A LÍRICA MODERNA E A CRISE DA LINGUAGEM: PESSOA E ELIOT Odorico Leal de Carvalho Júnior – UFMG [email protected] Resumo: Este artigo parte de questões acerca do discurso filosófico da modernidade para discutir a idéia da crise da linguagem tal como problematizada na lírica moderna, a partir das poéticas de Fernando Pessoa e de T.S.Eliot. Palavras-Chave: Modernidade; Linguagem; Pessoa; Eliot. Abstract: This article starts from problems regarding the philosophical discourse of modernity in order to discuss the idea of the crisis of language as it was problematized in modern liric, following the poetics of Fernando Pessoa and T.S.Eliot. Keywords: Modernity; Language; Pessoa; Eliot. Os princípios universalmente válidos da comunicação literária são os seguintes: 1) devemos ter algo que precise ser comunicado; 2) devemos ter alguém a quem possamos comunicá-lo; 3) devemos realmente comunicar, partilhá-lo com esse alguém, e não apenas exprimir-nos a nós mesmos. Do contrário seria preferível calar. Schlegel ...every attempt Is a wholly new start, and a different kind of failure T.S.Eliot, East Coker Não: não digas nada! Supor o que dirá A tua boca velada É ouvi-lo já É ouvi-lo melhor Do que o dirias. O que és não vem à flor Das frases e dos dias. És melhor do que tu. Não digas nada: sê! Graça do corpo nu Que invisível se vê. Fernando Pessoa, Cancioneiro Em O Discurso Filosófico da Modernidade, Jürgen Habermas aponta Hegel como o filósofo que inaugura o discurso da modernidade, discurso que, já naquele primeiro momento, se instaura enquanto crítica. Ao fixar a subjetividade como princípio dos novos tempos, Hegel frisa sua tendência à crise. Trata-se de novos tempos marcados pelo que Marx Weber chamou de desencanto do mundo: a progressiva racionalização da experiência do homem, rompendo com a estrutura religiosa que sustentava os antigos modelos de comunidade. A modernidade, por sua vez, “sem modelos, aberta ao futuro e ávida por inovações, só pode extrair seus critérios de si mesma” (HABERMAS, 2002, p. 60), à luz de rupturas informadas por experiências históricas como a Reforma, o Renascimento e o começo da ciência natural moderna. A partir de Hegel, inaugura-se, portanto, uma nova tradição filosófica, relacionada à idéia de uma autocertificação da modernidade, que, para Hegel, é o tema fundamental da filosofia. Hegel, entretanto, não pretende, como o deseja, na contemporaneidade, um pensador como Jacques Derrida, “ir para fora da filosofia” 1; busca ainda resolver as contradições da modernidade a partir da própria modernidade. Para Hegel, a subjetividade estabelece um estado de cisão, marcado pela reflexão e pela liberdade, mas que é incapaz de substituir o poder de unificação da religião. A partir dessa constatação, o filósofo desenvolverá seu conceito de absoluto, na esperança de que a razão possa constituir um poder unificador. É com Nietzsche que o projeto moderno, centrado no sujeito, será categoricamente rejeitado. Em O Nascimento da Tragédia, o jovem Nietzsche escreve: A origem da formação histórica – e sua contradição radical e intrínseca com o espírito dos „novos tempos‟, de uma „consciência moderna‟ – essa origem tem de voltar ela própria ser conhecida historicamente; a história tem de resolver o problema da história; o saber tem de voltar o dardo contra si mesmo – esse triplo tem de é o imperativo dos „novos tempos‟, caso se encontre nele algo realmente novo, poderoso, vital e originário (NIETZSCHE apud HABERMAS, 2002, p. 125). Contra a razão, Nietzsche oferece o outro da razão, que o filósofo encontra no mito de Dionísio. Nietzsche, entretanto, não pretende um retorno às origens míticas; tem consciência de que tal retorno é impossível. Aposta, portanto, no futuro, o que fornece à sua filosofia um caráter utópico, que informará, mais tarde, muito das experiências das artes de 1 Sobre esta questão, ver o ensaio “Estrutura, signo e jogo no discurso das ciências humanas”, em A escritura e a diferença, de Jacques Derrida. 2 vanguarda no século XX, bem como a filosofia de Heidegger e, mais próximo de nós, o supracitado Jacques Derrida. Dentro desse contexto de reflexão acerca da modernidade, Habermas acentua o forte intercâmbio entre o discurso filosófico, por um lado, e o discurso estético por outro. Dentro do âmbito da lírica moderna, a discussão sobre a modernidade firma-se em meados do século XIX, com as reflexões de Baudelaire sobre a dupla natureza da arte, que produziria uma síntese entre o imutável e o transitório. O exemplo de Baudelaire, como, pouco antes dele, o de Edgar Allan Poe, é exemplar no sentido de revelar uma das marcas essenciais da poesia moderna: a relação entre crítica e criação. Se a filosofia da modernidade está voltada para a discussão da própria modernidade, do tempo presente, e, com Nietzsche, para a discussão da própria possibilidade da existência da filosofia tal como a concebeu a civilização ocidental até aquele ponto, a poesia moderna, já em Poe e Baudelaire, será marcada pela reflexão crítica acerca do lugar da poesia e, com o modernismo, da própria possibilidade da poesia. Nesse sentido, Graham Hough, em ensaio inserido no clássico Modernismo 1890-1930, aponta Baudelaire como o primeiro poeta moderno, pois o francês é aquele que se coloca fora de qualquer papel estabelecido para o poeta pela tradição – “o amante, o cortesão, o patriota, o sábio ou o contemplativo místico” (HOUGH, 1989, p. 255)–, que enuncia a partir de um lugar marginal, radicalmente novo, e cujo tema é propriamente o conflito entre a possibilidade do Ideal e a constante interrupção dessa visão pelo que o poeta nomeia de Spleen, o tédio, mas que, seguindo as reflexões de Irene Ramalho dos Santos sobre a lírica moderna, em seu Atlantic Poets, poderíamos chamar de o político2 ou, seguindo Wallace Stevens, no ensaio The Noble Rider and the Sound of Words (STEVESN, 1951), podemos compreender como the preasure of reality. Aqui cabe um excurso sobre o conceito de poesia moderna, tal como o utilizamos neste ensaio. Graham Hough, como dissemos, vê em Baudelaire o primeiro poeta moderno. Assim o compreende porque admite que é Baudelaire “o primeiro a aceitar a posição desclassificada, desestabelecida do poeta, que não é mais o celebrador da cultura a que pertence, o primeiro a aceitar a miséria e a sordidez do cenário urbano moderno”. Se 2 A definição do político para Irene Ramalho Santos é esta: “....naturalized structure of Western Society as it shapes and conditions people‟s lives, and as they are made to perceive and experience it, rather than the capacity to intervene in and change it for the better” (SANTOS, 2003, p. 222). A estudiosa afirma que a interrupção da visão poética pelo político é o processo que possibilita a realização material do poema moderno. 3 concordarmos com estes três critérios – a aceitação da posição desclassificada, a recusa da celebração da cultura a que pertence e a aceitação do cenário urbano moderno -, Baudelaire é de fato o primeiro poeta moderno. Entretanto, parece haver um critério mais amplo, dos quais os três citados derivam. Como procuramos indicar, a grossíssimo modo, a partir do discurso filosófico, na abertura deste artigo, a modernidade se estabelece como produto de rompimentos com estruturas do passado, rompimentos estes derivados de um processo de esclarecimento contínuo, que solaparam as bases religiosas das sociedades ocidentais. A partir do estabelecimento dessas rupturas, cuja culminação é a própria sociedade moderna, o poeta já não pode, tal como não o pode a própria sociedade moderna, recorrer a formas e experiências do passado como sustentáculo para sua própria experiência. Já no mais antigo programa sistemático do idealismo alemão, de fins do século XVIII, Schelling, Hegel e Hölderlin propõem confiar à arte a religião, para renová-la e garantir a totalidade ética que a religião tradicional já não conseguia garantir. Apesar da ambição idealista, logo abandonada por Hegel, o que se infere dessa empreitada poéticofilosófica é a falência de uma estrutura de crenças compartilhadas pela comunidade, que possa funcionar como espaço para a instalação da voz do poeta. Se Homero tinha atrás de si a selvagem mitologia grega, se Dante tinha atrás de si o sistema filosófico-religioso de Santo Tomás de Aquino, ou se mesmo Shakespeare, inserido num período de profunda crise espiritual na Europa (o período maneirista, segunda Hauser), tinha ainda atrás de si toda uma sustentação humanista, uma tradição clássica que abrangia tanto o nobre como o grotesco, que transparecem numa peça como Rei Lear, o poeta moderno é aquele que, por sua vez, não possui tradição que o ampare, que está desenraizado e deslocado, que deve construir uma mitologia própria. O poeta mais exemplar, nesse sentido, parece ser William Blake, que, estilhaçando a colossal empreitada judaico-cristã do Paraíso Perdido, de Milton, constrói, a partir desses fragmentos e de suas próprias percepções, uma nova e exótica mitologia (lamentada por Eliot, que jamais abandona a perspectiva cristã, e saudada por Yeats, outro criador de uma mitologia profundamente individual). Entretanto, é Wordsworth quem primeiro encarna por excelência esse dilema do poeta moderno, destituído de mitos, que precisa encontrar no mundo uma fonte de 4 significado que sacie a necessidade humana por significado. É este o tema de sua obra3. Toda a obra de Wordsworth, desde Tintern Abbey até o Prelude, configura um longo esforço do poeta para resolver contradições eternas da experiência humana, mas agora dentro de um contexto completamente novo, informado pela Revolução Francesa, que alterara todo o modo mental da Europa. Para isso, o poeta conta apenas com a própria mente e seu próprio poder imaginativo. O subtítulo de Prelude, que seria a abertura para Recluse, a última e inacabada obra de Wordsworth, é “growth of a poet’s mind”, e, no prefácio, de 1814, o poeta expressa “a determination to compose a philosophical Poem, containing views of Man, Nature, and Society”, bem como “examine how far Nature and Education had qualified him for such an employment”. Uma vez que o poeta está irremediavelmente destituído de uma tradição, ele deve recolher-se (Recluse é o título do poema por vir, que não veio de todo) dentro da própria mente e meditar sobre como a natureza e a cultura lhe qualificariam para a empreitada. Para expor de modo mais contundente o lastro dessa transformação, basta pensarmos no oposto imediato, em Homero, e em como seus poemas eram para os gregos a base da própria educação, como explica Curtius, no seu monumental Literatura Européia e Idade Média Latina. Curtius, ao traçar a tradição que informa a literatura européia, através do estudo dos topoi, ressalta uma continuidade que parte da literatura clássica, atravessa toda a Idade Média e alcança a Idade Moderna. O filólogo, entretanto, ressalta que tal continuidade só pode ser verificada até Goethe. Com a instauração das reflexões e da autoconsciência da modernidade, há uma ruptura. Nesse ponto, encontramos Wordsworth. Sem uma tradição, o que lhe autoriza enquanto poeta? A sua própria subjetividade? A partir desse momento, a arte transforma-se em reflexão sobre a arte. Em Wordsworth, as idéias dos pensadores de Iena se realizam profundamente. Sobre o grupo de Iena, Habermas explica: Friedrich Schlegel e Friedrich Schiller , em seus trabalhos Estudos de filosofia grega e (1797) e Poesia Ingênua e Sentimental (1796), atualizaram a questão da querelle francesa, destacaram a peculiaridade da poesia moderna e tomaram posição no dilema que se produzia quando era necessário conciliar o modelo da arte antiga, reconhecido pelos classicistas, com a superioridade da modernidade. Ambos descrevem de modo semelhante a diferença de estilo como uma oposição entre o 3 Esta questão é discutida de modo brilhante, à luz da poesia modernista de Wallace Stevens, por Lucy Beckett (1974). 5 objetivo e o interessante, a cultura natural e a artística, o ingênuo e o sentimental. Contrapõem à imitação da natureza dos clássicos, a arte moderna como um ato de liberdade e de reflexão. [...] Para o poeta reflexivo da modernidade, a perfeição da poesia ingênua tornou-se, de fato, inatingível; em vez disso, porém, a arte moderna aspira ao ideal de uma unidade mediada com a natureza, e isto é „infinitamente preferível‟ à meta que a arte antiga atingiu com a beleza da natureza imitada (HABERMAS, 2002). Hegel, na esteira do pensamento de Schiller, compreenderá a arte enquanto forma sensível em que o absoluto é apreendido através da intuição, ao passo que, na religião e na filosofia, o absoluto já se representaria. Desse modo, a arte clássica, mesmo com a sua vitória estética, ao cristalizar-se em modelo, não apresenta o potencial de abordagem do absoluto da arte romântica. Habermas, citando Hegel, conclui: „A forma artística clássica atingiu com efeito o ponto mais alto a que a sensibilização da arte é capaz de conduzir‟, falta, contudo, à sua ingenuidade a reflexão sobre a limitação da esfera artística enquanto tal, visivelmente saliente na tendência romântica à dissolução (HABERMAS, 2002). É essa “reflexão sobre a limitação da esfera artística enquanto tal”, ou seja, limitação da capacidade da linguagem de dar conta da experiência, que transparece já na obra de Wordsworth e que informará toda a poesia moderna. O objetivo aqui, no entanto, não é, está claro, defender Wordsworth como o primeiro poeta moderno (embora um crítico como Harold Bloom não hesite em afirmar que, com Wordsworth, encontramos algo completamente novo em poesia)4. A intenção por trás deste excurso era construir, ainda que apenas em esboço, o panorama filosófico e cultural em que, a partir deste ponto, procuraremos discutir as reações e os projetos de dois dos maiores poetas modernistas para esse estado de cisão na sociedade moderna que, um século depois dos esforços de Wordsworth, tornara-se ainda mais problemático. O cotejo dessas duas visões acerca da poesia no contexto das primeiras décadas do século XX deverá ajudar na compreensão desse período marcado por contradições cada vez mais sensíveis. 4 Bloom, Gênio, p.294 6 II J. Alfred Prufrock5 já viu tudo: as manhãs, as tardes, os entardeceres. Todos os argumentos lhe são entediantes. Conhece sobretudo os olhos que o fixam “in a formulated phrase” – é ele próprio o paciente anestesiado sobre a mesa, da abertura de sua canção de amor, a ser dissecado: “how his hair is growing thin!”. Assemelha-se ao Álvaro de Campos da primeira fase, antes de conhecer seu mestre Caeiro, o Álvaro de Campos anestesiado pelo ópio, na vida de bordo, que o a de matar, de quem se diz que sabe inglês perfeitamente. Campos também viu tudo: “Pertenço a um gênero de portugueses que depois de estar a Índia descoberta ficaram sem trabalho”. Atravessa essas duas personas modernistas o cansaço da civilização, a atmosfera decadentista que Nietzsche tão profundamente rejeitou. É com ironia e auto-depreciação que Prufrock comenta seu “necktie rich and modest”. Campos, cujo próprio monóculo o faz parecer “um tipo universal”, lança-se a viagens, mas desde sempre as sabe inúteis: “A terra é semelhante e pequenina”, logo “não vale a pena ter ido ao Oriente”, como, para Prufrock, também não valeria a pena “disturb the universe”. Antes deles, em “A Viagem”, Baudelaire escrevera: “Plonger au fond du gouffre, Enfer ou Ciel, qu'importe? Au fond de l'Inconnu pour trouver du nouveau !”. Também essa viagem ao fundo do desconhecido será desacreditada, e agora já no pleno espírito de experimentação estética do modernismo, por Rimbaud, na sua “Alchimie du verbe” – é com ironia que Rimbaud constrói, para recusar por fim (“Cela s'est passé”), o modo mental do poeta enquanto savant: Je rêvais croisades, voyages de découvertes dont on n'a pas de relations, républiques sans histoires, guerres de religion étouffées, révolutions de moeurs, déplacements de races et de continents : je croyais à tous les enchantements. [...] J'écrivais des silences, des nuits, je notais l'inexprimable. Je fixais des vertiges [...]. Nesta enumeração de visões, já se insinua a exaustão de que Prufrock (todo ele, mais que visões, revisões) e Campos são os correlatos objetivos6. Se Wordsworth, no seu 5 Neste momento do artigo, trabalharemos uma leitura comparada de Love Song of J.Alfred Prufrock, de T.S.Eliot, e Opiário, de Fernando Pessoa. 6 A expressão é de Eliot e é explicada no ensaio Hamlet. 7 esforço por significado, encontra, no espírito romântico de dispersão e comunhão com uma Natureza transformada pela imaginação criativa, ou o poder esemplástico de Coleridge, Prufrock e Campos experimentam no mundo natural não uma dispersão libertadora, mas antes uma auto-destruição desejada e nunca realizada: “sonhos que dessem cabo de mim e pregassem comigo nalgum lôdo”; “I should have been a pair of ragged claws scuttling across the floors of silent seas”. Atravessa-os, afinal, a sensação inútil de vida desperdiçada: “Nunca fiz mais do que fumar a vida”; “I have measured out my life with coffee spoons”. Nietzsche, em Crepúsculo dos Deuses, obra datada de 1888, coincidentemente o ano do nascimento de Eliot e de Pessoa, afirma que só conseguimos encontrar palavras para aquilo que em nossos corações já está morto. Tal reflexão aponta para um dos aspectos fundamentais do modernismo: a crise da linguagem. Como explica Richard Sheppard, em outro ensaio do clássico Modernismo 1890-1930, a idéia de uma crise da linguagem não é exclusiva do modernismo. De nossa parte, podemos lembrar a insatisfação de Hamlet, numa de suas citações mais recorrentes e sintéticas, pronunciada ao ser questionado por Polonius sobre o que estava a ler: “words, words, words”, responde o príncipe. A própria repetição enfadonha e desdenhosa sugere um desacordo entre linguagem e experiência, como se a linguagem se constituísse apenas de repetições previsíveis, que não dessem conta de exprimir o real, como se o real fosse sempre neutralizado na palavra, como se, seguindo Nietzsche, o real, ao ser expresso, já estivesse morto. A crise da linguagem, no entanto, é, num período de profunda diversidade como o período modernista, um aspecto comum, uma ansiedade generalizada, é a discussão por excelência da arte modernista (embora, como o vimos, também da arte moderna de modo mais geral), desde o gesto extremo de Duchamp, rompendo definitivamente com a tradição que, contradita ou remodelada, ainda informava a obra de um Picasso, até a música de John Cage ou a página branca de Mallarmé. Sobre essa crise, Richard Sheppard escreve: Essa sensação esmagadora da iminência da esterilização lingüística e da morte da imaginação é um aspecto de um problema sociocultural muito mais amplo: a substituição de uma ordem aristocrática, semifeudal, humanista e agrária por uma ordem de classe média, democrática, mecanicista e urbana. A transição [...] representava para esses poetas o abandono de uma ordem cuja linguagem era poeticamente manipulável, 8 cujas estruturas eram espaçosas e globais, cujas formas impressionavam em sua aparente permanência e arraigamento (SHEPPARD, 1989, p. 255). É, portanto, parte do estado de cisão que, desde a primeira crítica à modernidade, a de Hegel, é debatido, ora com fins a resolvê-lo, ora com fins a abandoná-lo por completo, mas que, no período modernista propriamente dito, alcança, muito através da arte e da teorização dos próprios artistas, o ápice de sua problematização. Em “The Love Song of J. Alfred Prufrock”, a crise da linguagem instaura-se, para usar os termos de outro poema de Eliot, no espaço entre a potência e a existência. Prufrock gira de modo labiríntico ao redor de uma questão que jamais é pronunciada (“oh, but do not ask „what is it‟”). Eliot desgostava do termo poesia lírica, preferia classificar sua própria poesia como poesia meditativa, o que abarcaria muito da poesia escrita por Pessoa. No seu último grande esforço, os “Four Quartets”, encontramos poesia meditativa – um longo monólogo reflexivo sobre o tempo. Mas “Prufrock” não se trata de uma meditação, no sentido de que um poema como “Among School Children”, de Yeats, é uma meditação. Esta persona eliotiana mal chega a ser uma persona de fato: não tem contorno delimitado – é a lírica a representar o fluxo de consciência, a revery, que marcará o experimento modernista de Joyce e Woolf. O eu do poema é apenas uma função, um motivo, um ponto de recomeço, diante da mesma questão impronunciada. Mas, se fôssemos desobedientes, perguntaríamos: que questão é essa? Arrisco-me a supor que seja: como harmonizar potência e existência, linguagem e experiência? Depois de vários recomeços hesitantes (“and how should I begin?”), o hamletiano Prufrock, hamletiano no fato de ser uma personagem que adia o trágico e instaura a reflexão, como Hamlet o é durante a maior parte da peça de Shakespeare, conduz o momento para uma crise: After the sunsets and the dooryards and the sprinkled streets, After the novels, after the teacups, after the skirts that trail along the floor And this, and so much more? It is impossible to say just what I mean! But as if a magic lantern threw the nerves in patterns on a screen Aqui encontramos uma imagem ou, seguindo Eliot, um correlato objetivo eficiente para expressar poeticamente a crise da linguagem de que falamos. Esta “canção de amor” (a crise sugerida na própria falta de sincronia entre o gênero de canção que o poema pretende ser e o conteúdo do próprio poema) é publicada pela primeira vez em 1915. A Grande 9 Guerra em andamento. Se a crise já era sentida, depois da experiência de devastação da Europa, a realização mais macabra do projeto da modernidade, bem como a expressão mais contundente de seu suposto fracasso, a linguagem do passado já não era capaz de dar conta de comunicar a experiência contemporânea. É impossível dizer exatamente o que ele quer dizer, nos fala Prufrock: seria preciso que uma lanterna mágica projetasse numa tela a constelação de nervos. Eis uma imagem que comunicaria algo (imagem, aliás, que compartilharia muito com as pinturas surrealistas). Para o poeta modernista, a poesia, como o próprio Eliot afirma, precisa ser difícil7, e assim é porque já não pode falar diretamente, já não pode referir-se comodamente a uma Tradição ou a uma Verdade, nem mesmo um poeta como Eliot, cuja poesia já foi bastante lida como um processo de conversão ao cristianismo. Mas, para Eliot, a fé é inseparável da dúvida, idéia muito bem realizada no poema “The Journey of the Magi”. À luz da intensificação dessa crise, é possível compreender melhor o fenômeno da impessoalidade na poesia moderna, o progressivo desaparecimento do eu que, em Wordsworth, ainda constituía o centro do poema. Na poesia de Eliot, este desaparecimento do eu constitui-se na própria organização do poema. Em “The Waste Land”, o leitor depara-se com uma sucessão de imagens urbanas que pretendem simular uma ordem simultânea, através de uma linguagem encantatória que recupera vozes do corpus da tradição, forçando-as a comunicarem sob a pressão do panorama contemporâneo. A mente do poeta parece agir, como o próprio Eliot teoriza no célebre ensaio “Tradição e Talento Individual”, como um catalisador, um meio onde esses fragmentos se agrupam num todo sem centro (em Pessoa, o descentramento do sujeito é dramatizado para além do texto, na explosão heteronímica). Nos “Four Quartets”, entretanto, o eu é reabilitado. Malgrado o levante modernista, que Eliot protagonizara ao lado de Pound, contra a estética romântica – os mandamentos imagistas de Pound, por exemplo, constituíam uma poética simetricamente avessa à poética romântica –, Eliot retoma num poema de longo fôlego o tom meditativo, que, embora utilize-se de técnicas propriamente modernistas – a justaposição de tempos e espaços, a fantasmagoria urbana, a citação e a paródia –, remonta à tradição reflexiva de Wordsworth. Em “Little Gidding”, o último quarteto, o eu lírico, entre as ruas bombardeadas de Londres, durante a Segunda Guerra Mundial, encontra um 7 Ver o ensaio Os Poetas Metafísicos. 10 “familiar compound ghost”, o próprio fantasma da Tradição, que, para Eliot, jamais significava uma cultura morta, mas que, pelo contrário, constituía um organismo vivo, sempre em comércio com o presente. No final do diálogo, o fantasma diz: And last, the rending pain of re-enactment Of all that you have done, and been; the shame Of motives late revealed, and the awareness Of things ill done and done to others' harm Which once you took for exercise of virtue. Then fools' approval stings, and honour stains. From wrong to wrong the exasperated spirit Proceeds, unless restored by that refining fire Where you must move in measure, like a dancer. Este espírito exasperado, que prossegue, de erro em erro, por um momento nos recorda a figura hesitante e andarilha de Prufrock. Prufrock, no entanto, não suporta o peso da questão exasperadora, e esquiva-se dela a todo tempo, entre mulheres que vão e vêm, a falar de Michelangelo. A questão que sugerimos, como harmonizar linguagem e experiência, não encontra resposta fácil. Passa, entretanto, por uma síntese de contradições: “you must move in measure, like a dancer” (verso que ecoa imagens de Yeats, outro poeta moderno que procurou essa síntese entre Ideal e Real). Mas passa também pela memória e pelo fracasso. Se Prufrock é uma sucessão de revisões, de interrupções e de adiamentos, nos “Four Quartets”, o eu lírico já não se paralisa diante da repetição. Pelo contrário, encontra o valor da repetição, digamos, a ousadia e a necessidade da repetição: You say I am repeating Something I have said before. I shall say it again. Que, por sua vez, relaciona-se com o valor do fracasso: every attempt Is a wholly new start, and a different kind of failure Because one has only learnt to get the better of words For the thing one no longer has to say, or the way in which One is no longer disposed to say it. And so each venture Is a new beginning, a raid on the inarticulate With shabby equipment always deteriorating In the general mess of imprecision of feeling Este trecho sintetiza de modo exemplar o complexo conflito que informa a crise da linguagem, a dissociação entre experiência e expressão. No entanto, o pessimismo 11 decadentista de Prufrock é abandonado. Agora o fracasso é experimentado como jornada sempre renovada. E, nessa jornada, a poesia precisa sempre se transformar, para resistir, como o sugere Jean-Luc Nancy (2005), para se reinventar, para continuar sendo possível dentro do político, para, como queria Schlegel, “realmente comunicar”, não apenas exprimir um eu, mas compartilhar a experiência através da linguagem. Para Eliot, o jogo lúdico com os significantes, o jogo do pós-estruturalismo, seria impensável. Como Nancy, Eliot postula a dificuldade de alcançar o significado, não a ausência dele. Trata-se, afinal, de uma resistência, não de uma desistência. III T.S.Eliot e Fernando Pessoa parecem partir, portanto, na década de dez, do mesmo ponto. Pessoa viveu anos decisivos para sua formação cultural na África do Sul, quando este país integrava o império britânico. Teve, portanto, uma educação vitoriana, compartilhando, assim, com Eliot, a mesma tradição literária anglo-americana. Em termos de estratégia discursiva, Pessoa e o primeiro Eliot (antes de “The Waste Land”), têm atrás de si o mesmo precursor, Robert Browning, que aperfeiçoara a técnica do monólogo dramático8. As visões interpretativas do mundo, entretanto, parecem opostas. Diante do anúncio bélico de Nietzsche acerca da morte de Deus, Eliot e Pessoa alojam-se em trincheiras antagônicas. Eliot jamais abandona a perspectiva cristã. Sua própria crítica tende a valorizar autores cujas obras não são passíveis de serem deslocadas dessa perspectiva. É o caso, por exemplo, de sua avaliação de Baudelaire, em cuja obra Eliot ressalta a preocupação com o Pecado Original e a Queda. Para Pessoa, entretanto, a tradição cristã parece por vezes representar um esgotamento. Através da obra poética de um Caeiro ou de um Ricardo Reis ou dos textos críticos de Antônio Mora, Pessoa aponta para um renascimento do paganismo, um paganismo, que, entretanto, é preciso ser compreendido dentro do contexto que discutimos anteriormente, em que o poeta é forçado a criar uma mitologia pessoal. Por outro lado, ainda, na obra do Ortônimo encontramos o elemento cristão. Mas nessa própria recusa de uma Verdade ao redor do qual toda sua obra gire é 8 George Monteiro analisa a influência de Browning na obra pessoana, de modo brilhante, no estudo Fernando Pessoa and 19th century anglo-american literature (2000). 12 expressivo do caráter moderno da poesia de Pessoa. Sua experiência literária parece representar o estar no mundo do homem que já não se enxerga como essência, mas como fenômeno e, enquanto tal, cambiável, descentrado. Por outro lado, é uma síntese dos problemas e das supostas soluções para o que era sentido como o impasse da modernidade e, enquanto obra, enquanto projeto, parece ter seu centro na figura do mestre Caeiro. José Guilherme Merquior, de passagem, no seu clássico A Astúcia da Mimese, sugere que o silêncio na obra de Mallarmé representa o estágio ontológico original da palavra e que, nesse sentido, as obras de um Rilke ou de um Valérie seriam manifestações particulares, como que instâncias manchadas dessa palavra pura. A obra de Caeiro, dentro do projeto de Pessoa, e por outra estratégia, parece ter essa centralidade que a poesia de Mallarmé representa para certa tradição da poesia moderna. Se pensarmos na crise da linguagem de que falamos, à luz da tradição poética anglo-americana, que informa a obra de Pessoa, temos, como sugerido, de retornar ao Romantismo. No Romantismo, o conflito entre linguagem e experiência se intensifica9. É o tema central de um dos poemas canônicos do Alto Romantismo inglês, a “Ode to a Nightingale”, de Keats. Neste poema, como explica Pinsky, Keats dramatiza o conflito entre um impulso do eu que, a exemplo do rouxinol, cuja pureza do canto jamais é violada pelo significado, deseja misturar-se à natureza, e a consciência de que tal dispersão implica morte, desaparecimento. O eu lírico de Keats é marcado por essa contradição, esta autoconsciência que, mais tarde, será também o tema do poema de Pessoa sobre a ceifeira que canta no campo: Ah, canta, canta sem razão! O que em mim sente 'stá pensando. Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando! Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência, E a consciência disso! Ó céu! Ó campo! Ó canção! A ciência pesa tanto e a vida é tão breve! Entrai por mim dentro! Tornai 9 9 Sobre esse tema, é valiosa a leitura do capítulo “The Romantic Persistence”, do livro The Situation of Poetry (1978), de Robert Pinsky. 13 Minha alma a vossa sombra leve! Depois, levando-me, passai! Este conflito, presente na obra de Keats e Pessoa, pressupõe a nostalgia ilusória por uma conformidade entre homem e natureza, um estágio primordial em que a consciência humana não aparta o indivíduo do natural, onde a mente não representa uma prisão em que o sujeito se encerra. A obra de Caeiro parece representar essa instância inaugural, esse momento anterior ao conflito. Nesse sentido, é ele o Mestre, a consciência naturalizada, o eu posto em acordo com o mundo, um acordo radical, tautológico, ao passo que os demais heterônimos e o próprio Pessoa são instâncias secundárias, onde a concordância fora rompida e passa a operar enquanto impulso subjacente seja na poética eletrificada de Campos (que, na ficção pessoana, depois do ópio, conhece Caeiro e descobre um novo misticismo, o misticismo das sensações) ou na plácida meditação à beira do rio de Ricardo Reis. E, no entanto, mesmo o Mestre tem seu estado de concordância ameaçado pelo político, a pressão da realidade: XLIV Acordo de noite subitamente. E o meu relógio ocupa a noite toda. Não sinto a Natureza lá fora, O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas. Lá fora há um sossego como se nada existisse. Só o relógio prossegue o seu ruído. E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa Abafa toda a existência da terra e do céu... Quase que me perco a pensar o que isto significa, Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca, Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa É a curiosa sensação de encher a noite enorme Com a sua pequenez... Aqui encontramos o Mestre subitamente deslocado, empurrado de volta para o político a estrutura naturalizada da sociedade ocidental, simbolizada no relógio que abafa toda a realidade, “a existência da terra e do céu”. Uma vez dentro do político, a linguagem, o impulso lingüístico de produção contínua de significados que preencham o mundo, é experienciada como um impulso perigoso, cujo fluxo é labiríntico: “Quase que me perco a pensar o que isto significa”. A este fluxo, Caeiro contrapõe sua filosofia estática, em cada 14 coisa é ela própria, onde o devir não se estabelece: “Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca”. Caeiro é uma voz poética que ocupa, portanto, uma posição única não apenas dentro do universo pessoano, mas também dentro da poesia moderna como um todo. Wordsworth ou Keats, Baudelaire ou Rimbaud, Yeats ou Eliot, todos enunciam de dentro do político, vislumbrando o poético para além do político ou no próprio político. Caeiro, por sua vez, está numa posição inversa: por mais anti-poético, em termos estéticos, que se revele, por uma perspectiva filosófica, está imerso no poético, não compreendido apenas como natureza, mas como percepção poética da natureza e da realidade, fora do político, o que, entretanto, já não implica a totalidade desejada pela visão poética do Romantismo, mas uma ciência da realidade de cada coisa, do que Wallace Stevens, no poema “The Man with the Blue Guitar”, chama de “things as they are”: Vi que não há Natureza, Que Natureza não existe, Que há montes, vales, planícies, Que há árvores, flores, ervas, Que há rios e pedras, Mas que não há um todo a que isso pertença, Que um conjunto real e verdadeiro É uma doença das nossas idéias. Caeiro rompe, portanto, tanto com o político quanto com o modo de percepção do poético da tradição romântica. É sempre de dentro do poético visitado pelo político, o que lhe coloca numa posição absolutamente particular na poesia moderna. Não por acaso não se trata de um poeta de carne e osso, mas de uma ficção, de uma voz poética central no jogo de espelhos da obra de Pessoa. Talvez também não por acaso Pessoa faça Caeiro morrer tão cedo, em 1915, como que confirmando a intuição sombria de Keats no poema sobre o rouxinol, em que a passagem para fora do político implica necessariamente dissolução, morte, desistência. Parece ser a mensagem irônica de Pessoa e seu modo cético de dispensar qualquer ilusão poética. É também prenúncio da Mensagem futura, o esforço épico-elegíaco de Pessoa para revisitar a tradição e, como Eliot, forçá-la a comunicar novamente, para a nova geração de portugueses, uma geração de Álvaros e Ricardos e Bernardos, alheados do mundo e deles próprios. 15 Referências bibliográficas: BAUDELAIRE, Charles. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. BECKETT, LUCY. Wallace Stevens. Cambridge: University Press, 1974. BLOOM, Harold. Gênio. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. 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