ESPACIALIZAÇÃO DE OCORRÊNCIAS DA DENGUE NO

Propaganda
ESPACIALIZAÇÃO DE OCORRÊNCIAS DA DENGUE NO MUNICÍPIO DE
CAUCAIA-CEARÁ
Ledervan Vieira Cazé – Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará-UFC/Fortaleza-CE.
[email protected].
Paulo Roberto Lopes Thiers – Profº. Ms. do Departamento de Geografia da Universidade Federal do CearáUFC/Fortaleza-CE. [email protected].
Francisco José Silva Soares Mendes – Graduando em Geografia pela Universidade Federal do CearáUFC/Fortaleza-CE. [email protected].
José Auricélio Gois Lima – Mestrando em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará-UECE/Fortaleza-CE.
[email protected]
José Walacy Lima Lopes – Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Ceará-UFC/Fortaleza-CE.
[email protected]
Resumo
Quaisquer tipos de dados ou informações oriundos da superfície terrestre, relacionados com o concreto ou com o
abstrato, podem ser representados graficamente. As tecnologias da geoinformação incorporam ferramentas como os
softwares de Sistema de Informação Geográfica (SIG), ferramenta que com dispositivos para análise, tratamento de
dados e geração de informações de cunho geográfico. A dengue impõe-se como séria ameaça à saúde e bem-estar
público. A aplicação de tecnologias da geoinformação permite a espacialização da incidência de casos de dengue,
indispensável à gestão territorial da área objeto de estudo. Tem-se como objetivo evidenciar a compreensão,
tratamento e prevenção da epidemia, através da construção de um SIG experimental. O trabalho foi realizado em
três etapas: o planejamento, com a escolha do município de Caucaia/CE como área de estudo e a Dengue como
epidemia para tema, por apresentar diversas ocorrências nesse município, no ano de 2008; o trabalho de campo,
coletando-se pontos que identificassem o posicionamento terrestre, através de receptores do sistema GPS, das
localidades inseridas no perímetro urbano do município onde a doença teve manifestação; e o processamento e
análise espacial dos dados em laboratório, utilizando-se imagens de satélites, dados estatísticos e softwares
específicos para o registro e mapeamento dos pontos de incidência da dengue. A Cartografia digital e software de
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) mostraram serem ferramentas fundamentais para espacialização da área
infectada pelo mosquito. O conhecimento da dimensão espacial desta doença oferece condições para a adoção de
medidas efetivas para a erradicação do mosquito transmissor. A combinação da representação cartográfica de dados
espaciais e informações obtidas através de observações in loco, são indispensáveis para o estudo detalhado e eficaz
deste grave problema de saúde pública.
Palavras – Chaves: Sistema de Informações Geográficas, sensoriamento remoto, epidemia.
Abstract
Any types of data or information originating from of the terrestrial surface, related with the concrete or with
the abstract, they can be represented graphically. The technologies of the geo-information incorporate tools as
the softwares of Geographic Information System (GIS), tool that with devices for analysis, treatment of data
and generation of information of geographical stamp. To primness it is imposed as serious threat to the health
and public well-being. The application of technologies of the geo information allows the distribution of the
incidence of cases of primness, indispensable to the territorial administration of the area study object. It is had
as objective evidences the understanding, treatment and prevention of the epidemic, through the construction
of an experimental GIS. The work was accomplished in three stages: the planning, with the choice of the
municipal district of Caucaia/CE as study area and to Primness as epidemic for theme, for presenting several
occurrences in that municipal district, in the year of 2008; the field work, being collected points to identify the
terrestrial positioning, through receivers of the system Global Positioning System (GPS) of the places inserted
in the urban perimeter of the municipal district where the disease had manifestation; and the processing and
space analysis of the data in laboratory, being used images of satellites, statistical data and specific softwares
for the registration and mapping of the points of incidence of the Primness. The digital Cartography and
software of GIS they showed they be fundamental tools for distribution of the space of the area infected by the
mosquito. The knowledge of the space dimension of this disease offers conditions for the adoption of effective
measures for the eradication of the mosquito transmitter. The combination of the cartographic representation of
space data and information obtained through observations in loco, they are indispensable for the detailed and
effective study of this it records problem of public health.
Keywords: Geographic Information System, remote sensing, epidemic.
Introdução
Todo e qualquer tipo de dados ou informações oriundas da superfície terrestre, sejam relacionadas
com o concreto ou o abstrato, podem ser representados graficamente. O Sistema de Informações
Geográficas (SIG) é ferramenta que incorpora dispositivos para análise espacial e tratamento de dados
para a produção informações geográficas.
O objetivo das técnicas de análise espacial é descrever padrões existentes nos dados espaciais e
estabelecer, preferencialmente de forma quantitativa, os relacionamentos entre as diferentes variáveis
geográficas, (CARVALHO, 2004).
Nessa dimensão, o Sistema de Informação Geográfica surge como ferramenta indispensável à
compreensão de diversas problemáticas sociais e naturais, pois se evidencia nele a capacidade de
relacionar dados sócio-econômicos, demográficos e ambientais, entre outros, nos respectivos lugares de
ocorrência de determinado fenômeno, como por exemplo, na incidência de enfermidades tipo: cólera,
malária, dengue etc., que podem ser localizadas sobre a superfície terrestre por meio dessas ferramentas,
sendo devidamente identificadas, georreferenciadas e mapeadas.
Dentre as inúmeras doenças existentes, a dengue é caracterizada como uma infecção reemergente,
que nas últimas décadas vem preocupando as autoridades sanitárias de todo o mundo, em virtude de sua
circulação em todos os continentes, ademais do potencial em causar formas graves e letais (BRASIL,
2000).
De acordo com o Guia Brasileiro de Vigilância Epidemiológica (1988), a ocorrência da dengue se
agrava nos países tropicais, uma vez que as condições ambientais associadas à ineficácia das políticas
públicas de infra-estrutura, educação e saúde, favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes
aegypti, principal mosquito vetor de transmissão dessa enfermidade.
A Secretaria de Saúde do Ceará (2008) define a dengue como uma doença infecciosa febril aguda
que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma como se apresenta: infecção não aparente,
dengue clássica (DC), febre hemorrágica da dengue (FHD) ou síndrome de choque da dengue (SCD). É
considerada como um arbovírus, vírus transmitido por artrópodes, como os mosquitos, com quatro
sorotipos conhecidos: DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4. São mosquitos do gênero Aedes. A espécie
Aedes aegypti é o vetor mais importante na transmissão da doença e que, também, pode ser transmissora
da febre amarela urbana.
Durante o ano de 2008, o Ceará teve “destaque” como o Estado que apresentou o 2º maior índice de
casos de dengue, desde o ano de 1986, com elevados índices de infestações pelo Aedes aegypti,
circulação simultânea de três sorotipos virais, predominando o sorotipo DENV2 e grande contingente
populacional susceptível à doença. Registre-se que no mês de abril de 2008, foram confirmados,
aproximadamente, 13.000 incidências de casos de dengue, sendo que 80% dos casos clássicos ocorreram em 34
municípios do Estado.
Nesse ano, a incidência de dengue foi superior a 300 casos em cada 100.000 habitantes, em 33 municípios.
Em outros 34 municípios, a incidência ficou entre 101 e 300 a cada 100.000 habitantes, sendo que 79 municípios
apresentou índices entre 1 e 100 a cada 100.000 habitantes. Com incidência inferior a 1 para cada 100.000
habitantes, apenas 38 outros municípios. (SECRETARIA DA SAÚDE DO CEARÁ, 2008. p. 03).
A deficiente infra-estrutura e a quase ausência de equipamentos urbanos e serviços sociais básicos,
associado ao déficit habitacional e à ocupação de áreas de proteção ambiental às margens de rios em
centros urbanos densamente ocupados, refletem um quadro extremamente preocupante com a proliferação
de doenças, e no caso da dengue, do vetor transmissor, além de estar associado a uma deficiente
implantação de políticas públicas na área da saúde, se não ausente.
Segundo dados disponibilizados pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – SESA/CE (2008)
existem casos de dengue notificados no estado desde 1986. Nos últimos 22 anos, a dengue se manifestou
de forma endêmica, com o registro de quatro picos epidêmicos nos anos de 1987, 1994, 2001 e 2008.
Segundo o mesmo órgão, destacam-se as epidemias de 1994 pelo maior número de casos confirmados e
2008, com o maior número de casos hemorrágicos da doença. Em 1994, o principal fator para ocorrência
dos primeiros casos hemorrágicos foi a circulação do sorotipo DENV-2. O sorotipo DENV-3 foi isolado
no ano de 2002 no Ceará, aumentando significativamente o risco da ocorrência de casos graves de dengue.
Tomando por base o exposto, este trabalho objetiva evidenciar a importância da utilização do SIG
para a identificação, tratamento e prevenção sobre endemias e/ou epidemias, distribuídas no espaço
geográfico, uma vez que endemias e epidemias são fenômenos nocivos à condição de sobrevivência
humana. Assim, através da construção de um sistema de informações geográficas com bases em dados
referentes aos distritos do município de Caucaia-CE, foram levantados os índices de ocorrência da dengue
nesse município, delimitado temporalmente no período de janeiro a agosto de 2008, onde pretendeu-se
analisar ainda, a disseminação dos casos e os fatores de disseminação no espaço geográfico estudado.
A escolha recaiu nesse município devido ao fato de que este apresentou em 2008, ano considerado
epidêmico de dengue, o segundo maior registro de casos confirmados pela Secretaria da Saúde, no Estado,
depois do município de Fortaleza. O município apresenta situações de vulnerabilidade ambiental elevadas,
além dos fatores sociais, econômicos e culturais que contribuíram para o segundo maior registro de
ocorrências, associados também à incidência da doença, classificada entre 101 a 300 casos por 100 mil
habitantes, segundo a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará.
Segundo Bonfim et al (2008), compreender a organização do espaço possibilita uma maior
aproximação dos fatores relacionados ao desenvolvimento das doenças e da sua distribuição entre os
diversos grupos sociais. As desigualdades espaciais precisam ser identificadas para que se possa qualificar
e organizar os serviços de saúde de acordo com as particularidades de cada área geográfica.
Material e Método
Considerada como etapa fundamental do desenvolvimento da pesquisa, os procedimentos e as
técnicas a serem utilizadas, auxiliam na busca do alcance dos objetivos propostos. Segundo Venturi
(2005), o método dispõe de fundamentação teórica, auxiliando o sujeito na organização de seu raciocínio.
Já as técnicas auxiliam nas organizações das informações necessárias que subsidiarão a efetivação do
método e objetivos da pesquisa.
Segundo este mesmo autor, é necessário ter conhecimento e consciência da técnica, do seu
significado e do papel que ela desenvolve no processo de produção científica, uma vez que “[...] o
domínio das técnicas pode assegurar ao cientista maior confiabilidade e controle sobre os dados que irão
subsidiar seus argumentos” (VENTURI, op. cit. p. 14).
Para elaboração do trabalho foi realizada a busca de material bibliográfico e de projetos de
pesquisa sobre a temática: monografias, dissertações, teses, artigos e livros. As buscas foram efetivadas
pela internet: publicação de artigos em revistas eletrônicas, sítios de universidades brasileiras e de órgãos
que fornecem dados e materiais bibliográficos concernentes à temática de estudo.
Levantamentos bibliográficos foram efetuados em bibliotecas centrais vinculadas à Universidade
Federal do Ceará e à Universidade Estadual do Ceará, além de consultas realizadas nas bibliotecas dos
departamentos de Geografia das respectivas universidades; Anais de congressos, encontros e simpósios:
Encontro Nacional de Geógrafos – ENG; Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada – SBGFA;
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SBSR.
Para o estudo da manifestação de ocorrências da dengue e de sua expansão no município de
Caucaia-CE, foi utilizado o banco de dados pertencente à Secretaria da Saúde do Ceará-SESA, no período
entre janeiro a agosto de 2008. Os dados adquiridos relativos à dengue e os relativos aos aspectos
populacionais foram cedidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008), tratados
estatisticamente e exportados para o formato dBaSE IV para inserção no banco de dados dos softwares
utilizados.
Para a geração da base de dados digitais da área objeto foi utilizado material geocartográfico
adquiridos junto aos departamentos de geoprocessamento da: Companhia de Gerenciamento de Recursos
Hídricos - COGERH, Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SEMACE, Instituto de Desenvolvimento
Agrário do Ceará - IDACE, Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais CPRM, Instituto de Pesquisa e
Planejamento Estratégico do Ceará - IPECE, e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
compreendendo: imagens e mapas vetoriais relativos à geomorfologia, solos, hidrografia e a delimitação
da área de estudo.
Na base digital foi representada a distribuição espacial da doença, em software de SIG,
identificando o posicionamento terrestre das incidências em localidades dos distritos do município de
Caucaia-CE.
A representação dos dados fornecidos pela Secretaria da Saúde do Município foram interpretados e
tratados estatisticamente para permitir gerar as informações de interesse da pesquisa. O processamento dos
dados, as consultas por atributos e análises espaciais foram realizadas no Laboratório de Cartografia
Digital da Universidade Federal do Ceará – UFC. A Figura 1, abaixo resume os procedimentos adotados.
Resultados e Discussões
O município de Caucaia-CE é parte integrante da Região Metropolitana de Fortaleza, limitando-se
ao norte pelo oceano Atlântico e a leste com a capital cearense. Ao sul, limita-se com o município de
Maranguape, sendo que os municípios de São Gonçalo do Amarante e Pentecoste confrontam-se a oeste.
O município possui área total de 1.228km², distribuída pelos distritos de Caucaia/sede, Guararu, Catuana,
Sítios Novos, Bom Princípio, Tucunduba, Mirambé e Jurema, representados graficamente em croqui de
localização (Fig. 1), enquadrado pelas coordenadas extremas longitude -38º45’20”WGr e -38º53´53”WGr
e latitude -3º20´49” e -3º46’37”.
A área possui relevo bastante diversificado, caracterizado por topografia plana a plana ondulada
nos Tabuleiros Pré-Litorâneos a fortemente ondulado nos maciços residuais, estes resultantes da erosão
diferenciada ao longo do tempo geológico, composto por rochas Pré-Cambrianas de natureza granítica e
migmatítica (SOUZA, 1988; BRANDÃO et al 1995). A área tem a presença significativa da depressão
sertaneja, unidade geomorfológica mais extensa no Estado do Ceará, além de planícies fluviais,
flúviomarinha, faixa de praia e dunas, evidenciando uma complexa topografia de variadas altitudes.
Figura 1: Croqui de Localização da Área de Pesquisa
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
O Plano de Gerenciamento das Águas das Bacias Metropolitanas, implementado pela Companhia
de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH (1999) considera que a área de pesquisa é drenada,
principalmente, pelo sistema hídrico da bacia Ceará/Maranguapinho. Em face das condições topográficas
e de solos, a região possui quantidade significativa de nascentes e afluentes que desaguam no sistema
hídrico principal.
No que se refere às condições climáticas, na sua totalidade, o município está submetido à
irregularidade temporo-espacial de precipitação pluviométrica, visto que a concentração das chuvas, assim
como em todo o Estado do Ceará, ocorre entre os meses de fevereiro e maio. Estas condições assumem
papel singular no bojo da pesquisa.
Constata-se que, devido à proximidade com o mar, os índices pluviométricos são elevados,
variando entre 1000 a 1350 mm anuais. As temperaturas são elevadas e superiores a 26° durante todo o
ano (ZANELLA, 2005). Portanto, em face, a precipitação é diferenciada do que é predominante do clima
semi-árido do restante do território cearense, que possui precipitações inferiores a 850 mm anuais.
Ressalte-se que toda a região está submetida à Zona de Convergência Intertropical – ZCIT, principal
sistema gerador da precipitação no Estado, formada por conjuntos de nuvens, gerados da confluência dos
ventos alísios de NE e SE, que ascendem formando nebulosidade e propiciando muita chuva.
Do ponto de vista climático, a área objeto do estudo é classificada como sendo de clima tropical
quente subúmido, segundo IPLANCE (1997). Informa Zanella (2005), que todo o litoral cearense, e
conseqüentemente, o município de Caucaia-CE, estão submetidos aos ventos alísios de sudeste e brisas
que amenizam as altas temperaturas.
A pesquisa levantou dados relativos ao período compreendido entre janeiro a agosto, identificado
como o período que possui os maiores números de casos de dengue no Ceará, segundo informa os dados
da Secretaria da Saúde do Ceará. O Gráfico 1 e 2 demonstram, respectivamente, a incidência de casos de
dengue clássica por 100 mil habitantes entre 1986 e 2009 em todo o estado e o número de casos da
doença, por mês, entre 2006 e 2009.
Gráfico 1: Incidência dos casos de dengue no Ceará entre 1986 e 2009*
Fonte: Secretaria da Saúde do Ceará, 2009.
*Dados sujeitos a atualização para o ano de 2009.
Gráfico 2: Número de casos de dengue confirmados por mês entre 2006 e 2009.
Fonte: Secretaria da Saúde, 2009.
A demonstração dos dados em gráficos evidencia a forte correlação dos fatores climáticos com a
incidência da doença da dengue e número de casos. Destaque-se que foram confirmadas ocorrências, pela
Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, de casos da doença em todos os meses do ano. Entretanto, nos
últimos 7(sete) anos, há confirmação de registros que evidenciam maiores incidências de casos no
primeiro semestre de cada ano, em face do aumento de precipitação e umidade.
Com relação à distribuição espacial de casos da dengue, constata-se que é heterogênea, ainda que
concentrada, nos distritos mais urbanizados, Caucaia/sede e Jurema. Os mapas temáticos produzidos em
software de SIG e análises espaciais realizadas evidenciam que essa distribuição espacial não tem
influência predominante da presença dos corpos d’água, como poderia explicar a conceituação habitual:
maiores incidências de casos de dengue tem relação diretamente proporcional à presença de água
parada, em grande ou pequena escala.
A distribuição espacial dessa moléstia aponta para áreas onde estão as maiores concentrações da
população como nos distritos Sede/Caucaia e Jurema, mesmo não possuindo rede de drenagem melhor
definida. A melhor hipótese para esta constatação reside, em um primeiro momento, na demanda
populacional concentrada, no baixo índice de infra-estrutura da saúde e saneamento básico e nas
condições naturais e migratórias do vetor.
Em complemento ao que acima está exposto, a Organização Mundial da Saúde ratifica que o
ressurgimento da dengue, em escala global, e o aumento da densidade da população vetora tem como
fatores responsáveis: o crescimento da população humana, com grandes mudanças demográficas e a
expansão/alterações desordenadas do ambiente urbano, com infraestrutura sanitária deficiente. A hipótese
é de que o mosquito transmissor esteja adaptado a domicílios urbanos, onde consegue reproduzir em
pequenas quantidades de água limpa, pobres em matéria orgânica em decomposição e sais,
com
características ácidas e que, preferivelmente, estejam sombreados e no peridomicílio.
Distribuição Populacional por Distrito no Município de Caucaia-CE
A Zona Urbana do Município é integrada por Caucaia/Sede e Jurema, e conta com toda a
infraestrutura que os caracterizam como zona urbana. A sua população corresponde a mais de 90% dos
habitantes do Município, com serviços e toda a logística necessária à administração pública. Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE apontam que, em 2007, o município tinha população
de 316.906 habitantes.
Figura 03. Distribuição Populacional por Distrito
Tabela 01: Características da distribuição populacional.
SITUAÇÃO
HABITANTES
DENSIDADE DEMOGRÁFICA
(hab/km²)
URBANA
289.969
226,08
RURAL
26.947
24,39
316.916
209, 50
TOTAL
Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2007.
Espacialização de Notificações de Casos de Dengue em Caucaia-CE
A forma de representação da espacialização das notificações da dengue pode ter relação direta
com a distribuição socioespacial da população, das relações culturais, além das deficientes condições de
infraestrutura sanitária e de desenvolvimento, já que os aspectos físico-ambientais não devem ser
considerados, isoladamente.
Em agosto de 2008, o Ceará já vivia o segundo maior número de casos de dengue, sendo 36.372
notificações confirmadas e 18 óbitos, distribuídos em 167 dos 184 municípios cearenses. O maior número
de casos registrados ocorreu em 1986. Dos casos de dengue clássica até agosto de 2008, a capital,
Fortaleza, concentrou 26.034 registros. Caucaia, município vizinho àquele, possuía o segundo maior
número de casos, com 784 ocorrências, 201 casos a mais do que o terceiro município mais afetado, Tauá
com 547 registros (BOLETIM INFORMATIVO, SESA, 2008).
Dos 784 casos confirmados entre janeiro até a primeira semana de agosto, os localizados em
distritos da zona urbana são extremamente superiores aos da zona rural, evidenciados na representação
cartográfica Tema de distribuição das notificações (Fig. 04). Entretanto, esta representação gráfica não
traduz a realidade com fidelidade, justificada pela necessidade da migração de moradores infectados,
residentes em distritos rurais, para atendimento nos distritos de Caucaia/Sede e Jurema, que passam a ter
maiores índices de vítimas da dengue.
Figura 4 –Notificações de Casos de Dengue
Mesmo com a confirmação da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará de que a quantidade de
atendimentos domiciliares, por agentes sanitaristas, aproxima-se do que determina o Ministério da Saúde,
essa ação não foi suficientemente eficaz para redução do número de casos confirmados no período
estudado, em todo o Estado. Entretanto, é importante enfatizar que dados parciais de 2008 revelam que
92,9% dos municípios realizaram, pelo menos, 5 ciclos de visitas domiciliares. Desse total, 42,4% atingiu a meta
estabelecida pelo Ministério da Saúde: 6 ciclos de visitas domiciliares. A última avaliação indica que 76% dos
municípios apresentaram infestação vetorial inferior a 1%: meta preconizada pelo Ministério da Saúde do Brasil.
(SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ, 2008).
As relações culturais em muito favorecem a proliferação do vetor transmissor e dificultam o papel
desempenhado por agentes sanitaristas. Os aspectos culturais considerados relacionam-se a pontos de lixo
distribuídos em áreas densamente ocupadas. Questão relativa a criadouros possivelmente mantidos no
interior de casas e quintais, confirmando hipótese de maiores números de casos em áreas mais densamente
ocupadas: Caucaia/sede e distrito de Jurema, onde foram constatados 75,8 % dos casos do município.
O aspecto cultural é componente de hipótese que ratifica que mesmo havendo redução das
precipitações pluviométricas, após o mês de maio, houve aumento do número de casos da doença.
Estrutura de Atendimento à Saúde na Área Objeto de Estudo
A estrutura de atendimento à população possui 68 unidades de saúde, catalogadas na pesquisa, para
atendimento à população do município de Caucaia-CE. Entretanto, 52 unidades estão espacialmente
distribuídas na zona urbana (Caucaia/sede e Catuana), assim discriminadas: centros de saúde, hospitais,
unidades de vigilância sanitária, unidades móveis, policlínicas e unidades de saúde da família (PSF –
Programa de Saúde da Família). O plano gestor municipal indica que as unidades são distribuídas onde
ocorre demanda e maior concentração populacional.
Tabela 02: Distribuição de Unidades de Saúde.
TIPO DE UNIDADE
QUANTIDADE
POSTO DE SAÚDE
CENTRO DE SAÚDE
AMBULATÓRIO
CONSULTÓRIO MÉDICO/ODONTOLÓGICO
POLICLÍNICA
UNIDADE MISTA
UNIDADE MÓVEL
UNIDADE DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA
UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
OUTRAS
HOSPITAIS
17
4
1
3
2
37
2
2
Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA), 2002.
Estrutura de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário
Condicionantes socioespaciais à preservação da saúde da população são o abastecimento de água
e o esgotamento sanitário que, em termos gerais, mostram-se precários. Com relação à distribuição de
esgotamento sanitário há evidências da necessidade premente de atendimento a este item, bem como da
estruturação de uma rede de distribuição de água que atinja a maioria da população municipal. Não foi
possível quantificar e espacializar os serviços de abastecimento d´água e saneamento básico para
processamento de análises espaciais, vista que o órgão encarregado desses serviços não disponibiliza
informações atualizadas (2008) compatíveis, temporalmente, com a pesquisa. Reflexos de ineficácia ou
ausência de políticas públicas de saúde em níveis federal, estadual e municipal.
Influência de Relevo na Incidência de Casos de Dengues
A zona urbana Caucaia/sede e Catuana, apresentam condicionante topográfica mais rebaixada com
tipo climático tropical quente e úmido, predominante, e distribuído em todo o município. As condições de
relevo e clima, associados à vegetação de cerrado e caatinga arbustiva densa, são fatores que propiciam a
reprodução do vetor em águas limpas e paradas em grandes aglomerados populacionais.
O mosquito Aedes Aegypit, dependendo de circunstâncias, pode sobreviver no campo ou na
cidade. Não sobrevive somente em ambiente doméstico, como pretendem as autoridades. As florestas e
matas é o habitat natural do mosquito, que se desenvolve em folhas, raízes ou qualquer outro receptáculo
capaz de reter a água. Portanto, é importante avaliar a possibilidade de que áreas florestais urbanas, bem
como outros aspectos do meio ambiente e dos aglomerados urbanos são prováveis e, possivelmente, um
dos principais criadouros do mosquito transmissor da dengue, como foi identificado a partir do
cruzamento das informações dos dados obtidos e espacializado nos mapas elaborados como o da figura 5.
Figura 5: Casos Confirmados de Dengue e sua Correlação com as Áreas mais Densamente Ocupadas
Conclusões
As tecnologias da geoinformação demonstraram ser ferramentas fundamentais para a
espacialização dos índices de ocorrência da dengue. O conhecimento da dimensão espacial desta doença
oferece condições para a adoção de medidas efetivas para a erradicação do mosquito transmissor, uma vez
evidenciadas as áreas e a relação de quantificação dos casos da moléstia com os aspectos
socioeconômicos, culturais e naturais na análise do respectivo espaço geográfico. A combinação da
representação cartográfica de dados espaciais e informações obtidas através de observações in loco, são
indispensáveis para o estudo detalhado e eficaz deste grave problema de saúde pública.
A ocorrência de dengue atinge, indistintamente, todas as classes sociais, mas tem maior letalidade
nas classes menos favorecidas. Nesse sentido, as ferramentas do SIG, possibilitaram constatar que as áreas
mais densamente ocupadas, foram as que apresentaram os maiores números de casos associados à
deficiente infra-estrutura sanitária, de drenagem e de desenvolvimento socioeconômico. Ressalta-se que as
relações culturais e a vulnerabilidade ambiental das áreas indicam serem espaços prioritários de
intervenção e de precaução para a dengue, bem como para outras enfermidades.
A metodologia utilizada neste trabalho pode ajudar na prevenção e combate de outras epidemias,
através de estudo de vulnerabilidade social e de efeitos de impactos climáticos. É, fundamentalmente,
importante para a orientação de ações preventivas e/ou mitigadoras. Estudos dessa natureza permitem
estabelecer a dinâmica evolutiva espaço-temporal de epidemias.
Referências Bibliográficas
BARCELOS, C. & BASTOS, F.I. Geoprocessamento, ambiente e saúde, uma união possível? Cadernos
de Saúde Pública, 1996, v. 12:389-397.
BOLETIM INFORMATIVO - JAN /AGO 2008: Secretaria de gestão e promoção da Saúde de Caucaia.
BONFIM, Cristine; MEDEIROS, Zulman. Epidemiologia e Geografia: dos primórdios ao
geoprocessamento. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v. 10, n. 1, p. 53-62, dez. 2008.
BRANDÃO, Ricardo de Lima; et al. Diagnóstico Geoambiental e os principais problemas de
ocupação do meio físico da Região Metropolitana de Fortaleza. Fortaleza: CPRM, 1995.
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Guia de doenças (dengue). Brasília, 2000.
CARVALHO, Marília Sá; PINA, Maria de Fátima de; SANTOS, Simone Maria dos Santos (Orgss.).
Conceitos Básicos de Sistemas de Informação Geográfica e Cartografia Aplicados à Saúde. Brasília:
Organização Panamericana de Saúde / Ministério da Saúde, 2000.
COMPANHIA DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS – COGERH. Plano de Gerenciamento das
Águas das Bacias Metropolitanas. Fortaleza: COGERH, 1999.
DRUCK, S et al. Análise Espacial de Dados Geográficos. Brasília, EMBRAPA, 2004.
GUIA BRASILEIRO DE VIGILÂNCA EPIDEMIOLÓGICA. 5 ed. Ver. ampl. Brasília: Fundação
Nacional de Saúde, 1998.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo demográfico e
estatísticas. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/censo/divulgação.shtm> Acesso em: 12 set. 2008.
INSTITUTO DE PLANEJAMENTO DO CEARÁ – IPLANCE. Atlas do Ceará. Fortaleza: Edições
IPLANCE, 1997.
MARINHO, Rosane Leite F. - A História da Cartografia Mundial. Bahia: UESC, 2003.
MARTINELLI, Marcelo. Curso de Cartografia Temática. São Paulo; Contexto, 1991.
SECRETARIA DA SAÚDE DO CEARÁ, SESA-CE. Informe semanal Dengue 2008. Disponível em:
http://www.saude.ce.gov.br/internet/publicacoes/boletins/dengue/dengue_07_11_2008.pdf. Acesso em: 07
nov. 2008.
SOUZA, Marcos José Nogueira de. Contribuição ao estudo das unidades morfo-estruturais do Estado do
Ceará. Revista de Geologia, Fortaleza, v. 1, n. 1, jun/1988. p. 73-91.
VENTURI, Luis Antonio Bittar. O Papel da Técnica no Processo de Produção
Científica. In: ______ (Org.). Praticando a geografia: técnicas de campo e laboratório em geografia e
análise ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 005. p. 13-18.
VRANJAC, Alexandre. Informe Técnico: Dengue, Ceará: Secretaria de Saúde do Estado / Centro de
Vigilância Epidemiológica, 2005.
ZANELLA, Maria Elisa. As características climáticas e os recursos hídricos do Ceará. In: SILVA, et al
(Orgs.). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005. p. 169-188.
Download