RESULTADOS DE PROTOCOLO DE INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO DE CAUSA IMUNE EM PACIENTES COM ABORTO RECORRENTE 1, 2 3 Autores: Ricardo Barini Egle Couto , Sara Tosetti Ribeiro , Sofia da Rocha 4 Leiber , Simone Corte Batista Mendes dos Santos 5, 6 Marcos Mathias Motta , Carolina Taddeo 6 Instituição: Serviço de Reprodução Humana - Ambulatório de Aborto Recorrente Centro de Assistência Integral À Saúde da Mulher Departamento de Tocoginecologia - Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP Endereço: Rua Alexander Fleming 101 Cidade Universitária Zeferino Vaz CEP 13092-340 Campinas SP Caixa Postal 6030 CEP 13083-970 FAX/FONE: 019/2394161 1 Prof. Dr. Disciplina Obstetrícia DTG/FCM/UNICAMP Médica DTG/ FCM/UNICAMP 3 Pós Graduanda DTG/FCM/UNICAMP 4 Médica Responsável Lab. Cultura de Tecidos Hemocentro/FCM/UNICAMP 5 Bióloga Laboratório Cultura de Tecidos Hemocentro/FCM/UNICAMP 6 Graduando em Medicina, bolsista de Iniciação Científica CNPq 2 1 RESULTADOS DE PROTOCOLO DE INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO DE CAUSA IMUNE EM PACIENTES COM ABORTO RECORRENTE INTRODUÇÃO O termo aloimunidade refere -se a diferenças imunológicas entre indivíduos da mesma espécie. Em 1966, Clarke & Kirby, (1) formularam a hipótese de que a disparidade antigênica materno-fetal fosse benéfica para o desenvolvimento do embrião. Desde então a aloimunidade têm sido associada ao aborto recorrente de causa desconhecida, que estima-se acometer entre 40 e 60% dos casais investigados (2, 3). A histocompatibilidade materno-fetal pode provocar distúrbios da interação entre mãe e feto por prevenir a indução de fatores humorais e celulares de origem materna, essenciais para a vitalidade do embrião e o sucesso da gestação. O sistema composto pelas células T e B processam e apresentam os antígenos aos linfócitos. As células T originam as células citotóxicas específicas. As células B diferenciam-se no plasma em células produtoras de anticorpos específicos. Cada tipo de célula do sistema imune tem uma superfície de adesão diversa. Quando um antígeno processado é apresentado à célula T, ele é associado fisicamente com marcadores de superfície celular derivados de um grupo de genes, o Complexo Maior de Histocompatibilidade, conhecido como MHC. O MHC humano é localizado no braço curto do cromossomo 6, e é chamado de “Human Leucocyte Antigens” (HLA ). Divide-se em antígenos de classe I e II. O HLA classe I é composto dos antígenos HLA A, B, e C e estimulam o antígeno de superfície CD8 (citotóxico supressor) das células T. O HLA classe II inclui o HLA D, sub-tipos Dq e Dr, que ativam o CD4 da célula T. Seria esperado que na implantação do concepto os derivados paternos do HLA estimulassem o sistema imune materno. Isto não acontece na gestação normal pois não tem sido detectada expressão do HLA no blastocisto ou no sinciciotrofoblasto. A perda do HLA clássico no trofoblasto sugere que este é imunologicamente inerte, com importante papel de proteção, juntamente com imuno-modulação ativa do sistema imune materno. Tem sido detectados antígenos não clássicos na superfície da placenta, em culturas de células trofoblásticas (4) denominados HLA-G. Estes antígenos induzem a produção de anticorpos antiHLA-G e anticorpos anti-idiotípicos anti -anti-HLA-G detectados por citometria de fluxo em fase inicias de gestações que evoluem normalmente (5). Estas observações sugerem a participação de uma rede de anticorpos anti-idiotípicos na modulação da resposta aloimune materno-fetal que culmina com atividade supressora do organismo materno em relação ao feto(6). Sugere-se que uma interação entre os antígenos HLA-G e as células granulres linfocíticas de grande 2 volume (“large granular lymphocytes”) presentes no endométrio como responsável por delimitar o grau de invasibilidade do endométrio pelo trofoblasto, o que em última análise influenciaria o desenvolvimento da gravidez desde o princípio, podendo culminar em aborto, passando por problemas de nutrição responsáveis pelos óbitos fetais e retardos de crescimento intra-útero e inclusive se associar à doença hipertensiva específica da gravidez (7) A proposta terapêutica imunológica, utilizando-se imunização da mulher com linfócitos paternos ou de doador, surgiu da observação de que pacientes submetidos a transfusões sanguíneas seriadas apresentavam menor rejeição de aloenxertos (8). Constatou-se uma redução da incidência de abortos em animais por imunização prévia com células esplênicas paternas (9). A imunização com células paternas passou a ser a forma mais utilizada nesta abordagem após a identificação da síndrome de imunodeficiência adquirida, em detrimento da utilização de células de doador. Mowbray publicou em 1985 (10) o resultado do primeiro estudo duplo-cego randomizado comparando o efeito da imunização da mulher com linfócitos paternos versus seus próprios linfócitos. Observou significativa melhora nos resultados reprodutivos no grupo tratado pela imunoterapia. Desde então inúmeros estudos randomizados ou não tem relatado resultados divergentes em relação à eficácia da imunização da mulher com linfócitos paternos. (11). Em 1994 (12), um estudo mundial colaborativo realizou meta-análise dos dados referentes aos estudo randomizados ou não na avaliação da imunoterapia com linfócitos paternos. Este concluiu que esta abordagem terapêutica beneficiaria entre 8 a 10% das pacientes tratadas. Entre as publicações sobre os resultados da imunoterapia com imunização com linfócitos há evidências de que as mulheres portadoras de aborto recorrente primário tem maiores benefícios que os outros grupos (13, 14) Recentemente as publicações a respeito da imunoterapia para aborto têm se concentrado na utilização da imunglobulina humana intravenosa (15, 16). Sugere-se que esta medicação reduza a atividade das células NK deciduais (17), efeito semelhante àquele conseguido com a imunização com linfócitos patern lizados pelo Laboratório de Cultura de Tecidos e Histocompatibilidade do Hemocentro UNICAMP. MATERIAL E MÉTODOS. Foram revistos retrospectivamente os dados de 182 pacientes com história de três ou mais abortos espontâneos consecutivos e/ou com dois abortos e idade 3 acima de 35 anos. Destas, 116 engravidaram depois de submetidas à investigação e tratamentos descritos abaixo. Seus dados serão objeto desta avaliação. As pacientes seguiram protocolo de investigação para etiologias associadas a aborto recorrente. Foram realizadas dosagens seriadas de progesterona na segunda fase do ciclo menstrual, T3, T4, TSH, glicemia de jejum, biópsia de endométrio, pesquisa para Chlamydia e Micoplasma na secreção cérvico uterina, exames sorológicos para sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus, listeriose, brucelose e cariótipo do casal. Foram submetidas a histerossalpingografia, pesquisa de fator anti-núcleo, anti-DNA, pesquisa de células LE, anticorpo anti-cardiolipina e fator anticoaguanlte lúpico. Os padrões de normalidade para estes fatores estão classicamente definidos na literatura. A pesquisa do fator aloimune se fez pela tipagem HLA do casal, cultura mista de linfócitos com identificação de fator inibidor no soro materno na resposta celular materna contra linfócitos paternos tratados com mitomicina (CML) e reação de crossmatch por microlinfocitotoxicidade (X-M). Os antígenos HLA estudados foram A, B, Dq e Dr. Considerou-se presente o fator aloimune quando a porcentagem de inibição da reatividade das células maternas contra as células paternas foi menor que 50% na presença de soro materno, em comparação com pool de soro humano total na CML e/ou o X-M foi negativo, indicando ausência de anticorpos maternos anti-HLA contra antígenos paternos presentes na superfície dos linfócitos. Nestes casos, o parceiro foi submetido a sorologias para hepatite B e C e para o vírus da imunodeficiência adquirida humana (HIV). 6 A imunização foi preparada com uma concentração de 80x10 linfócitos e realizada por via intradérmica na face anterior do antebraço materno, em duas ocasiões com intervalo de quatro a seis semanas entre uma e outra. Seis semanas após a última imunização colheu-se nova amostra de sangue para X-M e CML. Foi considerada como resposta adequada ao tratamento a porcentagem de inibição maior que 50% na CML e X-M positivo contra linfócitos B e T paternos. As pacientes que não responderam a este protocolo foram submetidas a sequência de dois reforços de imunização com células paternas e repetiu-se os exames de X-M e CML para reavaliação da resposta e considerados favoráveis os parâmetros já descritos. As pacientes que não responderam ao segundo tratamento foram submetidas a duas imunizações com células de doador não aparentado, comprovadamente não portador de hepatite B, C ou do vírus da imunodeficiência adquirida humana (HIV) e células do marido, com o mesmo intervalo que o esquema inicial. Seis semanas após a última imunização foram repetidos o X-M e a CML. 4 A partir do resultado positivo dos exames X-M e CML, as pacientes foram liberadas para engravidar. Foram orientadas para uso de ácido fólico (5mg/dia) e progesterona (100mg/dia) a partir da segunda fase do ciclo. O ácido fólico foi a mantido até a 12 semana de amenorréia e a progesterona aumentada para a 200mg/dia com a confirmação da gravidez e mantida até a 16 semana de amenorréia. Foram realizados quatro reforços de imunização na gravidez, a partir da sexta semana de amenorréia, a cada seis semanas. As pacientes que já apresentavam resultado de X-M positivo e CML com inibição maior ou igual a 50% na primeira avaliação, foram liberadas para engravidar e submetidas a imunoterapia com linfócitos paternos durante a gestação da mesma maneira que as que foram submetidas ao tratamento pré gestacional. Foram tratadas com heparina por via sub cutânea em doses profiláticas desde a segunda fase do ciclo pré concepcional até a 34ª semana de amenorréia. Os dados obtidos foram computados e analisados no programa EPI INFO6, programa de domínio público, distribuído pelo “Center of Deseases Control”Atlanta, USA. RESULTADOS. A idade média das pacientes foi de 30,9 ± 4,4 anos, (intervalo de 21 a 42 anos), o número de gravidezes anteriores ao tratamento foi em média de 3,8 ±1,6 (intervalo 2 a 12). O número médio de abortos anteriores foi de 3,5 ±1,5 (intervalo 2 a 12). A classificação diagnóstica foi de aborto recorrente primário em 84,1%, secundário em 14,3% e indefinido em 1,6%. As tabelas 1 e 2 mostram os resultados da investigação de fator aloimune pré e pós tratamento. Tabela 1: Resultado do X-M pré e pós imunização. Resultado Pré imunização % N Pós imunização % N negativo positivo 88.5 11.5 102 14 23,5 76,5 27 89 total 100.0 116 100 116 Tabela 2: Resultados da CML pré e pós imunização. 5 inibição CML Pré imunização % N Pós imunização % N ≤ 50 % > 50 % 83,8 16,2 97 19 28,6 71,4 82 34 Total 100 116 100 116 As tabelas 3 e 4 mostram os resultados do X-M e da CML após o tratamento de reforços com imunização de leucócitos paternos e/ou doador não aparentado. Observar que todas as pacientes tiveram a viragem do X-M para positivo após a imunização de reforço ou de doador, enquanto três pacientes mantiveram resultados da cultura mista de linfócitos com inibição inferior a 50% mesmo após a imunização com doador. Tabela 3: Resultados do X-M após imunização de reforço com linfócitos paternos e/ou doador. Resultado Pós imunização reforço % N Pós imunização doador % N negativo positivo 28,6 71,4 9 25 0 100 0 15 total 100.0 34 100 15 Tabela 4: Resultados da CML pós imunização de reforço e/ou doador. inibição CML Pós imunização reforço % N Pós imunização doador % N ≤ 50 % > 50 % 45,5 55,5 15 19 27,3 72,7 3 8 Total 100 34 100 11 Nas tabelas 5 e 6 estão expressos os resultados da investigação de outros fatores associados. Na tabela 7 estão expressos os resultados da investigação de incompetência ístmico cervical por histerossalpingografia. O cariótipo feminino foi normal em 81 de 83 pacientes e o masculino em 78 de 80 parceiros. Na 6 investigação dos fatores infecciosos houve dois resultados positivos, um para Chlamydia e outro para Micoplasma. Tabela 5: Distribuição de pacientes segundo o resultado da pesquisa de auto anticorpos. Positivo Negativo 01 05 03 04 0 0 0 75 79 46 72 65 37 34 anti-DNA Fator anti- núcleo Fat. Anticoag. lúpico Ac. Anti -cardiolipina células LE anti-Ro anti-La Tabela 6: Resultados da investigação hormonal. Normal Avaliação progesterona lútea função tireoideana biópsia endométrio diabetes mellitus % 86.2 95.2 70.7 98.1 Anormal N 25 40 29 51 % 13.8 4.8 29.3 1.9 N 4 2 12 1 Tabela 7 - Resultado da investigação de incompetência ístmico-cervical. Histerossalpingografia % N Normal Incompetência ístmico-cervical 77,2 22,8 61 18 Total 100,0 79 7 Tabela 8 - Resultados da investigação do fator infeccioso Positivo Agente infeccioso Sífilis CMV Toxoplasmose Listeriose Brucelose Chlamydia Micoplasma Negativo % N % N 0,9 3,8 0 4,3 1,6 0 11,1 1 2 0 2 1 0 4 99,1 96,2 100,0 95,7 98,4 100,0 88,9 106 51 92 45 63 36 32 Durante o período de seguimento ocorreram 116 gestações, cujos resultados estão expressos na tabela 8. Tabela 8: Resultados gestacionais a pós tratamento Forma de término da gestação % N Aborto Gravidez em evolução >20sem IG Parto a termo 19,8 57,8 22,4 23 67 26 Total 100.0 116 DISCUSSÃO A identificação das causas ou dos fatores associados ao aborto recorrente, bem como a terapêutica tem sido tema de constante debate na literatura. Há autores que sugerem que não há terapêutica específica necessária além do seguimento minucioso e suporte emocional ao casal (19) e outros que sugerem a existência de fatores imunológicos tão ou mais importantes que aqueles tradicionalmente referidos como determinantes do aborto recorrente (10). Consideramos fundamental que a investigação e tratamento do aborto recorrente deva se pautar em uma avaliação sistemática de todos os fatores descritos para o aborto recorrente e cada um deles abordado individualmente para a terapêutica necessária. 8 Nessa casuística identificamos uma frequência de alterações da fase lútea semelhante à descrita na maioria das publicações, bem como em relação aos fatores uterino, infeccioso e genético(20). Estes fatores tem sua propedêutica e terapêutica bastante estudada na literatura e daremos ênfase aos aspectos imunológicos Observamos neste grupo de pacientes que a identificação de fatores associados ao aborto não atingiu metade dos casos se quando avaliação aloimune é excluída da propedêutica. Este dado está de acordo com a literatura revista até o momento(20). Vários testes imunológicos têm sido investigados como marcadores potenciais do risco de recorrência do aborto (21). Nesta categoria enquadram-se o X-M e a CML (22). Pode-se observar que a frequência de X-M positivo subiu de 16,2% previamente ao tratamento para 71,4 % depois da série de duas imunizações. Nenhuma paciente permaneceu com X-M negativo após a imunoterapia com linfócitos paternos e/ou doador, enquanto apenas 3 pacientes mantiveram o fator de inibição abaixo dos 50% do ponto de corte para normalidade. Isto demonstra a alta eficácia da imunoterapia empregada neste protocolo em induzir uma resposta imune celular na pacientes em relação aos seus respectivos companheiros. Ressaltamos que a positividade do crossmatch e do fator inibidor na cultura mista de linfócitos nas pacientes tratadas com células de doador foram consideradas como resultados satisfatórios em relação às células do companheiro, independente do resultado da reatividade da paciente em relação ao doador não aparentado. Este dado é importante para demonstrar que o aumento relativo de compartilhamento de antígenos HLA demonstrado em casais com aborto recorrente dificulta o reconhecimento antigênico entre os parceiros. Sugere-se que este é uma das dificuldades que a mulher apresenta em reconhecer a manifestação truncada do HLA placentáreo, confrome referido acima como HLA-G. Dados da literatura referem que o sucesso da imunoterapia depende tanto do tamanho do inóculo como do grau de compatibilidade HLA e que a soro-conversão é menos frequente em casais que compartilham mais de um antígeno HLA(11). No grupo de pacientes que analisamos esta dificuldade foi vencida pelo uso de um coadjuvante da imunização, neste caso o doador não aparentado. Quanto ao inóculo há varias abordagens possíveis e há dados na literatura que sustentam que a via intradérmica resulte em soro-conversão com inóculos menores e menos desconfortáveis para a implementação terapêutica(24). Quanto aos auto-anticorpos estudados, nossos dados diferem daqueles relatados na literatura, particularmente os anticorpos anti-fosfolípides e aqueles dirigidos contra componentes nucleares como o fator anti-núcleo. Observamos que há baixa frequência de positividade de ambas as classes de anticorpos 9 relacionados com a síndrome antifosfolipídica, dado também observado por Cavalho (25) mas não por Ferriani (26) entre nós. Vários estudos tem chamado a atenção para estes anticorpos como causa da redução da fertilidade destas pacientes, tanto em aborto recorrente como em perdas em programas de fertilização assistida (FIV-ET) (27). Na presença dos anticorpos anti-fosfolipídicos a associação aspirina em baixas doses e heparina (28) propcia bons resultados gestacionais, especialmente quando instituída desde o período pré concepcional. Contudo parece ser independente da terapêutica a manutenção dos níveis circulantes dos anticorpos, sabendo-se que as pacientes que evoluem com nova interrupção apresentam ascenção dos títulos e as que mantém ou apresentam queda nos níveis tem melhores resultados gestacionais (29). A imunoglobulina intravenosa tem sido sugerida como alternativa terapêutica para estes casos, associados ou não ao fator aloimune (30). A controvérsia da eficácia da imunoterapia no tratamento dos abortos recorrentes de causa imunológica está longe de ser esclarecida. Em séries não controladas, a taxa de nascidos vivos em pacientes tratadas com linfócitos paternos variou de 50 a 83% (11). Em estudos randomizados o resultado é conflitante. Uma publicação avaliando por meta análise os vários relatos a respeito da imunoterapia (23) refere que se incluídos apenas dados resultantes de estudos randomizados, 68% das mulheres imunizadas com linfócitos paternos deram à luz um filho vivo na gestação índice, comparado com 61% de nascidos vivos em mulheres controles não tratadas. Previamente ao tratamento, estas pacientes tiveram 340 gestações , com uma taxa de aborto de 87,9 %. Após a terapia com imunização por linfócitos paternos, ocorreram 116 gestações, com uma taxa de aborto de 19,8%. Consideramos este resultado satisfatório, levando-se em conta o risco de recorrência de novo aborto neste grupo, ainda que nã o se trate de estudo randomizado duplo-cego que pudesse esclarecer a real eficácia terapêutica da imunoterapia com linfócitos paternos. CONCLUSÃO Os dados obtidos parecem indicar que a imunização com linfócitos paternos é eficiente em melhorar a resposta imunológica materna às células paternas. O tratamento imunoterápico com células paternas melhora os resultados gestacionais. 10 Referências 1. Clarke, B. & Kirby, DR. Maintenance of histocompatibility polymorphins. Nature 211(52):999-1000,1966. 2. Ober C L, Hauck W W, Kostyu D D, O’Brien E, Elias S, Simpson J J L, Mantin A O: Adverse effects of human leucocyte antigen-DR sharing on fertility: a cohort study in a human isolate. Fertil Steril 44:227, 1985. 3. Thomas M L, Harger J H, Wagener D K, Rabin, B S, Gill T J III: HLA sharing and spontaneous abortion in humans. Am J Obstet Gynecol 151:1053-8, 1985. 4. Ellis, S.A., Sargent, I.L., Redman, C.W. & McMichael, A.J. Evidence for a novel HLA antigen found on human extraviluos trophoblast and a choriocarcinoma cell line. Immunology 95:595-601, 1996. 5. Sucio-Focca N, Reed E, Rohowsky C: Antiidiotypic antibodies to anti-HLA receptors induced by pregnancy. Proc Natl Acad SCI USA 80:830,1983. 6. Reed, E., Beer, A.E., Hutcherson, H., King, D.W. & Cuciu-Foca, N. The alloantiboby response of pregnant women and its suppression by soluble HLA antigens and anti-idiotypic antibodies.J Reprod Immunol 20:115128, 1991. 7. King, A & Loke, Y.W. On the nature and funtin of human uterine granular lymphocytes. Immunol Today 12:432, 1991. 8. Sollinger H W, Burligham W J, Sparks E M F, Glass N R, Belzer F O: Donor specific transfusions in unrelated and related HLA mismatched donor recipient combinations. Transplantation 38:612-614, 1984. 9. Chaouat G, Kieger N, Wegmann TG: Vaccina tion against spontaneous abortion in mice. J Reprod Immunol 5:389-392, 1983. 10. Mowbray S F, Gibbons C, Lidell H, Reginald P W, Underwood J L, Beard R W: Controlled trial of treatment of recurrent spontaneous abortion by immunization with paternal cells. Lancet i:941-943, 1985. 11.Marelli G, Parazzini F, Acaia B, Bocciolone L, Bontempelli M, Faden D, Fedele L, Maffeis A, Radici E, Illeni M T: Immunotherapy and recurrent abortion: a randomized clinical trial. Hum Reprod.9(7): 12479, 1994. 12.Recurrent Miscarriage Immunotherapy Trialists Group: Worldwide collaborative observational study and metananalisys on allogenic leukocyte immunotherapy for recurrent spontaneous abortion. Am J Reprod Immunol 32:(3):55-72 13. Christiansen O B, Mathiesen O, Husth M, Lauritsen J G, Grunnet N: Placebo-controlled trial of active immunization with third party leukocytes in recurrent miscarriage. Acta Obstet Gynecol Scand 73 (3):261-8, 1994. 14. Carp HJ, Toder V, Torchinsky, Portuguese S, Lipitz S, Gazit E, Mashiach S: Allogenic leukocyte immunization after five or more miscarriages. Recurrent Miscarriage Immunotherapy Trialists Group.Hum Reprod 12(2): 250-5, 1997. 11 15. Coulam C B: Immunotherapy with intravenous immunoglobulin for treatment of recurrent pregnancy loss: American experience. Am J Reprod Immunol 32(4): 286-9 TI, 1994. 16. Mueller-Eckhardt G: Immunotherapy with intravenous immunoglobulin for prevention of recurrent pregnancy loss:European experience. Am J Reprod Immunol 32(4): 281-5, 1994. 17. Ruiz J E, Kwak J Y, Baum L, Gilman-Sachs A, Beaman K D, Kim Y B, Beer A E: Intravenous immunoglobulin inhibits natural killer cell activity in vivo in women with recurrent spontaneous abortion. Am J Reprod Immunol 35(4): 3705, 1996. 18. Higuchi K, Aoki K, Kimbara T, Hosoi N, Yamamoto T, Okada H: Suppression of natural killer cell activity by monocytes following immunotherapy for recurrent spontaneous aborts. Am J Reprod Immunol 33(3): 221-7, 1995. 19. Stray-Pederson B, Stray-Pederson S: Etiologic factors and subsequent reproductive performance in 195 couples with a prior history of habitual abortion. Am J Obstet Gynecol 148:142, 1984. 20. Maione, S., Lamberti, L., Alovisi,C. , Armellino, F. Retrospective study of couples with a history of recurrent spontaneous abortion. Acta Eur Fertil. 26(3): 95-100, 1995 21. Roussev,R. G. , Kaider, B. D., Price, D. E. & Coulam, C. B. Laboratory evaluation of women experiencing reproductive failure. Am J Reprod Immunol. 35(4): 415-20, 1996 22. Komlos, L., Vardimon, D., Notmann, J., Ben-Rafael, Z., Hart, J., Klein, T., Levinsky, H., Halbrecht, I. Mixed maternal-paternal lymphocyte cultures before and after immunotherapy for recurrent spontaneous abortions. Am J Reprod Immunol. 35(1): 30-3, 1996 23. Worldwide collaborative observational study and meta-analysis on allogenic leukocyte immunotherapy for recurrent spontaneous abortions.Recurrent Miscariage Immunotherapy Triallist Group Am J Reprod. Immunol 32(2):155-72, 994. 24. Daya, S. & Gunby, J. The effectiveness of allogeneic leukocyte immunization in unexplained primary recurrent spontaneous abortion. Recurrent Miscarriage Immunotherapy Trialists Group [see comments] . Comment in: Am J Reprod Immunol 32(4):257-60, 1994 . Am J Reprod Immunol. 32(4): 294302 , 1994 25.Couto, E.. Estudo comparativo da frequencia de anticorpos anti- fosfolipídicos em pacientes com aborto recorrente e pacientes férteis. Tese de Mestrado. UNICAMP, 1995. 26. Costa, H.L.F.F.; Moura, M.D.; Ferriani, R.A.; Aneschi,M.I.S.; Barbosa,J.E. Prevalence of anti-cardiolipin antibody in habitual aborters. Gyncol. Obstet. Invest. 36:221-5, 1993. 27. Geva, E., Amit, A., Lerner, Geva, L., Lessing, J.B. Autoimmunity and reproduction. Fertil Steril. 67(4): 599-611, 1997 12 28. Kutteh, W. H. Antiphospholipid antibody-associated recurrent pregnancy loss: treatment with heparin and low-dose aspirin is superior to low-dose aspirin alone. Am J Obstet Gynecol. 174(5):1584-9, 1996 29. Kwak, JY., Barini, R., Gilman-Sachs, A., Beaman,K.,D., Beer, A.E. Downregulation of maternal antiphospholipid antibodies during early pregnancy and pregnancy outcome. Am J Obstet Gynecol.171(1): 239- 46, 1994 30. Kiprov, DD, Nachtigall, RD, Weaver, RC, Jacobson, A; Main, EK, Garovoy, MR The use of intravenous immunoglobulin in recurrent pregnancy loss associated with combined alloimmune and autoimmune abnormalities. Am J Reprod Immunol. 36(4): 228-34, 1996 Agradecimentos: à pós graduanda Sara Tosetti Ribeiro e aos internos Marcos Mathias Motta e Carolina pelo inestimável trabalho de coleta de dados das pacientes envolvidas neste trabalho. 13