Segunda Lei da Termodinâmica, Entropia e Máquinas Térmicas Biblografia: Halliday, Resnick e Walker, vol 2, cap20 8a Ed, vol2 • O tempo tem um sentido, que é aquele no qual envelhecemos. ! • Na natureza, os processos ocorrem em uma certa direção ou ordem. Por exemplo, um ovo cai no chão e é quebrado, uma pizza é assada, um carro bate em um poste, as ondas do mar transformam pedras em areia, etc. ! • Este processos unidirecionais são chamados de processos irreversíveis, ou seja, não podem ser desfeitos através de pequenas mudanças no ambiente. ! • Compreender por que o tempo tem um único sentido e os processos unidirecionais são irreversíveis são os objetivos da física. ! • A busca por estas repostas utilizando nosso conhecimento da ciência (física) nos ajuda a entender o funcionamento de qualquer motor, pois ela determina qual a eficiência máxima com a qual um motor pode trabalhar. Processos irreversíveis e entropia • Processos irreversíveis, embora não ocorram no sentido “errado”, não violariam a conservação de energia se ocorressem neste sentido. • Não são as mudanças da energia de um sistema fechado que determinam o sentido dos processos irreversíveis. • Este sentido é determinado pela variação de outra propriedade do sistema; a sua entropia. • Se um processo irreversível ocorre em um sistema fechado, a entropia, S, do sistema sempre aumenta. • Note que a entropia não obedece uma lei de conservação como a energia. A energia de um sistema fechado permanece constante. Nos processos irreversíveis a entropia de um sistema fechado aumenta. • Quando um milho de pipoca estoura, este sentido é o correto do tempo, e a entropia do sistema aumenta. • O processo contrário, ou seja, o milho se reconstruindo a partir da explosão, teria uma diminuição da entropia e, por isto não ocorre. Variação da Entropia Expansão livre de um gás ideal Processo Irreversível Diagrama pV da expansão livre • A pressão e o volume do gás são variáveis de estado, ou seja, dependem apenas dos estados inicial e final e não do processo termodinâmico que as fez variar. • Temperatura e Energia também são propriedades de estado de um gás. • Supondo que o gás possua mais uma propriedade de estado ou seja, a variação de entropia do sistema durante um processo, podemos definila como: S = Sf Si = Z f i dQ T Q é a energia absorvida/cedida em forma de calor pelo sistema durante o processo e T é a temperatura do sistema em Kelvins • No caso de uma expansão livre é impossível calcular a variação da entropia, pois as variáveis de estado (p,V) flutam imprevisivelmente. Deste modo não é possível encontrar e graficar os processos/caminhos no diagrama pV. • Definimos a entropia como sendo também uma variável de estado. Portanto, ela deve depender somente dos estados inicial e final e não da maneira como o sistema vai de um estado até o outro. • Como a temperatura de um gás ideal não varia durante uma expansão livre, podemos substituí-la por um processo isotérmico reversível, pois com temperatura constante fica mais fácil calcular a variação da entropia. Processo Reversível Expansão Isotérmica Note que a expansão isotérmica reversível é um processo bem diferente da expansão livre que é irreversível. No entanto, ambos os processos possuem os mesmo estados inicial e final, o que faz que a variação da entropia seja a mesma nos dois casos! ! Como tudo ocorre lentamente, os estados intermediários são de equilíbrio e podem ser representados em uma diagrama pV. ! Para manter a temperatura do gás constante durante a expansão, uma quantidade de calor Q deve ser transferida da fonte de calor para o gás. Portanto, Q>0 e a entropia do gás aumenta durante o processo isotérmico e também na expansão livre. Resumindo Para determinar a variação da entropia em um processo irreversível que ocorre em um sistema fechado, substituímos este processo por qualquer outro processo reversível que ligue os mesmos estados inicial e final. Calculamos então, a variação da entropia para este processo reversível usando a equação S = Sf Si = Z f i dQ T A entropia como função de estado Pode-se demonstrar que a entropia é uma função de estado analisando-se um gás ideal sofrendo um processo reversível. Neste caso, tudo ocorre muito lentamente de modo que ao final de cada passo infinitesimal do processo, o gás ideal esteja em equilíbrio, ou seja, vale a primeira lei da Termodinâmica. dEint = dQ dW Como em cada passo infinitesimal, os processos são reversíveis pode-se escrever: dW = pdV dEint = nCv dT n é o número de mols e Cv o calor específico molar a volume constante. dQ = nCv dT + pdV Um pouco de matemática.... dQ = nCv dT + pdV dQ dT dV = nCv +p T T T nRT utilizando a lei dos gases ideais: pV = nRT ! p = V dQ dT nRT dV = nCv + T T V T dQ dT dV = nCv + nR T T V mas dQ dS = T dT dV dS = nCv + nR T V Integrando cada termo desta equação entre os estados inicial i e final f Z f dS = nCv i Z f i daí Sf Si = nCv ln ✓ dT + nR T Tf Ti ◆ Z f i + nRln dV V ✓ Vf Vi ◆ Note que não foi preciso especificar um dado processo reversível para realizar a integração. Logo, este resultado vale para qualquer processo reversível que leve o gás ideal de um estado inicial até um estado final. E mostra que a variação da entropia só depende destes estados iniciais e de suas varíaveis de estado. Exemplo 1: Suponha que 1 mol de nitrogênio esteja confinado no lado esquerda da figura abaixo. A válvula é aberta e o volume do gás dobra. Qual a variação da entropia do gás para este processo irreversível? Trate o gás como sendo ideal. Solução: Durante uma expansão livre, a temperatura do gás não varia, assim o processo reversível que podemos usar pode ser uma expansão isotérmica. S = nR Z f i dV V S = +nRln ✓ Vf Vi ◆ S ◆ = Vf +nR.ln Vi ✓ ◆ 2Vi 1.8, 31 Vi 8, 31.ln(2) = 5, 76 J/K = = Portanto, ✓ Sirrev = Srev = 5, 76 J/K A Segunda Lei da Termodinâmica Se um processo termodinâmico ocorre em um sistema fechado, a entropia do sistema aumenta para processos irreversíveis e permanece constante para processos reversíveis, ou seja, a entropia nunca diminui. S 0 No mundo real, devido às forças dissipativas e outros fatores, os processos são todos irreversíveis em maior ou menor grau. Deste modo, a entropia sempre aumenta. A entropia no mundo real Máquinas Térmicas Uma máquina térmica é um aparato/dispositivo que extrai energia do ambiente na forma de calor e realiza um trabalho útil. Toda máquina térmica utiliza uma substância de trabalho. Exemplo: Na máquina a vapor, a substância de trabalho é a água (líquida ou vapor). Nos motores a combustão, a substância de trabalho é uma mistura de combustível e ar. Para que uma máquina térmica realize trabalho de forma contínua, a substância de trabalho deve operar em um ciclo, que é nada mais do que uma série fechada de processos termodinâmicos. Máquina de Carnot - máquina térmica ideal Em uma máquina térmica ideal, todos os processos são reversíveis e as transferências de energia são realizadas sem as perdas causadas por efeitos que ocorrem devido às forças dissipativas. Máquina de Carnot: é a que utiliza calor com a maior eficiência para realizar trabalho útil. Carnot analisou o desempenho desta máquina antes que a Primeira Lei da Termodinâmica e o conceito de Entropia existissem. Máquina de Carnot - máquina térmica ideal Funcionamento de uma máquina de Carnot Calor absorvido Trabalho realizado pela máquina Calor fornecido Em cada ciclo, a substância de trabalho absorve uma quantidade |QQ| de uma fonte de calor a temperatura constante TQ e fornece uma quantidade de calor |QF| para uma segunda fonte de calor com uma temperatura constante, mais baixa TF. Diagrama pV da Máquina de Carnot Expansão isotérmica (ab) QABS pela substância de trabalho adiabática (da) Q=0 W > 0 realizado adiabática reversível (bc) Q=0 W < 0 realizado Compressão isotérmica (cd): QC pela substância de trabalho. W é o trabalho líquido por ciclo que é calculado através da área do ciclo. Entropia da máquina de Carnot S = Sf Si = Z f i dQ T Qualquer transferência de energia na forma de calor causa a variação da entropia Cálculo de W e ∆S no ciclo de Carnot Como no ciclo a variação da energia interna é nula, utilizando a Primeira Lei da Termodinâmica vemos que W = |QQ | |QF | Já a variação líquida da entropia por ciclo é, de acordo com o diagrama anterior, S = = Para o ciclo completo: ∆S=0 SQ + SF |QQ | |QF | TQ TF |QQ | |QF | = TQ TF Eficiência no Ciclo de Carnot A eficiência térmica de um ciclo qualquer é definida como o trabalho que a máquina realiza por ciclo (energia utilizada) dividido pela energia que recebe em forma de calor por ciclo (energia adquirida). No caso do ciclo de Carnot: |W | ✏= |QQ | |QQ | |QF | ✏= =1 |QQ | |QF | =1 |QQ | TF TQ Exemplo 2: Uma máquina de Carnot, opera entre temperaturas de TQ=850K e TF=300K. A máquina realiza 1200J de trabalho em cada ciclo que dura 0,25s. ! a) Calcule a eficiência da máquina b) Calcule a potência média da máquina c) Calcule a energia extraída em forma de calor da fonte quente a cada ciclo d) Calcule a energia liberada em forma de calor para a fonte fria em cada ciclo. e) De quanto varia a entropia da substância de trabalho devido à energia recebida da fonte quente? E devido à energia cedida para a fonte fria? Exemplo 3: Um inventor alega ter inventado uma máquina que tem eficiência de 75% operando entre as temperaturas de ebulição e congelamento da água? Isto é possível?