estas, a Gheza 10 e a Gheza 23 comportaram-se como as menos
suscetíveis. Segundo Mazzani (1999) a espécie S. radiatum e diversos cultivares
africanos se constituem em importante fonte resistência ou tolerância às doenças
do gergelim.
Estudos realizados por Urdaneta e Bauer (1981) em diferentes regiões do
México, constataram que, dentre vários genótipos de gergelim avaliados os
cultivares Calinda, Eva, Oro, Verde Nacional, Rubio de la Huacana e Instituto 71,
comportaram-se como as mais resistentes.
Segundo Correa (1990) as cultivares colombianas de gergelim, ICA
pacande, ICA Ambalá, ICA Matoso e SESICA M. 11, são tolerantes à podridão
negra do caule. Na Venezuela, foram desenvolvidas as cultivares resistentes
Maporal, Arawaca e Aceitera (MAZZANI et al. 1981; MONTILLA et al. 1990).
174
No Brasil, pesquisas realizadas por Arriel et al. (1997) evidenciaram que a
maioria dos genótipos avaliados foram suscetíveis. Os genótipos Ahnsan, Morada
6717, Tasso 8, CNPA Joro 11, CNPA 86-101, CNPA 86-77, CNPA 86-131,
Zirra FAO e Seridó 1 SM apresentaram os menores níveis de infecção, enquanto
a Inamar e a SB-S-5-LP-85 comportaram-se como tolerantes à doença.
d) Murcha de Fusarium
A doença é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sesami Cast.,
pertencente à classe Deuteromycetes, ordem Moniliales e família
Tuberculariaceae.
Quando o fungo se estabelece nos vasos do xilema passa a segregar enzimas
pectolíticas que atuam sobre substâncias pécticas dos vasos vasculares ocorrendo
a produção de melaninas de coloração parda, que são absorvidas pelas paredes
lignificadas dos vasos xilemáticos, dando lugar à coloração marrom, que é
característica da presença da enfermidade, conforme Figura 37.
Sintomas
Os sintomas caracterizam-se pela flacidez e pela murcha das plantas, as
quais, posteriormente, morrem e secam. Por meio de um corte transversal feito
no caule de uma planta doente, pode-se observar o enegrecimento dos tecidos
do sistema vascular. A doença incide em qualquer estádio de desenvolvimento
da planta, desde a fase de plântula até a maturação (MALAGUTI, 1959).
O fusarium é um fungo de solo e vive saprofiticamente em restos de cultura,
podendo sobreviver por longos períodos sob a forma de esporos de resistência,
os clamidosporos; a sua disseminação ocorre, principalmente, através de partículas
de solo contaminado e pela água de chuva ou de irrigação; a disseminação a
longas distâncias é facilitada pelo fato de o patógeno infectar as sementes tanto
via interna como externa (ABD EL CHANY et al., 1970).
Aliados ao uso de cultivares resistentes, a rotação de cultura, a eliminação
de restos culturais, a aplicação de calcário dolomítico e a fertilização rica em
nitrogênio e fósforo são medidas que podem auxiliar na redução da densidade de
inóculo do patógeno no solo.
175
Foto: Fernando Antônio Souto Batista
A cultivar Aceitera é resistente à doença (MAZZANI et al., 1981), enquanto
as Glauca, Acarigua, Morada e Venezuela 51 são moderadamente resistentes
(FRANCO, 1970).
Fig. 37. Planta afetada pela
murcha de Fusarium.
3.14 Controle de pragas
Em geral, o gergelim é afetado por inúmeros insetos, a maioria polífagos
que afetam outras plantas, especialmente oleaginosas. A seguir serão
apresentados a caracterização dos danos das principais pragas do gergelim
constatadas em lavouras brasileiras e o seu controle.
a) Lagarta enroladeira - Antigastra catalaunalis (Duponchel)
(Lepidoptera: Pyralidae)
Caracterização do dano
As lagartas enrolam as folhas terminais e, dentro delas tecem teias,
alimentando-se de brotos, flores, cápsulas imaturas e sementes. Atacam o cultivo
176
Fotos: Lúcia Helena Avelino Araújo
a partir dos 15 dias de crescimento até o amadurecimento das cápsulas. No
estágio inicial, os maiores danos ocorrem nas folhas e nos ramos terminais,
originando crescimento atrofiado (Figura 38). Altas infestações fazem a planta
parecer enferma e de aspecto sujo. Uma lagarta pode destruir 2 a 3 plantas
jovens. Na floração, as lagartas alimentam-se das flores, causando sua infertilidade
e reduzindo grandemente a produção (TOVAR et al., 2000).
Fig. 38. Danos ocasionados pela lagarta enroladeira no ápice da planta (superior) e na
cápsula (inferior).
Controle: plantio antecipado, para regiões com estações chuvosas definidas;
eliminação das ervas daninhas próximo ao cultivo, já que estas servem de
hospedeiras para a praga (APONTE, 1990); uso dos inseticidas deltamethrin ou
carbaril, aplicados durante os estágios de crescimento da cultura anteriores à
frutificação (CHOUDHARY,1986; VIEIRA et al.,1986). Choudhary (1986)
observou que o incremento diário de um grau à temperatura máxima provocou
considerável declínio na infestação de A. catalaunalis.
b) Cigarrinha Verde - Empoasca sp. (Homoptera: Cicadellidae)
Caracterização do dano
Os danos caracterizam-se pela sucção da seiva e pela inoculação de toxinas,
que comprometem o desenvolvimento da planta e de sua produção. As plantas
177
Fotos: Lúcia Helena Avelino Araújo
atacadas apresentam as folhas com uma coloração verde-amarelado, com bordas
enroladas para baixo e estiolamento dos ramos tenros. Quanto mais cedo este
inseto for controlado, menores serão os danos na produção (Figura 39). São
agentes transmissores de viroses e da filoidia do gergelim, especialmente quando
existem lavouras de feijão macassar (Vigna unguiculata L. Walp.) e malváceas
(guaxumas e vassourinhas) infectadas com viroses em áreas próximas ao plantio
(BELTRÃO e FREIRE, 1986).
Fig. 39. Danos causados pela cigarrinha verde
Controle: o controle químico deve ser efetuado com inseticidas sistêmicos,
à base de demeton-metílico, thiometon ou pirimicarb (Beltrão e Freire, 1986).
c) Pulgão - Aphis sp.; Myzus persicae (SULZER, 1776) (Hemiptera:
Aphididae)
Trata-se de uma praga importante, em particular nas culturas conduzidas
sob irrigação e/ou consorciadas com algodoeiro; contudo, seu ataque está mais
ligado às condições climáticas - dias nublados, quentes e relativamente úmidos,
favorecem o seu aparecimento (Figura 40).
Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Foto: Sérgio Cobel
178
Fig. 40. Colônia de pulgões em folhas de
gergelim.
Caracterização do dano
Inicialmente, seu ataque se concentra em reboleiras e, depois, atinge toda
a plantação; encontram-se, preferencialmente, na face inferior das folhas e quando
o ataque é severo ocorre a paralisação do crescimento das plantas. Ao sugarem
a seiva, os pulgões retiram o açúcar da planta, excretando-o em forma de melado,
que recobre as folhas e, posteriormente, servirá de substrato para o
desenvolvimento do fungo denominado vulgarmente "fumagina", o qual impede
a fotossíntese. São eficientes transmissores de viroses (GONDIM et al.,1993).
Controle: aplicação de inseticidas sistêmicos quando houver necessidade
para que não se elimine a população de inimigos naturais, como os parasitóides
(Lysiphlebus testaceipes (Figura A), Aphidius spp.) e predadores (Cycloneda
sanguinea (Figura B), Chrysoperla externa (Figura C), Orius sp. (Figura 41). Chuvas
intensas diminuem as populações de pulgões.
Foto: Sérgio Cobel
Fotos: A e B - Lúcia Helena Avelino Araújo
179
Fig. 41. A) Ninfas de pulgões parasitados
pela vespinha Lysiphlebus testaceipes; B)
Larva de joaninha Cycloneda sanguinea;
C) Adulto de Crysoperla externa
d) Mosca branca - Bemisia argentifolii (BELLOWS; PERRING,1994);
Bemisia tabaci (Gennadius,1889) (Homoptera, Aleyrodidae).
Caracterização do dano
O dano direto ao cultivo é provocado tanto pelo inseto adulto como pelas
ninfas, que se estabelecem em colônias na face inferior das folhas, onde sugam
a seiva da planta (Figura 42). Altas infestações da praga definham as plantas,
provocando "mela", um complexo de açúcares, que promove o crescimento de
fungos saprófitas, geralmente do gênero Capnodium, ocasionando o aparecimento
da "fumagina" sobre folhas, ramos e vagens, reduzindo a capacidade fotossintética
da planta (VILLAS BOAS et al.,1997).
Fig. 42. Adultos de mosca
branca (superior) e Ninfas de
mosca branca (inferior).
Foto: Lúcia Helena Avelino Araújo
Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
180
Controle: eliminar as ervas daninhas próximas ao cultivo; evitar plantar
gergelim próximo a lavouras infestadas com a praga; fazer barreiras com milho
ou sorgo forrageiro, servindo de quebra-vento e, também, utilizar inseticidas para
adultos e ninfas de mosca branca; utilizar detergentes neutros (160ml/20litros
d'água) ou óleos (0,5 a 0,8%) ou sabões, para redução do número de ninfas, em
pulverizações dirigidas à parte inferior da folha. Esta pulverização deve ser feita
cedo da manhã ou após as 16:00 horas para evitar fitotoxidade; não repetir o
mesmo princípio ativo nem usar mistura de produtos, pois esta prática facilita o
aparecimento de resistência a inseticidas (ARAUJO et al., 1998).
e)Saúvas -Atta spp.(Hymenoptera, Formicidae)
Os prejuízos causados pelas formigas cortadeiras são consideráveis, pois,
cortam as folhas e ramos tenros, podendo destruir completamente as plantas na
181
Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
sua fase inicial de desenvolvimento (Figura 43). O controle químico, através de
iscas tóxicas granuladas, é muito utilizado, mas deve ser evitado em dias chuvosos
e solos úmidos. As iscas devem ser distribuídas em porções ou dentro de portaiscas, ao lado dos carreiros ativos. É importante que vistorias freqüentes sejam
realizadas na área de plantio (MARICONI, 1990). Em áreas recém desmatadas
deve-se, efetuar o controle das saúvas para evitar falhas na lavoura (BELTRÃO
et al., 1994).
Fig. 43. Ataque de formigas saúvas (Atta
spp) em cultivo de gergelim.
182
Por outro lado, é importante que o produtor efetue inspeções periódicas
na área, pois, uma vez fora de controle, dificilmente algum método, mesmo o
químico trará resultados satisfatórios no combate das pragas (BELTRÃO; VIEIRA,
2001). Na Tabela 11, encontram-se listados alguns produtos químicos sugeridos
para o controle das principais pragas do gergelim.
Tabela 11. Produtos químicos sugeridos para o controle das pragas do gergelim.
AT - Altamente tóxico; MT - mediamente tóxico; PT - pouco tóxico; PNT - Praticamente não tóxico
Dependendo do tamanho do campo de gergelim, as pulverizações contra
as pragas poderão ser realizadas com os seguintes tipos de equipamentos (Figura
44): pulverizador costal (até 3 ha), pulverização electrotástica com o Electrodyn
(até 5 ha), pulverizador a tração animal (até 10 ha), pulverizador tratorizado de
barra (entre 50 a 100 ha) e pulverização por avião (acima de 100 ha).
Fotos: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva
183
A
B
C
D
E
F
Fig. 44. Diferentes pulverizadores utilizados no controle de pragas do gergelim: A)
pulverizador costal, B) electrodyn, C) pulverizador a tração animal, D, E) pulverizador
tratorizado tipo barra e F) pulverização por avião.
- Obs: O recipiente do electrodyn pode ser reabastecido com: 50% de óleo bruto de
algodão (ou óleo de girassol) + 50% de Endosulfan
3.15 Formação de quebra-ventos com plantas de neem e preparação
de bioinseticida
Estudando o efeito das barreiras de quebra-ventos sobre o desempenho
produtivo das plantas deiscentes de gergelim na Venezuela, Moreno (1985)
184
constatou que o rendimento de sementes foi 47% superior para as planta que
cresceram sem proteção, quando esse campo foi protegido por quebra-ventos
altos, e de 39%, quando a proteção do campo foi feita com barreiras de porte
médio (Tabela 12). Esta proteção média contra os ventos pode ser obtida com
plantio de neem no espaçamento de 2,5 m a 3,0 m entre covas (Figura 45); a
proteção alta, pode ser obtida plantando-se alternadamente o neem e eucalipto,
no espaçamento de 3 metros entre covas.
Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Tabela 12. Alturas dos quebra-ventos utilizadas nos campos de gergelim deiscentes
da Venezuela e suas influências sobre o rendimento de sementes.
Fig. 45. Quebra-ventos com plantas de neem para proteção média da lavoura de
gergelim: A) Barreira adensada, com espaçamento de 2,5 m entre plantas e B) Barreira
pouca adensada com espaçamento de 4 m.
185
A influência dos ventos sobre as perdas de frutos das plantas de gergelim
foi observada por Langham (2008), o qual verificou, em campo, que as cápsulas
sofriam fricção das hastes e dos ramos por influência dos constantes ventos de
uma determinada região, o que provocava a queda dos frutos da planta. As
vezes, embora alguns frutos em atritos com os ramos possam permanecer fixos
às plantas, pode ocorrer escurecimento da superfície do epicarpo (área lesionada),
o que poderá provocar o amadurecimento precoce; no caso da cultivar deiscente,
as sementes das cápsulas lesionadas vão cair no chão mais cedo (amadurecimento
fisiológico desuniforme). Dependendo da intensidade dos ventos, Langham (2008)
admite que em um campo de gergelim mais adensado, perdas dos frutos podem
chegar a 70%. Este fato ocorreu no sul da França, o que inviabilizou seu plantio
naquele País.
O neem, que pode se usado como barreira vegetal (quebra-ventos) e como
cerca viva ecológica, é considerado a planta das mil e uma utilidades. O composto
ativo, o Azadirachtina indica, repele os insetos e controla-os, impedindo sua
metamorfose em fase de larva. Os insetos que se mostraram mais sensíveis ao
neem foram lagartas, pulgões, cigarrinhas e besouros mastigadores. Resultados
de pesquisa já comprovaram seu efeito sobre as larvas e pupas da lagarta-docartucho do milho, curuquerê do algodoeiro, ácaros, bicho-mineiro e cochonilhas.
Além de inseticida, a planta de neem atua como como repelente, inibidor de
crescimento de pragas, fungicida e nematicida.
O uso do neem poderá controlar as pragas do gergelim e reduzir seus
custos de produção. Em razão disso, a Embrapa Algodão recomenda adquirir
mudas de neem para serem plantadas pelos produtores das regiões Nordeste,
Centro-Oeste e Sudeste. Para atingir a auto-suficiência na produção de
bioinseticidas a base de neem, é necessário apenas manter uma ou duas fileiras
de plantas de neem em redor do campo do gergelim, visando também reduzir as
perdas de frutos das plantas e/ou sementes das cápsulas pela ação do vento.
Langham (1999) afirma que o neem está habilitado para ser usado na cultura do
gergelim, após seu reconhecimento pelo Departamento de Agricultura dos USA
para controle de pragas (bio-inseticida).
Antes do plantio do gergelim, os próprios produtores devem preparar
preventivamente o macerado de neem para combater as pragas na fase inicial
de infestação (lagartas ainda pequenas, pulgões, cochonilhas na fase larval,
186
Foto: Vicente de Paula Queiroga
cigarrinha, mosca-branca na fase de ninfa, etc), pois, as mesmas são mais
vulneráveis à ação dos bioinseticidas. Recomenda-se guardar a solução de neem
em depósito de plástico lacrado (Figura 46) para evitar a perda do seu princípio
ativo e armazenar a solução na quantidade suficiente para uma ou duas
pulverizações no campo de gergelim.
Fig. 46. Armazenamento preventivo
da solução de neem em depósito de
plástico como estratégia de controle
das pragas do gergelim
O rendimento dos frutos do neem varia entre 25 e 50 kg por árvore, de
acordo com temperatura, umidade, tipo de solo e genótipo da planta.
Normalmente, 50 kg de frutos maduros têm cerca de 30 kg de sementes, as
quais produzem em média 6 kg de óleo e 21 kg de pasta. Cada quilograma de
sementes secas contém, aproximadamente, 3.000 unidades (SOARES et al.,
2003).
Depois do despolpamento dos frutos, as sementes de neem devem ser
colocadas ao sol, em camadas finas, sobre terreiros cimentados. Deve-se evitar
o contato delas com a umidade, para não ocorrer mofamento. Esta operação
requer um único dia de sol, já que, posteriormente, as sementes devem ser
transportadas para locais sombreados, onde permanecerão cerca de oito dias.
187
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Os extratos de neem podem ser preparados com a simples trituração das
sementes ou frutos frescos, em água, deixando-se a mistura descansar por 24
horas, filtrando-se o líquido e pulverizando-o sobre as áreas infestadas. O mesmo
procedimento pode ser utilizado para folhas frescas ou secas (Figura 47), embora
a Azadirachtina nesse caso, ocorra em menor concentração (SOARES et al.,
2003).
Fig. 47. Operário colocando as
folhagens de neem (cortadas)
dentro do tambor para preparo de
solução
Outro cuidado de suma importância, ao final do processo de secagem, é o
recolhimento e o acondicionamento das sementes do neem em sacos de aniagem,
para permitir boa aeração e evitar o aparecimento de fungos patogênicos, que
possam causar deterioração das mesmas.
Satisfeitas essas condições básicas, as sementes de neem podem ser
armazenadas por mais de um ano.
As recomendações dos preparos dos macerados de neem, para sementes
despolpadas e folhagens com talos tenros, estão indicadas, respectivamente,
nos trabalhos de Dantas (2001) e Soares et al. (2003).
188
Preparo de macerado para lagartas, pulgões, cigarrinha-verde e moscabranca:
a) Sementes despolpadas
•
• Em primeiro lugar, os frutos são coletados e despolpados;
• Após isso as sementes são secas, raladas e imersas em água;
• Na proporção de 30 a 40 g de sementes por litro de água;
• Deixar em repouso por dois dias para cura;
• Coar, acrescentar 10 mL de detergente neutro e completar o volume do
pulverizador com água;
• Para o pulverizador de 20 litros, são necessários 700 g de sementes.
Da prensagem da semente pode resultar o óleo e o extrato aquoso. O
extrato aquoso pode ser transformado em pó ou em torta prensada para uso
como bioinseticida.
b) Folhagem e talos tenros
• 1 kg de folhas e talos tenros picados para 20 litros de água (equivale a 40 a
50 g de folhas por litro de água);
• Passar no liquidificado com 2 litros de água (ou macerado no pilão);
• Deixar os 20 litros da mistura em repouso, por 2 dias, para cura;
• Coar e acrescentar 10 mL de detergente neutro;
• Adicionar o conteúdo no pulverizador costal de 20 litros de água
Segundo Soares et al. (2003), as quantidades a serem utilizadas variam
para cada espécie de inseto. De modo geral, recomenda-se por litro de água, de
30 a 40 g de sementes ou de 40 a 50 g de folhas secas.
Outra estratégia ecológica de uso do neem para o controle de formigas
seria alimentar a cada três dias os formigueiros com folhagem de neem e, fazendo
esta substituição regularmente, as formigas deixam de visitar o campo de
gergelim.
189
3.16 Ponto de colheita
O lançamento periódico de novas cultivares exige estudos sobre as
melhores práticas culturais pertinentes a elas, inclusive no que se refere ao
momento adequado da colheita para se obter maior produção e melhor qualidade
das sementes. Mazzani e Allievi (1966), em estudos com cultivares venezuelanas
de gergelim, verificaram que o máximo rendimento e tamanho dos grãos foram
obtidos aos 97 dias após a semeadura na cultivar Glauca e aos 89 dias na
'Aceitera'.
Uma característica da maioria das cultivares, especialmente das deiscentes,
é o processo acelerado de deiscência natural dos frutos (cápsulas), com
conseqüente queda dos grãos, que ocorre logo após o ponto ótimo de maturação,
o que, no caso de colheitas retardadas, pode levar a sérias perdas na produção.
Weiss (1971) estima que essas perdas podem variar de 20% a 50%.
As colheitas antecipadas também podem causar perdas no rendimento,
decorrentes da imaturidade e do desenvolvimento incompleto dos grãos (LAGO
et al., 1994; MAZZANI e ALLIEVI, 1966).
Essas perdas na produção, provocadas pela antecipação ou retardamento
na colheita - mesmo que sejam de poucos dias -, podem ser significativas. Na
Venezuela, em plantios com a cultivar Glauca, colheitas realizadas três dias antes
ou quatro dias após o ponto ótimo (97 dias) causaram perdas de, respectivamente
38,6% e 32,7% (MAZZANI; ALLIEVI, 1966). Lago et al. (1994), estudando a
cultivar IAC Ouro no ano agrícola 1988/1989, observaram que colheitas
antecipadas ou retardadas por cinco dias em relação à faixa ótima (100-105
dias após emergência no campo) refletiram em decréscimos na produção de
33,2% e 24,6%, respectivamente.
Lago et al. (1994) e Rincón e Silva (1993) observaram que tanto o
rendimento como a época de colheita podem variar significativamente com o
ano agrícola numa mesma cultivar e região de produção. Eles detectaram
variações, de um ano para outro, entre 16% e 20%, quanto ao ponto ótimo de
colheita (dias após plantio), e entre 39% e 51%, quanto à produção (kg/ha).
A determinação do ponto de colheita é fundamental para o sucesso
econômico da cultura; corresponde ao momento em que a semente atingiu a sua
plena maturação fisiológica e é caracterizado como o período em que a semente
190
pára de receber nutrientes da planta (não há mais ganho de matéria seca). Para
reduzir as perdas de sementes nos campos dos produtores, o ponto de maturação
é determinado em todas as variedades comerciais de gergelim da Venezuela
(Tabela 13, MAZZANI, 1999).
Tabela 13. Ponto de maturação e algumas características agronômicas referentes às
principais variedades de gergelim cultivadas na Venezuela.
am: amarelado
va: verde amarelento
arx: arroxeado
a: alto
m: médio
b: baixo
3.17 Colheita: época do corte das plantas
Uma maneira de se determinar a época mais oportuna do corte das plantas
de gergelim é através da observação do amarelecimento dos frutos, hastes e
folhas, durante a maturação (BELTRÃO et al., 1994). Geralmente, a época do
corte é determinada pelo produtor pela maturação dos frutos da base do caule,
mesmo que os frutos dos ápices do caule estejam imaturos. Agindo assim, o
produtor está tentando prevenir a queda das sementes (frutos deiscentes). Quando
o produtor antecipa a colheita, aumenta a produção de sementes imaturas com
191
menor teor de óleo, de menor influência no rendimento da cultura (perdas
invisíveis).
Segundo Fonseca (1994), a operação de colheita será realizada tão logo
as hastes, folhas e cápsulas atinjam o amarelecimento completo e antes que as
cápsulas estejam totalmente abertas. As cápsulas da base, nas cultivares
deiscentes, abrem-se mais cedo, o que indica o momento exato para se iniciar a
colheita.
Este ponto exato para o corte das plantas de gergelim, recomendado por
Fonseca (1994), está de acordo com os trabalhos experimentais conduzidos por
Mazzani (1983), o qual verificou que as plantas de gergelim colhidas mais tarde,
quando os frutos da base das hastes começam a abrir-se, produzem sementes
em maior número e de maior tamanho. Este é o momento exato da colheita pois, daí em diante a deiscência dos frutos progride rapidamente, chegando
àqueles localizados no topo da planta -, mesmo que sejam constatadas no campo
perdas visíveis de sementes, essas perdas são consideradas insignificantes.
Mesmo assim, Mazzani (1999) afirma que o retardamento do corte das plantas
por três dias pode representar incremento de 30% no rendimento de sementes,
ou seja, desde que o momento exato do corte coincida com o início da abertura
dos frutos do baixeiro das plantas deiscentes de gergelim.
Fig. 48. Corte manual
das plantas de gergelim
(frutos deiscentes) no
ponto de colheita
Foto: Marenilson Batista da Silva
A colheita manual mais utilizada no Brasil consiste no corte da base das
plantas com a serra de capim ou facão afiado (Figura 48). Neste caso, o corte da
haste das plantas deve ser realizado na altura da inserção dos primeiros frutos
192
(15 a 30 cm), para evitar que os feixes de gergelim fiquem grandes e para não
causar dificuldades ao agricultor durante sua batedura sobre lona.
De acordo com estudo realizado pela Embrapa Algodão, no Estado da
Paraíba (BELTRÃO; VIEIRA, 2001), por ocasião da colheita manual do gergelim,
o produtor teria que efetuar em cada hectare as seguintes etapas: cortar as
plantas e agrupá-las em feixes, amarrá-los com barbante (Figura 49) e, finalmente,
fazer a disposição dos mesmos nas cercas de arame para secagem; todas essas
tarefas deveriam ser executadas dentro de uma jornada de 8 horas de trabalho,
o que exigiria a mão-de-obra de, no mínimo seis pessoas (0,2 a 0,3 ha/hora/
homem).
Foto: Marenilson Batista da Silva
No caso da colheita semi-mecanizada, o plantio do campo de gergelim da
cultivar BRS Seda (frutos deiscentes) deve ter articulação com a capacidade
diária de corte das plantas de 16 ha realizado pela máquina segadora-atadora.
Isto significa que um determinado produtor de gergelim não poderia plantar, com
a plantadeira adaptada de doze linhas, o seu campo de 75 ha de gergelim em 3
dias (Figura 50). Mesmo que a plantadeira tenha sua capacidade diária de plantio
Fig. 49. Feixe de gergelim com cerca
de 30 cm de diâmetro sendo amarrado
pelo produtor com tiras de caroá ou
barbante
193
Foto: Diego Antonio Nóbrega
de 25 ha por dia, o ideal seria o produtor dividir sua área total de 75 ha em 5
parcelas ou lotes com piquetes (Figura 51). Assim, cada parcela de 15 ha seria
plantada (solo úmido) em dias diferentes da semana, ou seja, o plantio da primeira
parcela (15 ha) seria iniciado na segunda-feira e o da última parcela (15 ha)
terminaria na sexta-feira.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 50. Plantadeira adaptada de doze linhas para o plantio de sementes de gergelim
Fig. 51. Campo de gergelim de frutos deiscentes dividido em cinco lotes e cada lote
semeado em dias diferentes da semana, visando obter uma sincronização com a
capacidade de colheita do produtor
194
Para um produtor de gergelim inexperiente , a reação inicial é querer plantar
de imediato uma grande área de gergelim deiscente, por não saber o que pode
acontecer durante a colheita, como ocorreu no ano de 2007, no município de
Sousa-PB. Um produtor plantou 10 ha de gergelim deiscente, mas não demarcou
no campo, com piquetes, as parcelas, conforme o plantio manual realizado
diariamente. Esta falta de planejamento na instalação do campo resultou numa
drástica perda de sementes durante a colheita - em função da abertura natural
dos frutos na maturação (ainda na planta), os quais deixam cair às sementes no
chão pela simples ação do vento. Além desse planejamento, o produtor precisa
saber a duração do ciclo da cultivar (por exemplo, para a BRS Seda, o ciclo é de
85 dias) e observar o momento do início da abertura dos frutos na base da haste,
pois, a colheita do gergelim requer tais cuidados.
3.18 Vantagens do corte mecânico
Foto: Bruno Mazzani
Na utilização de cultivares deiscentes, é indispensável para o produtor o
emprego da máquina segadora-atadora (Figura 52) no sistema de colheita semimecanizado, principalmente se a área semeada for acima de 10 ha. Atrelado a
um trator, este equipamento é utilizado na Venezuela para cortar as plantas do
gergelim no ponto de colheita (capacidade de 2 ha/h). À medida que a esteira da
máquina vai enchendo com plantas cortadas a gaveta ou caixa ao lado, o operador,
que fica sentado (tipo cadeira), vai controlando o lançamento dos pequenos feixes
de plantas, já amarrados, ao solo (MAZZANI, 1999). Em seguida, os feixes
lançados pela ceifadora-atadora são reunidos em várias medas bem alinhadas no
Fig. 52. Segadora-atadora utilizada para cortar plantas de gergelim deiscentes no ponto
de colheita.
195
Foto: Ray Langham
campo pelos trabalhadores (Figura 53). Após três semanas de secagem ao sol,
uma máquina trilhadeira é alimentada manualmente ou mecanicamente.
Provavelmente, as medas em formato de cone protejam melhor os frutos secos
das cultivares deiscentes da ação dos ventos, pois, neste sistema semi-mecanizado
de colheita, os feixes de gergelim só serão utilizados para alimentar a máquina
trilhadeira, após completa secagem dos frutos.
Fig. 53. Secagem em campo das medas de gergelim alinhadas
Mesmo sendo considerado o maior produtor de gergelim do Brasil, os
produtores de gergelim do Estado de Goiás ainda utilizam o sistema manual de
corte das plantas no ponto de colheita das cultivares deiscentes. Após completar
15 a 20 dias do corte, os feixes secos, organizados em medas, são alimentados
manualmente numa trilhadeira de arroz adaptada (Figura 54).
As comunidades organizadas de produtores familiares ou as pequenas
cooperativas de produtores interessadas no plantio (em mutirão) em escala
comercial de áreas contínuas de gergelim deiscente para atender os mercados
nacionais e internacionais, poderão empregar na sua colheita a míni-máquina
segadora para auxiliar o corte das plantas (6 ha/dia), cujo implemento pode ser
importado da Índia (Figura 55). Havendo um patrocinador capaz de alocar recursos
financeiros ao projeto da mini-máquina segadora, esse protótipo modificado da
mini-máquina poderá ser desenvolvido pela Embrapa Algodão.
Fig. 54. Sistema semimecanizado de colheita
do gergelim utilizado
pelos produtores do
Estado de Goiás, onde
os feixes secos são
alimentados
manualmente na
trilhadeira.
Foto: Cyro Cavalcante
Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo
196
Fig. 55. Sistema semimecanizado que corta as
plantas de gergelim com a minimáquina segadora
Se fossem plantar 6 ha de gergelim por dia, os pequenos produtores
familiares precisariam utilizar duas plantadeiras de duas linhas, produzidas por
Luiz Leme em Várzea-PB (Figura 26), e demandariam 5 dias para plantar toda
área de gergelim deiscente (exemplo: 30 ha de BRS Seda). Porém, o processo de
batedura dos feixes, em trabalhos de mutirão, poderia ser totalmente manual.
A outra opção para os pequenos produtores seria eles utilizarem o seguinte
sistema de colheita semi-mecanizado: cortar as plantas de gergelim (deiscente)
197
Foto: Churl-Whan Kang
Fig. 56. Corte das
plantas de gergelim
da Coréia do Sul,
realizado pelo
cortador mecânico
de arroz de uma
fileira
Foto: Embrapa Arroz e Feijão
com equipamento cortador de arroz adotado pelos produtores da Coréia do Sul
(KANG, 1985; Figura 56), agrupar os feixes em medas para secar e alimentar
manualmente os feixes numa pequena máquina trilhadeira de arroz (Figura 57),
desenvolvida pela Embrapa Arroz e Feijão, desde que seja substituída a peneira
para furos redondos de 1/8 polegadas (Mazzani, 1999). Em lugar da trilhagem na
máquina da Embrapa, o produtor poderia fazer a batedura dos feixes secos de
gergelim manualmente sobre uma lona ou dentro de um reboque (revestido com
lona) em movimento pelo campo, para encurtar a distância com os feixes secos
(Figura 58).
Fig. 57. Equipamento
com ventilador e
peneira para batedura
de arroz desenvolvido
pela Embrapa Arroz e
Feijão, podendo ser
adaptado para trilhar os
feixes secos de
gergelim
Fotos: Vicente de Paula Queiroga
198
Fig. 58. Lona plástica ou reboque em movimento pelo campo, facilita a batedura
dos feixes de gergelim
A Empresa Nux de Itabira (SP) desenvolveu uma trilhadeira mecânica em
parceria com a Sésamo Real (SP) que produz até cinco toneladas de sementes
por dia. Por outro lado, no município de São João do Rio do Peixe, PB (Vila Umarí,
que fica a 4 km de Marizópolis, PB) existem duas máquinas colheitadeiras de
arroz de um particular, a qual é alugada com freqüência pelos produtores do
Perímetro Irrigado de São Gonçalo, município de Sousa-PB, para a colheita
mecânica do arroz dos seus lotes. Estas máquinas podem ser adaptadas para a
colheita do gergelim, mas, é necessário que as plataformas da colheitadeira
tenham uma chapa cortadeira posicionada bem abaixo do molinete grande (altura
acima da planta), devendo a mesma se estender até o limite da metade do molinete
(Figura 59). Segundo Mazzani (1999), é preciso também ajustar as peneiras
vibradoras para perfurações redondas de 1/8 de polegadas (orifícios com 3 mm),
devido ao pequeno tamanho da semente de gergelim. Além disso, as cultivares
indeiscentes de gergelim deverão ser colhidas pelo molinete a uma velocidade do
cilindro lento (450 a 500 RPM).
Esta colheitadeira de arroz da Massey-Ferguson, modelo 3640 (Figura 59),
apresenta as seguintes características: plataforma tipo molinete, cilindro batedor,
esteira que transporta os grãos para o peneirão na parte superior, ventiladores,
peneiras reguláveis na parte inferior do peneirão, elevadores de grãos para o
tanque de armazenamento (capacidade de 2 t ou 40 sacos), tubo de descarga
(fuso de rosca-sem-fim) para abastecer o carroção (Figura 60).
Foto: Vicente de Paula Queiroga
199
Foto: Jerry Riney
A
Fig. 59. A) - Colheitadeira de
arroz que pode ser adaptada
para gergelim e B) - destaque
da plataforma tipo molinete,
efetuando a colheita direta do
gergelim
Foto: Waltemilton Vieira Cartaxo
B
Fig. 60. Máquina trilhadeira de arroz adaptada realiza a pré-limpeza das sementes de
gergelim para, depois, descarregá-las num carroção
200
3.19 Colheita mecanizada do gergelim na Venezuela
Com base na gradativa redução da mão-de-obra no campo, o sistema de
colheita do gergelim na Venezuela pode ser classificado em três formas diferentes:
a) Sistema Tradicional
Fotos: Rafael E. Davila Cardenas
Para as cultivares deiscentes de gergelim é utilizado na Venezuela uma
ceifadora-atadora de cereais para o corte das plantas no ponto de colheita dos
frutos de cada cultivar (Figura 61), a qual corta de 3 a 4 fileiras de plantas,
desde que sejam plantadas no espaçamento de 60 cm, e as deposita sobre um
esteira transportadora. Essas plantas cortadas são transportadas para encher
Fig. 61. Operação de
corte de plantas de
gergelim realizado
pela máquina
segadora atadora e
vários feixes atados
no solo.
201
Foto: Rafael E. Davila Cardenas
uma caixa ao lado e, uma vez agrupada num feixe pequeno, passar através de
um mecanismo atador. Vale destacar que cada rolo de cordão instalado na máquina
tem uma autonomia para atender o amarrio das plantas cortadas de um ha. À
medida que vai sendo confeccionado cada feixe (Figura 62), o operador que fica
sentado na máquina (tipo cadeira) vai controlando com uma alavanca o lançamento
do mesmo já atado ao solo (CARDENAS, 1978).
Fig. 62. Detalhe da máquina segadora-atadora lançando o feixe amarrado de gergelim
ao solo
Em seguida, os feixes lançados pela segadora-atadora são reunidos em
várias medas bem alinhadas no campo por oito operários (Figura 63). Após 3
semanas de secagem ao sol, uma máquina trilhadeira, do tipo ensacadora, é
alimentada manualmente, por quatro operários - dois encarregados de pegar os
feixes secos das medas e outros dois que os recebem para introduzi-los na máquina
(Figura 64). Além do operador da trilhadeira, na parte superior da máquina vão
dois operários encarregados de amarrar os sacos com as sementes e deixá-los
deslizar sobre uma rampa até cair ao solo, o qual será apanhado por outro trator
equipado com um carroção. Este sistema de colheita tradicional é considerado
semi-mecanizado (MAZZANI, 1999).
Fig. 63. Preparação e
secagem das medas de
gergelim
Fotos: Rafael E. Davila Cardenas
Foto: Bruno Mazzani
Foto: Ray Langham
202
Fig. 64. Operação de alimentação dos feixes secos de gergelim na trilhadeira
203
b) Sistema Colaone
Foto: Rafael E. Davila Cardenas
O sistema Colaone é semelhante ao tradicional e envolve, também, a
operação de corte com a máquina segadora-atadora, seguindo o mesmo
procedimento descrito anteriormente. A diferença está na operação de
recolhimento das medas para trilhar, porque a colheitadeira já vem equipada
com um dispositivo frontal mecânico para recolher as medas e introduzi-las na
máquina. Esta plataforma consiste de uma estrutura metálica de aparência cúbica
com a parte superior aberta e com um dos lados acionado por uma alavanca
manipulada pelo operador da trilhadeira (Figura 65), o qual a movimenta quando
coloca a plataforma ao lado de cada meda (Figura 66). Uma vez impulsionada
para a parte interior da estrutura metálica, a meda de gergelim é levada por uma
esteira transportadora até o cilindro batedor da máquina (Figura 67), onde os
feixes são imediatamente trilhados. A colheitadeira pode ser do tipo ensacador
ou a granel (Figura 68), preferindo-se este último por necessitar menos mão-deobra.
Fig. 65. Plataforma de estrutura metálica com abertura ao lado para recolher as medas
Foto: Ray Langham
Foto: Rafael E. Davila Cardenas
Foto: Ray Langham
204
Foto: Rafael E. Davila Cardenas
Fig. 66. Introdução mecânica da meda na plataforma metálica para ser trilhada
Fig. 67. Detalhe da esteira transportadora das medas para o cilindro batedor da máquina
205
Foto: Ray Langham
Fig. 68. Trilhadeira tipo
a granel efetuando o
transporte dos grãos
para o carroção
Foto: Bruno Mazzani
Outro modelo de colheitadeira, tipo a granel, adaptada para o gergelim
(MAZZANI, 1999) consiste no seguinte processo: o operador da colheitadeira
aciona um braço mecânico em forma de gancho para o recolhimento da meda
que será transportada para trilhar, sendo que essa introdução da meda ocorre na
parte superior da referida máquina com o auxílio de outro operário (Figura 69).
Fig. 69. Operação de trilha das medas de gergelim no sistema Colaone
206
c) Sistema Schultz
Este sistema de colheita do gergelim, desenvolvido pelo agricultor Rodolfo
Schultz, apresenta a característica marcante de ser totalmente mecanizado
(CARDENAS, 1978), sendo esse fator o grande diferencial em relação aos dois
sistemas de colheita semi-mecanizada citados anteriormente (Tradicional e
Colaone).
O processo consiste no corte direto das plantas de gergelim e sua imediata
trilhagem com a mesma máquina, podendo ser ensacado ou armazenado no tanque
com capacidade para duas toneladas (40 sacos). Mas, o sistema Schultz pode
ser igual ao Colaone, caso o produtor de gergelim tenha preferência pelo tipo de
máquina colheitadeira a granel (MAZZANI, 1999).
Para realizar a colheita das cultivares de gergelim indeiscentes, são
requeridas certas condições técnicas, as quais vão permitir a utilização da
colheitadeira combinada (ceifa e trilha) com maior eficiência. Entre elas podemse citar as seguintes:
1) Aplicação de Dessecante
No sistema de colheita direta das cultivares de gergelim indeiscentes, é
utilizada a colheitadeira combinada, que ceifa e trilha ao mesmo tempo (MAZZANI,
1999), sendo necessária uma prévia pulverização com dessecante químico (diquat
ou paraquat) na época de maturação dos frutos. Dependendo do tamanho da
área cultivada de gergelim indeiscente na Venezuela (50 a 200 ha), o dessecante
poderá ser aplicado por meio de trâmpulo ou avião (Figura 70). Após cinco ou
seis dias de secagem (Figura 71), a colheitadeira combinada é utilizada sobre as
plantas secas (Figura 72). A finalidade da utilização dos dessecantes é acelerar
e uniformizar a secagem das plantas de gergelim, facilitando assim a colheita
mecanizada.
Trabalhando com o dessecante Reglone, Urdaneta e Mazzani (1978)
utilizaram duas épocas de pulverização, aos 96 e 103 dias, e dosagens entre 1,5
e 2,5 L/ha, aplicados com o pulverizador costal (250 litros de água por ha),
alguns dias antes e depois de completar seu ciclo de maturação (101 dias após
germinação) sobre as plantas da variedade "Aceitera R". O objetivo foi avaliar o
Fotos: Diego Antonio Nóbrega
207
Foto: Bruno Mazzani
Fig. 71. Campo de gergelim
na Venezuela com as
plantas secas para colheita
mecanizada, após aplicação
do dessecante
Foto: Bruno Mazzani
Fig. 70. Aplicação de dessecantes um dia antes do ponto de colheita por meio do
trâmpulo ou avião, dependendo do tamanho da área plantada de gergelim
Fig. 72. Sistema de colheita
direta do campo de gergelim
de cultivar indeiscente por
uma trilhadeira combinada
com cabeçal de plataforma
de fileira
208
efeito do dessecante na percentagem de folhagens, cápsulas e caules secos por
planta, após 5 dias de sua aplicação, e no rendimento de grãos, em relação à
testemunha - sem dessecante. Os resultados obtidos indicam que aplicação de
Reglone (diquat) na dose de 2 L/ha teve melhor efeito dessecante sobre a cultivar
Aceitera R para a pulverização antecipada (96 dias) do que a dose baixa de
1,5 L/ha com a pulverização tardia (103 dias). Verificou-se, ainda, redução de
15% no rendimento da dose mais baixa (1,5 L/ha) e aplicada na época mais
tardia (103 dias), e de 97% no rendimento da dose mais alta (2 L/ha) e aplicada
na época mais precoce (96 dias). Ou seja, este último tratamento (dose 2 e
época 1) contribuiu para o aumento da percentagem de sementes chochas em
comparação ao tratamento "sem aplicação de dessecante e a realização da
colheita no ponto de maturação" (testemunha). Também recomendam utilizar o
Reglone, nas doses 1,5 - 2,5 litros por hectares em 50-75 litros de água, aplicado
por avião, para se conseguir um nível satisfatório de desfolhas das plantas de
gergelim.
Em vários testes com produtos dessecantes (Reglone, Gramoxone e P.C.P.)
e desfolhantes (NH4 NO3, NaCI e CaCI2) conduzidos no ensaio experimental de
Maracay, pesquisadores do Ministério de Agricultura e Criação de Venezuela
chegaram à conclusão de que só o Reglone em doses maiores causou o efeito
dessecante desejado na planta de gergelim (MINISTÉRIO DE AGRICULTURA E
CRIAÇÃO DE VENEZUELA,1974). Já Pérez e González (1970), avaliando o efeito
do dessecante Gramoxone a 1% sobre a variedade Morada indeiscente de gergelim,
concluíram que não existem diferenças de rendimento entre os tratamentos
estudados, com exceção do teor de óleo.
2) Selecionar características varietais
Para realizar uma colheita mecânica adequada do gergelim indeiscente,
Cardenas (1978) recomendava selecionar naquela época algumas características
varietais: Ausência de ramificação, cápsulas agrupadas nos 2/3 superiores da
planta, pouca flexibilidade do caule etc. Segundo Mazzani (1999), as plantas
indeiscentes e ramificadas são consideradas atualmente as mais produtivas. Além
disso, essas plantas ramificadas de gergelim não oferecem mais dificuldades
para serem colhidas mecanicamente, quando tal operação é efetuada por
trilhadeira de arroz adaptada (MAZZANI, 1999).
209
3) Gergelim Indeiscente
Como alternativa para minimizar as perdas de grãos durante a colheita, o
produtor terá de optar pelo plantio de cultivares indeiscentes de gergelim com
elevados rendimentos. Esses materiais indeiscentes permitem garantir que não
haja altas perdas de sementes durante a colheita, mesmo diante de situações
que sejam influenciadas por efeitos naturais (chuvas, ventos etc) ou se, no
momento da colheita, a máquina trilhadeira entrar em contato com a planta.
Mazzani (1983) reporta algumas vantagens do cultivo em grande escala do
gergelim indeiscente: a) menor urgência para completar a colheita, b) menor
duração das operações para efetuar a colheita direta e c) menor custo de colheita,
já que a ceifa e a trilha das plantas são feitas em uma só operação. Apesar disso,
os materiais indeiscentes a nível comercial não têm recebido boa aceitação pelos
produtores venezuelanos, devido aos baixos rendimentos apresentados pelas suas
cultivares, como produto de uma reduzida fertilidade, em comparação às cultivares
deiscentes.
De acordo com Mazzani (1999), algumas especificações técnicas da
colheitadeira de arroz adaptada (Figura 72), empregada no sistema de colheita
direta do gergelim indeiscente, sãos as seguintes:
a) A máquina trilhadeira executa a colheita de 4 a 7 fileiras, dependendo das
distâncias de semeadura de 50 a 80 centímetros entre fileiras;
b) o rendimento da trilhadeira é de 2,5 hectares por hora em condições normais
de campo;
c) Registrou-se a percentagem de 5 a 10% de sementes de gergelim ligeiramente
danificadas por ocasião da trilha;
d) Verificou-se um incremento de 4 a 8% nos custos do sistema Schultz (colheita
direta) em relação ao sistema Colaone, usado na Venezuela (corte das plantas
com o equipamento segadora-atadora, secagem ao sol e alimentação mecânica
da trilhadeira);
e) O equipamento trilhadeira não é específico para arroz nem gergelim, também
pode ser usado para a colheita de sorgo, girassol e outras espécies similares.
Em resumo, Cardenas (1978) relata as principais vantagens e desvantagens
dos três sistemas de colheitas de gergelim utilizados pelos produtores venezuelanos
(Tabela 14), conforme as cultivares, deiscentes ou indeiscentes, além do nível
de redução progressiva da mão-de-obra necessária durante a operação de colheita.
210
Tabela 14. Comparação entre os sistemas de colheita do gergelim utilizados na
Venezuela: tradicional, Colaone e Schultz, com base nas vantagens e desvantagens
apresentadas por cada sistema.
Recomenda-se o uso do sistema de colheita tradicional , quando o produtor
já dispõe de máquinas adequadas para esse fim, desde que haja disponibilidade
de mão-de-obra na região e não afete negativamente a colheita. Para as
comunidades organizadas de produtores familiares, que dispõem de mão-deobra suficiente, este sistema pode ser utilizado na colheita do gergelim, desde
que as normas de seguridade sejam mantidas no transcurso da operação
(CARDENAS, 1978).
211
A colheita pelo sistema Colaone é considerado superior à colheita
tradicional, porque a operação de trilha, que é mais crítica, não depende de mãode-obra adicional. Por outro lado, o aspecto da incerteza das condições climáticas,
as quais podem influir sobre o êxito da colheita, pode ser minimizado, mediante
o plantio de uma variedade precoce ou mediante uma semeadura programada
para que a colheita seja realizada numa época de ausência de chuvas (CARDENAS,
1978).
O sistema Schultz tem sido mais indicado no Estado de Portuguesa,
Venezuela, porque a colheita controlada com dessecante leva menor tempo (5
dias) de exposição das plantas às condições climáticas da região (CARDENAS,
1978). Como é necessário um manejo adequado da cultura para a colheita
mecanizada, os produtores utilizam variedade com baixa deiscência (indeiscente),
visando reduzir as perdas de sementes.
3.20 Colheita mecanizada do gergelim na Austrália
A dificuldade para colher mecanicamente o gergelim deve-se ao hábito de
crescimento indeterminado apresentado pela planta, o qual acarreta,
subseqüentemente, o amadurecimento não uniforme das cápsulas. Atualmente,
algumas tecnologias têm sido desenvolvidas para melhorar o processo de colheita,
visando reduzir, para menos de 10%, as perdas de sementes (MAZZANI, 1999).
É importante que a planta de gergelim esteja completamente seca antes
da colheita, pois, a presença de cápsulas ainda verdes durante a colheita pode
alterar a uniformidade da cor padrão da variedade e contaminar as sementes,
criando um aroma anormal nos subseqüentes produtos elaborados.
O procedimento recomendado na Austrália para a colheita do gergelim é
pulverizar o campo com um dessecante, quando pelo menos 70% das cápsulas
mudarem sua coloração verde para verde clara ou amarelada. No Norte do País,
uma aplicação aérea de 1L/ha de Reglone provou ser eficaz. Já no sul do Estado
de Queensland, o melhor resultado do Reglone foi obtido aumentado-se a dosagem
(de dois a três litros por hectares), ou seja, em regiões de temperaturas amenas,
houve necessidade de elevar a dose do referido dessecante (BENNETT, 2004).
A colheita mecânica do gergelim indeiscente somente deve ser efetivada
quando 100% das cápsulas apresentarem a cor marrom (Figura 73), o que pode
212
Foto: Malcolm Bennett
ocorrer aproximadamente 10 a 15 dias após aplicação do dessecante. Nesta
fase, o índice de umidade do grão deverá se encontrar entre 6 e 7%, no Norte da
Austrália. Entretanto, em áreas mais temperadas do País, o teor de umidade dos
grãos é mais elevado e sua secagem é mais demorada, o que exige do produtor
de gergelim retardar por mais tempo a colheita (BENNETT, 2004).
Fig. 73. Campo de
gergelim indeiscente
na Austrália em
condições de colheita
Bennett (2004) admite que a colheita do gergelim é mais eficiente quando
a velocidade da trilhadeira é de 4 a 6 km/h, pois, assim evita danos mecânicos às
sementes (delicadas). Caso se reduza pela metade a velocidade do molinete da
máquina (daquela exigida para cereais), a presença de sementes com danos
pode ser inferior a 10%. Estes danos provocados na semente durante a colheita
afetam a sua viabilidade durante o armazenamento e a qualidade do óleo.
3.21 Colheita mecanizada do gergelim nos USA
Langham et al. (2008) reportam que 99% do gergelim cultivado no mundo
ainda é colhido manualmente, em razão de que as cápsulas deiscentes das plantas
se abrirem quando estão secas, podendo deixar os grãos caírem no chão se
ultrapassar seu ponto de colheita. Mesmo assim, as cultivares deiscentes
recomendadas para colheita manual cultivadas nos USA eram colhidas
diretamente pela trilhadeira combinada, ocasionando perdas elevadas de grãos
no terreno (entre 60 e 90%).
Para Langham (2008) a fase de secagem do gergelim das cultivares semideiscentes está dividida em três estágios: maturidade completa, secagem inicial
e secagem tardia.
213
a) Estágio de maturidade completa
O estágio completo de maturidade fisiológica refere- se ao tempo que, no
campo, as plantas de gergelim levam para atingir até 90% do amadurecimento
das sementes (LANGHAM, 2008). A empresa Sesaco não avalia diariamente os
dados das sementes maduras, apenas faz uma estimação baseada numa escala
dos dados obtidos nos anos anteriores. Este tempo de maturação ocorre
aproximadamente entre 107 e 112 dias após a emergência das plântulas e
apresenta um tempo de duração de uma semana.
Foto: Ray Langham
No caso da colheita mecânica direta, sem o uso de dessecante para induzir
a colheita, este estágio deixa de ser importante. Ao contrário, quando se aplica
o dessecante no campo (como no sistema Schultz da Venezuela), as plantas de
gergelim morrem de imediato e as suas sementes deixam de encher. Perto do
final deste estágio, que é 112 dias, as plantas apresentam um elevado potencial
de rendimento, mas sofrerão uma estagnação se, a fim de acelerar a secagem
dos frutos, for aplicado dessecante, porque, as cápsulas superiores da planta
irão contribuir para a produção de sementes imaturas (LANGHAM, 2008). Apesar
disso, ainda não se conseguiu determinar um tempo preciso para se obter um
ponto de maturação satisfatório (Figura 74). Essencialmente, a finalidade da
colheita induzida com aplicação do dessecante é permitir colher o gergelim mais
rápido (Figura 75) e evitar que a qualidade do produto seja afetada pelas condições
climáticas ocasionais (MAZZANI, 1999).
Fig. 74. À medida que se aproxima o ponto de maturação das sementes, percebe-se
que as folhas das plantas passam a cair de forma desuniforme, mesmo assim, ainda
mantêm uma porção de folhas verdes na parte superior
Fotos: Ray Langham
214
Fig. 75. Colheita mecânica da plantas de gergelim submetidas à colheita induzida pela
aplicação de um dessecante para acelerar sua secagem
Foto: Ray Langham
Também se observa no campo de gergelim que à medida que a fase de
amadurecimento avança na planta mais folhas passam a cair sem o uso de nenhum
produto químico (Figura 76). Langham (2008) não recomenda a aplicação de
dessecante neste momento, mesmo quando se deseje obter uma colheita induzida,
porque haveria uma redução substancial do rendimento do gergelim, já que a
maioria dos frutos na parte superior da planta não encheu as sementes (imaturas).
Embora existem algumas exceções (Figura 77), Langham (2008) considera que
os grãos do gergelim só estão completamente cheios quando todas as folhas
caem da planta.
Fig. 76. A fase inicial
de maturação onde as
plantas deixam cair
naturalmente às folhas
no terreno
215
Foto: Ray Langham
Fig. 77. No Paraguai, as
plantas de gergelim são
cortadas ainda verdes e
com bastantes folhas.
Foto: Jay S. Simon
Foto: Ray Langham
No início da maturação das plantas de gergelim, as folhas vão tornando-se
amareladas. As plantas só estão fisiologicamente maduras, quando as sementes
de ¾ dos frutos apresentam uma mudança na sua tonalidade de branco leitosa
(branco neve) para ligeiramente branco (branco gelo, Figura 78). Nas recentes
variedades da Sesaco, essa maturação fisiológica normalmente está ocorrendo
entre 96 e 106 dias após plantio, porém, em condições de estresse hídrico, a
maturação da planta poderá ser antecipada, como também poderá ser retardada,
principalmente em situação de alta umidade e fertilidade do solo (LANGHAM,
2008).
Fig. 78. Cultivar de gergelim semi-deiscente desenvolvida pela empresa Sesaco, Texas,
USA, com retenção das sementes nos frutos (placenta) de coloração branco neve (A)
e branco gelo (B).
216
Em situação de baixa umidade do solo ou alta população de plantas, as
variedades semi-deiscentes da Sesaco começam logo a deixar cair folhas no
chão, embora as plantas ainda se encontrem na fase de floração (LANGHAM,
2008). Dependendo da umidade e da fertilidade solo, as recentes variedades da
Sesaco (Sesaco 32) poderão parar a floração cerca de 72 a 90 dias após o
plantio (LANGHAM et al.,2008). Também foi constatado em campo que a autodesfoliação e maturidade das sementes das cultivares semi-deiscentes começam
apenas quando interrompe a floração. A planta normalmente só consegue parar
de desfolhar quando a maturação das sementes alcança as cápsulas da parte
apical.
b) Estágio de secagem inicial
Foto: Ray Langham
Este estágio inicial de secagem (Figura 79) é considerado quando o campo
de gergelim apresenta até 10% de todas as sementes maduras, pois, isto significa
que as plantas têm apenas uma cápsula seca. As plantas usadas nessa avaliação
devem ser as plantas verdes que apresentem secagem natural, com exclusão
das plantas de gergelim que morrerem por causa de doenças. Em áreas plantadas
adensadas e de muito vento, as plantas podem friccionarem-se uma contra a
outra, o que pode provocar ranhuras nos frutos. Estes vão secar mais rápido,
mas, não poderão ser considerados como frutos secos. Este tempo de secagem
inicial ocorre entre 113 e 126 dias, após a emergência das plântulas, e apresenta
um tempo de duração de aproximadamente duas semanas (LANGHAM, 2008).
Fig. 79. O campo de
gergelim adquire uma
tonalidade verde mais
clara com um tingimento
amarelo, quando as
plantas começam a secar
e suas folhas passam a
cair normalmente
217
c) Estágio tardio de secagem
Fig. 80. Campo de
gergelim com 50% das
plantas secas adquire
uma tonalidade
marrom, quando se
trata de colheita não
induzida (sem
dessecante)
Foto: Ray Langham
Foto: Ray Langham
O estágio tardio de secagem caracteriza-se pelo elevado grau de secagem
das plantas no campo de gergelim, até que essas plantas apresentem sementes
com 6% de umidade, no máximo. Em certos anos, no Texas (USA), as plantas de
gergelim com 50% de secagem (Figura 80) podem levar mais tempo para
mudarem para 95% de secagem (Figura 81). Este tempo de secagem tardia
ocorre entre 126 e 146 dias após a emergência das plântulas e apresenta um
tempo de duração de aproximadamente três semanas (LANGHAM, 2008).
Fig. 81. Campo de
gergelim com quase
95% das plantas secas
adquire uma tonalidade
amarelada (sem uso de
dessecante)
218
Dependendo da temperatura (elevada) da região, a planta de gergelim pode
necessitar de um adicional de 10 dias para o restante das cápsulas amadurecerem.
A secagem inicia-se pelas cápsulas e, em seguida, vem a secagem do caule. As
cápsulas secas abrem-se ligeiramente e expõem suas sementes. Uma vez aberta
as cápsulas, a secagem das sementes torna-se rápida. Esta situação passa a ser
considerada crítica em razão dos seguintes aspectos: a) a abertura das cápsulas
permite que as sementes sejam liberadas com um mínimo de força da plantadeira
combinada; b) as sementes que secam mais rápido são as do fundo da cápsula
aberta e c) a exposição das sementes às chuvas aumenta. Este problema de
chuvas na colheita pode comprometer a qualidade dos grãos (escurecimento),
portanto, é importante planejar o plantio das cultivares semi-deiscentes, para
que não ocorram precipitações pluviais durante sua colheita (MAZZANI, 1999).
Apenas a Empresa Sesaco do Texas (USA) conseguiu desenvolver
variedades de gergelim semi-deiscentes (E.U. patente número 6.100.452), as
quais permitem realizar a colheita direta no campo por meio da colheitadeira
combinada. Estas variedades poderão ser deixadas para secar no campo e irão
manter a maioria das sementes dentro dos frutos (sementes retidas pela placenta
do fruto) até o momento de usar a referida plantadeira. Langham e Wiemers
(2002) advertem que é necessário ajustar a plantadeira com as configurações
corretas das fileiras de plantio do gergelim, assim as cápsulas irão liberar as
sementes com danos mínimos.
Uma vez que as sementes de gergelim estejam bastante secas no campo
e tenham a umidade de 6% ou menos, a colheitadeira já pode colher o gergelim
diretamente, usando um cabeçal de plataforma tipo fileira ou um cabeçal de
plataforma tipo molinete (Figura 82). Na colheita inteiramente mecanizada, as
cápsulas foram modificadas de modo que as sementes fiquem retidas nas cápsulas
durante os 30-50 dias de secagem natural. Após a secagem, as cápsulas passam
a liberar as sementes com a força física mínima no momento em que a planta
entra em contato com a colheitadeira (LANGHAM, 1999; 2006). Para o caso do
cabeçal de plataforma tipo fileira, Langham et al. (2006) preferem usar a marca
John Deere das séries 200 e 900. Mas, é necessário que o espaçamento entre
fileiras de gergelim esteja ajustado à configuração da máquina, pois, a mesma
permite colher até 6 fileiras de plantas em cada passada. O mesmo autor
recomenda o cabeçal de plataforma tipo molinete, marca John Deere e da série
630R, para a colheita do gergelim semi-deiscente (Figura 83).
A
B
Foto: Jerry Riney
Foto: Jay S. Simon
219
Fotos: Ray Langham
Fig. 82. A colheitadeira combinada só entra em atividade quando as sementes apresentam
umidade abaixo de 6%, sendo usadas as duas modalidades de plataformas: A) Cabeçal
tipo fileira e B) Cabeçal tipo molinete.
Fig. 83. Colheita das cultivares de gergelim
da Sesaco realizada pela trilhadeira com
plataforma tipo molinete, marca John Deere
220
Segundo Lagham et al. (2006), os maiores rendimentos do gergelim podem
ser obtidos quando se prevê, para as cultivares, o tempo de sua colheita
mecanizada. Ou seja, a partir do momento em que a floração das cultivares
semi-deiscentes termina, é possível estabelecer um prazo de 60 a 70 dias para
efetuar sua colheita em campo. Dependendo da cultivar Sesaco, o ciclo da lavoura
pode ser de 120 a 150 dias após o plantio. Para solos de alta fertilidade e umidade,
essa colheita mecânica das cultivares Sesaco poderá ser mais tardia (LANGHAM,
1999).
Fotos: Ray Langham
Na maioria das vezes, a limpeza das sementes de gergelim é feita na
própria colheitadeira (Figura 84), embora seja necessário que transportá-las
para uma Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), para uma limpeza
adicional (Figura 85¸LANGHAM, 2008).
Fig. 84. Trilhadeira combinada
transportando as sementes de
gergelim para o caminhão
graneleiro, visando de imediato
beneficiá-las na UBS
Foto: Diógenes Galindo Diniz
Foto: Diógenes Galindo Diniz
Foto: Jerry Riney
221
Fig. 85. Descarga de
sementes de gergelim
dentro da Unidade de
Beneficiamento de
Sementes, após a operação
de colheita realizada pela
trilhadeira combinada
A importância do conhecimento dos estágios de secagem das plantas
está intimamente relacionada com o tipo de colheita mecanizado que se pretende
utilizar, principalmente nos campos de gergelim cultivados nas regiões áridas dos
estados americanos do Texas, Oklaroma, Arizona e Kansas. Estas duas formas
de colheita do gergelim são: a) com aplicação de dessecante para induzir sua
colheita mecanizada e b) sem aplicação de dessecante para efetuar a colheita
mecânica tardia. Este último tipo de colheita tem sido economicamente viável
para os produtores americanos por reduzir os custos de produção da lavoura,
dispensando, assim, a aquisição do produto dessecante (Reglone) no mercado e
sua aplicação por avião (LANGHAM et al, 2006). Com relação ao Brasil, a região
semi-árida do Nordeste ofereceria condições ambientais apropriadas (região quente
e de poucas chuvas) para realizar o plantio de sequeiro do gergelim semi-deiscente
das cultivares da Sesaco, principalmente pelo sistema de colheita mecânica tardia
(sem uso de dessecante). Também esse sistema de colheita tardia seria viável
para o Centro-Oeste, como cultura de safrinha, sem considerar o sistema irrigado
222
de plantio do gergelim semi-deiscente, cujo ponto de colheita pode ser programado
para os meses de verão.
Langham (2008) estabeleceu os principais requisitos para a mecanização
do gergelim das cultivares Sesacos plantadas nos USA: a) as plantas terão que
encerrar sua floração; b) as plantas devem deixar cair todas suas folhas; c) as
sementes nas cápsulas devem amadurecer antes da sua abertura; d) as cápsulas
devem conservar a sua semente até o momento da planta ser cortada pela
trilhadeira combinada e e) as cápsulas devem libertar as sementes quando entrarem
em contato com a trilhadeira combinada.
3.22 Armazenamento
As sementes do gergelim, por seus antioxidantes naturais, como o sesamol
(MAZZANI, 1983), têm grande capacidade de conservação, mantendo a
germinação mesmo em ambiente com umidade relativa elevada, como é o caso
de Campina Grande-PB, em que elas podem ser armazenadas por mais de seis
meses, sem perder a taxa de germinação inicial (QUEIROGA;BELTÃO, 2001).
Para o armazenamento seguro no longo prazo, a semente de gergelim
deve estar limpa e com o teor de umidade em torno de 6%, a fim de ser
armazenada em ambiente controlado com umidade relativa aproximada de 50%
e temperatura abaixo de 18ºC. Sob condições ótimas de armazenamento o gergelim
pode ser acondicionado aproximadamente por 1 ano (FA0, 2006). No caso do
armazenamento em depósitos mistos, os produtos convencionais e biológicos
deverão ser devidamente separados para evitar problemas de contaminação; de
preferência, guardar o gergelim em silos. Não é permitido realizar o tratamento
das sementes de gergelim no armazém misto ou expurgar os produtos com
brometo de metila.
As embalagens de armazenamento devem estar livres de inseticidas. A
eliminação do ácido oxálico dentro da película ou casca da semente deve ser
realizada mediante tratamento a vapor. Não é permitido realizar o tratamento
das sementes de gergelim no armazém com brometo de metila (expurgo) ou
óxido de etileno nem tampouco o uso de raios ionizados (FAO, 2006).
Com o objetivo de satisfazer os requerimentos de qualidade adotados pelo
mercado e de evitar uma eventual contaminação das sementes de gergelim, o
223
seu beneficiamento pós-colheita deverá ser efetuado em condições de absoluta
higiene e limpeza. Na Tabela 15, apresentam-se algumas características de
qualidade do gergelim, inclusive seus graus de exigência, mínimos e máximos
(FA0, 2006).
Tabela 15. Padrões de qualidade das sementes de gergelim adotados pelo mercado.
224
Em regiões com alta umidade ambiental, as sementes de gergelim voltam
a absorver umidade e correm o risco de embolorar (mofar). Sob estas condições,
dever-se-iam armazená-las por curto espaço de tempo; no caso de necessitar
de armazenamento por período longo, devem ser depositadas em recipiente
hermeticamente fechado. Bass et al. (1963), utilizando recipientes herméticos,
verificaram que sementes de gergelim conservaram-se por dois anos, quando
mantidas em temperatura de 10 ºC e umidade de 7%; em temperatura de
21 ºC, a conservação só foi mantida quando o teor de umidade das sementes foi
de 4%.
O local escolhido para o armazenamento deverá ser apropriado, isto é,
seguro, seco, com possibilidades de aeração e condições para fácil combate a
roedores, insetos e microrganismos (POPINIGIS, 1985). Devem-se manter
espaços e corredores adequados para movimentação e amostragem, bem como
divisões que permitam pronta identificação entre os diferentes lotes de grãos
numa mesma fileira.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Os grãos de gergelim devem ser armazenados no depósito em sacos novos
de papel multifoliados (Figura 86), aniagem ou polietileno trançado. Estes sacos
devem ser empilhados sobre estrados de madeira, mantendo uma distância de 1
metro das paredes. Periodicamente, devem-se inspecionar os lotes a fim de
verificar anormalidades como umidades, insetos etc (QUEIROGA;BELTRÃO,
2001).
Fig. 86. Lote de sementes
de gergelim
acondicionados em sacos
de papel multifoliados/
valvulados e empilhados
sobre estrados de madeira
225
O tamanho de cada lote recomendado é até uma tonelada com sacos
empilhados, podendo separar cada lote por produtor. Limpar todas as instalações
antes de usá-las, para evitar misturas acidentais e não comprometer a qualidade
do material estocado. Recomenda-se identificar o número do lote com um lápis
piloto nos sacos de gergelim de cada lote. Este controle dos lotes dos produtores
é fundamental para a comercialização (antes de fechar o negócio, o comprador
de gergelim exige amostra do produto), pois, numa produção de grãos de gergelim,
que envolve vários fornecedores, é possível aparecerem produtos de qualidade
inferior, em razão de alguns produtores não terem conduzido bem os processos
de beneficiamento dos grãos (QUEIROGA et al., 2007). No caso de não se adotar
um controle rígido de identificação das sacarias de cada produtor, com certeza
irá haver uma desvalorização no preço geral do produto, em função de mistura
aleatória dos sacos de grãos sujos com os limpos.
Fotos: Vicente de Paula Queiroga
Visando aumentar a pureza dos grãos, após o processo de colheita seria
conveniente efetuar uma ventilação complementar num equipamento simples
com alimentação manual, o qual possui um bica de descarga na sua parte inferior
por onde saem as sementes limpas. Esta máquina descascadora de sementes
dos frutos de mamona - produzida pela Metalúrgica GSDourado, de Irecê-BA -,
pode ser adaptada para a limpeza das sementes de gergelim, quando se substitui
a peneira de mamona por outra peneira de orifícios redondos de 3 mm (1/8 de
polegadas). Esta máquina deve ser acionada pela tomada de força do trator com
a rotação entre 450 rpm a 500 rpm (Figura 87), mas, para limpar o gergelim é
Fig. 87. Máquina de ventilação utilizada na limpeza dos grãos ou sementes de gergelim,
adaptando uma peneira de orifícios redondos de 3 mm e usando a rotação máxima de
500 rpm.
226
necessário que o material passe primeiro por uma peneira comum de
pedreiro, para tirar as impurezas pesadas, e só depois a limpeza deve ser
complementada pela máquina, para eliminar as impurezas pequenas (leves). O
referido fabricante pretende desenvolver uma máquina idêntica, de pequeno porte,
para gergelim, adaptando um redutor de velocidade e colocando um motor na
máquina, para trabalhar diretamente com energia.
4. Elaboração de Produtos Industrializados
Com base nos produtos industrializados do gergelim mais demandados pelo
mercado brasileiro, apenas quatro produtos derivados do gergelim serão abordados
detalhadamente: azeite extra-virgem, grãos despeliculados de gergelim, tahine e
o mais novo produto com o advento do biodiesel.
Os produtos industrializados derivados do gergelim mais utilizados pelos
consumidores são:
a) Óleo de gergelim
Os óleos industrializados de gergelim são: óleo extra virgem, óleo refinado
e ultra-refinado, óleo tostado e óleo bruto de gergelim.
O óleo de gergelim extraído dos grãos é considerado como um dos mais
finos azeites no mercado, sendo comumente usado na indústria alimentícia. Este
óleo é rico em ácidos graxos insaturados, contendo aproximadamente 47% de
ácido oléico e 39% de ácido linoléico e representa de 44 a 58% do seu peso
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001); os teores de proteína oscilam entre 17 e 29%
(MAZZANI; LAYRISSE, 1998). Tanto o óleo como as comidas fritas com ele tem
vida de prateleira longa, devido à presença dos antioxidantes (não rancifica), que
melhoram seu sabor (BELTRÃO;VIEIRA, 2001).
1. Óleo extra virgem
O óleo extra virgem da mini-usina de Várzea, PB, é obtido por prensagem
a frio numa sala escura, apenas com iluminação indireta do ambiente externo
(sol), e utiliza uma pequena prensa do fabricante Ecirtec-SP. O seu rendimento
227
B
Foto: Vicente de Paula Queiroga
A
Foto: Paulo de Tarso Firmino
Foto: Vicente de Paula Queiroga
médio de extração de óleo a frio é de 28% (QUEIROGA et al., 2007). Para
conservar melhor todas as propriedades químicas naturais do óleo, deve-se realizar
o seu envase em embalagem de vidro escuro. Embalagens transparentes de vidro
e de plástico, usadas comumente pelos fabricantes, alteram as características
do produto (Figura 88).
C
Fig. 88. Diferentes tipos de embalagem para óleo de gergelim: A) plástico, B) vidro
transparentes e C) vidro escuro.
Este produto é um excelente azeitador, dando melhor sabor aos alimentos
e às saladas de verduras. O óleo de gergelim possui "flavour" (sabor) característico
e agradável e maior estabilidade oxidativa, quando comparado com a maioria
dos óleos vegetais, por causa dos ácidos graxos em sua composição e pela
presença dos antioxidantes naturais, sesamolina, sesamina, sesamol e gama
tocoferol (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
O óleo extra virgem é considerado poderoso átomo de energia e potência
concentrada, utilizado na confecção de cremes hidratantes, sabonetes, loções
para alopecia e, recentemente, na composição de loções como filtros solares
(BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Por este motivo, o óleo extra virgem de gergelim é
considerado o óleo mais caro no mercado (R$ 60,00 o litro).
228
2. Óleo refinado
O óleo refinado é considerado como um dos mais finos azeites disponíveis
no mercado. O azeite de gergelim refinado é usado comumente, não somente na
indústria do processamento dos alimentos, mas também em numerosas aplicações
como na indústria farmacêutica e de cosméticos. Este azeite destaca-se por
suas poderosas propriedades antioxidantes naturais, as quais prolongam o período
de conservação de produtos fritos. As características desse produto têm
incrementado a rápida diversificação de alimentos (BELTRÃO; VIEIRA, 2001).
Foto: Diego Antonio Nóbrega
Atualmente, o óleo de gergelim refinado é obtido de grãos não torrados e,
portanto, sua tonalidade é clara (Figura 89). O contrário ocorre com o óleo bruto,
ele é marrom porque os grãos foram torrados. As etapas para a obtenção do
óleo refinado são: cozimento com vapor, prensagem, neutralização,
branqueamento e desodorização (consiste na destilação a vapor sob pressão
reduzida). A etapa de tratamento térmico dos grãos de gergelim, antes da
extração, não é mais empregada pelas indústrias de óleo (BELTRÃO;VIEIRA,
2001). Quando o óleo refinado é submetido novamente à etapa de filtragem,
então é obtido o óleo ultra-refinado de gergelim.
Fig. 89. Azeite refinado de
gergelim de grãos não
torrados
229
3. Óleo tostado de gergelim
Foto: Diego Antonio Nóbrega
Os alimentos preparados com o óleo de gergelim tostado têm uma
excelente resistência à rancificação, devido aos antioxidantes formados durante
o processo de torrefação (Figura 90). Vale frisar que no processo de torrefação
não se usa nenhum tipo de aditivos, conservantes ou produtos químicos (BELTRÃO
e VIEIRA, 2001).
Fig. 90. Óleo tostado de gergelim obtido após
torrefação dos grãos ou aquecimento do óleo
Em forno pré-aquecido, é possível obter-se óleo de qualidade, após
torrefação do grão, a 180ºC por 20 minutos ou por 15 minutos a 200ºC, ou do
aquecimento do óleo. Com o processo de torrefação do grão, ocorre redução nos
teores dos antioxidantes sesamina, sesamolina e g tocoferol, e aumento nos
teores de sesamol, devido à decomposição de sesamolina - o sesamol possui
atividade antioxidante maior que o seu percursor (sesamolina). Com o aumento
da temperatura, ocorre redução da qualidade da proteína - devido ao
escurecimento pela perda de aminoácidos sulfurados - e redução da digestibilidade
e da solubilidade. Quando torrado, é indispensável nas cozinhas japonesa, chinesa
e coreana, em razão do seu 'flavour', ou seja, seu sabor agradável (BELTRÃO;
VIEIRA, 2001).
230
4. Óleo bruto
Foto: Diego Antonio Nóbrega
A extração do óleo bruto é feita pelas seguintes etapas: torrefação dos
grãos, cozimento com vapor, prensagem e filtragem. Esta extração é realizada
diretamente nos grãos inteiros, mas, devido ao alto teor de óleo e ao baixo teor
de fibra presentes nos grãos, o rendimento do processo é mais baixo do que seria
obtido na extração por solvente (BELTRÃO; VIEIRA, 2001). Assim, a torta
resultante da extração por prensagem ainda contém teor residual de óleo em
torno de 17%. O óleo obtido por prensagem sempre arrasta resíduos que tendem
a turvá-lo. A separação deste material pode ser por sedimentação ou por filtragem.
O tipo de óleo de gergelim obtido por solvente é considerado um produto barato
e comercializado nos supermercados dos países da Colômbia e da Venezuela
com o nome de "aceite natural de ajonjolí" (Figura 91).
Fig. 91. Óleo de gergelim extraído por solvente,
usado no preparo dos alimentos domésticos
Antes de definir e instalar uma mini-usina nas comunidades rurais
recomenda-se realizar um estudo econômico do mercado das grandes cidades
mais próximas a ela, levando-se em conta as dificuldades de distribuição e venda
do óleo, impostas pelo mercado. Segundo Queiroga et al. (2007), a verticalização
da produção do gergelim é mais procurada por pequenas associações de produtores
ou cooperativas.
231
Foto: Arquivo da maneklalexports
A usina de porte médio com capacidade de até 5 toneladas em 8 horas
poderá ser instalada, de acordo com as normas de vigilância sanitária, desde que
funcione como Laboratório de Tecnologia de Alimentos, onde deverão ser
implantados os equipamentos: prensa (Figura 92) e filtro da prensa.
Fig. 92. Prensa de extração de óleo de gergelim de porte médio
(www.maneklalexports.com/.../OilMill.htm)
A filtragem tem a finalidade de retirar os resíduos que estão misturados
com o óleo. No tipo de equipamento empregado (Figura 93), o óleo passa através
de uma série de filtros (10), feitos de tecido grosso. Em cada filtro, vai sendo
retirada uma borra, composta pelos resíduos do óleo. Dependendo da qualidade
dos grãos empregados (natural sujo de campo) e do grau de impureza do óleo,
pode ser feita uma ou mais etapas de filtragem (QUEIROGA et al., 2007).
É necessário instalarem-se os equipamentos da usina de óleo num prédio
principal, o qual deverá ter espaço planejado para sala de recepção, banheiros e
armário para guardar as batas dos operários. Separadamente, deveriam ser
construídas: uma sala para despeliculação manual ou mecânica (misturador
Hobert), o depósito de grãos e uma sala de ventilação (máquina de pré-limpeza
com peneiras). Para atender às normas sanitárias do Ministério da Saúde, o ideal
seria que todas as salas da usina fossem azulejadas. Outra sala deveria ser
reservada para funcionamento do secador artificial (Figura 94).
Foto: Arquivo da maneklalexports
232
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Fig. 93. Bomba e filtro de prensa de porte médio utilizados na extração do óleo de
gergelim (capacidade de kg/h: 170-220 kg)
Fig. 94. Secador artificial utilizado no processo
de secagem dos grãos
Despeliculação dos grãos de gergelim
Além da utilização de sementes de cor branca, outra forma de agregar
valor ao óleo de gergelim é realizando a operação de despeliculação (Figuras 95
e 96) dos grãos pelos seguintes métodos: manual, físico, mecânico e químico.
233
Foto: Vicente de Paula Queiroga
Foto: Diego Antonio Nóbrega
Fig. 95. A estrutura da semente integral
de gergelim com detalhe do tegumento
(t) envolvendo todo endosperma (end),
cotilédones (cot) e radícula (rad)
Fig. 96. Destaca o brilho e a uniformidade dos grãos despeliculados de gergelim
1- Despeliculação manual
O processo manual de despeliculação consiste em colocar os grãos com
casca numa bacia de plástico e adicionar água para o umedecimento dos mesmos
por 3 horas. Após serem umedecidos, é preciso ficar esfregando numa superfície
rugosa (peneira de malha ou de metal) manualmente os grãos emergidos em
água por determinado período de tempo e depois lavá-los com água limpa. Uma
234
vez separados das sujeiras por densidade, os grãos são expostos ao sol para
secar até alcançar umidade de 4%. Antes do ensacamento dos grãos
despeliculados, é feita a ventilação do material para eliminar as películas
remanescentes (QUEIROGA et al., 2007).
2- Despeliculação física
O método físico de despeliculação de grãos é apresentado no item mais
adiante, quando é relatado o processo de preparação da receita do 'tahine'.
3- Despeliculação mecânica
Foto: Vicente de Paula Queiroga
O descascamento dos grãos é considerado como um processo preliminar
de industrialização do gergelim; o mais recomendado seria o mecânico
(QUEIROGA et al., 2007). Esta técnica de descascamento de fricção mecânica
não inclui nenhum agente químico e, após o processo de separação da película,
os grãos conservam todos seus atributos naturais e nutricionais. Esses grãos
descascados podem ter preço duplicado ou triplicado quando são destinados para
padarias, em relação aos grãos convencionais (Figura 97) e representam 62%
do mercado de gergelim.
Fig. 97. Excelente aparência
do pão com grãos de
gergelim despeliculados
235
Foto: Vicente de Paula Queiroga
No processo mecânico de despeliculação, os grãos com casca são
umedecidos em água apenas por 6 horas. Depois eles são colocados no misturador
Hobart ou Planetário (Figura 98) por 5 minutos, usando a velocidade três
(MAZZANI, 1999). Uma vez completada esta operação de despeliculação, os
grãos são separados das cascas por flutuação e por peneiração; em seguida, são
expostos ao sol para secar até alcançarem 4% de umidade. Antes do ensacamento
dos grãos despeliculados, é feita a ventilação do material para eliminação das
películas soltas.
Fig. 98. Misturador Hobert ou
Planetário usado no processo de
despeliculação mecânica de grãos
de gergelim
4- Despeliculação química
Esta forma de apresentação implica os processos de limpeza, despeliculação
e embalagem . Estes processos são os seguintes:
a) Descarga em moega ou descarga manual no tanque A;
b) Transporte manual do produto (ou através de um elevador) até tanques A e B
para umidificação dos grãos. Os grãos com casca são umedecidos em água
normal apenas por 3 horas, no tanque A . No tanque B, adicionam-se água (a
90 °C) e soda caústica (solução de 0,06%), deixando-se o produto em repouso
por 1 minuto (RAMACHANDRAN et al., 1970; SHAMANTHAKA et al., 1970);
c) Depois de 1 minuto, a água e a soda caústica são extraídas, e o grão umedecido
236
é levado ao descascador - uma espécie de batedeira -, onde, por fricção e adição
de água fria (25 °C), se tira a película do grão (MAZZANI, 1999);
d) Quando o gergelim sai da batedeira, os grãos são transportados para tanques
de decantação (Tanque A com água renovada), para eliminar objetos pesados
como metais, areia ou qualquer vestígio de material não desejável;
e) No tanque A, o gergelim é lavado com água fria sob pressão, para eliminar
completamente a película;
f) Os grãos de gergelim são levados a um centrifugador, para extrair a água
exterior dos grãos, e logo transportados, através de outro elevador, a um
cilindro pré-secador.
g) O produto é, então, transportado por elevador para um secador não intermitente
(ou estacionário). Por intermédio de turbulência do ar quente que atravessa
uma tela muito fina, a água interna das sementes é extraída, até alcançar um
grau de secagem que oscila entre 3 e 5% em base úmida.
h) Os grãos secos de gergelim passam para uma moega e para outro elevador
que os leva a uma máquina classificadora. Quando termina a classificação, o
gergelim descascado passa para outra moega, que destina o material para
embalagem (Figura 99). Esta semente de gergelim é acondicionada e
armazenada de acordo com o grau de processamento a que tenha sido
submetida. O produto (natural sujo e limpo) é ensacado a vácuo e armazenado,
sendo recomendado fazer sua classificação (anotação na sacaria por lote) em
função das cultivares, cor e qualidade (DELTATECH, 2005).
Foto: Flávio Tôrres de Moura
Limpadora
Secadora
Água quente
Centrifuga
contínua
Tanque B
Tanque A
Misturador
Hobart
Painel de
controle
Embalagem
a vácuo
Fig. 99. Fluxograma dos processos semi-contínuos de despeliculação química de
sementes de gergelim
237
Quando o processo químico de despeliculação do gergelim visa atender a
uma pequena demanda do mercado (Figura 100), as sementes passam pelas
seguintes etapas: a) 03 kg de sementes são colocadas dentro de um vasilhame,
tendo em seu fundo uma espécie de peneira bastante fina que as retém; b) este
A
B
C
D
E
F
G
H
Fig. 100. Esquema dos processos descontínuos de despeliculação química das sementes
de gergelim para atender às micro-empresas de comunidades rurais organizadas.
Fotos: A, B, C, D, G, H - Vicente de Paula Queiroga
Fotos: E, F - Foto: Adilson Manzano
238
vasilhame com as sementes é submerso em balde (azul) com água normal
(25 ºC) durante 3 horas (molho); c) em seguida, as sementes no vasilhame
permanecem por um minuto dentro de outro balde (preto), contendo em seu
interior água quente (temperatura de 90 ºC) numa solução feita de 0,06% de
soda cáustica; c) as sementes são submetidas por 6 minutos a batedeira industrial
na velocidade de rotação número 3; d) o excesso de umidade é extraído dos
grãos pela centrífuga de uma desnatadeira adaptada, apenas tapando o fundo da
panela de inox com uma tela fina, prendendo-a com fita adesiva, para evitar a
passagem dos grãos; e) a secagem complementar dos grãos pode ser efetuada
num secador rotativo da Ecirtec; f) as sementes são peneiradas e ventiladas
dentro da máquina de marca Ecirtec ou no assoprador Souht Dakota (Figura
101); g) as sementes limpas são envasadas com 4% de umidade em sacos de
plástico pela embaladora a vácuo; e h) sementes de gergelim despeliculadas
quimicamente.
Foto: Alek Sandro Dutra
A despeliculação é mais valorizada quando realizada com grãos brancos
como os da a BRS Seda, porque quando se remove a película o oxalato de cálcio
e fibra não digerível são eliminados; conseqüentemente, o grão fica mais doce
Fig. 101. Assoprador Souht Dakota usado para separar as impurezas das sementes
pequenas de gergelim
239
por perder o gosto amargo, que é característico da espécie. Já nos grãos de
outras cores, este gosto amargo não é eliminado totalmente, quando se remove
sua película, pelo fato do oxalato de cálcio estar presente no endosperma dos
grãos. Uma vez completada a despeliculação dos grãos de cor branca, o produto
terá melhor preço no mercado por elevar sua qualidade alimentícia, podendo
chegar a duplicar ou triplicar o seu valor de mercado em relação aos grãos
convencionais (QUEIROGA et al., 2007).
O grão descascado é mais utilizado no consumo direto pelas padarias,
confeitarias e outras indústrias alimentícias. Os grãos despeliculados de gergelim
devem ser processados com base na quantidade demandada pela indústria. Ou
seja, não é recomendado armazenar grãos descascados para ficar esperando
pelo mercado. Dependendo do processo utilizado para despeliculação, o grão que
teve contato com a água pode mudar de cor (grão escuro) entre um e dois meses
(MAZZANI, 1999).
Num trabalho de despeliculação de gergelim realizado na Venezuela,
Mazzani (1999) observou que o índice de peróxido (oxidação) foi ligeiramente
maior na amostra descascada mecanicamente nas seis semanas de
armazenamento, quando comparada com a amostra descascada quimicamente
(hidróxido de sódio a 0,06%). Entretanto, esta última amostra apresentou maior
deterioração a partir da oitava semana de armazenamento, ficando mais
acentuada a mudança de cor.
c) 'Tahine' (creme de gergelim)
O delicioso creme de gergelim, que em árabe se denomina "tahine", deve
ser preparado com gergelim de cor branca, de sementes descascadas ou
despeliculadas, visando eliminar o gosto amargo de oxalato de cálcio presente da
sua película. Este tipo de 'tahine' é o mais refinado e mais valorizado no mercado,
pois, é reconhecido por sua riqueza em proteínas e por ser uma das melhores
fontes de energia para o corpo humano; ademais, a pasta elaborada é 100%
natural (sem conservantes químicos).
Este creme de gergelim é preparado tostando-se ½ kg de sementes branca
numa frigideira seca ou panela (Figura 102), durante 5 a 10 minutos a 180ºC.
Ao serem tostadas, as sementes descascam-se naturalmente (método físico de
Foto: Diego Antônio Nóbrega
240
Fig. 102. O método físico de despeliculação
de grãos utiliza uma panela com tampa
perfurada especialmente para tostar gergelim
Fotos: Vicente de Paula Queiroga
eliminação das películas), antes de serem moídas. Após esfriar, mexe-se a
massa adicionando água fervida (a temperatura ambiente) e sal rosado líquido
até obter uma pasta consistente (MOLLER, 2006). Envasar em frasco de vidro e
depois de aberto o recipiente, guardar sempre na geladeira. Esta receita nem
sempre é cumprida pelos fabricantes de 'tahine', pois alguns elaboram a pasta
com sementes não brancas e/ ou não realizam a separação das películas das
sementes (despeliculação), resultando num produto de gosto amargo, que é
característico do gergelim. No comércio de produtos naturais, o 'tahine' pode
ser encontrado com distintas embalagens e tonalidades de cor (Figura 103).
Fig. 103. Embalagens do creme de gergelim ('tahine') em vidro (cor clara e achocolatado)
e em lata.
241
d) Produção de biodiesel
Foto: Diógenes Galindo Diniz
Diversos tipos de óleos vegetais podem ser usados para produzir biodiesel.
Mas, havendo interesse por parte do produtor de gergelim em atender ao
programa de biodiesel, há duas vias como alternativas para extração do óleo a
partir da torta gorda (a qual é resultante da primeira extração do óleo a frio das
sementes para produzir o óleo extra-virgem, em razão de sua alta viabilidade
econômica). Na primeira alternativa, a extração do óleo seria realizada por
prensagem da torta gorda pré-aquecida em usinas adaptadas para extração de
óleo de algodão (Figura 104); as máquinas que fazem a operação de extração a
quente necessitam trabalhar com uma temperatura de 120 °C (FAO, 2006). Na
segunda alternativa, a extração do óleo da torta gorda seria pelo método de
extração com solvente, o qual poderia fornecer em até 20% de óleo bruto.
Fig. 104. Usina de
extração a quente de
óleo de caroço de
algodão, podendo ser
adaptada para grão
de gergelim
A extração química de óleos vegetais utiliza uma mistura de hidrocarbonetos
denominada de "hexana" (fração do petróleo) com ponto de ebulição ao redor de
70 ºC, que passa pela matéria-prima devidamente preparada. Esta passagem do
solvente pela matéria-prima é denominada "lavagem" e sua eficiência será maior
quando o contato com as células de óleo for facilitada pela exposição de uma
superfície maior. O óleo da matéria-prima que está na superfície é retirado por
simples dissolução e o óleo presente no interior de células intactas são removidos
por difusão. Assim, a velocidade de extração do óleo decresce com o decurso do
processo. Mesmo com a extração por solvente não se tem uma eficiência de
242
100%, pois, o farelo ficará ainda com um teor de 0,5 a 0,6% (em geral 1%) de
óleo. A mistura de óleo com solvente é chamada de "miscela" e o equilíbrio no
sistema óleo-miscela-solvente é o fator que determina a velocidade de extração.
A difusão do solvente será mais rápida quanto melhor for a preparação da matériaprima e quanto maior for a temperatura de extração (próximo à temperatura de
ebulição do solvente). A extração não é completa, pois, o farelo geralmente
apresenta um teor de 0,5 a 2,0% de óleo. Posteriormente é necessário fazer
uma nova destilação, para separar o óleo do solvente (SOAREZ, 2006).
Na extração química contínua, pode-se utilizar o sistema "Rotocel", que é
um cilindro horizontal dividido em setores, onde é colocada a matéria-prima,
mantido em baixa rotação; a matéria-prima inicial recebe a miscela mais
concentrada e depois, gradativamente, com miscelas mais diluídas. Na extração
química descontínua, utiliza-se um ou mais extratores (aparelhos tipo tanque
vertical com boca de carga e descarga, sistema de aquecimento por meio de
camisa com vapor indireto, tomadas para entrada e saída de líquidos e gases).
Dependendo do número de extratores montados na planta, após circulação de
miscela (solvente com óleo), o solvente limpo é circulado sobre o material quase
completamente desengordurado. Este solvente sairá do extrator já em forma de
miscela, sendo reutilizado nos extratores seguintes, que apresentam teores cada
vez mais elevados em óleo (ECIRTEC, 2008).
Outro método para extração de óleos essenciais de sementes e tortas de
gergelim utiliza o sistema de Extração por Arraste de Vapor. A extração desses
óleos é feita por destilação. Uma corrente de vapor passa pela matéria-prima e
arrasta com ela o óleo essencial. Quando esse vapor condensa, temos dois líquidos
imiscíveis: água e óleo essencial. A Ecirtec dispõe de vários modelos com diversas
capacidades de produção (Figura 105).
Em princípio, é necessário que se obtenha matéria-prima (óleo de gergelim
já filtrado) com o mínimo de umidade e de acidez. Isto é possível quando a mesma
é submetida a um processo de neutralização, mediante uma lavagem com uma
solução alcalina de hidróxido de sódio ou de potássio, seguida de um processo de
secagem ou desumidificação. As especificações do tratamento dependem da
natureza e condições da matéria graxa usada como matéria-prima (PARENTE,
2003).
Foto: Adilson Manzano
243
Fig.105. Extração por arraste de vapor dorna: A) equipamento com capacidade de 15
litros e B) equipamento com capacidade de 500 litros
A reação de transesterificação é a etapa da conversão do azeite em ésteres
metílicos ou etílicos de ácidos graxos, que constituem o biodiesel. A reação pode
ser representada por quaisquer das seguintes equações químicas:
Azeite + Metanol
Azeite + Etanol
Ésteres Metílicos + Glicerol
Ésteres Etílicos + Glicerol
A primeira equação química representa a reação de conversão, quando se
utiliza o metanol (álcool metílico) como agente de transesterificação, obtendose, portanto, como produtos, os ésteres metílicos que constituem o biodiesel e o
glicerol (glicerina). Enquanto a segunda equação faz referência à utilização do
etanol (álcool etílico), como agente de transesterificação, dando como resultado
o produto biodiesel, o qual é representado por ésteres etílicos e a glicerina
(PARENTE, 2003).
O mini-sistema para produção de biodiesel é constituído por uma unidade
compacta para a conversão de óleo vegetal em biodiesel, com capacidade de
100 l·h-1. Este mini-sistema, que tem sido denominado "máquina de biodiesel
móvel", é um equipamento de fabricação da empresa Tecbio (Figura 106). O
244
Fotos: Expedito José de Sá Parente
mini-sistema possui as seguintes características: a) Dimensões: 7,5 m
(comprimento) x 3,5 m (largura) x 5,0 m (altura); b) peso aproximado: 3.500 kg;
c) unidade móvel, facilmente transportável por caminhão convencional; d)
potência elétrica: 18 kw, quando o gerador de calor é elétrico e 3 kw quando a
fonte de calor é outra; e) consumo de água: 2.000 litros por dia; f) mão-de-obra
de duas pessoas (empregado e auxiliar) e g) processo manual com várias etapas
de transesterificação para produção de biodiesel.
Fig. 106. Mini-sistema móvel para produção de biodiesel e planta piloto industrial
com capacidade de produção de 8.000 litros diários de biodiesel da Universidade
Federal do Piauí de Teresina, PI, fabricados pela empresa Tecbio de Fortaleza-CE
Para atender aos programas da agricultura familiar, a empresa Linard
Engenharia e Fundição, do município de Missão Velha, CE, e o Instituto de Ensino
Tecnológico (Centec), também em Juazeiro do Norte, encamparam o projeto de
fabricação de mini-usinas de biodiesel. Uma dessas usinas foi apresentada no
parque de Exposição Agropecuária do Crato, CE (Expocrato), em 2008 (Figura
107).
Um projeto piloto para produzir biodiesel a partir da matéria-prima do óleo
da mamona foi implantado na fazenda Normal, localizada no Município de
Quixeramobim, CE, pertencente ao Governo do Estado do Ceará e administrada
pela EMATERCE. O biodiesel produzido da mamona é utilizado para alimentar um
Foto: Vicente de Paula Queiroga
245
Fig. 107. Unidade Piloto
industrial de produção de
biodiesel para diversos óleos
vegetais do fabricante Linard
Engenharia e Fundição de
Missão Velha, CE
gerador de energia. A geração de energia elétrica e a distribuição aos domicílios
foram feitas na comunidade rural "Serrinha de Santa Maria", localizada no mesmo
município, sendo os próprios produtores da referida comunidade os responsáveis
pela produção da matéria-prima (SEVERINO et al., 2005).
5. Resumo da Cadeia Produtiva do Gergelim
a) Demandas do mercado
Variedades: grãos brancos que podem ser exportados em estado natural
e/ou despeliculados. Em alguns países da América Central e do Sul, as cooperativas
dos produtores trabalham na comercialização do produto diretamente com
mercados da União Européia, USA e Japão.
A capacidade instalada dos descascadores de grãos de gergelim nas
comunidades familiares do Brasil terá que ser dimensionada em função do tamanho
dos mercados interno e externo. Além disso, deve ser aberto mercado para o
gergelim despeliculado, incentivando o plantio das cultivares com grãos brancos.
Por sua aparência branca e sabor doce, as variedades mais utilizadas no
descascamento têm sido Caribe, Inamar e Mejicana (IICA, 2004). Recentemente,
a Embrapa Algodão lançou uma nova variedade de gergelim de sementes brancas,
denominada de BRS Seda. Além da venda das sementes despeliculadas, em geral,
estas variedades com grãos brancos de gergelim devem possuir teor de óleo
superior a 50% (IICA, 2004).
246
b) Qualidade de exportação
O gergelim é exportado principalmente sob três formas: natural sujo de
campo, natural limpo de campo e despeliculados. Cada uma apresenta diferentes
níveis de processamento, de preços e de custos. No entanto, quando a produção
de gergelim é destinada à exportação, apenas as duas últimas formas são as
demandadas pelo mercado; a forma natural suja de campo tem uma demanda
restrita, devido à desvantagem do seu preço estipulado pelo mercado (IICA,
2004).
Em relação às exportações de óleo de gergelim pelos produtores, a
informação sobre tal mercado é escassa (representa menos de 4% do mercado),
por ser o óleo mais explorado pelas grandes indústrias para abastecer os vários
distribuidores varejistas.
Numa situação favorável de incentivo do governo brasileiro para a cultura
do gergelim no Brasil, nos próximos 5 anos, provavelmente poderia aparecer
uma estrutura global e organizada da cadeia do gergelim com os seguintes cenários
apresentados na Figura 108, baseando-se para isso em dados extraídos da cadeia
produtiva dos produtores da Nicarágua que guarda uma estreita relação com a
realidade dos pequenos e médios produtores do Brasil:
Esta cadeia do gergelim se constitui numa estrutura insumo-produto em
que intervêm agentes, processos, produtos e canais de comercialização, os quais
se engrenam em quatro elos principais: A fase primária ou produção agrícola, a
fase do processamento ou transformação agroindustrial, o elo da comercialização
(que inclui os circuitos de comercialização interna e de exportação) e o consumo
(IICA, 2004).
c) Agro industrialização ou processamento
Este elo da cadeia poderá ser considerado um dos pontos agravantes no
sistema produtivo do gergelim no Brasil, em função do baixo valor agregado do
produto, caso o mesmo dependesse apenas da exportação na forma de sementes.
Ou seja, os baixos níveis de industrialização do produto limitam as expectativas
de obterem-se preços mais altos pelas exportações e, de certa maneira, frustraria
a consolidação da cadeia do gergelim por parte dos produtores.
247
Aquisição de bens e serviços relacionados a assistência técnica e serviços especializados
Fig. 108. Cadeia produtiva do gergelim visando à expansão da cultura no Brasil.
d) Fornecedor de grãos
O manejo pós-colheita na empresa de óleo é iniciado pelo fornecedor dos
grãos. O usineiro pode adquirir a semente de gergelim por duas vias: a) Do produtor
diretamente, sendo o produto entregue na usina de óleo e b) através de
intermediários. A intervenção dos intermediários estabelece-se por existir um
espaço que não está sendo coberto pela cadeia produtiva. Independente do volume
produzido, o produtor vende sua colheita de gergelim ou parte dela aos
248
intermediários por dois motivos: por desconhecer que existem outros agentes que pagam melhores preços - e por falta de meios de transporte e da distância
para levar o produto a outro mercado mais promissor (IICA, 2004).
e) Fatores incidentes no preço do produto
Os preços compactuados dependem essencialmente da variedade e da
qualidade do produto. É do conhecimento de alguns produtores de gergelim, que
fornecem suas produções diretamente para as empresas de óleo, que a decisão
de compra se realiza após uma série de provas de laboratório efetuadas sobre
uma amostra do produto (sementes) para determinar os seguintes aspectos:
qualidade, sujeiras, imperfeições e condições do grão. A primeira prova é
puramente visual. Mas, em geral, são realizadas as provas de laboratório para
evitar uma avaliação subjetiva do produto. Quando chega o momento do produtor
ou intermediário entregar o produto na usina processadora de óleo, novas
amostragens de grãos são realizadas em cada saco de gergelim para constatar
se o produto que se está recebendo coincide realmente com a primeira amostra
analisada. Caso os resultados sejam diferentes, o produto é reclassificado e se
estabelece outro valor de compra para o mesmo. O poder de negociação
dependerá da maior ou menor oferta do produto no mercado. Quando a oferta do
produto é baixa, as exigências por qualidade e variedade diminuem (IICA, 2004).
Limitações no fornecimento de gergelim.
1. Alto grau de sujeira (terra, materiais estranhos) do produto entregue pelo
agricultor.
2. Os intermediários realizam as misturas dos produtos com distintas qualidades
para evitar a rejeição de parte ruim do produto pelos classificadores da usina
de óleo.
3. Antes da compra do produto, através dos procedimentos para examinar e
classificar os grãos, utilizados pelos encarregados da empresa de óleo, podese cometer fraude para desvalorizar o produto.
4. O mercado nacional deveria criar os mostruários padrões em cada usina de
249
óleo, os quais serviriam de parâmetros para uma classificação da qualidade
do produto mais justa e transparente. Todavia, dependendo da classificação
de qualidade que se realiza sobre o material em negociação e do grau de
limpeza que o mesmo tenha , este pode sofrer ainda uma redução no preço
acordado (IICA, 2004).
f) Classificação do Produto e Processamento Agroindustrial
O gergelim no Brasil comercializa-se sob três formas de apresentação:
Natural Sujo de Campo, Natural Limpo e Despeliculado. Cada uma destas formas
tem seu próprio processo, desde as atividades mais simples às mais complexas.
Foto: Vicente de Paula Queiroga
1. Gergelim Natural Sujo de Campo. Este constitui-se num processo simples,
uma vez que seja classificado como produto indesejável - quando não está apto
para ser comprado. Mas, quando o produto é desejável (Figura 109), existem
três categorias de classificação por qualidade: baixa, intermediaria e excelente.
O produto é armazenado, ficando pronto para ser comercializado.
Fig. 109. Gergelim
natural sujo de
campo
2. Gergelim Natural Limpo. O produto embalado em sacos é transportado
para o depósito da unidade processadora (Unidade de Beneficiamento de SementesUBS), sendo descarregado na moega. Através de um elevador mecânico, os
grãos são transportados a uma peneira classificadora e vibradora, que fica
submetida a um mecanismo de turbulência de ar, cuja finalidade é a eliminação
250
Foto: Diego Antonio Nóbrega
dos materiais estranhos contidos no produto (pedra, areia, material orgânico em
forma de casca, folhas etc). Em seguida, o produto está pronto para a segunda
fase de limpeza. Ou seja, outra descarga do material é feita na moega e, através
de um elevador, os grãos são colocados numa segunda máquina e, por meio de
um mecanismo de turbulência e peneira, eliminam-se o material fino e as sementes
em mal estado. No final, o produto é acondicionado em novo saco e transportado
para o depósito, onde se armazena o produto natural limpo (IICA, 2004; Figura
110).
Fig. 110. Gergelim natural limpo
3. Gergelim Despeliculado. Esta forma de apresentação implica nos
processos de limpeza, despeliculamento e embalagem tipo exportação, já
abordados anteriormente.
251
6. Coeficiente Técnico
Tabela 16. Estimativas de custos variáveis por hectare para o cultivo manual do
gergelim.
Tabela 17. Estimativas de custos variáveis por hectare para o cultivo semi-mecanizado
do gergelim.
252
Tabela 18. Estimativas de custos variáveis por hectare para o cultivo mecanizado do
gergelim
Fontes das tabelas 16, 17 e 18: Arriel (1997); Cardenas (1978); Langham et al. (2006); Mazzani (1999).
253
7. Referências Bibliográficas
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