menor protecionismo dos eua e maior competitividade do brasil

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Publicação do IEDI - Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
www.iedi.org.br
ano1 - nº 3 - maio 2002
[email protected]
MENOR PROTECIONISMO DOS EUA E
MAIOR COMPETITIVIDADE DO BRASIL
CONDICIONAM A PARTICIPAÇÃO NA ALCA
A nossa economia é pouco competitiva mas se o produto nacional tiver acesso aos
mercados nos Estados Unidos e o Brasil fizer a sua parte teremos condições de
nos integrar, avaliam os empresários do IEDI
Uma sondagem feita entre os 44 conselheiros do IEDI
entre março e abril indica uma significativa vulnerabilidade
da economia brasileira para o ingresso na Área de Livre
Comércio das Américas – ALCA. Para 80% dos
entrevistados, ouvidos sobre aspectos comerciais do
acordo, o Brasil não é competitivo ou é pouco competitivo
neste momento (leia a íntegra do trabalho Perspectivas da
ALCA para a Economia Brasileira – Sondagem entre os
Conselheiros do IEDI, em www.iedi.org.br).
No entanto, se as negociações conseguirem eliminar os
subsídios e as barreiras não tarifárias em vigor nos Estados
Unidos e o Brasil fizer um conjunto de reformas para
melhorar as suas condições de competição, a ALCA
beneficiará o nosso país, concluíram 72% dos empresários.
Outros 19% opinaram que a ALCA beneficiará o país
incondicionalmente. Apenas 9% não acreditam que essa
integração possa ser benéfica.
O processo da ALCA, iniciado em Miami com a primeira
reunião de cúpula das Américas em 1994 e que deverá
estar concluído em 2004, visa integrar as economias do
continente em uma única área de livre comércio. O
interesse de participação de cada país depende das
perspectivas de aumento das suas exportações e do
fortalecimento de seus setores externos.
continua na página 2
As complexas negociações internacionais envolvendo o Brasil e poderosos
protagonistas do mundo globalizado poderão trazer profundas e duradouras
conseqüências para a economia. Negociar bem os interesses nacionais é
decisivo, embora não seja por si só o determinante do êxito dessas negociações.
Há no plano interno uma vasta agenda de reformas que não podem mais ser
adiadas. Esta edição de Nova Política Industrial trata dessas questões na
perspectiva da formação da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA. Os
empresários do IEDI consideram que a ALCA favorecerá o país se a negociação
resultar em maior acesso a mercados para produtos brasileiros. Igualmente
importante é remover na frente interna as distorções bloqueadoras do aumento da
competitividade no conjunto dos setores da economia, em especial nos campos
tributário e de custo de capital.
Ivoncy Brochmann Ioschpe
Presidente
NESTA EDIÇÃO
ALCA
M
enor protecionismo dos
EUA e maior
competitividade do Brasil
condicionam a participação
na ALCA
CÂMBIO
A
válvula de dólares da
maxidesvalorização
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EXPEDIENTE
Nova Política Industrial é uma
publicação mensal do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial, IEDI, dirigida a entidades,
associações empresariais e público
em geral.
DIRETORIA:
Ex-Presidentes
José Ermírio de Moraes
Paulo Guilherme Aguiar Cunha
Eugênio Emílio Staub
Presidente
Ivoncy Brochmann Ioschpe
Diretor Geral
Josué Christiano Gomes da Silva
Diretor Executivo
Julio Sergio Gomes de Almeida
Conselheiros
Abraham Kasinski (Sócio Emérito)
Amarílio Proença de Macêdo
Andrea Matarazzo
Antonio Marcos Moraes Barros
Carlos Antônio Tilkian
Carlos Mariani Bittencourt
Carlos Pires Oliveira Dias
Claudio Bardella; Daniel Feffer
Eugênio Emílio Staub
Flávio Gurgel Rocha
Francisco Amaury Olsen
Guilherme Peirão Leal
Hugo Miguel Etchenique
Ivo Rosset
Ivoncy Brochmann Ioschpe
Jacks Rabinovich
Jorge Gerdau Johannpeter
José de Freitas Mascarenhas
José Roberto Ermírio de Moraes
Josué Christiano Gomes da Silva
Luiz Alberto Garcia
Maria Silvia Bastos Marques
Mário Milani
Miguel Abuhab
Nildemar Secches
Olavo Monteiro de Carvalho
Paulo Diederichsen Villares
Paulo Francini
Paulo Guilherme Aguiar Cunha
Paulo Setúbal Neto
Pedro Eberhardt
Pedro Franco Piva
Pedro Grendene Bartelle
Rinaldo Campos Soares
Robert Max Mangels
Roberto Caiuby Vidigal
Roberto de Rezende Barbosa
Roberto Kaminitz
Rogério Pinto Coelho Amato
Salo Davi Seibel
Sérgio Haberfeld
Thomas Bier Herrmann
Thomas Michael Lanz
Victório Carlos De Marchi
Sede: Rua Geraldo Flausino Gomes,
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04575-060, tel.: (11) 5505-4922,
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e-mail: [email protected]
Editor Responsável: Carlos
Drummond; Revisão: Lilian Jenkino;
Criação e diagramação: MG
Produções Gráficas; Fotolito:
Proposta Editorial; Impressão: Il
Rung; Tiragem: 3.000 exemplares;
Postagem: D&T; Distribuição:
gratuita; Periodicidade: mensal
O desempenho das exportações de setores
relevantes da economia brasileira depende,
na frente externa, de um bom acordo
comercial com os Estados Unidos. Esse
acordo deveria incluir a remoção de
subsídios à produção local e também de
barreiras – em especial, as não tarifárias –
às importações. Esses dois fatores juntos
impedem a entrada de grande parte dos
produtos de países como o Brasil.
Não podem ser esquecidos a falência de
milhares de empresas e o desemprego
gerado na indústria pela abertura mal feita
dos anos 90. Preservar os interesses do
Brasil na ALCA exige ainda: a negociação
de um cronograma para a liberalização
gradativa de importações de modo a
possibilitar a preparação da economia, a
fixação de regra de fabricação local para
impedir que integrantes do acordo sejam
usados como trampolins para países de
outras regiões interessados em se beneficiar
da alíquota zero da ALCA e a definição de
salvaguardas para evitar a perda de
mercados de exportação na América do Sul.
Na frente interna é urgente promover a
eliminação dos entraves para a fabricação
de produtos à altura das exigências
crescentes do mercado mundial. Os alvos
prioritários são as distorções que bloqueiam
o aumento da competitividade no conjunto
dos setores da economia. Elas se encontram
principalmente na estrutura tributária, no
custo de capital, na inadequação do
financiamento interno, no custo de
logística, na capacitação em pesquisa e
desenvolvimento e na escala de produção.
A reforma tributária é crucial para
desonerar a exportação e para assegurar
isonomia tributária ao produto nacional em
relação ao importado. A redução do custo
de capital é o instrumento mais abrangente
das políticas para o aumento de
competitividade o qual exige, no entanto, o
atendimento das necessidades específicas
dos diversos setores da economia. A
melhora da qualidade da educação tem
efeitos significativos e abrangentes na
produtividade, nos salários e na capacitação
tecnológica. A harmonização das normas
técnicas e de regulação dos mercados, a
melhora da infra-estrutura e a conseqüente
redução do custo de logística e a adequação
dos mercados financeiros para ampliar o
acesso ao crédito são outras ações
recomendadas pelos conselheiros do IEDI
como preparação do país para o ingresso
na ALCA.
As políticas gerais e setoriais deveriam ser
acompanhadas de investimentos internos
ou externos em promoção e marketing, em
desenvolvimento de produtos e da
produtividade e em formação de joint
venture a serem viabilizados com a união
de esforços da iniciativa privada e do
governo.
Onde Somos Não Competitivos ou Pouco Competitivos?
Custo de Capital
100%
Sistema Tributário
97%
Custo de Logística
84%
Capacitação em P&D
66%
Economias de Escala
56%
Requisitos Ambientais
41%
Capacitação de RH
34%
Know-How Tecnológico
28%
Custo de Matéria-Prima
Custo de Mão-de-Obra
Know-How de Mercado
25%
13%
9%
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O Dever de Casa
O Que É Muito Importante Fazer Internamente
Para Tirar Proveito da ALCA?
Harmonização/
Reforma Tributária
96,9%
Políticas de Competitividade
81,3%
Educação
81,3%
Harmonização na
Regulação
75,0%
Infra-Estrutura
71,9%
Adequação dos Mercados
Financeiros
71,9%
Ética e Responsabilidade
Social Corporativa
46,9%
O PÁREO DOS SETORES E
DAS EMPRESAS
A significativa diferença das condições de competição dos
setores brasileiros evidencia a necessidade de se adotar,
além de medidas abrangentes para toda a economia,
políticas específicas de preparação para a competitividade
de cada área na ALCA. Na avaliação feita entre os
segmentos representados no IEDI, o único considerado
altamente competitivo no mercado mundial é o de
Agronegócio. Onze outros são competitivos, oito pouco
competitivos e dois não competitivos.
Competitividade dos Setores
Muito Competitivos
Agronegócio
Competitivos
Armamentos; Autopeças; Brinquedos;
Cervejas e Refrigerantes; Cimento;
Cosméticos; Embalagens; Papel e
Celulose; Siderurgia; Têxtil; Vestuário
Pouco Competitivos
Alimentos; Madeira e Móveis; Material
de Construção; Metalurgia; Móveis de
Escritório; Software e Informática;
Eletrônica de Consumo; Química
Não Competitivos
Bens de Capital; Componentes
Eletrônicos
O panorama é outro quando se analisa cada empresa.
Quase 85% dos empresários do IEDI afirmam ter
condições de competir no mercado internacional devido à
reestruturação produtiva e gerencial desenvolvida na última
década. As suas empresas são indústrias nacionais de
maior porte que alcançaram níveis elevados de
competitividade ao longo dos anos 90.
Novos progressos desse conjunto de empresas dependem,
no entanto, do aparelhamento do conjunto da economia
brasileira para a competição internacional e esse é um dos
objetivos do trabalho do IEDI. Os empresários estão
conscientes de que o fortalecimento da posição brasileira
no cenário mundial depende, em boa medida, do avanço
da produtividade de forma mais abrangente na economia,
incluindo as empresas de menor porte e ramos de serviços
e infra-estrutura, de modo a fortalecer o país para o
ingresso na ALCA.
A VÁLVULA DE
DÓLARES DA
MAXIDESVALORIZAÇÃO
A maxidesvalorização de 1999
significou um ganho de
US$ 9,7 bilhões para o país nos
últimos três anos, entre
aumento de exportações da
indústria e fabricação de
produtos para substituir
importações
Quem disse que a maxidesvalorização do real feita há três
anos não funcionou? Ela serviu como uma válvula para o
setor externo da economia brasileira. As indústrias se
sentiram estimuladas a aumentar as suas vendas no
exterior. Ao mesmo tempo, trataram de reduzir as
importações e de substituí-las, sempre que possível, por
produção nacional. O resultado foi o aumento da entrada
e a diminuição da saída de dólares entre 1999 e 2001,
em benefício da balança comercial.
Em setores industriais como Material Elétrico e de
Comunicações, Material de Transporte, Madeira,
Mobiliário, Couros e Peles, Farmacêutica, Vestuário,
Calçados e Bebidas as vendas externas aumentaram pelo
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menos 20%, acumulando um acréscimo de
US$ 4,3 bilhões em divisas para o país.
Um outro efeito foi a redução de importações. O país
economizou pelo menos 10% na compra no exterior de
produtos de Minerais Não Metálicos, Mecânica, Material
de Transporte, Madeira, Mobiliário, Papel e Papelão,
Têxtil, Vestuário, Calçados, Produtos Alimentares,
Editorial e Gráfica e Brinquedos. Nesse grupo as
importações caíram US$ 5,4 bilhões, e possivelmente foi
aí onde se passou a fabricar no Brasil muitos dos itens
antes importados.
Em alguns segmentos, a desvalorização, ao mesmo tempo
em que aumentou exportações, reduziu importações. Foi
o caso de Material de Transporte, o setor que mais
contribuiu para a queda do déficit comercial da indústria.
Aqui a grande redução de importações (principalmente
em veículos) foi acompanhada de forte crescimento das
exportações (especialmente em aviões). Outros setores
que ganharam mercados tanto do lado das importações
quanto das exportações foram: Madeira, Mobiliário,
Vestuário e Calçados.
Resultado da Balança Comercial de Bens
Industriais - US$ Milhões
-2.806
-4.881
-6.086
-10.763
1996
1997
-3.516
-10.165
1998
1999
2000
2001
Esses movimentos resultaram em uma melhora
significativa do resultado do comércio exterior de bens
industriais nos últimos três anos: o déficit de US$ 10,1
bilhões em 1998 passou para US$ 3,5 bilhões em 2001
– uma diferença de US$ 6,6 bilhões – de acordo com
dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, recentemente divulgados.
A reação da indústria teria sido bem maior não fosse a
dependência estrutural de alguns segmentos em relação a
importações de itens de Química, Material Elétrico e de
Comunicações, Farmacêutica e Produtos de Matérias
Plásticas. Nesses casos, as compras externas cresceram
US$ 2,5 bilhões nos últimos três anos.
Uma outra limitação foi o protecionismo no mercado
internacional, que prejudicou as exportações dos produtos
das indústrias Metalúrgica, de Produtos Alimentares e de
Fumo, reduzidas em US$ 945 milhões no mesmo
período.
Para contornar ou minimizar esses problemas, o IEDI
recomenda que o país adote:
✔ Políticas industriais e de atração de
investimentos. Para remover o gargalo estrutural de
alguns setores industriais.
✔ Políticas de competitividade e política
comercial. Visam aumentar a competitividade de
produtos industriais brasileiros, remover o protecionismo
internacional, reerguer o Mercosul e ampliar o acesso a
mercados externos através da negociação de acordos
internacionais.
✔ Política de substituição competitiva de
importações. Essencial para dar continuidade a um
processo iniciado com a desvalorização cambial que
precisa e pode avançar mais.
Quem Contribuiu Mais Para a Redução do Déficit Comercial? – Participação de Gêneros Industriais
na Variação do Resultado Total da Balança Comercial de Bens Industriais entre 1999 e 2001 - %
Material de Transporte
Mecânica
Têxtil
Papel e Papelão
Produtos Alimentares
Madeira
Calçados e Componentes
Vestuário
Mobiliário
Couros e Peles
Editorial e Gráfica
Minerais Não Metálicos
Brinquedos
Indústrias Diversas
Perfumaria, Sab. e Velas
Prods. de Mat. Plásticas
Bebidas
Borracha
Metalúrgica
Farmacêutica
Química
Material Elétrico e de Comun.
Fumo
54,9
14,3
8,8
7,7
7,1
6,2
5,4
4,7
3,2
2,9
2,4
1,9
1,9
1,7
0,9
0,6
0,3
0,1
-0,8
-3,9
-5,8
-5,8
-8,6
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