FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA Programa de Pós

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FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós Graduação em Clínica e Reprodução Animal
INGRID CATARINA MARTINS CAVALCANTE
A PERCEPÇÃO DO PROPRIETÁRIO EM RELAÇÃO À QUALIDADE DE VIDA DE
CÃES COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Rio de Janeiro, 2014
1
INGRID CATARINA MARTINS CAVALCANTE
A PERCEPÇÃO DO PROPRIETÁRIO EM RELAÇÃO À QUALIDADE DE VIDA DE
CÃES COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Dissertação apresentada ao Programa
de
Pós
Graduação
em
Medicina
Veterinária, da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre. Área de
concentração: Clínica e Reprodução
Animal.
ORIENTADORA: PROF.ª DR.ª RITA LEAL PAIXÃO
RIO DE JANEIRO
2014
2
INGRID CATARINA MARTINS CAVALCANTE
A PERCEPÇÃO DO PROPRIETÁRIO EM RELAÇÃO À QUALIDADE DE VIDA DE
CÃES COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Dissertação
apresentada
ao
Programa de Pós Graduação em
Medicina Veterinária, da Universidade
Federal Fluminense como requisito
parcial para obtenção do grau de
Mestre. Área de concentração: Clínica
e Reprodução Animal.
Apresentada em 14 de fevereiro de 2014.
BANCA EXAMINADORA
PROF.ª DR.ª ANA SOARES - UFF
PROF. DR. JONIMAR PEREIRA PAIVA- UFRRJ
PROF.ª DR.ª RITA LEAL PAIXÃO – UFF
NITERÓI
2014
3
Dedico esta dissertação e grande parte
da minha vida, à medicina veterinária,
esta ciência linda que une seres vivos
independente de espécie ou evolução
cerebral,
que
comunicação
faz
mais
do
olhar
eficiente
a
com
nossos pacientes e do abanar de um
rabo a recompensa mais desejada
depois de muito trabalho.
4
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora Professora Doutora Rita leal Paixão por sua generosidade com
o ensino, por acreditar e motivar meus projetos, uma profissional ética,
comprometida e incrivelmente competente, uma mulher admirável com tantas
funções e atributos.
A Universidade Federal Fluminense pela oportunidade de compartilhar de seus
grandes e generosos mestres, a professora Nádia Almosny, ao professor Walter
Lilenbaum, e ao professor Zander. Cada ensinamento constrói o profissional, mas
principalmente o ser humano.
Ao meu marido João Victor por entender tantas ausências, por ser um grande
motivador e a pessoa que melhor representa o sentido de companheiro.
Aos meus pais Catarina e Herbert por serem o grande pilar da minha vida, um porto
seguro, a motivação, a compreensão, essência da minha personalidade.
A minha querida irmã por todo amor incondicional, por sempre vibrar junto.
A todos os animais que passaram por minha vida profissional e pessoal, que me
deixaram ensinamentos que humano algum seria capaz de dar, mas em especial á
Dino por ouvir todos os meus ensaios de aulas, e por ter passado todo o período de
desenvolvimento deste trabalho deitado em meus pés.
Desde criança, a fragilidade dos animais me comove, eu me sentia responsável pela
proteção, queria cuidar de cada cachorro magrelo, a veterinária já morava em mim....
Hoje o exercício de minha profissão me faz muito feliz e apesar do passar de tanto
tempo ainda tenho o mesmo sentimento de proteção e comoção em relação a todos
os animais...
Obrigada a todos que tornam esta felicidade possível!
5
“Mas é preciso ter manha,
É preciso ter graça,
É preciso ter sonho sempre.
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida..
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo essa marca
Mistura a dor e a alegria...”
6
RESUMO
O interesse pela qualidade de vida dos animais de companhia vem
aumentando nas ultimas décadas, principalmente no caso daqueles que convivem
com doenças crônicas, que geram limitações para o animal, e que trazem alterações
na rotina de seus responsáveis. A perda da função visual é uma condição limitante
importante, uma vez que a visão é considerada grande promotora da integração do
individuo, sua perda diminui a capacidade de adaptação ao ambiente. Até o
momento a literatura veterinária é escassa neste âmbito. A partir deste contexto, o
presente trabalho procurou compreender a percepção da qualidade de vida por parte
dos proprietários de cães com deficiência visual. Neste estudo 61,29% classificaram
seus animais com qualidade de vida boa ou muito boa, no entanto quando
questionados sobre o estado atual em relação ao período anterior à deficiência
visual, 51,62% disseram que os animais estavam piores ou muito piores, o que
sinaliza a percepção por parte dos proprietários, de um decréscimo na qualidade de
vida destes animais. Constatou-se também uma parcela considerável de animais
inativos e com baixa oportunidade para passeios e brincadeiras. A concepção dos
responsáveis pelos cães, é de grande valor já que a maneira como os mesmos
interferem na rotina do animal, pode trazer benefícios ou prejuízos. Conhecendo
esta percepção, o médico veterinário poderá orientar adequadamente promovendo
melhorias na qualidade de vida destes animais.
PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida, cães, deficiência visual, percepção do
proprietário.
7
ABSTRACT
The interest about the quality of life for companion animals has increased in recent
decades, especially for those who live with chronic diseases, that lead to limitations
to the animal, and bring changes in the routine of their guardians. The loss of visual
function is an important limiting condition, since the vision is considered great
promoter of the integration of the individual, their loss diminishes the ability to adapt
in society. By the time the veterinary literature is sparse in this area. From this
context, the present study sought to understand the perception of quality of life for
the owners of dogs with visual disabilities. In this study 61,29% rated their animals
life quality with good or very good life, however when asked about the current state
compared to the previous period to visual impairment, 51,62% said that the animals
were worse or much worse, which signals in owners perception, a decrease in the
quality of life of these animals. It was found also a considerable portion of inactive
animals and with low opportunity for rides and games. The conception of the dogs
owners, is great valuable as the way they interfere in the routine of the animal, can
bring benefits or harm. Knowing this perception, the veterinarian can properly
orientate promoting improvements in quality of life of these animals.
KEY-WORDS: Quality of life, dogs, visual impairment, owner perception.
8
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES, p. 10
LISTA DE TABELAS, p. 12
1 INTRODUÇÃO, p.13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, p. 14
2.1 Relação Homem x Animal, p.14
2.2 Qualidade de Vida e suas definições, p. 16
2.3 Instrumentos de Avaliação, p.18
2.4 Qualidade de Vida nas Doenças Crônicas, p. 21
2.5 O comportamento, p.22
2.6 O apetite, p.25
2.7 A visão, p.26
2.8 A dor, p.28
3 OBJETIVOS GERAIS, p. 31
3.1 Objetivos Específicos, p. 31
4 MATERIAL E MÉTODO, p. 32
4.1 Critérios de Inclusão e Exclusão, p. 32
4.2 Local, p.33
4.3 Coleta de dados, p.33
4.3.1 Utilizando Questionário, p. 33
4.3.2 Avaliação direta do Animal, p. 33
4.3.2.1 Índice de condição corporal, p. 34
4.3.2.2 Indicadores “Índole” e “Estado de Tranquilidade”, p.36
5 RESULTADOS, p.37
5.1 Perfil dos Animais, p.37
5.2 Perfil dos Proprietários, p.38
5.3 Observações do Pesquisador, p. 40
5.4 Relação Proprietário X Animal, p. 42
5.5 Estado geral em relação à visão, p. 45
5.6 Percepção do Proprietário, p. 49
6 DISCUSSÃO, p. 53
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 61
9
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 63
9 APÊNDICES, p. 70
9.1Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, p. 70
9.2 Questionário, p. 71
10 ANEXOS, p. 78
10.1 Declaração do comitê de ética, p. 78
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 – Distribuição dos cães de acordo com o sexo e o estado reprodutivo, f. 37
Gráfico 2 – Disposição dos cães de acordo com a raça, f. 37
Gráfico 3 – Representação dos responsáveis de acordo com o sexo, f. 38
Gráfico 4 – Distribuição dos responsáveis de acordo com o estado civil, f. 38
Gráfico 5 – Disposição dos responsáveis conforme o nível de escolaridade, f. 39
Gráfico 6 - Representação do tipo domiciliar habitado pelos cães, f. 39
Gráfico 7 – Disposição das famílias segundo o número de componentes, f. 40
Gráfico 8 - Escore corporal dos cães segundo a escala de Laflamme, f. 40
Gráfico 9 – Avaliação dos cães através dos indicadores índole e estado de
tranquilidade, f. 41
Gráfico 10 – Disposição dos animais de acordo com o acesso as dependências
internas da casa, f. 42
Gráfico 11 – Representação dos cães avaliados em relação ao tipo de dieta
oferecida, f. 42
Gráfico 12 – Distribuição dos cães segundo a frequência anual de visitas ao
veterinário, f. 43
Gráfico 13 – Representação da frequência de passeios e brincadeiras na rotina dos
animais avaliados, f. 44
Gráfico 14 – Disposição dos cães em conformidade com a presença de outros
animais no mesmo domicílio, f. 44
Gráfico 15 – Representação do nível de atividade dos cães segundo a classificação
de seus responsáveis, f. 45
Gráfico 16 – Percepção dos responsáveis em relação ao apetite dos cães,
comparativo ao período anterior do aparecimento dos sinais clínicos da deficiência
visual, f. 45
Gráfico 17 – Representação da reação á estímulos dos cães avaliados, em relação
ao período anterior dos sinais clínicos de deficiência visual, f. 46
Gráfico 18 – Percepção dos responsáveis em relação à presença de sinais de
ansiedade nos cães avaliados, f. 46
11
Gráfico 19 – Representação dos cães avaliados de acordo com o grau de interação
atual do animal com pessoas, comporativo ao período anterior ao aparecimento dos
sinais de deficiência visual, f. 47
Gráfico 20 – Percepção dos responsáveis em relação a possibilidade do cão de
interagir com outros animais, f. 47
Gráfico 21 – Representação da influência da deficiência visual nas atividades
desempenhadas pelos cães avaliados, f. 48
Gráfico 22 – Representação da demonstração de incomodo ao tratamento oftálmico,
f. 48
Gráfico 23 – Disposição da preocupação com a visão do cão versus o desejo do
proprietário em gastar o tempo de cuidados oftálmicos com outras atividades, f. 49
Gráfico 24 – Representação do tempo que os proprietários dedicam aos cuidados
com os olhos do cão, f. 50
Gráfico 25 – Representação da avaliação dos responsáveis em relação à QdV atual
do cão, f. 50
Gráfico 26 – Distribuição do estado atual dos cães avaliados, em relação ao
momento em que o animal ficou cego, f. 51
Gráfico 27 – Representação da frequência de dificuldades para aplicar o tratamento
oftálmico por parte dos responsáveis dos cães avaliados, f. 51
Gráfico 28 – Percepção dos responsáveis em relação ao tratamento do ponto de
vista financeiro, f. 52
Gráfico 29 – Percepção dos responsáveis segundo a frequência que o animal sente
dor em decorrência do problema oftálmico, f. 52
Gráfico 30 – Representação dos ensejos para brincadeira e passeios versus nível de
atividade dos cães avaliados, f. 57
Gráfico 31 – Representação da QdV atual do cão versus o estado atual em relação
ao momento anterior ao aparecimento dos sinais de deficiência visual, f. 60
Quadro 1 - Índice de condição corporal para caninos, proposta por Laflamme (1997),
f. 34
Fig. 1 – Ilustração do escore corporal canino, f. 35
12
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Representação das famílias que possuem crianças ou adolescentes
em sua constituição, f. 59
TABELA 2 - Animais classificados por seus proprietários com qualidade de vida má
ou muito má, f. 56
TABELA 3 - Cães avaliados que apresentavam glaucoma como causa da
deficiência visual, f. 57
TABELA 4 - Cães classificados por seus responsáveis como inaptos para a
interação com outros animais, f. 58
TABELA 5 - Animais que não conseguem se alimentar sozinhos, f. 60
13
1 INTRODUÇÃO
No decorrer das últimas décadas a relação do homem com seus animais de
estimação passou por significativas mudanças, o número de animais nos domicílios
aumentou e os laços entre os humanos e os animais domésticos ficaram mais
estreitos. O desenvolvimento desta nova relação entre o ser humano e o animal de
companhia ocorre em conjunto com uma mudança comportamental da própria
sociedade, que passou a ter um menor número de filhos e mais recursos em geral.
Uma das características da espécie canina que favorecem o vínculo com o
ser humano é a interação social e o uso de mecanismos de comunicação. Portanto a
espécie canina e o ser humano se desenvolvem na interação com demais
componentes de seu meio ambiente social. Assim, o cão adquiriu um importante
papel na sociedade contemporânea, sendo foco de fortes vínculos afetivos.
(ALTHAUSEN, 2006).
Neste cenário a medicina veterinária também vem se modificando, as
pesquisas na área de bem-estar animal trazem à tona a preocupação com a
qualidade de vida dos animais, principalmente aqueles que convivem com limitações
e doenças crônicas. Com isso faz-se necessário conhecer as implicações causadas
pelas enfermidades na rotina dos animais e consequentemente na rotina daqueles
que os cercam.
Doenças oftálmicas são frequentes na clínica veterinária, podem acometer
cães de qualquer raça, idade ou sexo. A visão é considerada à grande promotora da
integração do indivíduo em atividades motoras, perceptivas e mentais e a perda da
mesma pode provocar marcantes alterações, diminuindo sua capacidade de
adaptação na sociedade (LUCAS, et.al, 2003).
Apesar dos avanços nas pesquisas de bem-estar animal e na oftalmologia
veterinária, constata-se até o momento uma grande lacuna na literatura
correlacionando estes dois importantes temas.
Esta pesquisa dedicou-se a conhecer a perspectiva do proprietário quanto à
qualidade de vida do seu cão portador de deficiência visual. Visto que, apesar do
aconselhamento veterinário, este é diretamente responsável por tomadas de
decisão, e a melhor orientação poderá promover alterações na rotina dos animais
minimizando a perda de qualidade de vida apesar da deficiência visual.
14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As doenças que levam à perda visual nos cães têm papel importante na vida
dos humanos. Seja pelo fato de poderem ser estudados como modelo para
deficiências humanas, como também por interferirem na rotina dos animais usados
como cães de trabalho e de companhia (PETERSON-JONES et. al,. 2006).
Conhecer a perspectiva do proprietário quanto à qualidade de vida (QdV) do
seu cão é de suma importância visto que, apesar do aconselhamento veterinário,
este é diretamente responsável por tomadas de decisão, como por exemplo: se vai
iniciar o tratamento, se segue as indicações do seu veterinário, se o tratamento não
deve ser continuado ou se deve realizar uma eutanásia (MIGALHAS, 2012).
A avaliação de qualidade de vida vem crescendo em importância como medida
na verificação de intervenções terapêuticas, de serviços e da prática assistencial
cotidiana na área da saúde. Tem sido considerada importante indicador devido ao
impacto físico e psicossocial que enfermidades, disfunções ou incapacidades podem
acarretar para os indivíduos acometidos. A melhoria da qualidade de vida passou a
ser um dos resultados esperados das práticas assistenciais e das políticas públicas
para o setor no campo da promoção da saúde (BITTENCOURT, 2004).
Esta é uma área de conhecimento recente e ainda pouco explorada no campo
da medicina veterinária, onde ainda existem poucas ferramentas e as que existem
são, na sua maioria, bastante simples (YEATES, MAIN, 2009), não havendo,
nenhum padrão-ouro para a sua avaliação (TAYLOR, MILLS, 2007).
2.1 Relação Homen X Animal
Os animais de estimação desempenham inúmeros papéis para o individuo, no
círculo familiar ou num contexto social mais amplo, representam uma fonte de apego
e afeto. Entre os muitos papéis representados pelos animais estão: cão de caça,
guarda, pastores de rebanhos, no trabalho policial, guia de portadores de
necessidades especiais e outros papéis, ainda objetos de estudos e discussões
(SERPEL, 1993).
15
Segundo Honey Niehaus, diretora da American Animal Hospital Association,
sete entre dez americanos pensam em seus animais de estimação como filhos
(PONTES, et.al., 2003).
De acordo com dados apurados pela Associação Brasileira da Indústria de
Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), em 2012 a população de animais
de estimação em todo o mundo chegou a 1,51 bilhão. Desses, 288,2 milhões estão
na China, a primeira colocada. O Brasil é o quarto país no quadro geral desde 2008,
com 106,2 milhões de pets, atrás dos Estados Unidos e Reino Unido. No entanto,
está em segundo lugar quando se trata de cães e gatos (37,1 milhões e 21,3
milhões respectivamente), somente atrás dos Estados Unidos. (ABINPET, 2012)
Os benefícios desta interação para os humanos ocorrem no âmbito psicológico
e emocional do indivíduo. A maioria dos proprietários de cães e gatos afirmam que a
qualidade de vida melhorou após a introdução dos animais de estimação, sendo
observado também, uma diminuição das tensões entre os membros da família
(BARVER, 1998).
Para os animais, a interação social e o companheirismo parecem estar
associados com sentimentos agradáveis, e separação e isolamento são associados
a sensações desagradáveis. Juntos, esses fortes sentimentos promovem as
relações sociais e, dependendo de qual sentimento está ativado, têm o potencial
para aumentar ou diminuir a QdV (MCMILLAN, 2003).
Para os animais considera-se adequado o contato humano, que pode ser
benéfico durante todas as fases do processo de doenças e deve tornar-se parte da
rotina de planos de tratamento em hospitais veterinários (MCMILLAN, 1999).
Com esta relação tão estreita no ambiente familiar, ficou ainda mais difícil
definir padrões de bem-estar para animais de companhia, por serem frequentemente
tratados e interpretados como seres humanos (SOARES, et.al., 2010).
Atualmente nos Estados Unidos 72,9 milhões (62% dos domicílios) possuem
um animal de estimação, dos quais 46,3 milhões têm um cão e 38,9 milhões tem um
gato. Além disso, 52% dos adultos com 62 anos ou mais têm pelo menos um animal
de estimação. Com mais da metade dos idosos coabitando com um animal de
16
estimação, pode-se considerar que o animal tem seus benefícios para a população
idosa. Os animais podem atuar como terapeutas, catalisadores sociais, e
companheiros, podem ajudar a diminuir sentimentos de solidão e depressão,
também proporcionam uma sensação de conforto. Idosos proprietários de animais
fazem menos visitas a médicos e, se hospitalizados, passam menos dias em um
ambiente de cuidados intensivos. (KRAUSE-PARELLO, 2012)
O estado de saúde pode limitar a capacidade do animal de obter prazer
impossibilitando-o de fazer algo, ou de diminuir a sua qualidade de vida
indiretamente, uma vez que trazendo um incomodo ao proprietário, o mesmo pode
alterar seu comportamento para com o seu animal (MCMILLAN, 2005).
Na prática clinica, uma avaliação da qualidade de vida apresenta grandes
benefícios. Esta avaliação poderá despertar nos proprietários aspectos relevantes
da qualidade de vida do seu animal, o que poderá resultar numa tentativa de corrigir
ou melhorar a rotina dos mesmos. Deste modo uma avaliação da qualidade de vida
poderá melhorar o conhecimento do proprietário em relação a certos aspectos da
vida do seu animal e levar à uma reflexão acerca dos mesmos, o que poderá
resultar na sua melhoria( MCMILLAN, 2003).
2.2 Qualidade de Vida e suas definições
Nas últimas três décadas o interesse pelo bem-estar animal aumentou
significativamente (PAIXÃO, 2001), um construto complexo que envolve aspectos
objetivos e subjetivos das condições de vida dos animais (SCOTT, et. al., 2003).
Bem-estar estaria relacionado à capacidade e condição individual de um ser
vivo em enfrentar e se posicionar no seu ambiente, incluindo suas atitudes e os
sentimentos relacionados a esse enfrentamento. Desta maneira não é o ser humano
que fornece bem-estar ao animal, o mesmo é inerente à relação animal habitat. No
entanto, o bem-estar de uma espécie pode melhorar em decorrência de algo que lhe
foi fornecido, mas este algo não é por si só, bem-estar (BROOM, 1996).
Na definição de Hurnik (1992), bem-estar seria o estado de harmonia
caracterizado por condições físicas e fisiológicas ótimas. A partir desta definição
agrega-se o termo “qualidade de vida” (HOLANDA, 2006).
17
Em humanos qualidade de vida (QdV) é associado à inúmeras condições,
envolve o bem espiritual, físico, mental, psicológico e emocional, considera os
relacionamentos sociais, família e amigos e também a saúde, educação, habitação,
saneamento básico. Nota se que é um termo muito extenso e está intimamente
relacionado
com
bem-estar
psicológico,
felicidade,
satisfação
de
vida,
e
contentamento. Também refere-se à quão bem as pessoas desempenham suas
funções diariamente e a autoavaliação do bem-estar (FERRAZ,2004).
Estes conceitos também estão em debate na literatura médica veterinária, as
suas definições para os animais ainda são alvo de muitas discussões. O conceito de
qualidade de vida é complexo, subjetivo e várias definições na literatura médica e
médica veterinária são encontradas. Contudo, para a maioria dos autores, os fatores
que compõem a definição de qualidade de vida têm como base o conceito de saúde:
saúde é o completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência
da enfermidade (MCMILLAN, 2003).
A saúde pode influenciar a qualidade de vida de diferentes modos, o
desconforto causado pelas doenças contribui para sensações desagradáveis em
pessoas ou animais em toda sua experiência de vida (MCMILLAN, 2003).
A expressão qualidade de vida vem se difundindo e atualmente esta sendo
amplamente utilizada em relação aos sentimentos e as emoções, relações pessoais,
eventos profissionais, propagandas da mídia, política de saúde, atividades de apoio
social, entre outros. Já na perspectiva científica, apresenta numerosos significados
na literatura médica (GIL, 1994; PEREIRA et. al., 2006 apud LOURES et. al., 2007).
McMillan (2000) define o conceito de qualidade de vida para animais como a
ausência ou a presença mínima de desconfortos físicos (náusea, retenção urinária,
prurido, dor, tosse, dispnéia) e emocionais (medo, ansiedade, solidão, frustrações).
O conceito de bem-estar animal relaciona-se ainda, a outros parâmetros como
necessidades, liberdade, felicidade, competição, controle, sensações, sofrimento,
dor, ansiedade, medo, estresse, saúde, tédio (BROOM, 1996). As sensações
subjetivas de um animal não podem ser desconsideradas, uma vez que são parte
integrante da complexidade dos aspectos que envolvem o seu bem-estar (BROOM,
1991).
18
Portanto, avaliar ou medir qualidade de vida é uma tarefa complexa,
considerando que até o momento não existe uma definição consensual do seu
significado. Além disso, a construção do termo, sofre a influência das expectativas
pessoais que os autores estabelecem para as suas vidas, contribuindo para a
subjetividade da definição (BANDEIRA,2005 apud LOURES, et. al.,2007). Logo,
qualidade de vida é um construto subjetivo que envolve a autopercepção, compõese de múltiplas dimensões positivas, negativas e bidirecionais, como função física e
bem-estar emocional e social (DIAS, 2002 apud LOURES, et. al., 2007).
Mesmo com as várias propostas de conceito de bem-estar animal, atualmente
categorizadas em duas correntes – a escola do funcionamento biológico e a escola
dos sentimentos –, existe um consenso sobre a necessidade de se incorporar três
questões centrais, como explana Molento, (2007, p. 225):
O animal é capaz de apresentar crescimento e funcionamento orgânico normais, boa
saúde e manutenção de uma adaptação adequada ao meio na vida adulta? – esfera física do
bem-estar; o animal vive em um ambiente consistente com aquele no qual a espécie evoluiu e
se adaptou? – esfera comportamental; o animal vive com uma sensação de satisfação mental
ou, pelo menos, livre de estresse mental? – esfera mental.
A avaliação da qualidade de vida assumiu grande importância nos setores de
saúde humana e veterinária, apesar de até o momento não apresentarmos um
método padrão-ouro para sua medida (TAYLORS, MILLS, 2007), e a definição do
termo ser alvo de debates, sua relevância é inquestionável na avaliação de
tratamentos, decisões e principalmente do paciente (LEAL, 2008).
2.3 Instrumentos de Avaliação
Os instrumentos de avaliação de qualidade de vida se tornaram cada vez mais
importantes na avaliação dos impactos de tratamentos e percepções do paciente,
permitem conhecer o efeito de uma doença sobre a vida do indivíduo, avaliar suas
disfunções, seus desconfortos físicos e emocionais, contribuindo na decisão,
planejamento e avaliação de determinados tipos de tratamentos (LEAL, 2008).
Estudos realizados com crianças apresentando deficiência visual, demonstram
19
comprometimento da qualidade de vida, prejuízos emocionais e dependência para a
realização das tarefas cotidianas. Pessoas com doenças oculares podem se mostrar
mais retraídas, pessimistas, intuitivas e inseguras (SCOTT; 1999).
Na literatura médica humana são utilizados inúmeros instrumentos para a
avaliação da qualidade de vida. Tanto genéricos, que podem ser aplicados a várias
situações, como o Sickness Impact Profile (SIP), o SF 36, e o WHOQOL (World
Health Organization Quality of Life), quanto específicos, utilizados para determinada
doença ou situação. Na avaliação da qualidade de vida de deficientes visuais,
alguns instrumentos foram concebidos para a avaliação de doenças oculares, como
o Activities of Daily Vision Scale (ADVS), o Vision Function Questionnaire (VFQ), e o
Low Vision Quality-of-Life Questionnaire (LVQOL). (BITTENCOURT, HOEHNE,
2006)
Os instrumentos podem ser classificados em genéricos e específicos, os
genéricos são multidimensionais, através deles pode se mensurar diversos aspectos
como capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade,
aspectos sociais, emocionais e saúde mental. Podem ser aplicados em diferentes
doenças, intervenções médicas, tratamentos e em culturas e lugares distintos
(AGUIAR et. al., 2008). Já os instrumentos específicos, avaliam diversos aspectos
quanto à percepção geral da qualidade de vida, sua ênfase é sobre os sintomas,
incapacidades ou limitações (LEAL, 2008; AGUIAR et.al., 2008). Logo, determinados
estudos necessitam de modelos adequados, condizentes com a população que será
avaliada, sendo necessária a construção de instrumentos específicos.
Os questionários são os instrumentos utilizados em grande parte das
avaliações da qualidade de vida, compreendem um número de itens ou questões,
reunidos sob senso comum, chamado de domínio. Um domínio refere-se à área do
comportamento ou experiência que se está tentando avaliar (PONTES et. al.,2003).
Ao construir um instrumento, de acordo com a psicometria, deve - se enunciar
as propriedades características do construto que será avaliado, com base nestas
propriedades são definidos comportamentos observáveis que as representam, estes
por sua vez, darão origem aos possíveis itens do instrumento de medida (BRAGA,
CRUZ, 2006). Desta forma o detalhe da avaliação de cada parâmetro depende do
estudo em questão (CHRISTIANSEN, FORKMAN, 2007).
20
Em sua explanação sobre a construção dos construtos Silva, Filho (2006,
p.94), elucidam:
O que a ciência entende por sensação é um construto, uma concepção baseada em
operações objetivas de estimulação e reação. Um construto é um conceito científico,
teoricamente embasado, desenvolvido ou construído para descrever ou explicar um
comportamento. Nós não podemos ver, ouvir ou tocar os construtos, mas nós podemos inferir
sua existência a partir do comportamento manifesto.
O comportamento manifesto ao qual os autores se referem pode ser observado
através de uma ação ou do produto de uma ação, inclusive através das respostas
dadas em um questionário ou teste (SILVA, FILHO, 2006).
Em muitos questionários humanos, o padrão-ouro de medida é o autorelato,
mas em situações onde o autorelato não é possível (por exemplo, crianças) os
instrumentos são realizados por um observador (o tutor ou responsável) que
conhece bem o avaliado.(REID; et. al. 2013)
Na medicina veterinária, a limitação da incapacidade de comunicação direta
com os pacientes, obriga a que esta avaliação seja feita por um terceiro, alguém que
está habituado com a personalidade do cão, seu comportamento e rotina diária, o
chamado Proxy. Na clínica de pequenos animais, o veterinário tem o proprietário
e/ou cuidador do animal como um grande aliado na avaliação das alterações
comportamentais, já que estas podem ser graduais e somente perceptíveis a
pessoas familiarizadas com o comportamento normal do animal (MIGALHAS, 2012).
Cada vez mais, os cientistas veterinários consideram o desenvolvimento de
instrumentos para medir a QdV em animais de companhia (YAZBEK, FANTONI,
2005). Estes consistem geralmente de perguntas para o proprietário dos animais,
que estão aptos para perceber as mudanças no comportamento e atitudes.
O GUVQuest, primeiro instrumento desenvolvido para uso em animais, mede
a dor crônica em cães através de seu efeito sobre a QdV (WISEMAN - ORR et al.,
2004) . Este instrumento foi validado em cães com condições dolorosas, como a
doença articular degenerativa, e em condições não dolorosas como o linfoma
(WISEMAN-ORR, 2006). Além disso, uma versão do GUVQuest mostrou que a QdV
é reduzida em cães obesos e que melhora após a perda de peso. Assim GUVQuest
funciona como um instrumento genérico .
21
2.4 Qualidade de Vida nas Doenças Crônicas
A avaliação da qualidade de vida assumiu grande importância nos setores de
saúde humana e veterinária (TAYLORS, MILLS, 2007). Em estudo realizado por
Oyama, et.al (2008) a qualidade de vida foi indicada por proprietários de cães com
doença cardíaca como mais importante que a longevidade destes pacientes.
Uma das razões para o rápido desenvolvimento da avaliação da QdV nos
cuidados de saúde é o crescimento e reconhecimento da importância dos impactos
das intervenções médicas na vida dos pacientes. Particularmente mais importante
em pacientes crônicos ou portadores de doenças sem expectativa de cura, os
profissionais de saúde passaram a ver a qualidade de vida como a “chave” para o
sucesso do tratamento (ADDINGTON-HALL, KALRA, 2001).
Em estudo com cães com linfoma durante quimioterapia, observou se que a
maior parte dos proprietários (68%) classificou como boa a qualidade de vida dos
animais e nenhum considerou a mesma pobre durante o período do tratamento,
apesar de 52% ter apresentado algum efeito colateral (MELLANBY, et.al, 2003).
Na avaliação de cães paraplégicos utilizando “carrinhos” próprios para
locomoção, uma condição que muitas vezes traz complicações como incontinência
urinária, lesões de decúbito, entre outras, a percepção dos responsáveis foi avaliada
através de questionários e revelou que muitos consideram que seus cães tinham
uma boa QdV e que o esforço envolvido nos cuidados do cão “valem à pena”, não
havendo um grande impacto sobre a qualidade de vida do proprietário. (BAUER et.
al., 1992).
Já na avaliação de fatores que afetam as decisões sobre o tratamento de gatos
com câncer, o desempenho de atividades como comer, brincar, e se higienizar foram
apontadas com alto grau de relevância para os proprietários. A perda da qualidade
de vida foi o primeiro fator responsável pela decisão da eutanásia (SLATER, et.al.,
1996).
Os indicadores apetite, brincadeira, interatividade e nível de atividade foram os
mais mencionados por 36 responsáveis de gatos, em relação à percepção da QdV
de seus animais (TZANNES, 2008).
McMillan (2003) ressalta que a decisão da eutanásia pelo proprietário é
baseada, na maioria das vezes, na qualidade de vida do animal.
22
2.5 O Comportamento
Um fator limitante na pesquisa de comportamento canino é o fato da literatura
ser fracamente baseada em estudos científicos, dificultando a separação dos fatos
dentre as opiniões. Contudo, mesmo não havendo uma comunicação direta sobre
seus sentimentos e desejos, o estudo do comportamento animal, permite uma
avaliação fidedigna do seu bem-estar (BEAVER, 2001).
Os problemas comportamentais podem ter relação com a presença de dor.
Agressão induzida por dor é o problema primário em aproximadamente 2-3% dos
casos de agressão (BEAVER, 2001), as causas comportamentais e abandonos em
abrigos levam mais a eutanásia em cães e gatos, do que todas as causas médicas
combinadas (LANDSBERG, HUNTHAUSEN, ACKERMAN, 2005).
As principais alterações comportamentais encontradas em cães e gatos com
dor são alterações de personalidade ou atitude, vocalização especialmente quando
manipulado
na
região
dolorida;
automutilação;
alterações
na
aparência
principalmente na higiene do pelame; alterações na postura e deambulação
(YAZBEK, 2008).
O estresse gera sensações físicas e mentais, entre elas a ansiedade; ocorre
uma sobrecarga nos sistemas de controle do indivíduo, que pode reduzir a sua
adaptação. Vários sistemas orgânicos são afetados simultaneamente. Algumas
alterações comportamentais e sinais clínicos relacionadas ao estresse são: medo,
agitação,
excitabilidade,
depressão,
reclusão,
isolamento,
mudanças
nas
preferências e hábitos, alterações no apetite, agressividade, febre, vômito,
convulsão, úlcera gástrica, choque psicogênico e catatonia (MOLONE, BROOM,
2004).
Por outro lado, o tédio ocorre quando há escassez de estímulos ambientais,
também
desencadeando
alterações
comportamentais
(LANDSBERG,
HUNTHAUSEN, ACKERMAN, 2005), que podem levar à estereotipias, por vezes
associadas à ansiedade de separação, comprometendo o bem-estar(SOARES,
TELHADO, PAIXÃO, 2007).
A vocalização expressa um estado psicológico individual, podendo ser
considerada um marcador de qualidade de vida.
Isolamento e diminuição da
23
interação com o grupo, anorexia, dormir demais, são também comportamentos
indicativos de estresse e dor (MCMILLAN, 2003).
Observar o comportamento canino é um dos mais fáceis e não invasivos
indicadores de bem-estar; fornece informações sobre as necessidades, preferências,
e o estado interno do animal, mudanças podem estar diretamente ligadas à perda de
qualidade de vida (YAZBEK, 2008).
A avaliação do comportamento possui grande relevância, as informações sobre
seus sentimentos consequentemente demostram informações sobre o seu bemestar. Alguns comportamentos anormais, como estereotipias e automutilação, ou
comportamento excessivamente agressivo indicam que o indivíduo encontra-se em
condições de baixo grau de bem-estar (YAZBEK, 2008).
Conforme mencionado na pesquisa de Ferreira e Sampaio (2010, p. 23):
A avaliação do comportamento é geralmente qualitativa, no que se refere à percepção
da presença ou ausência de certo tipo de comportamento. No entanto a normalidade envolve
algum grau de variabilidade sendo difícil definir precisamente onde a normalidade termina e
anormalidade começa. Assim nos perguntamos: Que padrão de comportamento deve ser
considerado: normal ou anormal? Pode se considerar que a constância de um comportamento
reativo específico na maioria dos cães, debaixo de condições semelhantes, será uma indicação
geral que a resposta observada é considerada normal para aquela situação.
Deve-se considerar também se o grau de manifestação da ação executada é
apropriado ao propósito biológico e ao estímulo. Se a ação for apropriada à
resposta, deve ser considerada como comportamento pertinente; se não for, será
então classificado como irrelevante ou simplesmente anormal, um comportamento
que está em desacordo ao fim a que se visa e/ou excede a resposta padrão em
grau, assume a categoria de anormal (FOX, 1968 apud FERREIRA, SAMPAIO;
2010).
A observação do comportamento canino, como a postura, a andadura e o
movimento dos olhos, pode trazer informações de grande significância. Por exemplo,
uma alta mobilidade do olho em sua órbita sugestiona um estado de ansiedade,
enquanto uma baixa mobilidade ou mesmo uma posição fixa do olho pode insinuar
sofrimento ou aflição intensa (FERREIRA, SAMPAIO, 2010).
Conforme explanam Ferreira e Sampaio (2010, p. 26) em sua pesquisa: “O
proprietário quando mantém certa proximidade com o seu animal adquire a
24
capacidade de estabelecer de forma empírica, através de suas observações, certos
tipos de comportamento manifestados em situações específicas que envolvem
estados emocionais e modos de reação”.
Alguns comportamentos são importantes para identificação do animal
agressivo e intranquilo: agitação e inquietação com atividade motora excessiva;
vocalização excessiva; vigilância e excitabilidade aumentadas; nível mais alto de
agressão irritável ou possessiva; maior ocorrência de atividades de deslocamento,
estereotipias e atividades vazias; comportamento de alta sensibilidade à dinâmica
ambiental como para estímulos novos e súbitos ou para situação estranha e pouco
conhecida que induzem a sentimentos de medo, pânico ou ansiedade e,
consequentemente, a manifestação de reações de agressão, inibição, evitar o
contato corporal e isolamento. O animal pode também apresentar atividade motora
reduzida, letargia e sinais de frustração e angústia (FERREIRA, SAMPAIO, 2010).
Outros comportamentos podem ser observados em certas condições de
agressão defensiva, agressão por medo, agressão territorial e agressão por
dominância: rosnar, beliscar, morder, bloquear acesso às dependências da casa e
comportamento ativo que desencadeie a resposta de medo ou repreensão do
proprietário (FERREIRA, SAMPAIO, 2010).
Nos cães idosos os problemas comportamentais são mais frequentes, muitos
relacionados com a ansiedade e desordens cognitivas. Estes cães são mais
propensos a ter problemas como: fobias, ansiedade de separação, transtornos de
ansiedade generalizada, ataques de pânico e disfunção cognitiva (HOSKINS, 2004
apud TULHA, 2010).
Como explana Akzona et.al (2009, p.90):
O envelhecimento é um processo progressivo de acumulações de alterações corporais,
associados ou responsáveis pela doença, perda de eficácia das funções fisiológicas e morte. À
medida que os animais envelhecem ficam mais sedentários, menos enérgicos, menos curiosos
e ativos, diminui a sua predisposição para a brincadeira, têm tendência a dormir muito e
quando são perturbados ficam irritadiços, o humor modifica-se e, por vezes, parecem inquietos.
25
2.6 O Apetite
Comer e beber são os mais naturais de todos os comportamentos do animal,
eles têm o maior efeito sobre a sobrevivência do indivíduo. Fome e sede podem ser
considerados estados motivacionais que referem-se a um comportamento básico e
primitivo, sendo os dois primeiros fatores das cinco liberdades que fazem parte do
código de recomendação de bem-estar animal (BEAVER, 2001).
Faz-se necessário diferenciar um cão que quer comer mas não o faz e um cão
que não tem nenhum interesse por comida. No primeiro caso deve-se considerar a
possibilidade de dor. (BEAVER, 2001)
A nutrição está intimamente relacionada à longevidade e a qualidade de vida
dos animais de companhia. Entre os fatores de risco relacionados à nutrição,
podemos citar idade, alteração do apetite, nível de atividade, achados anormais no
exame físico, índice de condição corporal, mudança de peso inexplicável e doenças
existentes.
Alguns fatores relacionados ao ambiente podem trazer alterações à
alimentação:
• Alimentador primário do animal.
• Esquema alimentar (ex.: local, frequência).
• Problemas com múltiplos animais (competição pelo alimento, ameaças).
• Outros fornecedores e fontes de alimento.
• Enriquecimento ambiental (ex.: brinquedos, outros animais, abrigos,
dispositivos para a distribuição de alimento).
• Atividade do animal na casa: Tipo (ex.: caminhadas na coleira, no quintal,
passeios livres/espontâneos), frequências (vezes por dia/semana), nível de energia.
● Fatores ambientais estressantes (ex.: mudanças recentes na casa, estímulos
externos incontroláveis, conflitos por alimento, conflitos entre os animais, etc.).
O ambiente tem um impacto direto sobre a nutrição. Em cães, várias
alterações clínicas – como a alimentação competitiva, a coprofagia e a obesidade –
foram associadas ao ambiente, assim como a fatores relacionados ao animal e à
dieta. O fornecimento de alimento através de brinquedos dispensadores pode ser
uma opção para melhorar o bem-estar de animais confinados. Logo mudanças nos
26
comedouros podem ser mais importantes do que geralmente se imagina
(WSAVA,S/D).
O consumo de energia é fundamental para sobrevivência, deste modo
sensações poderosas evoluíram para promover o consumo de alimentos. O sabor
agradável dos alimentos e a sensação desagradável de fome motivam o consumo
adequado e, no ambiente natural, uma alimentação equilibrada. Comer demais pode
causar obesidade, o que prejudica QdV aumentando desconfortos, predispondo a
problemas de saúde e limitando algumas atividades. (MCMILLAN, 2003)
2.7 A Visão
Os graus de visão envolvem uma ampla gama de possibilidades: desde a
cegueira total, até a visão perfeita. A ‘deficiência visual’ considera o espectro que vai
da cegueira até a visão subnormal. A visão subnormal ou baixa visão, é a alteração
da capacidade funcional decorrente de fatores como a diminuição significativa da
acuidade visual, redução do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e
limitação de outras capacidades. A visão é um importante meio de relacionamento
do indivíduo com o mundo exterior. Assim como a audição, ela permite organizar, no
nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos (BATISTA,
2005).
Como explanou Batista, (2005, p. 8):
Estudos recentes revelam que enxergar não é uma habilidade inata, ou seja, ao nascer
ainda não sabemos enxergar: é preciso aprender a ver. Não é um processo consciente.
Embora nem pensemos nisso, estamos ensinando um bebê a enxergar, ao carregá-lo no colo e
ir mostrando: Olha o gatinho; Onde está seu irmão?
A visão é um importante sentido considerado integrador do indivíduo em
atividades motoras, perceptivas e mentais (LUCAS, et. al., 2003). Nos cães afeta
suas habilidades em atividades de orientação como obediência, caça e corrida, e a
perda da mesma pode provocar a diminuição na sua capacidade de adaptação na
sociedade.
O olho é um habilidoso órgão dos sentidos, a visão exige a participação
conjunta de mecanismos físicos, químicos e biológicos.
A sua homeostasia e,
27
consequentemente, o seu perfeito funcionamento, leva à formação de imagem
compatível com cada espécie, que em condições extremas pode definir a
sobrevivência ou não dos indivíduos, bem como a sua qualidade de vida (GELLAT,
1999).
A visão constitui um sistema-guia, os cegos precisam recorrer a outros tipos de
sistema-guia, alguns, por exemplo, usam como referência o tipo de calçamento das
ruas (asfalto, paralelepípedos etc.), ou as curvas e esquinas das ruas de seu trajeto.
Outros recorrem a pistas olfativas, ou auditivas (BATISTA, 2005).
Como demonstra Batista, (2005, p. 11):
A cegueira, ou perda total da visão, pode ser adquirida, ou congênita. O indivíduo que
nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda memórias visuais, consegue
lembrar-se das imagens, luzes e cores que conheceu e isso é muito útil para sua readaptação.
Quem nasce sem a capacidade da visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória
visual, possuir lembranças visuais.
.
Em humanos sabe-se que o impacto da deficiência visual (congênita ou
adquirida) sobre o desenvolvimento individual e psicológico varia entre os indivíduos,
estando correlacionada á uma série de fatores como: a idade em que ocorreu, o
grau da deficiência, a dinâmica geral da família, as intervenções que foram tentadas,
a personalidade da pessoa (GIL, 2000).
Pesquisas recentes demonstram que os olhos são responsáveis por no mínimo
80% das impressões recebidas através da sensibilidade, o mundo em que vivemos
se manifesta de forma predominantemente visual (OLIVEIRA, 1998, BATISTA,
2005).
28
2.8 A Dor
Nas diferentes áreas da saúde os profissionais aprendem a avaliar e checar as
condições de seu paciente através dos sinais vitais; temperatura, pressão arterial,
frequência cardíaca e pulsação. Desde os anos 90, o uso da avaliação e
mensuração da dor vem assumindo importante papel na rotina dos profissionais de
saúde (SILVA, FILHO, 2006).
Atualmente diversas escalas para mensuração da dor em populações
especiais como neonatos, crianças e pessoas com dificuldades físicas ou cognitivas,
são utilizadas. Algumas escalas para neonatos, como a NIPS (Neonatal Infant Pain
Scale), utilizam como indicadores a expressão facial, a presença ou ausência de
choro ou resmungos, o padrão respiratório, rigidez muscular de braços e pernas e o
estado de consciência do bebê (SILVA,FILHO, 2006). A inabilidade em comunicar
dor não significa inabilidade em sentir, alguns dos critérios para a avaliação da
habilidade dos animais para sentir dor são: resposta ao tratamento analgésico, e ou
alteração do comportamento normal (YAZBEK, 2008).
Dor é uma sensação extremamente aversiva e a percepção da dor é parte do
estado de um indivíduo (BROOM, 1991), definida pela Associação Internacional de
Estudos da Dor como “uma sensação desprazerosa e uma experiência emocional
associada com um atual ou potencial dano tecidual”, a sensação de dor tem
natureza multidimensional e envolve um componente emocional.
Dor e estímulos nocivos provocam respostas biológicas que podem ser usadas
para avaliar a presença de dor em animais, nos estudos de anestesia (onde os
animais estão inconscientes), observa-se que as respostas biológicas a um
problema imediato não requerem percepção consciente da dor, mas apenas
simplesmente a ativação de vias nociceptivas (WISEMAN-ORR, 2004).
Segundo Wiseman-Orr et al. (2004), a dor pode causar alterações
comportamentais importantes em cães com dor crônica secundária a doença
articular degenerativa, como redução da mobilidade, atividade, apetite, curiosidade,
sociabilidade,
disposição
para
brincadeiras
e
aumento
da
dependência,
agressividade, ansiedade, comportamentos compulsivos, medo, vocalização e
mobilidade. A dor crônica em animais de companhia está muito relacionada a
problemas ortopédicos, traumas, cirurgias, mas frequentemente, e muitas vezes
29
negligenciada, está associada também a outras condições, como otites, câncer e
enfermidades oculares.
Não se pode ver a dor, mas percebemos seus efeitos e alguns deles
incapacitam para as atividades cotidianas. (SILVA, FILHO, 2006) A avaliação
apropriada de seu tratamento, constitui uma ameaça ao bem-estar dos animais,
alguns fatores podem reduzir o uso da analgesia: fatores econômicos, incapacidade
de reconhecer a presença da dor e o não reconhecimento do significado e
importância do alívio da dor para o bem-estar. A magnitude de seu prejuízo ao bemestar pode ser definida pela incidência, severidade e duração do problema.
Em 1998, o Colégio Americano dos Anestesiologistas Veterinários (ACVA)
publicou a sua posição em relação ao tratamento da dor em animais: “A dor é uma
condição clínica importante que prejudica a qualidade de vida, devendo ser
obrigatoriamente prevenida e tratada para que o animal mantenha atividades diárias
normais, como sono, lazer, alimentação e higiene adequadas e também interação
com o proprietário” (YAZBEK, 2008).
Como mencionado por Yazbek, (2008, p.1298):
A medicina veterinária “esbarra” na dificuldade da quantificação e do reconhecimento da
dor crônica, por ser uma experiência individual, é difícil de ser observada e quantificada.
Somente o homem tem a habilidade de expressar e quantificar verbalmente a dor, já em
animais o reconhecimento é subjetivo e baseado principalmente nas alterações
comportamentais. A mesma dificuldade encontrada pelos médicos veterinários para a
avaliação da dor nos animais é enfrentada pelos pediatras, enfermeiras e anestesistas durante
a avaliação da dor em crianças de zero a dois anos ou adultos impossibilitados de
comunicação verbal. Nestes casos, a avaliação do comportamento por familiares e enfermeiras
treinadas ainda é a forma mais eficaz de avaliação de dor.
Infelizmente em relação à avaliação da dor crônica a literatura veterinária
ainda é escassa (YAZBEK, 2008).
Após décadas sendo sub tratada, subestimada e muitas vezes ignorada, a dor
atualmente é considerada um fator de grande importância em relação à qualidade de
vida tanto no homem quanto nos animais (YAZBEK, 2008).
Há uma enorme dificuldade para estabelecermos padrões absolutos que
julguem as práticas para promoção de bem-estar animal, porém a importância do
médico veterinário se torna evidente neste processo, como difusor de conhecimento
30
e promotor de saúde, e consequentemente, de elevação nos padrões de bem-estar
animal (SILVANO, et.al., 2010).
O bem-estar animal cabe a todas as áreas de atuação da prática profissional
da medicina veterinária, não somente à clínica médica e cirúrgica e à produção
animal, e deve ser o princípio norteador do exercício da profissão (SILVANO, et.al.,
2010).
O relatório divulgado pela ONG PDSA (2012), destaca a falha dos proprietários
de animais em compreender até mesmo as necessidades básicas dos animais de
estimação, problemas comportamentais e relacionados à dieta foram os mais
observados. Nesta pesquisa mais de três quartos dos entrevistados achavam que as
necessidades básicas dos animais deveriam ser ensinadas nas escolas assim como
a capacitação para cuidados preventivos. Peter Jones o presidente da ONG afirma
“Entender o que impulsiona os proprietários bem como as suas atitudes, ajudandoos a compreender as questões de bem-estar e de saúde, deve nos ajudar a
esclarecer equívocos na consulta e a mudar comportamentos em casa”.
31
3 OBJETIVOS GERAIS
Conhecer a percepção dos proprietários em relação à qualidade de vida de
cães com deficiência visual e os possíveis pontos críticos resultantes da falta de
entendimento sobre o tema.
3.1 Objetivos específicos
Observar como o proprietário percebe o seu animal no âmbito da deficiência
visual, a partir de um questionário semiaberto.
Estabelecer os pontos críticos na rotina dos animais com deficiência visual.
Avaliar a condição corporal destes cães, através de inspeção visual, utilizando
a classificação de Laflamme (1997).
Avaliar a índole e o estado de tranquilidade em animais com deficiência visual,
durante o exame clínico.
32
4 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada nas seguintes etapas:
Planejamento - Nessa fase, foram definidos o objetivo, o tipo de populaçãoalvo, os tipos de itens e o formato do questionário. Essa etapa foi inicialmente
sustentada na extensa revisão de literatura realizada a partir de consulta às
publicações acerca do tema.
Elaboração do questionário - O questionário foi composto por 29 perguntas
semiabertas, que abordaram aspectos de diferentes domínios do comportamento
animal discutidos na literatura. Categorias de aspecto clínico como tratamento,
implicações e dor, e categorias de avaliação geral de bem-estar como
comportamento social, estado mental e funcionalidade foram abordadas. A fim de
conhecer a percepção dos proprietários de animais com deficiência visual, e os
pontos críticos da rotina destes cães na visão dos mesmos. As perguntas foram
agrupadas em diferentes domínios: relação proprietário x animal, estado geral em
relação à visão, percepção do proprietário, além dos campos de identificação do
proprietário e do animal, e das observações do pesquisador.
Aspectos éticos da pesquisa – O projeto desta dissertação foi submetido à
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) e foi aprovado sob o número 470
como consta a declaração em anexo. Tendo sido também, submetido e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob o número 18885713.9.0000.5243.
Aplicação do questionário – Durante consulta veterinária em clínica particular,
após o preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido.
Análise dos dados - Nesta etapa, os dados passaram pela análise estatística
descritiva com dispersão de frequência.
.
4.1 Critérios de Inclusão e Exclusão
● Critérios de inclusão nesta pesquisa: apenas animais da espécie canina,
adultos (acima de 18 meses), independente de sexo ou raça, que apresentavam
cegueira total bilateral adquirida.
Todos os animais passaram por exame clínico oftalmológico a título de
confirmar a deficiência visual. Este exame constituiu-se da observação da região
33
periocular, oftalmoscopia direta para exame da retina e das estruturas do segmento
anterior, observação da córnea quanto à transparência, reflexo pupilar direto e
consensual, reflexo de ameaça visual em ambos os olhos e observação do animal
em sala de exame iluminada e escura, a fim de observar se havia colisão com
obstáculos.
● Critérios de exclusão: cães portadores de outras doenças crônicas
concomitantes à cegueira que possam afetar a qualidade de vida do animal, foram
excluídos desta pesquisa.
4.2 Local
Os dados foram coletados em duas clínicas particulares nas cidades de
Niterói e Rio de Janeiro.
4.3 Coleta de dados
A coleta de dados ocorreu em 2013. Nesta fase, dois tipos de abordagens
foram estabelecidas:
4.3.1 Utilizando questionário (Apêndice 9.2.)
Preenchido pelo proprietário no momento do atendimento clínico do animal.
4.3.2 Avaliação direta do animal
Com o objetivo de classificar seu escore corporal, estado de tranquilidade e
índole.
Foram
empregadas
conjuntamente
variáveis
de
caráter
fisiológico
e
comportamental como indicadores na avaliação do bem-estar. A resposta fisiológica
foi
representada
pelos
indicadores
‘condição
corporal’
e
as
comportamentais pelos indicadores ‘índole’ e ‘estado de tranquilidade’.
respostas
34
4.3.2.1 Índice de Condição Corporal
O Índice de Condição Corporal proporciona uma avaliação rápida da condição
física geral do animal. Este índice que se baseia em uma classificação corporal
usualmente utilizada em clínica de pequenos animais, apresenta nove graduações,
sendo as graduações quatro e cinco consideradas para um animal com o peso ideal
(Quadro 1). As limitações desse método envolvem a subjetividade inerente ao
sistema de classificação e a variação entre os observadores.
Quadro 1 Índice de condição corporal para caninos segundo Laflamme.
Condição
Escore
Características
1
Subalimentado
2
3
Ideal
4
5
6
Sobrealimentado
7
8
9
Costelas, vértebras lombares, ossos pélvicos e todas
as saliências ósseas visíveis à distância. Não há
gordura
corporal discernível. Perda evidente de massa
muscular
Costelas, vértebras lombares e ossos pélvicos
facilmente visíveis. Não há gordura palpável.
Algumas outras saliências ósseas podem estar
visíveis. Perda mínima de massa muscular.
Costelas facilmente palpáveis podem estar visíveis
sem gordura palpável. Visível o topo das vértebras
lombares. Os ossos pélvicos começam a ficar
visíveis. Cintura e reentrância abdominal evidentes.
Costelas facilmente palpáveis com mínima cobertura
de gordura. Vista de cima, a cintura é facilmente
observada. Reentrância abdominal evidente.
Costelas palpáveis sem excessiva cobertura de
gordura. Abdome retraído quando visto de lado.
Costelas palpáveis com leve excesso de cobertura de
gordura. A cintura é visível quando vista de cima,
mas não é acentuada. Reentrância abdominal
aparente.
Costelas palpáveis com dificuldade; intensa cobertura
de gordura. Depósitos de gordura evidentes sobre a
área lombar e base da cauda. Ausência de cintura ou
apenas visível. A reentrância abdominal pode estar
presente.
Impossível palpar as costelas situadas sob cobertura
de gordura muito densa ou costelas palpáveis
somente com pressão acentuada. Pesados depósitos
de gordura sobre a área lombar e base da cauda.
Cintura inexistente. Não há reentrância abdominal.
Poderá existir distensão abdominal evidente.
Maciços depósitos de gordura sobre o tórax, espinha
e base da cauda. Depósitos de gordura no pescoço e
membros. Distensão abdominal evidente.
35
Figura 1: Ilustração do escore corporal canino.
Animais Subalimentados (Escores 1 e 3)
Condição Corporal Ideal (Escore 5)
Animais com Sobrepeso e Obesos (Escore 7 e 9)
Fonte: LAFLAMME (1997)
36
4.3.2.2 Indicadores “Índole” e “Estado de Tranquilidade”
Os animais foram classificados quanto à “índole” manso ou agressivo, e o
“estado de tranquilidade” aonde foram
observados comportamentos como
vocalização, latidos intermitentes, agitação e movimentos vazios durante o
atendimento veterinário, sendo então classificados como tranquilos ou intranquilos.
37
5 RESULTADOS
Durante a coleta de dados 34 animais corresponderam ao perfil desejado para
participação nesta pesquisa, destes, 30 foram autorizados por seus proprietários,
que preencheram o questionário.
5.1 Perfil dos Animais
Dos 30 animais participantes, 51,61% (16) eram machos e 48,39% (14)
fêmeas, 64,52% (19) inteiros e 35,48% (11) castrados (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição dos cães de acordo com o sexo e o estado reprodutivo.
20
15
10
5
0
Inteiros (19)
Machos
(16)
Fêmeas
(14)
Castrados
(11)
As raças presentes neste estudo podem ser consultadas no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Disposição dos cães de acordo com a raça.
38
Apenas um dos entrevistados não soube dizer a idade do animal pois o mesmo
tinha sido adotado já adulto. No entanto a avaliação clínica permitiu constatar que se
tratava de um cão com mais de cinco anos de idade. Entre os demais a idade variou
de 5 a 18 anos, sendo de 11,4 anos a média de idade.
5.2 Perfil dos Proprietários
As mulheres 86,67% (26) responderam pela grande maioria dos entrevistados,
como demonstra o Gráfico 3.
Gráfico 3 – Representação dos responsáveis de acordo com o sexo.
Nesta amostra 40% (12) se declararam solteiros, 40% (12) casados e 20% (6)
em outros estados civis (Gráfico 4).
Gráfico 4 – Distribuição dos responsáveis de acordo com o estado civil.
39
A idade dos responsáveis variou de 24 a 83 anos de idade.
Quanto á escolaridade, grande parte dos participantes declarou ter nível
superior 66,66% (20), (Gráfico 5).
Gráfico 5 – Disposição dos responsáveis conforme o nível de escolaridade.
O tipo de habitação predominante foi a casa 73,33% (22), os apartamentos
representaram 26,67% (8) do tipo de moradia dos entrevistados. (Gráfico 6).
Gráfico 6 – Representação do tipo domiciliar habitado pelos cães.
40
A composição familiar dos participantes pode ser observada no gráfico 7.
Gráfico 7 – Disposição das famílias segundo o número de componentes.
Uma das famílias apresentava um adolescente, outra família possuía em sua
constituição duas crianças, e outras duas famílias tinham uma criança em sua
composição familiar.
A maior parte dos entrevistados já tinham tido animais antes 93,33 % (28).
5.3 Observações do Pesquisador:
O escore corporal dos animais avaliados foi representado no Gráfico 8.
Gráfico 8 - Escore corporal dos cães segundo a escala de Laflamme (1997).
41
Quanto à avaliação da índole, 90% (27) dos animais eram mansos e 10% (3)
agressivos. Em relação ao estado de tranquilidade, 83,33% (25) eram tranquilos e
16,67% (5) intranquilos (apresentavam algum tipo de inquietação, como vocalização,
latidos e/ou movimentos repetitivos) (Gráfico 9).
Gráfico 9 – Avaliação dos cães através dos indicadores Índole e Estado de
Tranquilidade.
O tempo decorrido do diagnostico da deficiência visual, variou entre trinta dias
e oito anos. Sendo que quinze animais já estavam cegos há dois anos ou mais.
Como causa da cegueira foram encontradas as seguintes enfermidades: atrofia
do globo ocular, ceratite pigmentar, catarata unilateral e bilateral, catarata congênita,
enucleação, atrofia progressiva de retina, descolamento da retina, glaucoma e
ceratite pigmentar. Na maior parte dos casos os animais apresentavam mais de uma
patologia ocular concomitante.
Dos trinta animais avaliados, quatorze não estavam mais em tratamento no
momento da entrevista, entre os demais o tempo de tratamento baseado em colírios
e pomadas oftálmicas variou de um mês a um ano.
42
5.4 Relação Proprietário X Animal
Dos entrevistados 90% (27) afirmaram que o animal tinha acesso as
dependências internas da casa, enquanto 10% (3) responderam que o cão não
podia entrar na parte interna do domicílio (Gráfico 10).
Gráfico 10 – Disposição dos animais de acordo com o acesso as dependências
internas da casa.
Em relação ao manejo alimentar a ração predominou entre os avaliados
73,33% (22), 6,66% (2) tinham a comida caseira como dieta e 20,01% (6) dos
animais possuíam uma alimentação mista, como demonstra o gráfico 11.
Gráfico 11 – Representação dos cães avaliados em relação ao tipo de dieta
fornecida pelo responsável.
43
O item frequência de visitas ao veterinário teve um grande índice de respostas
em branco; 56,66% (17) não souberam responder quantas vezes por ano levavam
seus cães ao veterinário, ou apresentaram respostas evasivas como: sempre que
necessário. Dos demais, 30% (9) disseram levar seus cães ao atendimento médico
de duas a quatro vezes por ano, 10% (3) mencionaram levar o cão ao veterinário
uma vez ao ano, e 3,34% (1) disseram ir com o cão ao atendimento mais de dez
vezes ao ano. Estes dados podem ser visualizados no gráfico 12.
Gráfico 12 – Distribuição dos cães segundo a frequência anual de visitas ao
veterinário.
Quando perguntados sobre a oportunidade de brincar com seus cães, 19,35%
(6) pessoas responderam nunca brincar, 16,13% (5) mencionaram ser raro,
29,03%(9) apresentavam ensejo para brincar ás vezes,
25,81% (7) tinham
oportunidade de brincar frequentemente, 6,45% (2) disseram sempre ter
disponibilidade para brincar e 3,23%(1) não responderam a pergunta.
Quanto a passear com seu cão, 38,71% (12) dos entrevistados afirmaram
nunca passear com seu animal, 22,58% (6) disseram ser raro, 22,58% (7)
responderam que passeavam às vezes, 12,9% (4) passeavam frequentemente, e
3,23% (1) disseram passear sempre. O gráfico 13 ilustra o ensejo para passeios e
brincadeiras na rotina dos cães.
44
Gráfico 13 – Representação da frequência de passeios e brincadeiras na rotina
dos cães avaliados.
A maior parte dos animais que participaram desta pesquisa, dividiam seu
domicílio com outro animal 76,66% (22), e 23,34% (8) eram os únicos animais aonde
residiam (Gráfico 14).
Gráfico 14 – Disposição dos cães em conformidade com a presença de outros
animais no mesmo domicílio.
45
5.5 Estado geral em relação à visão
Dos proprietários que participaram desta pesquisa, 53,33% (16) classificaram
seus cães como ativos, 26,66% (8) como inativos e 20,01% (6) muito inativos. O
nível de atividade pode ser observado no gráfico 15.
Gráfico 15 – Representação do nível de atividade dos cães segundo a
classificação de seus responsáveis.
Ao serem questionados sobre o apetite de seus animais, em relação ao
período anterior ao aparecimento dos sinais clínicos da deficiência visual, 73,33%
(22) afirmaram estar normal, para 6,66% (2) a pergunta não se aplica já que o
animal nasceu cego ou já foi adotado cego, 3,33% (1) afirmaram que o apetite
estava diminuído, 3,33% (1) muito diminuído, 6,66% (2) relataram que o apetite
aumentou, e 6,66% (2) disseram que o apetite aumentou muito. (Gráfico 16)
Gráfico 16: Percepção dos responsáveis em relação ao apetite dos cães,
comparativo ao período anterior do aparecimento dos sinais clínicos de deficiência
visual.
46
Quanto a reação à estímulos em relação ao período anterior ao aparecimento
dos sintomas: 50% (15) responderam que a resposta à estímulos estava normal,
33,34% (9) mencionaram que a resposta estava diminuída, 10% (3) disseram que a
resposta estava muito diminuída, 3,33% (1) resposta aumentada, 3,33% (1)
ausência de resposta e 3,33% (1) a resposta não se aplica. (Gráfico 17)
Gráfico 17 – Representação da reação á estímulos dos cães avaliados, em
relação ao período anterior dos sinais clínicos de deficiência visual.
Em relação à ansiedade do cão, por exemplo ao ser deixado sozinho, 63,33%
(18) disseram não observar tal comportamento e 36,67% (12) observavam sinais de
ansiedade. (Gráfico 18)
Gráfico 18 – Percepção dos responsáveis em relação à presença de sinais de
ansiedade nos cães avaliados.
47
No gráfico 19, podemos observar o grau de interação atual do animal com as
pessoas, em relação ao período anterior ao aparecimento dos sintomas da
deficiência visual, 60,02% (17) afirmaram que a interação atual estava normal,
16,66% (6) achavam que o animal interagia pouco, 16,66% (5) declararam que o cão
interage muito pouco, 3,33% ( 1) disseram que o cão não interage, e para uma
pessoa a pergunta não se aplica já que o animal nasceu cego. Nenhum entrevistado
mencionou a opção “interage mais”.
Gráfico 19 – Representação dos cães avaliados de acordo com o grau de
interação atual com pessoas, comparativo ao período anterior ao aparecimento dos
sinais de deficiência visual.
Entre os entrevistados 73,33% (21) disseram que o animal tinha condições de
interagir com outros animais, e 26,67% (9) achavam que não (Gráfico 20).
Gráfico 20 – Percepção dos responsáveis em relação a possibilidade do cão
de interagir com outros animais.
48
Em relação á habilidade de alimentar-se sozinho, 93,33% (28) responderam
que sim, o cão conseguia comer sozinho, apenas 6,66% (2) mencionaram que o
animal não consegue alimentar-se sem auxilio.
Dos cães avaliados 73,33% (22) esbarravam em mobílias, pessoas e paredes
no seu dia a dia, 26,67% (9) não demonstravam este comportamento.
Quanto a tropeçar em degraus ou meio fio, 80% (24) relataram que sim o cão
tropeça em degraus, e 20% (6) não apresentavam esta dificuldade. No gráfico 21
pode-se observar a ilustração destes dados.
Gráfico 21 – Representação da influência da deficiência visual nas atividades
desempenhadas pelos cães avaliados.
Ao serem perguntados se o cão demonstrava incomodo ao ser tratado com
medicação oftálmica, 40% (12) relataram que nunca, 40% (12) disseram que
raramente, 10% (3) frequentemente, e 10% (3) sempre. (Gráfico 22)
Gráfico 22 – Representação da demonstração de incomodo ao tratamento
oftálmico.
Incomodo
ao ser
tratado
Sempre
10%
0
10
20
Frequente
mente 10%
49
5.6 Percepção do Proprietário
Sobre a preocupação do proprietário com o globo ocular do cão, 74,19% (23)
disseram se preocupar sempre, 16,13% (5) se preocupavam frequentemente, 6,45%
(2) se preocupavam às vezes, 3,23% (1) disseram nunca se preocupar, e nenhum
entrevistado marcou a opção “raramente”.
Os proprietários foram questionados se gostariam de gastar este tempo
dedicado ao tratamento oftálmico do animal com outras atividades, 63,33% (19)
responderam que nunca, 16,68% (5) raramente, 10% (3) responderam que ás
vezes, 6,66% (2) frequentemente, para 3,33% (1) a resposta não se aplica. Nenhum
dos entrevistados marcou a opção “sempre”.
Os dados sobre a preocupação do proprietário com a visão do cão e o desejo
de utilizar o tempo dedicado ao tratamento oftálmico com outras atividades, podem
ser vistos no gráfico 23.
Gráfico 23 – Disposição da preocupação com a visão do cão versus o desejo
do proprietário em gastar o tempo de cuidados oftálmicos com outras atividades.
50
O tempo gasto para cuidar dos olhos do animal, foi ilustrado através do gráfico
24.
Gráfico 24 – Representação do tempo que os proprietários dedicam aos
cuidados com os olhos do cão.
Sobre a qualidade de vida atual de seu animal, 43,34% (13) acreditavam ser
boa, 16,66% (5) razoável, 20% (6) muito boa, 10% (3) má e 10% (3) muito má.
(Gráfico 25)
Gráfico 25 – Representação da avaliação dos responsáveis em relação a
qualidade de vida atual do cão.
51
Quanto ao estado atual em relação ao momento no qual o cão ficou cego,
43,33% (13) achavam que o animal estava pior, 40% (12) consideraram que o
animal estava no mesmo estado, 6,66% (3) classificaram o estado do animal como
muito pior, 3,33% (1) acharam que o animal estava muito melhor, e para 3,23% (1) a
pergunta não se aplica já que o animal nasceu cego (Gráfico 26).
Gráfico 26 – Distribuição do estado atual dos cães avaliados, em relação ao
momento em que o animal ficou cego.
A maior parte dos entrevistados, responderam não ter problemas para aplicar o
tratamento oftálmico 93,34% (28), para 3,33% (1) a pergunta não se aplica e para
3,33% (1) o tratamento oftálmico foi classificado como difícil. (Gráfico 27)
Gráfico 27 – Representação da frequência de dificuldades para aplicar o
tratamento oftálmico por parte dos reponsáveis dos cães avaliados.
52
Na avaliação do tratamento ocular sob o ponto de vista financeiro, 63,33% (19)
disseram que achavam os custos altos, porém consideravam o tratamento
necessário, 26,66% (8) achavam os custos razoáveis, 3,33%(1) consideraram os
custos baixos, e para 6,66% (2) a pergunta não se aplicava já que eram funcionários
da casa e apesar de cuidarem e conviverem diretamente com os animais, não
arcavam com custos de tratamento (Gráfico 28).
Gráfico 28 – Percepção dos responsáveis em relação ao tratamento do ponto
de vista financeiro.
Os proprietários também foram questionados se achavam que o animal sentia
dor em decorrência do problema oftálmico e 50% (15) disseram que nunca, 30,02%
(9) às vezes, 13,32% (5) raramente, 6,66% (2) acham que os animais sentem dor
sempre e nenhum dos entrevistados marcou a opção “frequentemente”. (Gráfico 29)
Gráfico 29 – Percepção do responsável segundo a frequência que o animal
sente dor em decorrência do problema oftálmico.
53
6 DISCUSSÃO
A
avaliação
do
bem-estar
merece
uma
abordagem
minuciosa
e
individualizada. As muitas definições do termo e a interpretação individual a cerca do
mesmo, influenciam o proprietário na avaliação de seu animal. Ainda assim, não
desmerecem o “avaliador” que por seu íntimo contato está apto a detectar as mais
simples alterações na rotina do seu “companheiro”.
A coleta de dados desta pesquisa ocorreu durante atendimento especializado
de oftalmologia veterinária. Desta maneira esta amostra sofreu uma “seleção” de
proprietários mais comprometidos com a saúde de seus animais.
Nesta pesquisa a maior parte dos entrevistados apresentou alto grau de
escolaridade, 66,66% declarou possuir ensino superior completo. Apesar disso,
alguns aspectos sinalizam que a importância de algumas informações sobre a posse
responsável não estão satisfatoriamente difundidas nesta amostra. Por exemplo, ao
observarmos que 66,66% dos animais avaliados não eram esterilizados. Na clínica
de pequenos animais, a esterilização é considerada como um método de controle
populacional efetivo e seguro, possui caráter preventivo contra o câncer de mama
(RODRIGUES, 2008) e outras patologias do trato reprodutivo de machos e fêmeas.
A ausência de um controle reprodutivo adequado favorece o aumento do índice de
abandono de animais, e consequente aumento do número de animais errantes
(SOTO et. al., 2006).
As mulheres corresponderam pela maior parte dos entrevistados 86,67%,
assim como o encontrado por Vanees, et.al (2012), sugerindo que as mulheres
estejam mais envolvidas com os cuidados do animal da casa.
Apenas quatro animais coabitavam com crianças ou adolescentes (tabela 4).
Dentre os animais que dividiam o lar com crianças (três cães) observou se que o
nível de atividade e a QdV atual foram consideradas satisfatórias por seus
proprietários. Os responsáveis por dois destes cães, também consideraram que eles
apresentavam o mesmo estado em relação ao período anterior à deficiência visual.
Nenhum deles declarou observar sinais de ansiedade no animal. Em estudo sobre a
os fatores que influenciam a QdV dos gatos Adameli, et. al., (2005) demonstra que o
54
comportamento dos gatos sofre influências de fatores inerentes ao proprietário,
como a presença de crianças, número de membros na família, idade etc. A presença
de crianças no ambiente pode estar relacionada à maior oferta de estímulos
ambientais tornando o habitat mais estimulante e menos previsível para o animal.
Tabela 1: Representação das famílias que possuem crianças ou adolescentes
em sua constituição.
O tipo de domicilio predominante foi a casa com 73,33%, o que pode ser visto
como justificativa para baixa incidência de passeios.
A idade avançada dos animais que participaram do estudo é um ponto a ser
considerado em relação ao alto percentual de animais com baixo nível de atividade.
Inativos e muito inativos somaram 46,67%. Fator também encontrado no estudo de
Mullan e Main, (2007), aonde os proprietários correlacionaram a idade do cão
negativamente com os níveis atuais de atividade, conforto, agilidade e mobilidade.
A avançada idade dos animais com cegueira bilateral que chegaram até a
clínica, também corroborou para a dificuldade de conseguir uma amostra maior,
55
considerando que apenas os animais livres de doenças concomitantes podiam ser
incluídos na pesquisa.
Dos 30 animais participantes, seis foram avaliados por seus proprietários com
qualidade de vida má ou muito má, as características atribuídas a cada um deles
podem ser visualizadas na tabela 1.
O indicador de bem-estar fisiológico representado pelo escore corporal
apresentou-se alterado em quatro dos seis animais. As respostas comportamentais
observadas pelos indicadores índole e estado de tranquilidade também estavam
alteradas em três animais, dois mansos e intranquilos e um agressivo e intranquilo.
Logo, dos seis animais classificados nas piores categorias de bem-estar por seus
proprietários, quatro realmente possuíam pelo menos um dos indicadores de bemestar alterado.
Tabela 2: Animais classificados por seus proprietários com qualidade de vida
má ou muito má.
Dentre as doenças responsáveis pela cegueira dos animais avaliados, o
glaucoma estava presente em seis cães. Esta condição oftálmica está associada a
dor em todas as suas fases, quando aguda é responsável por dor grave e se não for
56
tratada dá lugar a dor crônica de grau mais baixo (SLATTER, 2005). As condições
destes cães na percepção dos proprietários, podem ser observadas na tabela
abaixo:
Tabela 3: Cães avaliados que apresentavam glaucoma como causa da
deficiência visual.
Os entrevistados que declararam possuir ensejo para brincadeira nunca,
raramente ou ás vezes somaram 64,51%, quando perguntados sobre a frequência
de passeios 83,87% afirmaram que passeavam às vezes, nunca ou raramente.
Deste modo percebemos que os animais avaliados eram em sua maioria privados
da rotina de passeios e brincadeiras, ambas são atividades de caráter físico, lúdico e
social, de grande importância para a manutenção da qualidade de vida dos cães.
Esta escassez de estímulos pode ter como consequência o tédio, também gerando
alterações comportamentais (LANDSBERG, HUNTHAUSEN, ACKERMAN, 2005).
Porém ao compararmos o nível de atividade dos animais que passeiam com
frequência com aqueles que passeiam nunca ou raramente, constatamos que
passear pode trazer outros benefícios que o “quintal” não parece oferecer, já que a
57
maior parte dos cães que tinham ensejo para brincadeiras e passeios com
frequência apresentaram níveis de atividade maior, como podemos visualizar no
gráfico 30.
Gráfico 30 – Representação dos ensejos para brincadeiras e passeios versus
nível de atividade do cão avaliado.
A inatividade está presente em 46,67% dos animais avaliados, também
observamos o baixo ensejo para passeios e brincadeiras, fatores que não parecem
ter pesado na avaliação de QdV dos responsáveis, possivelmente por este fato não
trazer consequências a rotina do ambiente familiar. O estudo de Vaness (2012),
demonstrou que o responsáveis tendem a adotar mais facilmente certos cuidados
quando são informados da relação destes com os benefícios para a saúde, e que os
proprietários que possuem uma vida social compartilhada com seus cães são mais
inclinados a oferecer cuidados veterinários com mais frequência.
Quanto à possibilidade de interagir com outros animais, nove cães não foram
considerados aptos por seus proprietários para esta interação, as condições dos
mesmos pode ser visualizada na tabela 3. Todos eles conseguiam se alimentar
sozinhos, e seis coabitavam com outros animais. Em cinco deles a interação com as
pessoas estava preservada. McMillan (2003), resalta que a interação social através
das relações com humanos e outros animais deve ser abundante, e que estímulos
58
mentais insuficientes podem levar ao tédio e ao estresse. Atividades variadas, como
brincadeiras com petiscos, e novos objetos devem ser estimuladas.
Tabela 4: Cães classificados por seus responsáveis como inaptos para a
interação com outros animais.
Dois proprietários declararam que seus animais não conseguiam se alimentar
sozinhos. Comer e beber são comportamentos naturais do animal, que têm efeito
sobre a sobrevivência do indivíduo. Fome e sede são ainda comportamentos
básicos e primitivos, sendo os dois primeiros fatores das cinco liberdades que fazem
parte do código de recomendação de bem-estar animal (BEAVER, 2001).
59
Tabela 5: Animais que não conseguem se alimentar sozinhos.
A maior parte dos animais consegue se alimentar sozinho, 93,33% (28),
26,67%(9) não esbarram em mobílias, pessoas e paredes no seu dia a dia, e 20%
(6) relatam que o cão não tropeça em degraus e meio fio. A capacidade de
adaptação é um fenômeno com considerável influencia na qualidade de vida. No
entanto, o mecanismo de funcionamento da adaptação não é ainda bem
compreendido.
Este mecanismo permite manter a QdV num nível superior ao
esperado em casos de limitação prolongada. Em doenças crônicas, à medida que a
doença progride, não existe necessariamente uma diminuição na QdV devido a este
mesmo fenômeno. A importância dos diversos fatores que afetam a qualidade de
vida também não se mantém ao longo da vida, dificultando mais uma vez a sua
medição (MCMILLAN, 2005).
Quando perguntados sobre a qualidade de vida atual de seus cães, 63,34%
classificaram a mesma como boa ou muita boa, no entanto, em relação ao estado
atual comparado ao período anterior ao aparecimento dos sinais de deficiência
visual, 49,99% relatou que o cão estava pior ou muito pior. Através destes índices
podemos observar que o proprietário identifica um decréscimo na qualidade de vida
de seu cão (Gráfico 31).Como afirmam Broom e Molento, (2004), “O bem-estar de
um animal doente é sempre mais pobre que o bem-estar de um animal que não está
doente; porém, muito ainda há de ser estudado sobre a magnitude dos efeitos de
doença sobre o bem-estar. Pouco se sabe sobre o grau de sofrimento associado a
muitas doenças”.
Estes dados também reforçam a explanação de Ferreira, Sampaio, (2010): “O
proprietário quando mantém certa proximidade com o seu animal adquire a
capacidade de estabelecer de forma empírica, através de suas observações, certos
60
tipos de comportamento manifestados em situações específicas que envolvem
estados emocionais e modos de reação”.
Gráfico 31 – Representação da Qualidade de Vida atual do cão versus o
Estado atual em relação ao momento anterior ao aparecimento dos sinais de
deficiência visual.
Dois entrevistados que classificaram a qualidade de vida de seus cães como
boa ou muito boa, também responderam achar que o cão sentia dor em decorrência
do problema oftálmico sempre. Reforçando a necessidade da orientação veterinária
no sentido de proporcionar uma reflexão do proprietário em relação ao modo como
seu cão vive, e transmitir elucidações relevantes, como a definição de McMillan
(2000), que estabelece que a qualidade de vida nos animais ocorre com a ausência
ou a presença mínima de desconfortos físicos (náusea, retenção urinária, prurido,
dor, tosse, dispnéia), e emocionais ( medo, ansiedade, solidão, frustrações).
A classificação da qualidade de vida atual elevada na visão dos proprietários,
assim como o estado atual não ter se modificado na opinião da maioria, pode estar
relacionada com a comparação feita com o momento anterior ao tratamento, aonde
a dor aguda é mais facilmente percebida. E ainda, pelo fato de todos estarem, no
momento da avaliação, em terapêutica oftálmica adequada, dentre os objetivos
terapêuticos esta a eliminação da dor ocular (BROOKS, 2008).
61
Em diversas categorias os responsáveis apontam fatores incompatíveis com o
bem-estar do animal, no entanto classificam os mesmos com um bom nível de
qualidade de vida atual. Estes achados condizem com os encontrados por Mullan e
Main, (2007), aonde os proprietários demonstraram uma desconexão entre o bemestar, estimulação mental e interação com as pessoas. Pode ser que os
proprietários não considerem a autonomia (capacidade de fazer escolhas para si
mesmo) como uma parte importante da saúde física e emocional de seus cães, ou
pode ser que, os donos considerem bem-estar relacionado à saúde, principalmente
física. Demonstrando a necessidade de se ensinar ao proprietário, a perceber QdV
no espectro do animal.
Oyama et.al., (2008) aponta que quanto mais informado está o responsável
sobre a doença e o tratamento do seu animal, mais facilidade ele têm para aceitar
limitações e aderir os cuidados indicados pelo veterinário.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O bem-estar animal como ciência é uma novidade, uma vez que se pode
atribuir a esta área acadêmica somente cerca de três décadas de existência. Em
animais de companhia, percebe-se na atuação do médico veterinário clínico de
pequenos animais a oportunidade de exercer a profissão priorizando o paciente, seu
trabalho promove claramente bem-estar animal (MOLENTO, 2007).
Os
responsáveis
envolvidos
nesta
pesquisa
demonstraram
perceber
alterações na rotina de seus animais em consequência da deficiência visual. Porém
a necessidade de informação prática e conceitual sobre o que é e o que representa
a qualidade de vida para os animais constitui uma necessidade clara que precisa ser
suprida durante o aconselhamento veterinário. Segundo Broom e Molento, (2004)
os profissionais da área têm o desafio de aprimorar as formas de se medir bem-estar
nos animais, para que estas mensurações aprimorem as relações entre humanos e
animais até que se alcancem níveis considerados apropriados por uma sociedade
informada e justa.
62
Grande parte dos entrevistados mencionou que após participarem da
pesquisa passaram a dedicar mais tempo à observação das dificuldades do seu
animal na rotina da casa, muitas vezes carregando o mesmo ao ambiente em que as
pessoas ficavam reunidas, chamando o animal e motivando-o a participar da
interação com os demais familiares. Pode-se concluir que através de simples
informações e um pequeno período de reflexão sobre como vivem seus animais e
quais necessidades os afligem, podemos melhorar a rotina destes cães. Trazer
satisfação ao proprietário por desfrutar de melhores momentos ao lado de seus
animais e assim contribuir para melhor qualidade de vida de todos os envolvidos.
Os atendimentos de oftalmologia representam parcela considerável do
atendimento clínico, a dor e as restrições impostas pelas doenças oftálmicas na
rotina dos animais não devem ser desconsideradas durante a orientação veterinária.
Para a melhor compreensão das implicações oftálmicas na vida dos animais, pelos
proprietários e até mesmo pelos profissionais da área, faz-se necessário que
estudos correlacionando oftalmologia veterinária e bem-estar ocorram com maior
frequência.
É preciso encorajar o proprietário a manter este animal incluído socialmente,
em atividades com a família, com outros animais e na prática de atividades físicas.
Preservar este cão não só do sofrimento físico, mas também do sofrimento mental
são os alvos de uma medicina veterinária que não se limita apenas as necessidades
físicas do paciente, mas também é capaz de se voltar à promoção de saúde através
do bem-estar animal.
63
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69
9 APÊNDICE
9.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Dados de identificação
Título do Projeto: "PERCEPÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS EM RELAÇÃO À
QUALIDADE DE VIDA DE CÃES COM DEFICIÊNCIA VISUAL".
Pesquisador Responsável: INGRID CATARINA MARTINS CAVALCANTE
Instituição a que pertence o Pesquisador Responsável: UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE
Responsável pelo Cão:______________________________________
Telefones para contato: (__) ____________ - (___) _______________
Idade: _______anos
R.G. _________________
O(A) Sr. (ª) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa
“PERCEPÇÃO DOS POPRIETÁRIOS EM RELAÇÃO À QUALIDADE DE VIDA DE
CÃES COM DEFICIÊNCIA VISUAL", de responsabilidade da pesquisadora INGRID
CATRINA MARTINS CAVALCANTE.
O objetivo desta pesquisa é conhecer a percepção dos proprietários em
relação à qualidade de vida de cães com deficiência visual. A participação neste
estudo não apresenta riscos ao paciente ou ao proprietário, nem mesmo altera o
tratamento indicado quando for o caso. Não cabendo indenização ou reparo de
danos.
Os dados desta pesquisa serão utilizados única e exclusivamente para fins
acadêmicos, as informações acerca da identificação dos proprietários será
confidencial.
Eu,
__________________________________________,
RG
nº
_______________________,
responsável
pelo
animal
____________________________, raça ________, sexo_____________ declaro ter
sido informado e concordo com a participação, como voluntário, no projeto de
pesquisa acima descrito.
Niterói, _____ de ____________ de _______.
_________________________________________________
Nome e assinatura do responsável.
70
9.2 Questionário
1-Identificação
Nome do cão:.............................. Sexo ( ) Raça:...............................
Idade:........................Castrado:
Identificação do Proprietário
Data : ....................... Telefone:...................................................
Nome do proprietário:................................................................................
Endereço: .......................................................................................................
Sexo do proprietário: ( ) masculino ( ) feminino
Estado civil: ( ) Solteiro
( ) Casado
Idade:_______
( ) Outros
Número de pessoas no domicílio:
_____ Adulto
_____ Criança
_____ Adolescente
2. Escolaridade do proprietário (Segundo critério da ANEP)
( ) Ensino fundamental incompleto
( ) Ensino Fundamental completo / Ensino médio incompleto
( ) Ensino médio completo/ Superior incompleto
( ) Superior completo
3. Tipo de habitação: ( ) Casa ( ) Apartamento
4. Já teve outros animais de estimação antes? ( ) Sim
( ) Não
71
2-Observações do Pesquisador
Avaliação corporal:
Score: ( ) caquético
( ) magro
( ) ideal
( ) sobrepeso
( ) obeso
Avaliação da Índole: ( ) manso ( ) agressivo
Avaliação do Estado de tranquilidade: ( ) tranquilo ( ) intranquilo
Data do diagnóstico oftálmico:__________________________
Diagnóstico oftálmico: ______________________________________
Doenças concomitantes:_________________________
Data do inicio de tratamento (se estiver fazendo) e medicação em
curso:_______________________________________________________________
__________________________________________________
______________________________________
72
3- Relação proprietário x animal
1. Acesso às dependências internas da residência: ( ) sim ( ) não
2. Manejo alimentar: ( ) ração ( ) comida caseira
3. Frequência de visitas ao veterinário:
4. Ensejo para brincadeira:
( ) nunca
( ) raramente
( ) às vezes
( ) frequentemente
( ) sempre
5. Passeia com o seu animal:
( ) nunca
( ) raramente
( ) às vezes
( )frequentemente
( ) sempre
6. Possui outros animais no mesmo local: ( ) sim ( ) não
4. Estado geral em relação à visão
1.
Classifique o nível de atividade do seu cão.
( ) Muito Inativo
( ) Inativo
( ) Ativo
( ) Hiperativo
73
2.
Em relação ao período anterior ao aparecimento dos sinais clínicos da
deficiência visual como classifica o apetite do seu cão:
( ) Muito diminuído
( ) Diminuído
( ) Normal
( ) Aumentado
( ) Muito Aumentado
3.
Em relação ao período anterior a aparição dos sinais da deficiência visual
como classifica o grau de reação aos estímulos do seu cão (ex:quando alguém entra
em casa, quando se chama o cão...)
( ) Ausência de resposta
( ) Resposta muito diminuída
( ) Resposta diminuída
( ) Resposta normal
( ) Resposta aumentada
4.
Nota um aumento de ansiedade no seu cão (ex: quando é deixado sozinho)?
( ) Sim
( ) Não
74
5. Em relação ao período anterior a aparição dos sinais da deficiência visual, como
classifica o grau de interação atual do seu cão com as pessoas:
( ) Não interage
( ) Interage muito pouco
( ) Interage pouco
( ) Interage de maneira normal
( ) Interage mais
6) O seu cão tem possibilidade de interagir com outros animais?
( ) Sim
( ) Não
7) Como a visão de seu cão afeta as atividades dele?
Por favor, indique o quanto são difíceis para o seu cão as atividades descritas
abaixo, por causa do seu problema visual:
a. Meu cão consegue alimentar-se sozinho.
( )Sim
( ) Não
b. Meu cão esbarra nas pessoas, paredes ou mobília.
( )Sim
( ) Não
c. Meu cão tropeça em degraus ou no meio fio.
( ) Sim
( ) Não
75
8. Meu cão fica incomodado quando tratado (por exemplo, quando recebe colírios).
( ) Nunca
( ) Raramente
( ) Frequentemente
( ) Sempre
( ) Não se aplica
5-Percepção do proprietário
1. Você se preocupa com a visão de seu cão?
( ) Nunca
( ) Raramente
( ) Às vezes
( ) Frequentemente
( ) Sempre
2. Quanto tempo você gasta para cuidar da visão de seu cão (tais como: consultas
com oftalmologista, colírios, terapia)?
( ) Uma vez ao mês ou menos (ou nunca)
( ) Uma vez por semana
( ) Uma vez por dia
( ) Poucas horas do dia
( ) A maior parte do dia
76
3. O tempo que você gasta com a visão de seu cão (consultas com o oftalmologista,
colírios, terapia) toma o tempo que você gostaria de gastar com sua família ou
outras atividades?
( ) Nunca
( ) Raramente
( ) Às vezes
( ) Frequentemente
( ) Sempre
4.Como avalia a qualidade de vida atual do seu cão? (“Muito Boa” refere-se à
deficiência não ter efeito na vida do cão).
( ) Muito má
( ) Má
( ) Razoável
( ) Boa
( ) Muito Boa
5.Como avalia o estado atual em relação ao momento em que seu cão ficou cego?
( ) Muito pior
( ) Pior
( ) Mesmo estado
( ) Melhor
( ) Muito melhor
77
6. Eu tenho problema para aplicar o tratamento (por exemplo, instilar colírio).
( ) sim
( ) Não
( ) Não se aplica
7. Do ponto de vista financeiro como você considera o tratamento?
( ) Os custos são baixos
( ) Os custos são razoáveis
( ) Os custos são altos porém o tratamento é necessário
( ) Os custos são altos e por isso não posso fazer o tratamento
8. Você acha que o seu animal sente dor, em decorrência do problema oftálmico?
( ) nunca
( ) raramente
( ) as vezes
( ) frequentemente
( ) sempre
78
10 ANEXO
10 ANEXO
Serviço Público Federal
Universidade Federal Fluminense
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduaço e Inovação
Comissão de Ética no Uso de Animais
Certificamos que o projeto n° 470, intitulado “A percepção do
proprietário em relação à qualidade de vida de cães com
deficiência visual” sob a orientação da Profª. Dr. Rita Leal Paixão
do Instituto Biomédico, está de acordo com os Princípios Éticos na
Experimentação Animal da SBCAL e obteve a aprovação da Comissão
de Ética no Uso de Animais em 10 de outubro de 2013. Este certificado
é válido por três anos.
Niterói, 10 de outubro de 2013.
_________________________________________
Coordenador da CEUA
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