Talvez seja verdade! - Faculdade Católica de Anápolis

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Talvez seja verdade!
Pe. Dr. Françoá Costa
14/08/2013
Discurso na Colação de Grau dos alunos da Faculdade Católica de Anápolis em representação de S.
Excia. Revma., Dom João Wilk, Bispo Diocesano de Anápolis e Presidente da Fundação S. Miguel
Arcanjo.
- Senhora Diretora Geral da Faculdade Católica de
Anápolis, Profa. Adriana Vilela;
- Senhores professores dessa Instituição, da qual tenho a
honra de pertencer;
- Estimados Administradores, Gestores e Teólogos;
- Senhores e Senhoras:
Um homem muito culto, um iluminista, um desses que só acreditam no que os
seus olhos podem ver e no que a sua razão pode alcançar, foi ao encontro de um Rabi
com certa fama. Quando o iluminista entrou na sala do Rabi, este, refletindo com um
livro na mão, o olhou sem muito interesse e lhe disse: “Mas talvez seja verdade”. Com a
visão firme do Rabi e a frase tão simples que acabara de pronunciar, o iluminista ficou
sem palavras e as suas pernas começaram a tremer. Então, nesse momento, o Rabi
aplicou toda a sua atenção ao seu interlocutor e lhe disse: “Meu filho, os grandes da
Torá, com os quais você discutiu, gastaram as suas palavram em vão, porque quando
você foi embora, riu-se deles. Eles não foram capazes de colocar Deus e o seu Reino na
mesa diante de você, nem eu posso fazer isso. Mas pense, meu filho, talvez seja
verdade”1.
Também encontro-me em situação semelhante diante de vocês: não serei capaz
de colocar Deus e o seu Reino na mesa, isto é, de maneira evidente, palpável,
racionalista. Mas pelo menos posso pedir-lhes simpatia no dia de hoje: vejo-os com
muita atenção, observo-os com os óculos do amor de Deus e desejo o melhor a cada um
de vocês no dia de hoje. Contudo, digo-lhes um segredo, o meu segredo... Dir-lhes-ei
em voz alta: Jesus Cristo vive, é nosso Salvador; o que motiva o nosso trabalho na
Faculdade Católica de Anápolis é o nosso amor a ele. Se você não acredita, conte com a
nossa total compreensão e, ao mesmo tempo, com essa proposta desafiadora: “hei você,
pense bem, talvez seja verdade”.
Nesse contexto, gostaria de lembrar-lhes a missão da Faculdade Católica de
Anápolis:
1
cf. Martin Buber, Werke III, Munique e Heildelberg, 1963, 348, em Joseph Ratzinger, Introdução ao
cristianismo. Tradução de Alfred J. Keller. São Paulo: Loyola, 2005,36.
“A FACULDADE CATÓLICA DE ANÁPOLIS, baseada no
princípio de fidelidade à verdade, ao bem e à beleza tais como têm sido
apreciados ao longo da tradição filosófica do Ocidente, possui a missão
de estudar, cultivar e difundir a FILOSOFIA PERENE, enquanto
disciplina do pensamento compatível com a fé católica e com os valores
humanos que sustentam a civilização sobre as bases do Direito natural e
das exigências da Caridade, proporcionando um ensino de excelência na
formação de profissionais competentes na compreensão e aplicação dos
princípios da filosofia perene”.
A nossa perspectiva é a filosofia perene, isto é, aquela maneira de pensar que,
por causa do vigor, realismo e expressividade, ganhou carta de aceitação durante os
séculos. No fundo, queremos ver a continuidade no pensar humano, aprender da história
da humanidade e, mais em concreto, da história do pensamento.
Nessa perspectiva, nos interessam especialmente duas realidades: o mundo e o
homem. E, nesse mesmo contexto de filosofia perene, gostaria de pensar um pouco com
vocês sobre a beleza, esse transcendental tão estudado pela metafísica. Motiva-me a isso
ver uma cerimônia tão bela como esta, um contexto tão harmônico como o que eu vejo
hoje e uma verdadeira sinfonia de corações patente no sorriso de cada um das senhoras
e dos senhores.
As pessoas desejam e aspiram à beleza. As considerações, os desejos e as ações
rumo à beleza acontecem na mesma ordem que é comum aos seres humanos em geral,
isto é, pelo que os sentidos externos captam. Busca-se primeiramente a beleza da
matéria, do corpo, porque são realidades que os olhos e o tato, neste caso, apreendem
mais rapidamente.
A beleza é certa junção entre a verdade e a bondade, ou seja, aquilo que agrada
ao ser contemplado: determinada realidade apreendida pela inteligência (verdade)
agrada à vontade (bem) deleitando-a2. A filosofia começou pela cosmologia, através da
pergunta pelo princípio de todas as coisas, até chegar à teologia natural, através da
descoberta de uma Inteligência ordenadora e sua demonstração racional. De maneira
semelhante, parece-me que as pessoas podem muito bem começar pela cosmética até
chegar às considerações mais elevadas. Dito de outra maneira: a preocupação pela
beleza não precisa ser desprezada, basta que seja canalizada.
2
“Pulchrum autem respicit vim cognoscitivam: pulchraenimdicuntur quae visa placenta. Undepulchrum
in debita proportioneconsistit: quia sensos delectatur in rebus debite proportionatis, sicut in sibisimilibus;
namet sensos ratioquaedam est, et omnis virtus cognoscitiva. Et quiacognitiofit per assimilationem,
similitudo autem respicit formam,, pulchrumpropriepertine ad rationem causae formalis” (S. Th. I, 5, 5,
ad 1).
A beleza é uma propriedade das coisas, das realidades; outra coisa é a captação
que temos da beleza. Pode acontecer que uma pessoa não esteja educada para captar
determinado tipo de beleza;há pessoas que não estão preparadas para captar
determinadas verdades. Em ambos os casos é preciso uma educação para a estética e
uma educação para a verdade. As vezes parece que a beleza é mera questão de
subjetividade, mas não se pensa que a subjetividade pode não estar preparada para
captar determinadas belezas.
Como o ponto mais alto da beleza mede-se com relação ao fim transcendente, é
preciso considerar, no caso do homem, a sua liberdade, através da qual ele pode ou não
alcançar o seu fim, que é a felicidade e, em definitiva, é Deus.
Concluindo, estamos convencidos de que um trabalho belo, uma conclusão bela,
uma colação de grau bela nos falam de Deus. Nós, os cristãos, amamos as coisas desse
mundo porque a nossa visão purificada e elevada pela fé nos ajuda a descobrir a
presença de Deus nas coisas mais aparentemente insignificantes do dia-a-dia. Agora
começará uma nova etapa da vida de vocês: os importantes estudos realizados até agora
se traduzirão nas mais variadas ações do cotidiano: talvez “insignificantes” para alguns;
mas, com certeza, cheias de significado quando realizadas na presença de Deus e com o
desejo de servir os demais. Em meio a tudo isso, aqueles que já acreditam em Jesus
Cristo pensem que ele é a Verdade e a beleza que dá sentido e estética a tudo o que você
faz; àqueles que não acreditam, eu diria que, pelo menos por amizade e simpatia pensem
frequentemente “talvez seja verdade”.
Parabéns – novos administradores, gestores e teólogos – pelo dia de hoje e que
Deus os abençoe!
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