MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 RELATÓRIO DO MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA DAS PCHS BOM JESUS DO GALHO E SUMIDOURO CEMIG GERAÇÃO E TRANSMISSÃO S.A. RELATÓRIO FINAL: 2010/2011 DATA DA COLETA: 03 de agosto/2010 e 25 de janeiro/2011 DATA DA EMISSÃO DO RELATÓRIO: 28 de março de 2011 N° DO CONTRATO: 4570012215/510 PATOS DE MINAS 2011 1 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 RESPONSABILIDADE TÉCNICA Água e Terra Planejamento Ambiental Ltda. Equipe Técnica Técnico Responsável pela elaboração do Relatório Bióloga – CRBio 44.468/4D Regina Célia Gonçalves Equipe técnica colaboradora Nome Formação Adriane Fernandes Ribeiro Bióloga Antônio Tomas França Biólogo MSc. em Ciências Naturais Biólogo MSc. Ecologia André Luiz Moraes de Castro Ellen Martins Camara Erika Fernandes Araújo Vita Bióloga Rubens Paiva de Melo Neto Biólogo Função Biometria / Análise gonadal / Elaboração de Relatório / Conteúdo estomacal Arraiz / Aquaviário Coletas / Biometria / Análise gonadal / Elaboração de Relatório / Conteúdo estomacal Coletas / Biometria / Análise gonadal / Elaboração de Relatório / Conteúdo estomacal Biometria / Análise gonadal / Elaboração de Relatório / Conteúdo estomacal Coletas / Elaboração de Relatório ENDEREÇO: Av. Padre Almir Neves de Medeiros, 650 - Sobradinho Patos de Minas - MG. 38701-118 (034)3818-8440 / 9975-5014 / 9975-1280 2 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 ÍNDICE APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................... 4 1 CARACTERIZAÇÕES DO EMPREENDIMENTO .......................................................................... 5 2 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 6 2.1 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................................. 7 3 OBJETIVOS .................................................................................................................................... 8 3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................................. 8 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................... 8 4 METODOLOGIA ............................................................................................................................. 9 4.1 COLETA DE PEIXES, EQUIPAMENTOS, IDENTIFICAÇÃO E ACONDICIONAMENTO ...... 9 4.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE REPRODUTIVA ..................................................................... 12 4.3 COLETA DE OVOS E LARVAS ............................................................................................ 13 4.4 DIETA .................................................................................................................................... 14 4.5 COLETA DE MATERIAL GENÉTICO ................................................................................... 15 4.6 ÍNDICE DE SIMILARIDADE (IS) ........................................................................................... 15 4.7 ESTIMATIVA DA DIVERSIDADE ICTIOFAUNÍSTICA (H’) ................................................... 15 4.8 EQUITABILIDADE (E) ........................................................................................................... 16 4.9 RIQUEZA DE ESPÉCIES (D) ............................................................................................... 16 4.10 AVALIAÇÃO DA PESCA PROFISSIONAL E AMADORA NO RESERVATÓRIO ............ 17 5 RESULTADOS ............................................................................................................................. 18 5.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS COLETAS ......................................................................... 18 5.2 COMPOSIÇÃO ICTIOFAUNÍSTICA ...................................................................................... 21 5.3 AUTOECOLOGIA DAS ESPÉCIES AMOSTRADAS ............................................................ 25 5.4 ABUNDÂNCIA ....................................................................................................................... 27 5.5 DIVERSIDADE E EQUITABILIDADE .................................................................................... 30 5.6 SIMILARIDADE ..................................................................................................................... 31 5.7 RIQUEZA DE ESPÉCIES ..................................................................................................... 32 5.8 BIOMETRIA ........................................................................................................................... 32 5.9 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE REPRODUTIVA ..................................................................... 35 5.10 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ALIMENTAR ...................................................................... 41 5.11 ÍNDICE PONDRAL DE DOMINÂNCIA (IP) ....................................................................... 43 5.12 ANÁLISE DE OVOS E LARVAS ....................................................................................... 43 5.13 PESCA PROFISSIONAL ................................................................................................... 44 6 DISCUSSÃO ................................................................................................................................. 45 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................... 48 8 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................. 50 9 ANEXOS ....................................................................................................................................... 55 3 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 APRESENTAÇÃO O presente relatório reporta os resultados obtidos na campanha de amostragem realizada no mês de janeiro/2011, bem como aqueles encontrados em agosto/2010, consolidando o monitoramento realizado em 2010/2011, pela equipe técnica da Água e Terra Planejamento Ambiental Ltda, para o Monitoramento da Ictiofauna das PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho, empreendimento da CEMIG Geração e Transmissão S.A., conforme contrato n° 4570012215/510. 4 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 1 CARACTERIZAÇÕES DO EMPREENDIMENTO Empreendedor: CEMIG GERAÇÃO E TRANSMISSÃO S.A. CNPJ: 06.981.176/0001-58 Gerência de Manutenção de Ativo de Geração do Leste – MG/LE Endereço: Avenida Carlos Chagas, 674 Bairro Cidade Nobre – Ipatinga / MG CEP: 35.162-359 Empreendimento: Pequenas Centrais Hidrelétricas Sumidouro e Bom Jesus do Galho, localizadas no Ribeirão Sacramento, pertencentes à bacia hidrográfica do rio Doce, município de Bom Jesus do Galho / MG Empresa Elaboradora: Água e Terra Planejamento Ambiental Avenida Padre Almir Neves de Medeiros, 650 Bairro: Sobradinho – Patos de Minas / MG CEP: 38.701-118 – Tel./Fax: (34) 3818-8440 Contato: Biólogas Regina Célia Gonçalves e Adriane Fernandes Ribeiro. 5 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 2 INTRODUÇÃO O desenvolvimento econômico e social exige cada vez mais uma maior produção de energia. No Brasil hoje, a geração de energia elétrica a partir de usinas hidrelétricas responde por 75% da capacidade instalada (ANEEL, 2008). A existência de grandes rios, a geografia do território brasileiro e os índices pluviométricos registrados em determinadas regiões do país justificam a opção por essa matriz de geração. Outro fator que deve ser levado em conta é que a energia gerada nas centrais hidrelétricas pode ser considerada limpa, isto é, no processo de geração não são emitidos agentes poluidores nos corpos hídricos e na atmosfera. Entretanto, uma análise mais cuidadosa mostra que essa forma de geração envolve um impacto profundo no meio ambiente natural em que é inserida. Esse impacto engloba fauna, flora e o homem, assim como suas interações (MACHADO JUNIOR, 2010). A transformação de um ambiente lótico em lêntico, quando do fechamento de uma barragem, provoca grandes modificações abióticas, que irão consequentemente gerar distúrbio nas comunidades aquáticas. Isto porque a ocorrência e sobrevivência das populações em um determinado biótipo estão condicionadas a um conjunto de fatores interrelacionados, tais como as condições físicas, químicas e biológicas da água, e disponibilidade de relações inter e intraespecíficas (PETRERE JR., 1996). Portanto, a construção de um reservatório provoca desequilíbrios na estrutura das comunidades, determinando, o desaparecimento ou proliferação de espécies e a instalação de organismos invasores de tal forma que algumas espécies, que ocorrem naturalmente em rios, são eliminadas ou reduzidas em sua abundância, enquanto outras encontram no novo ambiente, um habitat favorável e tornam-se abundantes (ROLLA, 1992). Outro aspecto bem definido nos represamentos é a interrupção dos ciclos migratórios alimentares e reprodutivos de algumas espécies de peixes reofílicas de alto valor comercial e a presença de uma ictiofauna menos complexa que dos seus rios formadores. Existe um predomínio de espécies de pequeno porte, já presentes na fase rio (nativas), que conseguiram suportar tais impactos e, portanto, são pré-adaptadas às novas condições lacustres (CASTRO & ARCIFA, 1987; LOWE-McCONNELL, 1987; FERNANDO & HOLCIK, 1991; WOYNAROVICH, 1991; PETRERE JR., 1996). O monitoramento da ictiofauna torna-se essencial para identificar as respostas do ambiente impactado e fornecer diretrizes que possam regulamentar o uso dos recursos hídricos, possibilitando o desenvolvimento de alternativas para minimizar impactos negativos. 6 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Desta forma, a obtenção de informações básicas como composição, riqueza, diversidade e abundância da ictiofauna de reservatórios, bem como a detecção dos fatores determinantes destes parâmetros é fundamental para o conhecimento adequado das populações de peixes aí residentes e, consequentemente, o desenvolvimento de políticas e ações de restauração e conservação da ictiofauna local. 2.1 ÁREA DE ESTUDO A Bacia Hidrográfica do rio Doce possui 83.400 km2, dos quais 86% em Minas Gerais e 14% no Espírito Santo, sendo 222 municípios. No Médio rio Doce, que vai do rio Piracicaba até o rio Manhuaçú na cidade de Aimorés, é uma região diversificada de atividades econômicas, prevalecendo as grandes indústrias no vale do aço e as atividades agropecuárias. É o trecho mais degradado e crítico da Bacia, existindo estudos que apontam ser uma região em acelerado processo de desertificação devido à rápida retirada de suas matas, grandes monoculturas de eucaliptos e grandes áreas de pastagens, assim como a má utilização do solo e o rápido aparecimento das erosões, que assoream o leito do rio, lixos e esgotos industriais e domésticos. Nessa região do Rio Doce está localizado o Ribeirão Sacramento onde se encontram instaladas as PCHs Sumidouro Bom Jesus do Galho, no município de Bom Jesus do Galho (MG). A PCH Sumidouro é uma usina do tipo fio d’água que se encontra em operação desde o ano de 1956. Possui potência instalada correspondente a 2,12 MW e conta com uma única unidade geradora. Já a PCH Bom Jesus do Galho iniciou sua operação no ano de 1931 e apresenta potência instalada de 0,360 MW, contando com uma unidade geradora. É uma usina tipo fio d’água que está fora de funcionamento desde o ano de 2002. 7 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 3 3.1 OBJETIVOS OBJETIVO GERAL O Monitoramento da Ictiofauna das PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho tem como objetivo o conhecimento das características ecológicas, reprodutivas e alimentares de sua ictiofauna, bem como, informações que subsidiarão subsequentes programas de conservação e manejo da fauna ictica. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliação da diversidade, riqueza e abundância das espécies de peixes que ocorrem na área de influência indireta do empreendimento, bem assim suas variações sazonais; Avaliação da reprodução dos peixes na área de influência do empreendimento através de análise da maturação gonadal e amostragem de ictioplâncton, buscandose uma caracterização sazonal da reprodução das espécies com caracterização de eventuais sítios reprodutivos; Avaliação dos hábitos alimentares (ecologia trófica) das principais espécies existentes na área de influência indireta do empreendimento; Coleta de material para análises genéticas a serem realizadas com as principais espécies existentes na área de influência da usina, assim como para armazenamento em banco genético da CEMIG Geração e Transmissão Diagnóstico das atividades de pesca amadora e profissional no reservatório; Conjugar os dados da ictiofauna com os de qualidade da água, avaliando-se os impactos do lançamento de esgotos da cidade de Caratinga, sobre a ictiofauna; Avaliar a queda d’água existente a montante da casa de força; Formulação de um banco de dados ictiológicos dos reservatórios da CEMIG; Indicações de sugestões de manejo e conservação da ictiofauna para cada reservatório, com propostas mitigadoras de eventuais impactos. 8 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 4 4.1 COLETA DE METODOLOGIA PEIXES, EQUIPAMENTOS, IDENTIFICAÇÃO E ACONDICIONAMENTO Nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho foram realizadas amostragens semestrais. A primeira campanha foi efetuada no dia 03 de agosto/2010, enquanto que a segunda foi executada no dia 25 de janeiro/2011. Por se encontrarem muito próximas, o monitoramento das PCHs foi realizado de forma integrada, sendo monitorados 03 (três) pontos, conforme disposto na Tabela 1. Tabela 1: Localização dos Pontos de amostragem Identificação do Ponto Localização BJ – IC 01 Corpo do reservatório de Bom Jesus do Galho SU – IC 02 Corpo do reservatório de Sumidouro SU – IC 03 Rio Sacramento na sua jusante do canal de fuga para a PCH Sumidouro Localização geodésica 19°49'24.26"S 42°19'9.97"O 19°48'5.00"S 42°18'7.16"O 19°47'50.63"S 42°18'9.60"O Cada uma destas estações de amostragem é visualizada nas fotos e figura a seguir. Foto 1: BJ-IC-01 – Reservatório Bom Jesus do Galho (agosto/2010). Foto 2:BJ-IC-01 – Reservatório Bom Jesus do Galho (janeiro/2011). 9 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Foto 3: SU-IC-02 – Reservatório Sumidouro (agosto/2010). Foto 4: SU-IC-02 – Reservatório Sumidouro (janeiro/2011). Foto 5: SU-IC-03 – Rio Sacramento (agosto/2010). Foto 6: SU-IC-03 – Rio Sacramento (janeiro/2011). 10 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Figura 1: Localização das estações de amostragem. 11 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Devido ao tamanho reduzido desses reservatórios, foram efetuadas apenas coletas qualitativas, utilizando-se: Rede de arrasto de tela mosquiteira abertura de 2,0 mm; Puçás e peneiras; Espinheis; Tarrafas com malha 2,4 cm. Em cada ponto, com puçás/peneiras, o esforço foi de, no mínimo, uma hora/homem, utilizando-se duas pessoas; para os espinheis, foram utilizados pelo menos 25 anzóis em 50 metros de linha; para as tarrafas, pelo menos 15 tarrafadas na região em torno do ponto. Nesse reservatório, como não houve coletas quantitativas, o esforço quantitativo foi padronizado conforme especificado acima, para que fosse possível comparar as abundâncias de peixes em cada campanha. Todos os peixes capturados foram identificados, medidos, pesados e quantificados. Em campo, os exemplares foram fixados em formol 10% (por no mínimo 72 horas) e acondicionados em sacos plásticos etiquetados, separados por ponto de coleta e malha e colocados em bombonas tampadas. Em laboratório, os peixes foram lavados, triados, conservados em solução de álcool etílico a 70° GL e identificados taxonômicamente. 4.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE REPRODUTIVA Para a avaliação da atividade reprodutiva, em campo, os peixes foram submetidos à incisão ventral para determinação do sexo e do diagnóstico macroscópico de maturação gonadal. Para os diagnósticos duvidosos, foram coletados fragmentos de uma das gônadas, os quais serão fixados em líquido de Bouin e conservados em álcool 700 GL após 24 horas para posterior processamento histológico. Foi realizado registros fotográficos com todos os estádios de maturação encontrados para as principais espécies. A análise macroscópica foi baseada, principalmente, no volume relativo da gônada na cavidade abdominal, integridade da rede sanguínea (machos e fêmeas), presença e tamanho dos diversos tipos de ovócitos (ovócitos I, II, III e IV) e integridade das lamelas 12 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 ovarianas (fêmeas). Para esta análise foram considerados os seguintes estádios de maturação, seguindo-se as características propostas por Vono et. al. (2002), com algumas adaptações: Repouso – 1: ovários delgados e íntegros, translúcidos, sem ovócitos visíveis a olho nu; testículos delgados e íntegros, predominantemente hialinos. Maturação inicial – 2A: ovários com discreto aumento de volume e poucos ovócitos vitelogênicos (ovócitos II, III e IV) evidentes; testículos com discreto aumento de volume e com aparência leitosa. Maturação intermediária – 2B: ovários com maior aumento de volume, grande número de ovócitos IV evidentes, porém, ainda com áreas a serem preenchidas; testículos com maior aumento de volume, leitosos. Maturação avançada – 2C: ovários com aumento máximo de volume, ovócitos vitelogênicos distribuídos uniformemente; testículos com aumento máximo de volume, túrgidos, leitosos. Esgotado (desovado ou espermiado) – 3: ovários flácidos e sanguinolentos, com número variável de ovócitos vitelogênicos remanescentes; testículos flácidos e sanguinolentos. Antes da transferência dos peixes para o álcool 70º GL, as gônadas foram pesadas para avaliação do índice gonadossomático, calculado pela seguinte fórmula: IGS = PG / PC x 100 Onde PG = peso da gônada PC = peso corporal 4.3 COLETA DE OVOS E LARVAS Nos pontos de amostragem, foram feitas coletas ativas de ovos e larvas. A coleta foi realizada através de rede de plâncton de malha de 0,5 mm. Foi instalado um fluxômetro no centro da boca da rede para medir a velocidade e pelo conhecimento da área da boca temse o volume filtrado. A rede foi colocada 50 cm abaixo da superfície da água, permanecendo por aproximadamente 30 minutos. Elas foram armadas ao amanhecer e ao entardecer, de 13 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 preferência poucos dias após chuvas fortes. Em locais onde não há correnteza, a rede foi usada na forma de arrasto, manual ou com auxílio de barco, sempre próximo da margem. O material coletado foi fixado em solução de formalina a 4%, tamponada com carbonato de cálcio (1 g de CaCO3 para 1000 mL de solução de formalina, segundo proposto por NAKATANI et al, 2001) e levado ao laboratório para identificação e quantificação. No entanto, no presente monitoramento não foram capturados ovos e/ou larvas e, por esse motivo, não apresentamos informações relacionadas ao cálculo das densidades. 4.4 DIETA Após fixação em formalina a 10% por cerca de cinco dias e conservação em álcool 70º GL, os peixes foram eviscerados para dissecção dos estômagos. O conteúdo estomacal foi analisado em estereomicroscópio e microscópio óptico. Os itens alimentares foram identificados até o menor nível taxonômico possível. Para cada item foram calculados a frequência de ocorrência (Fi = nº de estômagos em que ocorre o item i / total de estômagos com alimento) e seu peso relativo (Pi = peso do item i / peso total de todos os itens), combinados no Índice Alimentar (IAi) modificado de KAWAKAMI & VAZZOLER(1980): N IAi = (Fi. Pi) / Σ Fi. Pi I=1 Onde: IAi = índice alimentar do item i, Fi = frequência de ocorrência do item i, Pi = peso proporcional do item i. O IAi foi calculado para cada espécie separadamente, e então usado para calcular a similaridade entre as espécies utilizando um índice quantitativo (ex. Morisita-Horn). A matriz de similaridade foi utilizada para a caracterização de guildas tróficas, utilizando uma análise de agrupamento pelo método de ponderadas dos grupos (UPGMA). O coeficiente cofenético deve ser superior a 0,8. As abundâncias em número e biomassa das guildas foram estimadas com base na captura por unidade de esforço (CPUE), expressas em suas respectivas frequências de ocorrência. 14 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 4.5 COLETA DE MATERIAL GENÉTICO Estava prevista a coleta de tecidos (fragmentos de nadadeiras, fígado ou tecido muscular) de espécies de interesse, por serem migradoras, ameaçadas de extinção ou exóticas. Como o empreendimento está localizado na bacia do rio Doce, foram destacadas as seguintes espécies-alvo: Leporinus copelandii (piau vermelho); Leporinus conirostris (piau branco); Prochilodus vimboides (curimatá); Steindachneridion doceanum (surubim-do-doce). Como no período de amostragem não foram capturados nenhum indivíduo pertencente a estas espécies, a coleta de material genético não foi realizada. 4.6 ÍNDICE DE SIMILARIDADE (IS) As composições das comunidades dos diferentes pontos de coletas foram comparadas através do Índice de Similaridade de Sorensen (MAGURRAM, 1988) utilizando a fórmula: IS = 2j/(a+b) Onde: IS = índice de similaridade; j = número de espécies em comum; a + b = número de espécies em dois pontos. 4.7 ESTIMATIVA DA DIVERSIDADE ICTIOFAUNÍSTICA (H’) Para o cálculo da diversidade de espécies foram empregados os dados quantitativos obtidos através das capturas com redes de emalhar (CPUE). Foi utilizado o índice de diversidade de Shannon (MAGURRAN, 1988), descrito pela equação: S 15 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 H' = - ∑ (pi) x (logn pi), i=1 Onde: S = número total de espécies na amostra; i = espécie 1, 2, 3 ...i na amostra; pi = proporção do número de indivíduos da espécie i na amostra, através da CPUE em número. 4.8 EQUITABILIDADE (E) A equitabilidade (E) de distribuição das capturas pelas espécies, estimada para cada período de captura foi calculada através da equação de Pielou (1975). E = H’ / log N Onde: H’ = Índice de Diversidade de Shannon; N = número de espécies. 4.9 RIQUEZA DE ESPÉCIES (D) A riqueza de espécies (D) foi estimada segundo Odum (1985). D = (S-1)/logN Onde: S = número de espécies; N = número de indivíduos. 4.10 ÍNDICE DE IMPORTÂNCIA PONDERAL - IP O Índice Ponderal (IP) é aqui utilizado para estabelecer as espécies de maior representatividade durante o período amostral considerado. Visto tratar-se de um índice que associa a abundância numérica à biomassa específica, nem sempre as espécies mais numerosas são classificadas como as mais importantes. O IP segue o seguinte modelo: 16 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 IP= NiPi/ΣNiPi x 100 Onde, Ni = número de exemplares da espécie i; Pi = peso dos exemplares da espécie. 4.11 AVALIAÇÃO DA PESCA PROFISSIONAL E AMADORA NO RESERVATÓRIO Esta avaliação teve como objetivo verificar a existência de qualquer atividade de pesca profissional e amadora nos reservatórios, através de inspeções de campo e visitas à órgãos envolvidos. Foram desenvolvidas as seguintes atividades: Inspeções no lago e no entorno do reservatório visando à identificação de atividade de pesca profissional como: presença de embarcações, concentração de pescadores e locais de comercialização do pescado; Obtenção de dados desta atividade junto ao IEF e Polícia Ambiental. Avaliação do desembarque pesqueiro proveniente da atividade de pesca profissional e amadora no reservatório através da aplicação de questionários estruturados; Obtenção de dados de atividades ligadas à piscicultura na área de influência das usinas junto ao IEF e avaliação do risco de introdução de espécies exóticas a partir destas atividades. 4.12 TOMBAMENTO DO MATERIAL COLETADO O material coletado foi enviado para o MUZUP, estando aos cuidados de André Luiz Netto-Ferreira. 17 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 5 5.1 RESULTADOS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS COLETAS Conforme mencionado anteriormente, a primeira campanha foi realizada no dia 03 de agosto/2010, enquanto que a segunda amostragem foi efetuada no dia 25 de janeiro/2011. As condições gerais observadas no momento das coletas estão representadas na Tabela 2. É importante ressaltar que nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho realiza-se apenas amostragem qualitativa. Essas coletas foram executadas com peneiras, redes de arrasto e anzóis, conforme observado na foto a seguir. No entanto, em ambas as campanhas foi evidenciado sucesso de captura apenas para a peneira e tarrafa. Foto 7: Amostra qualitativa, coleta com peneira. Foto 8: Amostra qualitativa, coleta com tarrafa 18 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Tabela 2: Caracterização dos pontos de amostragem durante cada campanha (continua). Localidade Tipo de ambiente Tipo de Corrente Tipo de fundo Inclinação da margem Agosto/2010 Vegetação seca/submersa Vegetação marginal Mata ciliar Condições do tempo Observações BJ-IC-01 Lêntico Imperceptível Silte, lodo Suave Submersa Presente (Gramíneas) Presente Ensolarado Água corrente, com muito material em suspensão. Ponto localizado dentro da cidade, sendo todo o esgoto despejado nessas águas. Presença de animais mortos. A quantidade de lixos e desejos dificultou a realização da coleta. A PCH Bom Jesus do Galho encontra-se parada. SU-IC-02 Lêntico Imperceptível Lodo Suave Submersa Presente (Gramíneas) Ausente Ensolarado Apresenta poucos locais para realização das amostragens. SU-IC-03 Lótico Forte Pedra/areia Suave Submersa Ausente Presente Ensolarado Localizado a jusante da casa de força. 19 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Tabela 2: Caracterização dos pontos de amostragem durante cada campanha (continuação). Localidade Tipo de ambiente Tipo de Corrente Tipo de fundo Inclinação da margem Janeiro/2011 Vegetação seca/submersa Vegetação marginal Mata ciliar Condições do tempo BJ-IC-01 Lêntico Imperceptível Silte, lodo Suave Submersa Presente (Gramíneas) Presente Ensolarado SU-IC-02 Lêntico Imperceptível Lodo Suave Submersa Presente (Gramíneas) Ausente Ensolarado SU-IC-03 Lótico Forte Pedra/areia Suave Submersa Ausente Presente Nublado Observações Corpo do reservatório de Bom Jesus do Galho, local próximo ao barramento, com profundidade variando de 1,0 a 3,0 m. Apresenta leito argiloso, água parda e parada. Mata ciliar antropizada. Presença de pesca amadora, além de lançamento de esgoto e uma grande quantidade de lixo. Local de difícil acesso. A PCH encontrava-se parada. Corpo do reservatório da PCH Sumidouro, localizado próximo ao barramento, com profundidade variando de 2,0 a 3,5 m. Apresenta leito argiloso e rochoso, água parda e parada. Mata ciliar preservada e resquícios de animais silvestres. Possui poucos locais para realização das amostragens. Localizado logo abaixo da casa de força, com profundidade variando de 0,5 a 1,5 m. Apresenta leito rochoso e argiloso, água turva e com forte correnteza. Mata ciliar preservada e resquícios de animais silvestres. 20 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 5.2 COMPOSIÇÃO ICTIOFAUNÍSTICA Durante o monitoramento realizado no período de 2010/2011, foram capturados 21 (vinte e um) indivíduos, pertencentes a 03 (três) ordens (Characiformes, Siluriformes e Cyprinodontiformes), e distribuídos em 05 (cinco) famílias e 07 (sete) espécies distintas. Em agosto/2010, foram amostrados 12 (doze) indivíduos nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho, agrupados nas ordens Cyprinodontiformes e Siluriformes e distribuídos em 03 (três) famílias e 04 (quatro) espécies. Já na campanha de janeiro/2011, foram coletados apenas 09 (nove) exemplares, pertencentes a 02 (duas) ordens (Characiformes e Siluriformes), distribuídos em 03 (três) famílias e 03 (três) espécies distintas. Resultados similares foram evidenciados durante monitoramento realizados em 2009/2010, visto que neste período foram capturados apenas 29 (vinte e nove) indivíduos agrupados em 03 (três) ordens, 05 (cinco) famílias e 05 (cinco) espécies (PRB AMBIENTAL, 2010). A reduzida quantidade de indivíduos e diversidade de espécies pode estar relacionada com as condições físicas dos ambientes onde as coletas foram realizadas, visto que estas águas apresentam-se bastante poluídas, inclusive com lançamentos de despejos do município de Bom Jesus do Galho. Outro fato importante refere-se à grande quantidade de resíduos espalhados por essas águas, conforme visualizado na Foto 9, a seguir. Foto 9: Resíduos acumulados na superfície da água. A distribuição das espécies por ponto de amostragem encontra-se representada na Tabela 3, a seguir. 21 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Tabela 3: Composição ictiofaunística nos pontos de amostragem. ORDEM CHARACIFORMES SILURIFORMES CYPRINODONTIFORMES 1 FAMÍLIA ESPÉCIE1 Characidae Astyanax sp.1 NOME COMUM CATEGORIA lambari nativa Ago./2010 Jan./2011 COMPORTAMENTO MIGRADOR BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 Não 7 Crenuchidae Characidium sp1 canivete nativa Sim Trichomycteridae Trichomycterus sp.2 bagrinho - Não 1 5 Loricariidae Poeciliidae 1 Neoplecostomus sp. cascudinho nativa Não Neoplecostomus spp. cascudinho - Não Poecilia reticulata guppy exótica Não 1 2 Poecilia vivipara guarú exótica Não 1 2 1 N° de espécies 0 2 4 0 0 3 N° de indivíduos 0 2 10 0 0 9 Material encaminhado para os seguintes especialistas, para confirmação da identificação: André Luiz Netto-Ferreira, Flávio César Thadeo de Lima, Marcelo Ribeiro de Britto, Maria Anais Barbosa Segadas Vianna e Paulo Andreas Buckup. Tão logo a identificação seja confirmada, será emitido um informativo complementar ao presente relatório. 22 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Conforme observado na tabela anterior, em agosto/2010, não foi capturado nenhum indivíduo no ponto BJ-IC-01. Por outro lado, o ponto SU-IC-03 apresentou a maior quantidade de indivíduos, com 10 (dez) exemplares capturados, enquanto que no SU-IC-02 foram amostrados apenas 02 (dois) indivíduos. O ponto SU-IC-03 também apresentou a maior diversidade de espécies, com 04 (quatro) espécies distintas. Na coleta realizada em janeiro/2011, nos pontos BJ-IC-01 e SU-IC-02 não foram amostrados nenhum indivíduo. Já na estação SU-IC-03 foram coletados 09 (nove) exemplares, pertencentes a 03 (três) espécies distintas. Em ambas as amostragens, nenhuma das espécies capturadas foi comum a todos os pontos. As fotos a seguir referem-se a algumas espécies amostradas neste monitoramento. Foto 10: Trichomycterus sp.2 Foto 11: Poecilia reticulata Foto 12: Characidium sp.1 Foto 13: Astyanax sp.1 23 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Foto 14: Poecilia vivipara Foto 15: Neoplecostomus sp. Foto 16: Neoplecostomus spp. Na tabela a seguir é apresentada a abundância relativa de cada uma das espécies em, cada uma das amostragens realizadas. Conforme mencionado anteriormente, nos pontos BJ-IC-01, em ambas as campanhas, e no SU-IC-02, em janeiro/2011, não foi capturado nenhum indivíduo. Conforme observado, em ambas as amostragens, o ponto SU-IC-03 apresentou a maior abundância relativa. Tabela 4: Abundância relativa BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 Espécie Nome comum Astyanax sp.1 lambari 0,78 Characidium sp1 canivete 0,11 Trichomycterus sp.2 bagrinho 0,10 Neoplecostomus sp. cascudinho 0,50 Neoplecostomus spp. cascudinho Poecilia reticulata guppy Poecilia vivipara guarú Total Abundância relativa do ponto, por amostragem Ago./10 Jan./11 Ago./10 Jan./11 Ago./10 Jan./11 0,11 0,50 0,20 0,50 0,20 0,00 0,00 1,00 0,00 1,00 1,00 0,00 0,00 0,16 0,00 0,84 1,0 24 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 5.3 AUTOECOLOGIA DAS ESPÉCIES AMOSTRADAS As preferências ecológicas, dieta e comportamento das espécies (e/ou gêneros) encontradas durante o levantamento de campo estão descritas a seguir. Astyanax Os lambaris do gênero Astyanax caracterizam por serem onívoros pertencentes à subfamília Tetragonopterínae que vem a ser a subfamília de maior número de espécies dentro da família Characidae. Formam um grupo bem diversificado de mais de 75 espécies e subespécies e um dos mais complexos gêneros de Characiformes. Esse gênero é considerado o maior entre os peixes tropicais de água doce (LOWE-McCONNELL, 1999). Apresenta ampla distribuição geográfica, fazendo-se presente em diversos cursos d’água na América do Sul. Characidium Os Crenuchidae (Characiformes) são peixes relativamente pequenos (menores que 10 cm de comprimento padrão), são diagnosticados pela presença de pares de forames localizados no osso frontal, posteriormente à órbita e são facilmente distinguidos de outros Characiformes pelo número reduzido de raios da nadadeira anal (menos que 14 raios) (BUCKUP, 2003). Os exemplares de Characidium são diferenciados dos demais Crenuchidae apenas pela presença da mancha mediana escura próxima à base da nadadeira caudal (BUCKUP, 1991). Esse gênero é distribuído em muitas drenagens de água doce desde o oeste do Panamá até a Argentina, sendo que muitas espécies adicionais de algumas áreas da América do Sul restam por serem descritas, e o número de espécies no gênero deve crescer significativamente (BUCKUP & REIS, 1997). Habitam tanto em águas correntes como em águas mais paradas, o fundo pode ser de areia, troncos, seixos rolados. O formato de seus corpos facilita suas vidas em águas mais movimentadas, eles inclusive usam as nadadeiras para “escalar” troncos e rochas, o que os ajuda a chegarem a locais que normalmente outros peixes não conseguiriam isso porque as nadadeiras peitorais e pélvicas são bastante largas, proporcionando uma grande área para fixação do peixe ao substrato. Na natureza se alimentam principalmente de insetos e suas larvas. Os machos costumam serem menores, mais finos, mais coloridos e apresentar marcas mais escuras 25 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 nas nadadeiras. Além disso, possuem pequenos ganchos nas nadadeiras pélvicas, que são utilizados durante a reprodução. Vivem a maior parte do tempo junto ao substrato e são extremamente curiosos (SEKAISCAPING, 2010). Neoplecostomus O gênero Neoplecostomus está composto por sete espécies distribuídas em rios e riachos do sudeste do Brasil (REIS et al., 2003; BUCKUP et al., 2007). É um gênero ainda pouco conhecido, sendo os estudos sobre esse grupo bastante restritos. Poecilia reticulata O barrigudinho, guppy ou lebiste são originários da América do Sul e Central, mais precisamente de estuários localizados em Barbados, Trinidad Tobago, Venezuela, Guianas e porção norte do Brasil. Conhecidos também por peixe arco-íris, barrigudinho, bandeirinha, sarapintado e guppy encontram-se hoje espalhados por todo o mundo. Pertence à família dos Poecilidae (Poecilídeos) da qual também fazem parte Molinésias, Platys e Espadas. Foi descoberto pelo Europeu Wilhelm C.H. Peters, em 1805, que deu nome científico de Poecilia reticulata. O guppies são omnívoros, e aceitam muito bem uma grande variedade de comidas (O GUPPY, 2004). As fêmeas desta espécie não depositam ovos, mas sim dão à luz filhotes prontos. São classificados então como peixes ovovivíparos. Os machos diferenciam-se das fêmeas pela cauda, que é bem maior, pela coloração mais intensa e pela presença do gonopódio, uma estrutura semelhante a um pequeno tubo localizada na região ventral. Já as fêmeas apresentam uma mancha na parte ventral, próxima a cauda, que se torna mais escura quando os ovos começam a se desenvolver. Quando os filhotes estão a ponto de nascer esta mancha torna-se mais “baixa”, a fêmea apresenta-se muito barriguda e com a respiração ofegante. Não apresenta cuidado parental, ou seja, os pais não cuidam dos filhotes após o nascimento. Além disso, a permanência dos pequenos alevinos junto com exemplares adultos, inclusive a própria mãe, pode ser desastrosa, já que tendem a ser devorados (O GUPPY, 2004). Poecilia vivipara Poecilia é um gênero de peixes de água doce pertencente à família Poeciliidae, ordem dos Cyprinodontiformes. A espécie Poecilia vivipara apresenta corpo alongado, comprimido posteriormente, sendo os machos geralmente menores do que as fêmeas. Os 26 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 machos possuem o terceiro, o quarto e/ou quinto raio da nadadeira anal prolongado, formando o gonopódio, ou seja, o órgão copulador da espécie (MENDONÇA & ANDREATA, 2001). Segundo Vazzoler (1996), os poecilídeos possuem ciclo reprodutivo de carregador interno obrigatório, e desta forma, a fecundação é sempre interna e as fêmeas carregam os embriões e/ou jovens. Trichomycterus Este gênero apresenta áreas de distribuição bastante restritas, sendo endêmicas de uma determinada cabeceira. É conhecido popularmente como bagrinho ou candiru. No entanto, poucos estudos foram realizados em relação a este grupo, sendo as informações encontradas bastante restritas (BRITO et al., 2003). 5.4 ABUNDÂNCIA De acordo com Lowe-McConnell (1999), a dominância de Ostariophysi é comum em rios neotropicais. A superordem Ostariophysi é composta pelas seguintes ordens: Characiformes, Siluriformes, Gymnotiformes, Cyprinoformes e Gonorynchiformes. Esse fato foi evidenciado nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho apenas em janeiro/2011, quando foram capturados indivíduos pertencentes apenas a esse grupo. Em agosto/2010, verificou-se a mesma proporção de Siluriformes e Cyprinodontiformes. Em relação à abundância das ordens, em agosto/2010, os Cyprinodontiformes e Siluriformes apresentaram a mesma quantidade de indivíduos amostrados, correspondendo a 06 (seis) exemplares cada. Já na presente campanha, os Characiformes foram mais abundantes, com 08 (oito) exemplares amostrados (88,9% do total capturado). No Gráfico 1, a seguir, é apresentada a abundância das ordens em cada uma das campanhas efetuadas. 27 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 9 8 Nº de indivíduos 7 6 CHARACIFORMES 5 4 SILURIFORMES 3 2 CYPRINODONTIFORMES 1 0 Ago./2010 Jan./2011 Campanhas de amostragem Gráfico 1: Abundância absoluta das ordens de peixes capturados. Conforme observado no gráfico a seguir, em agosto/2010, a família Poecilidae foi predominante, com 06 (seis) indivíduos capturados (50% do total), representada exclusivamente pelas espécies Poecilia reticulata e Poecilia vivipara. Já na presente amostragem, a família Characidae foi a mais abundante, apresentando 07 (sete) exemplares, ou seja, 88,9% do total capturado. 8 n de indivíduos 7 6 Characidae 5 Crenuchidae 4 Trichomycteridae 3 2 Loricariidae 1 Poeciliidae 0 Ago./2010 Jan./2011 Campanhas de amostragem Gráfico 2: Abundância relativa das famílias de peixes capturados. 28 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Em relação à abundância relativa e absoluta de cada uma das espécies capturadas, os resultados obtidos estão representados na Tabela 5. Tabela 5: Abundância absoluta e relativa das espécies amostradas nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho. NOME COMUM ESPÉCIE Ago./2010 Jan./2011 Abundância Abundância Abundância Abundância absoluta relativa absoluta relativa 7 0,778 Astyanax sp.1 lambari Characidium sp1 Trichomycterus sp. 1 canivete - - 1 0,111 bagrinho 1 0,083 - - Neoplecostomus sp. cascudinho 5 0,417 - - Neoplecostomus spp. cascudinho - - 1 0,111 Poecilia reticulata guppy 3 0,25 - - Poecilia vivipara guarú 3 0,25 - - 12 1 9 1 Abundância total Em agosto/2010, a espécie mais abundante foi Neoplecostomus sp. com 05 (cinco) indivíduos coletados, perfazendo 42% dos indivíduos, seguido por Poecilia reticulata e Poecilia vivipara que apresentaram apenas 03 (três) exemplares capturados cada. Já em janeiro/2011, Astyanax sp.1 foi a espécie mais abundante, com 07 (sete) indivíduos capturados, correspondendo a 78% do total capturado. Já para as espécies Neoplecostomus spp. e Characidium sp.1, foram coletados apenas 01 (um) exemplar de cada (GRÁFICO 3). Poecilia vivipara Espécies Poecilia reticulata Neoplecostomus spp. Neoplecostomus sp. Jan./2011 Trichomicterus sp. 1 Ago./2010 Characidium sp. 1 Astyanax sp. 1 0 2 4 6 Número de indivíduos 8 Gráfico 3: Abundância absoluta das espécies encontradas. 29 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Segundo a UEPG (2003), as espécies Trichomycterus sp.1 e Neoplecostomus sp. apresentam áreas de distribuição bastante restritas, sendo endêmicas de uma determinada cabeceira. O comprometimento destes ambientes, através do desmatamento ou mesmo poluição, podem resultar na extinção destas espécies, fato que vem sem observado para a algumas espécies do gênero Neoplecostomus. Em relação à abundância absoluta de cada ponto de amostragem, em agosto/2010, verificou-se que o SU-IC-03 foi o mais abundante, apresentando 10 (dez) indivíduos capturados, enquanto que no SU-IC-02 foram coletados apenas 02 (dois) espécimes. Na campanha de janeiro/2011, apenas no ponto SU-IC-03 foi obtido sucesso de captura, apresentando 09 (nove) exemplares coletados. Conforme já relatado, nas estações de amostragem BJ-IC-01, em ambas as campanhas, e na SU-IC-02, em janeiro/2011, não foi capturado nenhum exemplar. No Gráfico 4, a seguir, é apresentada a abundância de cada um dos pontos de amostragem. 12 n de indivíduos 10 8 6 Ago./2010 Jan./2011 4 2 0 BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 Pontos de amostragem Gráfico 4: Abundância dos pontos de amostragem. 5.5 DIVERSIDADE E EQUITABILIDADE O índice de Shannon assume que os indivíduos foram amostrados ao acaso e que todas as espécies estão representadas na amostra (MAGURRAN, 1988). Como exposto na metodologia, a análise leva em conta dois fatores, a riqueza absoluta de espécies e suas abundâncias relativas ou a equitabilidade. Desta forma, quanto mais equitativa a distribuição 30 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 do número de indivíduos por espécie, maior a diversidade. Por outro lado, quanto menos equitativa, menor o índice, o que pode indicar uma condição de estresse ou alteração ambiental a partir da condição original (ODUM, 1985). Na Tabela 6, a seguir, são apresentados os resultados obtidos em cada ponto. Cabe ressaltar que o Índice de Shannon não foi calculado apenas nas estações de amostragem BJ-IC-01, nas duas amostragens, e na SU-IC-02, em janeiro/2011, uma vez que nestes pontos não foram capturados nenhum indivíduo. Tabela 6: Índice de diversidade de Shannon (H’) e indice de equitabilidade (E) para os locais de coleta. Agosto/2010 Janeiro/2011 Parâmetros BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 0,301 0,297 H’ * 0,530 * * 1,00 0,622 E * 0,88 * * De acordo com os resultados apresentados, verificou-se que o ponto SU-IC-03 apresentou a maior diversidade de espécies, enquanto que o ponto SU-IC-02 mostrou uma distribuição mais equitativa, uma vez que foram encontrados, nesse ponto, apenas dois indivíduos, pertencentes a duas espécies. É importante ressaltar que o baixo número de indivíduos coletados pode alterar os valores dos índices de diversidade e equitabilidade, não apresentando dados reais sobre a população local, uma vez que a presença ou ausência de um único indivíduo pode afetar os índices analisados. Os resultados para o índice de diversidade encontrados na área de estudo demonstram a ocorrência de ambientes com qualidade ambiental bastante alterada (resultados menores que 1,0). Para o empreendimento ora em tela, pode-se afirmar que a alteração na qualidade ambiental é decorrente das atividades realizadas na área bacia de drenagem do ribeirão Sacramento e do lançamento de efluentes domésticos provenientes de Caratinga. 5.6 SIMILARIDADE De acordo com o índice de similaridade, foram obtidos os seguintes resultados: 31 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Tabela 7: Índice de similaridade dos pontos de amostragem. Agosto/2010 Janeiro/2011 BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 BJ-IC-01 SU-IC-02 SU-IC-03 BJ-IC-01 * * * * * * SU-IC-02 * * 0,5 * * * Conforme observado na tabela anterior, em agosto/2010, apenas os pontos SU-IC02 e SU-IC-03 apresentaram similaridade entre si. Já na amostragem de janeiro/2011, apenas no ponto SU-IC-03 houve sucesso na coleta, e, desta forma, não apresentou similaridade com nenhum dos outros pontos. 5.7 RIQUEZA DE ESPÉCIES Através do cálculo da riqueza de espécies, proposto por Odum (1985), em agosto/2010, verificou-se que o ponto de maior riqueza foi o SU-IC-02, enquanto que, em janeiro/2011, houve captura apenas no ponto SU-IC-03 (TABELA 08). Tabela 8: Número de espécies (S), abundância (N) analisados Agosto/2010 PONTOS S N D BJ-IC-01 00 00 00 SU-IC-02 02 02 3,32 SU-IC-03 04 10 3,0 5.8 e riqueza de espécies (D) dos pontos Janeiro/2011 S N D 00 00 00 00 00 00 03 09 2,1 BIOMETRIA Os resultados referentes ao comprimento máximo e mínimo das espécies amostradas estão descritas na Tabela 9, a seguir. Tabela 9: Comprimento corporal padrão máximo, mínimo, médio e desvio padrão. ESPÉCIE Astyanax sp.1 Characidium sp1 Neoplecostomus sp. Neoplecostomus spp. Poecilia reticulata Poecilia vivipara Trichomycterus sp.1 CP máx. 7,2 2,9 2,8 7,6 Agosto/2010 CP CP mín. méd 6,6 6,84 1,9 2,67 1,9 2,23 7,6 - Desvio Padrão 0,424 0,707 0,636 - CP máx. 8,3 4,3 8,7 - Janeiro/2011 CP CP mín. méd 7,1 7,77 4,3 8,7 - Desvio Padrão 0,848 - Conforme observado na tabela anterior, em agosto/2010, o indivíduo com maior comprimento corporal coletado foi um espécime de Trichomycterus sp.1, com 7,6 mm de 32 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 comprimento corporal padrão. Já um indivíduo de Poecilia reticulata e um de Poecilia vivipara foram os menores espécimes amostrados, apresentando um CP correspondente a 1,9 mm cada. Em janeiro/2011, Neoplecostomus spp. foi o indivíduo capturado com o maior comprimento padrão, correspondendo a 8,7 mm, enquanto que Characidium sp.1 apresentou o menor CP amostrado, com apenas 4,3 mm. Considerando o comprimento padrão médio, em agosto/2010, a espécie Neoplecostomus sp. apresentou o maior comprimento padrão médio (6,84 mm), enquanto que em Poecilia vivipara foi evidenciado a menor média, com apenas 2,23 mm. Já na presente campanha, apenas na espécie Astyanax sp.1 foi possível determinar o comprimento padrão médio (7,77 mm), visto que nas demais espécies foram capturados apenas 01 (um) exemplar. No gráfico a seguir, está representado o comprimento padrão médio das espécies Ago./2010 Poecilia reticulata Poecilia vivipara Jan./2011 Neoplecostomus sp. 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Astyanax sp.1 CP médio (mm) amostradas. Espécies Gráfico 5: Comprimento padrão médio das espécies amostradas. Durante o monitoramento realizado em 2010/2011, foi coletado um total de 55,9 gramas em agosto/2010 e 101,0 gramas em janeiro/2011, de material ictiológico nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho. Na primeira campanha, a espécie com maior biomassa total coletada foi evidenciada na espécie Neoplecostomus sp., com 40,0 gramas, seguida por Trichomycterus sp.1, que 33 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 apresentou 9,2 gramas. Já Poecilia reticulata foi a espécie com menor biomassa total coletada, correspondendo a apenas 3,3 gramas. Já em janeiro/2011, Astyanax sp.1 foi a espécie com maior biomassa total capturada, correspondendo a 89,0 gramas, enquanto que Characidium sp.1 apresentou a menor biomassa total, com apenas 2,0 gramas. Para esta última espécie apenas um indivíduos foi capturado. Os resultados referentes a biomassa total, máxima e mínima, bem como a média e o desvio padrão são apresentados na Tabela 10, a seguir. Tabela 10: Biomassa corporal total, máxima, mínima, média e desvio padrão das espécies capturadas. Agosto/2010 Bio Bio mín. méd. ESPÉCIE Bio total Bio máx. Astyanax sp.1 - - - Characidium sp1 Neoplecostomus sp. Neoplecostomus spp. Poecilia reticulata - - - 40 8 - Poecilia vivipara Trichomycterus sp.1 Janeiro/2011 Bio Bio mín. méd. Desvio Padrão Bio total Bio máx. Desvio Padrão - - 89 17 11 12,71 4,243 - - 2 2 2 - - 8 8 0 - - - - - - - - - 10 10 10 - - 3,3 1,8 0,8 1,1 0,707 - - - - - 3,4 1,6 0,8 1,13 0,566 - - - - - 9,2 9,2 9,2 - - - - - - - Em relação à média da biomassa corporal, em agosto/2010, a espécie Neoplecostomus sp. apresentou a maior biomassa capturada (8,0 g), enquanto que em Poecilia reticulata foi evidenciada a menor média, com apenas 1,1 gramas. Em janeiro/2011, apenas na espécie Astyanax sp.1 foi possível determinar a biomassa média, correspondendo a 12,71 gramas. No gráfico a seguir, está representada a biomassa corporal média das espécies amostradas. 34 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Biomassa (em g) 14 12 10 8 6 4 2 Ago./2010 Poecilia vivipara Poecilia reticulata Neoplecostomus sp. Astyanax sp.1 0 Jan./2011 Espécies Gráfico 6: Biomassa corporal média das espécies amostradas. Diante dos dados apresentados, verificou-se que a população íctia local apresenta baixíssima populosidade, sendo que as espécies capturadas durante o presente monitoramento possuem tamanho e biomassa reduzida 5.9 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE REPRODUTIVA Com relação à atividade reprodutiva, é importante ressaltar que os indivíduos mantidos inteiros não foram considerados. Os indivíduos inteiros são aqueles conservados como indivíduos-testemunho. A escolha da quantidade dos mesmos foi relacionada com a tentativa de se retratar da melhor forma as possíveis alterações morfológicas e do estágio de desenvolvimento existentes dentro de uma mesma espécie. Apenas um indivíduo da espécie Neoplecostomus spp. foi mantido inteiro durante a campanha de janeiro/2011. Em agosto/2010 não foi possível realizar a avaliação da atividade reprodutiva dos indivíduos amostrados, visto que todos os 12 (doze) exemplares capturados encontravam-se em estágio juvenil, impossibilitando a realização da sexagem. A distribuição dos sexos dos indivíduos amostrados está representada na tabela e nos gráficos a seguir. 35 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Tabela 11: Distribuição dos sexos, nas espécies capturadas em cada amostragem. Ago./2010 Jan./2011 Fêmea Macho Juvenil Inteiro Fêmea Macho Juvenil Inteiro Astyanax sp.1 7 Characidium sp1 1 Neoplecostomus sp. 5 Neoplecostomus spp. 1 Poecilia reticulata 3 Poecilia vivipara 3 Trichomycterus sp.1 1 ESPÉCIE 36 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Trichomicterus sp.1 Poecilia vivipara Fêmea Macho Poecilia reticulata Juvenil Espécies Espécies Neoplecostomus spp. Fêmea Characidium sp1 Macho Juvenil Inteiro Neoplecostomus sp. 0% Inteiro Astyanax sp.1 50% % dos sexos 100% 0% 20% 40% 60% 80% 100% % dos sexos A B Gráfico 7: Distribuição do sexo nas espécies amostradas, A refere-se à campanha de agosto/2010 e B a de janeiro/2011. 37 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Conforme exposto no gráfico anterior, todos os indivíduos capturados em agosto/2010 apresentaram-se em estágio juvenil. Já na campanha de janeiro/2011, apenas na espécie Astyanax sp.1 foi encontrada uma maior proporção de fêmeas, enquanto que para Characidium sp.1 foi evidenciado uma maior proporção de machos. As fêmeas são abundantes, normalmente, quando a quantidade de alimento disponível no local é suficiente. Quando ocorre escassez de alimento, é comum uma maior quantidade de machos. Com relação ao estágio de desenvolvimento gonadal, em agosto/2010, assim como mencionado para a sexagem, todos os indivíduos amostrados encontravam-se em estágio juvenil, impossibilitando a classificação do estágio de maturação gonadal. Na presente campanha, verificou-se o predomínio de indivíduos esgotados (Estágio 3), correspondendo a 67% do total amostrado. O gráfico a seguir apresenta a abundância dos estágios de desenvolvimento gonadal, por campanha de amostragem. 14 n de indivíduos 12 10 8 Ago./2010 6 Jan./2011 4 2 0 1 2A 2B 2C 3 Juvenil Inteiro Estágios de desenvolvimento gonadal Gráfico 8: Distribuição dos estágios de desenvolvimento gonadal. O predomínio de indivíduos em Estágio de Maturação Esgotado, em janeiro/2011, pode estar relacionado com a época que as coletas foram realizadas, visto que esta foi compatível com o período reprodutivo da maioria das espécies amostradas (primaveraverão), conforme observado na autoecologia. A distribuição dos estágios de desenvolvimento gonadal, em cada uma das espécies, está representada na tabela e gráficos a seguir. 38 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Tabela 12: Estágios de desenvolvimento gonadal. ESPÉCIE Ago./2010 Jan./2011 1 2A 2B 2C 3 Juvenil Inteiro 1 2A 2B 2C 3 Juvenil Inteiro Astyanax sp.1 6 Characidium sp1 Neoplecostomus sp. 1 1 5 Neoplecostomus spp. 1 Poecilia reticulata 3 Poecilia vivipara 3 Trichomycterus sp.1 1 39 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 Trichomicterus sp.1 Neoplecostomus spp. 2A Poecilia vivipara 2B 2C Poecilia reticulata Espéices Espécies 1 1 2A 2B Characidium sp1 2C 3 Juvenil Neoplecostomus sp. 3 Juvenil Astyanax sp.1 Inteiro 0% 20% 40% 60% 80% 100% % dos estágios gonadais (abundância relativa) Inteiro 0% 20% 40% 60% 80% 100% % dos estágios gonadais (abundância relativa) A B Gráfico 9: Distribuição dos estágios gonadais nas espécies amostradas, A refere-se a amostragem de agosto/2010 e B a de janeiro/2011. 40 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 5.10 ÍNDICE GONADOSSOMÁTICO O Índice Gonadossomático foi realizado apenas na amostragem de janeiro/2010, sendo o maior IGS evidenciado em um indivíduo da espécie Astyanax sp.1, enquanto que o menor IGS foi verificado para a espécie Characidium sp.1. A tabela a seguir apresenta os valores encontrados para o Índice Gonadossomático em cada uma das campanhas de amostragem. Tabela 13: Valores máximos e mínimos do IGS das espécies. ESPÉCIE NOME COMUM Astyanax sp.1 Characidium sp.1 lambari canivete Agosto/2010 Janeiro/2010 IGS MÁXIMO IGS MÍNIMO IGS MÁXIMO IGS MÍNIMO 13,0 1,82 0,00 - Cabe ressaltar que, nesta campanha, todos os indivíduos foram coletados exclusivamente no ponto SU-IC-03. 5.11 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ALIMENTAR Os estudos referentes ao hábito alimentar de peixes, são de extrema importância, principalmente para a conservação em ambiente natural. A questão fundamental diz respeito à flexibilidade observada na dieta de muitas espécies. Devido principalmente a este fato, o estudo dos itens alimentares encontrados no conteúdo estomacal de diferentes espécies da ictiofauna, tem se tornado freqüente e de fundamental importância para conservação de diferentes espécies (FELIPE et al., 2007). De acordo com diversos autores os peixes podem ocupar vários níveis tróficos dentro de um ecossistema, entretanto, a classificação dos mesmos em categorias tróficas definidas, tem sido dificultada em função da enorme variedade de espécies conhecidas, além do amplo espectro de itens alimentares ingeridos pelas mesmas. Na área de influência das PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho, os 12 (doze) indivíduos capturados, em agosto/2010, apresentaram grau de repleção igual a 0%, ou seja, estiveram com os estômagos vazios (D). Já em janeiro/2011, foi realizada a análise da dieta dos indivíduos de Astyanax sp.1, sendo analisados os estômagos de todos os exemplares capturados destas espécies. Os resultados obtidos são visualizados no Gráfico 13, a seguir. 41 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 100 Frequência (FO%) Chi 80 MO Hemi 60 Cerat RI 40 Form Hyme 20 Aca 0 Elm 0 20 40 60 Volume (VO%) 80 100 MV Gráfico 10: IAi – Astyanax sp.1 (janeiro/2010). Legenda: Chi - Chironomidae (díptera); MO - Matéria orgânica; Hemi – Hemiptera; Cerat - Ceratopogonídeo (díptera); RI - Resto de inseto; Form – Formiga; Hyme – Hymenoptera; Aca – Acari; Elm - Elmideo (Coleoptera) Os itens alimentares encontrados evidenciaram uma tendência onívora, caracterizando a preferência alimentar dessa espécie por matéria animal e vegetal. Dos 05 (cinco) indivíduos analisados, quatro apresentaram preferência alimentar por insetos, enquanto que em apenas 01 (um) verificou-se uma maior proporção de matéria orgânica. Indivíduos deste gênero demonstram grande capacidade de aproveitar os vários recursos alimentares disponíveis em diferentes situações ambientais, devendo ser consideradas oportunistas (LUIZ et al., 1998 apud ALVIM, 1999). Segundo Gomiero & Braga (2003), o gênero Astyanax são muito diversificados na dieta alimentar, forrageia em todos os níveis tróficos, e são muito ágeis ao mudar de presa em resposta a mudanças ambientais. De acordo com os estudos de Felipe e colaboradores (2007), a dieta dessa espécie foi constituída de itens vegetais e animais, como também alimentos que não fazem parte de sua dieta alimentar usual. Os itens alimentares segundo o grau de preferência em ordem decrescente foram: sedimentos, matéria orgânica, escamas, algas, insetos, arroz, moluscos, nematóides, e semente. 42 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 5.12 ÍNDICE PONDERAL DE DOMINÂNCIA (IP) Quanto ao índice de importância ponderal, os resultados evidenciados em cada uma das espécies amostradas estão descritos a seguir na Tabela 10. Tabela 14: Índice de importância ponderal para indivíduos capturados. As espécies em destaque são consideradas importantes (IP> 1%). Agosto/2010 Janeiro/2011 ESPÉCIE N P IP N P IP Astyanax sp.1 - 7 89 98,11 Characidium sp1 - 1 2 0,31 Neoplecostomus sp. 5 40 87,22 - Neoplecostomus spp. - 1 10 1,57 Poecilia reticulata 3 3,3 4,32 - Poecilia vivipara 3 3,4 4,45 - Trichomycterus sp.1 1 9,2 4,01 - - Em agosto/2010, todas as 04 (quatro) espécies capturadas nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho foram consideradas de importância ponderal (> 1%). Neoplecostomus sp. apresentou a maior IP desta amostragem, correspondendo a 87,22%, seguido por Poecilia vivipara, com 4,45%. Já na amostragem de janeiro/2011, das 03 (três) espécies amostradas, 02 (duas) apresentaram importância ponderal. Astyanax sp.1 apresentou o maior IP, correspondendo a 98,11%, enquanto que para Neoplecostomus spp. foi igual a 1,57%. 5.13 ANÁLISE DE OVOS E LARVAS O material para análise de ovos e larvas foi coletado em todas as estações de amostragem. No entanto, em ambas as campanhas, em nenhuma das amostras foram encontrados ovos e/ou larvas de peixes, sendo detectada apenas a presença de insetos e/ou larvas de insetos. Na época da estiagem, mesmo em reservatórios, a reprodução tende a zero, uma vez que a esta época não abrange o período de desova da maioria das espécies de peixes de água doce (VAZZOLER, 1996). Como as amostragens foram realizadas durante o dia, recomenda-se que, para os próximos monitoramentos, as amostragens sejam realizadas ao entardecer e durante os períodos com picos de chuvas. Acredita-se que dessa forma, ovos e/ou larvas serão capturados e contribuirão para o conhecimento do ictioplâncton do local. 43 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 5.14 PESCA PROFISSIONAL O Art. 26 do Código de Pesca (DECRETO-LEI 221 DE 28/02/1967) diz que "Pescador profissional é aquele que matriculado na repartição competente (SEAP) segundo as leis e regulamentos em vigor faz da pesca sua profissão ou meio principal de vida”. Para levantamento da atividade pesqueira, tanto profissional quanto amadora, foram entrevistados pescadores na Área de Influência Direta (AID) do empreendimento. As coletas dos dados foram realizadas de maneira a contemplar as informações das comunidades de pesca ao longo de todo o trecho de estudo que estivessem na Área de Influência Direta do empreendimento. Para as PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho, durante as vistorias realizadas, não foi constatada a presença de pescadores profissionais em nenhuma das estações de amostragem. A pesca profissional para a região de estudo não é muito comum, uma vez que estas águas são consideradas muito contaminadas, visto que recebem grande quantidade de efluentes da cidade de Bom Jesus do Galho. Nestas águas também é observado o acúmulo de uma grande quantidade de resíduos, contribuindo para a contaminação destas águas. A pesca amadora ocorre esporadicamente, principalmente como forma de lazer. No entanto, não há registros de consumo do pescado, principalmente em função das características das águas, relatadas no parágrafo anterior. 44 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 6 DISCUSSÃO A transformação do ambiente lótico em lêntico é o primeiro impacto observado na construção de empreendimentos hidrelétricos ou de qualquer barramento de um rio. A hidrologia local é severamente alterada, significando que as condições químicas e físicas da água são modificadas (alteração limnológica) e, com isso há formação de um novo ambiente, com novos habitats e à perda de outros. O principal objetivo do presente estudo foi realizar um levantamento e um monitoramento da composição ictiofaunística, além de avaliar possíveis impactos ambientais causados as populações de peixes na represa, na área de influência das PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho. Comparando-se os resultados obtidos neste monitoramento, com aqueles encontrados em 2009/2010, foram observados os resultados apresentados na Tabela 14. Tabela 15: Composição ictiofaunística das PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho ORDEM FAMÍLIA Characidae CHARACIFORMES Crenuchidae PERCIFORMES ES Astyanax bimaculatus Nome comum lambari-do-raboamarelo 2009/2010* 2010/2011 X Astyanax sp.1 lambari X Characidium sp.1 canivete X Erythrinidae Hoplias malabaricus traíra X Cichlidae Geophagus brasiliensis acará X X Heptapteridae Rhamdia quelen bagre Trichomycteridae Trichomycterus sp.1 bagrinho X Neoplecostomus sp. cascudinho X Loricariidae Neoplecostomus spp. cascudinho X Hypostomus affins cascudo Poecilia reticulata guppy X Poecilia vivipara guarú X SILURIFORMES CYPRINODONTIFORM ESPÉCIE Poeciliidae Nº de espécies X 05 07 * Monitoramento realizado pela Empresas PRB Ambiental Consultoria e Projetos. Em 2009/2010, foram capturados 29 (vinte e nove) indivíduos, distribuídos em 05 (cinco) espécies distintas, enquanto que, em 2010/2011, foram amostrados apenas 21 (vinte e um) exemplares, pertences a 07 (sete) espécies. As PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho encontram-se em operação desde a década de 1950 e, por esse motivo, acredita-se que as alterações na composição ictiofaunística decorrentes da instalação dos mesmos tenham ocorrido quando de sua implantação. Para as variações observadas na composição ictiofaunística, atualmente, 45 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 acredita-se que estas estejam relacionadas com as atividades desenvolvidas na bacia de drenagem e não com as atividades do empreendimento. Conforme já mencionado, a restrita diversidade de espécies e reduzida quantidade de indivíduos, observado durante as amostragens, se dá pela presença do esgoto proveniente da cidade de Caratinga, o qual produz uma baixa qualidade ambiental, principalmente sobre o reservatório de Bom Jesus do Galho, visto que esta localidade recebe maior carga de efluentes. Espécies mais sensíveis a alterações biológicas provavelmente não conseguiram se manter e mesmo aquelas presentes não encontram situações favoráveis para se expandir. Como relatado no trabalho de Araújo & Nunan (2005), o esgoto doméstico gera impactos sobre determinadas populações da ictiofauna devido à disponibilidade desequilibrada de alimentos, como nutrientes e matéria orgânica, aumento de indivíduos doentes e parasitados e a presença de substâncias tóxicas. A composição dos pontos amostrais encontra-se ainda indefinida, visto que algumas espécies tiveram um representante capturado em um único ponto, enquanto que nenhuma das espécies foi comum as duas campanhas realizadas. Para a abundância das ordens, em setembro/2010, verificou-se a mesma proporção de Siluriformes e Cyprinodontiformes, enquanto que, em janeiro/2011, os Characiformes foram mais abundantes, correspondendo a 88,9% do total capturado. Em relação à abundância das famílias, na primeira amostragem, verificou-se o predomínio de indivíduos pertencentes a família Poecilidae. Já na amostragem de janeiro/2011, a família Characidae foi a mais abundante, representada exclusivamente pelas espécies Astyanax sp.1 e Characidium sp.1. Quanto as espécies, verificou-se uma maior abundância para Neoplecostomus sp. em setembro/2010, e para Astyanax sp.1, na amostragem de janeiro/2011. As espécies Trichomycterus sp.1, Neoplecostomus sp., em setembro/2010, e Neoplecostomus spp., em janeiro/2011, apresentam áreas de distribuição bastante restritas, sendo endêmicas de uma determinada cabeceira. O comprometimento destes ambientes, através do desmatamento ou mesmo poluição, podem resultar na extinção destas espécies (UEPG, 2003). Devido à qualidade das águas do Ribeirão Sacramento, a sobrevivência destas espécies pode estar comprometida. Em ambas as campanhas, os peixes capturados apresentaram exclusivamente um pequeno porte. Segundo Castro (1999), o número e a composição das espécies variam muito de acordo com o porte e porção do riacho, da região ou bacia. Para Vazzoler (1996) incluem-se na categoria "pequeno porte" aquelas espécies com comprimento total máximo 46 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 menor que 200 mm, "médio porte" aquelas entre 200 e 400 mm, e "grande porte" aquelas maiores que 400 mm. Entretanto, não há consenso quanto ao limite de tamanho de um peixe de pequeno porte, pois Castro (1999) atribui o comprimento igual ou inferior a 150 mm como limite máximo. Em relação ao estágio de desenvolvimento gonadal e sexagem, em agosto/2010, não foi possível realizar essa análise nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho, uma vez que os 12 (doze) indivíduos capturados apresentaram-se em estágio de desenvolvimento juvenil e tamanho bastante reduzido. Já na campanha de janeiro/2011, verificou-se o predomínio fêmeas e indivíduos classificados em estágio de maturação esgotados (Estágio 3), correspondendo a 67% do total capturado. Quanto a análise da dieta alimentar, em agosto/2010, os 12 (doze) exemplares capturados apresentaram estômagos vazios (D), ou seja, grau de repleção correspondendo a 0%. Na presente campanha, foi analisada a dieta dos indivíduos da espécie Astyanax sp.1, que foram classificados como onívoros, apresentando preferência alimentar por matéria animal (insetos) e matéria orgânica. A disponibilidade dos itens alimentares no ambiente favorece a permanência dessa espécie no habitat, visto que os itens encontrados são abundantes. É importante ressaltar que, o estudo dos itens alimentares encontrados no conteúdo estomacal de diferentes espécies da ictiofauna, tem se tornado de fundamental importância para conservação das diferentes espécies. Já para a atividade de pesca, devido à qualidade destas águas, a pesca não é considerada uma atividade de interesse para a região. Durante as coletas não foi observado a presença de nenhum pescador nos pontos coletados. 47 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Alteração no hábitat tem influência direta sobre as funções biológicas de cada espécie de peixe, pois ocasiona modificações na complexa estrutura ambiental, afetando as inter-relações entre os elementos que a compõem, o que pode, consequentemente, alterar a composição e abundância da ictiofauna local. Modificações, como a alteração da estrutura e do regime hidrológico, resultam em impactos significativos sobre a biodiversidade, facilitando a introdução de espécies exóticas, contribuindo para o desaparecimento de espécies comercialmente interessantes e inviabilizando algumas atividades de comunidades tradicionais dependentes dos recursos naturais. Os reservatórios, a exemplo de outros ambientes artificiais, requerem mais atenção de manejo que os ambientes naturais. As condições ambientais impostas por uma barragem são determinantes na re-estruturação da ictiofauna residente. Verifica-se durante o processo de colonização a depleção de algumas populações, para as quais as novas condições são restritivas e a explosão de outras, que tem no novo ambiente condições favoráveis para manifestar seu potencial de proliferação. Os impactos ambientais decorrentes da implantação de empreendimentos hidrelétricos são observados com maior intensidade durante a fase de implantação. No entanto, durante a operação do empreendimento, ainda podem ser evidenciadas conseqüências dos impactos da fase anterior. Durante as atividades de campo realizadas, não foram evidenciadas operações/atividades dessas PCHs que pudessem causar impactos adversos significativos, assim, pode-se afirmar que as possíveis alterações na composição ictiofaunística da área e influência das PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho relacionamse com a mudança de ambiente (lótico para lêntico) e, também, com o uso e ocupação do solo na área de drenagem dos corpos d’água, bem como com o lançamento de efluentes, que alteram de maneira significativa a qualidade das águas. Os estudos até então desenvolvidos apresentam uma baixa riqueza de espécies. Essa baixa riqueza de espécies e quantidade de indivíduos dessa região pode ser atribuída ao lançamento de esgotos neste corpo d’água, comprometendo a qualidade destes ambientes. Desta forma, é importante a realização de mais estudos na área de atuação deste empreendimento para que se possa realizar o direcionamento de ações referentes à conservação e manejo da fauna ictía. Algumas espécies apresentaram poucos indivíduos capturados, alguns restritos apenas a um ponto, dificultando a obtenção de informações referentes a essas espécies. 48 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 As características verificadas nas PCHs Sumidouro e Bom Jesus do Galho, são típicas de empreendimentos considerados “velhos” (a partir de 50 anos de idade), com uma baixa diversidade e ambiente físico com baixa troca de materiais com a biota. Além disso, a barragem desativada em Bom Jesus do Galho favorece o acúmulo de resíduos à montante comprometendo ainda mais a qualidade das águas nesta localidade. A queda d’água a montante da casa de força da PCH Sumidouro atua como uma barreira natural para peixes, mas independente desta barreira, Sumidouro é uma localidade bastante degradada, onde um intenso trabalho de educação social e ambiental deve ser rigorosamente aplicado a população. O ponto BJ-IC-01 apresentou características críticas, visto que nesta região existe uma grande quantidade de dejetos e lixos dentro do curso d’água e na área de entorno. Desta forma, dificilmente existe densidade considerável de alguma espécie. Assim, apesar da barreira natural imposta pela queda, a ausência de espécies migradoras pode estar associada à qualidade ambiental da região. Já no ponto SU-IC-03, referente à amostragem realizada a jusante do canal de fuga, foram evidenciadas características favoráveis para as espécies que vivem em locais restritos e com muita correnteza. Estas condições seriam limitantes para a maioria das espécies de peixes, no entanto alguns grupos preferem ocupar estes nichos pouco competitivos. É necessária a realização de um acompanhamento destas comunidades, visando determinar propostas eficazes para que esta região da Bacia do Rio Doce continue sendo importante para manutenção de biodiversidade aquática. 49 MONITORAMENTO DA ICTIOFAUNA PCH ’S SUMIDOURO E BOM JESUS DO GALHO FINAL 2010/2011 8 BIBLIOGRAFIA AGOSTINHO, A. A., GOMES, L.C., Pelicice, F.M., 2007. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Maringá: Eduem. 501p. AGOSTINHO, A. A.; HAHN, N. S. et al. 1997. Estrutura trófica. In: VAZZOLER, A. E. A.; AGOSTINHO, A. A. & HAHN, N. S. A planície de inundação do alto rio Paraná: aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Maringá, Editora da Universidade Estadual de Maringá. p. 229-248. AGOSTINHO, A. A.; JÚLIO, H. F., JR. & PETRERE, M., JR. 1994. Itaipu reservoir (Brazil): impacts of the impoundment on the fish fauna and fisheries. In: COWX, I. G. ed. Rehabilitation of freshwater fisheries. London, Fishing New Books. p. 171-184. 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