Caracterização da direção e velocidade dos ventos

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Caracterização da direção e velocidade dos ventos nos manguezais da Barra
do Rio Ribeira de Iguape, SP.
Jonas Bassfeld Maceno Silva, Emerson Galvani (orientador)
Universidade de São Paulo/Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
[email protected]
Resumo
Este artigo apresenta resultados do projeto em andamento da caracterização da velocidade e direção dos
ventos nos manguezais da Barra do Rio Ribeira de Iguape/SP. Fez-se um levantamento bibliográfico de
pesquisas voltadas para o ambiente de manguezal, bem como o de estudos de caracterização do vento na
escala microclimática. Também realizou-se uma caracterização climática da área de estudo. A pesquisa
demonstrou haver interferência direta entre a cobertura vegetal e os ventos. Os resultados apresentam
características principais da dinâmica dos ventos no local durante o ano de 2013.
Palavras Chaves: microclimatologia, manguezal, vento.
Abstract
This article presents results from the ongoing project of characterization of direction and speed of winds in
mangroves of “Barra do Ribeira” of Ribeira river, Iguape – SP, Brazil. A literature research was made
focused on the mangrove environment, as well as the characterization studies on wind from a microclimate
scale. Also a climate characterization of the study area was made. The research has shown there is a direct
interference between vegetation and the winds. The results show the main characteristics of wind’s dynamic
at the local, during the year 2013.
Key words: microclimate, mangrove, wind.
Introdução
O manguezal é um ecossistema costeiro, tipicamente tropical e subtropical, desenvolvido entre os
ambientes marinhos e terrestres. Associado à vegetação típica, o ecossistema desenvolve flora específica
adaptada aos fatores abióticos do ambiente como o clima, o solo, a salinidade e aos regimes de marés que
causam constantes inundações.
Diversas funções ecológicas e socioeconômicas são atribuídas ao manguezal, como a exportação de
matéria organica para os estuários, abrigo para diversas espécies animais, fonte de matéria prima para
comunidades vizinhas aos manguezais, atuação como filtro biológico para sedimentos e produtos químicos,
agente no equilíbrio do balanço energético da região (Lima; Galvani, 2009). Para o bom desenvolvimento do
ecossistema e de suas funcionalidades é necessária a estabilidade do meio físico, que, no entanto, é
constantemente ameaçada pela ação antrópica; as áreas de manguezais correspondem também às áreas
de elevada concentração demográfica e alterações do seu meio físico pelo homem como aterramentos,
ocupações irregulares e despejo de resíduos poluentes.
O Sistema Costeiro Cananeia-Iguape localiza-se no extremo Sul do litoral do Estado de São Paulo;
compreende as ilhas Cananeia, Cardoso, Comprida e Iguape e recebe parte da drenagem do Rio Ribeira de
Iguape. A região vem sofrendo influências antrópicas decorrentes da construção do Canal do Valo Grande
desde o século XIX, causando processo de erosão das margens e consequente assoreamento, além de
desviar grande parte da vazão do rio, afetando o sistema como um todo (Cunha-Lignon, 2001).
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Nos estudos do clima em escalas inferiores, a vegetação atua como controlador climático do ambiente; no
ambiente de manguezal, o dossel promovido pela cobertura vegetal controla atributos como radiação solar,
umidade e temperatura do ar, suas distribuições espaciais e temporais, refletindo no desenvolvimento e
crescimento das espécies do ecossistema (Galvani; Lima, 2009)
Neste âmbito, entra a contribuição do estudo microclimático dos manguezais na região, no intuito de
observar as relações entre as influências antrópicas e seus impactos no ecossistema concernentes ao
microclima.
Objetivos
O projeto tem como objetivo principal auxiliar na análise microclimática do ambiente de manguezal na Barra
do Rio Ribeira de Iguape, com foco no atributo climático vento, através da caracterização de sua direção e
velocidade, identificando as relações entre a cobertura vegetal do ecossistema e sua relação com os
ventos.
Materiais e Métodos
O vento corresponde ao deslocamento horizontal do ar atmosférico em relação à superfície terrestre, sendo
componente do movimento atmosférico geral da Terra que conta com os efeitos do giro do planeta em torno
de seu eixo, sendo responsável por grande influência na direção dos vento. A causa básica dos movimentos
horizontais do ar é o desequilíbrio isostático da atmosfera gerado pela variação quantitativa e espacial da
pressão atmosférica; em outras palavras, o ar se desloca das áreas de maior para menor pressão, um
movimento compensatório da atmosfera no desenvolvimento e manutenção de um gradiente de pressão
horizontal (Ayoade, 1991).
Os estudos sobre ventos possuem uma abordagem complexa devido às suas variabilidades e constante
circulação. O vento não apenas é um atributo climático mas a inércia do deslocamento do ar em relação à
superfície, cujo movimento possui local, momento, direção, sentido e intensidade a serem notados. Essas
características ainda apresentam informações que complementam e refletem em outros atributos do clima
como umidade relativa, temperatura, pressão atmosférica e radiação (Veneziani, 2011)
Para o estudo apresentado, observam-se:

a direção do vento, que corresponde à orientação da qual provém o fluxo de ar, tomando como
referência os pontos cardeais e colaterais

a velocidade do vento, expressa em m.s ; é possível extrair dos valores de velocidade, os
fenômenos de calmaria e rajadas.
-1
Os dados meteorológicos foram obtidos através da pesquisa realizada por Lima (2009), utilizando-se uma
estação meteorológica instalada na Ilha dos Papagaios, na Barra do Ribeira, Iguape, no período de Janeiro
a Dezembro de 2008. A estação contém sensores para medição da temperatura e umidade relativa do ar,
direção e velocidade do vento, precipitação e radiação solar em 2 alturas diferentes para isolar o fator de
influência da cobertura vegetal.
Para este projeto também foram coletados os dados de valores para velocidade e direção do vento da
estação para o ano de 2013 e dados obtidos da estação meteorológica na Ilha do Cardoso, durante o
período de 2000 a 2005 para caracterização climática da região.
Resultados
A figura 1 mostra os períodos mais e menos energéticos da atmosfera do local durante 2013. É possível
observar nos meses de Abril a Junho as maiores taxas de calmaria do ar, chegando a mais de 30% do
tempo de Junho sem movimentação atmosférica observada, enquanto meses como Janeiro, Novembro e
Dezembro o vento é mais constante e observado em quase 90% do tempo registrado.
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Figura 1. Variação mensal de movimentação atmosférica.
Estes dados condizem com a análise das velocidades médias registradas mensal e sazonalmente para o
-1
-1
período; Junho apresenta a menor velocidade média (0,28 m.s ) e Novembro a maior (0,91 m.s ). No
-1
recorte sazonal, Outono apresentou menor velocidade média (0,41 m.s ) enquanto a Primavera registrou
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quase o dobro da velocidade média (0,79 m.s ) .
Na Figura 2 pode-se observar o comportamento do vento em relação a sua direção. O recorte horário,
considerando os períodos diurno e noturno, explicita as direções predominantes do vento no local, sendo os
ventos de Sudeste (SE) e Leste (E) predominantes durante o dia, representando 29,90 e 25,35 porcento do
tempo neste período, respectivamente. No período noturno, os ventos predominantes são de Oeste (W) e
Noroeste (NW), representando 20,98 e 11,63 porcento do tempo deste período, respectivamente.
No total do ano, o período noturno se mostrou duas vezes mais calmo que o diurno: 26,48 porcento do
tempo de calmaria para o primeiro e 12,84 porcento para o segundo.
Figura 2. Direções predominantes do vento nos períodos diurno e noturno.
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Conclusões
O projeto em andamento conta com um levantamento de informações importantes para o entendimento do
ecossistema manguezal, através de revisão bibliográfica específica. Conferiu-se a importância da cobertura
vegetal no controle do microclima do ecossistema manguezal; no caso do vento, observou-se a redução de
sua velocidade no interior do dossel.
Foram observados padrões na dinâmica do vento em relação à velocidade média ao longo do ano e à
variação diária de sua direção; o ar apresenta-se mais agitado em períodos mais energéticos do ano,
Primavera e Verão, e do dia, no período diurno. Nota-se a predominância do vento proveniente de Leste e
Sudeste durante o dia e nas direções opostas Oeste e Noroeste durante a noite, evidenciando a atuação
das brisas marítimas e terrestres.
Para maior apreensão da dinâmica dos ventos no local, será necessário a análise de dados de um maior
período de tempo; para o estudo da interferência da cobertura vegetal serão também analisados em
comparação os dados obtidos no interior e exterior do dossel do manguezal.
Referências Bibliográficas
AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para os trópicos. 3ª ed. Rio de Janeriro: Bertrand, 1991, p.72-97
CUNHA-LIGNON, M. Dinâmica do manguezal no Sistema de Cananeia-Iguape, Estado de São Paulo –
Brasil. 2001. Dissertação (Mestrado em Oceanografia) – Instituto Oceanográfico, Universidade de São
Paulo, São Paulo.
GALVANI, E.; LIMA, N. G. B. Estudos climáticos nas escalas inferiores do clima: manguezais da Barra do
Rio Ribeira, Iguape, SP. Mercator, Fortaleza, v. 9, n. especial 1, p. 25-38, 2010
LIMA, N. G. B.; GALVANI, E. Os manguezais da Barra do Ribeira – Iguape (SP): Espécies, origem e
distribuição geográfica. In: LEMOS, A. I. G.; GALVANI, E. (Orgs.). Geografia, tradições e perspectivas:
Interdisciplinaridade, meio ambiente e representações. São Paulo: Clacso/Editora Expressão Popular, 2009.
p. 217-233.
LIMA, N. G. B. Análise microclimática dos manguezais da Barra do Ribeira- Iguape/SP. 2009. Dissertação
(Mestrado em Geografia Física) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2009.
VENEZIANI, Y. Análise e caracterização dos regimes de ventos do núcleo Cunha do parque estadual da
Serra do Mar, Cunha – SP. 2011. Trabalho de Graduação Individual. Departamento de Geografia.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
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