28 Sábado AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 22 DE NOVEMBRO DE 2014 COORDENAÇÃO HUGO GONÇALVES, JOÃO CORDEIRO E LÁZARO RAPOSO | www.meiaderock.com O Terno: banda de rock psicadélico do Brasil Nasceram nos anos 90, mas a música que os inspira tem raízes no rock dos anos 60, e acabam de lançar o seu segundo álbum JOÃO CORDEIRO [email protected] A onda revivalista do rock psicadélico que marcou os anos 60 continua a crescer. Em Portugal, o fenómeno tem o expoente máximo com os Capitão Fausto, e na cena internacional são talvez os australianos Tame Impala que mais aclamação têm recebido. Esta semana trago uma banda do Brasil em que fortuitamente ‘tropecei’ e que tem estado no topo das “Yesterday”: o tema que surgiu num sonho Inicialmente intitulada “Scrambled Eggs”, o tema “Yesterday”é uma composição de Paul McCartney, que, segundo o próprio, surgiu num sonho. Paul diz ter acordado com a melodia e os acordes claramente definidos na sua cabeça. Conta-se que o músico terá ficado tão intrigado com a forma tão natural com que a música surgiu, que, durante vários dias mostrou-a a vários amigos perguntando se já tinham ouvido aquela melodia. A música era mesmo original e acabou por ser reconhecida - ainda hoje - como a canção mais gravada de sempre, com mais de mil versões, por artistas como Frank Sinatra, Ray Charles ou Elvis Presley. “O Terno” tem edição em vinil e está disponível para download gratuito no site da banda minhas audições: O Terno. Tim Bernardes, Guilherme D’Alemida, e Victor Chaves formam o trio de São Paulo que, apesar da sua tenra idade – entre 23 e 24 anos – sabe o que quer. Reflexo daquilo que é a música independente no verdadeiro sentido da palavra, O Terno editaram já dois discos sem o apoio de grandes editoras. Recentemente, juntaram-se a outras sete bandas para criar a etiqueta “Risco”, que promove a difusão da música em vinil. Este caminho ‘contra a corrente’ não os tem impedido de serem nomeados para uma série de prémios, tendo mesmo recebido o galardão de “Aposta MTV Brasil” e “Melhor vídeo” nos prémios Multishow, em 2012, referentes ao disco de estreia “66”. Já o disco edi- tado este ano, que tem o mesmo nome que a banda, embora não tenha vencido nenhuma categoria, foi nomeado para “Melhor álbum” e “Melhor música partilhada”, também pelos Prémios Multishow. Por falar em música partilhada, o disco está disponível para download gratuito em www.oterno.com.br. Mas falemos da música. Com claras influências dos Beatles, que, se não fossem percetíveis pela sonoridade seriam denunciadas pelo baixo de Guilherme D’Alemida – idêntico, ou pelo menos muito semelhante, ao Hofner celebrizado por Paul McCartney – ou pela letra de “Quando Estamos Todos Dormindo” que evoca a conhecida história de “Paul McCartney quando fez o Yesterday” (caixa). Além de uma musicalidade interessante, com texturas retro, O Terno conseguem ter excelentes letras – algo, aliás, característico da música brasileira, que beneficia simultaneamente da potencialidade lírica da língua portuguesa e da flexibilidade do sotaque brasileiro. Uma mistura explosiva. Para comprovar a genialidade lírica basta ouvir com atenção ao tema que abre o disco “66”, que desmonta os dilemas artísticos dos músicos do nossa tempo, que vivem encurralados entre assombração pelo sucesso dos “monstros” intocáveis do passado e a crítica à inovação: ”se eu não posso inovar, eu vou cantar o que já foi, e vão dizer que é nostalgia e que esse tempo já passou, que eu estou por fora do que é novo, mas se é novo falam mal”. Quem escreve assim… é O Terno. Bossa nova e música portuguesa de mãos dadas PEDRO GOMES [email protected] Uma música à imagem de suas influências, parece que a música popular portuguesa e a harmonia da bossa nova se reuniram e convidaram Pedro Esteves para assistir à cerimónia. A sua primeira composição, com mais de uma década, hoje é faixa e pode circular- “Mais um dia”, tema que integra e dá nome ao primeiro álbum de Pedro Esteves, músico português, natural do Barreiro. O convite para realizar este seu primeiro álbum de originais surgiu após a sua participação no tributo à obra de Zeca Afonso com o tema “A Presença das Formigas”. Álbum composto por treze músicas, Esteves na voz e guitarra, direção musical, piano e coros de Filipe Raposo, contrabaixo e coros de António Quintino, e percussões de Joaquim Teles. Destaco a música “Na campanha”, compasso complexo com métrica 5/4 onde podemos ver a influência também do jazz, fecha-se os olhos e pela voz sente-se um staccato repetitivo, sílaba a sílaba, como se de um conjunto de metais se tratasse, de seguida sentimos o “toca e foge”, da entrada do piano conjugado com a percussão. Tema que merece ser ouvido com alguma abstração, apreciar ape- Segundo disco de Pedro Esteves está a caminho nas, mas também com especial atenção por cada instrumento. Um bom exercício será isolar mentalmente cada instrumento e ter-se-ão experiências totalmente diferentes! Tendo em conta que sempre que se ouve suas músicas, o tempo tende a passar mais rápido, aconselha-se vivamente a ouvilas nos transportes públicos e na fila de espera das finanças. Damos por nós a trautear, é fácil gostar! O público de hoje está bastante recetivo a este género de letra e música. Pedro Esteves anuncia o segundo álbum estar “a caminho”, quem sabe em direção ao grande público e a grandes palcos!