6. O Campo Magnético 6.1 Introdução Na Europa os primeiros relatos sobre as propriedades dos magnetes ou ímans, feitos dos elementos ferro, níquel ou cobalto, ou de minerais que os contêm, como a magnetite, atribuem-se a Thales, 6 séculos antes de Cristo. Também no oriente, na China, se encontram abundantes referências aos magnetes desde 3 séculos antes de Cristo. O uso dos magnetes como bússola terá aparecido pela primeira vez na China, por volta do século I. Este instrumento, permitindo a orientação do homem no planeta, teve uma importância civilizacional imensa. A sua chegada à Europa está datada provavelmente do século XII. De facto, uma vez que os pólos magnético e geográfico não coincidem, a orientação da bússola em relação ao pólo Norte não é perfeita, havendo um efeito importante a considerar, que se designa por declinação magnética. Este efeito era bem conhecido na China mas só no século XV terá sido estudado na Europa. 6.2 Pólos magnéticos. As leis qualitativas do magnetismo Num magnete ou íman é possível destinguir dois pólos. Atendendo às propriedades de orientação da bússola magnética, convencionou-se chamar a esses pólos de Norte e Sul, conforme a direcção em que apontam quando suspensos por um fio ou assentes sobre uma suspensão. Aproximando pólos de magnetes diferentes foi possível encontrar as conhecidas leis qualitativas do magnetismo, pólos do mesmo sinal atraem-se e pólos de sinal contrário repelem-se. Podemos encontrar aqui alguma semelhança com a electrostática, onde ser reconhecem dois tipos de cargas. No entanto, ao contrário da electrostática, não é possível no magnetismo isolar um pólo Norte ou um pólo Sul. Quando se parte um magnete, obtêm-se dois magnetes onde se voltam a reconhecer os dois pólos, Norte e Sul. O magnetismo manifesta-se assim apenas sobre a forma de dipólos, uma associação de um pólo Norte com um pólo Sul. Tanto quanto é dado conhecer, ambos os pólos têm a mesma intensidade, isto é, a mesma capacidade de atrair ou repelir outros magnetes. Certos materiais, como o ferro e o aço, podem adquirir e perder facilmente as suas propriedades magnéticas. Se friccionarmos uma agulha de aço com um magnete ela adquire propriedades magnéticas. Estas propriedades perdem-se se a agula for aquecida a cima de uma determinada temperatura ou se a agulha for martelada com violência. Uma bússola magnética é apenas um magnete cortado com a forma de uma agulha e suspenso de forma que possa rodar livremente na horizontal. Para fazer uma bússola basta magnetizar uma agulha pelo processo indicado no parágrafo anterior e de seguida colocá-la sobre uma rolha a flutuar num recipiente com água. A agulha irá rodar até ficar a apontar fixamente numa dada direcção. Sabemos hoje que a bússola magnética aponta para um ponto do Globo que se designa por pólo Norte Cap.6-19 Magnético. As suas coordenadas aproximadas em 2005 são (82.7ºN, 114.4ºW). Estas coordenadas variam anualmente de forma apreciável, de tal forma que os mapas geográficos à escala 1:25 000 (mapas militares) indicam no seu bordo a variação angular anual desta direcção (declinação magnética). O funcionamento da bússola diz-nos que o Globo é um imenso magnete, como reconheceu William Gilbert (1544-1603). Por outro lado as leis qualitativas do magnetismo dizem-nos que, se o interior do Globo é um íman, então o seu pólo Sul está próximo do pólo Norte Geográfico e vice-versa, é o pólo Norte do íman terrestre que está próximo do pólo Sul geográfico (figura 19). 6.3 Linhas de força do campo magnético. As causas do magnetismo As linhas de força do campo magnético gerado por magnete paralelepipédico pode ser facilmente visualizado usando limalha de ferro. As pequenas aparas de ferro ficam facilmente magnetizadas pela proximidade do íman e adquirem então uma orientação paralela à do campo magnético (figura 20). Por convenção, as linhas de força do campo magnético saem do pólo Norte e entram no pólo Sul, como se ilustra na figura 20. Isto é, o campo magnético aponta sempre para o pólo Sul do magnete. As causas da interacção magnética permaneceram misteriosas até que no século XIX Oersted e Ampère descobriram que a corrente eléctrica tinha efeitos magnéticos. Numa primeira experiência, aproximando uma agulha magnética de um fio onde circula corrente eléctrica contínua é possível observar que a agulha se desvia. O efeito cessa assim que a corrente eléctrica é desligada. Isto é, a passagem da corrente eléctrica cria um campo magnético (figura 21). Cap.6-20 Numa segunda experiência, estudou-se a interacção entre dois fios paralelos onde circula a corrente eléctrica (figura 22). Verificou-se que fios onde a corrente tem o mesmo sentido se atraem enquanto que fios com correntes em sentido contrário se repelem. Esta última experiência mostrou um segundo facto notável da interacção magnética. Não só o magnetismo é gerado por cargas em movimento como também actua sobre cargas eléctricas em movimento. Estava assim descoberta a causa do magnetismo. A interacção magnética resulta da cargas eléctricas em movimento. No caso do planeta Terra, a causa do seu campo magnético interno deve ser similar. Hoje admite-se que o campo magnético terrestre tem a sua origem em correntes eléctricas no seu núcleo externo, provavelmente associadas a correntes de convecção que possam aí ocorrer. 6.4 Acção do campo magnético sobre cargas em movimento. Força de Laplace Ao contrário do que fizemos anteriormente para o campo eléctrico e gravitacional, onde começámos por definir quantitativamente as leis que regem as interacções, antes de definir os vectores campo, vamos neste caso começar por assumir que a interacção magnética se caracteriza por um vector, o vector campo magnético representado por . No sistema internacional de unidades, a unidade de campo magnético é o tesla, − − = Conhecido o valor do campo magnético, então uma carga eléctrica de valor , que se desloque no espaço com uma velocidade , fica sujeita à acção de uma força, a força de Laplace, cuja expressão é dada por = × Pelas propriedades do produto externo, podemos inferir as propriedades do vector força em termos do seu módulo, direcção e sentido. Se for θ o ângulo que os vectores e fazem entre si, então o módulo da força de Laplace vale = θ A força de Laplace será nula se os vectores forem paralelos e terá o seu módulo máximo quando eles forem perpendiculares. A direcção da força de Laplace é perpendicular ao plano definido pelos vectores e . O sentido da força de Laplace será dado pela regra do saca-rolhas (ou da mão dirfeita) aplicada aos Cap.6-21 vectores negativa. e , se a carga for positiva, e terá o sentido contrário, se a carga for 6.4 Movimento de cargas eléctricas num campo magnético uniforme Consideremos a situação descrita na figura 23, onde numa certa região do espaço se estabeleceu um campo magnético uniforme. As linhas de força desse campo magnético são perpendiculares ao plano da figura e por isso se representam por círculos. Segundo a convenção da “seta do índio”, um ponto no meio do círculo significa que o campo aponta para fora do plano da figura (como uma seta vista de frente). Se o campo estivesse para dentro do plano da figura, veríamos as penas da seta que seriam representadas por uma cruz no interior do círculo. Na base desta região incide um feixe de partículas neutras e carregadas positivamente e negativamente, animadas da velocidade . Como se vê pela figura, umas partículas são desviadas para a direita, outras para a esquerda e ainda outras seguem uma trajectória rectilínea sem desvio. Este último caso é o mais fácil de explicar. O campo magnético só actua sobre cargas não nulas em movimento, por isso o feixe que tem uma trajectória rectilínea é formado pelas partículas neutras. Relativamente às partículas com carga positiva, elas são desviadas para a direita. Para o perceber, vamos representar a velocidade e a força que actuam uma partícula no ponto P1. A força, pelas regras do produto externo, deve ter o sentido indicado na figura e deve ser sempre perpendicular à velocidade. Por isso esta força fará sempre a trajectória da partícula desviar-se para a direita. Para uma partícula negativa, como se mostra no ponto P2, a força tem o sentido contrário ao do produto externo e por isso ela fará desviar as cargas negativas sempre para a sua esquerda. Com a disposição dos vectores indicada na figura 23 vemos que a força é sempre perpendicular à velocidade, em qualquer das situações em que a carga não é nula. isto significa que a força de Laplace não pode alterar o módulo do vector velocidade, mas apenas a sua direcção e sentido. Por outro lado como o campo é uniforme e a velocidade é constante, então o módulo da força magnética também será sempre constante. O movimento que as partículas têm, sujeitas a uma força constante e perpendicular à trajectória é um movimento circular uniforme de raio . Cap.6-22 Aplicando a 2ª lei de Newton podemos escrever = → = Daqui deduzimos o valor do raio da trajectória = Se o feixe de partículas for formado por iões com a mesma carga e massa, então o dispositivo da figura 23 funciona como um discriminador de velocidades, pois o raio da trajectória será proporcional à velocidade de cada ião = → ∝ Se, por outro lado, o feixe for formado por partículas com a mesma velocidade e carga, então o dispositivo da figura funciona como um discriminador de massa, uma vez que o raio da trajectória é proporcional à massa da partícula = → ∝ Como iremos ver mais adiante, este dispositivo é um dos elementos essenciais no funcionamento de um espectrómetro de massa que tem, hoje em dia, uma grande aplicação em Geologia. 6.5 Acção do campo magnético sobre a corrente eléctrica Como vimos anteriormente, a corrente eléctrica que atravessa um fio é caracterizada pela grandeza intensidade de corrente, que representa a quantidade de carga que flui no circuito por unidade de tempo, = Por outro lado, se as cargas estiverem animadas de uma velocidade unidade de tempo elas percorrem uma distância de tal forma que , então na = Se representarmos a força de Laplace elementar que actua sobre o elemento de carga obtemos a expressão = × Usando primeiro a expressão da velocidade e depois da intensidade de corrente, podemos obter = × = × = × → = × Esta é a força que actua apenas sobre um pequeno pedaço elementar de fio. Se quisermos calcular a força que actua sobre um fio finito de comprimento , então temos de calcular o integral da expressão anterior, ao longo de todo o fio = × Cap.6-23 Se o fio for paralelo ao campo magnético, então pelas propriedades do produto externo a força magnética é nula. Se o fio for exactamente perpendicular ao campo magnético então a força magnética actua sobre um fio finito de comprimento tem de módulo = × → = O sentido desta força é, mais uma vez, dado pela regra do saca-rolhas (ou da mão direita). O motor eléctrico, representado em esquema na figura 24, é um exemplo simples de aplicação da lei que acabámos de ver. O motor é formado por um par de magnetes com os pólos Norte e Sul apontando um para o outro. por simplicidade vamos admitir que o campo magnético que se estabelece entre os ímans é uniforme com as linhas de força indicadas na figura. No interior do campo magnético temos uma espira de fio rectangular onde circula a corrente eléctrica, de acordo com o sentido indicado na figura. A espira é formada por 4 segmentos, numerados de 1 a 4. Nos segmentos 2 e 4 a corrente eléctrica é paralela ao campo magnético e por isso a força é nula. Nos segmentos 1 e 3 as forças são perpendiculares à espira e têm o sentido indicado na figura. Como a corrente e o campo são os mesmos em 1 e 3, o e forma assim um binário, cujo módulo destas forças é igual. O par de forças efeito é o de fazer rodar a espira no sentido contrário ao do ponteiro dos relógios. O comutador formado por dois contactos semicirculares garante que na espira nunca há inversão da corrente eléctrica e por isso o binário provoca uma rotação sempre no mesmo sentido, como se deseja num motor eléctrico. 6.6 Acção do campo eléctrico e magnético sobre uma carga em movimento. Força de Lorentz Quando uma carga eléctrica se encontra em movimento com velocidade no interior de um campo magnético e também de um campo eléctrico então essa carga sofre a acção simultânea de ambos os campos. A força resultante é designada por força de Lorentz: = + × = + × A situação da figura 25 descreve um dispositivo, que se pode chamar selector de velocidades, onde cargas eléctricas sofrem a acção simultânea de um campo eléctrico e magnético que são perpendiculares. O campo magnético é uniforme e aponta para dentro do plano da figura, como mostram as linhas de força representadas por uma “seta de índio” vista de trás. O campo eléctrico também é uniforme e encontra-se estabelecido por duas placas paralelas a potenciais distintos Cap.6-24 V1 e V2, situados a uma distância . As linhas de força do campo eléctrico são horizontais, da esquerda para a direita, o que indica que o potencial V1 está > positivo em relação a V2, . O módulo do campo eléctrico é dado então em função da diferença de potencial entre as placas, − = = = Consideremos então um feixe de partículas carregadas positivamente que incidem verticalmente no dispositivo, com velocidade , como se mostra na figura. No ponto indicado, a partícula estará sujeita à acção de uma força magnética e de uma força eléctrica indicados na figura = × → = = → , com os sentidos = Para que o feixe de partículas não sofra deflexão, é necessário que a força total seja nula, + = → − = → = Esta última igualdade só se verifica se a velocidade das partículas for exactamente dada pela expressão = → = = → = A velocidade que é seleccionada não depende da carga eléctrica nem do seu sinal, nem depende da massa das partículas. Apenas depende dos valores dos dois campos aplicados. Por isso este dispositivo funciona como um selector de velocidades. 6.7 Princípio de funcionamento de um espectrómetro de massa O espectrómetro de massa é um aparelho de funcionamento na prática bastante complexo mas cujos princípios de funcionamento são bastante simples e resultam daquilo que já foi exposto sobre a acção dos campos eléctrico e magnético sobre cargas. O espectrómetro de massa permite determinar a composição isotópica dos elementos que compõem um determinado mineral, algo que não é possível fazer por separação química ou numa micro-sonda. A composição isotópica tem hoje em dia imensa importância em Geologia, e não só, pois ela permite-nos proceder à datação de rochas, à determinação dos reservatórios químicos que originam as rochas ígneas, determinação das condições paleo-ambientais, etc. Um espectrómetro de massa é formado essencialmente por três elementos: i) a câmara de ionização; ii) um acelerador linear; iii) o discriminador de massa Cap.6-25 propriamente dito. Um esquema do espectrómetro de massa está ilustrado na figura 26. Na câmara de ionização procede-se à ionização do elemento ou mineral que se pretende analisar. Esta ionização pode ser feita mediante um bombardeamento por um feixe de electrões. Formam-se assim um conjunto de iões positivos animados de uma velocidade que podemos desprezar. À saída da câmara de ionização consideramos que a velocidade dos iões é nula, como se indica na figura. De seguida, estes iões são acelerados através da aplicação de um potencial eléctrico. Na figura está representado um acelerador linear. Para os iões positivos serem acelerados torna-se necessário que a placa C2 esteja a um potencial muito negativo relativamente << . No trajecto dos iões entre as placas C1 e C2 vamos desprezar à placa C1, a acção do peso. O trajecto processa-se no vazio e por isso não há atrito. Devemos então ter conservação de energia mecânica entre C1 e C2. Em C1 apenas temos energia potencial eléctrica, enquanto que em C2 temos energia potencial eléctrica e energia cinética, − = → = + → = A velocidade à saída do acelerador tem assim o valor = Estes iões com esta velocidade entram agora no discriminador de massa onde existe um campo magnético uniforme perpendicular ao plano da figura. Como já vimos anteriormente, nestas circunstâncias as cargas positivas vão ter um movimento circular uniforme desviado para a direita, como se indica na figura. O raio desta trajectória foi calculado anteriormente e a distância a que as partículas embatem no alvo é apenas o dobro do raio, = = Usando a expressão da velocidade à saída do acelerador, obtida anteriormente, obtemos então = = = = Isto é, a distância apenas depende da massa da partícula (para iões com a mesma carga). Cap.6-26 6.8 Campo magnético produzido por uma corrente eléctrica. Lei de Biot-Savart Vamos finalmente apresentar a lei que relaciona o campo magnético com as suas causas, nomeadamente a passagem da corrente eléctrica num fio. Consideremos então um elemento de circuito eléctrico de comprimento , onde passa uma corrente de intensidade , como se mostra na figura 27. O campo elementar que é produzido no ponto P à distância do elemento de circuito é dado pela lei de Biot-Savart × = A constante de proporcionalidade que aparece nesta lei é uma propriedade material e no vazio vale = µ = π − − µ0 representa a permeabilidade magnética do vazio. A direcção e sentido deste campo elementar são dadas pelas regras do produto externo. Quanto ao módulo do campo, se for θ o ângulo entre o fio e o vector posição, teremos = θ Repare-se que obtemos de novo uma lei que varia com o quadrado da distância, como já se tinha no campo eléctrico e campo gravítico = = Esta analogia sublinha o facto já notado antes que as causas da interacção eléctrica são cargas eléctricas em movimento. Se tivermos um fio de comprimento onde circula uma corrente , então o campo total num ponto P do espaço deve ser obtido pelo integral do campo elementar aplicado a todos os pontos do fio × = = Este integral pode ser calculado de forma simples para alguns casos particulares. Seja por exemplo o caso de um fio rectilíneo onde circula uma corrente de intensidade , como Cap.6-27 se indica na figura 28. Neste caso, se o fio for considerado infinito, é possível determinar que o campo magnético a uma distância do fio tem uma intensidade dada pela expressão = µ π As linhas de força deste campo são círcunferências em torno do fio (figura 28) e o seu sentido é dado pela regra da mão direita. Como se mostra na figura devemos rodear o fio com a mão direita, de forma que o polegar indique o sentido da corrente eléctrica. O sentido das linhas de força é dado pela curvatura dos restantes dedos da mão direita. Desta forma já é possível entender o resultado das experiências efectuadas com fios paralelos atravessados por corrente eléctrica. Esta situação encontra-se ilustrada na figura 29. Fios com a corrente no mesmo sentido atraem-se, mas fios com corrente em sentido contrário repelem-se. Esta força é bastante diminuta e é necessário um dispositivo experimental cuidado para a pôr em evidência. Uma outra situação que importa referir é o caso do campo magnético produzido por uma espira de corrente, como se ilustra na figura 30. As linhas de força do campo que se estabelecem-se assemelham-se muito às geradas por um pequeno íman. De facto, a grande distância, o campo magnético de uma espira é idêntico ao campo magnético produzido por um magnete com um pólo Norte e um pólo Sul. Podemos assim dizer que o campo magnético macroscópico observado em muitos materiais se deve à sobreposição do campo magnético gerado por um grande número de espiras microscópicas. Exactamente no centro da espira de raio , a intensidade do campo magnético tem uma expressão simples dada por = µ Cap.6-28 Para caracterizar a capacidade de uma espira em gerar um campo magnético, introduzimos uma nova grandeza física designada por momento magnético da espira. Esta grandeza define-se em termos da intensidade de corrente que atravessa a espira e da sua área. Sendo uma grandeza vectorial, a direcção e sentido do momento magnético são os mesmos do vector superfície, definido na figura 31. A direcção é perpendicular ao plano da espira e o sentido é dado pela regra da mão direita. Os dedos acompanham a corrente na espira e o polegar . O momento dá o sentido do vector magnético de uma espira define-se então por = No sistema internacional de unidades o momento magnético exprime-se em Com esta definição, o módulo do campo magnético exactamente no centro da espira passa a valer = µ π 6.9 O campo magnético dipolar. Lei fundamental do paleomagnetismo O campo magnético que se observa à superfície da Terra tem na sua maioria uma origem interna e pode ser descrito em primeira aproximação como um campo dipolar. Isto é, tudo se passa como se no centro do planeta existisse um dipólo magnético de momento magnético a gerar esse campo. O sistema de coordenadas adequado a estudar este campo está indicado na figura 32. A posição de um ponto P à superfície da Terra e a uma distância R do seu centro é dada pelo ângulo θ, designado por co-latitude. Num Globo em que os pólos magnético e geográfico coincidissem, a latitude e a co-latitude devem somar 90º θ +λ = O sistema de eixos no ponto P tem dois versores, um radial apontando para fora do centro da Terra e um meridional, apontando no sentido dos ângulos θ crescentes. Cap.6-29 Neste sistema de eixos, o campo magnético dipolar tem a expressão =− µ π θ θ =− µ π θ Em magnetismo terrestre a componente vertical do campo magnético é habitualmente identificada pela letra , a componente horizontal pela letra e o módulo do campo magnético pela letra , = = + θ = µ π ( θ )= θ+ Actualmente, o momento magnético aproximadamente !"×#$ % . do µ π (+ campo dipolar θ) terrestre vale A inclinação do campo magnético no ponto P é o ângulo que esse vector faz com a horizontal. Conhecendo as componentes e θ que formam os catetos de um triângulo rectângulo, a função trigonométrica que podemos calcular da inclinação é a sua tangente = = θ Esta equação θ = θ = θ= λ λ é a equação fundamental do Paleomagnetismo. Através da medição da inclinação do campo magnético terrestre, memorizado nas rochas na altura da sua formação, é possível conhecer a paleo-latitude do lugar em que se deu a formação da rocha. Este conhecimento é fundamental, sobretudo para as rochas mais antigas, pois devemos recordar que os oceanos mais antigos têm apenas 180 milhões de anos. As reconstituições tectónicas para idades mais antigas têm de ser feitas com base na informação fornecida pelo Paleomagnetismo e também pelo estudo dos paleo-ambientes. Cap.6-30