Elizabeth Nascimento Rodrigues - Escola de enfermagem

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ELIZABETH NASCIMENTO RODRIGUES
O CUIDAR DO PACIENTE COM QUEIMADURAS:
VIVÊNCIA DO AUXILIAR DE ENFERMAGEM
Dissertação apresentada à Escola de Enfermagem
da Universidade Federal de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª. Drª. Elizabeth M. das Graças
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem da UFMG
2000
Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais
Diretora: Roseni Rosangela de Sena
Vice Diretora: Marisa Antonini Ribeiro Bastos
Colegiado de Pós-Graduação
Coordenadora: Marília Alves
Revisão: Daise Lúcia Mendes
Formatação: Jailton Roberto Guimarães
R696c
Rodrigues, Elizabeth Nascimento
O cuidar do paciente com queimaduras:
vivência do auxiliar de enfermagem/Elizabeth
Nascimento Rodrigues. Belo Horizonte,
2000.
155p.
Dissertação.(Mestrado). Enfermagem.
Escola de Enfermagem da UFMG.
1. Cuidados de enfermagem
2. Percepção
3. Auxiliares de Enfermagem. 4. Unidades
de pacientes com queimaduras I. Título
NLM: WY 193
CDU: 616-083
ELIZABETH NASCIMENTO RODRIGUES
O CUIDAR DO PACIENTE COM QUEIMADURAS:
VIVÊNCIA DO AUXILIAR DE ENFERMAGEM
Dissertação defendida e aprovada, em 28 de abril de 2000, pela
banca examinadora constituída pelos professores:
__________________________________
Profª Drª Elizabeth Mendes das Graças
__________________________________
Profª Drª Matilde Meire Miranda Cadete
__________________________________
Profª Drª Vitória Helena Cunha Espósito
Dedicatória
A Mauro, pelo incentivo a que chegasse até aqui, pelo amor e carinho
nesta caminhada e a certeza de que estará sempre comigo.
A Matilde que, mesmo à distância, fez-se presente, fazendo-me crer que é
possível superar minhas limitações.
A minha mãe e a meus filhos pela compreensão, paciência e preces.
A todos os auxiliares que, com muita vontade de colaborar, participaram
na construção deste estudo.
O cuidado... o cuidado de enfermagem... afinal o que sou?
“Venho de um tempo sem memória, sem atos nem dados registrados pela história.
Caminho com o surgimento dos primeiros sres da criação e ainda vagueio além dos
limites da imagina;áo. Apareço em cada part, em cada ato em que um ser se desvela
por outro ser. Permeio o cotidiano de cada profissão, mas é na enfermagem que ganho
dimensão.
Lá sou presente, metaformoseado em diversos atos. No toque suave do aconchego, eu
sou carinho. Na injeção que penetra e rompe os músculos e vasos levando o
medicamento para o corpo, transformo-me em auxílio para a cura. No banho que
purifica a pele, sou o ato que higieniza e auxilia a reação do organismo, levando-lhe a
benfazeja sensação de limpeza. Estou presente em cada ato prarticado por
profissionais que levam consigo o objetivo de ver restabelecidas as forças e as energias
dos doentes. Gravito por todas as acões e estou presente nas mínimas intenções
dispersadas no firmamento pelo cuidador.
Sou ato e resultado. Imperceptível, às vezes insensível. Chamo-me cuidar/cuidado e
permeio a enfermagem em cada fato, em cada ato.
(...)
É difícil ver-me só ciência, sentir-me apenas arte. Sou ambas numa só parte. Meus
vértices gravitam entre a habilidade do ser humano cuidar de outro ser humano e o
conhecimento compilado e organizado dos que imaginam fugir desse contato. Neste ato
sou plena. Estou repleta de símbolos. Represento fatos.”
(Ana Izabel Jatobá de Souza)
Agradecimentos
A Deus.
A todas as pessoas que colaboraram direta ou indiretamente com este
trabalho, principalmente aquelas que estiveram presentes nos momentos de
dificuldades.
A Nina por dar suporte às minhas ausências.
A Profª. Drª. Elizabeth Mendes pelo zelo na orientação e conhecimento
que adquiri durante o desenvolvimento deste trabalho.
RESUMO
Esta pesquisa, apoiada na proposta metodológica da fenomenologia,
segundo a modalidade do fenômeno situado, revela a percepção do auxiliar
de enfermagem como sujeito cuidador de pessoas com queimaduras
internadas na Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital de Pronto
Socorro João XXIII. As entrevistas foram norteadas pela questão: O que é
para você cuidar do paciente queimado? A partir da análise ideográfica e
nomotética de nove relatos, foram obtidas quatro categorias, quais sejam:
“O Cuidar e as dificuldades do cotidiano”, “Cuidar é gostar do que se
faz”, “Cuidar é agir orientado pelo saber” e “O Cuidar e o trabalho em
equipe”. Revelam que o cuidar do paciente queimado é uma atividade
difícil que requer preparo emocional e capacidade de re-significação das
situações cotidianas geradoras de tensão e dor. Sobretudo, é necessário ter
motivação, força interior e sentimento de amor pelo que se faz. Além
disso, é preciso
estar
fundamentado num saber técnico-científico e,
juntamente com outros profissionais, direcionar a prática do cuidar para o
atendimento das necessidades da pessoa com queimaduras
em sua
totalidade. A reflexão das categorias aponta para as situações vivenciadas
cotidianamente
pelos auxiliares de enfermagem, que devem ser
repensadas, visando à melhoria do cuidado oferecido aos pacientes e ao
próprio mundo-vida desses profissionais no trabalho.
ABSTRACT
This research, based on the methodological proposal of Phenomenology,
according to the situated phenomenon mode, shows the perception of the
nurses’ aides as subject caring for people in the Burns Treatment Unit of
the João XXIII Emergencies Hospital in Belo Horizonte – Minas Gerais.
Interviews were guided by the question: “What does it mean to you to
care for a patient with burns?” With the ideografic and nomothetic
analysis of nine statements, four categories were obtained, i.e.: “Caring
and daily difficulties”, “Caring is enjoying what you do”, “Caring is being
guided by Knowledge” and “Caring and Team Work”. They revealed that
caring for the patient with burns is a difficult activity, demanding
emotional training and a capacity for re-signifying daily routine sitations
generating tension and pain. Above all,it is necessary to have motivation,
inner strength and enjoying what you do. You must also be well founded in
technical and scientific knowledge and, together with other professionals,
guide the care of people whith burns in a holistic way. Reflecting on the
categories suggests that the situations lived daily by nurses’ aides must be
rethought, so as to provide improved care to the patients and to improve the
very life/world of these professionals in their work.
SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO ............................................................................... 9
II. SITUANDO O TEMA ....................................................................... 14
III. O CAMINHAR METODOLÓGICO ................................................ 21
3.1. Por que Fenomenologia? ........................................................... 21
3.2. A Opção pela Análise do Fenômeno Situado ........................ 23
3.3. Coleta e Análise dos Depoimentos ............................................ 27
V. DISCURSOS E ANÁLISES IDEOGRÁFICAS .......................... 30
V. MATRIZ NOMOTÉTICA ................................................................. 106
VI – REFLEXÃO DOS RESULTADOS ............................................... 108
6.1. O Cuidar e as Dificuldades do Cotidiano ................................ 108
6.2. Cuidar é Gostar do que se Faz .................................................. 115
6.3. Cuidar é Agir Orientado pelo Saber ........................................ 123
6.4. O Cuidar e o Trabalho em Equipe ......................................... 135
VII. CONSIDERAÇÕES DE UM CAMINHAR .................................. 140
VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................... 147
IX. ANEXO ............................................................................................ 151
9
I.
INTRODUÇÃO
O interesse em desenvolver um trabalho com o tema aqui
proposto surgiu ao longo da minha trajetória de vida.
Minha família morava em Rio Verde, uma pequena cidade do
interior de Goiás, onde minha mãe trabalhou como atendente de
enfermagem. Uma tia foi estudar em São Paulo e se formou como
“Enfermeira Padrão”. Suas visitas à casa de meu avô eram sempre uma
festa. Quando chegava, sempre trazia novidades em relação à grande
cidade e ao seu trabalho.
Além desse vínculo familiar com a enfermagem, convivi também
com “enfermeiras parteiras”, que entravam em nossa casa sempre que havia
um bebê para nascer. Nos batizados e aniversários desses bebês, elas
estavam presentes.
Por meio delas recebi as primeiras orientações de
educação para a saúde, pois constantemente estavam preocupadas em nos
ensinar desde como tomar banho até como cuidar de um machucado.
As enfermeiras de minha infância passaram para mim uma visão
de altivez, respeito, autoridade. E eu as admirava.
Certamente, esse foi um dos motivos que me fizeram escolher a
enfermagem como profissão. Durante o
curso, descobri que exercer a
enfermagem, muito mais do que simplesmente realizar um desejo, era
minha verdadeira vocação.
Após a graduação, diante de algumas ofertas de trabalho, sentime apreensiva devido à falta de experiência, mas,
ao mesmo tempo,
empolgada por ver aberto, diante de mim, um mundo de possibilidades e
desafios.
Iniciei
minhas
atividades
profissionais
como
enfermeira
supervisora da Unidade de Tratamento de Queimados - (UTQ), 8º e 9º
9
10
andares do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, em Belo Horizonte.
Concomitantemente, assumi o cargo de Professora Substituta da disciplina
Enfermagem Médico Cirúrgica na Escola de Enfermagem da Universidade
Federal de Minas Gerais, (EEUFMG) onde, além de aulas teóricas,
acompanhava alunos da disciplina em campos de ensino clínico.
No ambulatório geral, eram atendidos, anualmente, em torno de
1600 pacientes vítimas de queimaduras. A capacidade de internação do
serviço era de 40 leitos e atendiam-se pessoas com queimaduras oriundas
da capital, de municípios vizinhos e até de outros estados. O tempo de
permanência hospitalar era longo e o tratamento, além de muito doloroso,
nem sempre obtinha êxito. O óbito das pessoas com queimaduras extensas
era um evento relativamente freqüente.
Para mim, o paciente queimado não foi uma surpresa, pois já
havia convivido com uma pessoa vítima de grande queimadura na família.
Entretanto, sabia que, para cuidar desse tipo de paciente, era necessário
haver não só preparo e treinamento específicos, mas, sobretudo, uma certa
estabilidade emocional. Era comum encontrarmos profissionais da saúde
que não suportavam trabalhar ou mesmo entrar na unidade de pacientes
queimados.
Onde trabalhava, a
maioria dos auxiliares de enfermagem
lotados no setor prestava serviços ali havia mais ou menos 10 anos, o
que lhes garantia um respeitável domínio técnico. Isto, porém, parecia não
ser suficiente para que todos os pacientes sentissem estar recebendo uma
assistência de qualidade.
Como uma das supervisoras da unidade, recebia queixas de
internos e de seus acompanhantes quanto aos cuidados prestados por
alguns auxiliares de enfermagem. Normalmente, as queixas envolviam a
dimensão relacional
do cuidar e
traduziam falta de sensibilidade e
10
11
compreensão do auxiliar ao assistir, em especial, os pacientes que
passavam por crises de tristeza ou depressão. Por outro lado, também eram
freqüentes reclamações
dos membros da equipe de enfermagem em
relação a certos pacientes ou acompanhantes.
Como recém-formada, sentia dificuldade em
lidar com essa
situação, que parecia fugir da minha capacidade de resolução.
O sistema de rodízio na escala de plantões era a norma adotada
na Unidade de Tratamento de
Queimados, ou seja,
um auxiliar de
enfermagem ficava responsável, a cada dia, pelos pacientes de uma
determinada enfermaria. Quando surgia algum conflito entre funcionário e
paciente, uma forma de intervenção que nós, as supervisoras, adotávamos
era mudar a dinâmica do rodízio, até que os ânimos se acalmassem. Mas
essa não parecia ser a melhor solução, pois, em certas situações, os
conflitos persistiam.
Ao olhar atentamente nas entrelinhas dos acontecimentos, pude
observar que tanto as queixas dos pacientes quanto as dos auxiliares iam
além do que era dito.
Na relação com os pacientes, começava a perceber que tinham
como expectativa não somente os cuidados técnicos que lhes eram
prestados, mas, sobretudo, uma equipe de enfermagem que pudesse
compreendê-los e ajudá-los naquele momento de dor que passavam com o
comprometimento físico sofrido e com a hospitalização.
Quanto
precisavam falar e
aos membros da equipe de enfermagem, sentia que
ser
ouvidos como
participantes do processo de
trabalho que vivenciavam e como pessoas que experienciavam, de maneira
angustiada, os conflitos que surgiam.
À procura de soluções, nós, as supervisoras, decidimos propor
reuniões nas quais as experiências cotidianas daqueles que ali trabalhavam
11
12
seriam
compartilhadas.
Acreditávamos que essa poderia ser a
oportunidade de, juntos, encontrarmos meios para resolver os nossos
problemas.
Nessas
reuniões,
enfermeiros,
auxiliares,
psicólogos
e
fisioterapeutas da equipe discutiam as questões emergidas das situações
vivenciadas pelo grupo
na co-existência com o paciente e entre nós,
membros da equipe de saúde da unidade. Buscávamos, com os encontros,
melhorar nossa relação e nossa atuação profissional.
Observava, porém, que, apesar da mudança significativa
na
organização do trabalho e do relacionamento entre as equipes que atuavam
na Unidade de Tratamento de Queimados, ainda pairava
resistência dos auxiliares de enfermagem
para com as
uma certa
propostas de
mudanças na maneira de assistir o paciente, discutidas e decididas nas
reuniões.
Se, por um lado,
tentava compreender a relação
entre os
auxiliares e os pacientes, na situação de cuidar e ser cuidado, e até aquele
momento não encontrava respostas, por outro lado, já tinha certeza, pela
experiência com as reuniões, de que o diálogo, o estar atenta e aberta para
ouvir ambas as partes era o caminho para chegar ao esclarecimento. Nesse
momento, já me sentia comprometida a buscar compreender essa realidade
que vivenciava no meu cotidiano.
Decidida a fazer o Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal de Minas Gerais, pensei que talvez esta fosse a
oportunidade de poder desenvolver um trabalho de pesquisa que
respondesse àquilo que procurava. Percebi que o estudo da interação entre
o auxiliar de enfermagem e o paciente poderia ser a minha proposta de
investigação a ser desenvolvida.
12
13
Logo no início do curso, tomei conhecimento do estudo
realizado por GRAÇAS (1996) a respeito da percepção do paciente sobre a
hospitalização. Reconheci nos discursos apresentados a unidade onde
trabalhava. No decorrer da leitura, algumas questões sobre as quais tinha
dúvidas foram clareando. Já era capaz de compreender o que o paciente
sentia em relação à equipe de enfermagem, o tipo de cuidado que gostaria
de ter, como percebia o setor e a hospitalização de uma maneira geral.
Refletindo sobre a situação, percebi que, agora, restava ouvir o
sujeito que cuida, para desvelar, sob a sua ótica, a interação de quem cuida
com aquele que é cuidado. Para aí chegar, achei que seria necessário ouvir
o auxiliar de enfermagem, de uma maneira mais ampla, sobre o significado
da sua prática, buscando assim, no seu mundo-vida, na sua experiência, a
compreensão do fenômeno "cuidar do paciente queimado".
Com vista à realidade exposta, optei por este estudo, com o qual
pretendo apreender perspectivas, ainda
não relevadas, da vivência do
auxiliar de enfermagem ao cuidar do paciente queimado. Ao dirigir o meu
olhar para o mundo múltiplo do ser cuidador, espero poder compreender a
experiência do cuidar por meio do seu próprio discurso, levando em
consideração o significado vivenciado por ele.
Partindo, então,
do meu incômodo e de dúvidas advindas da
minha prática profissional como enfermeira na unidade destinada ao
tratamento de pacientes queimados, decidi interrogar os auxilares de
enfermagem com a seguinte questão orientadora:
O que é para você cuidar do paciente queimado?
13
14
II. SITUANDO O TEMA
Em se tratando do paciente queimado, pode-se dizer que,
geralmente, há uma estigmatização da sociedade com relação ao seu
atendimento, tratamento e à sua própria convivência social. Em muitos
lugares, essas pessoas ainda recebem o pior atendimento entre os doentes
traumatizados.
É comum a condução inadequada do
tratamento dos
pacientes com queimaduras, quase sempre realizado em hospitais gerais
por profissionais não especializados e sem a dimensão multiprofissional
necessária. (SILVA,1995).
O primeiro serviço destinado exclusivamente ao tratamento de
queimadura, no Brasil, foi oficializado em 16 de janeiro de 1948, no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. Até o ano de 1958, este ainda era o único serviço na especialidade.
(MARIANI, 1995).
Após uma experiência dolorosa ocorrida na cidade de Niterói,
provocada por um incêndio criminoso no Gran Circo Norte-Americano,
em 17 de dezembro de 1961, em que 2500 pessoas ficaram aprisionadas
sob uma cobertura de plástico em chamas e 400 delas morreram, houve um
olhar mais atento e profissional em relação à complexidade da assistência
às vítimas de queimaduras. (SILVA, 1995).
Outras tragédias, como o incêndio no Edifício Andraus, em
1972, e no Edifício Joelma, em 1974, na cidade de São Paulo, vieram
corroborar a seriedade e o profissionalismo de alguns pioneiros da área.
Mesmo assim, até 1988, apenas 7 dos 572 municípios de São Paulo
possuíam
unidades estruturadas
para atender os pacientes com
queimaduras. (MARIANI, 1995).
14
15
Em Belo Horizonte, o Hospital de Pronto Socorro JOÃO XXIII
é referência para assistência às vítimas de queimaduras. Além do
ambulatório para atendimento de urgência, ele é o único a possuir uma
unidade especializada no tratamento de pessoas com queimaduras agudas e
crônicas. No caso de um grande queimado, o primeiro debridamento é
realizado no bloco cirúrgico do ambulatório, pela equipe de cirurgiões
plásticos. Depois, o paciente é transferido para o 8° andar, para onde são
encaminhados aqueles avaliados com menor risco de vida, ou para o
9°andar, destinado aos que necessitam de cuidados mais intensivos.
Em levantamento realizado no período de janeiro de 1987 a
dezembro de 1990, no ambulatório do referido hospital, foram atendidos
471 726 pacientes com diferentes diagnósticos clínico-cirúrgicos. Desses,
cerca de 6 315, 1,3% dos atendidos, foram vítimas de queimaduras. Em
torno de 5 747 das pessoas com queimaduras, ou seja, 91%, receberam
tratamento ambulatorial e 568, 9% do total, foram internadas na unidade
especializada para este tipo de paciente. (COSTA, 1995).
Os dados apresentados no referido trabalho demonstram que a
queimadura deve ser enfocada como uma ocorrência importante, não
apenas nos níveis secundário e terciário, mas, sobretudo, no nível primário
de atenção à saúde da população, o que já vem sendo feito em diversas
cidades com o apoio da mídia em geral. Palestras em escolas, realizadas
por profissionais da área, mensagens na televisão e outras matérias
jornalísticas têm abordado enfaticamente a prevenção nos últimos anos.
As queimaduras, segundo RUSSO (1998), são lesões nos tecidos
orgânicos decorrentes de traumas de origem térmica. Quando a pele e seus
anexos são destruídos parcial ou totalmente, há um aumento nos riscos de
comprometimento das estruturas mais profundas, como músculos, tendões,
órgãos e ossos.
15
16
Dependendo da intensidade, do agente gerador de calor e do
tempo de exposição, a queimadura pode se tornar mais ou menos grave. O
levantamento do ocorrido com a vítima, a avaliação da extensão e o grau da
lesão, a investigação de alergias, além de patologias agudas ou crônicas
que o paciente possa ter, constituem dados de extrema importância para a
assistência imediata.
O encaminhamento do paciente vítima de queimadura para uma
unidade especializada ocorre quando áreas nobres como face, mãos e pés,
região perineal ou genitália forem comprometidas, nas situações em que
existir lesão circunferencial com risco de constrição circulatória ou nos
casos em que for atingida uma área superior a 20% da superfície corporal.
As grandes queimaduras provocam alterações sistêmicas muito
graves. Na fase aguda, as que mais preocupam são as hemodinâmicas,
pois podem ocasionar desidratação, distúrbios eletrolíticos e ácido-base,
choque hipovolêmico, edema localizado ou sistêmico, insuficiência renal
aguda, íleo paralítico e insuficiência cardíaca congestiva. Todos esses
eventos, isolados ou combinados, devem ter prioridade de atendimento a
fim de se evitarem danos maiores ou mesmo a morte do paciente.
Busca-se a estabilização do estado fisiológico atentando-se para
as condições das vias aéreas, para a reposição volêmica, débito urinário,
alívio da dor e proteção da área afetada.
Além do desequilíbrio fisiológico de extrema gravidade
provocado pelas
alterações
grandes lesões físicas,
psicológicas,
apresentando-se
o paciente queimado
fragilizado
e
sofre
regredido
emocionalmente. (LUCENA , 1981).
A pele, além de ser uma barreira física que promove o equilíbrio
fisiológico do corpo, liga-se às estruturas neuro-psíquicas originando um
eu-pele, um eu-vivo, que caracteriza a pele psicológica. No momento em
16
17
que ocorre a queimadura em um indivíduo, há como que uma implosão
dessa
estrutura
psicológica,
devido
ao
rompimento
violento
e
extremamente dolorido do limite interno da pessoa e o mundo exterior. A
dor da queimadura é uma dor aguda e pungente que se constitui grande
tormento para o paciente. É sentida mais intensamente durante o banho e o
curativo. Daí a importância, desde o primeiro momento, de uma avaliação
multiprofissional e interativa do paciente queimado, a fim de que haja uma
visão integral do seu estado, do seu tratamento e recuperação. (FIRMINO,
1995).
A transcrição de trechos selecionados de alguns discursos de
pacientes, mencionados por GRAÇAS (1996), podem nos dar uma idéia do
que a queimadura representa para a vítima, bem como a sua percepção
quanto aos cuidados técnicos e relacionais recebidos da equipe de
enfermagem.
Os pacientes comentam:
“Aí quando eu vi que meu corpo tava queimado, eu
comecei a chorá. (...) No início não doía tanto, mas
depois que passou a melhorá eu gritava tanto no
banho.(...) Nó, mas aquilo doía tanto! Eu gritava...
(...)Quando eu vi, no primeiro dia que eu fui tomá
banho, quando vi meu braço, ele tava com umas pele
preta, ah... eu achei ruim demais. Tinha tirado pele da
minha perna, aí, o enfermeiro rancou assim, mas
sangrou demais. A partir daí pra cá eu fiquei com
medo de tomá banho, quando eles ia dá banho em mim
eu fingia que tava dormindo só pra não tomá banho.
(...) Há! É um tratamento duro. Tem enfermeira que
eu morro de medo. (...) porque elas dão banho com
muita força, esfrega com muita força... (...) A X (cita
uma auxiliar de enfermagem) deste plantão, ela é
muito boazinha comigo, tudo que eu peço ela faz pra
mim.” (discurso XII)
17
18
“No começo, o banho é sofrido porque tem que esfregá
bastante o local da queimadura. Tem o tal de sabão
preto que eles passam, às vezes até acham que a
enfermeira é ruim, que não presta, igualzinho muita
gente não gosta de tal enfermeira, igualzinho eu
também não gostava. Agora eu vi que era pro meu
bem, né? (...) Mas no começo... falá... uma barra, viu?
Difícil demais. (...) Resumindo tudo, o essencial é o
carinho da enfermagem, que precisa tê. O carinho, o
elogio, eu pelo menos gosto de um elogio.”(discurso
XIII).
“(...) Dói muito, a queimadura, ela arde, ela coça, ela
pinica... (...) ... eu nunca recebi tanto carinho igual eu
recebo aqui...” (discurso XV).
“... eu sinto muito triste por causa da minha pele, né?
Meu cabelo era muito lindo. (...) Então a minha pele
ficou toda feia. (...) ... eu nunca vou ser aquela pessoa
que eu era. (...) Na hora do banho eu desespero, eu
fico nervosa na hora que eu olho pro meu corpo. (...)...
eu pedia pra Deus pra me matá que eu não agüentava
mais o sofrimento. (...) ) Aí eu sofria né? Quando
jogava a água, eu não suportava a dor e desmaiava.”
(discurso XVI).
Ao analisar os relatos, a autora salienta, principalmente, o
sofrimento causado pelas condutas terapêuticas invasivas e a dificuldade
dos pacientes de reconciliarem-se com a nova imagem corporal. Quanto à
assistência de enfermagem, mostra as restrições dos pacientes ao se
referirem ao relacionamento e atenção a eles dispensados. Alguns chegam
a reconhecer o esforço de certos funcionários, mesmo que sem êxito, em
ajudá-los nos momentos mais difíceis, já outros queixam-se da
impaciência, do não-envolvimento e da ausência de diálogo com a equipe.
18
19
Acreditam estarem, os cuidadores, preocupados apenas com as
“tarefas” a serem feitas. Os pacientes demonstram uma profunda
insatisfação quanto aos aspectos afetivos durante o atendimento e quanto à
comunicação com a enfermagem.
Deixam evidente que procuram na
equipe de cuidadores alguém com disposição para ouvi-los, participar de
suas vivências e ajudar em suas dúvidas e angústias.
O discurso do paciente queimado mostra a sua experiência com
relação à queimadura e a expectativa quanto aos cuidados recebidos, mas,
na tentativa de situar a temática, nenhuma referência que discorresse sobre
a
vivência da equipe de enfermagem, ao prestar esses cuidados, foi
encontrada, especialmente no que diz respeito aos auxiliares.
Sabe-se que o cuidado faz parte do processo de viver. Cuidamos
uns dos outros, cotidianamente. Mas existem momentos em que
necessitamos de cuidados especializados. A enfermagem, regida em sua
essência
pelo ato de cuidar-assistir em todos os momentos da vida
humana, imbuída na sua origem por um princípio de religiosidade, é
enriquecida na modernidade por um saber técnico. Exercer a enfermagem é
mediar o processo de transformação das necessidades do ser humano de
viver saudavelmente no nascer, no ser e no morrer dignamente com ou sem
auxílio de outros profissionais. É exercer o cuidado caracterizado pela
dimensão integral da vida nas diversas situações de saúde-doença.
(PATRÍCIO, 1996).
Compreendendo-se o cuidado como um termo que implica a
idéia de ação, a definição de cuidar abrangeria preocupar-se com, atentar
para, ter responsabilidade por, observar com afeto, simpatia ou amor,
independentemente da
cultura na qual se está inserido. Os atributos
essenciais desse processo fazem parte das preocupações da enfermagem,
principalmente com relação a sua definição e exploração teórica. Nunca se
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20
desenvolveu tanto conhecimento na área da enfermagem, ainda assim é
necessário que se estude “o significado do cuidado tomando em
consideração o seu contexto cultural” (WALDOW, 1992).
O termo “cuidar/cuidado” faz parte do cotidiano da equipe de
enfermagem, sendo compreendido como as ações que esses profissionais
exercem junto ao paciente. Diferente do “curar”, o cuidado, foco da prática
e teoria da enfermagem, não se restringe somente à mecânica do fazer.
Pretende-se, cuidando,
que seja alcançada a compreensão do homem,
numa interação que não somente colabore com a cura, mas que também
promova a saúde e o desenvolvimento do ser. Sendo assim, seria possível
conviver com a doença, mas impossível “viver sem o cuidado”.
(BOEHS, 1990).
Ao encerrar essa síntese teórica, emergiram para mim várias
questões resultantes da ausência de estudos sobre a experiência do cuidar
de pacientes queimados pelos auxiliares de enfermagem. Tal constatação
me fez sentir que a minha proposta de pesquisa virá preencher, certamente,
parte da lacuna existente em relação ao tema. Procurar adentrar e tentar
compreender a experiência do auxiliar de enfermagem como cuidador de
pessoas com queimaduras acredito ser uma oportunidade para incorporar
novos conhecimentos a esta temática.
20
21
III. O CAMINHAR METODOLÓGICO
3.1. Por que Fenomenologia?
Ao propor investigar os auxiliares de enfermagem sobre o cuidar
do paciente queimado, tenho como expectativa ir ao encontro do
significado dessa situação, através
do “estar-sendo” daquele que
experiencia o cuidar, e, para tal, a fenomenologia é que se apresenta, sendo
uma trajetória metodológica, como o meio adequado para apreender o que
almejo.
A atitude fenomenológica, como afirma CAPALBO, (s.d.: 34 e
35), proporciona às coisas aparecerem com “as características que se dão”,
isto é, deixando que “as essências se manifestem na transparência dos
fenômenos.”
Com essa proposição, pretendo direcionar o meu estudo para
mostrar a experiência do auxiliar de enfermagem
no seu mundo-vida
profissional, cuidando do paciente queimado.
A escolha pela fenomenologia se deu, portanto, porque esta se
preocupa com a descrição dos fenômenos em situação de experiência
existencial. Vem, pois, de encontro a minha intenção de chegar ao sujeito
que cuida do paciente queimado, partindo de sua vivência, sentida e
exposta por ele próprio.
A fenomenologia, considerando o seu significado etmológico, é
o estudo dos fenômenos,
mas o termo
ganha nova significação no
movimento liderado por Husserl, ao rejeitar o naturalismo predominante
no início deste século. Ao trilhar um novo caminho metodológico que
21
22
visava a um retorno “às coisas mesmas”, ao “puro reino das essências”, o
filósofo re-significa essa terminologia. (DARTIGUES, 1973 : Prefácio).
Assim, ao propor “ir à coisa mesma”, ele apresenta a principal
finalidade da fenomenologia, que é a volta ao mundo da vida, isto é, “ ao
mundo no qual nós já vivemos sempre e que constitui o solo de toda
operação de conhecimento e de toda determinação científica.” É o retorno
ao mundo irrefletido sobre o qual a ciência dever ser construída.
(RICOUER, 1984:60).
A fenomenologia, pode-se dizer então, é “uma filosofia que
repõe as essências na existência” (...), que coloca as coisas em suspensão
para “compreendê-las às afirmações da atitude natural”, sem atribuir-lhes
fatores de causalidade. (MERLEAU-PONTY, 1994).
Na realidade vivida, na experiência, busca-se a própria coisa,
aquilo que se mostra por si só. Nos dados imediatos da consciência , está o
ponto de partida, sendo que ela, “em suma, nada é, se não for em relação
com o mundo.” (LYOTARD, 1967 :10-11).
A concepção husserliana da consciência se traduz como
“intencionalidade,
como direção àquilo que não
é
a
própria
consciência”. (LUIJPEN, 1973 : 31 ).
Trata-se, desta forma, de reconhecer a consciência
como
“projeto do mundo, destinada a um mundo que ela não abarca e nem
possui, mas em direção à qual ela não cessa de se dirigir.” (MERLEAUPONTY, 1994: 15).
Em relação a qualquer fenômeno a ser investigado, o tornar
transparente,
“à coisa no mundo”, é preciso, então,
que haja uma
“consciência intencionada”, voltada para ele, tendo como preocupação o
esclarecimento, a compreensão daquilo que se mostra por si mesmo.
22
23
3.2. A Opção pela Análise do Fenômeno Situado
Quando o fenômeno
queimado?” começou a me
“o que é isto cuidar do paciente
inquietar, percebi que a minha preocupação
era compreendê-lo como um todo, desejava conhecê-lo sem fragmentá-lo.
E, ao lhe dirigir intencionalmente o meu olhar, tentando apreendê-lo no
seu sentido total, vi que estava diante de uma situação passível de ser
investigada pela fenomenologia. Certa da trajetória metodológica, optei,
entre as modalidades de pesquisas fenomenológicas existentes,
por
trabalhar pela análise do fenômeno situado, descrita por MARTINS &
BICUDO (1989).
Segundo os autores, para investigar o fenômeno, é preciso situálo. Situar exige ir de encontro aos sujeitos que o vivenciam na coexistência
com os outros e com o mundo circundante. Neste contexto está a “região
de inquérito”, na qual será possível a aproximação com o fenômeno.
Direcionados pela “intencionalidade” de nossa consciência, pela
disponibilidade
de olhar
profundamente para o
fenômeno que nos
incomoda, surge a interrogação que será dirigida àqueles sujeitos. A
pesquisa fenomenológica parte, então, não de um problema, mas de uma
pergunta: “O que é isto que estão vivendo?”
O relato da pessoa vivenciadora
à qual dirigimos a nossa
questão, ou seja, a descrição da sua experiência numa determinada situação
é que tomamos como ponto de referência para construir nossa trajetória
metodológica e mostrar o fenômeno questionado.
A descrição fenomenológica, a redução e a compreensão são três
momentos fundamentais no caminhar fenomenológico. É importante
salientar que os mesmos não ocorrem seqüencialmente, mas durante todo o
23
24
percurso de elaboração da pesquisa, superpondo-se em uma combinação
indispensável para o desenvolvimento da análise.
Para compreender o fenômeno que nos inquieta, necessário será
captar a sua essência nas descrições das experiências dos sujeitos que o
vivenciam. Quando nos dirigimos ao “mundo-vida” do sujeito, no qual o
fenômeno interrogado está sendo por ele vivenciado, estamos indo de
encontro aos significados contidos no seu relato, “à coisa mesma.”
É na subjetividade do depoente, na sua fala ingênua que emerge
o seu mundo, a sua história, a sua intenção. Deste modo, procuram-se nos
discursos novos
significados de um momento existencial, no qual
transcorre a vivência do fenômeno pelo sujeito.
Cabe, no entanto, ao pesquisador que escuta o discurso criar para
o leitor uma reprodução clara da experiência relatada, e essa função será
bem sucedida se o outro reconhecer no que foi descrito o objeto que se
pesquisa.
A redução, na fenomenologia, tem como objetivo encontrar nos
relatos do sujeito o desvelamento e surgimento do mundo no seu real
significado. Visa mostrar o mundo “tal como ele é, antes de qualquer
retorno sobre nós mesmos”. Procura resgatar a sua concepção original,
deixando em suspensão todo o acervo de conhecimentos até então
adquiridos, pois “o mundo está ali antes de qualquer análise que eu possa
fazer dele”. (MERLEAU-PONTY, 1994: prefácio).
Assim, ao direcionarmos o olhar para um fenômeno, devemos
estar livres de qualquer classificação ou sistematização a priori.
A fenomenologia propõe uma abertura para o fenômeno que seja
a mais despojada de preconceitos, a mais ingênua possível. A consciência
deve, a partir da redução, atentar para o conteúdo essencial do fenômeno e
apreender o seu significado mais puro. (HUSSERL, 1929:16 e 17).
24
25
Na redução, Husserl nos convida a entrar no mundo imbuídos de
uma “atitude natural” para perceber suas nuances. É com essa atitude que
podemos descobrir a realidade e acolher o mundo tal como o vivemos
antes da reflexão. (MERLEAU-PONTY, 1973:22).
Essa atitude consiste em abarcar o fenômeno sem considerar
preconceitos, crenças, hipóteses e nem se valer de explicações causais.
Deve-se colocá-lo em evidência, eliminando todo e qualquer referencial
teórico paradigmático. Não que se tenha de desconsiderar toda uma postura
prévia, pois o fenômeno já estava aí antes que nos déssemos conta dele e
permanecerá depois de nós. Trata-se, sim, de precisar os significados
atribuídos pelo sujeito vivenciador de uma experiência na multiplicidade de
sua aparência. (MACHADO, 1994:38).
A demonstração
da consciência intencionada foi
a grande
realização do pensamento de Husserl e é por meio dessa intencionalidade
que ocorre a diferenciação da “compreensão” fenomenológica
da
“intelecção” clássica. Compreender fenomenologicamente é “reapoderarse da intenção total”, reencontrar “sob todos os aspectos a mesma estrutura
do ser.”( MERLEAU-PONTY, 1994: Prefácio).
A compreensão, na qual permeia a interpretação, é, portanto, o
des-velamento da experiência vivenciada pelo sujeito tal como ela se
apresenta na nossa própria experiência ao lidar com aquilo que nos é
relatado. Esse momento é percorrido, pelo pesquisador, num encontro de
intersubjetividades, num envolvimento existencial, em que
o discurso
relatado do sujeito é analisado.
É um processo contínuo de interseção de mundos e também de
afastamento reflexivo, num envolvimento existencial em que o pesquisador
busca e doa significado no esforço de compreender o discurso e chegar a
estrutura do fenômeno. (GRAÇAS, 1996).
25
26
Para tal, toma-se como ponto de partida a variação imaginativa,
ou seja, utilizando a reflexão como recurso metodológico, o investigador
atenta para a percepção do depoente sobre a vivência relatada e procura
situar-se nela, imaginando a presença ou ausência de momentos
significativos da experiência. A partir daí procede-se à comparação com a
eliminação das partes inexpressivas do discurso e à seleção daquelas
essenciais para a elucidação do fenômeno. (MARTINS, 1992:59-60).
A compreensão, então, torna-se possível quando o resultado da
redução fenomenológica pode ser reconhecido
asserções
significativas
como um conjunto de
que apontam para a experiência do sujeito
pesquisado.
Na modalidade de pesquisa qualitativa fenomenológica proposta
para este estudo, a partir da organização das asserções significativas, o
pesquisador, pelo exercício da reflexão, transforma a descrição ingênua do
sujeito sobre o fenômeno em um discurso psicológico ou social, o qual se
denomina análise ideográfica.
Após a análise da ideologia de cada relato, o pesquisador pode
optar pela análise nomotética em que se busca a apreensão global do que se
mostra nos casos individuais, realizando a passagem de uma estrutura
psicológica individual para uma estrutura psicológica geral.
Percorrendo
o
caminho
metodológico
sugerido
pela
fenomenologia, o pesquisador pode compreender a essência e o contexto
existencial do fenômeno que ele próprio situou e indagou, e, assim,
vislumbrar algumas possibilidades de vir a ser, com relação ao mesmo.
26
27
3.3. Coleta e Análise dos Depoimentos
Este trabalho teve como região de inquérito o mundo vivido
do auxiliar de enfermagem na Unidade de Tratamento de Queimados do
Hospital de Pronto Socorro João XXIII de Belo Horizonte em Minas
Gerais. Nele, busquei a compreensão existencial do “ser-aí”, cuidando do
paciente queimado. Para que essa compreensão se efetivasse, era
necessário que o auxiliar desse o seu depoimento e, através da linguagem
expressa, compartilhasse comigo a
sua experiência. Tornava-se
imprescindível, portanto, que me falasse do significado que o cuidar de um
paciente queimado tem para ele, com suas próprias palavras, traduzindo,
desta forma, a percepção de sua vivência como “ser-cuidador”.
Para coletar os depoimentos, inicialmente, encaminhei o projeto
ao Comitê de Ética em Pesquisa - (COEP) da Universidade Federal de
Minas Gerais, e, de posse da autorização, solicitei à Coordenadoria de
Pesquisa da Fundação Hospitalar de Minas Gerais permissão
para
desenvolver o estudo na unidade da instituição escolhida.
Todos os auxiliares de enfermagem dos plantões diurnos foram
contatados e informados sobre a importância do estudo, a maneira como
seriam coletados os dados, o compromisso do pesquisador de manter o
anonimato das pessoas pesquisadas e a segurança que teriam para dizer
tudo que considerassem importante sobre o assunto.
Desta forma, pretendi deixá-los informados sobre o estudo e à
vontade para que pudessem fazer a opção de participarem ou não do
mesmo. A abordagem dos auxiliares deu-se em horários previamente
combinados com as chefias das unidades, de modo que não interviram na
organização das atividades do setor.
27
28
O plantão noturno foi excluído por sugestão da própria
coordenação
geral de enfermagem, que considerou impróprio o
desenvolvimento da investigação em horário no qual não estivesse
presente.
A coleta dos depoimentos teve início imediatamente após o
aceite de cada auxiliar e foi realizada na própria instituição, em um lugar
tranqüilo, onde não houve interferências externas durante os relatos. Estes
só terminavam quando os participantes deixavam claro que não tinham
mais nada a dizer sobre a pergunta norteadora. Os discursos foram
gravados e posteriormente transcritos. Em todo o processo de transcrição,
mantive-os na íntegra, conservando a linguagem tal como foi expressa,
sem mudanças ou perda de conteúdo.
Nessa modalidade
de pesquisa, o número de participantes é
condicionado à compreensão do fenômeno que se interroga; assim sendo,
quando os relatos começaram a se repetir, não trazendo mais conteúdos
significativos para o desvelamento do fenômeno, considerei finalizada a
coleta das descrições.
Foram ouvidos, então,
09 depoimentos de auxiliares de
enfermagem, todas trabalhavam de 2 a 20 anos cuidando de pacientes
queimados na unidade.
Após a realização das
transcrições, cada relato
foi lido
sucessivamente na busca da compreensão do fenômeno em seu sentido
global. Selecionei e enumerei seqüencialmente, destacando em negrito, no
próprio discurso,
partes em que acreditei estarem as revelações
significativas referentes à experiência do sujeito, as “unidades de
significado”, as quais foram alistadas e transcritas numa linguagem mais
clara, embora conservando, o mais fielmente possível, as falas do sujeito.
28
29
Em cada discurso, agrupei e denominei as unidades conforme as
convergências temáticas e, então, busquei interpretá-las e sintetizá-las,
tendo sempre como referência
a idéia original do relato. Estes dois
momentos foram apresentados em colunas denominadas
“Grupos
Temáticos” e “Asserções Significativas Interpretadas”.
Na redação final, formalizei a “análise ideográfica”, na qual está
contida uma síntese das proposições significativas, que revela o pensar de
cada auxiliar de enfermagem sobre o tema pesquisado.
Em seguida, elaborei a análise nomotética, procurando passar
de uma reflexão psicológica individual
percepção do fenômeno. Para tal,
para uma reflexão geral da
agrupei as convergências e as
divergências temáticas de todos os discursos, considerando igualmente as
idiossincrasias, ou seja, asserções com abordagens singulares, mas que, a
meu ver, eram relevantes para o esclarecimento do fenômeno. Os grupos
temáticos foram, então, reagrupados em quatro categorias: “O Cuidar e as
Dificuldades do Cotidiano”, “Cuidar é Gostar do que se Faz”, “Cuidar é
Agir Orientado pelo Saber” e “O cuidar e o Trabalho em Equipe”.
Construí,
então,
a matriz nomotética,
apresentando as
categorias e os grupos de temas que compõem cada uma, citando os
números dos discursos e as letras das asserções significativas interpretadas
em que podem ser encontrados os trechos dos relatos que as retratam.
Os grupos temáticos encontrados
indicam as categorias
refletidas na construção final dos resultados. Foi dessa maneira que
pretendi apropriar-me do fenômeno “cuidar do paciente queimado”, em
sua intenção total.
29
30
V.
DISCURSOS E ANÁLISES IDEOGRÁFICAS
DISCURSO 01
Pesquisador: O que é para você cuidar do paciente queimado?
Cuidar do paciente queimado é muito difícil.1 Cuidar do paciente
queimado significa que eu... Que uma pessoa tem que trabalhar com
muita dedicação, muito amor e tem que ter muita força senão não
agüenta.2 Porque ele é um paciente grave, né, e que requer um cuidado
intensivo, uma atenção
especial... A todo momento o quadro dele
muda... Pra cada tipo de queimadura você tem que saber a evolução
deste paciente... Pra cada tipo de queimadura... Se a queimadura é leve,
se é elétrica, você tem que saber onde ele deu entrada, onde deu saída,
você vai observar se é queimado num ambiente fechado, é diferente ...3
Agora, o nosso papel de auxiliar de enfermagem é dedicação, acima de
tudo gostar do paciente queimado, gostar dele, investir nele até as
últimas consequências.4 É assim que eu vejo, é assim que eu faço. E gosto
de trabalhar com queimado, trabalho há 14 anos somente no 9° andar,
desde que inaugurou isso aqui. Começou no 6º andar, na época era banho
de banheira, de imersão. Era uma coisa muito nojenta, sabe? Depois eles
foram vendo que precisava mudar, era curativo com Furacim ainda, depois
foi constatado que o Furacim é meio de cultura, depois Colagenase, né, e
mudava de acordo com a fase. Agora é com PVPI tópico e Clororex no
banho, Dermacerium nos sete primeiros dias de queimado e depois
entra com a Sulfadiazina de Prata. Nas orelhas, Marcodine, esta é a
rotina, e Óleo Mineral, né, quando já está todo cicatrizado, o médico
manda aplicar, né, na medida que o paciente vai tendo condições, você
30
31
vai liberando menos gaze, né? No princípio você verifica os edemas,
tem que olhar tudo, tudo, tudo. 5
Pesq._ Tem que olhar tudo.
_ É tem que olhar o aspecto psicológico, a parte psicológica do
paciente, porque a maioria das pessoas aqui parece que... A gente acha
que
o
paciente quando
queima
não
deixa
de ser
afetado
psicologicamente, você olha tudo.6 A sua avaliação para o paciente,
quando você recebe o paciente,
psicológico, né, a natureza da
queimadura, as condições que ele foi queimado, a história pregressa,
o que ele já tinha quando ele queimou, se fazia uso de algum
medicamento, estas coisas assim, né. A gente faz na evolução.
7
O
cuidar é isso que você tá vendo lá na oito, é investir doze horas de
cuidado intensivo, olhar a parte renal... É isso que é cuidar 8. E eu me
sinto bem, apesar de você sofrer junto com ele, porque a gente sofre
muito com este tipo de paciente, mas eu gosto de cuidar do paciente
queimado, já acostumei,
9
tenho aquela satisfação de levantar o
paciente no quarto, igual quando ele evolui bem, né. Você acompanha
tudo, os debridamentos, as granulações, as enxertias. 10 Até o paciente
descer, coitado! A gente nunca vê uma alta, né, a gente fica no 9° andar,
então nunca vê uma alta, só vê transferência. É muito raro. Então os
pacientes tudo têm medo da gente porque fica tudo traumatizado. Os
pacientes chegam a agredir a gente, às vezes de bater mesmo... Então a
gente conversa com o médico, chama o psiquiatra e aí passa um
calmante pra ele. 11 (Pausa)
Pesq._ Para você cuidar do paciente queimado é isso que você disse?
_ Tem que falar mais alguma coisa?
Pesq._ Você disse tudo o que é para você cuidar do paciente queimado?
_ É eu acho que disse.
31
32
Pesq._ Gostaria de dizer mais alguma coisa?
_ Não.
Pesq._ Bom, então, muito obrigada pela sua colaboração.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. Cuidar do paciente queimado é muito difícil.
Cuidar do paciente queimado é difícil.
2. Cuidar do paciente queimado significa que eu... Que uma pessoa tem
que trabalhar com muita dedicação, muito amor e tem que ter muita
força senão não agüenta.
Para cuidar do paciente, tem de ter muita dedicação, muito amor e muita
força ou a pessoa não agüenta.
3. (...) ele requer um cuidado intensivo, uma atenção especial... A todo
momento o quadro dele muda... Pra cada tipo de queimadura você tem
que saber a evolução deste paciente... Se a queimadura é leve, se é
elétrica, você tem que saber onde ele deu entrada, onde deu saída, você
vai observar se é queimado num ambiente fechado, é diferente ...
Cuidar do paciente queimado requer cuidados intensivos e atenção
especial devido à instabilidade do seu quadro.
É necessário ter
conhecimento das condições em que se deu a queimadura e características
da lesão, pois os cuidados vão ser diferentes para cada situação.
4. (...) o nosso papel de auxiliar de enfermagem é dedicação, acima de
tudo gostar do paciente queimado, gostar dele, investir nele até as
últimas consequências
32
33
O papel do auxiliar de enfermagem é ser dedicado e, acima de tudo, gostar
do paciente queimado, investindo nele até as últimas conseqüências.
5. Agora é com PVPI tópico e Clororrex no banho, Dermacerium nos
sete primeiros dias de queimado e depois entra com a Sulfadiazina de
Prata. Nas orelhas, Marcodine, esta é a rotina, e óleo mineral, né,
quando já está todo cicatrizado, o médico manda aplicar, né, na
medida que o paciente vai tendo condições, você vai liberando menos
gaze, né? No princípio você verifica os edemas, tem que olhar tudo,
tudo, tudo.
Deve seguir a rotina, mas estar atenta para a avaliação geral do paciente.
6. (...) tem que olhar o aspecto psicológico, a parte psicológica do
paciente, porque a maioria das pessoas aqui parece que... A gente acha
que
o
paciente quando
queima
não
deixa
de ser
afetado
psicologicamente, você olha tudo.
O paciente, quando sofre uma queimadura, é afetado psicologicamente;
por isto, ao cuidar, deve-se levar em consideração também o aspecto
psicológico.
7. (...) quando você recebe o paciente, psicológico, né, a natureza da
queimadura, as condições que ele foi queimado, a história pregressa,
o que ele já tinha quando ele queimou, se fazia uso de algum
medicamento, estas coisas assim, né. A gente faz na evolução.
Ao admitir o paciente na unidade, tem-se de considerar a história
pregressa e as condições em que se deu a queimadura.
33
34
8. O cuidar é (...) investir doze horas de cuidado intensivo, olhar a
parte renal... É isso que é cuidar.
Cuidar é observar o paciente e investir
todo o tempo em cuidados
intensivos.
9. E eu me sinto bem, apesar de você sofrer junto com ele, porque a
gente sofre muito com este tipo de paciente, mas eu gosto de cuidar do
paciente queimado(...)
Gosta de cuidar do paciente queimado, apesar de “sofrer muito”, de
“sofrer junto com ele”.
10. (...) tenho aquela satisfação de levantar o paciente no quarto, igual
quando ele evolui bem, né. Você acompanha tudo, os debridamentos,
as granulações, as enxertias.
Sente-se satisfeita em acompanhar a evolução do paciente e ver a sua
melhora.
11. (...) os paciente tudo tem medo da gente porque fica tudo
traumatizado. Os pacientes chegam a agredir a gente, às vezes de bater
mesmo... Então a gente conversa com o médico, chama o psiquiatra e
aí passa um calmante pra ele.
Às vezes, ao prestarem os cuidados, chegam a ser agredidos fisicamente
pelo paciente, numa reação causada pelo sofrimento que este sente
durante a execução de alguns procedimentos
34
35
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
1- Cuidar do paciente queimado é difícil.11- Às
Afirma que cuidar do paciente queimado é difícil. Ás
vezes, ao prestarem os cuidados, chegam a ser
vezes, ao prestarem os cuidados, chegam a
agredidos fisicamente pelo paciente, numa reação
agredidos fisicamente por ele, numa reação causada
causada pelo sofrimento que este sente durante a
pelo sofrimento que este sente durante a execução de
execução de alguns procedimentos.
alguns procedimentos. (U.S. 1 e 11)
b) Cuidar é gostar do que se faz
b) Cuidar é gostar do que se faz
4- O papel do auxiliar de enfermagem é ser
Acha que o papel do auxiliar de enfermagem é ser
dedicado e, acima de tudo, gostar
do paciente
dedicado e, acima de tudo, gostar
do paciente
queimado,
as
queimado,
as
investindo
nele
até
últimas
investindo
nele
até
ser
últimas
conseqüências.
conseqüências. (U.S. 4)
c) Cuidar é se dedicar
c) Cuidar é se dedicar
2- Para cuidar do paciente, tem de ter muita
Para cuidar do paciente tem de ter muita dedicação,
dedicação, muito amor e muita força ou a pessoa
muito amor e muita força ou a pessoa não agüenta.
não agüenta.
(U.S. 2 )
d) Cuidar é tratar do ser doente
3- Cuidar do paciente queimado requer cuidados
d) Cuidar é tratar do ser doente
intensivos e atenção especial devido à instabilidade
Cuidar
do seu quadro. É necessário ter conhecimento das
intensivos e atenção especial devido à instabilidade do
condições em que se deu a queimadura e
seu estado de saúde. É necessário ter conhecimento das
características da lesão, pois os cuidados vão ser
condições individuais,
diferentes para cada situação. 6- O paciente,
diferentes para cada situação. O paciente, quando sofre
quando
afetado
uma queimadura, é afetado psicologicamente; por isto,
psicologicamente; por isto, ao cuidar, deve-se levar
ao cuidar, deve-se levar em consideração também o
em consideração também o aspecto psicológico.
aspecto psicológico. (U.S. 3 e 6)
sofre
uma
queimadura,
é
e) Cuidar é estar atento
do
paciente
queimado
requer
cuidados
pois os cuidados vão ser
e) Cuidar é estar atento
5- Deve seguir a rotina, mas estar atenta para a
Sabe que deve seguir a rotina, mas precisa estar atenta
avaliação geral do paciente. 7- Ao admitir o
para a avaliação geral do paciente. Ao admiti-lo na
paciente na unidade, tem-se de considerar a
unidade, tem-se de considerar a sua história pregressa e
história pregressa e as condições em que se deu a
as condições em que se deu a queimadura. Acredita
queimadura. 8- Cuidar é observar o paciente e
que cuidar é observar e investir todo o tempo em
35
36
investir todo o tempo em cuidados intensivos. 10-
cuidados intensivos. Sente-se satisfeita em acompanhar
Sente-se satisfeita em acompanhar a evolução do
a evolução e constatar a melhora do paciente. (U.S. 5,
paciente e ver a sua melhora.
7, 8 e 10)
f) Cuidar compreendendo a dor
f) Cuidar compreendendo a dor
9 - Gosta de cuidar do paciente queimado, apesar
Gosta de cuidar do paciente queimado, apesar
de “sofrer muito”, de “sofrer junto com ele”.
“sofrer muito”, de “sofrer junto com ele”. (U.S. 9)
Análise Ideográfica
Nesse relato, o auxiliar afirma que cuidar do paciente queimado é difícil,
pois o sofrimento que este sente durante a execução de alguns
procedimentos é tão intenso que, às vezes, reage, agredindo o cuidador.
Diz que é preciso ter muita força, mas, acima de tudo, gostar do que se faz
para ser capaz de se dedicar ao máximo à pessoa queimada. É necessário
ter conhecimento da história pregressa e das condições de cada um, já que
os cuidados serão diferenciados, dependendo de cada situação. Assim
sendo, apesar das rotinas
determinados somente
preconizadas no setor, esses cuidados
são
após uma avaliação geral do paciente, o que,
geralmente, é freqüente, por causa da instabilidade do seu estado de saúde.
Salienta que deve ser levada
em conta a pessoa e não somente a
queimadura. Sente-se satisfeita em acompanhar a evolução do paciente e
constatar a sua melhora. Gosta do que faz, apesar de sofrer com a dor
dessas pessoas.
36
de
37
DISCURSO 02
Pesq.: O que é para você cuidar do paciente queimado?
_ Cuidar? Pra mim é dedicar totalmente ao paciente1 , né, geralmente,
um paciente carente, que necessita de cuidados médicos. A maioria deles
são pacientes que têm problemas psicológicos, auto-extermínio aqui tem
muito. Então a gente tem sempre que dar uma atenção, sempre que eles
... Te procuram, né, querendo falar , resolver qualquer problema,
mesmo que você não consegue resolver, mas com a ajuda de outro
aqui, outro lá, você consegue pelo menos ajudar,né. Tem problema
que passa pra gente mas você não pode resolver, mas tem que ir com
todo jeitinho, né. Assim, tem que dedicar ao máximo pra atender tudo
aquilo que ele quer e que ele precisa2. Agora, se você quer saber sobre o
plano de cuidados da enfermagem, tem
todos os medicamentos pra
prevenção da infecção que tem que fazer, né. Mas tem o banho que é a
hora crucial, né, que o paciente mais sofre, tem que ter muita
paciência, tem que ter muita calma, tem que saber levar o paciente.
Porque tem paciente que, principalmente criança, né, que à noite eles
já ficam pensando, né, no outro dia, sofrendo por causa do banho, vai
clareando, e eles sofrendo. Então eu acho que tem que saber ter mais
tática com o paciente queimado3. Pra gente também, né, porque a gente
sofre junto com ele, eu acho, mas a gente sofre... Muita dor né, com o
paciente junto. É muito sofrimento... 4 Mas o banho é muito importante,
não tem jeito, não tem como.Até que melhorou pra gente, agora que passa
o PVPI tópico só depois que esfregou a gasinha, não é como antes que
tinha que esfregar com o PVPI, nessa hora aí o pessoal discute muito né,
diz que tem que jogar, deixar três minutos pra agir e aí o paciente não
agüenta, ele não consegue, é impossível, paciente grita, é como se
37
38
tivesse queimando ele novamente, né. Eles falam que tá botando fogo
neles de novo. Tópico, né, é violento, isso aí tem que ser discutido. Uns
falam que não faz o efeito desejado e sacrifica os pacientes demais.
Totalmente fora, isso aí não dá pra entender. Eu acho que não está
tendo a resposta adequada e só faz o paciente sofrer mais. 5
Pesq._ Sofrer mais.
_ É, o paciente sofre, mas no geral dá pra levar. Um faz de um jeito, outro
faz de outro, mas isso aí fica mais é a cargo da chefia pra colocar de
um jeito que todos fizessem. Porque se um faz de um jeito que eu não
acho certo, eu não posso entrar nesse mérito, né. Então cabe mais à
chefia olhar isso. 6
Pesq._ Cuidar do paciente queimado, então é isso.
_ É isso.
Pesq._ Obrigada.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. Cuidar? Pra mim é dedicar totalmente ao paciente.
Cuidar é dedicar-se totalmente ao paciente.
2. (...) tem sempre que dar uma atenção, sempre que eles ... Te
procuram, né, querendo falar , resolver qualquer problema, mesmo
que você não consegue resolver, mas com a ajuda de outro aqui, outro
lá, você consegue pelo menos ajudar,né. Tem problema que passa pra
gente mas você não pode resolver, mas tem que ir com todo jeitinho,
né. Assim, tem que dedicar ao máximo pra atender todo aquilo que ele
quer e que ele precisa.
38
39
Tem sempre que dar atenção ao paciente. Mesmo sentindo dificuldades
em ajudá-lo nas questões emocionais, procura dedicar-se ao máximo
para atender suas necessidades.
3. (...) tem o banho que é a hora crucial, né, que o paciente mais sofre,
tem que ter muita paciência, tem que ter muita calma, tem que saber
levar o paciente. Porque tem paciente que, principalmente criança, né,
que à noite eles já ficam pensando, né, no outro dia, sofrendo por
causa do banho, vai clareando, e eles sofrendo. Então eu acho que tem
que saber ter mais tática com o paciente queimado. 3
Durante o banho é quando o paciente mais sofre. Nesse momento, é
necessário ter muita calma, paciência, e é preciso saber levá-lo, já que
ele começa a sofrer desde a noite anterior, principalmente se é criança.
4. (...) a gente sofre junto com ele, eu acho, mas a gente sofre... Muita
dor né, com o paciente junto. É muito sofrimento (...) 4
Sofre-se juntamente com o paciente, pois a sua dor é muito grande.
5. (...) o pessoal discute muito né, diz que tem que jogar, deixar três
minutos pra agir e aí o paciente não agüenta, ele não consegue, é
impossível, paciente grita, é como se tivesse queimando ele novamente,
né. Eles falam que tá botando fogo neles de novo. Tópico, né,
é
violento, isso aí tem que ser discutido. Uns falam que não faz o efeito
desejado e sacrifica os pacientes demais. Totalmente fora, isso aí não
dá pra entender. Eu acho que não está tendo a resposta adequada e só
faz o paciente sofrer mais.
39
40
Pensa que deve ser discutido o uso do PVPI na limpeza das lesões, porque
acha que ele não traz a resposta esperada e faz o paciente sofrer ainda
mais.
6. Um faz de um jeito, outro faz de outro, mas isso aí fica mais é a
cargo da chefia pra colocar de um jeito que todos fizessem. Porque se
um faz de um jeito que eu não acho certo, eu não posso entrar nesse
mérito, né. Então cabe mais à chefia olhar isso.
Como auxiliar, pensa que não pode interferir na organização do serviço,
mas considera que, se cada funcionário executa o cuidado de um jeito e se,
às vezes, o realiza de forma errada, cabe à chefia estar atenta para isso.
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é se dedicar
a) Cuidar é se dedicar
1- Cuidar é dedicar-se totalmente ao paciente.
Cuidar é dar atenção
2- Tem sempre que dar atenção ao paciente. Mesmo
paciente. Mesmo sentindo dificuldades em ajudá-lo
sentindo dificuldades em ajudá-lo nas
nas
emocionais, procura
questões
dedicar-se ao máximo para
e dedicar-se totalmente ao
questões emocionais, procura
atender, ao
máximo, suas necessidades. (U.S. 1 e 2 )
atender suas necessidades.
b) Cuidar é agir orientado pelo saber
b) Cuidar é agir orientado pelo saber
3- Durante o banho é quando o paciente mais
Durante o banho é quando o paciente mais
sofre. Nesse momento, é necessário ter muita
sofre. Nesse momento, é necessário ter muita
calma, paciência, e é preciso saber “levá-lo”,
calma, paciência, e é preciso saber “levá-lo”, já
já que
que ele começa a sofrer desde a noite anterior,
ele começa a
sofrer desde a noite
anterior, principalmente se é criança.
principalmente se é criança. (U.S. 3)
c) Cuidar compreendendo a dor
c) Cuidar compreendendo a dor
4- Sofre-se juntamente com o paciente, pois a sua dor
Sofre-se juntamente com o paciente, pois a sua dor é
é muito grande.
muito grande. (U.S. 4)
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d) Cuidar é repensar as ações
d) Cuidar é repensar as ações
5- Pensa que deve ser discutido o uso do PVPI na
Como auxiliar, acha que não pode interferir na
limpeza das lesões, porque acha que ele não traz a
resposta esperada e faz o paciente sofrer ainda mais.
6- Como auxiliar, pensa que não pode interferir na
organização do serviço, mas considera que, se cada
funcionário executa o cuidado de um jeito e se, às
vezes, o realiza de forma errada, cabe à chefia estar
organização do serviço, mas considera que caberia a
chefia estar atenta para garantir a homogeneização e
execução correta dos cuidados. Pensa que deve ser
discutido o uso do
PVPI na limpeza das lesões,
porque acha que ele não traz a resposta esperada e faz
o paciente sofrer ainda mais. (U.S. 5 e 6 )
atenta para isso.
Análise Ideográfica
Considera que cuidar é dar atenção e dedicar-se totalmente ao paciente. É
esforçar-se, ao máximo, para atender suas necessidades, mesmo quando se
tem dificuldades em ajudá-lo, como no caso dos problemas emocionais.
Segundo sua percepção, o momento em que o paciente queimado mais
sofre é durante o banho. O sofrimento começa desde a noite anterior,
principalmente quando se trata de
criança. Por isso, ao executar esse
procedimento, é preciso ter muita paciência. Afirma que sofre quando está
cuidando, uma vez que a dor das pessoas com queimaduras é intensa.
Apesar de não ter autonomia para interferir na organização do setor, pensa
que
determinados produtos utilizados no tratamento de queimaduras
necessitam ser reavaliados, uma vez que não surtem o efeito esperado e
aumentam o sofrimento do paciente. Acha, também, que caberia à chefia
padronizar a maneira de executar os cuidados para garantir a realização
correta dos mesmos.
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42
DISCURSO 3
Pesq.: O que é para você cuidar do paciente queimado?
_ Pra mim é... Cuidar de paciente queimado é difícil, é muito difícil.
Porque a situação que a pessoa tem... A pessoa tava com saúde, né. E de
repente foi acometida disso, não é, por exemplo uma doença que foi
acontecendo aos poucos, não. Então, eu acho assim,você tem que tá lá,
gostar do que faz, principalmente, sabe? Porque cuidar de queimado é
difícil, se você não tiver um amor por aquele paciente ali, você não vai
tratá-lo bem.1 Como a gente vê que tem muita gente que não trata bem.
Porque é doloroso, é muito doloroso. Eu me imagino, coloco no lugar
do queimado. Porque é uma coisa... Gente... A dor é profunda, sabe?
Então você tem que cuidar mesmo. Com carinho, com paciência, com
calma. Porque é difícil.2 Então quando eu entrei pra cá era muito
desorganizado. Agora tá melhorando. Não é que tá cem por cento, não. Eu
acho que a chefia tinha que aprofundar mais, sabe? Aprofundar mais,
estudar cada funcionário que tem, entendeu? Acho que está faltando mais
isso da supervisão. Observar cada funcionário. Não precisa falar nada não,
entendeu? Não precisa falar nada, só observar. Que aí ela vai tirar as
conclusão, quem que é, quem que tá cuidando bem de um queimado. Com
o queimado tem que ter muita atenção, sabe? Eu que morria de medo
do queimado... Hoje eu trabalho com nenen, trabalho com adulto,
trabalho com qualquer tipo de queimado. Então você vê como é o
sofrimento dessas pessoas, das crianças, né, dos idosos.3 Igual como a
pessoa tá bem aqui, andando sabe? Eu acho que tem mais apoio da
enfermagem. Quando chega assim um paciente acamado, que não tem
condições de levantar, que precisa mais da gente, ele não é bem olhado,
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sabe? às vezes, a equipe xinga, a equipe... É difícil falar. A gente tá no
meio, a gente vê tudo mas a chefia não vê.4 Hum.. coitado, nem vou falar.
Eu... Tem pessoas aqui que eu conto no dedo que eu ajudo, entendeu?
Porque a gente que confere o paciente. Não usa técnica pra fazer
curativo, não usa técnica, não usa nada, eu não ajudo. Você sabe porque
eu não ajudo? Porque o paciente tá ali, ele tá observando tudo. Ele é
paciente, ele tá observando quem tá trabalhando, quem não tá. Então
eu entro pra ajudar uma pessoa que não trabalha bem, eu vou tá sendo
do mesmo jeito da pessoa, pro paciente, eu vou ser do mesmo nível, 5
então anda junto. Imagina! Se a pessoa sabe trabalhar, aí eu ajudo. Eu não
estou falando que eu sou poderosa, que eu sei fazer tudo não, porque
quando eu não sei, eu pergunto, entendeu? Eu pergunto, ou eu vou na
chefia, ou eu pergunto pra uma pessoa que eu sei que é experiente, que
realmente sabe. Eu fico ali de cima.6 Hoje eu cheguei e peguei uma
criança lá e vi que não tava bem. E não tava mesmo. O que eu fiz?
Esperei... Chegou o médico, aí eu falei: ô doutor, não tem condições
não, eu não vou aceitar aquele menino daquele jeito mais não. Tô
chegando todo dia e achando essa criança assim. Porque eu é que fico
lá, ele passa, prescreve e vai embora, né. Eu vou deixar ele aqui com o
plantão da noite, eu vou pegar ele no meu outro plantão. Então, você
que fica ali, dois anos com o paciente, você sabe como é que tá sendo a
evolução.
7
Se tá melhorando, se não está, entendeu? Acho que está
faltando é mais carinho e mais atenção no que faz. 8 Porque é claro que
eu preciso trabalhar, eu preciso de dinheiro pra sustentar minha família,
preciso de dinheiro pra me manter, tá entendendo? Mas igual eu te falei,
você tem que gostar, se você não gostar, você não vai fazer nunca nada
perfeito. Não faz nada perfeito se não gostar. Então tem muita gente
aqui que trabalha mesmo porque é do serviço, é um trabalho, é um
43
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ganha pão. Falar que gosta daquilo que faz é difícil, muito difícil. Eu,
pra mim é isso. 9 ( pausa )
Pesq._ Pra você, cuidar do paciente queimado é isso?
_É, eu acho que pode melhorar muito, tem muito pra melhorar, sabe?
Tem muita coisa pra melhorar, mas tem que ter a colaboração de
todos. Não adianta eu, fulano e beltrano ir lá e fazer tudo certinho,
bonitinho, entendeu? Eu acho que a chefia devia buzinar mais na
observação do funcionário.
10
Eu sei que é puxado, é difícil, né? Mas
assim, dá pra melhorar. Tem muita coisa errada por aqui. Mas não adianta
você chegar lá, vamos supor, igual teve avaliação de curativo, teve
avaliação, né.
Tem vários tipos de avaliação. Mas não adianta a
supervisora chegar lá e falar assim: ó, eu vou te avaliar hoje e tal. Mas
não adianta porque eu vou me preparar, entendeu? Agora a gente que
tá aqui o dia-a-dia vendo, entrando, ajudando, você vê como que é
difícil, como que tem coisa errada11 , sabe? Tem gente muito desumana
aqui, sabe? Muito desumana. Eu não tenho... Eu tô aqui pra tratar,
entendeu? Eu tô aqui pra ajudar. 12 Agora, adianta chegar aqui onde
muita gente vem, vem né, queimada. Eu posso me intrometer no que
aconteceu? Não posso ir fazer uma avaliação... Até chegar, né. Vou fazer
minha admissão, né. Saber? Sim, eu tenho que saber com o que que
queimou. Isso eu não preciso nem perguntar a ele, eu posso ir lá na
papeleta, o médico anotou tudo. Mas tem gente que critica. Ah,
aconteceu isso porque tinha que acontecer! Por que você fez isso? Boa
coisa você não era. Eu não tenho nada com isso, entendeu? Isso aí acho
que é particular da pessoa que tá lá. Eu não tenho que intrometer
nessa parte, eu tenho que fazer o meu serviço, a minha obrigação é
cuidar dele. Não importa o que que aconteceu, por que queimou, sabe?
Eu não gosto das críticas que muita gente faz com os pacientes 13. Pode
44
45
observar, eu parei de ajudar muita gente aqui, eu parei. Eu ajudo
realmente quem merece ajuda. Quem não faz por onde, eu não ajudo
não. Faz ali naquela obrigação, sabe? Vem aqui por obrigação. Hoje eu
vou lá, minha obrigação é essa. E não é assim não, não é assim não.14
Tem que orientar, né? Eu no meu primeiro dia que o paciente chega
aqui, eu já oriento, sabe? Eu tenho que passar tudo um pouquinho do
que que ele vai passar aqui. Então, geralmente meus pacientes não me
dão trabalho, não me dá. Eu não tenho trabalho com meus pacientes.15
Igual eu vejo muita gente reclamando que o fulano é assim, que não é, que
não é... Por quê? Falta de orientação, falta de orientação. Porque chega o
paciente, coloca ele lá e já sai. Ele não sabe, ele tá despreparado. Ele nunca
se imaginou numa situação dessa, né? Então ele fica perdido. Porque você
tem que orientar, passá o que ele vai passar aqui dentro. Porque é
difícil, ele vai sofrer com a dor dele, ele vai sofrer com a dor do outro
paciente do lado, com o sofrimento do outro paciente lá do lado.
Então, tudo isso tem que ser orientado. A pessoa nunca vai saber o que
ela vai passar, né? Ela vai saber como é que banha, vai preparar,
porque vai doer. Mas é preciso, é preciso o tratamento, é preciso. Se ele
não tiver um tratamento certo, ele não vai melhorar, né? Então você
tem que explicar passo a passo, com
dedicação... Tudo que vai
acontecer com ele, às vezes tem que tomar o Tilex, explicar o porquê,
sabe? Às vezes precisa de passar pelo bloco cirúrgico, vai explicar
porque que ele vai pro bloco cirúrgico, né? A gente tem que fazer
passo a passo. É orientação também, orientar mesmo o paciente. 16 Aí
no mais é isso.
Pesq._ Para você cuidar do paciente queimado é isso?
_ É isso. Sabe, eu acho que você tem que vir pra cá como eu venho pra
cá, com muito amor.
17
Venho mesmo, sabe? Eu nunca me imaginei
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cuidando de queimado, nunca, nunca, nunca, nem pensar. Não me
imaginava cuidando de queimado não, sabe? Eu achava que eu nunca ia
conseguir, e consegui. Mas eu faço aquilo que eu gosto, sabe? Se eu não
tivesse gostado eu saía, sabe? Pra mim é isso, porque com o queimado,
você tem que ter muito amor por ele. E quando você tem muito amor... é
terrível, sabe? Tem uma paciente internada aqui, é uma pessoa
esclarecida. Porque tem muita gente que chega aqui leiga, não sabe nada,
tem gente que é mais esclarecido. E a gente conversando outro dia, né. Não
tô na enfermaria dela, não tô cuidando dela. A gente conversando, ela
passou pra mim que ela viu a diferença... De tratamento. Tem gente que
chega aqui com ignorância... Aquilo ali... A depressão veio na hora. Ah
meu Deus, mas que loucura! Ela perguntou pra mim: Você está sempre
rindo. Que que você tem que só fica rindo? Aí eu falei pra ela que não,
que eu vinha trabalhar com vontade de trabalhar. 18 Ela falou assim: Ó
eu reparei que você passa lá e brinca com a gente e tudo. Aí é que está a
diferença, eles tão notando a diferença. E olha que eu sou muito franca,
às vezes as pessoas me confundem com ignorante, eu não sou ignorante. É
preciso sentar comigo pra conversar. Taí uma coisa que ninguém nunca
vai reclamar de mim, é eu ter maltratado paciente, não maltrato
mesmo, não maltrato.
19
O que é preciso é observar. A chefia dos
queimados. Tem muita coisa que eu não concordo. Eu não posso
chegar, sabe, e falar com meu chefe: fulano tá fazendo isso, eu não
posso chegar, sabe? E nunca vou fazer isso. A função dele é observar.
Chegar em cada funcionário, saber trabalhar com cada um de um jeito
e orientar né, saber dá a orientação. Então eu acho que é isso, né, as
chefias são todas boas, todos excelentes, né. Mas no meu entender falta
isso, pra melhorar, falta isso. 20 Então é isso.
Pesq._ Cuidar do paciente queimado é isso que você falou?
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_ É, é isso que eu falei, pra mim é.
Pesq._ Então, muito obrigada por você ter colaborado com meu estudo.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. Cuidar de paciente queimado é difícil, é muito difícil. A pessoa tava
com saúde, né. E de repente foi acometida disso (...) eu acho assim,você
tem que tá lá, gostar do que faz, principalmente (...) Porque cuidar de
queimado é difícil, se você não tiver um amor por aquele paciente ali,
você não vai tratá-lo bem.
Cuidar do paciente queimado é muito difícil. Se não gostar do que faz,
sentir amor pelo paciente, a pessoa não consegue tratá-lo bem..
2. Porque é doloroso, é muito doloroso. Eu me imagino, coloco no lugar
do queimado. Porque é uma coisa... Gente... A dor é profunda, sabe?
Então você tem que cuidar mesmo. Com carinho, com paciência, com
calma. Porque é difícil.
É muito dolorosa a queimadura para o paciente. Ao imaginar-se no lugar
da pessoa queimada, percebe-se o quanto
é profunda a dor dela. É
preciso ter calma e paciência, pois ela sofre muito. Por isto cuidar desse
paciente é difícil.
3. Com o queimado tem que ter muita atenção, sabe? Eu que morria de
medo do queimado... Hoje eu trabalho com nenen, trabalho com
adulto, trabalho com qualquer tipo de queimado. Então você vê como é
o sofrimento dessas pessoas, das crianças, né, dos idosos.
Atualmente não tem dificuldades, mas, antes, sentia muito medo de cuidar
da pessoa queimada. É um paciente que requer muita atenção.
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4. Quando chega assim um paciente acamado, que não tem condições
de levantar, que precisa mais da gente, ele não é bem olhado, sabe? As
vezes, a equipe xinga, a equipe... É difícil falar. A gente tá no meio, a
gente vê tudo mas a chefia não vê.
Quando um paciente mais dependente chega, ele não é bem olhado e a
equipe de enfermagem não o recebe bem.
5. Tem pessoas aqui que eu conto no dedo que eu ajudo, entendeu?
Porque a gente que confere o paciente. Não usa técnica pra fazer
curativo, não usa técnica, não usa nada, eu não ajudo. (...) o paciente tá
ali, ele tá observando tudo. Ele é páciente, ele tá observando quem tá
trabalhando, quem não tá; Então eu entro pra ajudar uma pessoa que
não trabalha bem, eu vou tá sendo do mesmo jeito da pessoa, pro
paciente, eu vou ser do mesmo nível.
Não gosta de ajudar colegas que “não trabalham direito”. Acredita que,
ao ajudar uma pessoa que não “trabalha direito”, será julgada pelo
paciente como sendo do mesmo “nível”.
6. (...) quando eu não sei, eu pergunto, entendeu? Eu pergunto, ou eu
vou na chefia, ou eu
pergunto pra uma pessoa que eu sei que é
experiente, que realmente sabe. Eu fico ali de cima.
Sempre que tem dúvidas ao prestar os cuidados, procura esclarecê-las com
alguém mais experiente.
7. Hoje eu cheguei e peguei uma criança lá e vi que não tava bem. E
não tava mesmo. O que eu fiz? Esperei... Chegou o médico, aí eu falei:
ô doutor, não tem condições não, eu não vou aceitar aquele menino
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daquele jeito mais não. Tô chegando todo dia e achando essa criança
assim. Porque eu é que fico lá, ele passa, prescreve e vai embora, né.
Eu vou deixar ele aqui com o plantão da noite, eu vou pegar ele no meu
outro plantão. Então, você que fica ali, dois anos com o paciente, você
sabe como é que tá sendo a evolução.
Considera que a enfermagem é quem acompanha realmente a evolução do
paciente, pois fica junto a ele cuidando, o tempo todo, portanto é capaz
de perceber melhor as condições em que ele se encontra.
8. Acho que está faltando é mais carinho e mais atenção no que faz.
Está faltando” mais carinho e atenção” nas ações da equipe de uma
maneira geral.
9. Mas igual eu te falei, você tem que gostar, se você não gostar, você
não vai fazer nunca nada perfeito. Não faz nada perfeito se não gostar.
Então tem muita gente aqui que trabalha mesmo porque é do serviço, é
um trabalho, é um ganha pão. Falar que gosta daquilo que faz é difícil,
muito difícil. Eu, pra mim é isso.
Tem que gostar do que se faz para trabalhar com perfeição. Existem
muitas pessoas trabalhando por necessidade e não porque gostam do que
fazem. Acha muito difícil encontrar, entre essas pessoas, alguém que diz
gostar de cuidar do paciente queimado.
10. (...) eu acho que pode melhorar muito, tem muito pra melhorar,
sabe? Tem muita coisa pra melhorar, mas tem que ter a colaboração
de todos. Não adianta eu, fulano e beltrano ir lá e fazer tudo certinho,
bonitinho, entendeu? Eu acho que a chefia devia buzinar mais na
observação do funcionário.
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Tem muita coisa para melhorar no que se refere ao cuidado, mas para tal
é necessário ter a colaboração de todos. Não adianta somente alguns
prestarem o cuidado de forma adequada. A chefia deveria avaliar com
mais freqüência os funcionários.
11. Tem vários tipos de avaliação. Mas não adianta a supervisora
chegar lá e falar assim: ó, eu vou te avaliar hoje e tal. Mas não adianta
porque eu vou me preparar, entendeu? Agora a gente que tá aqui o
dia-a-dia vendo, entrando, ajudando, você vê como que é difícil, como
que tem coisa errada.
A avaliação da supervisora deveria ser de surpresa para que ela realmente
pudesse detectar as coisas erradas no setor.
12. Tem gente muito desumana aqui, sabe? Muito desumana. Eu não
tenho... Eu tô aqui pra tratar, entendeu? Eu tô aqui pra ajudar.
A enfermagem está ao lado do paciente para ajudá-lo, para tratar dele,
mas na equipe há “gente muito desumana”.
13. (...) aqui onde muita gente vem, vem né, queimada. Eu posso me
intrometer no que aconteceu? Não posso ir fazer uma avaliação até
chegar, né, vou fazer minha admissão, né, saber sim, eu tenho que
saber com o que que queimou. Isso eu não preciso nem perguntar ele,
eu posso ir lá na papeleta, o médico anotou tudo. Mas tem gente que
critica. Ah, aconteceu isso porque tinha que acontecer! Por que você
fez isso? Boa coisa você não era. Eu não tenho nada com isso,
entendeu? Isso aí acho que é particular da pessoa que tá lá. Eu não
tenho que intrometer nessa parte, eu tenho que fazer o meu serviço, a
minha obrigação é cuidar dele. Não importa o que que aconteceu, por
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que queimou, sabe? Eu não gosto das críticas que muita gente faz com
os pacientes.
A enfermagem não tem de se “intrometer” na vida particular do paciente
queimado. Independentemente do motivo da queimadura, a obrigação da
equipe é cuidar dele com discrição, respeito, sem criticá-lo e sem se
importar com o que ocorreu, o porquê e como ele se queimou.
14. (...) eu parei de ajudar muita gente aqui, eu parei. Eu ajudo
realmente quem merece ajuda. Quem não faz por onde, eu não ajudo
não. Faz ali naquela obrigação, sabe? Vem aqui por obrigação. Hoje eu
vou lá, minha obrigação é essa. E não é assim não, não é assim não.
Só ajuda os colegas que merecem ajuda, aqueles que prestam os cuidados
direito, pois não é cuidador quem trabalha por obrigação.
15. Tem que orientar, né? Eu no meu primeiro dia que o paciente
chega aqui, eu já oriento, sabe? Eu tenho que passar tudo um
pouquinho do que que ele vai passar aqui. Então, geralmente meus
pacientes não me dão trabalho, não me dá. Eu não tenho trabalho com
meus pacientes.
O paciente tem de ser orientado. Se for orientado com relação a tudo que
vai vivenciar, ele não dará trabalho.
16. (...) você tem que orientar, passá o que ele vai passar aqui dentro.
Porque é difícil, ele vai sofrer com a dor dele, ele vai sofrer com a dor
do outro paciente do lado, com o sofrimento do outro paciente lá do
lado. Então, tudo isso tem que ser orientado. A pessoa nunca vai saber
o que ela vai passar, né? Ela vai saber como é que banha, vai preparar,
porque vai doer. Mas é preciso, é preciso o tratamento, é preciso. Se ele
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não tiver um tratamento certo, ele não vai melhorar, né? Então você
tem que explicar passo a passo, com
dedicação... Tudo que vai
acontecer com ele, às vezes tem que tomar o Tilex, explicar o porquê,
sabe? Às vezes precisa de passar pelo bloco cirúrgico, vai explicar
porque que ele vai pro bloco cirúrgico, né? A gente tem que fazer
passo a passo. É orientação também, orientar mesmo o paciente.
Deve ser explicado para o paciente, passo a passo, todo o cuidado que lhe
será prestado. Ele precisa ser preparado, pois vai conviver com a sua dor
e com a dor dos outros companheiros de enfermaria. Deve ser orientado
sobre os banhos, o porquê de tomar os analgésicos, de ir para o bloco
cirúrgico, enfim, sobre tudo o que vai acontecer
com ele durante o
tratamento.
17. (...) você tem que vir pra cá como eu venho pra cá, com muito
amor.
Para cuidar, tem que ter amor pelo que faz.
18. Eu nunca me imaginei cuidando de queimado, nunca, nunca,
nunca, nem pensar. Eu achava que eu nunca ia conseguir, e consegui.
Mas eu faço aquilo que eu gosto, sabe? Se eu não tivesse gostado eu
saía, sabe? Pra mim é isso, porque com o queimado, você tem que ter
muito amor por ele. Tem uma paciente internada aqui (...) Ela
perguntou pra mim: (...) Que que você só fica rindo? Aí eu falei pra ela
que não, que eu vinha trabalhar com vontade de trabalhar.
Não se imaginava cuidando da pessoa queimada. Achava que nunca iria
conseguir.Faz aquilo de que gosta, pois, para cuidar do queimado, tem que
ter muito amor e ir “trabalhar com vontade de trabalhar”.
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19. (...) eles tão notando a diferença.
Os pacientes notam a diferença entre os cuidadores.
20. Taí uma coisa que ninguem nunca vai reclamar de mim, é eu ter
maltratado paciente, não maltrato mesmo, não maltrato. (...) é preciso
observar. A chefia dos queimados. Tem muita coisa que eu não
concordo. Eu não posso chegar, sabe, e falar com meu chefe: fulano tá
fazendo isso, eu não posso chegar, sabe? A função dele é observar.
Chegar em cada funcionário, saber trabalhar com cada um de um jeito
e orientar né, saber dá a orientação. Então eu acho que é isso, né, as
chefias são todas boas, todos excelentes, né. Mas no meu entender falta
isso, pra melhorar, falta isso.
Não concorda com muitas coisas que vê na unidade, mas não pode chegar
na chefia e falar o que sente. Considera que as chefias são boas, mas
pensa que deveriam observar e orientar cada funcionário para melhorar
os cuidados prestados.
Grupos Temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
1- Cuidar do paciente queimado é muito difícil. Se
Cuidar do paciente queimado é difícil, uma vez
não gostar do que faz, sentir amor pelo paciente, a
que a queimadura é dolorosa e ele sofre muito. Por
pessoa não consegue tratá-lo bem. 2- É muito
isso, é preciso gostar do que se faz, sentir amor
dolorosa a queimadura para o paciente. Ao
pela pessoa e ter paciência para tratá-la bem e
imaginar-se no lugar da pessoa queimada, percebe-
trabalhar com perfeição. Achava que não iria
se o quanto
é profunda a dor dela. É preciso ter
conseguir cuidar da pessoa queimada uma vez que
calma e paciência, pois ela sofre muito. Por isto
tinha medo e jamais imaginou que algum dia faria
cuidar desse paciente é difícil. 3- Atualmente não
isto. Atualmente, não sente mais dificuldades. (U.S.
tem dificuldades, mas, antes, sentia muito medo de
1, 2, 9, 11 e 18)
cuidar da pessoa queimada. É um paciente que
requer muita atenção. 9- Tem que gostar do que se
faz para trabalhar com perfeição. Existem muitas
53
54
pessoas trabalhando por necessidade e não porque
gostam do que fazem. Acha muito difícil encontrar,
entre essas pessoas, alguém que diz gostar de cuidar
do paciente queimado. 18 - Não se
imaginava
cuidando da pessoa queimada. Achava que nunca
iria conseguir.Faz aquilo de que gosta, pois, para
cuidar do queimado, tem que ter muito amor e ir
“trabalhar com vontade de trabalhar”.
b) - Cuidar é gostar do que se faz
b) – Cuidar é gostar do que se faz
1- Cuidar do paciente queimado é muito difícil. Se
Para cuidar do paciente queimado, é preciso gostar
não gostar do que faz, sentir amor pelo paciente, a
do que faz e ter muito amor pela pessoa. Tem que ir
pessoa não consegue tratá-lo bem. 9- Tem que gostar
“trabalhar com vontade de trabalhar”. Considera
do que se faz para trabalhar com perfeição. Existem
que existem muitos funcionários
muitas pessoas trabalhando por necessidade e não
por necessidade e não
porque gostam do que fazem. Acha muito difícil
fazem. É muito difícil encontrar, entre essas
encontrar, entre essas pessoas, alguém que diz gostar
pessoas, alguém que diz gostar, realmente, de
de cuidar do paciente queimado. 14- Só ajuda os
cuidar do paciente queimado.
colegas que merecem ajuda, aqueles que prestam os
ajudar os colegas que merecem ajuda, aqueles que
cuidados direito, pois não é cuidador quem trabalha
prestam os cuidados direito, pois não considera
por obrigação. 17-Para cuidar, tem que ter amor
cuidador quem trabalha somente
pelo que faz. 18-Não se
Para cuidar, tem que ter amor pelo que se faz .
imaginava cuidando da
pessoa queimada. Achava que nunca iria conseguir.
que trabalham
porque gostam do que
Preocupa-se em
por obrigação.
(U.S. 1, 9, 14, 17 e 18)
Faz aquilo de que gosta, pois, para cuidar do
queimado, tem que ter muito amor e ir “trabalhar
com vontade de trabalhar”.
c) Cuidar é se dedicar
c) Cuidar é se dedicar
4- Quando um paciente mais dependente chega, ele
Acredita que a função da enfermagem é tratar bem
não é bem olhado, e a equipe de enfermagem não o
e ajudar o paciente, mas nem sempre isso acontece;
recebe bem. 8- Está faltando “mais carinho e
existe
atenção” nas ações, de uma maneira geral.12- A
enfermagem. Quando um paciente mais dependente
enfermagem está ao lado do paciente para ajudá-lo,
é admitido na unidade, ele não é recebido como se
para tratar dele, mas na equipe há “gente muito
deveria. Pensa que está faltando “mais carinho e
desumana”.
atenção” no atendimento de uma maneira geral.
“gente muito
desumana” na equipe de
(U.S. 4, 8 e 12)
54
55
d) Cuidar é agir orientado pelo saber
d) Cuidar é agir orientado pelo saber
5- Não gosta de ajudar colegas que “não trabalham
Evita ajudar os colegas que “não trabalham
direito”. Acredita que, ao ajudar uma pessoa que
direito”. Acredita que, ao ajudá-los, será avaliada
não “trabalha direito”, será julgada pelo paciente
como sendo do mesmo “nível”, já que os pacientes
como sendo
do mesmo “nível”. 6- Sempre que tem
notam a diferença entre os cuidadores. Sempre que
dúvidas ao prestar os cuidados, procura esclarecê-
tem dúvidas ao prestar os cuidados, procura
las com alguém mais experiente. 19- Os pacientes
esclarecê-las com alguém mais experiente. (U.S. 5,
notam a diferença entre os cuidadores.
6 e 19)
e) Cuidar é estar atento
e) Cuidar é estar atento
7- Considera que a enfermagem é quem acompanha
Por permanecer cuidando e acompanhar a evolução
realmente a evolução do paciente, pois fica junto a
a
ele, cuidando o tempo todo, portanto tem condições
enfermagem tem mais condições de avaliá-lo com
de perceber melhor
precisão.(U.S. 7)
as condições em que ele se
evolução
do
paciente
o
tempo
todo, a
encontra.
f) Cuidar compreendendo a dor
f) Cuidar compreendendo a dor
2- É muito dolorosa a queimadura para o paciente.
Ao imaginar-se no lugar da pessoa queimada, é
Ao imaginar-se no lugar da pessoa
capaz de sentir
queimada, é
o quanto ela sofre, como
é
capaz de sentir o quanto é profunda a dor dela. É
profunda a sua dor. Por isto, ao cuidar, é preciso
preciso ter calma e paciência, pois ela sofre muito.
paciência. Pensa que a enfermagem não tem de se
Por isso, cuidar desse paciente
“intrometer”
é difícil. 13-A
na vida particular do paciente
enfermagem não tem de se “intrometer” na vida
queimado. Independentemente do que aconteceu,
particular do paciente queimado. Independentemente
ela não deve criticá-lo. A obrigação da equipe é
do motivo da queimadura,a obrigação da equipe é
cuidar dele
cuidar dele com discrição, respeito, sem criticá-lo e
importar com o que ocorreu, o porquê e como ele
sem se importar com o que ocorreu, o porquê e como
se queimou. (U.S. 2 e 13)
com discrição e respeito, sem se
ele se queimou.
g) O Cuidar e o trabalho em equipe
g) O Cuidar e trabalho em equipe
10 - Tem muita coisa para melhorar no que se refere
Afirma que tem muita coisa para melhorar no que
ao cuidado, mas, para tal,
é necessário ter a
se refere ao cuidado, mas, para tal, é necessário ter
colaboração de todos. Não adianta somente alguns
a colaboração de todos. Não adianta somente
prestarem o cuidado de forma adequada. A chefia
alguns prestarem o cuidado de forma adequada.
deveria
(U.S. 10)
avaliar
com
mais
freqüência
os
funcionários.
55
56
h) Cuidar é orientar
h) Cuidar é orientar
15- O paciente tem de ser orientado. Se for orientado
O paciente tem de ser orientado com relação a tudo
com relação a tudo que vai vivenciar, ele não dará
que vai
trabalho. 16- Deve ser explicado para o paciente,
trabalho. Deve ser explicado, passo a passo, todo o
passo a passo, todo o cuidado que lhe será prestado.
cuidado que lhe será prestado, por exemplo, sobre
Ele precisa ser preparado, pois vai conviver com a
os banhos, o porquê de tomar os analgésicos, de ir
sua dor e com a dor dos outros companheiros de
para o bloco cirúrgico, enfim, sobre tudo o que vai
enfermaria. Deve ser orientado sobre os banhos, o
acontecer com ele durante o tratamento. É preciso
porquê de tomar os analgésicos, de ir para o bloco
prepará-lo, uma vez que irá conviver com a sua dor
cirúrgico, enfim, sobre tudo o que vai acontecer com
e com a dor dos outros companheiros de
ele durante o tratamento.
enfermaria. (U.S. 15 e 16)
i) Cuidar é repensar as ações
i) Cuidar é repensar as ações
10- Tem muita coisa para melhorar no que se refere
Não concorda com várias coisas que observa na
ao cuidado, mas, para tal,
é necessário ter a
unidade e acha que tem muito a melhorar no que se
colaboração de todos. Não adianta somente alguns
refere ao cuidado com o paciente. Embora
prestarem o cuidado de forma adequada. A chefia
considere as chefias competentes, a seu ver, elas
deveria
deveriam
avaliar
com
mais
freqüência
os
vivenciar, desta forma ele não dará
acompanhar
e
avaliar
mais
funcionários. 11- A avaliação da supervisora deveria
freqüentemente os funcionários, atentando para os
ser de surpresa para que ela realmente pudesse
erros quando da execução dos cuidados. Assim,
detectar as coisas erradas no setor.
20- Não
poderiam orientá-los para melhorar a assistência
concorda com muitas coisas que vê na unidade, mas
prestada. Pensa que só com a colaboração de todos,
não pode chegar na chefia e falar o que sente.
isto pode ser alcançado. Sente-se, entretanto,
Considera que as chefias são boas, mas pensa que
constrangida de falar o que pensa com as chefias.
deveriam observar e orientar cada funcionário para
(U.S. 10, 11 e 20)
melhorar os cuidados prestados
Análise Ideográfica
Considera que cuidar do paciente queimado é difícil, uma vez que a
queimadura é dolorosa e ele sofre muito. Ao imaginar-se no lugar dessas
pessoas, é capaz de sentir o quanto é profunda a sua dor. Acha, portanto,
que, para cuidar, é essencial sentir amor por elas, ter paciência, enfim,
gostar do que se faz. Comenta que a função da enfermagem é tratar bem e
ajudar o paciente, mas percebe que, ali onde trabalha, nem todos prestam
56
57
um cuidado humanizado. Ás vezes, ao ser admitida na unidade, a pessoa
queimada não é recebida como deveria, principalmente se é mais
dependente. Pensa que está faltando mais carinho e atenção no
atendimento, de uma maneira geral. Acha que existem muitos funcionários
que trabalham por necessidade e não porque gostam. Não é fácil encontrar,
entre eles,
alguém que diz gostar, realmente, de cuidar da pessoa
queimada. Reforça, afirmando que é preciso trabalhar com vontade, ser
discreto e ter respeito para com o paciente. Independente do que tenha
acontecido, deve-se evitar criticá-lo.
Em relação aos colegas, evita ajudar aqueles que não se preocupam em
prestar uma assistência de enfermagem como deveriam. Acredita que, ao
ajudá-los, pode ser avaliada, pelos pacientes, como sendo do mesmo nível.
Discorda de algumas coisas que ali observa, mas se sente constrangida de
falar o que pensa com as chefias. Acha que tem muito o que melhorar no
setor, no que se refere aos cuidados. O trabalho em equipe seria uma
maneira de aprimorá-los. Sugere, ainda, que as chefias observem, avaliem
e orientem mais freqüentemente os funcionários, assim poderão ver as
coisas erradas e melhorar os cuidados prestados no setor. Quanto ao
paciente, pensa que ele tem de ser orientado com relação a tudo que vai
vivenciar, desta forma “não dará trabalho”. Deve ser explicado, passo a
passo, todo o cuidado que lhe será prestado, tudo o que vai acontecer com
ele durante o tratamento. É preciso prepará-lo para conviver com a própria
dor e com a dor dos outros companheiros de enfermaria. Entende que, por
permanecer cuidando e acompanhar a evolução do paciente o tempo todo, a
equipe de enfermagem tem mais condições de avaliá-lo com precisão.
Achava que nunca iria conseguir cuidar da pessoa queimada, uma vez que
tinha medo e jamais se imaginou fazendo isso. Atualmente, não sente mais
57
58
dificuldades em lidar com o paciente queimado, e,
sempre que tem
dúvidas, procura esclarecê-las com alguém mais experiente.
58
59
DISCURSO 04
Pesq.: O que é, para você, cuidar do paciente queimado?
-Você quer dizer assim...cuidar...
Pesq.: É, para você, o que é cuidar do paciente queimado?
-Ah, eu acho que, sei lá, você tem que ter muito, muito jogo de cintura,
sabe, pra poder mexer. Porque cada paciente reage de um tipo
diferente. Tem uns pacientes que não agüentam, é... acho que sente
mais dor do que o outro, sabe? Então, sei lá, você tem que ter um jogo
de cintura pra poder trabalhar com o queimado. O queimado
geralmente é, cada um né, é diferente um do outro, né? Até na hora do
banho, tem um paciente que é mais, sente mais que dói o toque, né, que
o outro. Então você tem que ter mais paciência, é diferente, é
totalmente diferente. Não tem, sabe? Não é igual a todos, então você
tem que ter, você tem que saber trabalhar, igual nós aqui. 1 Todo dia,
quase todo dia nós tamo com um paciente diferente. Noutro lugar que eu
trabalhava, o mês direto você fica com um tipo de paciente. E aqui não,
aqui cada dia a gente tá com um tipo de paciente, tá? Hoje cê tá com um e
amanhã já te mudaram. Então assim você tem que saber. Você tem que
ter um jogo de cintura pra trabalhar com eles. Não é fácil. 2 Não é que
eu acho muito, muito dificil não. Eu acho até bom. Porque você ficando
com um paciente todos os dias, você se acostuma e o paciente se acostuma
com você. Então eu acho bom você estar todo dia com um paciente
diferente, novo. Sabe como é que é? Porque aí você conhece, você
conhece o andar todinho. A hora que o fulano tá com problema, tá com
um fulano lá na oito? Eu sei o problema da oito. Então eu sei como
ajudar ela, me ajuda... eu sei ajudar ela, entendeu?
3
Assim, se um
59
60
colega falar pra mim: ô (cita o nome), o paciente da seis é difícil
demais, o paciente é exigente demais, sabe? Ele é dolorido demais, você
pega no braço dele, ele tá reclamando: ai, que tá machucando, que não
sei o que que tem, sabe? Aí eu vou e penso assim: gente, mais... será
que fulano é assim mesmo, sabe? E aí não, eu já conheço, eu sei que
reclama sim, aí eu: ô fulana, o fulano é assim mesmo, sabe? O jeito
dele é esse, então eu acho bom você, tá, você conhecer todos os
pacientes. Que aí quando uma colega falar dele, você já fica
conhecendo e aí vai falar assim quando for cuidar dele: vou entrar
assim e assim, sabe? Com jeito já, como eu vou tratá-lo. 4 Eu já sei que
ele é assim. Então, eu já vou saber, quando eu for trabalhar com ele, eu já
sei do jeito dele. Eu acho bom... eu acho bom trabalhar assim.
P- Mas pra você cuidar do paciente queimado é...
A- É difícil, não é fácil. Você sente, tem hora, gente tem hora que tem
criança aqui que você não agüenta, você chora, você tem que virar o
rosto assim, por cima, sabe? Você tá tão assim, meu Deus... Você não
agüenta, você chora junto com ele, sabe?
5
É triste demais. Você tem
que ter uma força, sabe? Você tem que ter uma, sabe? Você assusta
com o paciente, com a dor dele, você sente. 6 Agora, eu fiquei boba hoje,
foi com o médico hoje, ele falou assim: eu tenho vinte anos que eu
trabalho com queimado, ele não sente dor. E ele estava com uma crosta
assim na batata da perna dele, sabe? Tava roxa. E ele falava: se você
ficar vinte minutos jogando um jato d’água direto aí, essa crosta vai
sair. Esse paciente não precisa ir no bloco. Água fria não dói. Aí eu
não discuti. Porque se eu fosse discuti com ele, um médico, sabe? Um
médico que tem várias... mais que a enfermagem. Ah, tem! Eu ia
discutir com ele isso? Eu simplesmente falei: olha, eu não joguei água,
mais água aí porque dói, que na hora que eu jogo água nele, ele grita,
60
61
apronta, sabe? Você vê ele levantar da cadeira e sair desesperado
correndo. Como é que eu vou jogar água direto, um jato d’água fria
aí? Vinte minutos jogando água fria aí? Esse remedinho que toma aí
não adianta muito. Não uai, não vou fazer isso. Assim, mas o plástico
tem que acompanhar esse banho, sabe? Esse plástico ficando vinte minutos
aqui jogando água fria nele essa crosta sai. Aí, eu desejaria um... uma
pessoa dessas queimar pelo menos um dedinho assim, sabe? Porque eu
queimei esse aqui ó. Eu... Bate a mão assim ó, eu sinto, sabe? O sangue
descer e doer, agora imagina a pessoa daquele tanto, queimada? Um
médico, um pediatra chegar pra mim e falar assim: joga um jato
d’água, vinte minutos, direto aí, que sai essa crosta. Não dói, água fria
não dói? Ah, pelo amor de Deus, aquilo eu fiquei calada... não vou
discutir não, eu ia brigar. Aí ele ia falar pra diretoria e a diretoria ia
me mandar embora. Você tem que agüentar coisa aqui, sabe? 7 Tem
vez que você vê umas coisa aqui que você tem que ficar calada, senão você
discute com o médico. Porque é a gente que tá trabalhando direto com o
paciente, aí que você vê como é a realidade do que tá acontecendo. E
médico não. Médico vai lá, examina, olha assim e não sente, não sabe
como é que é. Agora chegar pra você e falar que não dói, um jato
d’água fria direto não dói?
8
Isso é as pequenas coisas. Aí tem o tal de
PVPI tópico, esse PVPI é demais viu? O paciente ainda tá lá na cama e
fala: ô tia, pelo amor de Deus, não joga aquele remédio vermelho em
cima de mim não, não joga não. Dizem que quando a gente faz isso que
queima mais do que fogo. Se queima como o fogo, dói mais que o fogo,
você não tava esperando e aquele negócio vermelho já tá esperando.
Mas eu acho que deveria trocar o PVPI tópico por aquele sabão, o
Clororrex. 9 Sei lá viu, eu acho que pra trabalhar com o queimado tem
que ter uma estrutura muito forte, porque tem dia que você sai daqui,
61
62
sabe, cansado, todo mundo sai cansado, aquele cansaço. Porque lá
embaixo não, você sai e vai pra sua casa, esquece que o paciente existe,
sabe, você não vai ficar direto com ele, e aqui não, você fica direto.
Você se emociona junto com o paciente, sofre junto com ele na hora
que o paciente não aceita a queimadura dele. Não aceita que ele está
defeituoso. 10 Ele vai viver na sociedade... Uns não, uns, acontece de sair
daqui e não agüentar, suicidam. Eu já ouvi falar de muita gente que saiu
daqui e não agüentou. Se esconde, não sai na rua, fica trancado dentro de
casa. Quando é bom da cabeça, né, agüenta, faz tratamento, né, não
desespera. Mas tem gente que é fraca. A pior doença é essa, né, queimado é
pior que o câncer. Você não perde uma orelha, não fica com a boca
defeituosa, não fica com os braços tortos, sei lá, é muito triste. É pior que
estar doente de uma doença ruim. E às vezes a gente agüenta coisa aqui,
sabe, mínima. Tem gente que senta a gente ali ó, e fala bobeira. A gente já
tá com a estrutura emocional da gente, né, não tá boa, e quando... por
mínimos detalhes, briga com você, por causa de nada. Tem que ser forte
para trabalhar aqui senão não agüenta não, não fica muito tempo.
Quando você sai e procura outro setor pra trabalhar... Algumas colegas
falam pra colocar uma psicóloga aqui, pra trabalhar com a gente,
sabe? Porque esta estrutura, você tem que vir com ela, desde quando
você nasceu na vida, você tem que vir com ela pra você agüentar
trabalhar com este tipo de paciente. Acho que a psicóloga não consegue
colocar isso, você tem que nascer com aquilo. 11 Tô falando muita coisa,
né?
Pesq._Eu te perguntei o que é para você cuidar do paciente queimado e
você me respondeu algumas coisas. Você gostaria de dizer mais alguma
coisa?
62
63
_Ah, sei lá. Acho que é porque esse médico fez isso comigo hoje,sabe.
Falar aquilo... Ai é o fim da picada. Sei lá, cada dia que passa, a gente vai
aprendendo mais, né. Vai, cada vez , cada dia descobrindo mais coisa.
12
Neste momento é isto que eu acho. a gente tem que segurar e bola pra
frente. Mas no momento é isso.
Pesq._ Obrigada pela colaboração.
UNIDADES DE SIGNIFICADOS
1. (...) você tem que ter muito, muito jogo de cintura, sabe, pra poder
mexer. Porque cada paciente reage de um tipo diferente. Tem uns
pacientes que não agüentam, é... Acho que sente mais dor do que o
outro, sabe? Então, sei lá, você tem que ter um jogo de cintura pra
poder trabalhar com o queimado. O queimado geralmente é, cada um
né, é diferente um do outro, né? Até na hora do banho, tem um
paciente que é mais, sente mais que dói o toque, né, que o outro. Então
você tem que ter mais paciência, é diferente, é totalmente diferente.
Não tem, sabe? Não é igual a todos, então você tem que ter, você tem
que saber trabalhar, igual nós aqui.
Cada pessoa reage diferente à queimadura, alguns parecem sentir mais
dor do que outros. Por isto é preciso ter “ muito jogo de cintura” e muita
paciência para trabalhar, levando em consideração a individualidade de
cada um.
2. Então assim você tem que saber. Você tem que ter um jogo de
cintura pra trabalhar com eles. Não é fácil.
É difícil trabalhar com o paciente queimado. É preciso ter “jogo de
cintura” e saber trabalhar com as individualidades.
63
64
3. (...) eu acho bom você estar todo dia com um paciente diferente,
novo. Sabe como é que é? Porque aí você conhece, você conhece o
andar todinho. A hora que o fulano tá com problema, tá com um
fulano lá na oito? Eu sei o problema da oito. Então eu sei como ajudar
ela, me ajuda... eu sei ajudar ela, entendeu?
É bom cuidar de pacientes diferentes a cada dia, assim, quando um colega
está com dificuldades ao prestar algum cuidado, você pode ajudá-lo, já
que tem conhecimento das necessidades de todos que ali estão internados.
4. (...) se um colega falar pra mim: ô (cita o próprio nome), o paciente
da seis é difícil demais, o paciente é exigente demais, sabe? Ele é
dolorido demais, você pega no braço dele, ele tá reclamando: ai, que tá
machucando, que não sei o que que tem, sabe? Aí eu vou e penso
assim: gente, mais... será que fulano é assim mesmo, sabe? E aí não, eu
já conheço, eu sei que reclama sim, aí eu: ô fulana, o fulano é assim
mesmo, sabe? O jeito dele é esse. Então eu acho bom você, tá, você
conhecer todos os pacientes. Que aí quando uma colega falar dele, você
já fica conhecendo e aì vai falar assim quando for cuidar dele: vou
entrar assim e assim, sabê? Com jeito já, como eu vou tratá-lo.
É bom conhecer todos os pacientes porque pode-se trocar informações
com os colegas e, assim, preparar-se, antes de iniciar os cuidados,
principalmente em relação àqueles “exigentes de mais”.
5. É difícil, não é fácil. Você sente, tem hora, gente, tem hora que tem
criança aqui que você não agüenta, você chora, você tem que virar o
rosto assim, por cima, sabe? Você tá tão assim, meu Deus... Você não
agüenta, você chora junto com ele, sabe?
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65
É difícil cuidar porque o sofrimento dos pacientes queimados é muito
grande. No caso das crianças é ainda pior. Ao prestar-lhes os cuidados,
muitas vezes chega a virar o rosto e chorar junto com elas.
6. É triste demais. Você tem que ter uma força, sabe? Você tem que ter
uma, sabe? Você assusta com o paciente, com a dor dele, você sente.
Às vezes se assusta com as lesões sofridas por alguns pacientes e é capaz
de perceber a intensidade da dor vivenciada por eles.
7. (...) o médico hoje, ele falou assim: eu tenho vinte anos que eu
trabalho com queimado, ele não sente dor. E ele estava com uma crosta
assim na batata da perna dele, sabe? Tava roxa. E ele falava: se você
ficar vinte minutos jogando um jato d’água direto aí, essa crosta vai
sair. Esse paciente não precisa ir no bloco. Água fria não dói. Aí eu
não discuti. Porque se eu fosse discutir com ele, um médico, sabe? Um
médico que tem várias... Mais que a enfermagem. Ah, tem! Eu ia
discutir com ele isso? Eu simplesmente falei: olha, eu não joguei água,
mais água aí porque dói, que na hora que eu jogo água nele, ele grita,
apronta, sabe? Você vê ele levantar da cadeira e sair desesperado
correndo. Como é que eu vou jogar água direto, um jato d’água fria
aí? Vinte minutos jogando água fria aí? Esse remedinho que toma aí
não adianta muito. Não uai, não vou fazer isso. (...) Um médico, um
pediatra chegar pra mim e falar assim: joga um jato d’água, vinte
minuto, direto aí, que sai essa crosta. Não dói, água fria não dói? Ah,
pelo amor de Deus, aquilo eu fiquei calada... não vou discutir não, eu ia
brigar. Aí ele ia falar pra diretoria e a diretoria ia me mandar embora.
Você tem que agüentar coisa aqui, sabe?
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66
A seu ver, só quem presta os cuidados é quem sabe o que o paciente sofre.
Apesar de ser ela quem cuida do paciente, sente-se submissa às ordens
médicas, pois tem de cumpri-las sem discutir. Gostaria de argumentar com
o médico quando discorda de alguma conduta, mas receia ser demitida e
perder o emprego. No caso do curativo, às vezes, não segue algumas
orientações sugeridas, pois sabe que o paciente irá sofrer muito.
8. Porque é a gente que tá trabalhando direto com o paciente, aí que
você vê como é a realidade do que tá acontecendo. E médico não.
Médico vai lá, examina, olha assim e não sente, não sabe como é que é.
Agora chegar pra você e falar que não dói, um jato d’água fria direto
não dói?
Acha que a enfermagem é quem pode dizer se um cuidado é doloroso ou
não, pois é ela quem fica junto ao paciente dia e noite. O médico faz a
avaliação do paciente, mas não o acompanha durante todo o tempo, por
isto não sabe o seu sofrimento.
9. (...) tem o tal de PVPI tópico, esse PVPI é demais viu? O paciente
ainda tá lá na cama e fala: ô tia, pelo amor de Deus, não joga aquele
remédio vermelho em cima de mim não, não joga não. Dizem que
quando a gente faz isso que queima mais do que fogo. Se queima como
o fogo, dói mais que o fogo, você não tava esperando e aquele negócio
vermelho já tá esperando. (...) acho que deveria trocar o PVPI tópico
por aquele sabão, o Clororrex.
Sente-se incomodada com o uso de certos antissépticos, uma vez que eles
provocam muito sofrimento no paciente. Pensa que esses produtos
deveriam ser substituídos.
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67
10. (...) trabalhar com o queimado tem que ter uma estrutura muito
forte, porque tem dia que você sai daqui, sabe, cansado, todo mundo
sai cansado, aquele cansaço. Porque lá embaixo não, você sai e vai pra
sua casa, esquece que o paciente existe, sabe, você não vai ficar direto
com ele, e aqui não, você fica direto. Você se emociona junto com o
paciente, sofre junto com ele na hora que o paciente não aceita a
queimadura dele. Não aceita que ele está defeituoso.
O cuidado intensivo exigido pelo paciente queimado e o envolvimento
emocional do cuidador ao lidar com as dores dessas pessoas torna
cansativo o trabalho da equipe de enfermagem. Acha que, para cuidar do
queimado, é necessário ter uma “estrutura muito forte”.
11. Tem que ser forte para trabalhar aqui senão não agüenta não, não
fica muito tempo. (...) Algumas colegas falam pra colocar uma
psicóloga aqui, pra trabalhar com a gente, sabe? Porque esta
estrutura, você tem que vir com ela, desde quando você nasceu na vida,
você tem que vir com ela pra você agüentar trabalhar com este tipo de
paciente. Acho que a psicóloga não consegue colocar isso, você tem que
nascer com aquilo.
Tem-se que ser forte para cuidar do paciente queimado. É necessário ter
uma força que não é adquirida, mas inata. Se não possuir essa força, a
pessoa não agüenta ficar muito tempo cuidando de pessoas queimadas.
12. (...) cada dia que passa, a gente vai aprendendo mais, né. Vai, cada
vez , cada dia descobrindo mais coisa.
A cada dia considera que aprende e descobre mais coisas ao cuidar do
paciente queimado.
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68
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
2-É difícil trabalhar com o paciente queimado. É
Acha difícil cuidar dos pacientes queimados porque é
preciso ter “jogo de cintura” e saber trabalhar
muito grande o seu sofrimento.
com as individualidades. 5-É difícil cuidar porque
crianças, é ainda pior. Ao prestar-lhes os cuidados,
o sofrimento dos pacientes queimados é muito
muitas vezes chega a virar o rosto e chorar junto
grande. No caso das crianças é ainda pior. Ao
com elas. Em certas situações,
prestar-lhes os cuidados, muitas vezes
chega a
lesões sofridas por alguns pacientes e é capaz de
virar o rosto e chorar junto com elas. 6 - Às vezes,
perceber a intensidade da dor vivenciada por eles. É
assusta-se com as lesões sofridas por alguns
necessário ter uma força que não é adquirida, mas
pacientes e é capaz de perceber a intensidade da
inata. Se não possuir essa força, a pessoa não aguenta
dor vivenciada por eles. 11-Tem-se que ser forte
ficar muito tempo cuidando de pessoas queimadas. É
para cuidar do paciente queimado. É necessário
preciso também estar preparado para trabalhar com as
ter uma força que não é adquirida, mas inata. Se
individualidades. (U.S. 2, 5, 6, 10 e 11)
No caso
das
assusta-se com as
não possuir essa força, a pessoa não agüenta
ficar muito tempo cuidando de pessoas queimadas.
b) Cuidar é estar atento
b) Cuidar é estar atento
8-Acha que a enfermagem é quem pode dizer se um
Pensa que a enfermagem é quem pode dizer se um
cuidado é doloroso ou não, pois é ela quem fica
cuidado é doloroso ou não, pois é ela quem fica junto
junto ao paciente dia e noite. O médico faz a
à pessoa queimada dia e noite. O médico não tem
avaliação do paciente, mas não o
acompanha
dimensão do sofrimento do paciente, uma vez que o
durante todo o tempo, por isto não sabe o seu
avalia, mas não o acompanha durante todo o tempo.
sofrimento.
(U.S. 8)
c) Cuidar compreendendo a dor
c) Cuidar compreendendo a dor
1-Cada pessoa
Considera que cada pessoa
reage diferente à queimadura,
reage diferente à
alguns parecem sentir mais dor do que outros. Por
queimadura, alguns parecem sentir mais dor do que
isto é preciso ter “ muito jogo de cintura” e muita
outros. Por isto é necessário ter “muito jogo de
paciência para trabalhar, levando em consideração
cintura” e
a individualidade de
cada um. 6 - Às vezes,
paciente. Deve-se levar em conta a individualidade de
assusta-se com as lesões sofridas por alguns
cada um. Às vezes, assusta-se com as lesões sofridas
pacientes e é capaz de perceber a intensidade da
por alguns e é capaz de perceber a intensidade da dor
dor vivenciada por eles. 10-O cuidado intensivo
vivenciada por eles. O cuidado intensivo exigido pelo
exigido pelo paciente queimado e o envolvimento
paciente queimado e o envolvimento emocional do
emocional do cuidador ao lidar com as dores
cuidador ao lidar com suas dores tornam cansativo o
dessas pessoas tornam cansativo o trabalho da
trabalho da equipe de enfermagem. Acha que, para
muita paciência para trabalhar com o
68
69
equipe de enfermagem. Por isto acha que, para
cuidar do queimado, é necessário ter uma “estrutura
cuidar do queimado, é necessário
muito forte”. (U.S. 1, 6 e 10)
ter uma
“estrutura muito forte”.
d) O Cuidar e o trabalho em equipe
d) O Cuidar e o trabalho em equipe
3-É bom cuidar de pacientes diferentes a cada dia.
É bom cuidar de pacientes
Assim, quando um colega está com dificuldades ao
Assim, quando um colega está com dificuldades ao
prestar algum cuidado, você pode ajudá-lo, já que
prestar algum cuidado, pode-se ajudá-lo, já que tem
tem conhecimento das necessidades de todos que
conhecimento das necessidades de todos que ali estão
ali estão internados.
internados. (U.S. 3).
e) Cuidar é preparar-se para o paciente
e) Cuidar é preparar-se para o paciente
4-É bom conhecer todos os pacientes porque pode-
É bom conhecer todos os pacientes porque pode-se
se trocar informações com os colegas e, assim,
trocar informações com os colegas e, assim,
preparar-se,
preparar-se
antes
de
iniciar
os
principalmente em relação àqueles
cuidados,
“exigentes
antes
principalmente
de
em
diferentes a cada dia.
iniciar
relação
os
cuidados,
àqueles
“exigentes
demais”.
demais”. (U.S. 4) –
f) Cuidar é aprender a cada dia
f) Cuidar é aprender a cada dia
12-A cada dia considera que aprende e descobre
A cada dia considera que aprende e descobre mais
mais coisas ao cuidar do paciente queimado.
coisas ao cuidar do paciente queimado.
(U.S. 12)
g) Cuidar é repensar as ações
g) Cuidar é repensar as ações
7-A seu ver, só quem presta os cuidados é quem
A seu ver, só quem realiza os cuidados pode saber o
sabe o que o paciente sofre. Apesar de ser ela quem
que o paciente sofre.
cuida do paciente, sente-se submissa às ordens
argumentar com o médico quando discorda de alguma
médicas, pois tem de cumpri-las sem discutir.
conduta, mas se sente submissa às suas ordens e
Gostaria de argumentar com o médico quando
receia ser demitida, caso expresse a sua opinião. No
discorda de alguma conduta, mas receia
ser
caso do curativo, não segue algumas orientações
demitida e perder o emprego. No caso do curativo,
sugeridas, pois sabe que o paciente irá sofrer muito.
às vezes, não segue algumas orientações sugeridas,
Sente-se
pois sabe que o paciente irá sofrer muito. 9-Sente-
antissépticos, pensa que deveriam ser substituídos,
se incomodada com o uso de certos antissépticos,
uma vez que eles provocam muito sofrimento no
uma vez que eles provocam muito sofrimento no
paciente. (U.S. 7 e 9)
incomodada
Muitas vezes, gostaria de
com
o
uso
de
certos
paciente. Pensa que esses produtos deveriam ser
substituídos.
69
70
h) Cuidar é tratar do ser doente
1-Cada pessoa
reage diferente à queimadura,
h) Cuidar é tratar do ser doente
Considera que cada pessoa
reage diferente à
alguns parecem sentir mais dor do que outros. Por
queimadura, alguns parecem sentir mais dor do que
isto é preciso ter “ muito jogo de cintura” e muita
outros. Por isto é necessário ter “muito jogo de
paciência para trabalhar, levando em consideração
cintura” e
a individualidade de
paciente queimado. Deve-se levar em consideração as
cada um. 2- É difícil
trabalhar com o paciente queimado. É preciso ter
muita paciência para trabalhar com o
individualidades. (U.S. 1 e 2)
“jogo de cintura” e saber trabalhar com as
individualidades.
Análise Ideográfica
Acha difícil cuidar do paciente com queimaduras, principalmente se este
for uma criança, porque o seu sofrimento é intenso. Nesses casos, muitas
vezes, chega a virar o rosto e chorar junto com ela, ao prestar-lhe os
cuidados. Ainda hoje se assusta ao ver certas lesões sofridas por algumas
pessoas, uma vez que é capaz de imaginar a intensidade da dor que
vivenciam.
As reações dos pacientes são diferentes, uns parecem sofrer mais do que
outros, por isto, além da paciência, é preciso saber como lidar com eles. Ao
cuidar, deve-se levar em conta a individualidade de cada pessoa. Considera
que o cuidado intensivo exigido por esses pacientes e o desgaste emocional
sofrido pela convivência constante com a dor tornam cansativo o trabalho
da enfermagem no setor. Acredita, portanto, que, para cuidar das pessoas
com queimaduras, é necessário possuir uma “força” que não é adquirida,
mas inata. Se não for assim, não se consegue trabalhar ali por muito tempo.
Gosta de cuidar, a cada dia, de pacientes diferentes, isso facilita a troca de
informações sobre eles, entre os funcionários. Desta forma, o cuidador
pode preparar-se antes de iniciar os cuidados, em se tratando, em especial,
dos mais exigentes. Sente-se submissa às ordens médicas, mas acha que
70
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tem de cumpri-las sem discutir. Em relação ao curativo, às vezes, não segue
algumas orientações, pois sabe que elas irão aumentar a dor do paciente. A
seu ver, por ficar todo o tempo junto a pessoas queimadas, quem tem mais
condições de avaliar o seu sofrimento é a equipe de enfermagem. Afirma
que gostaria de argumentar quando discorda de algumas condutas, mas
receia ser demitida.
Pensa que, diariamente, descobre e aprende coisas novas ao cuidar do
paciente queimado.
71
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DISCURSO 05
Pesq.: O que é para você cuidar do paciente queimado?
_O pior é que, quanto mais velho a gente é, menos a gente sabe. Porque a
gente vai seguindo aquela rotina de todo dia, né. Se bem que a (cita o
nome) tem dado umas coisas novas pra gente aí, né. Mas cuidar do
paciente queimado, a gente tem que gostar, primeiro né 1. Ter amor e a
cada dia a gente vê a evolução do paciente e a gente sente satisfeito,
sente feliz com isso, pela melhora dele2. Paciente, numa fase assim, de
até, numa porcentagem de 60 até 80% de queimado, a gente cuida, assim
com muita vontade de ver a melhora dele e aí vêm as fases dele, porque
a gente muda muito de paciente. A cada dois dias a gente muda, então
cada dia a gente vê alguma coisa diferente do queimado. A gente
aprende também alguma coisa nele mesmo.3 E dar um banho num
paciente queimado, dar um banho bem dado, a gente fica feliz com
aquilo, porque a gente tá vendo que o paciente tá sentindo uma
melhora através do banho, né, e do curativo4 . Então eu acho que de
rotina é isso aí, dá uma alimentação boa, uma hidratação boa... Que a
gente vai fazer, isso aí é os cuidados da gente. As medicações, né, dentro
do horário certinho. observar tudo nele também é cuidado,
principalmente, observar cianose, pupila, tudo isso é importante a
gente fazer. Tudo engloba com o cuidado.5 O que eu sei á mais ou menos
isso.
Pesq._Então, para você, cuidar do paciente queimado é isso que você
falou?
_É, mas primeiro tem que gostar, trabalhar com amor também, não é só
pensar no dinheiro não6 . Porque quando a gente gosta de uma profissão a
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gente não pensa só no dinheiro não, tem que gostar da profissão também.
Se não gostar, não consegue levar em frente não. Eu trabalho aqui,
porque eu gosto de trabalhar com o queimado7 . E não gosto de paciente
muito estável também não, eu gosto de ter alguma coisa pra fazer com o
paciente, porque tem paciente que não tem nada pra fazer nele, só dá o
banho e pronto, uma hidrataçãozinha e pronto. Eu me sinto muito
feliz. No final da tarde eu sei que já fiz alguma coisa naquele paciente.
Vou embora muito tranqüila. Tem paciente que não reconhece o que a
gente faz por ele mas tem paciente que agradece. 8 Quando eu comecei a
trabalhar com queimado, isso era no interior, né, e lá era diferente, não era
isolado. Aí eu cheguei aqui e levei o maior susto, porque os queimados
que a gente via no interior era queimadinho, era uma lesão pequena,
pra depois chegar aqui e achar esses queimadão, eu levei um choque.
Agora, hoje não, eu não tenho dificuldade mais, tem assim, dói, mas
como eu gosto, eu sou obrigada a cuidar deles que precisa, né, e tem
que cuidar do jeito que tem que ser. Se eu tenho que lavar, secar,
passar pomada, fazer o curativo, então eu tenho que fazer é desse jeito.
9
Agora a primeira coisa que a gente faz quando entra na enfermaria é
observar, observar ele primeiro, cumprimentar e levar para o banho
com apoio psicológico. Isso é o que a gente faz. Porque, quando a gente
entra na enfermaria, quem assusta não é a gente, quem assusta é o
paciente. Ele leva um choque com a gente, porque ele tem medo do
banho. Então a gente tem que fazer o preparo dele. 10
Pesq._ Você disse tudo que gostaria de dizer?
_ Tudo do queimado... eu acho que não. Mas eu gosto do trabalho, de
trabalhar aqui, já estou pensando no dia que eu vou sair daqui. Mas, tudo?
Não, acho que sempre fica faltando alguma coisa. Mas eu vou ficando por
aqui, porque tá faltando palavra.
73
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Pesq._ Então, obrigada pela sua colaboração.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. (...) cuidar do paciente queimado, a gente tem que gostar, primeiro
né.
Para cuidar da pessoa queimada, primeiro tem que gostar do que se faz.
2. Ter amor e a cada dia a gente vê a evolução do paciente e a gente
sente satisfeito, sente feliz com isso, pela melhora dele.
É preciso ter amor pelo que se faz. A cada dia acompanha a evolução do
paciente, sente-se feliz e satisfeita com a melhora dele.
3. (...) a gente cuida, assim com muita vontade de ver a melhora dele e
aí vêm as fases
dele (...) então cada dia a gente vê alguma coisa
diferente do queimado. A gente aprende também alguma coisa nele
mesmo.
A cada dia cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a sua
melhora. Acompanha a evolução do paciente e está sempre aprendendo
com esse processo.
4. (...) dar um banho num paciente queimado, dar um banho bem
dado, a gente fica feliz com aquilo, porque a gente tá vendo que o
paciente tá sentindo uma melhora através do banho, né, e do curativo.
Percebe que o banho bem dado e o curativo ajudam na melhora do
paciente, isto faz com que, como funcionária que realiza um bom trabalho,
se sinta feliz.
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5. (...) acho que de rotina é isso aí, dá uma alimentação boa, uma
hidratação boa (...) As medicações, né, dentro do horário certinho.
Observar tudo nele também é cuidado, principalmente, observar
cianose, pupila, tudo isso é importante a gente fazer. Tudo engloba
com o cuidado.
Tudo envolve o cuidado: uma boa alimentação, uma hidratação adequada,
administrar as medicações nos horários prescritos e estar atenta aos sinais
de alterações fisiológicas.
6. (...) tem que gostar, trabalhar com amor também, não é só pensar no
dinheiro não.
É necessário gostar e trabalhar com amor, não é só pensar em dinheiro.
7. Se não gostar, não consegue levar em frente não. Eu trabalho aqui,
porque eu gosto de trabalhar com o queimado.
Gosta de trabalhar com o paciente queimado. Não há como trabalhar
muito tempo ali se não gostar.
8. (...) gosto de ter alguma coisa pra fazer com o paciente, porque tem
paciente que não tem nada pra fazer nele, só dá o banho e pronto, uma
hidrataçãozinha e pronto. Eu me sinto muito feliz. No final da tarde eu
sei que já fiz alguma coisa naquele paciente. Vou embora muito
tranqüila. Tem paciente que não reconhece o que a gente faz por ele
mas tem paciente que agradece.
Gosta de prestar cuidados mais complexos.. Sente-se muito feliz e
tranqüila quando, ao final do plantão, percebe que fez algo para ajudar o
paciente. Alguns não reconhecem o trabalho da enfermagem mas outros
agradecem.
75
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9. (...) eu cheguei aqui e levei o maior susto, porque os queimados que a
gente via no interior era queimadinho, era uma lesão pequena, pra
depois chegar aqui e achar esses queimadão, eu levei um choque. (...)
hoje não, eu não tenho dificuldade mais, tem assim, dói, mas como eu
gosto, eu sou obrigada a cuidar deles que precisa, né, e tem que cuidar
do jeito que tem que ser. (...) Se eu tenho que lavar, secar, passar
pomada, fazer o curativo, então eu tenho que fazer é desse jeito.
Quando começou a trabalhar na unidade de queimados,
porque não estava acostumada a ver
assustou-se,
pessoas com queimaduras tão
extensas e graves. Atualmente não tem dificuldades de cuidar do paciente
queimado. Procura fazer os cuidados da melhor forma possível. Gosta do
trabalho, embora ainda sinta dó ao executar alguns procedimentos.
10. Agora a primeira coisa que a gente faz quando entra na enfermaria
é observar, observar ele primeiro, cumprimentar e levar para o banho
com apoio psicológico. Isso é o que a gente faz. Porque, quando a gente
entra na enfermaria, quem assusta não é a gente, quem assusta é o
paciente. Ele leva um choque com a gente, porque ele tem medo do
banho. Então a gente tem que fazer o preparo dele.
Ao entrar na enfermaria para dar o banho no paciente, primeiro observa
as suas condições e lhe dá “apoio psicológico”, pois percebe que ele tem
muito medo desse procedimento.
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
9-Quando começou a trabalhar na unidade de
Assim que começou a trabalhar na unidade de
queimados,
queimados assustou-se,
assustou-se,
porque não estava
porque não estava
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acostumada a ver
pessoas com queimaduras tão
acostumada a ver
pessoas com queimaduras tão
extensas e graves. Atualmente não tem dificuldades
extensas e graves. Atualmente não sente dificuldades
de cuidar do paciente queimado. Procura fazer os
de cuidar do paciente queimado. Procura fazer os
cuidados
cuidados
da melhor forma possível. Gosta do
trabalho, embora
ainda sinta dó ao executar
da melhor forma possível. Gosta do
trabalho, embora ainda sinta dó ao executar alguns
alguns procedimentos.
procedimentos. (U.S. 9)
b) Cuidar é gostar do que se faz
b) Cuidar é gostar do que se faz
1-Para cuidar da pessoa queimada, primeiro tem
Para cuidar da pessoa queimada, primeiro tem que
que gostar do que se faz. 2-É preciso ter amor pelo
gostar, ter amor pelo que se faz, não é só pensar em
que se faz. A cada dia acompanha a evolução do
dinheiro. Não há como trabalhar muito tempo ali se
paciente, sente-se feliz e satisfeita com a melhora
não for assim. Fica feliz e satisfeita com a melhora
dele. 6-É necessário gostar e trabalhar com amor,
do paciente e sente-se tranqüila quando, ao final do
não é só pensar em dinheiro. 7-Gosta de trabalhar
plantão, percebe que fez algo para ajudá-lo. Procura
com o paciente queimado. Não há como trabalhar
cuidar das pessoas da melhor forma possível. Gosta
muito tempo ali se não gostar. 8-Gosta de prestar
do trabalho, embora
cuidados mais complexos. Sente-se muito feliz e
alguns deles. (U.S. 1, 2, 6, 7, 8 e 9)
ainda sinta dó ao executar
tranqüila quando, ao final do plantão, percebe que
fez algo para ajudar o paciente. Alguns
não
reconhecem o trabalho da enfermagem mas outros
agradecem. 9-Quando começou a trabalhar na
unidade de queimados, assustou-se,
estava
acostumada a
queimaduras tão
ver
porque não
pessoas com
extensas e graves. Atualmente
não tem dificuldades de cuidar do paciente
queimado. Procura fazer os cuidados da melhor
forma possível. Gosta do trabalho, embora ainda
sinta dó ao executar alguns procedimentos.
c) Cuidar é se dedicar
c) Cuidar é se dedicar
2-É preciso ter amor pelo que se faz. A cada dia
Cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a sua
acompanha a evolução do paciente, sente-se feliz
melhora. A cada dia acompanha a sua evolução e fica
e satisfeita com a melhora dele. 3-A cada dia
feliz e satisfeita com a melhora do paciente. Sente-se
cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a
tranqüila quando, ao final do plantão, vê que fez algo
sua melhora. Acompanha a evolução do paciente e
para ajudá-lo. Percebe que alguns não reconhecem o
está sempre aprendendo com esse processo. 8-
trabalho da enfermagem, mas outros agradecem pela
Gosta de prestar cuidados mais complexos.. Sente-
dedicação. (U.S. 2, 3 e 8).
se muito feliz e tranqüila quando, ao final do
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plantão, percebe que
fez algo para ajudar o
paciente. Alguns não reconhecem o trabalho da
enfermagem mas outros agradecem.
d) Cuidar é agir orientado pelo saber
d) Cuidar é agir orientado pelo saber
4-Percebe que o banho bem dado e o curativo
Considera que um banho e um curativo quando
ajudam na melhora do paciente, isto faz com que,
executados de maneira correta, ajudam na melhora do
como funcionária que realiza um bom trabalho,
paciente. Sente-se feliz por ser uma funcionária que
se sinta feliz.
realiza um bom trabalho. (U.S. 4)
e) Cuidar é estar atento
e) Cuidar é estar atento
5-Tudo envolve o cuidado: uma boa alimentação,
Acha que tudo envolve o cuidado, ou seja, uma boa
uma
alimentação,
hidratação
adequada,
administrar
as
uma
hidratação
adequada,
a
medicações nos horários prescritos e estar atenta
administração das medicações nos horários prescritos
aos sinais de alterações fisiológicas. 10-Ao entrar
e estar atenta aos sinais de alterações fisiológicas. Ao
na enfermaria para dar o banho no paciente,
entrar na enfermaria para dar o banho no paciente,
primeiro observa as suas condições e lhe dá “apoio
primeiro observa as condições em que ele se encontra
psicológico”, pois percebe que ele tem muito medo
e lhe dá “apoio psicológico”, pois sabe que ele tem
desse procedimento.
muito medo desse procedimento. (U.S. 5 e 10)
f) Cuidar é aprender a cada dia
f) Cuidar é aprender a cada dia
3-A cada dia, cuida da pessoa queimada com o
A cada dia, cuida da pessoa queimada com o intuito
intuito
de ver a sua melhora. Acompanha a
de ver a sua melhora. Acompanha a evolução do
evolução do paciente e está sempre aprendendo
paciente e está sempre aprendendo com esse
com esse processo.
processo. (U.S. 3)
Análise Ideográfica
Quando começou a trabalhar na unidade destinada aos pacientes com
queimaduras, sentia-se assustada com o estado das pessoas ali internadas.
Atualmente, não tem mais dificuldades, gosta do que faz, procura prestar os
cuidados da melhor forma possível, embora ainda sinta dó ao executar
certos procedimentos. Pensa que, para cuidar desses pacientes, a pessoa
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deve ter amor pelo que faz, caso contrário, não consegue trabalhar muito
tempo no setor.
Acredita que uma boa alimentação, uma hidratação adequada, a
administração das medicações nos horários prescritos, o banho e o curativo
executados de maneira correta, tudo isso, aliado à atenção constante às
alterações fisiológicas, são cuidados necessários à recuperação dos
pacientes. Ressalta que o apoio psicológico também é importante, devido
ao medo que estes têm do banho.
Ao acompanhar a evolução do paciente, fica feliz e satisfeita com a
melhora dele. Sente-se tranqüila quando, ao final do plantão, percebe que
fez algo para ajudá-lo.
Considera-se uma boa profissional, apesar de o trabalho da enfermagem
nem
sempre
ser
reconhecido.
Como
cuidador,
acha
que
está
constantemente aprendendo no processo de cuidar.
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DISCURSO 06
Pesq.: O que é para você cuidar do paciente queimado?
_Cuidar do paciente queimado... parece que é uma missão pra gente.
Porque a gente tá aqui não é à toa,1 porque eu acho que não é qualquer
um que agüenta o que a gente faz não, porque passa as pessoas aqui e
fala que é muito traumatizante, muito dolorido2. Cuidar do queimado,
a gente tem que ter uma certa... super paciência com eles. É porque na
hora do banho a gente tem que fazer o serviço, passar a gazinha,
limpar bem limpinho, pra não dar infecção. A gente tem que saber a
importância desse nosso trabalho porque, se a gente deixar o paciente
mesmo limpar, ele não vai limpar direito. Então, a gente, ciente disso,
pra melhora dele mais rápido, a gente tem que fazer um bom serviço. 3
A gente vê que é dolorido, mas a gente tá aqui... Deus coloca ... Que
ilumina a gente pra gente estar com eles. Porque não é a toa que a gente
tá aqui não. Porque cada área, eu acho, tem as pessoas determinadas
para cuidar daqueles pacientes. Acho que aqui, né, não é qualquer um
que agüenta cuidar desses pacientes não. Porque... Na hora do banho é
muito dolorido... A gente pega, limpa aquelas secreções, a dor que ele
está sentindo... Porque a carne está viva, a lesão está, praticamente,
coitado, toda aberta. .4 A gente tem que ter o máximo de paciência e
fazer um bom serviço. Sabendo que é pra melhora do paciente. Tem que
ter amor também, porque sem amor não se faz um bom serviço. Se dá
um pouquinho de si pra eles.5 Igual aquele paciente, o (cita o nome), ele
precisa totalmente da gente. Pra passar, igual, precisa de ajuda pra passar
ele da maca. Tem pessoas que não conseguem o curativo dele sozinha não.
Precisa de ajuda porque ele tá, praticamente, sem movimento nenhum, né.
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81
E a gente, tem mais, é... Que conciliar pra ajudar. Mas as outras
enfermarias, às vezes, não tá dando pra ajudar. Aí a gente tem que,
como se diz, fazer por onde seu serviço sair bem feito e o paciente ficar
satisfeito com
seu serviço.6 Mas, Graças a Deus, agora ele tem
consciência e ele mesmo tá se ajudando, porque com a ajuda dele mesmo tá
melhor e ele tá querendo ver o filho dele, né. Ele vai melhorar, né.
Pesq._ Sobre a pergunta que eu te fiz, o que é cuidar do paciente queimado,
pra você é isso que você falou?
_ Eu acho que sim, pois o que eu tenho que fazer é dar um bom banho,
né. Ter muita paciência, muito carinho também.7 É uma rotina, mas
você tem que dar um pouco de si também, porque o paciente tá alí, tá
sofrendo. Queimado não é coisa à toa não. Eles ficam muito tempo no
hospital, então tem que ter uma super paciência com eles, porque é,
quanto tempo que eles ficam aqui, né, coitados, a gente vê, a gente que tá lá
fora, a gente vê como é que é difícil , e eles ficar aqui dentro esse tempo
todo, 8 esperar enxertia, esperar ir embora pra saber da família lá fora. Isso
é muito difícil pra eles, né. É isso aí que eu falei.
Pesq._ Então, muito obrigada.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. Cuidar do paciente queimado... parece que é uma missão pra gente.
Porque a gente tá aqui não é à toa.
Cuidar da pessoa queimada parece ser uma missão. Acredita estar ali para
isto.
2. (...) eu acho que não é qualquer um que agüenta o que a gente faz
não, porque passa as pessoas aqui e fala que é muito traumatizante,
muito dolorido.
81
82
Acha que não é qualquer pessoa que suporta trabalhar no setor de
queimados, pois “é muito traumatizante e dolorido” cuidar dos pacientes
ali internados.
3. Cuidar do queimado, a gente tem que ter uma certa... super
paciência com eles. É porque na hora do banho a gente tem que fazer o
serviço, passar a gazinha, limpar bem limpinho, pra não dar infecção.
A gente tem que saber a importância desse nosso trabalho porque, se a
gente deixar o paciente mesmo limpar, ele não vai limpar direito.
Então, a gente, ciente disso, pra melhora dele mais rápido, a gente tem
que fazer um bom serviço.
É preciso ter muita paciência com o paciente queimado, principalmente
durante o banho. Nessa hora é necessário
limpar bem as lesões para
evitar infecção. O profissional deve ter consciência da importância desse
trabalho e empenhar-se para desenvolver bem os cuidados, contribuindo,
dessa forma, para a melhora do paciente.
4. (...) não é à toa que a gente tá aqui não. Porque cada área, eu acho,
tem as pessoas determinadas para cuidar daqueles pacientes. Acho que
aqui, né, não é qualquer um que agüenta cuidar desses pacientes não.
Porque... Na hora do banho é muito dolorido... A gente pega, limpa
aquelas secreções, a dor que ele está sentindo... Porque a carne está
viva, a lesão está, praticamente, coitado, toda aberta.
Não é qualquer pessoa que agüenta cuidar do paciente queimado.
Considera que não é por acaso que ela e os outros funcionários estão
trabalhando ali, tem de haver alguma razão. É difícil cuidar porque o
paciente sente muita dor, principalmente durante o banho, quando tem de
limpar as lesões que estão em “carne viva”.
82
83
5. (...) tem que ter o máximo de paciência e fazer um bom serviço. (...)
Tem que ter amor também, porque sem amor não se faz um bom
serviço. Se dá um pouquinho de si pra eles.
Para cuidar, tem de ter muita paciência e amor. Não se faz um bom
trabalho sem amor, sem dar um pouco de si para o paciente.
6. (...) tem mais, é... Que conciliar pra ajudar. Mas as outras
enfermarias, as vezes, não tá dando pra ajudar. Aí a gente tem que,
como se diz, fazer por onde seu serviço sair bem feito e o paciente ficar
satisfeito com seu serviço.
A colaboração entre os membros da equipe durante o cuidar é necessária,
mas nem sempre é possível. O importante é o serviço sair bem feito e
satisfazer o paciente.
7. (...) o que eu tenho que fazer é dar um bom banho, né. Ter muita
paciência, muito carinho também.
Além da preocupação com o banho, é preciso
ter, também, muita
paciência e carinho para com o paciente.
8. É uma rotina, mas você tem que dar um pouco de si também, porque
o paciente tá ali, tá sofrendo. Queimado não é coisa à toa não. Eles
ficam muito tempo no hospital, então tem que ter uma super paciência
com eles (...) é difícil , e eles ficá aqui dentro esse tempo todo.
Mais do que as atividades de rotina do setor, para cuidar, é preciso dar
um pouco de si e ter muita paciência com o paciente, porque ele sofre
muito.
83
84
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
2-Acha que não é qualquer pessoa que suporta
Acha que não é qualquer um que suporta trabalhar no
trabalhar no setor de queimados, pois “é muito
setor para pacientes queimados, pois
traumatizante e dolorido” cuidar dos pacientes ali
traumatizante”. É difícil cuidar dessas pessoas porque
internados. 4-Não é qualquer pessoa que agüenta
elas sentem muita dor, principalmente durante o
cuidar do paciente queimado. Considera que não é
banho, quando é preciso lmpar as lesões que estão
por acaso que ela e os outros funcionários estão
em “carne viva”.
trabalhando ali, tem de haver alguma razão. É
Considera que não é por acaso que ela e os outros
difícil cuidar porque o paciente sente muita dor,
funcionários estão trabalhando
principalmente durante o banho, quando tem de
alguma razão. (U.S. 2 e 4)
“é muito
ali, tem de haver
limpar as lesões que estão em “carne viva”.
b) Cuidar é se dedicar
b) Cuidar é se dedicar
5-Para cuidar, tem de ter muita paciência e amor.
Não se faz um bom trabalho sem dar um pouco de si
Não se faz um bom trabalho sem amor, sem dar um
para o paciente. Mais do que as atividades de rotina
pouco de si para o paciente. 8-Mais do que as
do setor, para cuidar, tem de ter muita paciência e
atividades de rotina do setor, para cuidar,
amor, pois ele sofre muito. (U.S. 5 e 8)
é
preciso dar um pouco de si e ter muita paciência
com o paciente, porque ele sofre muito.
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
3-É preciso ter muita paciência com o paciente
É preciso ter muita paciência e carinho para com o
queimado, principalmente durante o banho. Nessa
paciente queimado, principalmente durante o banho.
hora é necessário
limpar bem as lesões para
Nessa hora, é necessário limpar bem as lesões para
evitar infecção. O profissional deve ter consciência
evitar infecção. O profissional deve ter consciência
da importância desse trabalho e empenhar-se para
da importância desse trabalho e empenhar-se para
desenvolver bem os cuidados, contribuindo, dessa
desenvolver bem os cuidados, contribuindo, dessa
forma, para a melhora do paciente. 7-Além da
forma, para a melhora do paciente. (U.S. 3 e 7)
preocupação com o banho, é preciso ter, também,
muita paciência e carinho para com o paciente.
d) O Cuidar e o trabalho em equipe
d) O Cuidar e o trabalho em equipe
6-A colaboração entre os membros da equipe
A colaboração entre os membros da equipe durante o
durante o cuidar é necessária, mas nem sempre é
cuidar é necessária, mas nem sempre é possível. O
possível. O importante é o serviço sair bem feito e
importante é o serviço sair bem feito e satisfazer o
satisfazer o paciente.
paciente. (U.S. 6)
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e) Cuidar é uma missão
e) Cuidar é uma missão
1-Cuidar da pessoa queimada parece ser uma
Cuidar da pessoa queimada parece ser uma missão.
missão. Acredita estar ali para isto.
Acredita estar ali para isto. (U.S. 1)
Análise Ideográfica
Mais do que executar as atividades rotineiras do setor, a auxiliar de
enfermagem afirma que, para cuidar do paciente queimado, é necessário ter
muito amor, carinho e paciência, porque ele sente muita dor,
principalmente durante o banho. É o momento em que se deve limpar as
lesões provocadas pela queimadura, o que causa grande sofrimento ao
paciente. Acha que a enfermagem deve ter consciência da importância de
seu trabalho e empenhar-se para desenvolver bem os cuidados, pois, assim,
estará contribuindo para a melhora dessas pessoas. Para ela, o trabalho em
equipe também é muito importante, mas nem sempre é possível.
Considera que é difícil cuidar do paciente queimado e não é qualquer
pessoa que consegue lidar com tanta dor. Pensa que cuidar desses pacientes
deve ser uma missão e ninguém está ali cuidando por acaso.
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DISCURSO 07
Pesq.: O que é para você cuidar do paciente queimado?
_ Bom, pra início de conversa, eu acho, assim, que é um trabalho difícil,
muito difícil, e, deixa eu pensar aqui... Ele é muito assim... Porque o
queimado, ele é uma pessoa que ele... Você tem que cuidar da ferida,
entendeu? Da ferida, da cabeça, porque, você vê bem, a pessoa não
estava predisposta a nenhuma patologia, então ela queima em questão
de minutos. Um minuto atrás ele era normal, um minuto depois ele era
queimado, todo mundo no nosso caso aqui, totalmente dependente. Então
você tem que cuidar... Por isso que eu falo que é um trabalho difícil,
porque você tem que cuidar da ferida, da cabeça desse queimado e da
sua também1. Aí, o que acontece? O queimado chega, você começa a
cuidar, ele traz tudo, todo aquele processo de frustração, de... tudo na
vida. O processo de vida dele, ele traz junto com a queimadura e aí
você fica meio perdida. Primeiramente, eu pelo menos sou assim, antes
que eu conheça o paciente, a pessoa paciente, pra mim é difícil 2 .
Porque eu não tô ali só pra dá banho, enfaixar e pronto. Então eu tenho
essa dificuldade. Porque primeiro, você tem que ver como que foi que o
paciente... Às vezes, é o tal negócio, às vezes você vira pra ele e fala
assim: como é que você queimou? Aí o paciente, pô, é curiosidade! E
não é! É porque ali você vai começar a conhecer o processo dele pra
você saber até como você chega, como você trata, como é que você vai
agir com esta pessoa.3 Cada paciente você cuida de um jeito. Então é
difícil você falar: com queimado você faz isso, isso, isso e isso. Não tem
essa, essa... A ser um... Eu estou falando do curativo, mas eu digo assim no
geral, não tem aquele padrão que ele vai de acordo com cada pessoa.
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Você tem, primeiro, que ver como que essa pessoa vai aceitar esse
tratamento. Uns já vão te facilitar, outros não vão facilitar, 4 né? Então,
acho que eu não respondi a sua... Fica difícil falar assim ao certo. Cuidar de
queimado é assim, assim e assim.
Pesq.: Cuidar do paciente queimado pra você é...
_ É. Falar com você, cuidar do queimado... Porque a rotina existe, mas ela
... Eu não sei, eu acho que o queimado não é um paciente padronizado.
Não é a mesma coisa que você cuidar de um paciente, por exemplo,
vamos dar um exemplo aí de uma paciente já com uma patologia. Por
exemplo, igual todo mundo fala que não gosta de cuidar de CA. Não é
a mesma coisa, porque esse paciente já vem com aquela patologia, já
traz ela no sangue, já tem uma história com aquela doença. E o
queimado não tem, ele passa a ser queimado depois,né5 . Então eu acho
que, não sei se todo mundo já te mostrou isso, sei lá, mas eu acho que
cuidar do queimado é difícil, é ver, é conhecer o paciente, é ver a
história dele. Porque a queimadura não é só uma ferida. A ferida é o
que a gente tá vendo, mas o queimado, ele se queima todo, queima a
alma, o pensamento, se queima todo.6
Pesq.: Você gostaria de dizer mais alguma coisa?
_ Não, nesse sentido não, porque é meio complexo este negócio. Você me
pegou meio desprevenida e é meio complicado.
Pesq.: Então muito obrigada.
_ De nada.
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UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. (...) é um trabalho difícil, muito difícil (...) tem que cuidar da ferida
(...) da cabeça, porque, você vê bem, a pessoa não estava predisposta a
nenhuma patologia, então ela queima em questão de minutos. Um
minuto atrás ele era normal, um minuto depois ele era queimado (...)
totalmente dependente. (...) Por isso que eu falo que é um trabalho
difícil, porque você tem que cuidar da ferida, da cabeça desse
queimado e da sua também.
É um trabalho muito difícil porque é necessário cuidar da lesão da pele e
da parte psicológica
do paciente, já que ele foi acometido pela
queimadura de uma forma muito repentina. Em questão de minutos, a
pessoa
torna-se totalmente dependente. É difícil porque você tem de
“cuidar da cabeça do paciente queimado e da sua também”.
2. O queimado chega, você começa a cuidar, ele traz tudo, todo aquele
processo de frustração, de... tudo na vida. O processo de vida dele, ele
traz junto com a queimadura e aí você fica meia perdida.
Primeiramente, eu pelo menos sou assim, antes que eu conheça o
paciente, a pessoa paciente, pra mim é difícil.
O paciente queimado chega trazendo consigo toda uma história de vida
além da lesão. Por isto, primeiramente, você tem de conhecer a “pessoa
paciente”, para não se sentir “perdida” no processo de cuidar.
3. (...) eu não tô ali só pra dá banho, enfaixar e pronto (...) primeiro,
você tem que ver como que foi que o paciente... Às vezes, é o tal
negócio, às vezes você vira pra ele e fala assim: como é que você
queimou? Aí o paciente, pô, é curiosidade! E não é! É porque ali você
88
89
vai começar a conhecer o processo dele pra você saber até como você
chega, como você trata, como é que você vai agir com esta pessoa.
É necessário ter conhecimento de como o paciente se queimou para saber
como tratá-lo, embora se corra o risco de ele achar que a busca do motivo
é apenas curiosidade.
4. Cada paciente você cuida de um jeito. Então é difícil você falar: com
queimado você faz isso, isso, isso e isso. Não tem essa (...) aquele padrão
que ele vai de acordo com cada pessoa. Você tem, primeiro, que ver
como que essa pessoa vai aceitar esse tratamento. Uns já vão te
facilitar, outros não vão facilitar.
Acha que não existe um padrão para cuidar do paciente queimado, pois
cada pessoa exige um cuidar diferenciado. Um facilita o cuidar, outro já
o torna mais difícil.
5. (...) a rotina existe, mas ela ... Eu não sei, eu acho que o queimado
não é um paciente padronizado. Não é a mesma coisa que você cuidar
de um paciente, por exemplo, vamos dar um exemplo aí de uma
paciente já com uma patologia. Por exemplo, igual todo mundo fala
que não gosta de cuidar de CA. Não é a mesma coisa, porque esse
paciente já vem com aquela patologia, já traz ela no sangue, já tem
uma história com aquela doença. E o queimado não tem, ele passa a ser
queimado depois, né.
A pessoa queimada é diferente de outros pacientes, pois ele não era
queimado, ele “passa a ser queimado” de repente. Apesar da existência
de rotinas no setor, acha que não deve haver cuidados padronizados para
o paciente queimado.
89
90
6. (...) cuidar do queimado é difícil, é ver, é conhecer o paciente, é ver a
história dele. Porque a queimadura não é só uma ferida. A ferida é o
que a gente tá vendo, mas o queimado, ele se queima todo, queima a
alma, o pensamento, se queima todo.
É necessário conhecer a história do paciente, pois ele não traz consigo
somente a queimadura física. A pessoa “se queima toda”, inclusive a
alma e o pensamento. Por isso, cuidar do paciente queimado é difícil.
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
1-É um trabalho muito difícil porque é necessário
É um trabalho muito difícil porque é necessário
cuidar da lesão da pele e da parte psicológica do
cuidar da lesão da pele e da parte psicológica do
paciente, já que ele foi acometido pela queimadura
paciente, já que ele foi acometido pela queimadura de
de uma forma muito repentina. Em questão de
uma forma muito repentina. Em questão de minutos,
minutos, a pessoa torna-se totalmente dependente.
a pessoa torna-se totalmente dependente. É difícil
É difícil porque você tem de “cuidar da cabeça do
porque é necessário “cuidar da cabeça do paciente
paciente queimado e da sua também”. 6-É
queimado e da sua também”. Ele se “queima todo”,
necessário conhecer a história do paciente, pois ele
inclusive a alma, por isto, tem-se que conhecer a
não traz consigo somente a queimadura física. A
pessoa e não apenas a queimadura física. (U.S. 1 e 6)
pessoa “se queima toda”, inclusive a alma e o
pensamento.
Por
isso,
cuidar
do
paciente
queimado é difícil.
b) Cuidar é estar atento
b) Cuidar é estar atento
2-O paciente queimado chega trazendo consigo
O paciente queimado chega trazendo consigo toda
toda uma história de vida além da lesão. Por isto,
uma história de vida além da lesão. Ele se “queima
primeiramente, você tem de conhecer a “pessoa
todo”, inclusive a alma, por isto, tem-se que conhecer
paciente”, para não se sentir “perdida” no
a pessoa e não apenas a queimadura física. É preciso
processo de cuidar. 6-É necessário conhecer a
conhecê-la para não se sentir “perdida” no processo
história do paciente, pois ele não traz consigo
de cuidar. (U.S. 2 e 6).
somente a queimadura física. A pessoa
“se
queima toda”, inclusive a alma e o pensamento.
Por isso, cuidar do paciente queimado é difícil.
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91
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
3-É necessário ter conhecimento de como o
É necessário ter conhecimento de como o paciente se
paciente se queimou para saber como tratá-lo,
queimou para saber como tratá-lo, embora se corra o
embora se corra o risco de ele achar que a busca
risco de ele achar que a busca do motivo é apenas
do motivo é apenas curiosidade.
curiosidade. (U.S. 3)
d) Cuidar é tratar do ser doente
d) Cuidar é tratar do ser doente
4-Acha que não existe um padrão para cuidar do
Apesar da existência de rotinas no setor, acha que
paciente queimado, pois cada pessoa exige um
não deve haver cuidados padronizados para o
cuidar diferenciado. Um facilita o cuidar, outro já
paciente queimado; cada pessoa exige um cuidar
o torna mais difícil. 5-A pessoa queimada é
diferenciado. Um facilita, outro já torna esse
diferente de outros pacientes, pois ele não era
processo mais difícil. A pessoa queimada não é igual
queimado, ele “passa a ser queimado” de repente.
aos outros pacientes, pois, devido ao acidente,
Apesar da existência de rotinas no setor, acha que
“passa a ser queimado” e tem que se internar de
não deve haver cuidados padronizados para o
uma hora para outra. (U.S. 4 e 5)
paciente queimado.
Análise Ideográfica
Acha muito difícil cuidar do paciente queimado, pois, além de tratar das
lesões físicas, tem de ajudá-lo emocionalmente. A queimadura afeta o seu
estado psicológico e o deixa dependente de uma hora para outra. Por isto, é
necessário conhecer e cuidar da pessoa e não apenas da queimadura. Ela
traz consigo toda uma história de vida que é importante considerar no
processo de cuidar. Mesmo correndo o risco de ser interpretado como
curiosidade, é preciso verificar como ocorreu a queimadura, para saber
como tratá-la.
Apesar da existência de rotinas no setor onde trabalha, pensa que não deve
haver cuidados padronizados para os pacientes queimados; cada pessoa tem
necessidades diferenciadas.
Acrescenta ainda que as dificuldades enfrentadas pelos cuidadores exigem
que eles não descuidem da sua própria saúde mental.
91
92
DISCURSO 08
Pesq.: O que é pra você cuidar do paciente queimado?
_ Pra mim, cuidar do paciente queimado é complicado porque a gente
tem que ver em que estado se encontra o paciente. O estado
psicológico, né. O estado dele com a família dele, os acontecimentos, o
que houve. Pra depois você saber chegar no paciente e dar início. 1 Dar
início como? No tratamento dele, né.
É, terapêutico dele, né. E
formular uma equipe, né, que tenha, né, a capacidade a nível da
queimadura do paciente, né. Vamos supor que seja um paciente com
queimadura de gás, ou queimadura de álcool, vamos supor, um ou outro,
né. E que nós possamos ver, né, o grau de queimadura e que nós possamos
realmente fazer a equipe intervir com ele.
2
Intervir como? É, se é um
paciente homem, né, e se foi uma tentativa de homicídio e não quer
falar, nós não vamos ignorá-lo, nós vamos tentar uma maneira de, não
importa como ele seja, né, e, que o paciente, que a gente possa ver o
bem-estar do paciente da melhor maneira possível. 3 Vamos fazer uma
equipe, uma equipe composta de médico, psicólogo, vai precisar de
fisioterapeuta. E enfermagem, né, e tentar levar o melhor, né. Pra esse
doente que realmente ele precisa. Ele precisa e nós estamos
preparando cada dia mais, melhorando cada dia mais em todos os
aspectos, né. 4 De organização... Organização do setor, né? Aqui que é
onde a gente realmente chega e dá
capacidade pra gente poder
trabalhar. Porque realmente tem, eu acho que deveria ser um
pouquinho melhor, né. Mas infelizmente nós damos o máximo que o
hospital nos oferece. E eu acho que com o paciente queimado é bom de
trabalhar, principalmente aqui que dá... É...Basicamente quase tudo
92
93
que a gente precisa, normalmente tem.
5
Eu já fiz pesquisas em outros
hospitais e tudo, e realmente quando o paciente chega: Ah, eu não vou ficar
aqui, e pan, pan, pan, e coisa e tal. Eu falo: é melhor você ficar aqui do
que ir pra outro hospital particular. Você pode ter qualquer tipo de
convênio, aqui, realmente, é o melhor hospital que tem para queimadura. A
gente divulgou isso em televisão, em rádio, né? Os profissionais são de
excelente qualidade. Não é todo mundo que consegue ver o queimado,
não é todo mundo que está em outro setor que tem essa capacidade
não.. 6 Eu já estou aqui há mais ou menos cinco anos, né. Cinco anos!...
Então o que eu sei de queimado eu aprendi realmente aqui e nunca vi em
outro hospital nenhum essa grandeza que tem aqui, realmente igual nessa
unidade de queimado. Então eu acho que aqui o paciente está no lugar
certo. No lugar onde ele pode se curar, né. A cura devidamente, da
expansão da queimadura, da área queimada. Então o que eu posso falar pra
você é isso. Que somos uma equipe muito boa, muito boa. Agora, se puder
melhorar mais, melhor ainda, melhor para nós, né. Porque aí nos vamos ser
vistos, até mesmo mundialmente, né. E realmente, é um dos
9
melhores
hospitais da América Latina, uma dos melhores. Eu me sinto assim,
honrado de poder ser lembrado, né, na América Latina como um bom
profissional, né.
7
Só de chegar num lugar e ouvir assim: ô
você
trabalha no queimados, cuidou de fulano? Em todo lugar tem isso. Já
internou paciente aqui do meu bairro, conhecido meu. Então, pra mim
é uma grandeza enorme poder contribuir, né. 8 Com esse, esse memorial
do João XXIII, né. Que foi crescendo, crescendo e crescendo e taí muito
grande, rumo a expandir principalmente e em particular no queimados, tá
bom?
Pesq.: Pra você cuidar do paciente queimado é isso que você falou?
93
94
_ É isso que eu te falei. Eu acho que tem que ter realmente uma equipe,
começando do... É, tipo uma escada e degrau, começando do primeiro
até o décimo, senão não funciona. Não funciona por quê? Porque vai
faltar a metade, vai faltar uma outra, vai faltar complementar pra
chegar nos outros degraus. Então, eu acho que tem que ser dessa
forma, tem que ser muito bem organizado e muito bem preparado, eu
acho. Cuidar é isso.
9
Aqui já melhorou muito nestes quatro meses,
melhorou bastante. Você vê, a organização tá melhor, nós estamos
trabalhando com mais material hoje em dia. Mesmo com esta história de
governo aí, Graças a Deus não está faltando matéria-prima pra gente.
Então a gente tem que estar satisfeito, né. Tem muito lugar que não te dá
condições de trabalhar. Falta material, não, a gente tá tendo em
abundância. Não adianta a pessoa chegar: Ah, no lugar lá tá faltando isso,
tá faltando aquilo, mentira, mentira. Não falta. Pode faltar por duas horas,
uma hora e pouco, por um tempo, né. Mas geralmente, aqui, a gente tem
o material pra trabalhar, né,10então cuidar é isso.
Pesq.:_ Está bem, obrigada pela colaboração.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. (...) cuidar do paciente queimado é complicado porque a gente tem
que ver em que estado se encontra o paciente. O estado psicológico, né.
O estado dele com a família dele, os acontecimentos, o que houve. Pra
depois você saber chegar no paciente e dar início.
Cuidar do paciente queimado é complicado porque é preciso considerar o
seu estado geral, o
estado psicológico, o relacionamento dele com a
família e a história do acidente, só depois é que se devem iniciar os
cuidados.
94
95
2. Dar início como? No tratamento dele, né. É, terapêutico dele, né. E
formular uma equipe, né, que tenha, né, a capacidade a nível da
queimadura do paciente. (...) nós possamos realmente fazer a equipe
intervir com ele.
Para dar início ao tratamento da pessoa queimado, antes de mais nada, a
equipe precisa ser capacitada e ter conhecimento sobre queimaduras. Ela
deve envolver o paciente de modo que ele participe do processo
terapêutico.
3. (...) se foi uma tentativa de homicídio e não quer falar, nós não
vamos ignorá-lo, nós vamos tentar uma maneira de, não importa como
ele seja, né, e, que o paciente, que a gente possa ver o bem-estar do
paciente da melhor maneira possível.
Independente
das circunstâncias em que ocorreu o acidente, a equipe
deve sempre visar ao bem-estar do paciente e atendê-lo da melhor maneira
possível.
4. Vamos fazer uma equipe, uma equipe composta de médico,
psicólogo, vai precisar de fisioterapeuta. E enfermagem, né, e tentar
levar o melhor, né. Pra esse doente que realmente ele precisa. Ele
precisa e nós estamos preparando cada dia mais, melhorando cada dia
mais em todos os aspectos, né.
Para cuidar do paciente queimado, é realmente necessário que a equipe
seja multiprofissional, cada um desempenhando cada vez melhor a sua
função visando à necessidade do paciente.
95
96
5. De organização... Organização do setor, né? Aqui que é onde a gente
realmente chega e dá capacidade pra gente poder trabalhar. Porque
realmente tem, eu acho que deveria ser um pouquinho melhor, né. (...)
com o paciente queimado é bom de trabalhar, principalmente aqui que
dá... É...Basicamente quase tudo que a gente precisa, normalmente
tem.
Trabalhar com o paciente queimado é bom porque, na unidade, tem-se
quase tudo o que é necessário. O setor é organizado e oferece boas
condições de trabalho, embora haja sempre alguma coisa para melhorar.
6. Não é todo mundo que consegue ver o queimado, não é todo mundo
que está em outro setor que tem essa capacidade não.
Nem todas as pessoas que trabalham no hospital conseguem “ver” o
queimado.
7. Eu me sinto assim, honrado de poder ser lembrado, né, na América
Latina como um bom profissional, né.
Sente-se honrado por ser “lembrado” como um bom profissional.
8. Só de chegar num lugar e ouvir assim: ô
você trabalha no
queimados, cuidou de fulano? Em todo lugar tem isso. Já internou
paciente aqui do meu bairro, conhecido meu. Então, pra mim é uma
grandeza enorme poder contribuir, né.
É uma “grandeza” poder ajudar o outro a se curar. .
9. (...) tem que ter realmente uma equipe, começando do... É, tipo uma
escada e degrau, começando do primeiro até o décimo, senão não
funciona. Não funciona por quê? Porque vai faltar a metade, vai faltar
96
97
uma outra, vai faltar complementar pra chegar nos outros degraus.
Então, eu acho que tem que ser dessa forma, tem que ser muito bem
organizado e muito bem preparado, eu acho. Cuidar é isso.
Para cuidar, a equipe deve ser preparada e organizada, com cada um dos
componentes complementando o outro. Se não for assim, “não funciona”,
porque vai estar sempre faltando alguma coisa. É como subir os degraus
de uma escada, um vai ajudando o outro até chegar ao topo.
10. Aqui já melhorou muito (...) a organização tá melhor, nós estamos
trabalhando com mais material hoje em dia. (...) Tem muito lugar que
não te dá condições de trabalhar. Mas geralmente, aqui, a gente tem o
material pra trabalhar, né, (...)
A organização do setor está muito melhor e há mais material para se
trabalhar.
Grupos temáticos
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
a) Cuidar é difícil
6. Nem todas as pessoas que trabalham no hospital
Nem todos aqueles que trabalham no hospital cuidando
conseguem “ver” o queimado.
de pacientes conseguem se aproximar e olhar a pessoa
queimada. (U.S. 6)
b) Cuidar é gostar do que se faz
b) Cuidar é gostar do que se faz
7-Sente-se honrado por ser “lembrado” como um bom
É uma “grandeza” poder ajudar o outro a se curar. Sente-
profissional. 8 - É uma “grandeza” poder ajudar o
se honrado por ser “lembrado” como um bom
outro a se curar.
profissional. (U.S. 7 e 8)
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
5- Trabalhar com o paciente queimado é bom porque,
O setor é organizado, atualmente tem mais material e
na unidade, tem-se quase tudo o que é necessário. O
oferece boas condições de trabalho, embora haja sempre
setor é organizado e oferece boas condições de
alguma coisa para melhorar. Trabalhar com o paciente
trabalho, embora haja sempre alguma coisa para
queimado é bom porque na unidade tem-se quase tudo o
melhorar. 10-A
que é necessário. (U.S. 5 e 10)
organização do setor está muito
97
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melhor e há mais material para se trabalhar.
d) Cuidar é tratar do ser doente
d) Cuidar é tratar do ser doente
1-Cuidar do paciente queimado é complicado porque é
Cuidar do paciente queimado é complicado porque é
preciso considerar o seu estado geral, o
preciso considerar
estado
o seu estado geral, o estado
psicológico, o relacionamento dele com a família e a
psicológico, o relacionamento dele com a família e a
história do acidente, só depois é que se devem iniciar
história do acidente, só depois é que se devem iniciar os
os cuidados.
cuidados. (U.S. 1)
e) Cuidar compreendendo a dor
e) Cuidar compreendendo a dor
3-Independente das circunstâncias em que ocorreu o
Independente das circunstâncias em que ocorreu o
acidente, a equipe deve sempre visar ao bem-estar do
acidente, a equipe deve sempre visar ao bem-estar do
paciente e atendê-lo da melhor maneira possível.
paciente e atendê-lo da melhor maneira possível.
(U.S. 3)
f) O Cuidar e o trabalho em equipe
f) O Cuidar e o trabalho em equipe
2-Para dar início ao tratamento da pessoa queimada,
Para cuidar do paciente queimado, é preciso ter uma
antes de mais nada, a equipe precisa ser capacitada e
equipe multiprofissional organizada e capacitada. Ela
ter
queimaduras. Ela deve
deve fazer com que o paciente também participe de todo
envolver o paciente de modo que ele participe do
o processo terapêutico. Se não for assim, “não funciona”,
processo terapêutico. 4- Para cuidar do paciente
porque vai estar sempre faltando alguma coisa. É como
queimado, é realmente necessário que a equipe seja
subir os “degraus de uma escada”, um vai ajudando o
multiprofissional, cada um desempenhando cada vez
outro até chegar no topo. (U.S. 2, 4 e 9)
conhecimento sobre
melhor a
sua função visando à necessidade do
paciente. 9-Para cuidar, a equipe deve ser preparada
e organizada com cada um dos componentes
complementando o outro. Se não for assim, “não
funciona”, porque vai estar sempre faltando alguma
coisa. É como subir os degraus de uma escada, um vai
ajudando o outro até chegar ao topo.
Análise Ideográfica
Considera que cuidar
do paciente queimado é bom porque a unidade é
organizada e oferece, atualmente, quase todos os recursos materiais
necessários. Por outro lado, é complexo, pois é necessário considerar o
98
99
estado geral e psicológico do doente, além do seu relacionamento com a
família. É preciso também ter uma equipe multiprofissional capacitada que
tenha como meta o bem-estar do paciente, num processo terapêutico que
conte com o seu envolvimento e participação nas decisões. Acredita que
ele só será efetivo se for desta forma. É como subir os “degraus de uma
escada”, cada profissional vai ajudando e complementando o trabalho do
outro até que o objetivo seja alcançado.
No seu relato, o auxiliar de enfermagem acrescenta ainda que nem todos
aqueles que cuidam de pacientes no hospital conseguem se aproximar e
olhar a pessoa com queimaduras. Quanto a ele, sente orgulho e satisfação
em poder ajudar esse paciente a se curar e gosta de ser reconhecido como
um bom profissional.
99
100
DISCURSO 09
Pesq. _O que é para você cuidar do paciente queimado?
_ Olha, cuidar do paciente queimado é dar a ele toda assistência de
cuidados necessários. Lavando as feridas, fazendo os curativos, né. E
atender em todas as solicitações, e naquilo que a gente vê necessário 1 ,
sabe? Porque tem muita coisa que, tem muita pessoa que vê assim: Não, ele
não falou nada. Mas a gente tem que ter uma boa capacidade de
observação. Observar também as anormalidades. Tem uns sintomas
aparentes e tem uns sintomas inaparentes2 . Por exemplo: o paciente tá
amarelo, com os olhos amarelos, tá apresentando o quê? Pode ser o quê?
Um “treco-treco”. Aí dá pra ver, né, se ele tá com uma febre, você tem
que colocar um termômetro pra ver, porque pode tá com febre e você
não tá observando, nem sabendo, e ele não vai falar que tá com febre, a
gente é que tem que tá sempre observando nesse sentido. E a dor, a dor
é queixa, né. Pode tá com pseudomonas, por exemplo. A gente é que vê,
ele não vê não, né? Tá apresentando infecção. A gente cheira, vê a
secreção, a gente é que vê. Olha se ele tá alimentando, se ele tá com boa
aceitação das dietas... Tem que observar se ele apresenta... se ele
queixa que tá com náusea, se apresenta vômito. Ele é um paciente que
depende muito de cuidado e observação.
3
Por exemplo, chegaram dois
aqui no fim de dezembro, e todos dois morreram... Tava faltando material
no hospital, como roupa de vestir, roupa, é... Pra forrar os leitos. Não
tinha pomada. Eu tive que fazer curativo confuso. Os que vieram do
bloco, eu não pude consertar os curativos, porque não tinha pomada
bastante pra passar, passou foi só óleo mineral e com gasinha, porque
nem gase aberta tinha. Teve uma semana aí que não teve atadura, e eles
100
101
ficaram aqui, devido à falta de vaga no nono andar e os dois morreu. Eles
eram uns paciente queimado que necessitava de cuidados lá do nono,
cuidados intensivos. Morreram, faltou material, faltou pomada, paciente
que tá muito queimado tem que ser bem, mas bem cuidado. Tem que
ter pomada mesmo pra passar e eles queimou todo. Tem que ter roupa,
roupa de cama, roupa pra dormir, né, e mais pomada, mais atadura e
gase aberta que não pode faltar. Porque você já teve aqui, você viu o...
Não sei se você chegou a ver, que você ficava era à tarde, mas deve ter
visto sim. São queimaduras grande, né? Braço, aquelas pernas
comprida, né. Gasta, gasta muito. Remédio pra dor, nesses dias mesmo
não tá tendo. Não tá tendo remédio pra dor não, tá tendo Nubaim. Usou
Tilatil uns tempos, usou Inflaren uns tempos e ultimamente estava usando é
o Nubaim. E nesses dias não tem. E eu tenho dado só o Dipirona e o
Tramal... É trinta minutos antes do banho.
_Cuidar do paciente queimado pra você é isso que você está me falando?
_É, mas não tem sabão. No plantão passado eu não usei sabão porque
não tinha. Usei um pouquinho de degermente. Lavando queimado só
com água... Não tem álcool. Precisa de álcool pra fazer desinfecção dos
leitos, pra dar injeção, pra passar nas mãos, né. Pra fazer desinfecção
depois que dá o banho, nas mãos, nas botas.
4
Hoje tem muita atadura.
Esses dias tá tendo, mas teve uns dias aí que ... Meus pacientes morreram
e eu senti muito, eu fiquei sentindo isso. Porque eu recebi os dois, e
todos dois morreram
5
e tá tendo muito óbito, mais do que tinha, eu acho.
Só que eu sei, aqueles que a gente sabe, e aqueles que a gente não sabe?
Veio paciente aqui, o (cita o nome), chegou aqui com o corpo coberto de
gasinha e óleo mineral, eu fui consertar e não tinha como consertar porque
não tinha atadura, porque não tinha gaze aberta pra pôr nele. Sabe? Um
senhor já idoso... E não dá, as vagas lá do nono tá pouca. É sim, aqui tem
101
102
dois paciente, tem... tem uma. Aquela paciente do cinco três, aquela
paciente á paciente do nono, tá muito queimada. Eu tô falando porque eu
tava ajudando, eu terminei o meu trabalho e fui pra lá ajudar a moça. Você
não viu, mas aquela hora que você conversou comigo você viu mais ou
menos o estado deles. Tá vendo a luta do pessoal pra conseguir vaga lá em
cima. É isso aí. Tem tempo que tá bom, tem tempo que não tá. Antes dessa
campanha política tava bom, antes da eleição. Depois, eu acho que a verba
deve ter entrado. Porque o que muita gente supõe, deve ter entrado, deve
ter diminuído a verba da campanha e foi diminuindo e tudo. Tá ruim
mesmo, nesse sentido o paciente precisa ser bem cuidado. Tá igual nos
anos setenta, tinha muita admissão, pouca alta e muito óbito, eu já
trabalhava com queimado nessa época.
Pesq._ Você gostaria de dizer mais alguma coisa?
_ Não. Mas você sabe que o bom é paciente ser bem cuidado, não é? Você
sabe que é.
Pesq._ É sim. Então, muito obrigada pela sua colaboração.
UNIDADES DE SIGNIFICADO
1. (...) cuidar do paciente queimado é dá a ele toda assistência de
cuidados necessários. Lavando as feridas, fazendo os curativos, né. E
atender em todas as solicitações, e naquilo que a gente vê necessário
(...).
Cuidar do paciente queimado é lavar as feridas, fazer os curativos, enfim,
é prestar-lhe todos os cuidados necessários.
102
103
2. (...) tem que ter uma boa capacidade de observação. Observar
também as anormalidades. Tem uns sintomas aparentes e tem uns
sintomas inaparentes.
É preciso ter uma boa capacidade de observação para perceber as
anormalidades, pois alguns sintomas são aparentes, mas outros não.
3. (...) ver, né, se ele tá com uma febre, você tem que colocar um
termômetro pra ver, porque pode tá com febre e você não tá
observando, nem sabendo, e ele não vai falar que tá com febre, a gente
é que tem que tá sempre observando nesse sentido. E a dor, a dor é
queixa, né. Pode tá com pseudomonas, por exemplo. A gente é que vê,
ele não vê não, né? Tá apresentando infecção. A gente cheira, vê a
secreção, a gente é que vê. Olha se ele tá alimentando, se ele tá com boa
aceitação das dietas... Tem que observar se ele apresenta... se ele
queixa que tá com náusea, se apresenta vômito. Ele é um paciente que
depende muito de cuidado e observação.
O paciente queimado é muito dependente de cuidados e de observação dos
diversos sinais e sintomas que podem apresentar, tais como febre, dor,
inapetência, náuseas, vômitos e secreções.
4. Tava faltando material no hospital, como roupa de vestir, roupa, é...
Pra forrar os leitos. Não tinha pomada. Eu tive que fazer curativo
confuso. Os que vieram do bloco, eu não pude consertar os curativos,
porque não tinha pomada bastante pra passar, passou foi só óleo
mineral e com gasinha, porque nem gase aberta tinha. (...) paciente que
tá muito queimado tem que ser bem, mas bem cuidado. Tem que ter
pomada mesmo pra passar (...) Tem que ter roupa, roupa de cama,
roupa pra dormir, né, e mais pomada, mais atadura e gaze aberta que
103
104
não pode faltar. (...) São queimaduras grandes, né? Braço, aquelas
pernas compridas, né. Gasta, gasta muito. Remédio pra dor... (...) No
plantão passado eu não usei sabão porque não tinha. Usei um
pouquinho de degermente. Lavando queimado só com água... Não tem
álcool. Precisa de álcool pra fazer desinfecção dos leitos, pra dar
injeção, pra passar nas mãos, né. Pra fazer desinfecção depois que dá o
banho, nas mãos, nas botas.
O paciente queimado tem de ser bem cuidado. Materiais como pomada,
roupa de vestir, de cama, ataduras e gaze aberta não podem faltar. As
queimaduras são extensas e, então, o consumo de material médicohospitalar é grande. Se não há material necessário à mão, fica difícil
cuidar.
5. Meus pacientes morreram e eu senti muito, eu fiquei sentindo isso.
Porque eu recebi os dois, e todos dois morreram (...).
Sentiu muito a morte de dois pacientes que foram admitidos no setor.
Grupos temáticos
a) Cuidar é difícil
Asserções Significativas Interpretadas
a) Cuidar é difícil
5-Sentiu muito a morte de dois pacientes que foram Sentiu muito as mortes de dois pacientes internados no
admitidos no setor.
setor. (U.S. 5)
b) Cuidar é se dedicar
b) Cuidar é se dedicar
1- Cuidar do paciente queimado é lavar as feridas, Cuidar do paciente queimado é lavar as feridas, fazer os
fazer os curativos, enfim, é prestar-lhe todos os curativos, enfim, é prestar-lhe todos os cuidados
cuidados necessários.
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
4-O paciente queimado tem de ser bem cuidado.
necessários. (U.S. 1)
c) Cuidar é agir orientado pelo saber
O paciente queimado tem de ser bem cuidado. Se não há
104
105
Materiais como pomada, roupa de vestir, de cama,
material necessário à mão, fica difícil cuidar.
ataduras e gaze aberta não podem faltar. As
(U.S. 4)
queimaduras são extensas e, então, o consumo de
material médico-hospitalar e
remédios para dor é
grande. Se não há material necessário à mão, fica
difícil cuidar.
d) Cuidar é estar atento
d) Cuidar é estar atento
2-É preciso ter uma boa capacidade de observação
O paciente queimado exige bastante observação e é muito
para perceber as anormalidades, pois alguns sintomas
dependente de cuidados. A pessoa que cuida deve ser
são aparentes, mas
capaz de perceber as anormalidades que ele pode
outros não. 3-O paciente
queimado é muito dependente de cuidados e de
apresentar, pois algumas são aparentes, mas outras não.
observação dos diversos sinais e sintomas que podem
(U.S. 2 e 3).
apresentar, tais como febre, dor, inapetência, náuseas,
vômitos e secreções.
Análise Ideográfica
Afirma que a pessoa
queimada exige bastante observação e é muito
dependente de cuidados. O cuidador precisa ser capaz de perceber as
anormalidades, pois algumas são aparentes, mas outras não. Cuidar do
paciente queimado, também, é lavar as feridas, fazer os curativos, enfim,
prestar-lhe todos os cuidados necessários. Salienta, entretanto, que, se não
há material necessário à mão, fica difícil cuidar. Em relação à interação
com os pacientes, relata que sente muito quando algum deles morre.
105
106
V. MATRIZ NOMOTÉTICA
CATEGORIAS E GRUPOS
TEMÁTICOS
DISCURSOS E ASSERÇÕES
SIGNIFICATIVAS
INTERPRETADAS
1. O GOSTAR DE CUIDAR E AS
DIFICULDADES DO COTIDIANO
1.1 - Cuidar é difícil
DISC. 1 - A S I a
DISC. 3 - A.S.I. a
DISC. 4 - A.S.I. a
DISC. 5 - A.S.I. a
DISC. 6 - A.S.I. a
DISC. 7 - A.S.I. a
DISC. 8 - A.S.I. a
DISC. 9 - A.S.I. a
1.2 - Cuidar é uma missão
DISC. 6 - A.S.I. e
2. CUIDAR É GOSTAR DO QUE SE FAZ
2.1 – Cuidar é gostar do que se faz
DISC. 1 - A.S.I. b
DISC. 3 - A.S.I. b
DISC. 5 - A.S.I. b
DISC. 8 - A.S.I. b
2.2 – Cuidar é tratar do ser doente
DISC. 1 - A.S.I. d
DISC. 4 - A.S.I. h
DISC. 7 - A.S.I. d
DISC. 8 - A.S.I. d
2.3 – Cuidar é se dedicar
DISC. 1 - A.S.I. c
DISC. 2 - A.S.I. a
DISC. 3 - A.S.I. c
DISC. 5 - A.S.I. c
DISC. 6 - A.S.I. b
2.4 - Cuidar compreendendo a dor
DISC. 1 - A.S.I. g
DISC. 2 - A.S.I. c
DISC. 3 - A.S.I. f
DISC. 4 - A.S.I. c
106
107
CATEGORIAS E GRUPOS
TEMÁTICOS
DISCURSOS E ASSERÇÕES
SIGNIFICATIVAS
INTERPRETADAS
3. CUIDAR É AGIR ORIENTADO
PELO SABER
3.1 - Cuidar é agir orientado pelo saber
DISC. 2
DISC. 3
DISC. 5
DISC. 6
DISC. 7
DISC. 8
DISC. 9
- A.S.I. b
- A.S.I. d
- A.S.I. d
- A.S.I. c
- A.S.I. c
- A.S.I. c
- A.S.I. c
3.2 - Cuidar é estar atento
DISC. 1 - A.S.I. e
DISC. 3 - A.S.I. e
DISC. 4 - A.S.I. b
DISC. 5 - A.S.I. e
DISC. 7 - A.S.I. b
DISC. 9 - A.S.I. d
3.3 - Cuidar é orientar
DISC. 3 - A.S.I. h
3.4 - Cuidar é repensar as ações
DISC. 2 - A.S.I. d
DISC. 3 - A.S.I. j
DISC. 4 - A.S.I. g
3.5 - Cuidar é aprender a cada dia
DISC. 4 - A.S.I. f
DISC. 5 - A.S.I. f
4. O CUIDAR E O TRABALHO
EM EQUIPE
4.1 - O cuidar e o trabalho em equipe
DISC. 3
DISC. 4
DISC. 6
DISC. 8
- A.S.I. g
- A.S.I. d
- A.S.I. d
- A.S.I. f
4.2 - Cuidar é preparar-se para o paciente DISC . 4 - A.S.I. e
107
108
VI – REFLEXÃO DOS RESULTADOS
As análises ideográficas e nomotética permitiram-me adentrar no
mundo-vida
do auxiliar de enfermagem que trabalha na unidade de
queimados do Hospital de Pronto Socorro João XXIII e encontrar quatro
categorias que, pelo exercício da reflexão, possibilitaram-me vislumbrar o
fenômeno “cuidar do paciente com queimaduras”, o qual busquei com a
minha interrogação norteadora.
O resultado encontrado nesta pesquisa reflete o meu olhar e não
tem a pretensão de esgotar as várias perspectivas possíveis do fenômeno
estudado, mesmo porque todas as verdades são relativas e dependem da
temporalidade e de quem as analisa.
A
seguir,
passarei
para
a
construção
dos
resultados,
referendando-me às categorias abaixo relacionadas:
1 – O Cuidar e as Dificuldades do Cotidiano
2 – Cuidar é Gostar do que se Faz
3 – Cuidar é Agir Orientado pelo Saber
4 – O Cuidar e o Trabalho em Equipe
6.1. O Cuidar e as Dificuldades do Cotidiano
Cuidar de um paciente queimado, numa unidade especializada,
para os auxiliares de enfermagem constitui-se uma vivência difícil de ser
experienciada devido ao grande sofrimento das pessoas que ali se internam.
A admissão das dificuldades é comum nos discursos e pode ser
exemplificada nas falas:
108
109
Cuidar do paciente queimado é
difícil uma vez que a
queimadura é dolorosa e ele sofre muito. (Disc.3 A.S.I. a)
Acha difícil cuidar dos pacientes queimados porque é muito
grande o seu sofrimento. (Disc.4 A.S.I a)
É difícil porque é necessário “cuidar da cabeça do paciente
queimado e da sua também”. (Disc.7 A.S.I a)
Quando o outro é uma criança, o exercício profissional do cuidar
torna-se ainda mais difícil.
No caso das crianças, é ainda pior. Ao prestar-lhes os cuidados,
muitas vezes chega a virar o rosto e chorar junto com elas.
(Disc.4 A.S.I a)
A criança no seu mundo,
cheio de significados e fantasias,
transforma a agressão representada pela queimadura em um fato ainda mais
sinistro para si e para aqueles que a assistem. Com seu enfoque peculiar,
sua subjetividade infantil, ela sofre com a dor das lesões e a invasão de seu
corpo.
Diante de um acontecimento tão traumático, como é a
queimadura, a criança tenta atrair para si a atenção de todos que a rodeiam.
A raiva, o grito, o choro e a rebeldia são reações freqüentes que, em geral,
vêm intercalados de momentos de silêncio e apatia assustadores, num
aparente conflito interno, e só a proximidade da mãe ou de alguém que lhe
transmita ternura e segurança pode ajudá-la a suplantar o sofrimento.
109
110
A particularidade como a criança vivencia o sofrimento ou
doença, traduzida da minha experiência como mãe e enfermeira, talvez
torne compreensível a maior sensibilidade e dificuldade dos auxiliares ao
assisti-la. Em muitas situações, o cuidador se entrega, vira o rosto e chora
junto, divide os sentimentos, coloca para fora a emoção, extravasa, como
anuncia o discurso 4, anteriormente citado.
Exposta à facticidade
pessoa
com queimaduras
existencial, ansiosa e desesperada,
experiencia
uma
dor profunda,
a
quase
insuportável, que se apodera da totalidade do seu ser. Transtornada pelo
sofrimento causado por alguns procedimentos terapêuticos, mostra-se hostil
e agressiva, dificultando a prática do cuidar, conforme transcrito abaixo:
(...) chegam a ser agredidos fisicamente por ele, (refere-se ao
paciente), numa reação causada pelo sofrimento que este sente
durante a execução de alguns procedimentos. (Disc.1 A.S.I. a)
Cuidar de um corpo destroçado,
de um ser atormentado,
chocado com a brutalidade da queimadura, tudo isso impõe ao cuidador um
fluxo contínuo de atividades que são dolorosas, mas necessárias como
ações terapêuticas para esses pacientes.
É difícil cuidar destas pessoas porque elas sentem muita dor,
principalmente durante o banho, quando é preciso limpar as
lesões que estão em “carne viva”. (Disc.6 A.S.I. a )
(...) é necessário cuidar da lesão da pele e da parte psicológica
do paciente... (Disc.7 A.S.I. a)
110
111
Mesmo já familiarizado com os desafios da profissão, o auxiliar
continua a se assustar com as lesões sofridas pelos pacientes, ao imaginar a
intensidade da dor vivenciada por eles. Alguns depoentes demonstram o
quanto se sentem afetados ao executar procedimentos que se convertem em
torturas e como é difícil e desgastante viver cotidianamente lidando com os
limites humanos.
Em certas situações,
assusta-se com as lesões sofridas por
alguns pacientes e é capaz de perceber a intensidade da dor
vivenciada por eles.(Disc.4 A.S.I. a)
Gosta do trabalho, embora ainda sinta dó ao executar alguns
procedimentos. (Disc.5 A.S.I. a)
Nesse compartilhamento de experiências, é exigido do auxiliar,
que nem sempre está preparado,
uma atitude interacionista e de
compreensão da dor do outro, um cuidar que leve em consideração não o
corpo físico, mas o corpo existencial.
Em questão de minutos, a pessoa
torna-se totalmente
dependente. (...) Ele se “queima todo”, inclusive a alma, por
isso, tem-se que conhecer a pessoa e não apenas a queimadura
física. (Disc.7 A.S.I. a)
Por isso, é necessário estar preparado emocionalmente para
cuidar desses pacientes, o que, às vezes, não acontece com aqueles que
começam a trabalhar no setor. O impacto de estar diante de pessoas com
queimaduras tão extensas e ter de executar atividades normalmente
111
112
dolorosas e repulsivas,
no início, assusta e parece ser uma barreira
intransponível. Alguns, entretanto, depois de familiarizarem-se com o
paciente, com a gravidade de suas lesões, conseguem re-significar as
situações cotidianas naquele espaço vivencial, o que facilita o ato de
cuidar.
Achava que não iria conseguir cuidar da pessoa queimada, uma
vez que tinha medo e jamais imaginou que algum dia faria isto.
Atualmente, não sente mais dificuldades. (Disc.3 A.S.I. a)
Assim que começou a trabalhar na unidade de queimados,
assustou-se, porque não estava acostumada a ver pessoas com
queimaduras tão
extensas e graves. Atualmente não sente
dificuldades de cuidar do paciente queimado. (Disc.5 A.S.I. a)
Ao tratar do sofrimento na prática da enfermagem,
LIMA
(1997:52) comenta que as características do trabalho realizado por esses
profissionais, ao lidar com o sofrimento humano, com problemas que não
sabem explicar, por si só, podem vir a ser uma significativa fonte de
estresse emocional.
Durante o tempo em que atuei na unidade de tratamento de
queimados, pude perceber o quanto essa afirmação, além de verdadeira, é
mais intensa naquele setor.
As
descrições dos auxiliares apontam também que, para ser
cuidador do paciente com queimaduras, além do preparo técnico e
psicológico, é necessário
muita determinação, porque o sofrimento é
extremamente visível. Conviver diariamente com corpos desfeitos, em
“carne viva”, na presença contínua da dor objetiva e existencial, é tarefa
112
113
por demais árdua. Nem todos os cuidadores da saúde, por mais preparados
que estejam, são capazes de trabalhar em unidades destinadas a esses
pacientes. A gravidade das lesões é chocante e assustadora.
Nem todos aqueles
que trabalham no hospital cuidando de
pacientes conseguem se aproximar e olhar a pessoa queimada.
(Disc.8 A.S.I. a)
Em relação ao preparo emocional, um dos auxiliares reforça
dizendo que, para cuidar de pacientes com queimaduras, convivendo dia a
dia com a dor, é preciso “ter uma estrutura muito forte”, ter uma força
especial, inata, que protege o cuidador e o inspira a seguir adiante.
É necessário ter uma força que não é adquirida mas inata. Se
não possuir essa força, a pessoa não agüenta ficar muito tempo
cuidando de pessoas queimadas. (Disc.4 A.S.I a)
Outro auxiliar encontra sentido para sua permanência na unidade
destinada a esses pacientes,
acreditando estar ali para fazer exatamente o
que faz.
Considera que não é por acaso que ela e os outros funcionários
estão trabalhando ali, tem que haver alguma razão.
(Disc.6 A.S.I. a)
Para ele, é como se estivesse cumprindo uma missão pessoal,
uma proposta de existência outorgada por um ser divino, para assistir e
ajudar o outro. A sua fala traduz tranqüilidade,
conformismo e
113
114
solidariedade. Aceita o trabalho com o sentimento de estar cumprindo um
dever, seguindo as tarefas prescritas por um destino intransferível. Percebese também, no depoimento, a herança religiosa que persiste, influenciando
a formação e a prática profissional. O cuidar, essência da profissão, é tido
como um trabalho a serviço de Deus.
Cuidar da pessoa queimada parece ser uma missão. Acredita
estar ali para isto. (Disc.6 A.S.I. e)
Compreender a
própria
existência, cuidando de pessoas
queimadas como uma missão, acredito, é sublimar a perplexidade, a
angústia e o medo diante de um fato tão violento e carregado de sofrimento
que deixará marcas profundas por toda a existência em quem teve o corpo
agredido pela queimadura e em quem dele cuidou. Penso, porém, que sem
algum tipo de sublimação não há como trabalhar muito tempo numa
unidade especializada no tratamento de pessoas com queimaduras. Ali, é
preciso exercer a arte de aceitar.
114
115
6.2. Cuidar é Gostar do que se Faz
Com todas as dificuldades experienciadas, o auxiliar de
enfermagem, cuidador de pessoas com queimaduras, mostra em seu
discurso que, para cuidar, é preciso gostar do que se faz.
Para cuidar do paciente queimado é preciso gostar do que se
faz ( ...). Tem que ir “trabalhar com vontade”(...). Para cuidar,
tem que ter amor pelo que se faz. (Disc.3 A.S.I. b)
Para cuidar da pessoa queimada, primeiro tem que gostar, ter
amor pelo que se faz, não é só pensar em dinheiro. Não há
como trabalhar muito tempo ali se não for assim.
(Disc.5 A.S.I. b)
Parece certo, pela leitura dos depoimentos, que o ato de cuidar
dessas pessoas carrega um sentido particular. Além do saber técnicocientífico, exige de quem cuida motivação, “força” interior e o gosto pelo
que faz, predicados e anseios íntimos que devem fundamentar a escolha da
profissão. É preciso estar vocacionado para o exercício do cuidar.
A esse respeito, reportando-se ao significado original da expressão
vocação, ALVES (1995:33) comenta:
Saber que a gente gosta disso e gosta daquilo é fácil.
O difícil é saber qual, dentre todas, é aquela que gente
gosta supremamente. Pois, por causa dela, todas as
outras terão de ser abandonadas . A isso se dá o nome
de “vocação”; que vem do latim, vocare, que quer
dizer “chamar”. É um chamado que vem de dentro da
gente, o sentimento de que existe alguma coisa bela,
115
116
bonita e verdadeira à qual a gente deseja entregar a
vida.
Na fala de alguns auxiliares, a vocação parece sustentar o
sentimento de satisfação e tranqüilidade pelo ato de doar algo de si em
favor do outro. Ter a possibilidade de ajudar um outro ser humano traz
felicidade, engrandece e realiza aquele que divide a responsabilidade do
“curar”.
Fica feliz e satisfeita com a melhora do paciente e sente-se
tranqüila quando, ao final do plantão, percebe que fez algo para
ajudá-lo. (Disc.5 A.S.I. b)
É uma “grandeza” poder ajudar o outro a se curar. Sente-se
honrado por ser “lembrado” como um bom profissional.
(Disc.8 A.S.I. b)
Realizar uma ação com tanto gosto revela a disponibilidade dos
depoentes de compreender a vivência dolorosa do outro e, portanto, ser
capaz de minimizar o sofrimento provocado pelos efeitos devastadores da
queimadura. Revela, porém, que o envolvimento emocional, o encontro
com o sofrimento do outro, a que está exposto o cuidador, é que torna mais
cansativo e desgastante o processo de cuidar.
O cuidado intensivo exigido pelo paciente queimado e o
envolvimento emocional do cuidador ao lidar com suas dores
tornam cansativo o trabalho da equipe de enfermagem. ”.
(Disc.4 A.S.I. c)
116
117
Cuidar de pacientes com queimaduras, sem ter vocação para esse
fim, impossibilita o trabalho ali, na unidade, por muito tempo. Quanto a
isso, diz o auxiliar:
Para cuidar do paciente, tem de ter muita dedicação, muito
amor e muita força ou não agüenta.. (Disc.1 A.S.I. c)
Nesse sentido, entendo que o cuidar com amor, com vontade,
gostando do que faz, estimularia o envolvimento do cuidador com o ser
que é cuidado, numa demonstração de desvelo para com o outro.
Corroborando, GOLEMAN (1995) comenta que o amor, tido
como uma manifestação emocional do ser vivente, promove sentimentos
afetuosos, geradores de calma e satisfação, que ajudariam nas relações, a
meu ver, tão necessárias tanto para quem cuida como para quem busca a
recuperação.
Cuidar gostando do que se faz, com amor, é, então, interagir,
envolver-se
e tentar compreender o outro. É assumir uma forma
de
relacionar-se, que revela consideração, respeito e paciência para com o
outro.
Acha que o papel do auxiliar de enfermagem é ser dedicado e,
acima de tudo, gostar do paciente queimado (...).
(Disc.1 A.S.I. b)
Cuidar é dar atenção
e dedicar-se totalmente ao paciente.
Mesmo sentindo dificuldades em ajudá-lo nas questões
emocionais, procura atender, ao máximo, suas necessidades. (
Disc.2 A.S.I. a)
117
118
(...) ao cuidar, é preciso paciência. (...) A obrigação da equipe
é cuidar dele com discrição e respeito, sem se importar com o
que ocorreu, o porquê e como ele se queimou. (Disc.3 A.S.I. f )
Ao dedicar-se ao outro, atentando e atendendo as suas
necessidades com uma atitude humanizada, o auxiliar cuidador da pessoa
com queimaduras revela o modo de cuidar autêntico, que, guiado pela
compreensão, busca contemplar o homem na sua totalidade, e não vê-lo
apenas como corpo biológico.
O cuidar deve abranger as pequenas atitudes, como o
acolhimento com o olhar,
os gestos e as palavras. Assim,
pode-se
minimizar o sofrimento intenso do paciente com queimaduras. Importar-se
com ele, entendo que poderia ser traduzido na fala de um dos auxiliares, ao
afirmar que é preciso
(...) ter
“muito jogo de cintura” e muita paciência para
trabalhar com o paciente(...). (Disc.4 A.S.I. c)
Outro depoente, porém, denuncia um envolvimento diferenciado
daquele anteriormente descrito: o cuidado não-humanizado.
Considera que existem muitos funcionários que trabalham por
necessidade e não porque gostam do que fazem. É muito difícil
encontrar, entre essas pessoas, alguém que diz gostar,
realmente, de cuidar do paciente queimado. (...) existe “gente
muito
desumana” na equipe de enfermagem. Quando um
paciente mais dependente é admitido na unidade, ele não é
118
119
recebido como se deveria.
Pensa que está faltando
“mais
carinho e atenção” no atendimento de uma maneira geral.
(Disc.3 A.S.I. b e c)
Nessa perspectiva,
o ser cuidador passa pelo outro sem se
importar com ele, não exerce o modo autêntico do cuidar. Ele se limita a
cumprir tarefas sem se comprometer com os sentimentos de angústia,
solidão, medo e dor, que fazem parte do cotidiano das pessoas internadas
com queimaduras. O amor, o carinho e a atenção estão ausentes dessa
relação. Alguns “cuidadores” refletem as falas, restringem-se à execução
das atividades obrigatórias objetivando apenas a recompensa econômica,
deixando de lado, portanto, as inúmeras possibilidades e finalidades do
verdadeiro cuidar.
Para SPANOUDIS (1981:19-20),
O relacionar-se com alguém, com o outro numa
maneira envolvente e significante, é o que Heidegger
chama de “solicitude”, que imbrica as características
básicas do ter consideração para com o outro e de ter
paciência com o outro. Ter consideração e paciência
com os outros não são princípios morais, mas
encarnam a maneira como se vive com os outros,
através das experiências e expectativas. (...) Há duas
maneiras extremas de solicitude ou de cuidar do outro,
onde existem, obviamente, também inúmeras
variações. (...) Todas as maneiras de indiferença,
apatia, falta, competição (...) são maneiras deficientes
da primordial característica fundamental – solicitude.
Com base nos depoimentos até aqui tratados, cabe bem dizer
que, ao ser proposta a compreensão das ações do cuidador,
deve-se
considerar o aspecto técnico-científico e jamais ignorar o enfoque afetivo
119
120
das relações com o paciente. Exercer o cuidado desprovido de sentimentos
como desvelo, empatia e amor é prender-se num modo inautêntico de
cuidar.
Determinados a cuidar diariamente dos pacientes na unidade de
tratamento de queimados, os auxiliares se veêm envoltos numa relação
intensa de proximidade com aquele que é cuidado, valorizando a dimensão
de sua existência, tentando compreender
a dor que este vivencia, como
salientam os relatos:
Gosta de cuidar do paciente queimado, apesar de “sofrer
muito”, de “sofrer junto com ele”. (Disc.1 A.S.I. f )
“Sofre-se juntamente com o paciente...” (Disc.2 A.S.I. c)
Ao imaginar-se no lugar da pessoa queimada, é capaz de sentir
o quanto ela sofre, como é profunda a sua dor.
( Disc.3 A.S.I. f )
Às vezes, assusta-se com as lesões sofridas por alguns e é capaz
de perceber a intensidade da dor vivenciada por eles.
(Disc.4 A.S.I. c)
O cuidador parece experienciar um envolvimento profundo com
a dor
do paciente, ela é visivelmente perturbadora, como deixam
transparecer as falas.
Cada pessoa precisa ser percebida em sua individualidade, ser
cuidada de acordo com suas necessidades. O cuidar deve ser dirigido,
120
121
então, para a pessoa na sua totalidade e não somente para suas lesões
corporais.
Considera que cada pessoa reage diferente à queimadura (...).
Deve-se levar em conta a individualidade de cada um...
(Disc.4 A.S.I. c)
Apesar da existência de rotinas no setor, acha que não deve
haver cuidados padronizados para o paciente queimado; cada
pessoa exige um cuidar diferenciado. (Disc.7 A.S.I. d)
Embora
a existência de rotinas facilite e direcione o trabalho
profissional, elas não devem padronizar os cuidados. O direcionamento
que estes têm de seguir é o caminho do ser, da sua unicidade e diversidade.
Para tal, é indispensável um espaço de comunhão,
possa acolher o ser e nele centrar o seu cuidar.
para que o cuidador
Um espaço que é criado
pelo envolvimento, compromisso e gosto pelo que se faz.
O vivenciar desses auxiliares junto ao paciente queimado,
demanda “cuidados intensivos” e uma “atenção especial”, que exige o
conhecimento das condições e da historicidade de cada ser de que se cuida.
O cuidar precisa ser sistematizado no esforço de atender não o “corpo
humano”, mas o corpo situado, aquele que anuncia uma história pessoal.
Os trechos transcritos enfatizam isso:
Cuidar do paciente queimado requer cuidados intensivos e
atenção especial devido à instabilidade do seu estado de saúde.
É necessário ter conhecimento das condições individuais, pois
os cuidados vão ser diferentes para cada situação. (...) por isto,
121
122
ao cuidar, deve-se levar em consideração também o aspecto
psicológico. (Disc.1 A.S.I. d)
Cuidar do paciente queimado é complicado porque é preciso
considerar
o seu estado geral, o estado psicológico, o
relacionamento dele com a família e a história do acidente, só
depois é que se devem iniciar os cuidados. (Disc.8 A.S.I. d)
A historicidade pertence ao mundo que é habitado e preenchido
pelo homem; só assim ele se faz presente como afirma HEIDEGGER,
(1987: 683)
Fazer-se presente, no sentido de viver autenticamente
a sua situação, é sempre retroceder para si, o que faz
do presente, um misto de retomada do passado e de
antecipação do futuro. A situação existencial é,
portanto, inseparável da temporalidade.
Segundo os relatos, os pacientes com queimaduras devem ser
vistos de maneira holística, principalmente aqueles internados na unidade
pesquisada, pois, além da gravidade e instabilidade do seu estado clínico,
muitas vezes, eles têm de passar por um processo difícil de re-significação
da existência, devido às transformações que virão. a sofrer.
Para alguns depoentes, a pessoa que se dispõe a trabalhar numa
unidade especializada no
tratamento de queimaduras
necessita
estar
preparada para cuidar da lesão e do homem em toda a sua dimensão; para
tanto, precisa gostar do que faz e inspirar-se profundamente nos princípios
da solicitude autêntica.
122
123
6.3. Cuidar é Agir Orientado pelo Saber
Os auxiliares apontam para a importância de conhecer e perceber
o outro como alguém que requer cuidados especializados, tanto por causa
das características fisiopatológicas de suas
lesões como pelo estado
emocional em que se encontra a pessoa com queimaduras. Mas, para tanto,
é necessário que o cuidador esteja preparado tecnicamente, além de
disposto a se inteirar do mundo-vida daquele de quem cuida.
Ao admiti-lo na unidade, tem-se que considerar a sua história
pregressa e as condições em que se deu a queimadura.
(Disc.1 A.S.I. e)
O paciente queimado chega trazendo consigo toda uma história
de vida além da lesão. Ele se “queima todo”, inclusive a alma,
por isso, você tem que conhecer a pessoa e não apenas a
queimadura física. É preciso conhecê-la para não se sentir
“perdida” no processo de cuidar. (Disc.7 A.S.I. b).
É necessário ter conhecimento de como o paciente se queimou
para saber como tratá-lo (...). (Disc.7 A.S.I. c)
Em se tratando da revelação do ser humano no espaço temporal
vivido, SEVERINO (1983:59) afirma que “a história da pessoa é um
elemento inseparável da sua compreensão”, pois o homem é um ser
histórico.
Esse modo de pensar pode ser identificado nas falas, já que, para
os auxiliares, a história do paciente fundamenta o cuidar. Para cuidar, é
123
124
preciso buscar a experiência humana em sua amplitude; buscar o que ela
tem de concreto e objetivo, da mesma forma, os valores, as contradições e
os limites que a envolvem. Para eles, é preciso compreender o paciente no
seu fluxo da vida, antes de iniciar o cuidar.
É nesse encontro com a experiência situalizada do outro,
exercendo suas ações a partir das possibilidades das quais acredita ter
domínio, que o auxiliar tenta colaborar na elaboração de um projeto
comum, com alguém que quer compreender para poder cuidar.
Percebo na fala desses depoentes o
rompimento da postura
sedimentada pelo paradigma dominante na modernidade, que restringe o
corpo à visão mecanicista, simplesmente biológico. Pode-se dizer que há
uma percepção diferenciada do corpo, quando tentam compreendê-lo na
sua experiência existencial.
No esforço de orientar-se pela história do paciente, o auxiliar dá
significação ao corpo a ser cuidado e o humaniza. Visualiza o homem
como, segundo SEVERINO (1983) citando Renouvier1, “um corpo, da
mesma forma que é espírito, inteiramente corpo, inteiramente espírito”.
Como se viu, para tal postura, é necessário encontrar o outro pela
interação. Nossas ações no mundo-vida do trabalho da enfermagem são
eminentemente sociais; relacionamo-nos
uns com os outros, mas é
fundamental a relação face a face. É aí que podemos perceber o outro em
sua unidade e totalidade. Munidos de uma bagagem de conhecimentos
adquiridos, promovemos nossa ação em direção a alguém, imbuídos de um
conjunto de motivos em vista dos quais agimos. (CAPALBO, 1979.)
11
Renouvier, Ch, Le personnlisne, Alan, Paris, 1903.
124
125
Como em qualquer outra situação, também na enfermagem, as
relações pessoais
são permeadas de encontros e desencontros, que se
concretizam em momentos de satisfação ou de conflitos.
No caso da abordagem terapêutica do paciente queimado, o
banho e o curativo
são cuidados que exigem perícia técnica e
sensibilidade, pois são momentos, normalmente, marcados por conflitos no
diálogo interpessoal. São ações altamente desgastantes, do ponto de vista
“físico e psíquico”, tanto para o paciente quanto para o profissional da
equipe de enfermagem; são de grande importância, porém, geradoras de
tensão e dor.
Às vezes, ao prestarem os cuidados, chegam a ser agredidos
fisicamente por ele, (refere-se ao paciente) numa reação causada
pelo sofrimento que este sente durante a execução de alguns
procedimentos. (Disc.1 A.S.I. a)
Lidar com esse sofrimento é difícil e estressante. Requer grande
habilidade do cuidador, que, juntamente com a pessoa queimada,
interagindo
num
contínuo
convívio,
encontram-se
estreitamente
susceptíveis às implicações e agressões do tratamento. (NASCIMENTO,
1986).
É preciso gostar do que se faz e saber com faze-lo. Assim, podese ver no outro a totalidade do ser que sofre uma dor profunda, ter muita
paciência e executar corretamente os cuidados.
125
126
Considera que um banho e um curativo, quando executados de
maneira correta, ajudam na melhora do paciente. Sente-se feliz
por ser uma funcionária que realiza um bom trabalho.
(Disc.5 A.S.I. d )
É preciso ter muita paciência e carinho para com o paciente
queimado, principalmente durante o banho. Nessa hora,
é
necessário limpar bem as lesões para evitar infecção.
(Disc.6 A.S.I. c)
Fundamentada na concepção de Heidegger, a paciência seria,
aqui, um requisito exigido do cuidador frente ao porvir difícil, um saber
comportar-se quando o cuidar se transverte em uma terapêutica, fonte de
agressão e dor.
Durante o banho
é quando
o paciente mais sofre. Nesse
momento, é necessário ter muita calma, paciência, e é preciso
saber “levá-lo”, já que ele começa a sofrer desde a noite
anterior, principalmente se é criança. (Disc.2 A.S.I. b)
Ao entrar na enfermaria para dar o banho no paciente, primeiro
observa as condições em que ele se encontra e lhe dá “apoio
psicológico”, pois sabe que ele tem muito medo desse
procedimento. (Disc.5 A.S.I. e)
Momento crítico, durante o qual o paciente queimado
sofre
muito, o banho exige do cuidador uma postura planejada, preparada, na
qual ele ultrapassa o conhecimento meramente técnico, perpassando o
vivido e o sentido pelo paciente.
126
127
Na minha experiência vivenciada na unidade de tratamento de
queimados, várias vezes, senti me fragilizada e incapaz de executar ou
assistir ao banho desses pacientes. Presenciei situações onde em que
auxiliares, mesmo experientes, afetados pela brutalidade do procedimento,
interrompiam-no, pois necessitavam de um tempo para se recomporem
emocionalmente.
Em um setor de trabalho onde o “ideal” terapêutico requer tanto
preparo, o embasamento técnico-científico, reforçam os depoentes, é de
grande importância para o exercício
observação,
avaliação
e
dos cuidados de enfermagem. A
evolução
do
paciente
são
recursos
imprescindíveis no ato de saber cuidar. O auxiliar os considera
instrumentos do seu trabalho, mesmo que, na prática, o enfoque dado aos
termos não coincida com aqueles conceituados como passos científicos do
cuidar sistematizado. Isto, tendo em vista que na unidade destinada ao
paciente com queimaduras, como nas demais unidades da instituição, não
se utiliza uma metodologia planejada para a assistência de enfermagem.
Acreditam ainda que a orientação, associada a esse conjunto de
habilidades, deve fazer parte das ações da enfermagem, em se considerando
que o paciente, como ser pensante e ativo, precisa conhecer o processo de
cuidar e dele participar.
Sabe que deve seguir a rotina, mas precisa estar atenta para a
avaliação geral do paciente. (...) Acredita que cuidar é observar
e investir
todo o tempo em cuidados intensivos. Sente-se
satisfeita em acompanhar a evolução e constatar a melhora do
paciente. (Disc.1 A.S.I. e)
127
128
Por permanecer cuidando e acompanhar a evolução do paciente o
tempo todo, a enfermagem tem mais condições de avaliá-lo com
precisão. (Disc.3 A.S.I. e)
Deve ser explicado, passo a passo, todo o cuidado que lhe será
prestado, por exemplo, sobre os banhos, o porquê de tomar os
analgésicos, de ir para o bloco cirúrgico, enfim, sobre tudo o que
vai acontecer com ele durante o tratamento. É preciso preparálo (...). (Disc.3 A.S.I. h)
Acha que tudo envolve o cuidado, ou seja, uma boa alimentação,
uma hidratação adequada, a administração das medicações nos
horários prescritos e
estar atenta aos sinais de alterações
fisiológicas. (Disc.5 A.S.I. e)
O paciente queimado exige bastante observação (...) . A pessoa
que cuida deve ser capaz de perceber as anormalidades que ele
pode apresentar, pois algumas são aparentes, mas outras não.
(Disc.9 A.S.I. d)
O trecho do discurso 1, transcrito acima, evidencia o valor da
avaliação do paciente e deixa implícito que, por mais que se tente tecnificar
e criar rotinas para o cuidado, este será exercido por um ser para outro ser,
assim, estará sempre sujeito a modificações, conforme a necessidade
daquele que é cuidado, num processo de constante intervenção. É uma
atividade que não existe por si só, ela existe em relação e em função dos
seres, por isto, a avaliação vai ajudar na identificação das sucessivas
128
129
mudanças que ocorrem com o ser-paciente e exercer um controle da
qualidade do seu atendimento.
Ainda em relação ao cuidado, OLIVIERI (1985) comenta que
cuidar de pessoas doentes exige um saber técnico específico para cada
situação. Mas nenhuma terapêutica se restringe a esse aspecto. É preciso
também compreender o ser na sua facticidade de estar doente, o seu sentir
e o seu viver, esperando
ações
profissionais que devem abranger
orientações gerais e cuidados especiais.
Já no dizer de alguns auxiliares, a prática desse saber na vivência
cotidiana é recoberta por um grande conflito: a submissão.
Como auxiliar, acha que não pode interferir na organização do
serviço, mas considera que caberia à chefia estar atenta para
garantir a homogeneização e execução correta dos cuidados.
(Disc.2 A.S.I. d )
Não concorda com várias coisas que observa na unidade e acha
que tem muito a melhorar no que se refere ao cuidado com o
paciente. (...). Sente-se, entretanto, constrangida de falar o que
pensa com as chefias. (Disc.3 A.S.I. i)
A seu ver, só quem realiza os cuidados pode saber o que o
paciente sofre. Muitas vezes, gostaria de argumentar com o
médico quando discorda de alguma conduta, mas se
sente
submissa às suas ordens e receia ser demitida, caso expresse a
sua opinião. (Disc.4 A.S.I. g)
129
130
O
poder da enfermagem, segundo LOJKINE (1990), “é um
poder enquadrado, delimitado e subordinado”, mesmo assim, é um poder
que lhe permite alguma liberdade de decisão e intervenção.
É certo, no entanto, em se tratando do auxiliar de enfermagem,
que essa liberdade de ação é ainda muito menor. Fica claro nas falas que
consideram dominar um saber, refletem sobre a sua experiência e formulam
opiniões, mas se sentem aprisionados nos limites impostos pela divisão
social e técnica do trabalho no espaço hospitalar. Guardam para si o próprio
pensar, respeitando a relação de poder definida na instituição.
Pensa que deve ser discutido o uso do PVPI na limpeza das
lesões, porque acha que ele não traz a resposta esperada e faz o
paciente sofrer ainda mais. (Disc.2 A.S.I. d )
No caso do curativo, não segue algumas orientações sugeridas,
pois sabe que o paciente irá sofrer muito. Sente-se incomodada
com o uso de certos antissépticos, pensa que deveriam ser
substituídos, uma vez que eles provocam muito sofrimento no
paciente. (Disc.4 A.S.I. g)
Embora considere as chefias competentes, a seu ver, elas
deveriam acompanhar e avaliar mais freqüentemente os
funcionários, atentando para os erros quando da execução dos
cuidados. Assim, poderiam orientá-los para melhorar a
assistência prestada. Pensa que só com a colaboração de todos,
isto pode ser alcançado. (Disc.3 A.S.I. i)
130
131
Essa submissão limita o projeto de ser cuidador em plenitude.
Penso que os depoimentos refletem o sentimento de alguém existindo no
mundo-vida do trabalho de uma maneira imprópria. Limitados pela falta
de autonomia imposta pela organização hospitalar, os auxiliares se perdem
no “todos”, entendido aqui como o “a gente” hideggeriano, que, no final
das contas, não é ninguém. Um modo cotidiano de ser com os outros em
que o poder de tornar-si-mesmo fica sacrificado.
Pode-se dizer que
a inautenticidade coletiva comanda a
consciência individual, levando o homem a agir de acordo com o que
dizem ser certo ou errado, obedecendo às ordens e proibições sem indagar
suas origens ou motivações.
Nesse sentido, LEFEBVRE (1991:199), discorrendo sobre o
cotidiano, entende que
A prática cotidiana se deixa desviar, enquanto
experiência, e valorizar, enquanto prática limitada, a
prática de uma vida individual que cedo ou tarde
acaba encalhando na resignação. E o oponente? Lá
está ele isolado, absorto, reduzido ao silêncio ou
recuperado. Para uns ele não tem experiência, para
outros, não tem bom senso. O opositor fica sendo o
não-dito.
Persistindo esse modo inautêntico de ser, que parece envolver os
auxiliares de enfermagem em sua prática, entendo que, certamente, fica
comprometida a interação nas relações de trabalho entre os membros da
equipe multiprofissional.
É possível perceber nos depoimentos que acreditam saber
delimitar a sua capacidade de cuidar tanto no aspecto técnico, como na
ajuda envolvente e humanizada.
131
132
Por permanecer cuidando e acompanhar a evolução do paciente
o tempo todo, a enfermagem tem mais condições de avaliá-lo
com precisão. (Disc.3 A.S.I. e)
Pensa que a enfermagem é quem pode dizer se um cuidado é
doloroso ou não, pois é ela quem fica junto à pessoa queimada
dia e noite. O médico não tem dimensão do sofrimento do
paciente, uma vez que o avalia mas não o acompanha durante
todo o tempo. (Disc.4 A.S.I. b)
Observo nas falas que há sempre um repensar no processo de
cuidar. Ao se auto-avaliar, o auxiliar reflete sobre o seu próprio ser como
sujeito no mundo-vida do trabalho e se percebe alterando o seu caminhar
e ampliando o seu saber.
A cada dia considera que aprende e descobre mais coisas ao
cuidar do paciente queimado. (Disc.4 A.S.I. f)
A cada dia cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a sua
melhora. Acompanha a evolução do paciente e está sempre
aprendendo com esse processo. (Disc.5 A.S.I. f)
Mostra-se consciente de seus limites, e ao deparar-se com eles, tenta
ultrapassá-los, buscando esclarecimento.
Sempre que tem dúvidas ao prestar os cuidados, procura
esclarecê-las com alguém mais experiente. (Disc.3 A.S.I. d)
132
133
Procura no outro, mais experiente, alguém que possa ajudá-lo. O
saber é compartilhado entre aqueles que estão responsáveis pelo cuidar.
Aliados à qualificação profissional, a organização do serviço e a
disponibilidade de
recursos materiais são pontos fundamentais para o
exercício do cuidar do paciente com queimaduras, segundo a percepção de
alguns auxiliares.
O setor é organizado, atualmente tem mais material e oferece
boas condições de trabalho, embora haja sempre alguma coisa
para melhorar. Trabalhar com o paciente queimado é bom
porque na unidade
tem-se
quase tudo o que é necessário.
(Disc.8 A.S.I. c)
O paciente queimado tem que ser bem cuidado. Se não há
material necessário à mão, fica difícil cuidar. (Disc.9 A.S.I. c)
Com uma infra-estrutura adequada, o cuidador encontra os
instrumentos indispensáveis para
exercer a sua atividade de maneira
correta e com mais facilidade, e aquele que é cuidado pode receber a
atenção de que necessita. Não adianta só o saber profissional, é preciso ter
condições para assistir com qualidade.
Mesmo não estando claramente exposto, parece subjacente nas
falas o desejo que têm de serem reconhecidos e valorizados pelo seu
trabalho. Todo o “saber” exigido, esforço e “investimento”, às vezes, é
recompensado com a constatação da recuperação do paciente.
Sente-se satisfeita em acompanhar a evolução e constatar a
melhora do paciente. (Disc.1 A.S.I. e)
133
134
Cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a sua melhora. A
cada dia acompanha a sua evolução e fica feliz e satisfeita com
a melhora do paciente. Sente-se tranqüila quando, ao final do
plantão, vê que fez algo para ajudá-lo. Percebe que alguns não
reconhecem o trabalho da enfermagem, mas outros agradecem
pela dedicação. (Disc.5 A.S.I. c)
Viu-se, por tudo que os depoimentos refletiram, que, além de
gostar do que se faz, ter domínio sobre o modo de fazer, saber interagir
com o paciente, contar com recursos materiais e com um serviço
organizado, é preciso ainda, para bem cuidar, o trabalho coordenado e
especializado de uma equipe multiprofissional.
134
135
6.4. O Cuidar e o Trabalho em Equipe
A maior parte das ações, na Unidade de Tratamento de
Queimados do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, é, em princípio,
coletiva e envolve seres que cuidam e outros que requerem cuidados.
A complexidade e a especificidade da terapêutica destinadas às
pessoas com queimaduras demanda o conhecimento de uma equipe
multiprofissional especializada
para exercer os cuidados técnicos e
relacionais necessários para atendê-las.
A divisão do trabalho e a especialização surgem como alternativa
diante da impossibilidade de um só indivíduo dominar a totalidade e a
diversidade das ações e dos conhecimentos exigidos para a recuperação
desses pacientes.
Na análise das falas apresentadas, percebo imbricada no discurso
dos auxiliares a certeza de que a interação dos profissionais de uma equipe
capacitada e organizada é fundamental para a prática de cuidar do paciente
com queimaduras.
(...) tem muita coisa para melhorar no que se refere ao cuidado,
mas, para tal, é necessário ter a colaboração de todos. Não
adianta somente alguns prestarem o cuidado de forma adequada.
(Disc.3 A.S.I. g)
A colaboração entre os membros da equipe durante o cuidar é
necessária(...). (Disc.6 A.S.I. d)
Para cuidar do paciente queimado, é preciso ter uma equipe
multiprofissional organizada e capacitada. (...) Se não for assim,
“não funciona”, porque vai estar sempre faltando alguma coisa.
135
136
É como subir os “degraus de uma escada”, um vai ajudando o
outro até chegar no topo. (Disc.8 A.S.I. f)
A comunhão dos homens em prol de um projeto comum no
trabalho
pode
possibilitar
a
abertura
de
espaços,
onde
o
compartilhamento de conhecimento vem ampliar a efetividade de suas
ações.
Avançando na análise da necessidade de uma equipe
multiprofissional,
as falas dos auxiliares apresentadas nos trechos
anteriormente selecionados, remete-me à reflexão de LUIPJEN (1973:265):
Fazerem-me os outros ser, de modo que eu seja um
ser-por-outros, eis o sentido próprio da tese de que
existir é coexistir.
A coexistência, em se tratando do mundo-vida do trabalho,
pode-se dizer que é o encontro de seres, revelando-se uns aos outros numa
diversidade de formas de mútuo-fazer-ser na profissão. No espaço
hospitalar, essa diversidade de conhecimento, de encarar o problema do ser
humano e até de dar sentido à vida pode reverter-se numa ação efetiva,
multifacetada,
que vem transformar algumas das limitações do ser-
paciente em possibilidades. Reforçando os comentários, utilizo-me
novamente da fala de Luipjen, quando se refere às várias formas do “sernós” e afirma que
(...) o “nós” vivido numa enfermaria não é o mesmo de
um acampamento de jovens, de um jóquei-clube, de
uma sala de aulas ou de um cinema. (...) Este é um
sistema extraordinariamente complexo de significados
próximos e longínquos , correspondendo a minhas
atuais ou inatuais atitudes. ( LUIPJEN, 1973:281)
136
137
Respondendo às questões do outro, assim como ele responde às
nossas, acrescentamos conhecimentos e transpomos os próprios limites.
É no compartilhar de conhecimento e na observação do agir de cada
componente da equipe de trabalho que se consegue, ultrapassar esses
limites e crescer como profissional.
Estar junto de pessoas que estão sofrendo, por si, só é uma
experiência desgastante para qualquer ser. Cuidar de pacientes com
queimaduras exige muito do ser cuidador, no que diz respeito ao “estar
preparado”. Segundo
os discursos, mesmo gostando do que se faz, é
imprescindível o conhecimento especializado e o preparo emocional. É
esperado daquele que cuida a capacidade de compreender e aliviar a dor
“física e existencial”. Diante de tamanha exigência, os auxiliares tentam
solidariamente amenizar as dificuldades cotidianas, compartilhando entre
si conhecimentos, dificuldades e ansiedades próprias do seu fazer.
É bom cuidar de pacientes diferentes a cada dia. Assim, quando
um colega está com dificuldades ao prestar algum cuidado,
pode-se ajudá-lo (..). É bom conhecer todos os pacientes porque
pode-se trocar informações com os colegas e, assim, prepararse antes de iniciar os cuidados, principalmente em relação
àqueles “exigentes demais”.(Disc.4 A.S.I. d-e)
Nesse depoimento, o auxiliar
aponta para cobranças
do
paciente, as quais nem sempre tem condições de atender. Numa tentativa
de amenizar a situação, recorre aos companheiros de equipe, buscando
informações sobre aquele de quem vai cuidar,
tentando, a meu ver,
eliminar enfrentamentos ou decisões conflitivas. No tempo em que atuei no
137
138
setor, presenciei, muitas vezes, colegas de trabalho orientando outros
sobre como agir diante do choro, da depressão, da irritabilidade ou assédio
de alguns pacientes. O confronto diário com situações difíceis e até
imprevisíveis, ao cuidar do ser humano, vai ajudando essas pessoas a
encontrar formas alternativas de se relacionar, que acreditam facilitar suas
atividades profissionais.
A propósito, PITTA (1990:66) comenta:
Nada como antecipar escutas e respostas para não ter,
a cada momento, de dedicar-se de corpo e alma às
demandas brutas, não estabelecidas em quaisquer
sistemas de classificação e respostas. O ritual
conhecido cumpre uma função de reduzir ansiedades e
minimizar o discernimento individualizado de cada
profissional em planejar o seu trabalho.
Apesar de não estar delimitado por nenhuma contingência, é
possível se valer de condutas rotineiras, já conhecidas por uns e outros,
para enfrentar as situações cotidianas.
Sabe-se, no entanto, que o trabalho em equipe é complexo e que
inúmeros motivos o impedem de ser concretizado tal como é idealizado.
Entre eles, a quebra do pacto exigido para homogenia das ações e relações
mais formais, fato que pode ser evidenciado no comentário de um dos
depoentes:
Evita ajudar os colegas que “não trabalham direito”. Acredita
que, ao ajudá-los, será avaliada como sendo do mesmo “nível”,
já que os pacientes notam a diferença entre os cuidadores.
(Disc.3 A.S.I. d)
138
139
Nesse caso, o auxiliar se distancia do colega por considerá-lo
desleal no modo de agir reconhecido por todos para a prática do verdadeiro
cuidar.
No exercício do assistir o ser-paciente, em equipe, há um corpo
de conhecimentos, técnicas e princípios científicos que regem o curso das
ações e das relações para aquilo que se acredita ser a terapêutica mais
correta.
Em relação à equipe de enfermagem, esse código de conduta é
assim referenciado por LEOPARDI (1994: 34)
O estereótipo de correção técnica e de doação
humanitária mantido, quer por conveniência, quer por
contingência, determina o que seja cuidar, e determina
ainda qual é o lugar que este ocupa como
representação social e também como deve ser
concebido pelos profissionais da enfermagem.
Pressupondo a coexistência em equipe e os comportamentos que
sinalizam as ações humanas no mundo-vida do trabalho, não considerá-los
é expor-se ao julgamento de outros, e que pode levar a constrangimentos,
como é possível verificar no comentário citado do discurso 3.
Obviamente, como seres que cuidam de outros seres, esse
caminhar deve ser flexível e repensado a cada dificuldade, pois sempre
urge a necessidade de se desenvolverem novas técnicas e formas de
relações. Nesse caso, a postura profissional é re-significada em favor da
qualidade do cuidar.
139
140
VII. CONSIDERAÇÕES DE UM CAMINHAR
Chego ao final desse caminhar, em que busquei compreender o
“Cuidar do paciente queimado na Unidade de Tratamento de Queimados
do Hospital de Pronto Socorro João XXIII”, sob a ótica do auxiliar de
enfermagem, com algumas certezas, mas, ainda, com outras indagações.
Tenho claro para mim, desde o início do trabalho,
que as
possibilidades de compreensão desse fenômeno não seriam esgotadas aqui,
uma vez que
reflexões
ele é perspectival, e também porque
sobre
as discussões
e
o cuidar são uma preocupação no cotidiano da
enfermagem, que vem estimulando, a cada dia, mais
inquietações e,
conseqüentemente, novas incursões em pesquisas.
Portanto, transparece nesse estudo a singularidade do meu olhar,
muitas vezes angustiado pelas limitações diante de uma busca cercada de
tamanha complexidade.
Cada depoente, situado no tempo e espaço de sua existência,
revelou o sentido do mundo-vida no trabalho da enfermagem cuidando de
pessoas com queimaduras, permitindo-me, assim, a aproximação
compreensiva de suas práticas diárias ao cuidar.
Para os auxiliares, este exercício, antes de mais nada, é uma
vivência muito difícil de ser experienciada. As dificuldades iniciam-se logo
após a admissão no setor e estão, quase sempre,
relacionadas com o
despreparo para lidar com o sofrimento intenso dos pacientes durante a
execução de procedimentos agressivos e com a aparência chocante das
lesões provocadas pelas queimaduras.
A sensibilidade diante
do
140
141
sofrimento, do convívio com a dor alheia torna-se mais intensa quando o
paciente é uma criança.
O choque do contato inicial com as pessoas internadas na
unidade parece inevitável. À medida que o tempo passa, pode ocorrer a
“familiaridade” com a dor e com as deformidades corporais, amenizando os
transtornos do cuidar. Nem todos, porém, mostram-se capazes de superar
essa sensibilidade e passam “a tolerar” o que não têm como mudar. Nesses
casos, o ato de assistir, em algumas ocasiões, chega a ser, até mesmo,
uma violência à própria existência do ser-cuidador.
Percebo, então, nas falas dos auxiliares, que cuidar do paciente
com queimaduras é desgastante, sobretudo pelo confronto com os limites
humanos. Na facticidade do outro, presenciam o “ainda-não” das
possibilidades da realidade do ser; deparam com as dificuldades que o
homem tem, em certas situações, de libertar-se e projetar-se no “poder-ser”,
no mundo desejado.
Sabe-se que os auxiliares de enfermagem, pelo menos na unidade
de queimados, são os profissionais que passam mais tempo junto ao
paciente, cuidando e partilhando momentos de intenso sofrimento. Tentam,
cotidianamente, elaborar emoções exacerbadas e reações, às vezes, até
agressivas de determinados pacientes a quem prestam cuidados.
Parece lógico que estejam mais expostos a possíveis conflitos
pessoais e a relações, que, se persistentes, podem potencializar o estresse,
normalmente, existente pelo grande desgaste ao longo da jornada de
trabalho.
Entendo que intervenções visando solucionar ou amenizar essa
situação vivida pelos auxiliares precisam ser repensadas. Dentre as
possibilidades, devem ser estimuladas ações humanizadoras do trabalho,
que despertem o interesse dos profissionais da saúde para cuidarem de si,
141
142
além da responsabilidade de cuidarem
do outro. Ao adotarem esse
propósito, muitas reações adversas, devido ao sofrimento no trabalho, ao
estresse contínuo tão freqüente em nosso meio, talvez poderiam ser
evitadas. Práticas que busquem incentivar a troca de sentimentos,
orientadas pela escuta e afetividade, é provável que venham contribuir para
a melhoria do mundo-vida-no-trabalho desses cuidadores e dos cuidados
oferecidos por eles, pois parece verdadeira a afirmação de que cuida
melhor quem sabe cuidar de si.
Gostar do que se faz, afirmam os auxiliares, é uma premissa
para conseguir trabalhar cuidando dessas pessoas. Portanto, o cuidar não
significa somente algo difícil de ser praticado, um encargo ou tarefa, é,
também, uma atividade compensadora onde a vocação se realiza e permite
ser um profissional competente e “cumpridor dos seus deveres”. O cuidar,
então, no sentido aqui revelado, é uma ação doadora de realização pessoal.
O ser-cuidador na prática da enfermagem, acrescentam, precisa
revestir-se do reconhecimento da dimensão humana e da historicidade
daquele
que vai receber o cuidado. A execução dos
procedimentos
técnicos tem de ser guiada pela disposição de compreender, de ser-com-ooutro, de dedicar-se e mostrar-se paciente, transcendendo a postura e o
aparato técnico-mecanicista.
É fundamental a competência técnica, o saber o que se faz para
promover a saúde na
sua dimensão física, mas ater-se apenas a esse
aspecto seria reduzir o cuidado à simples resolução de tarefas. Perderse-ia de vista a proposta de ajudar ouvindo o ser e sendo-com, abafando
a individualidade, a criatividade, a ética, enfim, destituindo da ação de
cuidar a sua verdadeira intencionalidade.
Pude apreender que existe entre os auxiliares de enfermagem a
consciência de que cuidar da pessoa com queimaduras exige, sim, um
142
143
domínio técnico, no entanto,
objetivo contemple
este deve ser parte de uma prática cujo
a compreensão do ser na sua existência, para poder
ajudá-lo a encontrar possibilidades que facilitem a sua recuperação.
Alguns reconhecem, porém, que nem todos os cuidadores levam
em consideração o cuidar com zelo, humanizado, centrado no ser.
Ao referirem-se à organização do trabalho, à disponibilidade de
recursos materiais e humanos, os auxiliares julgam, serem estes
imprescindíveis para a qualidade do cuidado.
Pode-se dizer que a falta de organização e de
material
constituem grandes empecilhos para o desempenho das ações em qualquer
unidade de internação hospitalar. Nós, profissionais da saúde, sabemos o
quanto são geradoras de estresse e conflito situações que envolvem
problemas dessa natureza.
Em se tratando de recursos humanos, há entrevistados que
reportam para
a importância de uma equipe multiprofissional treinada,
organizada, apta a prestar uma assistência que atenda às reais necessidades
das pessoas com queimaduras.
Tradicionalmente, na equipe de saúde, são destinadas ao auxiliar
de enfermagem as ações mais repetitivas2, o que não o impede de em suas
experiências como cuidador, adquirir ou aprimorar conhecimentos.
Mas esse saber adquirido no dia-a-dia, cuidando da pessoa com
queimaduras, chama atenção alguns depoentes, nem sempre é considerado,
pois, com exceção de pequenas concessões, estão ali apenas para cumprir
as tarefas que lhes são prescritas. Torna-se evidente nas falas o sentimento
de submissão ao ter de preservar a disciplina imposta pela equipe de saúde,
sem poder opinar sobre o processo de cuidar.
2
Lei 7 498/86 – Lei do exercício profissional
143
144
Já entre a equipe de enfermagem, os auxiliares tentam buscar
uma relação de harmonia e cooperação durante a experiência conjunta do
cuidar. Esse propósito parece ficar comprometido quando alguém diverge
na maneira de atuar, não compartilhando aquilo que o grupo julga ser
necessário para a eficácia das ações.
Embora não esteja explícito nos depoimentos, percebi que a
participação do enfermeiro no planejamento, execução e, principalmente,
avaliação dos cuidados, aí sim claramente dito em certos relatos, vem
sendo entendida como indispensável
para melhorar o atendimento
prestado aos pacientes com queimaduras. Para esses auxiliares, ele deve
ser uma referência, um profissional que tem de estar sempre por perto,
acompanhando e orientando os membros da equipe de enfermagem. A
educação continuada é ressaltada como algo prioritário para manter a
qualidade do cuidado e o enfermeiro, reforçam, precisa atentar para esta
necessidade. Essa postura, se assumida, sem dúvida,
viria atenuar as
divergências citadas quanto às formas de cuidar.
Em se tratando ainda da equipe multiprofissional, penso que ela
precisa estar voltada para o incentivo à participação e aproveitamento de
todos que a integram. Quando se tem como meta o cuidar, o que deve
prevalecer entre os integrantes do grupo é a reciprocidade das relações,
considerando as diversificações e o compartilhamento de saberes, numa
maneira democrática de atuar e interagir.
Assim, o trabalho em equipe passa a ser uma experiência de
compreensão, um encontro de conhecimentos, atos e sentimentos, em que o
profissional doa e recebe a todo momento, numa troca que permite o
aperfeiçoamento do caminhar. A experiência da intersubjetividade de ser e
estar no mundo-vida profissional, quando bem conduzida, traz benefícios
para o paciente e para o cuidador. Creio que a verdadeira interação
144
145
profissional, tal como se espera que seja, divide as responsabilidades da
terapêutica e
dilui fatores deprimentes e
angustiantes, amenizando o
sofrimento daquele que cuida.
Tudo isso aliado a uma estrutura física que tende a se aproximar da
preconizada para proporcionar
paciente
conforto, tanto ao cuidador quanto ao
vitimado pela queimadura,
deve ser,
a meu ver,
um
compromisso e uma reivindicação contínua dos trabalhadores que atuam
no setor.
No decorrer dessa pesquisa, durante a procura de referencial
bibliográfico,
pude constatar inúmeros estudos nas várias perspectivas
metodológicas, envolvendo a assistência ao paciente, suas experiências e a
de seus familiares ou acompanhantes, mas, em relação à vivência dos
cuidadores, muito pouco foi encontrado. Especificamente quanto ao
auxiliar de enfermagem, cuidador de pacientes com queimaduras, nada
encontrei.
Acredito, portanto, na contribuição
desse trabalho para a
assistência, o ensino e a pesquisa, pois as declarações das pessoas
investigadas vêm mostrar as primeiras nuanças para a compreensão
fenômeno
do
“cuidar do paciente com queimaduras” como um momento
existencial por elas experienciado.
Espero também que as perspectivas aqui desveladas, todas
igualmente importantes, sirvam para ampliar a compreensão do cuidar na
prática da enfermagem em geral.
Finalizo esse estudo, em que tentei interpretar, de forma peculiar
e restrita, os discursos dos cuidadores, certa de que a busca do significado
dessas experiências, numa atitude adogmática, constituiu-se uma tarefa
gratificante para mim, cujos resultados enriqueceram muito o meu mundo.
145
146
O meu olhar para o fenômeno estudado, a partir de então, está subjacente à
vivência desses cuidadores.
Deixo aqui documentada a voz dos profissionais cuidadores que
compartilharam comigo generosamente o seu pensar,
interpretado nas
categorias contidas nesse estudo.
146
147
VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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147
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150
151
IX. ANEXO
ANÁLISE NOMOTÉTICA
1ª CATEGORIA -
O
CUIDAR
COTIDIANO
E
AS
DIFICICULDADES DO
SUB-TEMAS
a) Cuidar é difícil
DISC. 1 - A.S.I. a
Afirma que cuidar do paciente queimado é difícil. Ás vezes, ao prestarem os cuidados, chegam a ser
agredidos fisicamente por ele, numa reação causada pelo sofrimento que este sente durante a execução de
alguns procedimentos. (U.S. 1 e 11)
DISC. 3 - A.S.I. a
Cuidar do paciente queimado é difícil, uma vez que a queimadura é dolorosa e ele sofre muito. Por isso, é
preciso gostar do que se faz, sentir amor pela pessoa e ter paciência para tratá-la bem e trabalhar com
perfeição. Achava que não iria conseguir cuidar da pessoa queimada, uma vez que tinha medo e jamais
imaginou que algum dia faria isto. Atualmente, não sente mais dificuldades. (U.S. 1, 2, 9, 11 e 18)
DISC. 4 - A.S.I. a
Acha difícil cuidar dos pacientes queimados porque é muito grande o seu sofrimento. No caso das crianças, é
ainda pior. Ao prestar-lhes os cuidados, muitas vezes chega a virar o rosto e chorar junto com elas. Em certas
situações, assusta-se com as lesões sofridas por alguns pacientes e é capaz de perceber a intensidade da dor
vivenciada por eles. É necessário ter uma força que não é adquirida, mas inata. Se não possuir essa força, a
pessoa não agüenta ficar muito tempo cuidando de pessoas queimadas. É preciso também estar preparado para
trabalhar com as individualidades. (U.S. 2, 5, 6, 10 e 11)
DISC. 5 - A.S.I. a
Assim que começou a trabalhar na unidade de queimados, assustou-se, porque não estava acostumada a ver
pessoas com queimaduras tão extensas e graves. Atualmente não sente dificuldades de cuidar do paciente
queimado. Procura fazer os cuidados da melhor forma possível. Gosta do trabalho, embora ainda sinta dó ao
executar alguns procedimentos. (U.S. 9)
DISC. 6 - A.S.I. a
Acha que não é qualquer um que suporta trabalhar no setor para pacientes queimados, pois “é muito
traumatizante”. É difícil cuidar dessas pessoas porque elas sentem muita dor, principalmente durante o banho,
quando é preciso limpar as lesões que estão em “carne viva”. Considera que não é por acaso que ela e os
outros funcionários estão trabalhando ali, tem de haver alguma razão. (U.S. 2 e 4)
151
152
DISC. 7 - A.S.I. a
É um trabalho muito difícil porque é necessário cuidar da lesão da pele e da parte psicológica do paciente, já
que ele foi acometido pela queimadura de uma forma muito repentina. Em questão de minutos, a pessoa
torna-se totalmente dependente. É difícil porque é necessário “cuidar da cabeça do paciente queimado e da
sua também”. Ele se “queima todo”, inclusive a alma, por isto, tem-se de conhecer a pessoa e não apenas a
queimadura física. (U.S. 1 e 6)
DISC. 8 - A.S.I. a
Nem todos aqueles que trabalham no hospital cuidando de pacientes conseguem se aproximar e olhar a
pessoa queimada. (U.S. 6)
DISC. 9 - A.S.I. a
Sentiu muito as mortes de dois pacientes internados no setor. (U.S. 5)
b) Cuidar é uma missão
DISC. 6 - A.S.I. e
Cuidar da pessoa queimada parece ser uma missão. Acredita estar ali para isto. (U.S. 1)
2ª CATEGORIA - CUIDAR É GOSTAR DO QUE SE FAZ
a) Cuidar é gostar do que se faz
DISC. 1 - A.S.I. b
Acha que o papel do auxiliar de enfermagem é ser dedicado e, acima de tudo, gostar do paciente queimado,
investindo nele até as últimas conseqüências. (U.S. 4)
DISC. 3 - A.S.I. b
Para cuidar do paciente queimado, é preciso gostar do se faz e ter muito amor pela pessoa. Tem de ir
“trabalhar com vontade de trabalhar”. Considera que existem muitos funcionários que trabalham por
necessidade e não porque gostam do que fazem. É muito difícil encontrar, entre essas pessoas, alguém que diz
gostar, realmente, de cuidar do paciente queimado. Preocupa-se em ajudar os colegas que merecem ajuda,
aqueles que prestam os cuidados direito, pois não considera cuidador quem trabalha somente por obrigação.
Para cuidar, tem de ter amor pelo que se faz. (U.S. 1, 9, 14, 17 e 18)
DISC. 5 - A.S.I. b
Para cuidar da pessoa queimada, primeiro tem de gostar, ter amor pelo que se faz, não é só pensar em
dinheiro. Não há como trabalhar muito tempo ali se não for assim. Fica feliz e satisfeita com a melhora do
paciente e sente-se tranqüila quando, ao final do plantão, percebe que fez algo para ajudá-lo. Procura cuidar
das pessoas da melhor forma possível. Gosta do trabalho, embora ainda sinta dó ao executar alguns deles.
(U.S. 1, 2, 6, 7, 8 e 9)
DISC. 8 - A.S.I. b
É uma “grandeza” poder ajudar o outro a se curar. Sente-se honrado por ser “lembrado” como um bom
profissional. (U.S. 7 e 8)
152
153
b) Cuidar é tratar do ser doente
DISC. 1 - A.S.I. d
Cuidar do paciente queimado requer cuidados intensivos e atenção especial devido à instabilidade do seu
estado de saúde. É necessário ter conhecimento das condições individuais, pois os cuidados vão ser diferentes
para cada situação. O paciente, quando sofre uma queimadura, é afetado psicologicamente; por isto, ao cuidar,
deve-se levar em consideração também o aspecto psicológico. (U.S. 3 e 6)
DISC. 4 - A.S.I. h
Considera que cada pessoa reage diferente à queimadura, alguns parecem sentir mais dor do que outros. Por
isto é necessário ter “muito jogo de cintura” e muita paciência para trabalhar com o paciente queimado. Devese levar em consideração as individualidades. (U.S. 1 e 2)
DISC. 7 – A.S.I. d
Apesar da existência de rotinas no setor, acha que não deve haver cuidados padronizados para o paciente
queimado; cada pessoa exige um cuidar diferenciado. Um facilita, outro já torna esse processo mais difícil. A
pessoa queimada não é igual aos outros pacientes, pois, devido ao acidente, “passa a ser queimado” e tem de
se internar de uma hora para outra. (U.S. 4 e 5)
DISC. 8 - A.S.I. d
Cuidar do paciente queimado é complicado porque é preciso considerar o seu estado geral, o estado
psicológico, o relacionamento dele com a família e a história do acidente, só depois é que se devem iniciar os
cuidados. (U.S. 1)
c) Cuidar é se dedicar
DISC. 1 - A.S.I. c
Para cuidar do paciente, tem de ter muita dedicação, muito amor e muita força ou a pessoa não agüenta. (U.S.
2)
DISC. 2 - A.S.I. a
Cuidar é dar atenção e dedicar-se totalmente ao paciente. Mesmo sentindo dificuldades em ajudá-lo nas
questões emocionais, procura atender, ao máximo, suas necessidades. (U.S. 1 e 2 )
DISC. 3 - A.S.I. c
Acredita que a função da enfermagem é tratar bem e ajudar o paciente, mas nem sempre isso acontece; existe
“gente muito desumana” na equipe de enfermagem. Quando um paciente mais dependente é admitido na
unidade, ele não é recebido como se deveria. Pensa que está faltando “mais carinho e atenção” no
atendimento de uma maneira geral.
(U.S. 4, 8 e 12)
DISC. 5 - A.S.I. c
Cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a sua melhora. A cada dia acompanha a sua evolução e fica
feliz e satisfeita com a melhora do paciente. Sente-se tranqüila quando, ao final do plantão, vê que fez algo
para ajudá-lo. Percebe que alguns não reconhecem o trabalho da enfermagem, mas outros agradecem pela
dedicação. (U.S. 2, 3 e 8).
153
154
DISC. 6 - A.S.I. b
Não se faz um bom trabalho sem dar um pouco de si para o paciente. Mais do que as atividades de rotina do
setor, para cuidar, tem de ter muita paciência e amor, pois ele sofre muito. (U.S. 5 e 8)
d) Cuidar compreendendo a dor
DISC. 1 - A.S.I. f
Gosta de cuidar do paciente queimado, apesar de “sofrer muito”, de “sofrer junto com ele”. (U.S. 9)
DISC. 2 - A.S.I. c
Sofre-se juntamente com o paciente, pois a sua dor é muito grande. (U.S. 4)
DISC. 3 - A.S.I. f
Ao imaginar-se no lugar da pessoa queimada, é capaz de sentir o quanto ela sofre, como é profunda a sua
dor. Por isto, ao cuidar, é preciso paciência. Pensa que a enfermagem não tem de se “intrometer” na vida
particular do paciente queimado. Independentemente do que aconteceu, ela não deve criticá-lo. A obrigação
da equipe é cuidar dele com discrição e respeito, sem se importar com o que ocorreu, o porquê e como ele se
queimou. (U.S. 2 e 13)
DISC. 4 - A.S.I. c
Considera que cada pessoa reage diferente à queimadura, alguns parecem sentir mais dor do que outros. Por
isto é necessário ter “muito jogo de cintura” e muita paciência para trabalhar com o paciente. Deve-se levar
em conta a individualidade de cada um. Às vezes, assusta-se com as lesões sofridas por alguns e é capaz de
perceber a intensidade da dor vivenciada por eles. O cuidado intensivo exigido pelo paciente queimado e o
envolvimento emocional do cuidador ao lidar com suas dores tornam cansativo o trabalho da equipe de
enfermagem. Acha que, para cuidar do queimado, é necessário ter uma “estrutura muito forte”. (U.S. 1, 6 e
10)
3ª CATEGORIA - CUIDAR É AGIR ORIENTADO PELO SABER
a) Cuidar é agir orientado pelo saber
DISC. 2 - A.S.I. b
Durante o banho é quando o paciente mais sofre. Nesse momento, é necessário ter muita calma, paciência, e
é preciso saber “levá-lo”, já que ele começa a sofrer desde a noite anterior, principalmente se é criança.
(U.S. 3)
DISC. 3 - A.S.I. d
Evita ajudar os colegas que “não trabalham direito”. Acredita que, ao ajudá-los, será avaliada como sendo do
mesmo “nível”, já que os pacientes notam a diferença entre os cuidadores. Sempre que tem dúvidas ao prestar
os cuidados, procura esclarecê-las com alguém mais experiente. (U.S. 5, 6 e 19)
DISC. 5 - A.S.I. d
Considera que um banho e um curativo, quando executados de maneira correta, ajudam na melhora do
paciente. Sente-se feliz por ser uma funcionária que realiza um bom trabalho. (U.S. 4)
154
155
DISC. 6 - A.S.I. c
É preciso ter muita paciência e carinho para com o paciente queimado, principalmente durante o banho.
Nessa hora, é necessário limpar bem as lesões para evitar infecção. O profissional deve ter consciência da
importância desse trabalho e empenhar-se para desenvolver bem os cuidados, contribuindo, dessa forma, para
a melhora do paciente. (U.S. 3 e 7)
DISC. 7 - A.S.I. c
É necessário ter conhecimento de como o paciente se queimou para saber como tratá-lo, embora se corra o
risco de ele achar que a busca do motivo é apenas curiosidade. (U.S. 3)
DISC. 8 - A.S.I. c
O setor é organizado, atualmente tem mais material e oferece boas condições de trabalho, embora haja
sempre alguma coisa para melhorar. Trabalhar com o paciente queimado é bom porque na unidade tem-se
quase tudo o que é necessário. (U.S. 5 e 10)
DISC. 9 - A.S.I. c
O paciente queimado tem de ser bem cuidado. Se não há material necessário à mão, fica difícil cuidar.
(U.S. 4)
b) Cuidar é estar atento
DISC. 1 - A.S.I. e
Sabe que deve seguir a rotina, mas precisa estar atenta para a avaliação geral do paciente. Ao admiti-lo na
unidade, tem-se de considerar a sua história pregressa e as condições em que se deu a queimadura. Acredita
que cuidar é observar e investir todo o tempo em cuidados intensivos. Sente-se satisfeita em acompanhar a
evolução e constatar a melhora do paciente. (U.S. 5, 7, 8 e 10)
DISC. 3 - A.S.I. e
Por permanecer cuidando e acompanhar a evolução do paciente o tempo todo, a enfermagem tem mais
condições de avaliá-lo com precisão. (U.S. 7)
DISC. 4 - A.S.I. b
Pensa que a enfermagem é quem pode dizer se um cuidado é doloroso ou não, pois é ela quem fica junto à
pessoa queimada dia e noite. O médico não tem dimensão do sofrimento do paciente, uma vez que o avalia,
mas não o acompanha durante todo o tempo. (U.S. 8)
DISC. 5 - A.S.I. e
Acha que tudo envolve o cuidado, ou seja, uma boa alimentação, uma hidratação adequada, a administração
das medicações nos horários prescritos e estar atenta aos sinais de alterações fisiológicas. Ao entrar na
enfermaria para dar o banho no paciente, primeiro observa as condições em que ele se encontra e lhe dá
“apoio psicológico”, pois sabe que ele tem muito medo desse procedimento. (U.S. 5 e 10)
DISC. 7 - A.S.I. b
O paciente queimado chega trazendo consigo toda uma história de vida além da lesão. Ele se “queima todo”,
inclusive a alma, por isto, você tem de conhecer a pessoa e não apenas a queimadura física. É preciso
conhecê-la para não se sentir “perdida” no processo de cuidar. (U.S. 2 e 6).
DISC. 9 - A.S.I. d
O paciente queimado exige bastante observação e é muito dependente de cuidados. A pessoa que cuida deve
ser capaz de perceber as anormalidades que ele pode apresentar, pois algumas são aparentes, mas outras não.
(U.S. 2 e 3).
155
156
c) Cuidar é orientar
DISC. 3 - A.S.I. h
O paciente tem de ser orientado com relação a tudo que vai vivenciar, desta forma ele não dará trabalho.
Deve ser explicado, passo a passo, todo o cuidado que lhe será prestado, por exemplo, sobre os banhos, o
porquê de tomar os analgésicos, de ir para o bloco cirúrgico, enfim, sobre tudo o que vai acontecer com ele
durante o tratamento. É preciso prepará-lo, uma vez que irá conviver com a sua dor e com a dor dos outros
companheiros de enfermaria. (U.S. 15 e 16)
d) Cuidar é repensar as ações
DISC. 2 - A.S.I. d
Como auxiliar, acha que não pode interferir na organização do serviço, mas considera que caberia à chefia
estar atenta para garantir a homogeneização e execução correta dos cuidados. Pensa que deve ser discutido o
uso do PVPI na limpeza das lesões, porque acha que ele não traz a resposta esperada e faz o paciente sofrer
ainda mais. (U.S. 5 e 6 )
DISC. 3 - A.S.I. i
Não concorda com várias coisas que observa na unidade e acha que tem muito a melhorar no que se refere ao
cuidado com o paciente. Embora considere as chefias competentes, a seu ver, elas deveriam acompanhar e
avaliar mais freqüentemente os funcionários, atentando para os erros quando da execução dos cuidados.
Assim, poderiam orientá-los para melhorar a assistência prestada. Pensa que só com a colaboração de todos,
isto pode ser alcançado. Sente-se, entretanto, constrangida de falar o que pensa com as chefias. (U.S. 10, 11 e
20)
DISC. 4 - A.S.I. g
A seu ver, só quem realiza os cuidados pode saber o que o paciente sofre. Muitas vezes, gostaria de
argumentar com o médico quando discorda de alguma conduta, mas se sente submissa às suas ordens e receia
ser demitida, caso expresse a sua opinião. No caso do curativo, não segue algumas orientações sugeridas, pois
sabe que o paciente irá sofrer muito. Sente-se incomodada com o uso de certos antissépticos, pensa que
deveriam ser substituídos, uma vez que eles provocam muito sofrimento no paciente. (U.S. 7 e 9)
e) Cuidar é aprender a cada dia
DISC. 4 - A.S.I. f
A cada dia considera que aprende e descobre mais coisas ao cuidar do paciente queimado. (U.S. 12)
DISC. 5 - A.S.I. f
A cada dia, cuida da pessoa queimada com o intuito de ver a sua melhora. Acompanha a evolução do
paciente e está sempre aprendendo com esse processo. (U.S. 3)
156
157
4ª CATEGORIA - O CUIDAR E O TRABALHO EM EQUIPE
a) O Cuidar e o trabalho em equipe
DISC. 3 - A.S.I. g
Afirma que tem muita coisa para melhorar no que se refere ao cuidado, mas, para tal, é necessário ter a
colaboração de todos. Não adianta somente alguns prestarem o cuidado de forma adequada. (U.S. 10)
DISC. 4 - A.S.I. d
É bom cuidar de pacientes diferentes a cada dia. Assim, quando um colega está com dificuldades ao prestar
algum cuidado, pode-se ajudá-lo, já que tem conhecimento das necessidades de todos que ali estão
internados. (U.S. 3).
DISC. 6 - A.S.I. d
A colaboração entre os membros da equipe durante o cuidar é necessária, mas nem sempre é possível. O
importante é o serviço sair bem feito e satisfazer o paciente. (U.S. 6)
DISC. 8 - A.S.I. f
Para cuidar do paciente queimado, é preciso ter uma equipe multiprofissional organizada e capacitada. Ela
deve fazer com que o paciente também participe de todo o processo terapêutico. Se não for assim, “não
funciona”, porque vai estar sempre faltando alguma coisa. É como subir os “degraus de uma escada”, um vai
ajudando o outro até chegar ao topo. (U.S. 2, 4 e 9)
b) Cuidar é preparar-se para o paciente
DISC. 4 - A.S.I. e
É bom conhecer todos os pacientes porque pode-se trocar informações com os colegas e, assim, preparar-se
antes de iniciar os cuidados, principalmente em relação àqueles “exigentes demais”. (U.S. 4) -
157
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