Bioética: uma ciência preocupada com a vida

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Bioética: uma ciência preocupada com a vida
Prof. Dr. Nilo Agostini
A Bioética é uma ciência nova. Tem 40 anos. Ela teve início na década de 70 do século
passado, quando se começou a ver que o avanço das tecnologias necessitava de um
acompanhamento ético, sobretudo as biociências. Cunhou-se o termo bioética,
justamente para que pudéssemos fazer com que as ciências relacionadas à vida, às
biotecnologias, pudessem servir ao ser humano e ajudá-lo no seu processo de
humanização. Hoje, o termo bioética abrange toda a preocupação voltada à vida, mas
também alcançando os seres não vivos, numa visão abrangente da criação toda.
Há um pluralismo muito grande dentro da Bioética e o consenso está começando a se
fazer. Por que tal pluralismo? Porque as mais diferentes ciências são interpeladas e
começam a responder aos desafios da Bioética. Aparecem também profissionais os
mais diversos, tendo que se pronunciar sobre questões de Bioética, seja do nascer,
seja do morrer, seja das questões de saúde ou de engenharia genética, ou até
ambientais. E por isso há uma diversidade de posições, quem nem sempre formam um
real consenso.
Conteúdo da Bioética
A Bioética se ocupa do nascer, do morrer, mas também do percurso que se faz entre o
nascer e o morrer. E aí ela se preocupa com a qualidade da vida existente. Com relação
ao nascer, entram todas as questões relacionadas ao início da vida: Quando é que
começa a vida? Podemos intervir no processo do nascimento? Aí perfilam-se as
correntes abortistas, as tecnologias relativas ao genoma humano, a engenharia
genética etc. Será que podemos intervir geneticamente no embrião humano?
Podemos utilizar as células dos embriões nos seus primeiros dias? São células no
estágio indiferenciado, chamadas de células-tronco, e por isso serviriam muito bem
para formar e desenvolver tecidos e órgãos em laboratório, para repor órgãos no ser
humano, fazer transplantes etc. Há toda uma gama de interrogações.
A ética cristã, que dá sua colaboração de especial grandeza para a Bioética, diz que
desde o primeiro instante da fecundação estamos diante de um ser humano, com
direito à vida. Portanto, ela diz não ao aborto em qualquer estágio e diz não à
utilização de células-tronco do embrião humano. Isto porque a ética cristã diz sim à
vida humana em qualquer estágio e em sua integralidade.
Quanto ao fim da vida, a Bioética tem se ocupado com as seguintes questões: Quando
é que realmente termina a vida? Como acompanhar o final da vida do ser humano? No
passado, pensávamos que o final da vida era determinado pela parada respiratória.
Depois, vimos que é quando o coração parava. Hoje, damo-nos conta de que é quando
o cérebro pára. Outra questão bioética que está aparecendo quanto ao final da vida é
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a eutanásia. Por que não, diante de uma situação de doença crônica e de dores, aplicar
ao paciente uma dosagem para que morra logo? A contribuição cristã diz que não
temos o direito de abreviar a vida de alguém, no sentido de uma eutanásia, ou seja,
fruto de uma ação premeditada, abreviando a vida, mas temos, sim, que preservá-la,
assegurando os tratamentos básicos, podendo sempre aliviar a dor. Nunca se
suspende um tratamento básico, ordinário, proporcional à chance de vida. Mas
também não se deve cair no contrário, ou seja, a distanásia, prolongando
artificialmente a vida, na chamada obstinação terapêutica. Importa dar sempre o
tratamento proporcional à situação em que se encontra a pessoa. E quando a morte
vai chegando, importa deixar a vida seguir seu curso normal, no que chamamos de
ortotanásia, garantindo os cuidados paliativos, respeitando o momento da morte que
chega, fazendo-nos, sim, presentes humana e espiritualmente junto à pessoa doente
e/ou moribunda.
Qualidade de vida
Entre o nascer e o morrer, a Bioética se ocupa também com a qualidade da vida
existente; observa o cotidiano da vida das pessoas. A Bioética acompanha com atenção
especial as áreas da saúde, habitação, segurança, emprego, educação... E aí a Bioética
leva-nos a analisar o sistema social, chegando à questão política e econômica. Leva-nos
a rastrear, então, as disparidades sociais existentes em nosso país, que faz com que
poucos tenham muito e muitos tenham pouco ou muito pouco, o que atenta contra a
vida destas pessoas, não garantindo uma qualidade de vida que seja compatível à
dignidade humana.
Qualidade de vida não significa só ter coisas. Muitos pensam que é uma questão de
ter; outros acham que é garantir prazer; há quem ache que qualidade de vida é
entregar-se a um consumismo desenfreado. Na verdade, qualidade de vida é sustentar
a vida humana, garantindo às pessoas, é claro, o necessário para viver dignamente; no
entanto, qualidade de vida é também envolvê-la com afeto nas relações humanas,
com o espiritual na edificação do seu sentido transcendente, com o cuidado da saúde,
com a educação e com o equilíbrio entre as diversas dimensões do ser humano.
Qualidade de vida é viver de maneira integrada as diferentes dimensões que nos
enriquecem como pessoas (corporal, psico-afetiva, social e espiritual) e, com isso,
amadurecer, num processo que se dá durante toda a nossa vida.
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