FORMAÇÃO DE CONCEITOS SOBRE CORRENTE E ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DE ATIVIDADES INVESTIGATIVAS Alexandre Abraão Muriana da Silva – [email protected] Reginaldo A.Zara – [email protected] Programa de Pós Graduação em Ensino- Unioeste Campus de Foz do Iguaçu - Foz do Iguaçu-PR Resumo: Este artigo relata uma ação didática ancorada nos preceitos do ensino por investigação na qual atividades de laboratório aberto são propostas com o objetivo de que sejam construídos conceitos Físicos sobre eletricidade, em especial, o conceito de corrente e energia elétrica. Verificam-se algumas concepções alternativas dos estudantes, manifestadas por meio de desenhos e respostas a questões propostas antes das atividades, foram alteradas no decorrer dos trabalhos. Desta forma, a ação foi capaz de mudar algumas concepções dos estudantes e de oportunizar a construção do conceito de corrente e energia elétrica condizentes com os princípios científicos. Palavras-chave: Ensino por investigação, Laboratório aberto, Corrente elétrica. 1 INTRODUÇÃO O ensino por investigação é uma proposta didática que vem sendo amplamente discutida no ensino das ciências em razão de seus resultados significativos, em relação à aprendizagem, quando comparados com ações didáticas tradicionais como o uso de giz e lousa (ZÔMPERO; LABURU, 2012, SOLINO et al, 2015). Uma de suas vertentes é o laboratório aberto, no qual os estudantes podem, através de manipulações experimentais, construir e desconstruir hipóteses visando à construção do conhecimento acerca de seu objeto de estudo (AZEVEDO, 2012). No ensino de Física é importante a articulação dos conteúdos com situações cotidianas como forma de dar significado aos conceitos científicos. Neste trabalho, o tema sobre eletricidadefoi escolhido, pois “[...] é uma das áreas da Física que possuem mais estudos referentes a dificuldades de aprendizagem” (DORNELES et al, 2006, p.488).Além disso, o conteúdo sobre eletricidade, e mais especificamente, circuitos elétricos, é um tema de fácil articulação por se relacionar diretamente com a vida das pessoas. Embora os fenômenos elétricos nos acompanhem em nossas atividades diárias, os princípios científicos deste assuntogeralmente são carregadosde concepções alternativas, muitas vezes distorcidas, em relação à sua natureza e aplicação. Nessa perspectiva, se por um lado o fato de os alunos terem certa familiaridade com o assunto ser benéfico, permitindo ao professor recorrer a situações conhecidas pelos estudantes, por outro, esta familiaridade com o tema acaba sendo um do problema no ensino de conceitos de Física, pois nem sempre os fenômenos aparentes observados pelos estudantes convergem com os modelos científicos propostos, conforme descreve Crespo: [...] a grande familiaridade do aluno com os conteúdos envolvidos, o que faz com que ele tenha numerosas ideias previas e opiniões que resultam, de modo geral, úteis para compreender o comportamento da natureza, mas que competem na maioria das vezes com vantagem, com aquilo que é ensinado na escola. (CRESPO, 2010, p. 191). Nesse contexto, um objetivo basilar no ensino dos conteúdos em Física é a mudança conceitual, ou seja, a transformação dos conhecimentos do senso comum em conhecimentos científicos elaborados. Essa mudança, segundo Posner (et al., 1982, APUD CRESPO, 2010, p. 125), se dá através da passagem por quatro etapas nas quais é necessário que: a) O aluno esteja insatisfeito com suas concepções alternativas; b) O aluno disponha de uma nova concepção inteligível; c) A nova concepção pareça plausível ao aluno; d) A nova concepção se mostre mais frutífera e produtiva que a concepção alternativa original. Essa mudança conceitual, à luz das etapas apresentadas, é permeada por sucessivas reconstruções, sempre presente a relação, muitas vezes antagônica, entre os conceitos que os estudantes construíram pela vivência com o mundo real e os conceitos científicos amplamente divulgados pela escola, pois algumas vezes os modelos científicos são não-intuitivos causando grande desconforto nos estudantes. O presente trabalho é um recorte de atividades baseadas no ensino por investigação em laboratório aberto em que os estudantes avaliaram, mediante uma sequência de questões e problemas a serem respondidos, as características marcantes das associações de resistores. Nesse artigo são apresentadas as concepções alternativas expressas pelos estudantes sobre conceitos básicos de eletricidade, discutindocomo eles reelaboraram seus conceitos sobre corrente elétrica a partir de atividades práticas em laboratório e com uso de simuladores. 2 REFERENCIAL INVESTIGAÇÃO TEÓRICO: FUNDAMENTOS DO ENSINO POR A proposta do ensino por investigação utiliza a ideia de que o conhecimento é construído a partir da ação e da reflexão do aluno diante do objeto de estudo, em outras palavras, a formulação de hipóteses e a oportunidade de verificá-las sejapor manipulação em laboratório ou mesmo com papel e caneta, cria possibilidades para que os estudantes sejam figuras ativas no processo de ensino. Neste contexto, como salienta Azevedo, (2012, p.24) “[...] o aluno deixa de ser apenas um observador das aulas, muitas vezes expositivas, passando a ter grande influência sobre ela, precisando argumentar, pensar, agir, interferir, questionar, fazer parte da construção de seu conhecimento”. As atividades investigativas são aquelas que partem de um problema aberto e permitem que os alunos empreendam ações manipulativas, análises, formulação de hipóteses, discussões e reflexões de modo que possam ser explicadas suas conclusões e inferências e que os conceitos científicos possam ser construídos nesse processo. (GIL E CASTRO, 1996; AZEVEDO, 2012). Gil e Castro (1996) consideram que alguns aspectos da atividade científica que são fundamentais em uma atividade investigativa: 1. Apresentar situações abertas comnível de dificuldade adequado ao nível dos estudantes; 2. Favorecer a reflexão sobre a relevância do que se é estudado, propondo articulações. 3. Privilegiar e incentivar as análises qualitativas que sejam significativas no entendimento da situação em estudo; 4. Conceber a formulação de hipóteses como a atividade central da investigação científica, com duplo papel: a de balizar as ações dos estudantes nas investigações e desvelar às concepções alternativas dos estudantes; 5. Dar importância ao planejamento das ações experimentais pelos estudantes. 6. Considerar a análise, com atenção nos resultados (sua interpretação física, confiabilidade etc.), de acordo com o conhecimento disponível, das hipóteses manejadas e dos resultados das demais equipes de estudantes; 7. Conceder uma importância especial à memóriacientífica que reflita o trabalho realizado e possam ressaltar o papel da comunicação e do debate na atividade científica; 8. Ressaltar a dimensão coletiva do trabalho científico, por meio de grupos de trabalho, que interajam entre si. Diante desses aspectos do ensino por investigação, há de se pensar que a postura do docente deve ser diferente da assumida nos contextos tradicionais de ensino. Para Azevedo (2012, p.25) o professor “[...] deve tornar-se um professor questionador, que argumente, saiba conduzir perguntas, estimular, propor desafios, ou seja, passa de simples expositor o orientador do processo de ensino”. De acordo com Azevedo (2012), o ensino por investigação pode ser aplicado utilizando diferentes estratégias como demonstrações investigativas, laboratório aberto, questões abertas e problemas abertos. Cada uma das estratégias pode ser escolhida de acordo com o objetivo traçado pelo professor para ensino do conteúdo em tela e com o nível de profundidade e formalismo pretendido. Neste trabalho optou-se pela proposta de ensino por investigação, através da utilização de laboratório aberto. Esta estratégia visaresponder uma questão (ou um conjunto de questões) mediante a utilização deexperimentos. Azevedo, 2012, elenca alguns passos para utilização dessa abordagem: 1. Proposta do problema: A apresentação do problema a ser abordado deve ser feita de modo a estimular a curiosidade dos estudantes, propiciando momentos de questionamentos. Para isso, é salutar que o problema não seja muito específico, permitindo ampla exploração dos questionamentos, das respostas e das propostas sugestões para investigação do problema. 2. Levantamento de hipóteses: Neste momento os alunos podem expressar e construir suas hipóteses com o intuito de responder aos questionamentos. 3. Elaboração do plano de Trabalho: O plano de trabalho da organização de quais e como serão realizadas as atividades ou experimentos na busca de responder as questões. 4. Montagem do arranjo experimental e coleta de dados: nessa etapa os estudantes vivenciam um momento mais prático, em que manipulam o experimento planejado obtendo e fazendo o registro dos dados para posterior discussão. 5. Análise dos dados: Na etapade análise de dados os estudantes avaliam os dados obtidos e os transformam em gráficos, diagramas e avaliam suas hipóteses. O grau de acurasse da análise depende dos objetivos do professor, mas deve ser suficiente para que conclusões sobre o fenômeno em investigação possam ser sistematizadas como conhecimento produzido, seja na forma de discussão de conceitos ou na proposição de formulação matemática. 6. Conclusão: é a formalização da resposta à questão inicial, que pode ser na forma de elaboração de conceitos que esclarecem a solução do problema ou na forma de obtenção de equações que modelam matematicamente o problema e sua solução. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho foi desenvolvido com um grupo formado por 12 estudantes do Ensino Médio no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, na cidade de Foz do Iguaçu, estado do Paraná. O critério para a composição do grupo foi a pré-disposição dos estudantes em freqüentar as atividades em contra-turno escolar. Inicialmente foi feita a divulgação sobre as atividades a serem desenvolvidas nas quatro turmas de Ensino Médio docolégio e posteriormente, foi abertoprazo de inscrição para os alunos. Ao final do período de inscrição quantidade de alunos inscritos era de 16, no entanto, apenas 12 frequentaram as atividades. A faixa etária dos alunos era de 15 a 18 anos. As atividades foram desenvolvidas em período vespertino e participaram quatro alunos do 3º ano, quatro do 2º ano e quatro alunos do 1º ano, todos do período matutino. No início das atividades nenhum dos alunos havia estudado o conteúdo de eletricidadena disciplina de Física sendo que apenas os alunos do 3º ano viriam estudar esse conteúdo durante o período letivo. Os materiais utilizados para as atividades em laboratório eram: Placas de para contato elétrico disponibilizadas no “kit de instalação elétrica da FUNBEC (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências)” disponível no laboratório; Soquetes utilizados comumente em lâmpadas incandescentes e econômicas (fluorescentes ou de LED); Conectores do tipo banana; Lâmpadas incandescentes que operam em 12 Volts, mas de potências distintas: 25 e 40 Watts. Interruptores comumente utilizados em abajures; Fios com conectores tipo banana e conectores do tipo boca de jacaré; Multímetros digitais; Para fontes de tensão foram utilizadas fontes de computadores do tipo ATX, oriundas de reaproveitamento de lixo eletrônico. Para uso, forma selecionadas as conexões que fornecem tensão de 12V. Assim, todos os materiais utilizados foram de fácil acesso ou de baixo custo. A Figura 1 mostra os materiais utilizados. Figura 1: Materiais utilizados nas atividades em laboratório Fonte: Os autores, 2015. As atividades foram direcionadas à investigação e a construção e/ou desconstrução de hipóteses sobre eletrodinâmica em situações em que os estudantes, em grupos, foram expostos ao planejamento, construção e manipulação de circuitos elétricos, usando tanto elementos reais quanto simuladores computacionais, visando à construção de conceitos sobre corrente elétrica. As atividades de manipulação (experimental ou de simulação) foram intercaladas com momentos de discussão teórica sobre conceitos de eletricidade como corrente elétrica, diferença de potencial, Leis de Ohm. Estes momentos de discussão foram realizados durante as atividadesmanipulativas, na medida em que os alunos avançavam nas investigaçõese tinham como objetivos sistematizar e organizar o conhecimento produzido. A condução das atividadesera guiada pelasseguintes etapas: a) Proposta do problema: A apresentação do problema a ser abordado era feita diante da proposição da execução de uma tarefa como ligar uma lâmpada utilizando os materiais disponíveis como fios, fonte de tensão, interruptores, etc. A proposição do problema também era explorada através de situações em que os estudantes manipulavam os circuitos através de simulador computacional. O simulador utilizado era o Kit de Construção de Circuitos AC/DC, do projeto PhET da Universidade do Colorado; b) Levantamento de hipóteses: Neste momento, os alunos, em grupos, discutiam suas hipóteses e avaliavam as hipóteses dos colegas com o intuito de darem uma resposta à questão proposta. c) Elaboração do plano de Trabalho: No plano de trabalho os estudantes esboçavam através de desenhos suas propostas de solução para o problema proposto a partir das hipóteses levantadas para a posterior execução e confirmação ou refutação das hipóteses levantadas. d) Montagem do arranjo experimental e coleta de dados: essa fase constitui a etapamanipulativa na qual os estudantes testavam suas hipóteses através da construção e reconstrução dos circuitos propostos, em elementos reais e no simulador. Além da manipulação dos materiais, os estudantes eram instigados a registrarem os dados quantitativos e qualitativos provenientes das observações. e) Análise dos dados: Na etapa de análise de dados os estudantes avaliam os dados obtidos e os transformam emdiagramas de modo que possam validar ou não as suas hipóteses iniciais. f) Organização do Conhecimento/Conclusão: Nesta fase, os alunos são orientados a organizar e sistematizar o conhecimento produzido, isto é, produzir a formalização do conhecimento a partir das etapas anteriores, apresentando sua resposta à questão inicial. 4 RESULTADOS Após a apresentação de todos os materiais com uma breve explanação sobre suas funçõesfoi apresentada aos estudantes a seguinte atividade: 1. Debata com seus colegas propostas de circuitos feitos com esse material de forma a acender uma lâmpada e registre seus esquemas na forma de desenhos. 2. Teste suas propostas para ver quais funcionam (não se esqueça de observar a característica da lâmpada utilizada). Tente explicar o porquê funciona ou não funciona. Para a atividade 1, após as discussões ocorridas nos grupos, os seguintes desenhos foram apresentados, como proposta de circuito: Figura 2: Desenhos feitos pelo grupo 1 (a), grupo 2 (b) e grupo 3 (c), durante a fase de elaboração do plano de trabalho. Fonte: Os estudantes participantes dessa atividade, 2015. Laburu (et al, 2009, p.31), discorre sobre o papel dos desenhos na aprendizagem de Física, considerando que: O desenho seria um mecanismo provisório de representação pessoal ou interpessoal, por isso, informal, intuitivo e evidente, para imaginar, de forma figurativa, objetos, fenômenos ou situações empíricas que estão começando a ser aprendidos. Observa-se que todos os grupos esquematizaram os circuitos de forma a utilizar os elementos elétricos necessários – fonte de tensão, placa suporte, fios, soquetes e lâmpadas. Para o grupo 1 e o grupo 2 também se observa a tentativa de desenhar mais de uma possibilidade de circuitos de modo agarantir que alguma das propostas funcionasse. Após a atividade 1, os alunos passaram à parte experimental, manipulando os componentes do circuito de forma a implementar suas ideais em circuitos reais. Com isso, puderam testar suas propostas de circuito e fazer suas observações, conforme sugerido na parte 2 da proposta de atividade. Para os grupos 1 e 2, que apresentaram várias alternativas de circuito, estão indicados com uma marca (colocada ao lado do desenho) a proposta de circuito que, segundo eles, “funcionou”. Em relação ao funcionamento dos circuitos as seguintes explicações foram dadas: Grupo 1: “Funcionou porque a corrente de energia vinda da fonte de 12 v passou somente pela lâmpada” Grupo 2: “A primeira não funcionou porque só foi usado um dos fios ligados na fonte e por isso não passou energia necessária. Depois funcionou porque “usamo” o principio básico de ligar dois fios em dois para fornecer energia necessária” Grupo 3: “A fonte retira sua energia (do gerador), que passa para o fio com jacaré e com isso passa para o fio do soquete que manda a energia para a lâmpada. De forma externa a energia da fonte passa pelo interruptor. Nas respostas identificamos algumas concepções alternativas em relação à eletricidade. O grupo 1 atribui o funcionamento da lâmpada pelo fato da “exclusividade” da energia à lâmpada, sem considerar que elementos também compunham o circuito como as placas, interruptores e soquetes. O grupo 2 quantificou a energia em relação ao número de fios que saiam da fonte, acreditando que um fio não fornecia a energia suficiente, atribuindo o funcionamento da lâmpada à energia auxiliar fornecida pelo segundo fio. O grupo 3 estabeleceu uma ideia de corrente ao descrever o caminho até a lâmpada, mas considerou a lâmpada como o fim do ciclo, como se a corrente se extinguisse ao chegar à lâmpada, o que pode ter dificultado o entendimento da função do interruptor. Algumas concepções convergem com estudos em relação ao ensino de Física, (CRESPO, 2010, p.223) enumera algumas ideias e dificuldades de aprendizagem relacionadas com a eletricidade: “Aparecem dificuldades para distinguir e utilizar termos como “diferença de potencial”, “voltagem”, “corrente”, “energia”, “potência”, etc.”. Avaliando o desenho do grupo 1, ainda de acordo com o mesmo autor: Os alunos não vêem a necessidade de fechar um circuito para que haja corrente elétrica. Quando se pede que desenhe as conexões de uma pilha e uma lâmpada para que ligue, propõe modelos nos quais há somente um fio que une os dois dispositivos... (CRESPO, 2010, p.223) Quanto à função de cada componente no circuito, motivada pela questão “Quais são as funções dos materiais que formam o circuito?”, os grupos responderam da maneira que segue: Tabela 1: Atribuições das funções dos componentes do circuito segundo os grupos. Componente Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Fonte Gera energia Tem a função de passar energia Retira a energia do gerador e passa para os outros componentes Soquete Conduz a energia da lâmpada Não descreveram Serve para receber a energia do fio e passar para a lâmpada. Interruptor Interrompe a corrente Interromper necessário Fio Conduz a energia do soquete Levar a energia Passa a energia de uma fonte para outros componentes. Lâmpada Não descreveram Receber a energia e acender Não descreveram Placa Suporte Não descreveram De distribuir energia) Recebe de um fio a energia e passa para outro componente “si” (a Serve para interromper o fluxo de energia do fio para o soquete Fonte: Os autores, 2016. Nessas respostas pontuamos inicialmente a ideia de energia tão presente nas explicações das funções de cada componente. Cabe ressaltar que os estudantes trazem a ideia energia elétrica como uma forma de energia e acreditam que a energia possa ser transmitida através de alguns componentes como o fio e a placa suporte. Os grupos convergiram em relação à função do interruptor e a fonte foi descrita pelos grupos 2 e 3 como responsável por “passar” energia o que, em nosso entendimento seria de fornecer a energia. Em relação à fonte, o grupo 1 atribui-lhe a função de gerar energia. Em relação à lâmpada, apenas o grupo 2 descreveu sua função. Acreditamos que a falta de interesse em descrever a função da lâmpada deve-se à obviedade que os alunos possam considerar em relação à sua função. Uma concepção que parece se relacionar às respostas dos estudantes é da “corrente elétrica como um fluido material” (CRESPO, 2010), como se a corrente elétrica fosse um fluído armazenado na fonte e consumida pela lâmpada sendo que os fios assumem o papel de veículo que permitem levar a corrente de um lugar para o outro. Considerando o acendimento da lâmpada, foi proposta uma questão que solicitava aos estudantes que respondessem o motivo pelo qual a lâmpada acende, na seguinte forma: “Em sua opinião, o que ocorre para que haja o acendimento da lâmpada? Descreva o seu raciocínio”. As respostas dadas pelos alunos seguem abaixo: Grupo 1: “Tem que haver a passagem de corrente – movimentação de elétrons- pela lâmpada (havendo na lâmpada um resistor que transforma a energia elétrica – térmica/luminosa) Grupo 2: “Ela precisa receber a quantidade de energia necessária sem que os dois fios da fonte se encontrem. Se não os dois fios dá curto circuito” Grupo 3: “A passagem de energia que vem do gerador passando para a fonte com isso ligando os componentes”. Nessa questão o grupo 1 apresentou uma explicação mais elaborada em relação às outras questões, considerando que há uma corrente e pontuando as transformações de energia que ocorrem ao acender uma lâmpada, inclusive caracterizando uma lâmpada como um resistor. O grupo 2 continua com a ideia de quantificar a energia e desconsideram a necessidade de que o circuito esteja fechado e ainda alertam que, nesse caso haveria um curto-circuito. O grupo 3 apresenta a ideia de que a energia elétrica “liga” as coisas, mas sem detalhamento de como isso ocorre. Esse tipo de resposta ecoa na argumentação de Crespo, (2012, p. p.222) quando pondera que: “A maioria das ideias [...] surge da observação da realidade cotidiana a partir do marco das teorias implícitas. Elas permitem que o aluno faça previsões e organize suas ações à sua volta: é necessário ligar uma lâmpada para que se produza luz, o rádio não funciona quando as pilhas estão gastas...” A proposta inicial de ligar uma lâmpada foi ampliada no sentido de ligar duas e três lâmpadas, o que culminou com discussão sobre as associações entre elas. No entanto, visando focar o conceito de corrente elétrica, apresentamos a seguir apenas um recorte dessas análises. Aspectos relevantes para o entendimento da corrente elétrica emergiram nessa etapa, o que incentivou à condução da discussão decircuitos através da utilização do simulador “Kit de construção de circuito (AC+DC)”, disponível no Phet-Colorado. O desenvolvimento das atividades no simulador nos permite a visualização dos aspectos físicos da eletricidade como a corrente elétrica através da animação das partículas em movimento, além de oportunizar a utilização virtual de instrumentos de medidas como o voltímetro e o amperímetro. Devido à interatividade do simulador, os alunos conseguiram rapidamente montar os circuitos propostos, além de explorar outros circuitos com mais de uma lâmpada e realizar medições de tensão e correntecom os medidores disponíveis no simulador. Após a etapa de simulação foram realizadas discussões teóricas sobre alguns conceitos da eletrodinâmica, como corrente elétrica diferença de potencial, resistência elétrica e potência, além da discussão sobre as situações que foram vivenciadas no simulador. Novamente, algumas questões foram colocadas sobre o acendimento da lâmpada. Foi solicitado aos estudantes anotassem aspectos que eles consideraram relevantes analisando o circuito no simulador. Grupo 1 ao observar acendimento de uma lâmpada no simulador: Grupo 1: “[...] a energia foi gerada pela bateria que fez com que os elétrons “passasse” pelos elementos ate que chegasse na lâmpada que é acendida com o calor que passa pelo filamento assim chegando até o interruptor o que faz com que interrompa o fluxo de elétrons de acordo com que está controlando” O grupo 2 descrevendo uma situação de duas lâmpadas (conectadas em série) no simulador em comparação com apenas uma lâmpada, mantendo tensão elétrica da fonte fixa: Grupo 2: “Possui intensidade menor no brilho de ambas as lâmpadas. Qualquer um dos interruptores se desligado, pode apagar as duas lâmpadas. Cada parte depende do outro e, por ter muitas partes antes que os elétrons cheguem à lâmpada seu fluxo é menor”. O grupo 2 descrevendouma situação de duas lâmpadas (conectadas em paralelo) no simulador: Grupo 2: “Ambas as lâmpadas independem uma da outra para acender, por isso são menos etapas para que os elétrons cheguem até elas sendo um processo mais rápido e com brilho mais forte”. O grupo 3 descrevendo uma situação de duas lâmpadas (conectadas em série) no simulador: Grupo3: “Quando a corrente passa pala lâmpada com as chaves abertas, as duas acendem normalmente porem após desligar uma das chaves nenhuma lâmpada liga” A ideia de corrente elétrica foi muito presente na explicação de todos os grupos, que por diversas vezes ressaltavam o “trânsito” dos elétrons em suas explicações. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da reação dos estudantes frente às situações às quais foram expostos mostra o quanto às concepções alternativas sobre eletricidade está presentes e como elas são difíceis de serem desconstruídas. Nossa ação didática em laboratório aberto nos revela que os alunos realizam as atividades com mais entusiasmo e motivação quando manipulam elementos reais e quando e quanto os princípios científicos são relacionados às suas experiências cotidianas, como o simples fato de ligar uma lâmpada. Também observamos a ansiedade que os estudantes têm em dar uma resposta considerada certa de maneira rápida, muitas vezes saltando etapas importantes para a construção significativa de conceitos. Isso fica evidenciado, por exemplo, no momento da elaboração do plano de trabalho em que os grupos fizeram várias propostas como se assim fossem garantir com que uma delas fosse funcional. Em relação ao conceito de corrente elétrica, acreditamos que uma ferramenta auxiliar importante na construção desse conceito foi a utilização do simulador, pois, o modo que ele ilustra os elétrons como pequenas partículas em trânsito parece ter dado significado a esse conceito. Por isso, podemos afirmar que a combinação entre o laboratório de ciências e o laboratório de informática potencializou a atividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Maria Cristina P. Stella de. Ensino de Ciências: Unindo a Pesquisa e a Prática. In:CARVALHO, Anna Maria Pessoa de (Org.). Ensino por Investigação: Problematizando as Atividades em Sala de Aula. São Paulo: Thomson, 2004. Cap. 2, p. 19-34. CRESPO, Miguel Ángel Gómez; POZO, Juan Ignacio. A Aprendizagem e o Ensino de Ciências: do Conhecimento Cotidiano ao Conhecimento Científico. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. DORNELES, Pedro F. T; ARAÚJO, Ives S.; VEIT, Eliane A. Simulação e modelagem computacionais no auxílio à aprendizagem significativa de conceitos básicos de eletricidade: parte 1circuitos elétricos. 2006. Disponível em: <http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/050704.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2016. GIL, D. e CASTRO V., P. La orientación de las prácticas de laboratorio como investigación: um ejemplo ilustrativo. 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CONCEPT FORMATION ON ENERGY AND ELETRIC CURRENT USING THE INQUIRY BASED LEARNING Abstract: This article reports a didactic action anchored in the precepts o inquiry based learning using a technique of open laboratory in which some activities are proposed with the aim of to carry to the built of physical concepts in electricity, in particular, the concept of power and electric current. It have been observed that some alternative conceptions of students, expressed through drawings and answers to questions posed before the activities have changed during the learning activities. Thus, the action was able to change some is conceptions of students and providing opportunities to build the concept of current and electricity consistent with the scientific principles. Keywords: Inquiry based learning, Open Laboratory, Electricity.