Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados. Pronunciamento sobre a Campanha Continental contra a ALCA. SOBERANIA SIM, ALCA NÃO Ocupo esta tribuna para solidarizar-me com a Campanha Continental contra a ALCA, que a CNBB, MST, CUT, PT, UNE, CESE e outras entidades estão promovendo, buscando o envolvimento de toda sociedade para a construção de um plebiscito nacional que será realizado entre 01 e 07 de setembro deste ano. No Estado da Bahia será realizada uma atividade deste Comitê denominado Movimento Jubileu Sul Brasil, no próximo dia 19 de abril. A Câmara Federal, inclusive, constituiu uma Comissão Especial destinada a discutir a implementação da ALCA nas Américas. Acredito que o aprofundamento sobre a necessidade deste acordo, dará a nós brasileiros, a dimensão exata da estrategia dos EUA para o continente americano fundado em um projeto de dominação econômica, cultural e ideológica, traduzindo-se numa saída á crise que afeta a economia interna americana. Precipitar a abertura do mercado brasileiro através da ALCA não é o melhor caminho para o Brasil. Os EUA, que respondem por 75% do PIB das Américas, têm pressa porque ostentam o maior déficit da balança comercial de sua história (algo em torno de 200 bilhões de dólares), já não exercem o mesmo papel hegemônico do pós guerra, e cobiçam expandir seus negócios para uma região cujas taxas de crescimento são favoráveis. 2 Não se pode realizar o debate sobre a ALCA, como se o dilema fosse o do período de sua implementação. Se vai ser agora, ou em 2005, este debate só tem sentido se forem analisados os objetivos e os impactos que a Área de Livre Comércio das Américas venha criar sobre os países envolvidos. É preciso saber a quem interessa a Alca, quais as conseqüências para o Brasil no setor do trabalho, meio ambiente e direitos sociais. A hegemonia americana efetivamente consolidou-se – mas acontece que outros povos vêm emergindo – a União Européia, como um superestado do futuro, a China, o Japão, e a Rússia. Qual, então, a reação dos Estados Unidos ante a emergência desse mundo novamente multipolar? Simples: vamos organizar melhor a nossa área (as Américas), vamos consolidá-la. Como fazer isso? “Primeiro e acima de tudo, com grande sabedoria, vamos desarmá-los”. Sob a égide do mito de uma eventual escalada nuclear, a nação do norte conseguiu que os outros países americanos assinassem tratados comprometendo-se a não ter armas de destruição em massa, moeda que tem, é verdade, a face extremamente positiva do banimento do arsenal bélico nuclear e da busca da paz – mas tem também o anverso de uma estratégia bem montada. Depois dessa teoria da segurança cooperativa, alinhou-se a tática de dominação comercial. Deve-se, neste ponto, salientar que os Estados Unidos tem uma estratégia mundial, não havendo antagonismo entre sua estratégia mundial e sua estratégia regional. A ALCA não é uma iniciativa para o México (que já está incorporado pelos Estados Unidos), nem para os países do Caribe – de dimensões reduzidas e já integrados à economia americana. Tampouco o é para os outros países da própria América do Sul que já têm relações muito estreitas com a economia americana, e que não têm parque industrial diversificado nem dimensões de mercado significativas, tampouco o potencial que o Brasil tem. 3 A ALCA faz parte de uma estratégia política, militar e econômica regional. Não é o abandono da estratégia global, é apenas um apêndice, uma operação paralela. Continuam as operações referentes à China, às relações com a Europa, África e Ásia, porque os americanos, como se sabe, jogam em todos os tabuleiros: “Às 10 da manhã estão resolvendo o problema do avião na China, às 11 já estão com um problema na África, às 12 com Israel decidindo o que fazer, e o que não fazer”. E o Brasil, nesse processo indireto de recolonização periférica, como fica ? É visto como um país atrasado, um país autárquico, dominado pelo Estado que não libera as forças produtivas, que persegue os estrangeiros, que discrimina os capitais estrangeiros e impede que o país participe do processo de globalização. O fast track concedido ao presidente americano para negociar a ALCA permite, apenas, a negociação naquilo que nos prejudica e interessa a eles: nenhuma das barreiras americanas prejudiciais ao nosso país poderão ser derrubadas – ou seja, concede-se o fast track para que seja facilitada a anexação do Brasil aos Estados Unidos... como seu 52º Estado, talvez. O que, pois, tem acontecido? A economia brasileira tem sido aberta, desregulamentada, controlou-se a inflação, adotou-se a âncora cambial, reduziu-se o Estado. Privatizamos a Vale do Rio Doce, a CSN e esperamos os capitais estrangeiros que iriam desenvolver o país por nós, modernizar, exportar. Estamos transformandonos em quê? Em uma mera plataforma de exportação! As pessoas incorporaram a inferioridade. Quem são os superiores? Os deuses que habitam o Olimpo eurocêntrico. E nós aqui, uma população de mestiços, negros e indígenas, triste, ineficiente, atrofiada, pacata, despossuída de uma “identidade 4 nacional”. Mas tudo isso vai se transformar, em um passe de mágica, quando controlarmos a inflação, privatizarmos o que então restar e tratarmos os estrangeiros como os astecas trataram os espanhóis, como deuses! Tivemos, assim, a possibilidade de desestatizar e o fizemos, mas estatizando de forma curiosíssima: transferimos, por exemplo, algumas de nossas estatais para empresas estatais estrangeiras. Como se vê, há um sério problema de miopia no alinhamento da nossa política externa que decorre dessa visão de origem equivocada. As eleições estão se aproximando, dando-nos exatamente a oportunidade de escolher entre continuar rastejando ou firmarmo-nos sobre as próprias pernas, livres e independentes, assumindo nossos limites para podermos maximizar e otimizar as potencialidades sem dúvida existentes em nosso país – em que pesem esses quinhentos anos de colonização, escravização e exclusão social. Poderia ser um começo afirmativo fazer exatamente o contrário do que tem sido feito até aqui, particularmente no que diz respeito às negociações referentes à ALCA.O Brasil precisa firmar-se e tornar-se independente, agindo como nação autônoma e não submissa, e empreender num futuro governo democrático e popular, uma verdadeira guerra á dominação dos EUA nas Américas, reestruturando-se através de outras alternativas regionais com soberania e independência . Brasília, 18 de Abril de 2002 Luiz Alberto Deputado Federal PT/Ba.