Shakespeare, o empresário

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Sumário
4/12/2009
Em seu novo livro, Gustavo Franco decifra a alma capitalista do maior
escritor de todos os tempos
Leonardo Attuch
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Logo depois de matar Polônio, Hamlet desabafa. Diz à
rainha ter visto o fantasma de seu pai. Em inglês, ela diz:
"This is the very coinage of your brain." Em duas versões
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brasileiras, de Carlos Nunes e Barbara Heliodora, a frase é
traduzida como "isso é criação do seu cérebro" ou "é fruto
do seu espírito". Ao reler a peça, o economista Gustavo
Franco, ex­presidente do Banco Central, notou que o termo
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"coinage", cunhagem, passou despercebido pelos
tradutores. E descobriu que, no tempo de Shakespeare
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Gratuitamente, (1564­1616), os reis começaram a gravar nas moedas de
receba as últimas Hamlet, por Laurence Olivier: Franco
ouro suas próprias imagens. Nesse período, surgiram
notícias e conteúdo encontrou referência do Bardo à "ilusão
também os primeiros surtos inflacionários. Portanto, ao usar
monetária"
exclusivo do site.
a palavra cunhagem para se referir à fantasia do príncipe
Hamlet, o maior escritor de todos os tempos também fez uma referência à ilusão monetária
­ e uma crítica sutil aos soberanos ingleses. Na peça O Mercador de Veneza, o Bardo
explorou os dilemas do capitalismo daquele tempo. Antônio, personagem central,
penhora 453 gramas de sua própria carne ao banqueiro judeu. E o texto, que durante muito
tempo foi classificado como antissemita, ganhou uma nova leitura de Gustavo Franco. Para
o economista, o agiota era apenas um homem em defesa de seu contrato, cuja conduta não
chega a ser expressamente condenada pelo dramaturgo.
Histórias como essas compõem o livro Shakespeare e a economia
(Zahar, R$ 36), escrito por Gustavo Franco em parceria com o
acadêmico americano Henry Farnam. Só que, além de buscar
referências econômicas na obra do escritor inglês, os autores
também investigaram a veia empresarial de Shakespeare. E
descobriram que ele foi um dos mais bem­sucedidos produtores
culturais de seu tempo. Um homem capaz de lotar um teatro com
capacidade para duas mil pessoas, cinco dias por semana, numa
Londres de 300 mil habitantes. "Shakespeare foi uma espécie de
Steven Spielberg da sua época", disse Franco à DINHEIRO. E
isso sem Lei Rouanet. Companhias de teatro, que eram apoiadas
por financistas da época, equivalentes aos venture capitalists de
hoje, tinham de gerar lucro. O que também explica a grande
O livro de Franco: texto
revela como o escritor ficou
milionário
quantidade de sangue, de torpeza e de intriga nas peças do Bardo.
"Era uma demanda popular", avalia Franco. Quando morreu, Shakespeare já era um
próspero dono de terras na Inglaterra. Deixou uma herança de 1,5 mil libras, o que, a
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valores de hoje, seria uma fortuna de US$ 23 milhões. Bem mais do que acumularam
Machado de Assis e Fernando Pessoa, dois escritores que também tiveram suas almas
capitalistas decifradas por Gustavo Franco em outros livros que misturam economia e
literatura.
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