1 UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO ANA PAULA MAYER FATORES RELEVANTES NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CONDUTORES DE VEÍCULOS DE CARGAS PERIGOSAS MACEIÓ - AL 2013 2 ANA PAULA MAYER FATORES RELEVANTES NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CONDUTORES DE VEÍCULOS DE CARGAS PERIGOSAS Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof. Dr. Liércio Pinheiro de Araújo MACEIÓ - AL 2013 3 ANA PAULA MAYER FATORES RELEVANTES NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM CONDUTORES DE VEÍCULOSDE CARGAS PERIGOSAS Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. APROVADO EM ____/____/____ ____________________________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO ORIENTADOR ____________________________________________________ PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ PROF.DR. MANOEL FERREIRA DO NASCIMENTO FILHO BANCA EXAMINADORA 4 DEDICATÓRIA Aos meus familiares e amigos Juliana Lima de Almeida Mayer Rogério Mayer Henrique Ubendorfer Márcia Ap.de Moura Campos A meu orientador Prof. Dr. Liércio Pinheiro de Araújo A meu filho Pietro Mayer Silva 5 AGRADECIMENTOS Aos Professores do curso de Pós-Graduação ¨Lato Sensu¨ em Psicologia do Trânsito, pela orientação serena e pela confiança na realização deste trabalho. À Transportadora, pela contribuição e apontamentos salientados e a oportunidade de conhecer melhor seus motoristas. Aos meus familiares e amigos, pela incansável ajuda presente em minha vida facilitando este trabalho e em especial aos meus pais pela educação e incentivo aos estudos. 6 “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13) 7 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo conhecer os condutores de veículos de carga perigosa e descobrir fatores de risco que possam envolvê-los no trânsito e discutir possíveis intervenções e prevenções. A metodologia usada foi uma pesquisa de campo com seis motoristas de carga perigosa em uma determinada transportadora na cidade de São Bernardo do Campo/SP. Foi realizada Avaliação Psicológica utilizando-se instrumentos e técnicas psicológicas tais como, a entrevista e o teste Palográfico. O levantamento de dados permitiu identificar o nível de produtividade e algumas características relevantes da personalidade dos motoristas de carga perigosa que possam envolvê-los em acidentes de trânsito. Concluiu-se que, a técnica psicológica utilizada neste caso, o teste Palográfico pode ser de grande contribuição para avaliação da personalidade em motorista de carga perigosa, podendo obter fatores relevantes, especialmente quando se tem por objetivo da avaliação psicológica voltada para a segurança no trânsito. Palavra-chave: Motorista. Carga Perigosa. Avaliação Psicológica. 8 ABSTRACT This study aims to know the drivers of dangerous cargo and to discover risk factors that might involve them in traffic and discuss possible interventions and preventions. The methodology used was a field study with six drivers of dangerous cargo on a particular carrier in São Bernardo do Campo / SP. Psychological evaluation was performed using psychological techniques and instruments such as the interview and test Palográfico. The survey identified the level of productivity and some relevant features of the personality of drivers of dangerous goods that may involve them in traffic accidents. It was concluded that the psychological technique used in this case, the test can be Palográfico large contribution to the evaluation of the personality of dangerous driver, may obtain relevant factors, especially when it is aimed at the psychological evaluation focused on traffic safety. Keyword: Driver. Dangerous Goods. Psychological Assessment. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRÁFICO 01 – Percentil do (NOR) dos motoristas de carga perigosa.....................36 10 LISTA DE TABELAS TABELA 01 – Tamanho dos palos............................................................................38 TABELA 02 – Ganchos ou arpões.............................................................................39 TABELA 03 – Margens..............................................................................................40 TABELA 04 – Direção das linhas ou alinhamento.....................................................40 TABELA 05 – Distância entre as linhas.....................................................................41 TABELA 06 – Irregularidades no traçado..................................................................42 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................16 2.1 História da Psicologia do Trânsito...................................................................16 2.2 A importância da Psicologia do Trânsito.........................................................17 2.3 Definição da Avaliação Psicológica Pericial....................................................19 2.4 Perfil do Motorista que Exerce Função Remunerada.....................................20 2.4.1 O Motorista de Cargas Perigosas..................................................................22 2.4.2 Produtos Perigosos........................................................................................24 2.4.3 Transporte de Produtos Perigosos...............................................................24 2.5 Fatores de Acidentes de Trânsitos Ligados à Personalidade.......................24 2.6 Métodos de Avaliações Psicológicas...............................................................26 2.6.1 A Importância dos Testes Psicológicos........................................................28 2.6.2 Teste Palográfico.............................................................................................29 2.6.3 Entrevista.........................................................................................................30 3 MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................33 3.1 Ética.....................................................................................................................33 3.2 Tipo de Pesquisa................................................................................................33 3.3 Universo..............................................................................................................33 3.4 Sujeitos e Amostra.............................................................................................34 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados....................................................................34 3.6 Procedimentos para Coleta de Dados..............................................................34 3.7 Procedimentos para Análise dos Dados..........................................................35 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................36 4.1 Nível de Oscilação Rítima (NOR)......................................................................36 4.2 Tamanho dos Palos............................................................................................37 12 4.3 Gancho ou Arpões.............................................................................................38 4.4 Margens...............................................................................................................39 4.5 Direção das Linhas ou Alinhamento................................................................40 4.6 Distância Entre as Linhas..................................................................................41 4.7 Irregularidades no Traçado...............................................................................42 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................44 REFERÊNCIAS..........................................................................................................47 APÊNDICE.................................................................................................................51 ANEXO.......................................................................................................................52 13 1 INTRODUÇÃO Este trabalho visa à importância do Psicólogo no processo de Avaliação Psicológica em motorista profissional de carga perigosa. A psicóloga juntamente com a transportadora, percebeu a necessidade de realizar uma Avaliação Psicológica no contexto de uma verificação desses profissionais, para um melhor conhecimento dos mesmos e também para levantamento de fatores relevantes da personalidade do motorista de carga perigosa com a intenção de prevenção de acidentes. O CONTRAN (1998), estabelece ao candidato para renovação de categoria para quem exerce função remunerada passem por seguintes procedimentos de avaliação psicológica e médica. O procedimento ajuda fornecer informações do condutor visando diminuir possíveis acidentes de trânsito. Além de profissionais que ganham a vida nas estradas, é alto também o índice de acidentes com motoristas que estão despreparados e apresentam comportamentos inadequados no trânsito porque à muito tempo não se submetem à uma avaliação psicológica, pois não é obrigado por lei. De acordo com o Código Nacional de Trânsito em vigor a avaliação psicológica é feita somente quando a pessoa vai tirar a Carteira Nacional de Habilitação, mudar de categoria ou adicionar uma categoria e quando exerce atividade remunerada vinculada ao veículo. Então, uma pessoa que não se enquadra nessas condições fica anos e anos sem uma avaliação para detectar se há algum problema de ordem emocional, intelectual ou de atenção; e assim, circulam nas vias públicas legalmente. No entanto, apesar de não sofrerem nenhuma punição por lei, podem sofrer punição pela própria vida ou pela morte de pessoas queridas. Hoje em dia o Departamento Nacional de Trânsito acredita na necessidade do credenciamento de clínicas especializadas na Avaliação Psicológica Pericial no contexto do trânsito, determinando que a avaliação dos futuros condutores já habilitados em situação de mudança de categoria, reabilitação e para quem exerce função remunerada ficaria a critério rigoroso de um psicólogo especializado na Psicologia do Trânsito com título de Especialista Psicólogo Perito Examinador do Trânsito, para que a avaliação psicológica seja mais criteriosa para avaliar o condutor. 14 Nos últimos dez anos, foram criados diversos instrumentos psicológicos para avaliar e mensurar determinados traços, fatores e até mesmo características sendo elas patológicas ou não de uma amostra do comportamento, assim facilitando a construção de hipóteses e diagnóstico e levantamento de um perfil de personalidade, conforme a resposta emitida pelo sujeito a ser avaliado. Sendo assim, esse trabalho propõe uma reflexão sobre a importância da avaliação psicológica periódica para todos os motoristas de cargas perigos, uns em condições adequadas, outros em estados emocionais péssimos, sem terem nenhuma orientação do que sentem e do que pode lhe acontecer. Então se faz necessário a avaliação psicológica periódica para acompanhar todos os motoristas de carga perigosa que circulam nas vias dando-lhe condições seguras de dirigir diminuindo consideravelmente os acidentes e conseqüentemente as vítimas de trânsito. Considerando que a saúde é um bem estar físico, psíquico e social (de acordo com a OMS), se a pessoa está doente psiquicamente, ou seja, se seu raciocínio está confuso, se a personalidade está desequilibrada ou se está desatenta, isso indica um estado de doença psíquica, sem ajuda profissional adequada, poderá perder a vida em um acidente de trânsito. Sendo assim, é imprescindível a Avaliação Psicológica periódica para todos os motoristas de carga perigosa que circulam nas vias, pois é uma questão de prevenção à acidentes e conseqüentemente a morte. Da mesma forma que a vacina é a prevenção à doença, a Avaliação Psicológica é a prevenção à acidente. Através da Avaliação Psicológica é possível detectar se a pessoa passa por dificuldades emocionais e como ela reage à essas dificuldades e à partir daí orientála para resolver o problema. Para analisar a validade desse trabalho, foram avaliados seis motoristas de carga perigosa numa transportadora na cidade de São Bernardo do Campo, esses já atuam na transportadora entre período de 1999 a 2012, com o intuito de verificar fatores relevantes da personalidade e produtividade desses motoristas. Utilizou-se à aplicação do teste Palográfico e uma entrevista individual, em um dado período do ano de 2012 O presente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento de dados através de entrevista individual e aplicação do teste palográfico, esse tendo por finalidade detectar as maiores dificuldades encontradas no trânsito pelo condutor de 15 carga perigosa e também características relevantes da personalidade que possam ser identificadas através da Avaliação Psicológica. Pretende-se, desta forma, destacar a importância da Avaliação Psicológica através de levantamento de dados de sua condição psíquica e de enfrentamento no trânsito como provedora de subsídios para uma intervenção que vise à segurança no Sistema Nacional de Trânsito. 16 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Histórias da Psicologia do Trânsito Primeiramente precisamos entender o que é o trânsito, para a autora Rozestraten (1988) o trânsito é um conjunto de deslocamentos nas vias públicas acoplada por um sistema convencional de normas, desde o carrinho de bebê, bicicleta, carro, moto, ônibus, carroça, pedestres e entre outros. Ela define a Psicologia do trânsito como sendo uma área que estuda métodos através de métodos científicos, sendo esses os comportamentos humanos no trânsito, os fatores e processos internos e externos, conscientes e inconscientes, que os provocam e/ou alteram. Sendo assim, o profissional que atua na área da psicologia do trânsito, investiga os comportamentos humanos no trânsito, seus fatores e processos internos e externos, conscientes e inconscientes que provocam e o alteram. Segundo Hoffman et al (2001), o ano de 1962 marcou a área devido à criação de uma lei federal que passou a exigir a realização de exame psicotécnico por todas as pessoas que solicitarem a carteira de motorista. Silva e Gunther (2009) relatam que, nas décadas de 1940 e 1950, as autoridades buscaram desenvolver medidas preventivas, sendo elas, a obrigatoriedade da seleção médica e psicotécnica, as quais tinham por finalidade restringir o acesso ao volante das pessoas consideradas propensas se envolverem em acidentes de trânsito. Então, observa-se uma preocupação em traçar um perfil psicológico do motorista. Campos (1951) explica que entender o que leva um motorista a cometer acidentes e quais os fatores psicológicos que o justificam, naquela época, ainda faltavam provas cientificas que nos dessem a certeza de uma característica, psicológica ou não, embora existissem muitas teorias explicando-as. Entretanto, conforme sugere Silva e Gunther (2009), a necessidade de ampliação de Psicologia do Trânsito, baseada inicialmente na avaliação psicológica para exames de habilitação dos motoristas, se faz presente, marcada pela importância da reflexão dos principais conceitos relacionados à área, envolvendo cada vez mais os profissionais na análise de aspectos até então pouco considerados, tais como os comportamentos de risco. 17 O caderno de Psicologia do Trânsito e Compromisso Social do Conselho Federal de Psicologia estabelece diretrizes para a normalização da avaliação psicológica e emissão de laudos com conclusões do processo realizado, com o objetivo de qualificar a prestação desse serviço. 2.2 A importância da Psicologia do Trânsito É importante ressaltar a necessidade de uma adequada condição pessoal e estrutura psicológica dos portadores da CNH para o exercício da atividade de conduzir veículos, sendo necessário e importante ter condições de perceber e reagir adequadamente aos estímulos percebidos, e que deficiências sensoriais, transtornos mentais ou comprometimentos motores podem prejudicar reações que se fazem necessárias quando da execução da atividade de dirigir. A aprendizagem prévia dos sinais e de leis e normas de trânsito são consideradas relevantes a essa adequada condição de exercício de condução veicular (LAMOUNIER & RUEDA, 2005). Sendo assim, a capacidade relacionada ao estar atento no contexto de trânsito é definida como uma função psicológica denominada atenção difusa, ou seja, a capacidade de monitorar e selecionar aspectos relevantes dentre outros que não são relevantes, permitindo um estado de alerta para possíveis indícios de perigo. Em conseqüência a isso, e uma vez encontrado, tais indícios, os condutores tendem a utilizar os aspectos denominados de atenção concentrada, ou seja, focalizando o estímulo e considerando outros fatores, tais como, movimentos e demais estímulos presentes no meio ambiente (SHINAR, 1978). Para que ocorra um dado no monitoramento de determinados estímulos e possuindo as informações perceptivas, o indivíduo tende a processá-las e o processo que ocasionará a reação ocorrerá pela identificação e atribuição desse estímulo, os quais serão acionados por componentes da memória (de informações e conhecimentos já aprendidos, principalmente, no que se refere às normas de trânsito). Sumariando, a reação a esta situação envolve a aprendizagem, ou seja, em virtude da prática e/ou experiência em determinada situação, além de outros aspectos de caráter psicológico, tais como, a emoção, a motivação, a atitude e a personalidade (ROZESTRATEN, 1988). Percebe-se que dentro da avaliação Psicológica para o Trânsito, onde é avaliado e observado o comportamento do candidato e algumas características de 18 personalidade e com isso saber se o comportamento avaliado é apto ou não para adquirir a permissão para dirigir. Nesse processo é colocado em prática pelo futuro condutor o que foi aprendido o que é conhecido por suas experiências de vida, ou seja, seu comportamento. Ainda estudos realizados na área da Psicologia de Trânsito têm contribuído para uma melhor compreensão da influência das características psicológicas e comportamentais dos motoristas e o risco de se envolverem em acidentes. Em seu estudo, Blasco (1994) percebeu que as causas dos acidentes de trânsito tem demonstrado acentuada relação à falha humana, ou seja, falta de recursos individuais em lidar com determinadas situações. É notado em algumas situações de trânsito o comportamento de alguns condutores, percebido e provado que o grande problema nos acidentes esta relacionado a falha humana, ou seja, ao comportamento. E dentro destes comportamentos sabemos que eles podem mudar diante de algumas situações e acontecimentos. Outras causas apontadas são as mecânicas, e como conseqüência de situações adversas, tais como, condições climáticas e físicas de vias e rodovias, condições dos veículos, dentre outras. Esses autores ainda informam que, as condições e estados do motorista como causas humanas indiretas, afetam de modo negativo a habilidade dele em realizar as funções do processamento da informação, importante para um desempenho adequado e seguro da atividade de dirigir. Enumeram, assim, as três principais fontes de causas de acidentes, relacionadas às condições e estadas físicos e fisiológicas, aos mentais e emocionais, e às condições de experiência e familiaridade com esta atividade. No que diz respeito às capacidades intelectuais, tais como atenção e memória, Treat e cols. (1977) também atribuem estas como condições essenciais e que podem afetar as fases dos processos psicológicos envolvidos no comportamento de trânsito. Esses autores acrescentam que outras condições constituídas por estados emocionais de diversos tipos podem estar presentes, por exemplo, raiva, estresse, ansiedade, agressividade, pressa, angustia, dentre outras. Assim, o ato de dirigir está diretamente relacionado às habilidades motoras, conhecimento de normas e regras e, principalmente, às habilidades cognitivas (STRADLING, PARKER, LAJUNEN, MEADOWS & XIE, 1998). 19 Essas informações reforçam o que percebemos diariamente nas rodovias, avenidas e ruas das grandes e pequenas cidades. Os condutores podem dirigir de acordo com o seu estado mental e esse estado é passado na forma de conduzir o veiculo. Em outras palavras se o condutor tiver nervoso ele conduzira o veiculo de forma agressiva e assim sucessivamente. E mais uma vez percebemos a importância da Psicologia do Transito na avaliação é possível observar se o candidato tem um nível mental adequado para lidar com frustrações, irritações e outras questões relacionadas ao seu comportamento. Na avaliação psicológica de trânsito, as investigações dos fenômenos psicológicos, ou seja, das capacidades gerais bem como das específicas do indivíduo, são de suma importância, pois proporcionaram indicadores para a tomada de decisão em relação às condições desse indivíduo em estar apto ou não para dirigir um veículo. Segundo Lezak (1995) os fenômenos psicológicos, especificamente as funções psicológicas, são entendidas como as funções superiores do ser humano, as quais se referem a diferentes aspectos ou processos mentais, incluindo a atenção, memória, sensação, percepção, entre outros processos. Nesse sentido, os processos mentais são concebidos como organizados com base em sistemas funcionais (ARDILA & OSTROSKY-SOLÍS, 1996; LURIA, 1979), sendo responsáveis por inúmeras operações e manifestações do indivíduo (LEZAK, 1995; NITRINI, 1996). Brickenkamp (2002) aponta que a investigação da capacidade psicológica pode ser realizada por processos básicos, como o controle emocional. 2.3 Definições da Avaliação Psicológica Pericial Primeiramente, Avaliação, em Psicologia, refere-se à coleta e interpretação de informações psicológicas, resultantes de um conjunto de procedimentos confiáveis que permitam ao Psicólogo avaliar o comportamento. Aplica-se ao estudo de casos individuais, de grupos ou de situações. Estes devem apresentar-se com alto grau de precisão e validade, procedimento com regras e situações bem definidas. Na utilização da Avaliação Psicológica para o trânsito, esse processo tem sido denominado ¨Exame Psicotécnico¨. Porém, com a publicação do novo Código 20 Brasileiro de Trânsito de 1998, o termo foi substituído por ¨Avaliação Psicológica Pericial¨. Desde então, duas importantes mudanças ocorreram: as avaliações somente poderiam ser realizadas por psicólogos peritos de trânsito e a exigência de que possuíssem Curso de Capacitação para Psicólogo Perita Examinador de Trânsito, sendo obrigatório para todo profissional responsável pela avaliação psicológica (GOUVEIA et al, 2002). Segundo o Código de Trânsito Brasileiro no capítulo XIV, os requisitos para o candidato adquirir à CNH são necessários, saber ler e escrever, possuir carteira de identidade e ou ter 18 anos. O candidato será avaliado por meio de exames que comprovarão sua aptidão. Atualmente para a realização dessa avaliação, os psicólogos precisam ter o título de especialização em Psicologia do Trânsito, regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia. Essa exigência, explicitada nas Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) numero 267/08 e numero 283/08, as quais estabelecem critérios para o credenciado de psicólogos que a partir de 15/02/2013 não poderão atuar sem o título, na qual aponta, em seu art. 18 – III, a resolução de numero 267/8, com nova redação dada pela Resolução de numero 283/08. Sendo assim, a Psicologia do Trânsito se afirma, como uma especialização da Psicologia (DIÁRIO OFICIAL, 2008). 2.4 Perfil do motorista que exerce função remunerada A resolução de número 12, de 20 de dezembro de 2000, do CFP, instituiu um Manual para avaliação psicológica de candidatos à CNH de condutores de veículos automotores. Nessa Resolução, informa-se que a avaliação psicológica é uma função privativa do psicólogo e que, a avaliação em psicologia, refere-se à coleta e interpretação de informações psicológicas, resultantes de um conjunto de procedimentos confiáveis que permitam ao profissional psicólogo avaliar o comportamento. Ainda nesse manual, há a definição do perfil do candidato à CNH e do condutor de veículos automotores, ou seja, o perfil profissiográfico dos dois tipos de condutores, aquele condutor que utiliza o automóvel para locomoção, como facilitador de sua vida, e o outro que sobrevive como condutor, exercendo atividade remunerada. Entretanto, a própria resolução mostra a impossibilidade de 21 estabelecer perfil diferenciado para condutores amadores e profissionais (CFP, 2000b). Logo, deve-se considerar para o perfil psicológico, o nível intelectual, visto como a capacidade de analisar, sintetizar e de estabelecer julgamento diante de situações problemáticas, sendo esse realizado somente para os condutores de categorias C, D, E, categorias consideradas profissionais, em que o condutor exerce atividade remunerada. Ainda, no processo avaliativo, aferir o nível de atenção, nível psicomotor e a personalidade. Observa-se que apesar de propor uma definição do perfil do condutor, existem várias lacunas que podem ser preenchidas com pesquisas empíricas e estudos dos profissionais que atuam em clínicas especializadas para a avaliação psicológica de condutores a fim de adequar esse perfil a realidade. Além da definição do perfil profissiográfico, a Resolução cita os instrumentos psicológicos, como questionários, entrevistas, observações de situações, técnicas de dinâmica de grupo e testes psicológicos, entre outros (CFP, 2000). Essa resolução foi revogada pela resolução 07/2009, que trata do conceito de avaliação psicológica, as habilidades mínimas do candidato à Carteira Nacional de Habilitação, dos instrumentos de avaliação psicológica, sua aplicação, mensuração, ponderação e resultado. Vale ressaltar, que a resolução trata da avaliação psicológica no trânsito, e como tal, deve ter conclusões pautadas em base cientifica reconhecida e ser um processo conclusivo. As técnicas da avaliação psicológica utilizadas pelos psicólogos do trânsito têm como seguro exercício da atividade (remunerada ou não) de conduzir um veiculo automotor, para tentar garantir segurança do condutor, do trânsito e dos demais envolvidos (CFP, 2000). Assim se tem feito uso dos testes psicrométricos como recurso para predizer a habilidade para dirigir, especialmente para prever a probabilidade de um individuo se envolver em acidentes (GROEGER, 2003). A resolução conceituava avaliação psicológica como o processo técnico cientifico de coleta de dados, por meio de estratégias psicológicas como método, técnicas e instrumento, estudos e interpretação dessas informações a respeito dos fenômenos psicológicos. Esses dados devem ser resultantes da relação do individuo com a sociedade e devem ser considerados e analisados o contexto histórico e social e seus efeitos no psiquismo. A finalidade desse resultado serve para atuar não somente sobre a pessoa, mas na modificação desses condicionantes que 22 operam desde a formulação da questão até a conclusão de avaliação psicológica (CFP, 2009). O texto contido na resolução do Conselho Federal de Psicologia n° 012/2000, que se constituiu em uma tentativa de sistematização mais objetiva das características do condutor submetido à avaliação pericial, a qual recomenda ao psicólogo selecionar, dentre os testes disponíveis, aqueles que julgarem adequados, desde que atendam aos critérios psicométricos que garantam sua validade e precisão. A avaliação parcial para o trânsito considera como principio o fato de que conduzir um veículo não é um direito do cidadão, mas uma concessão, que pode ser feita desde que ele atenda a diversos critérios, como ter condições físicas e características psicológicas adequadas às categorias da Carteira Nacional de Habilitação (conforme a complexidade e o tipo de veiculo), conhecer as leis de trânsito e ter noções de mecânica e domínio veicular (GOVERNO FEDERAL, 1998). 2.4.1 O Condutor de Veículos de Carga Perigosa Os motoristas que atuam no transporte de produtos perigosos devem obrigatoriamente estar habilitado para na categoria “E”, sendo assim podendo conduzir veículos automotores se refere à veículos articulados com unidade tracionada acima de 6000kg/trailer. É a chamada carreta (veículo articulado, cavalo mecânico, reboque ou semi reboque) utilizado para transportes de mercadorias de qualquer espécie ou de pessoas em situações especiais. Também se faz a exigência do curso de Movimentação de Produtos Perigosos (MOPP). A avaliação de aprendizagem inclui a identificação dos rótulos de riscos e painel de segurança, os quais identificam o tipo de produto e grau de periculosidade da carga transportada. Os motoristas devem demonstrar domínio em relação às técnicas relativas à guarda e fiscalização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), de tal forma que sejam garantidas as condições adequadas de uso. Além disso, o motorista deve demonstrar habilidade em relação ao manuseio do produto que transporta e verificação das condições mínimas de segurança dos veículos. Ao final do curso o motorista com rendimento satisfatório recebe o certificado de aprovação. 23 Segundo a Polícia Rodoviária Federal (2007) muitos dos motoristas envolvidos em acidentes com transporte de carga/produtos perigosos estavam com certificados de aprovação vencidos e/ou falsos. Neste contexto, verifica-se que os mecanismos de fiscalização devem ser ampliados e melhorados. A fiscalização deve ser efetiva, incluindo-se a aplicação das multas e cassação da carteira de motorista conforme a gravidade da infração. Embora as medidas de prevenção de acidentes de trânsito mais eficazes sejam aquelas voltadas às modificações do meio ambiente (incluindo a indústria automobilística e legislação eficiente), não se pode, atualmente, com as atuais taxas de mortalidade por acidentes de trânsito, prescindir de medidas que visem, também, modificações positivas nos comportamentos dos indivíduos (ABASSI, 2002). O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina em seu Artigo 320 que "a receita arrecadada com a cobrança das multas de trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito". No entanto, a ausência de uma definição quanto aos percentuais para investimento em cada área faz com que a importância das campanhas de orientação acabe sendo subestimado, o que é lamentável. Esse é um dos aspectos para o qual o CTB perdeu a oportunidade de colaborar, ajudando a criar uma nova mentalidade sobre a relação das pessoas com o veículo (GUIMARÃES JUNIOR, 2006). Essa atividade do profissional de carga perigosa é considerada um trabalho árduo, difícil, trabalhoso, incômodo, doloroso, rude, fatigante e que exija constante atenção e vigilância acima do comum. A jornada de trabalho também deve ser levada em consideração por potencializar os danos à saúde devido ao stress e à fadiga. Muitos motoristas admitem não se alimentarem e dormirem direito, pois tem prazo para entregar da carga. As reações adversas são: tremor, irritabilidade, fraqueza, tensão, insônia, ansiedade, dor de cabeça, hipertensão e entre outros. Sendo assim, conseqüentemente pela crescente agressividade dos motoristas provocada por distúrbios emocionais, as preocupações diárias e horárias a serem cumpridos conduzem o indivíduo à irritabilidade e à agressividade. Além de serem um risco potencial aos acidentes de trânsitos, estes também podem gerar conseqüências nocivas à saúde como o stress. 24 2.4.2 Produtos Perigosos Produto perigoso é uma substância encontrada na natureza ou produzida por qualquer processo que possua propriedades fisico-químicas, biológicas ou radioativas que representem riscos para a saúde das pessoas, para a segurança pública e para o meio ambiente, conforme relacionado na Resolução nº. 420/04, da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). São exemplos de produtos perigosos os inflamáveis, explosivos, corrosivos, tóxicos, radioativos e outros produtos químicos que, embora não apresentem risco iminente, podem, em caso de acidentes, representarem uma grave ameaça à população e ao meio ambiente. 2.4.3 Transporte de Produtos Perigosos Segundo o Decreto n° 96.044, de 18/05/1988 (BRASIL, 1998), o transporte produtos perigosos é o deslocamento de um local para outro, independentemente da distância a ser percorrida. Esse decreto e a Resolução nº. 420 de 12/02/04 (BRASIL, 2004) da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estabelecem as instruções complementares ao regulamento do transporte terrestre de produtos perigosos. Esse decreto disciplina o transporte, pelas rodovias brasileiras e nas vias públicas, de produtos perigosos e que representem riscos para a saúde das pessoas, para a segurança pública ou para o meio ambiente. 2.5 Fatores de acidentes de trânsitos ligados à personalidade Todos já viram em noticiários de televisão os acidentes cometidos por motoristas que não se importam com as normas de trânsito. Freqüentemente a história do comportamento anti-social é relacionada com acidentes de trânsito. A Fadiga também é uns dos fatores propícios para um acidente de trânsito, no fim do expediente é maior que no início do dia. A maneira mais segura de combater a fadiga ao volante é encostar o veículo em lugar seguro e dormir um pouco. As drogas é qualquer substância que, absorvida por um organismo vivo, pode modificar uma ou mais funções. Para evitar acidentes de trânsito motivados por drogas é necessário evitar o uso de drogas que diminuem a atenção, que causam 25 sonolência, que perturbam a percepção ou diminuem a rapidez nas reações motoras. Um dos mais agravantes de acidentes fatais mais falados hoje em dia em noticiários é o consumo de álcool. As conseqüências do álcool são múltiplas. Causa na grande maioria uma desinibição que propicia a aceitação de um nível de risco superior ao normal. Também ocorre uma deterioração da vigilância e da atenção, bem como das capacidades visuais e do julgamento perceptivo de velocidade e de distâncias. São afetadas, além disso, as capacidades cognitivas necessárias para o processamento de informações e, por fim há um aumento no tempo de reação e debilitação das capacidades envolvidas na coordenação sensório-motora. O Diário Oficial da União publicou dia 20 de junho de 2008 a Lei nº 13 que aumenta punição para quem dirige alcoolizado. O motorista não pode ter nenhum teor de álcool no sangue. Pela nova Lei passa a ser obrigatório também o teste do bafômetro, antes opcional. Se o motorista se recusar a fazer o teste, ele sofre as mesmas sanções aplicadas ao motorista embriagado, ou seja, multa de R$ 955,00 e perda da Carteira Nacional de Habilitação. A doutora em Engenharia de Transportes Ieda Lima apresentou no Sétimo Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, realizado no dia 23/05/2007, na Câmara dos Depurados, dados que provam que o Brasil gasta por ano R$ 7,7 bilhões com as conseqüências de acidentes envolvendo caminhões de carga. Por dia, cerca de 400 motoristas de caminhão são envolvidos em acidentes. Um dos principais motivos é a jornada de trabalho ininterrupta do motorista. A pesquisa mostra que em 15% dos acidentes nas rodovias federais, os motoristas estavam dirigindo por mais de quatro horas. Nestas, os acidentes com caminhões são 35% do total; 5% deles fatais. De acordo com a revista CAMINHONEIRO de novembro de 2010 muitas horas ao volante, mínimo tempo para descansar e de se alimentar adequadamente são alguns fatores que afetam a saúde do profissional do volante. Os problemas mais comuns são os relacionados à pressão arterial alta, colesterol, stress e coluna, de acordo com pesquisa da revista. A revista cita ainda que é dentro de uma cabine, que ele trabalha, se alimenta e dorme, sem as condições de higiene necessárias em relação ao sono, à confecção de seu alimento, na eliminação dos despojos, na higiene corporal, sem o lazer: 26 isolado e confinado em ambiente tão restrito e hostil para tal, e mais, submetido às doenças endêmicas e tropicais por onde circula. As doenças primárias ou pré-existentes com hipertensão arterial, diabetes, distúrbios de colesterol, triglicérides, doenças respiratórias e cardiocirculatórias e muitas outras estão presentes no universo dos motoristas. As atitudes incorretas que comprometem a saúde como o uso de álcool, tabaco, alimentação inadequada, privação do sono, rebite, excesso de horas trabalhadas e outros são fatores importantes que comprometem e levam ao desequilíbrio orgânico e, conseqüentemente, às doenças. Não bastasse tudo isso, outros componentes ocupacionais participam do dia a dia desse trabalhador concorrendo para as doenças ocupacionais, com as perdas auditivas, zumbido nos ouvidos, dores musculares difusas e localizadas, degeneração da coluna vertebral, varizes de membros inferiores, tendinites, artrites, 40 doenças respiratórias e outras. Segundo Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina Ocupacional da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), esses problemas vem da falta de liberdade diante das opressões, assim como essas características de condições subumanas de vida e de trabalho são imposições de chefias, gerências, tanto do remetente com do destinatário. É a saúde física, mental e social comprometida, pois de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a saúde é o bem estar físico, mental e social, o que não se vê nessa atividade. De acordo com Dr. Dirceu Rodrigues, os caminhoneiros não gozam de plena saúde. Muitos fatores de risco caracterizados principalmente pelo ruído, vibração, variações térmicas, gases, vapores, fuligem, trabalho repetitivo, exposição à microorganismos, produtos químicos, acidentes, stress psicológico e social formam uma malha fina envolvendo o homem. “A saúde é o elemento essencial na direção veicular”, diz o doutor. 2.6 Métodos de Avaliações Psicológicas A Avaliação Psicológica Pericial para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) tem sido realizada levando-se em consideração que conduzir um veículo não é um direito do cidadão, de tal sorte que deve ser compreendida como uma concessão (NORONHA et al., 2006). 27 Não obstante, para a obtenção dessa concessão é necessário que o possuidor seja imputável penalmente, como também tenha condições físicas, apresentar características psicológicas adequadas às categorias da Carteira Nacional de Habilitação, de acordo com a complexidade e tipo de veículo, conhecer as leis de trânsito, ter noções de mecânica e domínio veicular (BRASIL, 1998). De acordo com Lamounier e Rueda (2005b, p. 25), “as infrações de trânsito são entendidas como conseqüência de um mau comportamento que podem expor o condutor a uma situação de risco, e por sua vez ocasionar em acidente”. Nesse contexto, a investigação dos fatores humanos como responsáveis pela ocorrência de infrações e acidentes se torna relevante. Contudo, no concernente a Avaliação Psicológica, poucos estudos são realizados, em especial os que tratam dos instrumentos psicológicos empregados nesse processo. Cabe salientar que os psicólogos de trânsito utilizam técnicas de Avaliação Psicológica com o intuito identificar adequações mínimas para a correta e segura condução de um automóvel, buscando garantir a segurança do condutor, do trânsito e dos demais envolvidos (DUARTE, 2003). Dessa forma, a Resolução n°80/98 do Código de Trânsito Brasileiro, define as áreas de concentração de características psicológicas para serem avaliadas: (a) áreas percepto-reacional e motora, que seriam avaliadas por meio de técnicas psicológicas permitindo aferir a atenção, percepção, tomada de decisão, motricidade e reação, cognição e nível mental; (b) área de equilíbrio psíquico, avaliada por meio de entrevistas e observação durante os exames, as quais iriam verificar a ansiedade e a excitabilidade, a ausência de quadro reconhecidamente patológico, o controle adequado da agressividade e a impulsividade, o ajustamento pessoal-social e demais problemas correlatos (alcoolismo, epilepsia, entre outros), que poderiam afetar a segurança do trânsito; (c) habilidades específicas e complementares, como a atenção concentrada, a rapidez de raciocínio, e as relações espaciais, desde que necessário ao aprofundamento da avaliação psicológica (RUEDA; GURGEL, 2008). A Resolução nº 12/2000 do Conselho Federal de Psicologia (2000) também, determinou que para a avaliação psicológica deveriam ser levados em consideração o nível intelectual, o nível de atenção, o nível psicomotor e a personalidade. Assim, se faz necessário o inquérito dos processos básicos, como a atenção, a concentração, o esforço e o controle emocional; visto que não é satisfatório apenas 28 a avaliação da personalidade e/ou inteligência e os conhecimentos teóricos (RUEDA; GURGEL, 2008). 2.6.1 A importância dos testes Psicológicos Os testes psicológicos são instrumentos técnicos, de uso do psicólogo, que através de testes específicos e padronizados, coleta de dados do sujeito sob avaliação, no caso, o candidato à motorista. Dados estes que podem abranger diversas áreas do funcionamento psíquico do individuo. Anastasi (2000, p.18) define o teste psicológico como “uma medida objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento”. Padronizado, pois, implica na uniformidade de procedimento na aplicação e pontuação do mesmo. E este, ainda deve responder aos critérios de validade e fidedignidade. Sendo estes alguns dos problemas sinalizados por Dagostin (2006, p.87), em que a validade e precisão não são priorizados na utilização dos testes, mas a “economicidade, ou seja, mais baratos, mais fáceis e rápidos de serem aplicados e corrigidos”. O papel central assumido pelo teste psicológico na atuação do psicólogo do trânsito relaciona-se ao fato de ter associado a esta um caráter preditivo em relação ao comportamento do condutor, ou a possibilidade real de o mesmo colocar em risco a segurança dos demais usuários do sistema viário. Este seria um objetivo diretamente associado à avaliação, embora que até os dias de hoje ainda não se tenha verificado que a avaliação de aspectos psicológicos dos motoristas efetivamente contribua para a diminuição de acidentes ou infrações (SILVA & ALCHIERI, 2008). Neste sentido, Silva (2008) em pesquisa realizada no Rio Grande do Norte com o objetivo de identificar a predicativa dos instrumentos utilizados na avaliação psicológica constatou, mesmo com a impossibilidade de generalização a precisão que os altos ou baixos escores são bons critérios para definir se o motorista se envolva em algum acidente de trânsito. Em contrapartida, Dagostin (2006) afirma que nesta prática profissional psicólogos contribuem para a mudança dos acidentes de trânsito. 29 Rozestraten (1981), aborda que um levantamento de dados das atividades de um motorista revela fatores que contribuem para uma melhor investigação deste pra evitar um acidente de trânsito. Contudo, nos dias de hoje tais estudos ainda são restritos e avaliam poucas variáveis no âmbito do trânsito. Tal condição foi explicitada por Silva & Alchieri (2008) que constataram que entre as décadas de 1950 e os anos 2000 (Até 2006), apenas 15 artigos empíricos com o objetivo de avaliar as habilidades e inteligência de condutores foram publicados, evidenciando um campo de conhecimento frágil “em relação aos constructos e critérios de avaliação do comportamento”. 2.6.2 Teste Palográfico Neste trabalho falaremos das características de personalidade mais importantes dos motoristas de carga perigosa. Sendo assim, faz necessário falarmos do teste Palográfico que é uma técnica expressiva de avaliação da personalidade, podendo ser utilizado em processos de seleção de pessoas, em psicodiagnóstico, psicotécnicos e entre outros, por possibilitar características significativas no diagnóstico de comprometimento do sujeito. De acordo com a Universidade Estácio de Sá (2003), o teste Palográfico avalia a personalidade tendo como base a expressão gráfica, ou seja, a folha de papel utilizada para o teste representa o mundo no qual o sujeito se coloca afetivamente e a forma pela qual ele se relaciona com o meio externo, através dos traçados. As formas simbólicas expressam a sua vida interior, e a folha de papel representa o mundo onde o sujeito vive, sendo que cada movimento realizado simboliza o comportamento no mundo, sendo assim observa-se que todos os movimentos e do sujeito está carregado de significado. Segundo CUNHA (1993), psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo que utiliza a técnica e testes psicológicos a nível individual ou em grupo, seja para entender problemas à fim de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos ou para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados. É um procedimento cientifico porque parte de um levantamento prévio de hipóteses que serão confirmados ou informados através de passos predeterminados e com objetivos precisos. 30 As diversas características analisadas no Palográfico nomeiam característica observada na escrita, ou seja, no traçado realizado. Nessa análise, alguns aspectos são considerados importantes, como o simbolismo do espaço, que auxilia na interpretação dos deslocamentos dos traçados nas várias direções do espaço, coordenação motora e outras características, como o tamanho dos palos, a distância entre os palos e entre as linhas, a direção das linhas, a inclinação dos palos, as margens, a pressão do lápis, entre outros aspectos, (ALVES e ESTEVES, 2009). Entretanto, percebe-se que os conceitos utilizados no teste Palográfico baseiam-se no comportamento expressivo e em técnicas gráficas de avaliação da personalidade. A avaliação psicológica mediante o uso desse teste tem sido considerada em diferentes situações, sendo que, no contexto do trânsito, representa um parâmetro usualmente utilizado para avaliar condutores. Municucci (1996) considera importante, avaliar o ritmo da coordenação motora, pois a equação tempo espaço é uma variável que envolve o motorista na direção do veiculo. O autor ainda relata que há estudos que revelam aspectos da personalidade e a profissão de motorista, por exemplo, o condutor de caminhão de carga é um individuo. O psicólogo deve estar atento a quanto e como utilizar o teste palográfico. Os resultados obtidos no teste devem ser associados às informações coletadas na historia pessoal e outros dados observados. No teste também deve ser adequados não só as hipóteses levantadas, mas também à idade e escolaridade do examinando. Analisar os dados através de consulta em tabelas fornecidas no teste. 2.6.3 Entrevista Psicológica A entrevista psicológica constitui uma forma de investigação da psicologia, sendo um instrumento fundamental para uma técnica de investigação cientifica em psicologia. Essa tem como propósito seguir procedimentos e/ou regras empíricas com as quais não somente se aplica e se verifica, mas se fazem necessários os conhecimentos científicos. (BLEGER,1998, p. 11). Assim, a entrevista psicológica é um instrumento utilizado para obter informações, sobre o paciente, candidato, ou determinada fenômeno psicológico, sendo baseado em uma técnica específica para o objetivo desta. 31 Essa técnica permite acessar a história do sujeito, obter dados à cerca da finalidade da técnica, permitindo ao psicólogo que está entrevistando estabelecer uma relação com o entrevistado, e instituir sua percepção sobre este. Segundo Bleger (1998), essa entrevista é entendida como uma relação, na qual é construída por duas pessoas, possuindo características particulares, sendo os integrantes um técnico e o outro o sujeito que necessita da técnica para determinado objetivo, no qual se busca a partir de comportamentos e dados, informações sobre o entrevistado. Assim, a entrevista corresponde a uma relação humana que visa construir um conhecimento a cerca do sujeito frente à situação vivenciada. Existem várias classificações para as entrevistas, de acordo com a forma, estrutura, abordagem teórica. Sendo que, nas avaliações psicológicas no trânsito, as entrevistas são desenvolvidas de forma direta e individual. Como o autor descreve abaixo, Entrevista diretiva ou fechada em que as perguntas são programadas, planejadas, inclusive em sequência, não alterando as perguntas, nem a sua ordem, a qual permite a observação de certos princípios da entrevista: o estabelecimento de uma relação, obtenção de dados sobre o psicodinamismo inconscientes da pessoa, observando as reações, linguagem não verbal e etc. (OLIVEIRA, 2005, p.11) Desse modo, a entrevista psicológica desenvolvida com os candidatos do trânsito estrutura-se de forma direta com o objetivo de obter dados dos indivíduos, com perguntas planejadas e diretas. O conteúdo das perguntas dessa entrevista deve ser condizente com o roteiro estabelecido pelo Conselho Nacional de Trânsito, na Resolução n° 267 de 15 de fevereiro de 2008, tendo um roteiro de entrevista psicológica que deveram ser observados os dados pessoais, motivo da avaliação, escolaridade, profissão, histórico familiar, indicadores de saúde/doença, aspecto da conduta social, envolvimento no trânsito e opiniões sobre cidadania e sugestões para redução de acidente de trânsito. Segundo Carretoni (1999), a exploração do estado emocional do sujeito em uma entrevista é de grande contribuição para uma avaliação psicológica, sendo assim, se deve observar em uma entrevista o tom emocional e o estado de ânimo de cada sujeito. Levando em conta a peculiaridade de ser e viver de cada um como Por exemplo; a irritabilidade, impulsividade e apatia, afetividade, alegria, os sentimentos 32 morais, estéticos ou religiosos, tudo isso são níveis das emoções de grande utilidade na exploração do sujeito como um complemento fundamental para uma boa avaliação psicológica. Assim, a entrevista psicológica no trânsito tem um objetivo específico de buscar informações sobre a vida do candidato de forma geral, assim como sobre aspectos sociais, da saúde, e sobre suas experiências e relações com o trânsito. 33 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Ética A presente pesquisa segue as exigências éticas e científicas fundamentais conforme determina o Conselho Nacional de Saúde – CNS nº 196/96 do Decreto nº 93933 de 14 de janeiro de 1987 – a qual determina as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos: A identidade dos sujeitos da pesquisa segue preservada, conforme apregoa a Resolução 196/96 do CNS-MS, visto que, não foi necessário identificar-se ao responder a entrevista. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram coletados dados a respeito de sexo, situação conjugal, escolaridade, profissão, saúde para que se possam obter maiores informações sobre o sujeito da pesquisada. 3.2 Tipo de Pesquisa Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com dupla, combinação de abordagens, a saber quanti-qualitativa. 3.3 Universo O presente estudo abrangeu na cidade de São Bernardo do Campo/SP, numa transportadora nacional que atuando no mercado desde 1993, criada com o objetivo de oferecer ao mercado brasileiro uma ótima alternativa para o fornecimento de Gases Especiais, Medicinais e Industriais. Está em acelerado processo de crescimento, contando com centenas de clientes nas áreas da indústria química, petroquímica, hospitalar, laboratorial, telecomunicações, entre outros. A empresa dispõe de uma ampla linha de produtos nacionais e importados, de forma a garantir pronto atendimento às mais variadas necessidades do mercado. Comprovando seu alto grau de profissionalismo, a empresa tem seu sistema de Gestão da Qualidade certificado pela SGS ICS Certificadora Ltda. por encontrar-se em conformidade com os requisitos da norma NBR ISO 9001:2000 para o escopo de "Produção e comercialização de gases especiais, medicinais e industriais". 34 3.4 Sujeitos da Amostra A Avaliação Psicológica foi realizada no ano de 2012 em seis motoristas profissionais de carga perigosa que atuam na transportadora entre o ano de 2009 e 2012. Convém comentar que cinco motoristas têm como atividade principal conferir a carga para as entregas, realizar o transporte, descarregar e por fim a limpeza. Somente um motorista é instrutor, tendo como responsabilidade a entrega das cargas, mas como atividade principal realizar treinamentos, orientações e inspeção geral na frota. 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados Construiu-se um instrumento estruturado, uma entrevista com perguntas semi-dirigida. Composto por vinte e seis perguntas, que abrange a caracterização dos sujeitos, cujas variáveis incorporadas tais como sexo, situação conjugal, escolaridade, profissão, saúde/doença e assunto relacionado ao trânsito. Também se utilizou da técnica psicológica, usando o teste palográfico. Com relação à avaliação do teste palográfico foi realizada em dois tipos, uma mais quantitativa e outra mais qualitativa. Neste caso, sentiu a necessidade de realizar a avaliação das duas maneiras para tornar de modo mais objetiva e obter os dados mais confiáveis. Dessa maneira garantindo uma qualidade na pesquisa relacionada à exatidão e quantidade das observações efetuadas, possibilitando estender a conclusão e outros contextos. 3.6 Plano para Coleta dos Dados Na oportunidade, foi realizada uma entrevista individual com os motoristas, num total de seis participantes, que concordaram em responder e participar da pesquisa. Foram respondidos as perguntas contendo assuntos à respeito de sexo, situação conjugal, escolaridade, profissão, saúde e assuntos de trânsito. 35 3.7 Plano para a Análise dos Dados Os dados foram tratados e analisados com auxílio de um software EXCEL para o tratamento estatístico. Esses foram observados os dados quantitativos, na qual se refere avaliar a produtividade e Nível de Oscilação Rítmica (NOR). Em seguida, para calcular a Produtividade, realizou-se a contagem do número de traços de palos, em cada tempo de um minuto depois do treino, totalizando em cinco intervalos de tempos. As diferenças entre uns intervalos consecutivos foram obtidos e somados, depois se multiplicou as diferenças dos intervalos por 100 e dividiu-se pelo total de palos realizados no teste, considerando-se apenas a primeira casa decimal. Para obter o valor do NOR utilizaram-se as técnicas propostas por Alves e Esteves (2009). Com relação aos dados qualitativos foram avaliadas diferentes características dos traçados conseguimos construir a estrutura com auxílio de um software WORD. Sendo que, os critérios aqui observados restringiram-se aos motoristas no momento da aplicação do teste palográfico, ou seja, tamanho dos palos; gancho nos palos; margens; distância e direção das linhas e/ou alguma Irregularidades no traçado. Esse tendo como objetivo geral, buscar esclarecimento de uma situação para uma iniciativa de consciência da problemática e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias para resolvê-los. 36 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Níveis de Oscilação Rítima (NOR) O NOR é o ritmo no palográfico que verifica a variabilidade da produtividade do trabalho de cada pessoa nos diferentes tempos do teste, reproduzindo as possíveis variações de produtividade no seu desenvolvimento das tarefas. Sendo assim, os resultados do NOR indicam se há uma regularidade ou instabilidade da pessoa em sua produtividade. Neste trabalho falaremos em três classificações de NOR, pois nos motoristas avaliados verificaram as descrições de 33,333% muito alto, 33,333% médio e 33,333% baixo, conforme gráfico 01. Gráfico 01- Percentil do Nível de Oscilação Rítima (NOR) dos condutores de veículos de carga perigosa. Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. De acordo com Alves e Esteves (2009, p. 60-61), pessoas que apresentam o NOR baixo revelam produtividade estável no trabalho, capaz de manter rendimento constante e desenvolver tarefas com certa uniformidade. O NOR médio revela alguma instabilidade no rendimento no trabalho, porém mantendo o ritmo na produção, sendo capaz de uma boa adaptação nas tarefas realizadas e executar satisfatoriamente tarefas repetitivas. O NOR muito alto revela preocupação nas oscilações na produtividade demonstrando rendimento bastante irregular, obtendo grandes variações no rendimento no trabalho. Os autores ainda descrevem que, 37 NOR menor que 5 indicam ¨regularidade, bom controle, estabilidade nas tarefas¨. Se o NOR for maior que 8, é um ¨sintoma de instabilidade, emotividade, mais ou menos descontrolada¨ Se o NOR for maior que 15, é sinal de ¨emotividade muito descontrolada, perigo de manifestação neurótica. (vels, 1982, p. 56-57) Os motoristas avaliados apresentaram NOR entre 2 a 20, dois motoristas apresentaram NOR maior que 15, sendo assim o NOR muito alto revelaram preocupação nas oscilações na produtividade demonstrando rendimento bastante irregular, obtendo grandes variações no rendimento no trabalho, revela uma emotividade muito descontrolada, ocorrendo uma grande preocupação com relação à manifestação neurótica. Já em quatro motoristas foram observados NOR entre 2 e 5, que indicam uma boa regularidade e controle em suas tarefas. E, estes resultados, estão em conformidade com os resultados obtidos por Vels, (1982, p. 5657, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 61). 4.2 Tamanhos dos Palos O tamanho dos palos, a altura e/ou dimensão simboliza a auto estima da pessoa, a confiança nos próprios valores, qual o grau de valorização ou depreciação de si mesmo, podendo estar relacionado, à avaliação, de que forma o indivíduo se comporta em diferentes situações, (VELS, 1982; PIERRY NETO, 1995, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 79). Nos resultados obtidos foram observados em dois motoristas palos aumentados ou grande, na qual Alves e Esteves (2009, p. 80-81) classificam como uma pessoa que indica nobreza, segurança de si, podendo também verificar excitabilidade e de postura às vezes inconveniente em relação a um grupo ou até mesmo em uma situação nova (PIERRY NETO, 1995, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 81). Verificou-se somente um motorista com o palo diminuído, na qual segundo os autores citados acima, revela redução da capacidade expansiva e das relações com o ambiente, introdução, preocupação com detalhes. Ainda pode significar timidez, inibição, sentimento de inferioridade e de inadequação. Na tabela 01 apresenta os resultados obtidos nesta pesquisa, sendo que três motoristas apresentaram tamanho de palos normal ou médio, enquanto dois 38 motoristas apresentaram tamanho de palos aumentado ou grande e um motorista apresentou tamanho de palos diminuído ou pequeno. TABELA 01 – Tamanho dos palos em condutores de veículos de carga perigosa, na cidade de São Bernardo do Campo-SP, 2012. TAMANHO DOS PALOS QUANTIDADE DE MOTORISTA NORMAL OU MÉDIO AUMENTADO OU GRANDE DIMINUÍDO OU PEQUENO 03 02 01 Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. 4.3 Gancho ou Arpões Os autores Alves e Esteves (2009, p. 131), classificam os ganchos como sendo pequenos traços que formam um ângulo agudo em uma das extremidades dos palos, que funcionam como freio dos impulsos e são indicativos de agressividade. O tipo de agressividade é determinado pela a direção e localização dos ganchos. Ou seja, se apresentar do lado esquerdo indica auto agressividade, voltada para si. Se identificar para lado direito, vestígio de hetero agressividade, voltada para o exterior. Na parte superior, relaciona-se com aspectos ligados mais para o intelectual, racionais e verbais. Sendo na parte inferior relaciona-se ao concreto, ao material, à agressividade no plano físico. Com relação aos motoristas avaliados, ver Tabela 02, verificou-se em um profissional com uma grande porcentagem de gancho esquerdo superior, na qual Pierry Neto, (1995, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 132) classifica como sendo uma auto agressividade verbal, que é expressiva por comportamentos autopunitivos e de grande autocrítica. Podendo ser definida como uma pessoa extremamente perfeccionista e crítica, consigo mesma, gosta de fazer o mais perfeito possível e não aceita receber críticas. Resultados semelhantes foram encontrados por Municucci, (1997, 2002, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 132). 39 TABELA 02 – Gancho ou arpões em condutores de veículos de carga perigosa, na cidade de São Bernardo do Campo-SP, 2012. GANCHOS QUANTIDADE DE MOTORISTA GANCHO ESQUERDO SUPERIOR GANCHO ESQUERDO INFERIOR GANCHO DIREITO SUPERIOR GANCHO DIREITO INFERIOR 01 00 00 00 Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. 4.4 Margens As margens das folhas no Teste Palográfico indicam simbolismo do espaço. Na qual a manutenção das margens indica capacidade de organização e adaptação ao ambiente. A margem esquerda, direta e superior são as que devem ser avaliadas com maior rigor. A margem inferior não é avaliada, pois normalmente, a folha não é preenchida até o final, conforme recomendações de Alves e Esteves, (2009, p. 100). Com relação aos motoristas avaliados, ver Tabela 03 foi observado que na margem direita precipitada, em um motorista, a existência de agressividade, adaptação ríspida ao meio ambiente e em situações novas ou de risco e ignorando regras básicas de segurança. Essas características não sendo considerada ideal para um bom condutor, pois se observou tendência a não respeitar regras de segurança podendo colocar em risco a própria vida e de outros, conforme observado também por Pierry Neto, (1995, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 132). Também foi observada em um motorista a ausência de margem esquerda, na qual reflete falta de espontaneidade, desconfiança nos contatos sociais, retraimento e falta de confiança em si mesmo, confirmando o que preconizou Municucci, (1976, apud ALVES e ESTEVES, 2009, p. 109). Em três motoristas avaliados observou-se a margem esquerda normal ou média, o que indica adequação no lidar com situações do passado, interesse por idéias novas, iniciativa, equilíbrio, autocontrole. Os motoristas que apresentaram margem direita normal ou média indicam que são dotados de boa adaptação ao meio social, tendência a enfrentar situações e desafios, autocontrole adequado e boa canalização dos impulsos. Quanto à margem superior, um motorista apresentou margem diminuída, o que significa falta de limites no relacionamento com as autoridades, falta de 40 adaptação às situações ou a realidade e contato social inadequado. Esse também apresentando características relevantes em comportamentos inadequados no convívio social. TABELA 03 – Margens em condutores de veículos de carga perigosa, na cidade de São Bernardo do Campo-SP, 2012. MARGENS MARGEM AUSENCIA DIREITA DE MARGEM PRECIPITADA ESQUERDA QUANTIDADE DE MOTORISTA 01 01 MARGEM ESQUERDAN ORMAL OU MÉDIA MARGEM SUPERIOR DIMINUIDA 03 01 Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. 4.5 Direções da Linha ou Alinhamento A direção das linhas ou alinhamentos revela “as flutuações do ânimo, do humor e da vontade”. Assim, estão relacionados com a maturidade e constância da personalidade, dos gostos, convicções, princípios morais e comportamento, bem como, com a manutenção do esforço em cumprir tarefas e objetivos. Com relação à avaliação da direção das linhas no teste Palográfico aplicado revelou que, de seis motoristas cinco apresentaram direção horizontal ou retilínea, essa característica reflete harmonia e equilíbrio de comportamento, maturidade de ação, calma, domínio, controle dos impulsos, conduta convencional, conforme se pode verificar na Tabela 04, que somente um motorista apresentou direção ascendente, esse indica ambição, ardor, atividade, iniciativa inovadora, espírito empreendedor, entusiasmo, otimismo, dinamismo, combatividade, criatividade. Ou também, ainda, confiança, capacidade de tomar iniciativas, bom humor, entre outros aspectos. Não foram observadas outras classificações nos motoristas avaliados. TABELA 04 – Direção das linhas ou alinhamento em condutores de veículos de carga perigosa, na cidade de São Bernardo do Campo-SP, 2012. DIREÇÃO DAS LINHAS OU ALINHAMENTO DIREÇÃO HORIZONTAL OU RETILÍNEA DIREÇÃO ASCEDENTE QUANTIDADE DE MOTORISTA 05 01 Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. 41 4.6 Distâncias entre as Linhas Quanto à distância entre as linhas, ela simboliza o relacionamento interpessoal, ou seja, a maior ou menor distância que o indivíduo quer manter em relação aos outros. Assim, a avaliação da distância entre as linhas é bastante qualitativa. Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 05 e mostraram que 4 motoristas apresentaram distância entre as linhas normal ou média; 01 motorista apresentou distância aumentada ou ampla; 1 motorista apresentou distância diminuída ou pequena. TABELA 05 – Distância entre as linhas em condutores de veículos de carga perigosa, na cidade de São Bernardo do Campo-SP, 2012. DISTÂNCIA ENTRE AS LINHAS QUANTIDADE DE MOTORISTA DISTÂNCIA ENTRE AS LINHAS NORMAL DISTÂNCIA AUMENTADA OU AMPLA DISTÂNCIA DIMINUIDA OU PEQUENA 04 01 01 Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. Os motoristas que apresentaram distância entre linhas normal ou média tendem a ter um relacionamento interpessoal equilibrado, respeitando limites adequados no convívio com os demais. Concordando com os resultados encontrados por Alves e Esteves (2009). Pode também ser indicativo de moderação, ponderação, escrúpulos, percepção de limites, fatores importantes na convivência no trânsito. O motorista que apresentou distância aumentada ou ampla, sugerindo certo distanciamento no contato com outros, precaução e cautela, escrúpulos exagerados, pode indicar também falta de prudência, resposta impulsiva aos estímulos, inquietação psicomotora e excitabilidade. Esse podendo indicar características preocupante com relação ao convívio no trânsito, concordando com os resultados encontrados por Pierry Neto, (1995, apud ALVES; ESTEVES, 2009). Já o que apresentou distância diminuída ou pequena revela redução da capacidade expansiva e das relações com o ambiente, introversão, concentração, preocupação com detalhes. 42 4.7 Irregularidades no Traçado Com relação aos traçados irregulares, tabela 06 pode ser observada alguns fatores importantes relacionados à personalidade e que também precisam ser analisadas na avaliação psicológica de motoristas. No trabalho em questão, foram encontradas irregularidades no traçado em três motoristas, que apresentaram ganchos na parte superior esquerda, margens direita precipitada, margem esquerda crescente, palos diminuídos e/ou aumentados e distancias dos palos aumentada, todos mencionados acima e relacionados na tabela 06. TABELA 06 – Irregularidades no traçado em condutores de veículos de carga perigosa, na cidade de São Bernardo do Campo-SP, 2012. IRREGULARIDA NO TRAÇADO GANCHO ESQUERDO SUPERIOR PALO AUMENTADO OU GRANDE PALO DIMINUÍDO OU PEQUENO MARGEM SUPERIOR DIMINUIDA DIREÇÃO DA LINHA ASCEDENTE QUANTIDADE DE MOTORISTA 01 02 01 01 01 IRREGULARIDA NO TRAÇADO MARGEM DIREITA PRECIPITADA AUSENCIA DE MARGEM ESQUERDA DISTÂNCIA DAS LINHAS AUMENTADA OU AMPLA DISTÂNCIA DAS LINHAS DIMINUIDA OU PEQUENA QUANTIDADE DE MOTORISTA 01 01 01 01 Fonte: Dados da Pesquisa. São Bernardo do Campo/SP. 2012. Conforme Alves e Esteves (2009), esses traçados citados acima fazem parte das irregularidades que devem ser consideradas quando da avaliação psicológica utilizando-se o teste Palográfico. Os autores revelam ainda que, a irregularidade nessa expressão simbólica pode ser indicativa de alguma característica relevante da personalidade, a qual deve ser avaliada com cautela. Portanto, os motoristas que apresentaram irregularidade nos traçados, foram investigados de modo mais criterioso, através de laudos enviados para a transportadora, para indicar e demonstrar características relevantes dos motoristas, assim os responsáveis ficam cientes e alertas com relação aos funcionários que apresentaram características negativas com relação ao convívio dos mesmos no trânsito. 43 Sendo assim de modo geral, a avaliação psicológica é de grande contribuição para o melhor conhecimento das características dos motoristas da transportadora, fatores estes que contribuem para que se possa adquirir que, naquele momento do teste, os motoristas não pareciam ser condutores que pudessem vir a colocar em risco a própria vida e de outros no trânsito. 44 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo a pesquisa apresentada, podemos observar uma importância na avaliação psicológica em profissionais motoristas de cargas perigosas que atuam em empresas ou que até mesmo estão iniciando o cargo, na qual é realizada mediante a aplicação de técnicas psicológicas, entre esta, destaca-se o uso do teste Palográfico, que foi escolhido neste trabalho por este ser aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia para avaliação de condutores e também sendo uma técnica expressiva de um processo de seleção de pessoa, em psicodiagnóstico, psicotécnico e entre outras, facilitando encontrar características significantes no diagnostico de comportamento, neste caso dos motoristas de cargas perigosas. Identificar características da personalidade dos motoristas de cargas perigosas foi um desafio é também uma necessidade observada no contexto do trânsito, já que a segurança desses motoristas e dos que envolvem o trânsito é fundamental. Sendo assim, a avaliação psicológica neste trabalho teve como importante papel avaliar esse profissional no contexto de trabalho e também a preocupação se o mesmo encontra-se em condição psicológica para conduzir cargas perigosas e se por ventura representa risco para a saúde das pessoas, para a segurança pública e ao meio ambiente, conforme relacionada na resolução numero 420/04, da Agencia Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Em levantamento de dados utilizando-se da entrevista, observamos que os riscos do profissional de carga perigosa ficam evidentes que essa atividade sofre muito em decorrência das condições que envolvem no dia-a-dia, como alteração do sono, má alimentação, irritabilidade, fadiga e outros aspectos físicos e emocionais que afetam a saúde do motorista. As péssimas condições de algumas estradas, carga elevada no horário, cobranças nas entregas, são variáveis que desestimulam o motorista, apesar do amor tão grande pela profissão. O fator de grande relevância entre os problemas encontrados pelos motoristas de carga perigosa está no prazo de entrega dos produtos que muitas vezes é pequeno e o motorista se submete a prejudicar sua saúde se alimentando e dormindo de forma inadequada para cumprir o trajeto no tempo estipulado. 45 Outros problemas são de saúde como hipertensão, obesidade, problemas cardíacos são dados preocupantes quanto à segurança do motorista e de quem circula na mesma rodovia ao mesmo tempo. Portanto, hoje em dia a Psicologia do trânsito tem contribuído muito para compreender o comportamento humano no trânsito, trazendo diferentes assuntos e debates mediante a conhecer os fatores que podem determinar certos comportamentos em situações variadas. Sendo assim, de modo específico, avalia o aspecto individual e psicológico que pode influenciar no comportamento do indivíduo com o objetivo de prevenção do comportamento que possa ser prejudicial a esses profissionais e até mesmo dos usuários do trânsito. A utilização do teste palográfico neste trabalho permitiu identificar dois tipos de características importantes dos motoristas de carga perigosa, uma quantitativa e outra qualitativa, na qual Alvez e Esteves (2009) relatam que, a integração dos dados é possível adquirir uma boa síntese diagnostica do sujeito. Contudo, o trabalho aqui apresentado nas tabelas e gráficos possibilitou encontrar resultados relevantes dos motoristas de cargas perigosas. Com relação aos dados quantitativos, somente dois motoristas apresentaram oscilação na produtividade como, demonstrando rendimento bastante irregular, obtendo variações no rendimento no trabalho e uma emotividade descontrolada. Nos dados qualitativos também foram observadas algumas irregularidades nos traçados em três motoristas, esses revelam características significantes da personalidade que deve ser avaliados com mais cutela (ALVES E ESTEVES, 2009). Neste caso, apresentamos para a empresa laudos salientando e identificando características relevantes da personalidade dos motoristas que possam a vir colocarem em risco ao convívio no trânsito. Verificou-se que os motoristas de cargas perigosas, em geral, apresentaram boas condições psicológicas, bem como atendendo as condições de segurança no trânsito, tanto a si próprio quanto aos demais usuários. Porém, foi possível analisar que, dentro características das condições psicológicas do trânsito, quanto aos alguns motoristas comportamentos apresentaram inadequados, não atendendo aos propósitos de segurança no trânsito, esse sendo uma grande contribuição da pesquisa aqui apresentada, mostrando a importância de uma avaliação psicológica em motorista de carga perigosa para a prevenção e/ou intervenção desses profissionais. 46 A proposta para amenizar as dificuldades encontradas pelos motoristas de carga perigosa envolve a empresa investir nas condições de trabalho desses profissionais, exigindo somente o horário de trabalho permitido para as entregas e a realização de avaliação psicológica e médico periódicos que permite observar a condição física e mental desse profissional. Quanto ao aspecto pessoal, os motoristas necessitam tomar consciência de cuidar da sua saúde, fazer exames periódicos, ter uma alimentação saudável, e dormir pelo menos oito horas por dia, para isso em viagens longas o ideal seriam dois motoristas, enquanto um dorme o outro dirige e vice-versa. Diminuir o intervalo dos exames psicotécnico para três anos visando um acompanhamento mais de perto sobre o estado mental do condutor profissional, de acordo com a Resolução Nº 267 de 15 de Fevereiro de 2008. Através da Avaliação Psicológica é possível detectar se o motorista está em condições de enfrentar todos esses problemas oriundos da profissão que envolve aspectos emocionais, como estar longe da família, aspectos de nível de produção, pelo cansaço de dirigir muito tempo. Portanto, é importante a Avaliação Psicológica para dar segurança ao profissional de que ele tem condições de trabalhar adequadamente, sem colocar em risco sua vida e a de outros condutores, ou não, mas que fazem parte direta ou indiretamente do trânsito. A conclusão que se chega, através desse trabalho, é de que a Avaliação Psicológica é fundamental como subsídio para evitar acidentes de trânsito, para todos os motoristas que circulam nas vias, principalmente para os motoristas de ¨Carga Perigosa¨ que praticamente fazem da estrada sua casa, utilizando o caminhão para dormir e se alimentar, além do stress que sofre com o trânsito e a pressão para a entrega do produto que está transportando. A realidade do motorista de carga perigosa é muito complexa, muitos fatores não dependem de sua vontade e eles são submetidos à situações de perigo constante. No entanto, existem alguns itens que estão ao seu alcance e que são fundamentais para uma boa qualidade de vida no trabalho, como por exemplo, cuidar da saúde física e mental periodicamente através de uma boa avaliação médica e psicológica. 47 REFERÊNCIAS ALVES, Irai C. B.; ESTEVES, Cristiano. O teste palográfico na avaliação da personalidade. v. 1. 2. ed. São Paulo: Vetor Editora, 2009. ALCHIGRI, J. C. & STROEHER, F. (2002) Avaliação Psicológica no Trânsito: o estado da arte sessenta anos depois. Em R. M. CRUZ, J. C. ALCHIERI & J.J. SARDA (ORGS). Avaliação e Medidas em Psicologia: produção do conhecimento e da intervenção profissional, São Paulo: Casa do Psicólogo. AMBIEL, Rodolfo A. M.; PACANARO, Silvia Verônica. Do instrumento utilizado na avaliação psicológica: aspectos históricos e perspectivas futuras. In: AMBIEL, Rodolfo A. M. et al (orgs.). Avaliação psicológica: guia de consulta para estudantes e profissionais de psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. p. 11-27. 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