PIB gasto em ciência em 2012 caiu mais do que se pensava

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ID: 56205311
17-10-2014
Tiragem: 36230
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País: Portugal
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Period.: Diária
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Âmbito: Informação Geral
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PIB gasto em ciência em 2012
caiu mais do que se pensava
Resultados finais do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional para 2012 indicam
que o dinheiro investido em ciência foi 1,41% do PIB. O país recuou para valores anteriores a 2008
Política científica
Teresa Firmino
Os últimos dados do investimento
em ciência — relativos a 2012 — revelam que a percentagem do produto
interno produto (PIB) aplicado em
ciência foi ainda menor do que se
pensava. Inicialmente, os resultados
preliminares sobre 2012, divulgados
em Dezembro do ano passado, indicavam que o dinheiro investido em
ciência representava 1,50% do PIB,
evidenciando já então uma tendência de descida que vinha de 2010.
Agora, os resultados definitivos mostram que, na realidade, essa descida
foi ainda maior, com o país em crise
a destinar apenas 1,41% do seu PIB
de 2012 para esta área.
Estes dados foram divulgados em
comunicado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC) anteontem à
noite — a seguir à entrega da proposta de Orçamento do Estado no Parlamento, segundo a qual a Fundação
para a Ciência e a Tecnologia vai ter
426 milhões de euros em 2015, uma
subida de 5,5% em comparação com
os 404 milhões de 2014. Fazem parte
do Inquérito ao Potencial Científico
e Tecnológico Nacional para 2012,
que se realiza desde 1982 e é o instrumento oficial de contabilização
dos recursos humanos e da despesa
em investigação e desenvolvimento
(I&D). Ainda que esta recolha seja
anual desde 2008 (antes era de dois
em dois anos), há sempre um desfasamento temporal na apresentação
dos resultados.
O PIB investido em investigação
científica revela o esforço total do
país nesta área, uma vez que indica
a parte, entre toda a riqueza produzida pelo país, destinada a investimento em ciência. Além disso, a
percentagem do PIB para actividades de ciência e tecnologia é um indicador do próprio desenvolvimento
do país.
Mas outra maneira de apresentar
este valor é ver a quanto dinheiro
correspondem esses 1,41% do PIB
gastos em ciência em 2012: significam que Portugal investiu um total
de 2320 milhões de euros, incluindo
dinheiro do Estado e das empresas.
A este nível, o país recuou, na realidade, vários anos, até à situação ocorrida entre 2007 e 2008. De facto, o
valor de 1,41% fica abaixo do de 2008
O que se gasta em investigação e desenvolvimento
Em milhões de euros, a preços correntes
Em % do PIB
2771
2585
1,50
1972
2757
1,64
2566
1,60
2320
1,50
1,41
1,17
1201
1038 1019
0,78
0,77
0,71
0,69
814
32
0,27
56
0,31
576
401 460
259
0,56 0,52 0,57
149
99
0,47
0,35 0,37
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995
1997 1999 2001 2003 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência
(1,50% do PIB). Esta tendência para
a descida mantém-se desde 2010.
Em 2009, Portugal tinha atingido
o valor mais elevado de sempre do
PIB em ciência: 1,64%, o que correspondeu a 2771 milhões de euros. Era
José Mariano Gago ministro da Ciência, e estava-se no segundo mandato de José Sócrates como primeiroministro.
Esse crescimento já vinha de 2005,
coincidindo com a chegada ao poder
de José Sócrates, já com Mariano Gago à frente da pasta da Ciência. Foi
aliás entre 2005 e 2007 (na altura,
o Inquérito ao Potencial Científico
ainda era bienal) que o país atingiu
a meta de 1% do PIB na investigação
(mais precisamente, 1,17% do PIB).
E foi crescendo até 2009, quando o
PIB aplicado em ciência atingiu o já
referido pico máximo de 1,64%. A
partir daí, ainda com José Sócrates
e Mariano Gago, inicia-se a quebra,
que continuará com Pedro Passos Coelho, em funções desde meados de
2011 como primeiro-ministro, e Nuno
Crato como ministro da Ciência.
A meta de 1% do PIB é simbólica,
até porque ficou na memória de
muitos, em particular dos cientistas, como uma promessa feita por
Aníbal Cavaco Silva em 1987, na al-
PÚBLICO
tura primeiro-ministro, no encerramento das Jornadas Nacionais de
Investigação Científica e Tecnológica: “Estabelecemos como metas
da nossa acção, neste domínio, duplicar a comunidade científica até
1990 e permitir que as despesas em
I&D atinjam então pelo menos 1%
do PIB.”
Na altura da promessa de Cavaco
Silva, a fatia do PIB que ia para a ciência rondava os 0,35%. Ainda seria
Portugal tinha
42.498 cientistas
a trabalhar a
tempo inteiro
em 2012, menos
1558 do que em
2011
preciso esperar cerca de uma década
para se alcançar a meta de 1%.
Segundo dados do Inquérito ao Potencial Científico de 2012, colocado
anteontem no site da Direcção-Geral
de Estatísticas da Educação e Ciência, as empresas investiram metade
do dinheiro total aplicado em I&D —
ou seja, 0,70% do PIB, o que correspondeu a 1153 milhões de euros. Na
metade restante, incluem-se o sector
do ensino superior, a administração
central e as instituições privadas sem
fins lucrativos (a maioria delas na órbita das instituições de ensino superior). E, aqui, a maior fatia coube ao
ensino superior: 0,51% do PIB, equivalente a 846 milhões de euros. Os
restantes 0,20% do PIB para a ciência
eram da administração central e das
instituições sem fins lucrativos.
Se olharmos para o dinheiro investido em ciências nos últimos anos
no ensino superior, verificamos
que houve cortes acentuados. Face
a 2011, em 2012 o ensino superior
gastou menos quase 88 milhões de
euros. E de 2010 para 2011, já tinha
havido um corte de quase 83 milhões. Portanto, entre 2010 e 2012,
o ensino superior investiu no total
menos cerca de 170 milhões de euros
na ciência.
Nas empresas, o ano em que mais
investiram em actividades científicas
foi o de 2009 — tanto em termos da
fatia do PIB (0,78%) como de verbas
(1311 milhões de euros).
Nada disto impede o MEC de afirmar, em comunicado sobre o inquérito: “Estes resultados mostram que
o sistema científico e tecnológico tem
respondido muito positivamente e
mostrado robustez e competitividade perante a inegável situação de ad-
versidade financeira acentuada e de
retracção económica global que se
sentiu nos últimos anos. Prova disso
são os resultados do investimento do
tecido empresarial, académico e das
instituições de I&D em geral, que se
mantiveram praticamente estáveis.”
E ainda: “De salientar que Portugal
mantém em 2012 a 15.ª posição no
conjunto dos países da União Europeia no que respeita à despesa em
I&D expressa em fracção do PIB.”
Outro número do inquérito é o dos
investigadores no país (equivalentes a tempo integral): eram 42.498
em 2012. Mas incluindo pessoal técnico e de apoio, o total de pessoas
envolvidas em actividades de I&D
ascendia a 47.554. Era sobretudo no
ensino superior que se concentravam os recursos humanos em I&D: aí
trabalhavam 23.825 investigadores,
seguindo-se as empresas, com 11.931
cientistas.
Apesar de o número de cientistas
se ter mantido relativamente estável desde 2008, o certo é que entre
2011 — quando se atingiu o pico, com
mais de 44.056 investigadores — e
2012, ou seja em apenas um ano, o
sistema científico perdeu 1558 cientistas. É a descida mais acentuada
deste período.
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17-10-2014
Tiragem: 36230
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País: Portugal
Cores: Preto e Branco
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Âmbito: Informação Geral
Corte: 2 de 2
Investimento
português em
ciência caiu mais
do que se pensava
Inquérito ao Potencial
Científico e Tecnológico 2012
diz que país gastou 1,41%
do PIB, recuando para
valores anteriores a 2008 p27
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