BIODIESEL ETÍLICO PROVENIENTE DE ÓLEO DE SOJA RESIDUAL Beatriz Sampaio Lopes (IC), Rosenira Serpa da Cruz (PQ) [email protected] Universidade Estadual de Santa Cruz - Grupo Bioenergia e Meio Ambiente - Rod. Ilhéus-Itabuna, km 16, 45650-000 Ilhéus – BA INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO Os aumentos dos preços do petróleo e as crescentes preocupações ambientais têm renovado o interesse de muitos países na utilização de combustíveis alternativos. O biodiesel, definido como derivado mono-alquil éster de ácidos graxos de cadeia longa, provenientes de fontes renováveis como óleos vegetais in natura ou residuais, é candidato proeminente a estes combustíveis1. Embora a tecnologia do processo de obtenção dos ésteres metílicos seja completamente dominada na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, a opção pela produção de biodiesel etílico deve ser considerada como estratégica e de alta prioridade para o país por diversas razões, que vão desde implicações ambientais, econômicas e políticas até implicações sociais2. Este trabalho tem como objetivos otimizar a reação de transesterificação com etanol de óleos e gorduras residuais (OGR) através de um planejamento fatorial e caracterizar o biodiesel de acordo com a norma técnica 255/20033 da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Otimização da reação por planejamento fatorial: MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização dos experimentos do planejamento fatorial, foram identificados os parâmetros considerados mais importantes e definidas as suas respectivas faixas de variação, descritos na Tabela 1. Tabela 1: Valores limites das variáveis escolhidas para o planejamento experimental. Parâmetro Experimental Valor Mínimo (-) Valor Máximo (+) Razão molar (álcool/óleo) RM 6:1 10 : 1 Catalisador (KOH) %m do óleo Temperatura (°C) CAT TEM 0,4 30 0,8 60 A Tabela 3 mostra a condição da reação que apresentou maior rendimento em éster. Tabela 3: Condição da reação com maior rendimento em éster etílico a partir de OGR. Razão molar (álcool/óleo) 10 : 1 Temperatura (°C) 30 Rendimento 87 ± 2 % Massa de óleo:100g A análise dos resultados do planejamento fatorial demonstrou que a razão molar é a variável mais importante. Isto é atribuído à natureza reversível do processo de transesterificação, onde um aumento na proporção do agente transesterificante desloca o equilíbrio da reação em direção à formação de mais produtos. Além disso, verificou-se que a diminuição da concentração de catalisador retarda a velocidade do processo, requerendo assim maior tempo de reação. Observou-se ainda um efeito negativo no aumento da temperatura sobre o sistema, o que está associado ao equilíbrio termodinâmico dessa reação. Estas observações estão de acordo com a condição da reação que apresentou menor rendimento em éster (razão molar 3:1; KOH 0,4%m; temperatura 60ºC; rend.31± 2%). Caracterização do Biodiesel: A combinação desses valores gerou um planejamento do tipo 23 (três variáveis em dois níveis) (Tabela 2), que equivaleu a um total de 8 experimentos, sendo que os valores mínimos e máximos descritos na Tabela 2 serão representados ou codificados, respectivamente, pelos símbolos (-) e (+). A Tabela 4 mostra os resultados da caracterização do biodiesel bem como a influência de cada parâmetro analisado na qualidade do biodiesel como combustível automotivo. Tabela 4: Caracterização do biodiesel. Caracterização Ponto de Fulgor Tabela 2: Planejamento 23 para a cinética da reação de transesterificação etanólica de OGR. EXPERIMENTO 1 2 3 4 5 6 7 8 RM - + - + - + - + 0 CAT - - + + - - + + 0 TEM - - - - + + + + 0 9 - 11 Viscosidade Corrosividade ao Cobre Massa Específica Os experimentos de 9 a 11 representam uma triplicata do ponto central do planejamento 23 e foram realizados sob condições intermediárias àquelas descritas acima, ou seja, razão molar álcool:óleo em 8:1, catalisador na concentração de 0,6 % em relação à massa do óleo e temperatura em 45°C. O Fluxograma 1 demonstra o processo de obtenção dos ésteres etílicos de OGR: Água e Sedimentos Aspecto Matéria-Prima Catalisador (KOH) %m 0,8 Separar Resultado 115°C ( >100°C)* 4,4 mm2/s (40ºC) (Anotar)* 1a (1a)* 879 Kg/m3 (Anotar)* < 0,050 % (0,050%)* Influência na qualidade do biodiesel Garante a remoção de todo álcool não reagido, aumentando a segurança no manuseio e estocagem. Possibilita o bom funcionamento do motor, propiciando uma boa lubrificação, evitando entupimentos e facilitando a atomização do combustível em sua injeção na câmara de combustão. Favorece a conservação das peças de cobre, ligas e outros metais. Garante estabilidade da potência do motor e o controle da emissão de poluentes. Garante a ausência de microrganismos e consequente maior estabilidade à estocagem, o que evita a deterioração do biodiesel, que ocasionaria prejuízo na combustão, além de acelerar a saturação dos filtros e provocar danos ao sistema de combustível. Límpido e Isento Indica visualmente boa qualidade e ausência de possível de Impurezas (LII) contaminação do produto. (LII)* (OGR) * Limite de acordo à norma da ANP. Fase Aquosa Fase Orgânica Caracterização (umidade; acidez peróxido) ∆ Fase Aquosa Fase Orgânica Solução EtOH/KOH Descartar Descartar Agitar (1h) Retirar alíquotas 6 mL (1, 10, 20, 40 e 60 min) Na2SO4 anidro Filtrar Convém salientar que os resultados apresentados na Tabela 4 atendem à exigências da norma 255/2003 da ANP e que é necessário realizar os outros testes analíticos constantes na mesma, principalmente os métodos exclusivos para biodiesel, para garantir a qualidade do biodiesel como combustível automotivo. Centrifugar (10´ a 10000 rpm) Separar Analisar (Cromatógrafo a gás) 12 mL Sol. NH4Cl 5% ∆ 40°C CONCLUSÃO A partir da otimização da reação de transesterificação de OGR por planejamento fatorial obteve-se rendimento máximo em éster etílico de 87 ± 2%, nas condições de razão molar álcool etílico/óleo 10:1, catalisador 0,8%m e temperatura 30ºC. Levando-se em conta os métodos de caracterização constantes na norma ANP 255/2003 e monitorados neste trabalho o biodiesel produzido atende às especificações. Fluxograma 1: Processo de obtenção dos ésteres etílicos de OGR BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Os testes de caracterização do biodiesel obtido consistiram nos seguintes métodos: ¾ Determinação do ponto de fulgor utilizando o aparelho de vaso fechado Pensky-Martens, segundo o método da ASTM D 93. ¾ Determinação da viscosidade, utilizando o viscosímetro Ubbelohde Viscometer, HVU 481, marca Herzog, segundo o método da ASTM D 445. ¾ Determinação da corrosividade ao cobre, utilizando o banho marca Petrotest e ASTM Copper Strip Corrosion Standards, segundo o método ASTM D 130. ¾Determinação da massa específica, utilizando o densímetro marca Incoterm, segundo o método ASTM D 1298. ¾ Determinação de água e sedimentos, segundo o método da ASTM D 2709. [1] ABREU, R. F.; LIMA, D. G.; HAMAÚ, E. H.; WOLF,C.; SUAREZ, P. A. Z. Utilization of metal complexes as catalysts in the transesterification of brazilian vegetable oils with different alcohols. Journal of Molecular Catalysis, v. 209, p. 29-33, 2004. [2] PAZ, M. J. D. A química e a físico-química na produção e no uso do biodiesel. In: CONGRESSO LATINOAMERICANO DE QUÍMICA, 06, 2004, Salvador. Anais... Salvador: Centro de Convenções da Bahia, 2004. [3] Portaria ANP n° 255 de 15/09/2003 – DOU 16/09/2003. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/petro/legis_qualidade.asp>. Acesso em: 05 fev. 2004. PROIIC / UESC