2010 Embriologia Humana Série: Apostilas Digitais Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com © 2010 Todos os direitos reservados Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Introdução E mbriologia é a ciência que estuda a formação e o desenvolvimento dos órgãos e sistemas do ser humano. Todo organismo sofre mudanças progressivas durante sua vida. Essas mudanças são muito mais pronunciadas e rápidas nas fases mais jovens do desenvolvimento, principalmente na fase embrionária. E embora o nascimento seja um momento que marca o término de uma fase e o início de outra, não representa o fim dos processos de desenvolvimento humano. A embriologia se ocupa das transformações sofridas pelo óvulo até o nascimento.Em termos didáticos, engloba o período de gametogênese, fertilização, clivagem, gastrulação e organogênese. O desenvolvimento de cada ser humano começa com a fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Após a fecundação tem início uma série de eventos que caracterizam a formação do zigoto que dará origem ao futuro embrião. O zigoto é uma célula única formada pela fusão do óvulo com o espermatozóide e na qual estão presentes os 46 cromossomos provenientes dos gametas dos pais, cada um contendo 23 cromossomos. A partir de 24 horas contadas após a fecundação, o zigoto começa a sofrer sucessivas divisões mitóticas, inicialmente originando inúmeras células até que por volta do 6º dia após a fecundação, já no útero, esse conjunto de células se implanta no endométrio. Damos a esse fenômeno o nome de nidação. No endométrio uterino o embrião irá crescer e se desenvolver, até que na 9ª semana de gestação passa a ser chamado de feto. Este com todos os órgãos e tecidos praticamente já formados, mas mede cerca de 3,7 cm. O período fetal é caracterizado por um crescimento rápido e pela continuação da diferenciação dos tecidos e dos órgãos. Entre a 10ª e a 20ª semana o feto cresce principalmente em comprimento. Entre a 21ª e a 40ª semana o feto cresce sobretudo em peso. Perto do final da gravidez o feto distingue perfeitamente a voz da mãe. Responde a estímulos musicais ou a barulhos e vê a luz através da parede abdominal. A data provável do parto coincide com as 38 semanas após a fecundação, ou seja, cerca de 40 semanas (ou 280 dias) após o início do último período menstrual. 2 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Períodos: Período Embrionário (Organogênese) – 4ª à 8ª Semana. Período Fetal – 9ª à 38ª semana. Gestação pré-termo – Antes de 37 semanas completas (até 36 sem e 6 dias). Gestação a termo – Entre 37 semanas completas e 41 sem e 6 dias. Gestação pós-termo – Após 42 semanas completas. 3 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com A Embriologia como Ciência O primeiro método utilizado na investigação do desenvolvimento embrionário foi o da observação. Aristóteles, estudando embriões de aves, foi o primeiro a fornecer informações corretas sobre o desenvolvimento do embrião. Infelizmente só depois da Idades Média é que apareceram os novos dados, com as observações mais precisas de Fabrizio D'Acquapendente (1537-1619), William Harvey (1578-1667) e Marcello Malpighi (1628-1694). A embriologia porém só veio a se firmar como ciência após os trabalhos de von Baer (1792-1876), considerado o pai da embriologia moderna; foi ele quem identificou o óvulo dos mamíferos, distinguindo-o do folículo de Graaf e também demonstrou a importância dos folhetos germinativos no desenvolvimento embrionário. Só após o estabelecimento da teoria celular (1839) foram lançadas as linhas mestras da embriologia atual. Utilidade A embriologia tem ampla aplicação no estudo da anatomia humana, pois fornece uma explicação racional para a disposição e as relações entre os órgãos no adulto, por exemplo, a disposição das alças intestinais, a assimetria dos vasos torácicos e abdominais, a inervação múltipla da língua, a distribuição dos mesos e etc. Como a embriologia também estuda as relações entre o feto e mãe ela é indispensável no conhecimento da anatomia e fisiologia materna durante a gestação. Alem disso tem aplicação em toda a medicina, pois nos permite entender as malformações congênitas e dessa forma saber tratá-las. 4 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 1º Semana do Desenvolvimento Dividimos a primeira semana do desenvolvimento em: 1) Fecundação 2) Clivagem ou Segmentação do zigoto 3) Formação do Blastocisto 4) Formação do Hipoblasto 5) Início da Implantação A Fecundação O desenvolvimento de cada ser humano começa com a fecundação que tem uma seqüência de eventos que começa com o contato de um espermatozóide e um óvulo, terminando com a fusão dos núcleos do espermatozóide e do óvulo e a conseqüente mistura dos cromossomos maternos e paternos na primeira divisão mitótica do zigoto (conforme fig. 1). Após a fecundação tem início uma série de eventos que caracterizam a formação do zigoto que dará origem ao futuro embrião. A Clivagem ou Segmentação do Zigoto O zigoto é uma célula única formada pela fusão do óvulo com o espermatozóide e na qual estão presentes os 46 cromossomos provenientes dos gametas dos pais, cada um contendo 23 cromossomos. A partir de 24 horas contadas após a fecundação, ocorre a clivagem do zigoto que são repetidas divisões mitóticas, inicialmente originando duas células filhas denominadas blastômeros, depois quatro e assim sucessivamente (fig. 1). Os blastômeros ficam envoltos por uma membrana gelatinosa, a zona pelúcida, que limita o crescimento dos blastômeros e funciona como uma barreira física que protege os pré-embriões de antígenos durante o período de pré-implantação. Quando cerca de 12 blastômeros são formados, glicoproteínas adesivas tornam as células mais compactas, e por volta do 3º dia, quando os blastômeros somam 16 células a compactação é mais evidente. Esse estágio é então denominado mórula (fig. 1). 5 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Mórula 6 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Mórula - 3 dias após a fecundação . A Formação do Blastocisto No 4º dia a mórula alcança o útero e passa a armazenar no seu interior um fluido proveniente da cavidade uterina, fazendo com que ocorra o deslocamento das células para uma posição periférica e o surgimento de uma cavidade blastocística, a blastocele. O blastocisto, como é então chamado apresenta duas porções distintas (fig. 1): - camada externa: trofoblasto, representado por uma camada de células achatadas que dará origem a placenta. - grupo de células centrais: embrioblasto, um conjunto de células que faz saliência com o interior da cavidade, que dará origem ao embrião. Blastocisto: é nessa fase onde as células tronco são extraídas. 7 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Formação do Hipoblasto No 5º dia a zona pelúcida degenera e desaparece, permitindo que o blastocisto aumente de tamanho rapidamente. Com o progresso da invasão do trofoblasto este forma duas camadas (fig. 2): - camada interna: citotrofoblasto, constitui a parede do blastocisto. - massa externa: sinciciotrofoblasto cujas células estão em contato direto com o endométrio e produz substâncias capazes de invadir o tecido materno e de se proliferar, permitindo que blastocisto penetre no endométrio. Enquanto isso, o embrioblasto sofre mudanças que o permite se diferenciar em epiblasto e hipoblasto (fig. 2) que fica na superfície do embrioblasto voltada para cavidade blastocística. Início da Implantação Ao final da 1ª semana, o blastocisto está superficialmente implantado na camada compacta do endométrio através da região do embrioblasto, nutrindo-se do sangue materno e dos tecidos endometriais erudidos (fig.2). 8 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 2ª Semana do Desenvolvimento Dividimos a segunda semana do desenvolvimento em: 1) Formação da Cavidade Amniótica 2) Formação do Saco Vitelino Primitivo 3) Formação do Disco Embrionário Bilaminar (epiblasto, hipoblasto) 4) Conclusão da Implantação 5) Instalação da Circulação Útero-placentária Primitiva 6) Formação do Saco Coriônico 7) Formação da Placa Precordal Formação da Cavidade Amniótica Ao fim de 9 dias após a fecundação, com a implantação do blastocisto no endométrio surge um espaço no embrioblasto, entre células do epiblasto, chamada de cavidade amniótica (fig. 3). O âmnio é formado com as células que se separaram do epiblasto. 9 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Formação do Saco Vitelino Primitivo Do hipoblasto origina-se uma camada de células denominadas membrana de Heuser (fig.4) que revestirá a cavidade interna do blastocisto que então passará a se chamar cavidade vitelina primitiva (fig. 3 e 4). Entre a cavidade e o citotrofoblasto surge uma camada de material acelular, o retículo extra-embrionário (ou mesoderma extra-embrionário). Formação do Disco Embrionário Bilaminar O epiblasto formando o soalho da cavidade amniótica e o hipoblasto formando o teto do saco vitelino primitivo (cavidade exocelômica). O hipoblasto é contínuo a uma membrana exocelômica, que reveste o saco vitelino primitivo (fig. 4). O disco embrionário será responsável pela formação dos tecidos e órgãos do embrião (fig. 3). 10 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Conclusão da Implantação O sinciciotrofoblasto invade o tecido endometrial determina uma erosão de vasos e glândulas, formando espaços lacunares contendo sangue materno e secreções endometriais, que nutre o embrião, inicialmente por difusão. Estes espaços são a base do espaço interviloso. As células endometriais sofrem apoptose, facilitando a implantação. As células do tecido conjuntivo acumulam glicogênio e lipídios. As células deciduais (são células do endométrio que sofreram modificação para implantação do blastocisto) se degeneram na região de penetração e servem como nutrientes para o embrião. E ao final de 9 dias a implantação do blastocisto está concluída (fig. 3). Instalação da Circulação Útero-placentária Primitiva Os primeiros vasos sanguíneos aparecem no mesoderma que reveste o saco vitelino (fig. 5). Aí se formam pequenos acúmulos de células, as ilhotas de Wolff, que se diferenciam 11 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com em células endoteliais. As células situadas mais ao interior tornam-se livres e diferenciam-se em células sanguíneas primitivas. Formação do Saco Coriônico Por volta do 12º dia surgem células que revestem o retículo extra-embrionário (mesoderma extra-embrionário) que passarão a formar cavidades preenchidas por fluido e que posteriormente serão unidas formando a cavidade coriônica (fig. 6). 12 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Na medida em que a cavidade coriônica se expande ocorre a separação do âmnio e do citotrofoblasto. Na vesícula vitelínica ocorre a proliferação do hipoblasto seguida de contração de parte da cavidade, formando vesículas exocelômicas que se destacam e são degeneradas. A porção da cavidade remanescente denomina-se agora cavidade vitelina definitiva (fig. 7). 13 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Formação da Placa Precordal A placa precordal é o primórdio da membrana bucofaríngea, localizada no futuro local da boca. 14 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 3ª Semana do Desenvolvimento Dividimos a terceira semana do desenvolvimento em: 1) Gastrulação: formação das camadas germinativas (ectoderma, mesoderma, endoderma) 2) Neurulação: formação do tubo neural 3) Formação da Notocorda 4) Desenvolvimento do Celoma Intra-embrionário 5) Desenvolvimento dos Somitos 6) Desenvolvimento do Sistema Cardiovascular Primitivo 7) Desenvolvimento das Vilosidades Coriônicas Terciárias Gastrulação - Formação das Camadas Germinativas (ectoderma, mesoderma, endoderma) Na 3ª semana o disco embrionário sofre modificações. A gastrulação é o início da morfogênese (formação dos sistemas) (Fig. 8). Na gastrulação ocorre proliferação celular na superfície do epiblasto, para formação das camadas germinativas. O primeiro evento da gastrulação é a migração dessas células que se proliferaram rumo à linha média longitudinal do disco embrionário formando a linha primitiva. Na porção mediana da linha primitiva surge o sulco primitivo. Na extremidade cefálica forma-se uma protusão celular, o nó primitivo, em cujo centro surge a fosseta primitiva. Na extremidade caudal há uma área circular que é a membrana cloacal (futuro local do ânus) (Fig. 9). Depois que a linha se forma, é possível identificar o eixo cefálico-caudal, as superfícies dorsal e ventral e os lados direito e esquerdo. As camadas germinativas são: - ectoderme: vai dar origem à epiderme, sistema nervoso central e periférico, retina do olho. - endoderme: é a fonte dos revestimentos epiteliais das vias respiratórias e do trato gastrointestinal, incluindo glândulas que se abrem no trato gastrointestinal e as células glandulares dos órgãos associados (fígado e pâncreas). - mesoderma: dará origem as capas de músculo liso, aos tecidos conjuntivos e vasos associados com tecidos e órgãos e forma a maior parte do sistema cardiovascular. 15 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 16 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Perto do 16º dia as células do epiblasto continuam a proliferar e migrar em direção ao sulco primitivo, onde se invaginam entre o epiblasto e o hipoblasto, assim terá origem o mesoderma intra-embrionário, o terceiro folheto embrionário As células do mesoderma preenchem todo espaço entre a ectoderme e a endoderme, exceto na região da membrana bucofaríngea e membrana cloacal. 17 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Neurulação - formação do tubo neural Os eventos mais significativos da transformação da gástrula em nêurula são o surgimento do tubo neural, da notocorda, do mesoderma intra-embrionário e do celoma. Para a formação do tubo neural, as células da ectoderme presentes na porção mediana da região dorsal, ao longo de todo o embrião, sofrem um achatamento, constituindo a placa neural (Fig. 9). Posteriormente, a placa neural invagina-se, formando o sulco neural, que se aprofunda e funde os seus bordos, constituindo o tubo neural, responsável pela formação do sistema nervoso do embrião. Para a formação da notocorda e do mesoderma intra-embrionário, ocorre uma segmentação do mesoderma em três porções distintas, As duas porções laterais darão origem à mesoderma, enquanto a central originará a notocorda. Formação da Notocorda Na medida em que se invaginam pela fosseta primitiva, as células migram ao longo da linha média em sentido cranial e formam duas estruturas: a placa precordal que é o primórdio da membrana bucofaríngea (futuro local da boca) (Fig. 9 e 10) e o processo notocordal que cresce cefalicamente entre o ectoderma e o endoderma (Fig. 10). O processo notocordal então passa por transformações. Primeiro, a parede ventral do processo notocordal funde-se a endoderme e degenera-se gradativamente formando temporariamente uma comunicação (canal neuroentérico) entre a cavidade amniótica e a cavidade vitelínica (Fig. 11 e 12). Além disso, o processo notocordal transforma-se em placa notocordal (Fig. 13). A placa notocordal então é induzida a dobrar-se sobre si formando a notocorda (Fig. 14). A notocorda define o eixo primitivo do embrião, serve de base para o desenvolvimento do esqueleto axial e indica o local dos futuros corpos vertebrais. A notocorda funciona como um indutor primário induzindo o espessamento do ectoderma para formar a placa neural (Fig. 14). 18 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 19 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 20 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 21 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com No embrião de 18 dias a notocorda estende-se da membrana bucofaríngea até o nó primitivo e o canal neuroentérico desaparece (Fig. 15). Durante a 3ª semana o processo notocordal e a placa neural vão se alongando em direção a membrana bucofaríngea (Fig. 16). O epiblasto se diferencia, provavelmente por ação de substâncias indutoras, em uma região com células mais alta denominada placa neural, a primeira estrutura relacionada ao Sistema Nervoso Central. 22 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Desenvolvimento do Celoma Intra-embrionário A placa neural dobra-se ao longo do seu eixo longitudinal formando um sulco neural mediano com pregas neurais nas bordas. As células presentes no limite superior das pregas neurais se diferenciam em células da crista neural. Já as células da mesoderme intermediária proliferam e se diferencia formando três porções cilíndricas de células. As porções mais próximas da notocorda chamam-se mesoderma paraxial que se continua com o mesoderma intermediário e o mesoderma lateral. No 21º dia as pregas neurais da região média do embrião fundem-se em direção a região cefálica e caudal, formando o tubo neural, as pregas que permanecem abertas formam o neuróporo anterior e posterior. O mesoderma lateral divide-se em uma camada associada a endoderma (mesoderma visceral) e outra a ectoderma (mesoderma somática). A divisão do mesoderma lateral dá origem a uma cavidade, o celoma intra- embrionário, que se comunica com a cavidade coriônica até a quarta semana após a fertilização. - Camada parietal ou somática (contínua com o mesoderma extra-embrionário e cobre o âmnion; - Camada visceral ou esplâncnica (contínua com o mesoderma extra-embrionário que cobre o saco vitelino). Desenvolvimento dos Somitos Por volta do 20º dia o mesoderma paraxial se espessa e se divide em blocos denominados somitos, que estão localizados em cada lado do tubo neural e formam elevações que se destacam na superfície do embrião. Os somitos aparecem primeiro na futura região occipital do embrião. Logo alcançam cefalocaudalmente, dando origem à maior parte do esqueleto axial e aos músculos associados, assim como à derme (uma das camadas da pele). 23 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Desenvolvimento do Sistema Cardiovascular Primitivo Durante a gastrulação o mesoderma cardiogênico (Fig. 10) sofre um processo que o divide em dois folhetos: um visceral e outro parietal que delimitam a futura cavidade pericárdica. No folheto visceral formam-se ilhotas de células mesenquimais (derivadas do mesoderma) que confluem compondo dois tubos endocárdicos próximos a endoderma, que mais tarde se fundem formando um tubo cardíaco único. Simultaneamente a esplancnopleura (lâmina visceral do mesoderma intra-embreonário e endoderma) forma um espessamento que originará o miocárdio e o folheto visceral de pericárdio. No tubo cardíaco dessa fase é possível reconhecer o bulbo aórtico, o bulbo cardíaco, o ventrículo primitivo, o átrio primitivo e o seio venoso. A etapa seguinte do desenvolvimento compreende uma torção do tubo cardíaco e a septação de suas câmaras, que deixam de estar em série e ficam lado a lado. Coração Humano do 10º ao 25º dia de desenvolvimento embrionário. Observe na última figura a crossa da aorta. À medida que ocorre a formação do tubo cardíaco tem início o processo de formação dos vasos. Eles surgem basicamente da mesma maneira que os vasos existentes no território extraembrionário. Células mesenquimais se diferenciam adquirindo forma de tubos cilíndricos apresentando uma luz. Esses tubos se fundem originando os vários vasos do feto. A alantóide (Fig. 11) surge como um pequeno divertículo na parede caudal do saco vitelino. Em embriões humanos está envolvido na formação inicial do sangue e no desenvolvimento da bexiga. Com o crescimento da bexiga, a alantóide torna-se o úraco, presesentado nos adultos pelo ligamento umbilical mediano. Os vasos sangüineos do alantóide tornam-se artérias e veias umbilicais. O pedículo do embrião (Fig. 11) é o primórdio do cordão umbilical. No fim da 3ª semana o sangue já circula e o coração começa a bater no 21° ou 22° dia. O sistema cardiovascular é o primeiro a alcançar um estado funcional. 24 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Desenvolvimento das Vilosidades Coriônicas Terciárias As vilosidades coriônicas primárias ao adquirirem eixo central de mesênquima, tornam-se vilosidades coriônicas secundárias. Quando se formam os capilares, elas tornam-se vilosidades coriônicas terciárias. Extensões citotrofoblásticas dessas vilosidades-tronco se unem para formar a capa citotrofoblástica, a qual ancora o saco coriônico ao endométrio. 25 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com 4ª Semana do Desenvolvimento Dividimos a terceira semana do desenvolvimento em: 1) Dobramento do Embrião 2) Conclusão da Neurulação Dobramento do Embrião No começo da 4ª semana, as dobras nos planos mediano e horizontal convertem o disco embrionário achatado em um embrião cilíndrico em forma de "C". O dobramento ocorre porque a velocidade de crescimento nas laterais do disco embrionário não acompanha o ritmo de crescimento do eixo maior, enquanto o embrião aumenta rapidamente seu comprimento. A formação da cabeça, da cauda e das dobras laterais é uma seqüência contínua de eventos que resulta numa constrição entre o embrião e o saco vitelino. Nesse período ocorre o dobramento lateral e longitudinal do embrião, levando à formação de pregas laterais que constringem o saco vitelino. A parte do saco vitelino retirada dentro do embrião torna-se o intestino primitivo. O endoderma, que o reveste, origina parte do epitélio e glândulas do trato digestivo. Com a fusão da pregas laterais, o celoma intraembrionário fica interno ao corpo do embrião e forma as cavidades pericárdica, pleural e peritoneal. Com a flexão ventral da região cefálica, a cabeça embrionária em desenvolvimento incorpora parte do saco vitelino como intestino anterior, futuro intestino. A flexão da região cefálica também resulta na membrana orofaríngea e no posicionamento ventral do coração, além de colocar o encéfalo em formação na parte mais cefálica do embrião. Na região cefálica, o mesoderma paraxial torna-se parcialmente segmentado gerando os somatômeros, os quais contribuem para formação de parte da musculatura da cabeça. O mesoderma intermediário participará da formação do Sistema Urinário e Reprodutor. Enquanto a região caudal dobra-se ventralmente, uma parte do saco vitelino é incorporada à extremidade caudal do embrião, formando o intestino posterior. A porção terminal do intestino posterior expande-se para constituir a cloaca e após o dobramento a membrana cloacal situa-se posterior à linha primitiva. O dobramento da região caudal também resulta na membrana cloacal, na alantóide (expansão tubular para dentro do embrião importante na formação de vasos umbilicais) e na mudança do pedículo do embrião para a superfície ventral deste. O pedículo do embrião prende-se a superfície ventral do embrião e a alantóide é parcialmente incorporada pelo embrião. A porção intra-embrionária da alantóide vai do umbigo à bexiga. Com o crescimento da bexiga, a alantóide involui, tornando-se um tubo espesso, que depois do nascimento transforma-se em um cordão fibroso, o ligamento umbilical mediano. O dobramento do embrião no plano horizontal incorpora parte do saco vitelino como intestino médio. O saco vitelino permanece ligado ao intestino médio por um estreito ducto vitelino. Durante o dobramento no plano horizontal, são formadas as paredes laterais e ventral do corpo. Conforme as pregas laterais migram em sentido ventral ao mesmo tempo com as 26 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com pregas cefálica e caudal do dobramento longitudinal, o saco amniótico expande-se progressivamente e aumenta consideravelmente sua área até envolver todo o embrião. Quando os dobramentos embrionários cessam, o embrião está revestido por ectoderma cutâneo, que formará a epiderme da pele. Por esse motivo o cordão umbilical tem revestimento epitelial. Durante a 4ª semana, os somitos diferenciam-se em três regiões: esclerótomo, miótomo e dermátomo, que originarão em cartilagem e osso, músculo e derme respectivamente. As três camadas germinativas, derivadas da massa celular interna durante a terceira semana, vão dar origem nos vários tecidos e órgãos, de modo que, ao final do período embrionário (4ª à 8ª semana), os primórdios de todos os principais sistemas de órgãos já foram estabelecidos. O aspecto externo do embrião é muito afetado pela formação do encéfalo, coração, fígado, somitos, membros, ouvidos, nariz e olhos. Com o desenvolvimento das estruturas, a aparência do embrião vai-se alterando, e estas peculiaridades caracterizam o embrião como humano. Como os primórdios de todas as estruturas internas e externas essenciais são formados durante o período embrionário, a fase compreendida entre a quarta e a oitava semanas constitui o período mais crítico do desenvolvimento. Distúrbios do desenvolvimento neste período podem originar grandes malformações congênitas do embrião. 27 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Desenvolvimento Sexual O desenvolvimento do sexo do embrião depende de várias etapas. Quem vai comandar essas etapas é o sexo cromossômico, no embrião masculino o cromossomo XY e no feminino o cromossomo XX. Nos dois primeiros meses (8º- 9º semana) de gestação, os dois sexos se desenvolvem de maneira exatamente idêntica, ou seja, não é possível notar diferenças no fenótipo. No final desse período as gônadas se diferenciam em ovários e testículos, lembrando que os testículos ainda estão dentro da cavidade abdominal, só migrando para a bolsa escrotal no final da gestação. O desenvolvimento da genitália externa e dos caracteres sexuais secundários se completa por volta da 12º semana de gestação. A Difernciação das Gônadas O início da diferenciação gonadal se dá na 5º semana, com a formação de pequenas protuberâncias, denominadas de crista genital, que se situam medialmente ao Ducto Mesonéfrico ou também chamado Ducto de Wolff. Ocorre, então, em torno da 4º a 6º semana, a migração das células germinativas (originadas do endoderma da vesícula vitelina), para próximo destas protuberâncias. Embrião na 5º semana de desenvolvimento. 28 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Neste momento nos fazemos uma pergunta: Como o cariótipo XX ou XY irá determinar a formação do testículo ou do ovário? O interessante é que para formar o ovário não é necessário que nenhuma mensagem genética ocorra, o ovário irá se formar independente do cariótipo sexual. Mas o testículo necessita da presença da mensagem do gene SRY (ligado ao cromossomo Y) para que a crista genital se diferencie em testículo. A ausência deste gen levará a formação dos ovários. Genitália Interna Entende-se por genitália interna o aparelho sexual feminino: útero, vagina e trompas uterinas. Aparelho sexual masculino: ducto deferente, vesícula seminal, próstata e ducto ejaculatório. O trato urogenital inferior interno é derivado de dois conjuntos de ductos, os ductos de Wolff e ductos de Müller, os quais estão presentes precocemente em ambos os sexos. Nas mulheres os ductos de Müller originam as trompas uterinas, útero e os 2/3 superiores da vagina, os ductos de Wolff persistem na forma vestigial. Nos homens, os ductos de Wolff originam o epidídimo, vaso deferente, vesícula seminal e ducto ejaculatório, os ductos de Muller regridem. É importante sabermos que o desenvolvimento dos ductos de Müller e de Wolff dependem de controles hormônais. O hormônio antimülleriano (AMH ou MIF - Fator de inibição Mülleriano), uma glicoproteina secretada pelas células de Sertoti do testículo fetal (a partir da 6º semana) é fundamental para a regressão dos ductos de Müller. A testosterona, secretada pelos testículos a partir da 8º semana vai estimular a diferenciação dos ductos de Wolff. Desta forma, na presença de hormônios masculinos ocorre a formação da genitália interna masculina e ausência da feminina. Na ausência de qualquer hormônio, o caminho natural da diferenciação é a formação da genitália interna feminina. Temos que saber que o embrião, tanto masculino quanto feminino, encontra-se sobre estímulo de elevados níveis de estrogênio materno. Por isso a ausência de hormônios masculinos no embrião XY pode levar ao aparecimento de caracteres femininos. Resumindo tudo depois de tanta informação: * Hormônio Masculino → Ductos de Wolff → Genitália Interna Masculina * S/ Hormonio Masculino → Ductos de Müller → Genitália Interna Feminina 29 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Genitália Externa Desenvolve-se tanto no homem quando na mulher, a partir de precursores comuns: Tubérculo Genital, Protuberância Genital (eminências labioescrotais), Dobras Urogenitais e Seio Urogenital. Nas mulheres, o tubérculo genital origina o clitóris, as protuberâncias genitais originam os grandes lábios e as dobras urogenitais os pequenos lábios. Nos homens, as protuberâncias genitais se fundem para formar a bolsa escrotal, as dobras urogenitais se alongam e se fundem para formar o corpo do pênis e a uretra peniana e o tubérculo genital forma a glande do pênis. O seio urogenital dará origem à próstata. 30 Anatomia Online – Embriologia © Dr. Daniel Cesar www.anatomiaonline.com Bibliografia 01. CARLSON, B. M. 1994. 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