VOLUME II

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ISBN 978-85-8015-038-4
Cadernos PDE
2007
VOLUME II
Versão Online
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
Produção Didático-Pedagógica
1
Autora: Flávia Acosta Castilho
NRE: Wenceslau Braz
Escola: Colégio Estadual Doutor Sebastião Paraná
Disciplina: História
( ) Ensino Fundamental (X) Ensino Médio
Disciplina de relação interdisciplinar 1: Sociologia
Disciplina de relação interdisciplinar 2: Biologia
Conteúdo estruturante: Relações Culturais
Conteúdo específico: Formação Cultural “Raça e Nação”
VOCÊ ACREDITA QUE EXISTEM RAÇAS HUMANAS?
O racismo existente ainda no século XXI desenvolveu-se devido
principalmente à ignorância. Mas, neste estágio de avanço em que o conhecimento
científico alcançou trouxe confirmações que ajudam a amenizar a visão políticoideológica que gerou justificativas
para discriminar e oprimir vários
povos.
Luís Gama, advogado e
abolicionista
pensamentos
reflexão,
produziu
que
alguns
merecem
demonstrando
que
a
escravidão era sistema injusto e
injustificável,
veja
na
página
seguinte:
Retrato de Luís Gama
(1830, Salvador, BA – 1882,
São Paulo) Militão Augusto de
Azevedo – Fotografia (albúmen) c.
1880 – Acervo Museu Afro Brasil.
2
Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o
estigma de um crime.
Mas nossos críticos se esquecem que essa cor é a origem da riqueza de
milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão,
tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o
fogo sagrado da liberdade.
(Fonte: CARDOSO, Oscar Henrique. Reportagens Especiais –
Personalidades
Negras.
Disponível
em:
http://www.palmares.gov.br/005/00502001.jsp?ttCD_CHAVE=317&btmprimir=SIM
Acesso em: 29/08/2007).
Perceba que a classificação humana em raças, juntamente com o racismo
deixou marcas negativas.
Um chefe de polícia de São Paulo afirmou tempos atrás que um carro com
quatro negros representa uma situação de suspeição.
Por outro lado quando os meios de comunicação mostram os grandes
criminosos, como políticos e banqueiros corruptos, ninguém diz: “Esses brancos
ladrões”. Mas se fossem três negros, eles seriam discriminados. (Maria Aparecida
Bento, 1999).
Estudos constatam que: “Racismo à brasileira é zelosamente guardado,
porque é sutil, engenhoso; a bem dizer, mascarado”. (Martiniano Silva, 1995, p.19).
Para entender como iniciou a ficção científica sobre raças humanas gerando
todos estes problemas de discriminação leia e reflita sobre o assunto “Viver a vida
sem reflexão não vale a pena ser vivida” (Sócrates, filósofo grego).
Como surgiu o racismo?
Segundo Marilena Chauí, não se sabe muito bem qual é a origem da palavra
“raça” – os antigos gregos falavam em etnia e genos, os antigos hebreus, em povo,
os romanos, em nação; e essas três palavras significavam o grupo de pessoas
descendentes dos mesmos pais originários.
Os gregos e os romanos praticavam a discriminação chamando de bárbaros
os povos que não falassem sua língua.
Para alguns a palavra “raça” se deriva de um vocábulo italiano “razza”,
usado a partir do século XV, que significava espécie animal e vegetal, que depois se
estendeu para as famílias humanas, conforme sua geração e a continuidade de suas
características físicas e psíquicas (ou seja, ganhando o sentido das antigas palavras
etnia, genos e nação).
3
No século XVI, a Inquisição inventou a expressão “limpeza de sangue”, que
significava a conversão dos judeus ao cristianismo. Os reinos cristãos de Portugal e
Espanha visavam seqüestrar as fortunas das famílias judaicas da Península Ibérica,
com a finalidade de erguer um poderio náutico para criar impérios ultramarinos.
Assim, a distinção religiosa, que separava judeus e cristãos, recebeu pela primeira
vez um conteúdo étnico.
Apenas no século XIX, especialmente com a obra do francês Gobineau,
que, inspirando-se nas idéias sobre o evolucionismo de Darwin, ou seja, da mutação
das espécies é introduzido formalmente o termo “raça” para combater todas as
formas de miscigenação, estabelecendo distinções entre raças inferiores e
superiores, a partir de características supostamente naturais. E, finalmente, foi
apenas no século XX que surgiu a palavra “racismo”, que, conforme Houaiss, é uma
crença fundada numa hierarquia entre raças, uma doutrina ou sistema político
baseado no direito de uma raça, tida como pura e superior, de dominar as demais.
Com isso, o racismo se torna preconceito contra pessoas julgadas inferiores e
alimenta atitudes de extrema hostilidade contra elas, como apartamento total – o
apartheid – e a destruição física do genos, isto é, o genocídio.
Para entender melhor perceba que a princípio o termo genos refere-se a um
tipo de organização social da Grécia Antiga, uma associação de várias famílias que
se julgam descendentes de um antepassado comum e a palavra genocídio é
definida como sendo o assassinato deliberado de pessoas motivado por diferenças
étnicas, nacionais, religiosas, (por vezes) políticas, ou por ter uma cultura diversa
são os motivos que levam um grupo a querer exterminar outro.
O racismo, portanto é uma ideologia das classes dominantes e dirigentes,
interiorizada pelo restante da sociedade.
A ideologia é uma visão de mundo, é uma perspectiva vinculada aos
interesses de uma classe.
(CHAUÍ,
Marilena.
Contra
a
Violência.
Disponível
em:
http://www.ciranda.net/spip/article1227.html Acesso em: 12/10/2007).
O pensamento evolucionista, ao defender a existência de uma espécie
humana idêntica que se desenvolveria em ritmos diferentes, passando pelas
mesmas etapas até alcançar a “civilização”, ou seja, um estado de progresso e
cultura social mais instruído, aparece, hoje, como etnocêntrico – tendente a
considerar a sua própria cultura como a medida de todas as demais – e colonialista.
4
Isso porque se procurou medir o suposto atraso das “sociedades primitivas” em
relação aos critérios ocidentais, com o progresso técnico e econômico sendo
considerado “prova” da evolução histórica. Dessa maneira, o evolucionismo aparece
como justificativa teórica para defender os interesses do colonialismo e exercer o
controle ou a autoridade sobre um território ocupado. (Fonte:VALENTE, Ana Lúcia.
Educação e Diversidade Cultural: um desafio da atualidade. São Paulo: Moderna,
2005, p. 19).
ATIVIDADES
1- Quais foram os interesses em jogo, ou circunstâncias que determinaram o
surgimento de justificativas para as práticas racistas?
2- “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotadas de razão e consciência e devem agir em relação às outras pessoas com
espírito de fraternidade”. (Artigo I da Declaração dos Direitos Humanos).
Analisando este artigo da Declaração dos Direitos Humanos, sabemos que a
mera declaração formal do direito não é suficiente para garantir a sua eficácia. Com
relação ao nosso país em quais aspectos você percebe grandes desigualdades no
tratamento entre as pessoas? O que pode ser feito para melhorar a justiça e o
reconhecimento do direito dos outros buscando um país melhor?
PESQUISE
1- Pesquise os casos extremos de racismo que ocorreram na História da
Humanidade: a ku-klux-klan, o racismo nazista e o apartheid.
2- De acordo com o sonho de Martin Luther King, uma sociedade deveria
tratar todos cidadãos igualmente, independente da cor da pele:
(...) Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o
verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas
serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas da Geórgia os filhos dos
descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos
poderão sentar junto à mesa da fraternidade.
(...) Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um
dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo
conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! Martin Luther King.
(Fonte: VIDEIRA, Carlos Alberto. Idéias – Biografia I: Martin Luther
King.
Disponível
em:
http://minhas_ideias.blog.pt/1264713/
Acesso
em:
5
18/11/2007).
Pesquise a trajetória deste grande líder na luta pelos direitos
civis nos Estados Unidos.
Martin Luther King
(Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br)
O negro e o racismo no Brasil
A segregação, ou seja, separação entre os povos foi intensificada a partir do
rápido contato entre os povos europeus com tribos americanas a partir do século
XV. Para os europeus foi preciso encontrar explicações para tantas diferenças
estéticas e culturais.
Foram usadas pelos escravocratas várias formas para subjugar, humilhar e
aproveitar-se
economicamente
das
condições
encontradas
nos
continentes
desconhecidos, sobrepondo a cobiça e a dominação.
Porém a historiografia oficial do nosso país difundiu a idéia de que os
conflitos existentes entre colonizadores e colonizados eram inexistentes, visto que
estava reservado ao homem branco, de acordo com a ideologia vigente no século
XVI, o papel de modernizador das atividades econômicas e das relações sociais.
O encontro trouxe novos dilemas. Os teólogos da época discutiam se os
índios tinham alma. Eles também chegaram à conclusão de que escravizar africanos
era natural, com base em uma passagem bíblica.
(Fonte: SUPER INTERESSANTE. Vencendo na raça. São Paulo: Abril, n. 187, abr.,
2003. p. 42) .
6
Durante
o
período
da
escravização no Brasil fotografias
como
esta
ao
escravos
lado
retratando
trabalhando
eram
vendidas no comércio do Rio de
Janeiro
aos
viajantes,
servindo
como uma espécie de souvenir dos
trópicos,
útil
ao
imaginário
eurocêntrico.
(Fonte:
LEITE,
Marcelo
Eduardo. Os múltiplos olhares de
Christiano Júnior, Studium n° 10,
Departamento de Multimeios da
UNICAMP, 2002).
(Fonte: Coleção Christiano Júnior – domínio público – Museu Histórico Nacional).
Segundo uma má interpretação bíblica derivada do nono capítulo da
Gênese, o patriarca Noé, depois de conduzir por muito tempo sua arca nas águas do
dilúvio, encontrou finalmente um oásis. Estendeu sua tenda para descansar, com
seus três filhos. Depois de tomar algumas taças de vinho, ele se deitara numa
posição indecente. Cam, ao encontrar seu pai naquela postura fez, junto aos seus
irmãos Jafé e Sem, comentários desrespeitosos sobre o pai. Foi assim que Noé, ao
ser informado pelos filhos descontentes da risada não lisonjeira de Cam, amaldiçoou
este último, dizendo: seus filhos serão os últimos a ser escravizados pelos filhos de
seus
irmãos.
(Fonte:
MUNANGA,
Kabengele.
Disponível
em:
http://www.ufmg.br/inclusaosocial/?=59 Acesso em 23/11/2007).
A partir do século XVIII e principalmente no século XIX, as justificativas racistas
religiosas dão lugar a argumentos científicos. Os pesquisadores associavam os
traços físicos de cada raça a atributos morais. Um deles o conde francês Gobineau,
7
que em 1885 concluiu, que a miscigenação causa a decadência dos povos. Um de
seus discípulos foi o médico brasileiro Raimundo Nina Rodrigues, para quem os
rituais de candomblé eram uma patologia dos negros
Apesar de essas teorias terem caído em total descrédito no século XX, o tipo
de discriminação permanece vivo em muitas pessoas. É uma ideologia que se
reproduz facilmente e que está sempre ligada à dominação de um grupo sobre o
outro, diz Kabengele. Ou seja, além de qualquer aspecto psicológico, o racismo tem
motivos bastante práticos. Ele é um sistema de levar vantagens sobre outras
pessoas e manter privilégios, afirma a psicóloga Maria Aparecida Silva Bento.
Nos anos 30 o sociólogo Gilberto Freyre em sua obra repercute a idéia que
no Brasil não havia distinções rígidas entre brancos e negros e a discriminação era
social, feita aos pobres.
(Fonte: SUPER INTERESSANTE. Vencendo na raça. São Paulo: Abril, n.
187, abr., 2003, p. 42).
As elites políticas e intelectuais criaram uma noção de que no Brasil existe
uma natural harmonia e tolerância entre os grupos raciais, ou seja, que o
preconceito e a discriminação não existem. Essa elaboração, decorrente dos anos
1930, subsidiou-se em teses eugenistas, foi posteriormente criticada por estudiosos,
a exemplo de Roberto DaMatta que, a essa particularidade do Brasil, consagrou o
termo “democracia racial”.
A conseqüência disto no imaginário brasileiro é que as pessoas passaram a
ter vergonha de ter preconceito, por isso ninguém se aceita como racista e pode,
inclusive, se ofender se for chamado como tal. Ainda que ache engraçado ouvir
piadas racistas ou não se importe que seus filhos assistam a programas de televisão
que ridicularizam, através de imagens, músicas e outras formas simbólicas, tudo o
que representa a identidade negra.
Porém, essa enorme arma criada pela ideologia dominante a “Democracia
Racial” teve como principal efeito limitar as demandas dos negros pelos direitos
sociais, além de tornar ainda mais invisíveis as diferenças inter-raciais, quanto à
elaboração das políticas públicas direcionadas a esse grupo. (PEREIRA, Mariana
Cunha. Educação e Diversidade: preconceitos e dificuldades na implementação da
lei 10.639/03 junto aos professores das redes municipais de ensino no Brasil. In:
Justicia y diversidad em tiempos de globalización, 2006 v. 01, p. 98).
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Se o racismo é tão forte, por que a imagem de que éramos um paraíso racial
durou tanto tempo? Existem vários motivos. O primeiro deles é que no Brasil a
mestiçagem foi muito intensa. O colonizador português não era avesso à
miscigenação, o que ajudou a criar aqui um grau de mistura gênica inusitada em
qualquer população do mundo, afirma o geneticista Sérgio Pena, da UFMG.
A longevidade do mito da democracia racial também tem a ver com
identidade nacional. No início do século XX, o Brasil possuía várias colônias de
imigrantes, ligados mais às suas regiões de origem do que ao Brasil. Havia a
necessidade de unificar o país em uma mesma cultura e dar a ele uma origem e
uma tradição. Foi o que tentaram fazer o modernismo da Semana de 22 e a
Revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas. O Brasil começa a pensar em si
mesmo como uma civilização híbrida, miscigenada, capaz de absorver e abrasileirar
as manifestações culturais de diferentes povos que aqui imigraram. A idéia era que
os brasileiros constituíam uma só raça, um povo mestiço, afirma Antonio, Sérgio, da
USP.
Uma das principais formas de difundir esse preconceito está nos meios de
comunicação, que não raro retratam os negros em posições inferiores. Esse quadro
recentemente começou a apresentar mudanças, não porque o negro foi mais
respeitado, mas pela chegada de programas e filmes estrangeiros em que atores
não-brancos são comuns. O negro no Brasil tem espaços sociais bem definidos,
afirma o antropólogo João Baptista. Uma idéia bastante difundida é de que são bons
no futebol e na música. O mesmo espaço, no entanto, não é dado em cargos de
diretoria e outras posições de poder.
(Fonte: SUPER INTERESSANTE. Vencendo na raça.São Paulo: Abril, n.
187, abr., 2003, p. 42).
ATIVIDADES:
1- Você já viu alguma notícia de caso de racismo no Brasil ou já presenciou
comentários depreciativos com relação a pessoas de outra etnia? Em sua opinião o
que pode ser feito pela sociedade e governo para reparar as conseqüências da
escravidão e do racismo no Brasil?
2- Na segunda metade do século XIX fotógrafos brasileiros retratavam
negros (as) livres buscando aparecer com símbolos de distinção, como a bengala, o
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chapéu, o guarda-chuva, a cartola e a luva, o leque, sapatos lustrosos; desta forma,
buscando comportar-se como a sociedade branca, tentavam por ela serem aceitos.
Faça observações críticas em jornais, livros, revistas, filmes, novelas,
campanhas publicitárias, programas infantis e analise como geralmente os negros
são representados. Em sua opinião a imagem dos negros na mídia, geralmente, é
negativa? Justifique.
PESQUISE
1- O que diz a Constituição Brasileira sobre o preconceito racial?
2- Fazer pesquisa sobre personalidades negras brasileiras de destaque na
política, nas artes, nos esportes, em movimentos sociais e em outros campos
profissionais em que foram bem-sucedidos. Organizar painéis com imagens e
comentários sobre estas pessoas.
Como só agora os cientistas estão entendendo
as diferenças entre os seres humanos?
(Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br)
Ao contrário dos chimpanzés e demais primatas, o homem não possui
cabelo por todo o corpo. A adaptação provavelmente surgiu por volta de 1,6 milhões
de anos atrás para esfriar o corpo de alguns dos nossos primeiros ancestrais, que
começavam a se tornar mais ativos e fazer longas caminhadas. Uma mudança levou
a outra: células que produziam melanina, antes restritas a algumas partes
descobertas, se espalharam por toda a epiderme. Além de tornar a pele escura, a
melanina absorve os raios ultravioletas do Sol e faz com que percam energia.
Nas regiões menos ensolaradas, a pele negra começou a bloquear os raios
ultravioletas. Esse tipo de radiação é nocivo em quase todos os aspectos, mas tem
um papel essencial no organismo: iniciar a formação na pele de vitamina D,
necessária para o desenvolvimento do esqueleto e a manutenção do sistema
imunológico. A tendência então foi que populações que migraram para regiões
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menos ensolaradas desenvolvessem pele mais clara para aumentar a absorção de
raios ultravioleta. Em regiões intermediárias, o truque evolutivo foi o bronzeamento
uma camada temporária de melanina para proteger o folato em épocas de sol e
produzir vitamina D quando ele não fosse tão forte. Ou seja, de acordo com os
novos estudos, a cor da pele é apenas uma forma de regular nutrientes.
Adaptações ao clima afetam primordialmente características superficiais. A
interface entre o interior e o exterior tem papel fundamental na troca de calor de
dentro para fora, e vice-versa, afirma o geneticista italiano Luigi Luca-Sforza, um dos
pioneiros no estudo de genética de populações, em seu livro Genes, Povos e
Línguas. Ao se espalhar pelo mundo, os seres humanos tiveram que lidar com todo
tipo de ambiente e o principal elemento a se adaptar aos extremos de temperatura,
umidade, iluminação e ventos do planeta foi a aparência. O cabelo encarapinhado
por exemplo ajuda a reter o suor do couro cabeludo e a resfriá-lo. O oposto ocorre
em regiões frias como a Sibéria.
O corpo e a cabeça dos mongóis, que se desenvolveram por lá, tendem a
ser arredondados para guardar calor, o nariz, pequeno para não congelar, com
narinas estreitas para aquecer o ar que chega aos pulmões, e os olhos, alongados e
protegidos do vento por dobras de pele.
A origem de muitas características, no entanto, permanece desconhecida.
Muitas delas podem ter surgido por serem consideradas belas ou simplesmente por
acaso.
Faltava apenas uma medida precisa da grande semelhança existente entre
nós, e ela finalmente apareceu em 2002. Uma equipe de sete pesquisadores dos
Estados Unidos, França e Rússia compararam 377 partes do DNA de 1.056 pessoas
de 52 populações de todos os continentes. O placar final: entre 93% e 95% da
diferença genética entre os humanos é encontrada nos indivíduos de um mesmo
grupo e a diversidade entre as populações é responsável por 3% a 5%. Ou seja,
dependendo do caso, o genoma de um africano pode ter mais semelhanças com o
de um norueguês do que com alguém de sua cidade. O estudo também mostrou que
não existem genes exclusivos de uma população, nem grupos em que todos os
membros tenham a mesma variação genética. A diversidade entre as populações
está nas diferentes freqüências de traços que são encontrados em todo lugar, diz o
biólogo Noah Rosenberg, da Universidade do Sul da Califórnia, Estados Unidos, um
dos autores do trabalho.
11
(Fonte: SUPER INTERESSANTE. Vencendo na raça.São Paulo: Abril, n.
187, abr., 2003, p. 42).
No reino animal – de que pouco nos distanciamos – o que define “espécie
animal” é a interfecundidade e a capacidade de gerar descendência fértil. Assim, se
um casal de aves ou de mamíferos gera filhotes férteis, trata-se da mesma espécie
animal, ou seja, da mesma raça.
Raças diferentes podem, em alguns casos, gerar descendência, mas esta
não será fértil. Vejamos o caso do Pintagol. Resultado do cruzamento de um
pintassilgo com um canário belga. O pintagol é incapaz de gerar descendência. O
mesmo com relação à mula. O cruzamento de um cavalo com uma jumenta resulta
num animal mais forte e resistente que seus genitores, a mula, que é estéril!
A espécie ou raça humana tem como características principais o cérebro
mais desenvolvido, a capacidade de simbolizar e de comunicar-se através da fala.
As diferenças exteriores, aparentes segundo estudos antropológicos exaustivos, não
cacterizam “raças” distintas.
Fazendo um paralelo com nossos irmãos mais jovens, do chamado reino
animal, percebemos que se um cidadão de origem japonesa contrai núpcias com
uma africana, como nos mostram os contatos culturais disto resultantes, o casal gera
descendência plenamente fértil. Trata-se, portanto, da mesma espécie, da mesma
raça, a raça humana. (Fonte: CHAVES, Lázaro Curvelo. De Raças e Racismo, 2004.
Disponível em http://www.culturabrasil.org/racismo/htm Acesso em: 14/09/2007).
ATIVIDADES
1- Qual a importância da conscientização científica, principalmente da
genética molecular para a questão das diferenças físicas?
2- Você provavelmente já deve ter percebido que as doenças e tratamentos
psiquiátricos ainda estão envolvidos em preconceitos, mas no início do século XX a
situação era pior, pois o médico psiquiatra negro Juliano Moreira (1873-1932) teve
que defender a idéia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos
e situacionais, como a falta de higiene e falta de acesso à educação, contrariando o
pensamento racista em voga no meio acadêmico, que atribuía os problemas
psicológicos do Brasil à miscigenação. (Fonte: CARDOSO, Oscar Henrique.
Reportagens Especiais – Personalidades Negras. Disponível em:
12
http://www.palmares.gov.br/005/00502001.jsp?ttCD_CHAVE=409&btImprimir=SIM
Acesso em: 29/08/2007).
A partir desta informação analisem quais são os fatores que facilitam a expansão de
práticas discriminatórias como a citada nesta questão.
3- Os nazistas desenvolveram metodologias para determinar o grau de
impureza racial das pessoas e separá-las dos alemães. O geneticista Otmar Von
Verschuer, mentor de Josef Megele, o médico-monstro de Auschwitz, foi um dos
expoentes desse procedimento. Com base em medidas que incluíam as feições e
características do rosto, a cor dos olhos, o tamanho e o formato do crânio, Von
Verschuer doutrinou centenas de médicos, funcionários da saúde e oficiais da SS no
anti-semitismo pseudocientífico, ou seja, na arte de reconhecer um judeu. (Fonte:
Revista Sociologia Ciência & Vida, ano I n.9 – 2007).
Esta prática nazista para os dias de hoje além de violar os Direitos Humanos
e a ética científica é claro que caracteriza charlatanismo e ódio racial. O que nós
cidadãos e as autoridades podemos fazer para evitar que problemas como estes
possam acontecer?
4- Observe a letra da canção Lourinha Bombril (Parate y Mira):
Pára e repara
Olha como ela samba
Olha como ela brilha
Olha que maravilha
Essa criola tem o olho azul
Essa lourinha tem cabelo bombril
Aquela índia tem sotaque do Sul
Essa mulata é da cor do Brasil
Composição: Herbert Vianna, Diego José Blanco, Fernando Javier Luís Hortal.
Interpretação: Paralamas do Sucesso.
(Fonte: www.unidadenadiversidade.org.br Acesso em: 30/08/2007).
Qual a mensagem central para a inspiração desta canção?
5- Analisando o conteúdo deste Folhas qual sua conclusão sobre a lógica
científica em relação ao termo raças humanas e raças superiores?
Referências Bibliográficas:
LEITE, Marcelo Eduardo. Os múltiplos olhares de Christiano Júnior, Studium n°
10, Departamento de Multimeios da UNICAMP, 2002.
PEREIRA, Mariana Cunha. Educação e Diversidade: preconceitos e dificuldades
na implementação da lei 10.639/03 junto aos professores das redes municipais
de ensino no Brasil. In: V Congresso de la Red Latinoamericana de Antropologia
13
Jurídica, 2006, Oaxtepec, Morelos, México. Justicia y diversidad em tiempos de
globalización, 2006, v.01, p.98.
SOCIOLOGIA CIÊNCIA & VIDA – Caderno de Exercícios. A Questão Racial do
Ponto de Vista Histórico e Sociológico. São Paulo: Escala, n. 9, 2007.
SUPER INTERESSANTE. Vencendo na raça. São Paulo: Abril, n. 187, abr., 2003,
p. 42.
VALENTE, Ana Lúcia. Educação e Diversidade Cultural: um desafio da
atualidade. São Paulo: Moderna, 2005, p. 19.
Documentos Consultados On-line:
CARDOSO, Oscar Henrique. Reportagens Especiais – Personalidades Negras.
Disponível
em:
http://www.palmares.gov.br/005/00502001.jsp?ttCD_CHAVE=317&btImprimir=SIM
Acesso em: 29/08/2007.
CHAUÍ,
Marilena.
Contra
a
Violência.
Disponível
em:
www.unidadenadiversidade.org.br Acesso em: 12/10/2007.
CHAVES, Lázaro Curvelo. De Raças a Racismo, 2004. Disponível em:
http://www.culturabrasil.org/racismo.htm Acesso em: 14/09/2007.
MUNANGA, Kabengele. Inclusão Social – um debate necessário?. Disponível em:
http://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59 Acesso em: 23/11/2007.
VIDEIRA, Carlos Alberto. Idéias – Biografia I: Martin Luther King, Disponível em:
http://minhas_ideias.blog.pt/1264713/ Acesso: 18/11/2007.
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