03 Novembro A glória do cristão - A Mística da Cruz. POSTADO POR ADMIN ÀS 09:26 Quanto a mim, não pretendo, jamais, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo Gl 6, 14. *** Entre os judeus a Cruz era bem conhecida... tratava-se de um instrumento de suplício para os condenados da época, uma forma de punir os malfeitores daquele tempo; diríamos hoje que seria o resultado da sentença de pena de morte como é para alguns países ainda existente em nossos dias. Era um instrumento que causava pavor, inibia de alguma maneira as inclinações más contidas nas ações humanas, daquele contexto específico, e que numa linguagem espiritual e universal era inserida também os homens de todos os tempos, os de ontem, os de hoje e os do futuro. É sempre a mesma realidade simbólica, podendo ser interpretada de acordo com as múltiplas experiências do homem no orbe. Ao mencionar o simbolismo que esta implica podemos dirigir, apontar esta realidade para aquela propriamente dita que é a Cruz como matéria física, mas também aquela espiritual que é vivenciada de forma mais concreta e contempla qualquer que seja o infortúnio interior de angustia, dor e de certo modo nos persegue, ao revelar em nós o nosso ser profundo ou quem de fato somos. Ainda hoje a Cruz, deveras, nos causa pavor, algo até inconsciente, indesejada e imperceptível de glória alguma, contrário a ideia de glória que concebemos e conhecemos atrelada ao prazer palpável e até mesmo estético daquilo que possa nos atrair os sentidos pela contemplação, admiração, a mesma apresentada segundo os vários e grandes nomes da filosofia. Contraposta a essa ideia, os padres do deserto viviam e sempre instruiu os seus discípulos a não se gloriar de nada, de forma alguma, visto que a glória é degrau propício para a soberba do engano sobre qualquer comparação alheia. Há, no entanto, uma única glória para os cristãos, cantada pela Igreja, repetindo os mesmos sentimentos do apóstolo ao escrever à comunidade dos Gálatas, a qual no tempo da quaresma ressoa propício aos nossos ouvidos, e, que de certo, revela a profundeza do mistério de nossa salvação contida na Cruz: Quanto a nós, devemos gloriar-nos da Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, que é nossa salvação, nossa vida, nossa esperança de ressurreição e pelo qual fomos salvos e libertos. Na Cruz está contida toda a pessoa humana. Dizer como o profeta que Ele, Jesus, carregou sobre si nossos males é seguramente professar o cerne de toda a espiritualidade cristã. A glória da Cruz é sem dúvida alguma o mérito que esta recebeu de aí ser cravado o autor da vida, fruto do seio de uma virgem que se compreende também como sendo o verdadeiro fruto desta árvore agora bendita. Ora, dizer que a glória do cristão parte desta realidade de fracasso é o mesmo que se colocar no lugar de todo homem que de alguma forma padece de algum mal, quer físico, psicológico ou espiritual, tal como fez Jesus, mas a partir de um olhar que contemple a si mesmo em primeiro lugar, com toda a realidade de frustração e misérias que serão transformadas pelas atitudes de amor e compaixão em vista do próximo. É nossa fragilidade que é confrontada na Cruz e esta por sua vez é posta num patamar que transcende nossa realidade, puramente negativa, pela consciência positiva de pertença a uma mesma posição universal em relação aos homens de todos os tempos depois da queda, restando-nos somente a aniquilação de nosso orgulho que impede-nos de amar o outro verdadeiramente como é de fato. Por fim, a mística da Cruz se compreende ainda pelo fato de ao mesmo tempo em que ela abraça toda criatura, simbolizado pela haste horizontal, ela nos liga também ao divino, une a terra ao céu pela haste vertical, deixando-nos o ensinamento de que nossa natureza pode ser transformada a medida que tivermos sempre em vista essa realidade presente em nosso dia a dia. FONTE: SABEDORIA DO DESERTO