Regionalização na economia também significa combater as desigualdades de se ser a favor ou contra a Juntam-se três economistas do Porto e retém-se logo que independentemente só evolui descentralizar do Estado o país se com sede na capital regionalização, serviços e funções Alberto Castro, da Universidade Católica do Porto, João Loureiro as regras que devem presidir de um evenao funcionamento da Faculdade de Economia do Por- tual modelo administrativo to, (FEP) e Nuno de Sousa Pereira, regional têm que ser as mesmas que o Estado central tenta of Porto Bussi- da EGP - University ness School são economistas, mas não pensam da mesma forma em matéria de regionalização. "Uma solução que respeite as diferenciações locais, que atenda à auto-estima das populações, mas queprocurejuntarforçasparaalavancar o desenvolvimento, consegue-se com um poder suficien- impor ao poder local, "mas não consegue impor a si mesmo: endividamento limitado, decisões baseadas numa rigorosa avaliação custo-benefício, intervenção na economia reduzida ao mínimo necessário e da maneira menos fomentadora de distorções". temente próximo para perceber aquelas dimensões, mas distante o bastante para combater prota- "ÉPR'Á MANHÃ", JÁ CANTAVA O ANTÓNIO gonismos paroquiais". Estaéaposição do professor Alberto Castro 0 músico António Variações já relativamente à regionalização, "Muitos dos iniacrescenta: que migos daregionalização não o são declaradamente. Nem estão na capital, . Estão nas regiões, entre nós. E assim o país vai andando. A duas velocidades, aumentando as desigualdades". Para Nuno de Sousa Pereira, dean (presidente da direcção) da EGP- UPBS, "se estruturada de uma forma coerente e equilibrada, a regionalização pode não só permitir uma maior proximidade en- tre cidadãos e decisores políricos, como ser também um catalisador de desenvolvimento económico sustentado. Terá, para isso, que garantir que a maior proximidade com os decisores políticos não conduz a um aumento da pressão para medidas proteccionistas limitem o que livre funcionamento dos mercados e o desaparecimento das empresas mais ineficentes. E que as autoridades a criar assu- mam recursos e competências a transferir do Estado central e das autarquias, para que não haja um aumento de despesa e da carga fiscal sem o correspondente aumento da produtividade". Para o presidente da direcção da EGP - University Business of Porto School, acima de tudo, cantava afavor daregionalização? A sugestão é do economista Alberto Castro, que vê na letra da canção "É pr'á manhã/Bem podias fazer hoje/Porque amanhã sei que voltas a adiar (...)/Foimais um dia e tu nada fizeste/E vais deixando ficar tudo igual" uma espécie de hino à regionalização. "Bem se pode dizer que estes versos de António Variações podiam ter sido escritos a pensar na regionalização ou, mesmo, na descentralização administrativa. Para ser completamente honesto, tem que se reconhecer que alguns passos foram dados. Pequenos e sempre, e tão-só, em domínios circunscritos, em que as excepções são mais que as regras, requerendo sempre a benção central", ironiza. Mas reconhece que "a responsabilidade de estarmos onde estamos não é apenas dos que defendem o actual modelo de organização administrativa. Pouco se avançou no esclarecimento de algu(quanto custa, como mas das questões se controla, como se operacionaliza, qual o balanço dos outros países), que se colo- caram aquando do anterior referendo e Nuns quefacilitaramavidaàdemagogia. casos faltam estudos. Noutros, progrediu-se mas falhou a divulgação. Houve sempre uma circunstância, fossem eleições, orçamentos, crises, que justificou o adiamento. A verdade é que, para além das circunstâncias conjunturais, resses instalados há inteinteressa a quempouco amudança. Ao contrário do que se possa pensar, nem sempre esses interesses estão instalados na capital". 0 economista Alberto Castro não entende porque é que, se os principais partidos políticos estão de acordo com a regionalização, se existe um relativo consenso sobre o mapa das cinco regiões, se nessa organização os distritos desaparecem, "a razão de os partidos se continuarem a organizar por distritais e concelhias. E questiona: "Numa reorganização que aproxime o poder dos problemas e das pessoas, fará sentido manter a estrutura administrativa e os poderes locais actuais? Quem perderá protagonismo?" Segundo Alberto Castro, "toda a gente concorda que há concelhos e freguesias que não faz sentido continuarem a exis- tir na configuração actual". E qual a conclusão que retira daqui? "A forma como um poder central lida com o problema é conhecida: ou faz, administrativa e cegamente, como nas escolas, ounão faz nada, continuando a aproveitar-se da divisão par a reinar", atira. SUBSIDIARIEDADE As decisões devem ser tomadas o mais próximo possível dos cidadãos, eis o princípio da subsidiariedade, que é também um princípio de racionalidade económica. Nuno de Sousa Pereira, da EGP-UPBS, leva o princípio da subsidiariedade ao limite, ou seja, a grande maioria das decisões seriam tomadas ao nível mais desa- gregado de reparticação administrativa do território, para explicar que do ponto de vista económico "é a procura deste equilíbrio que deve presidir a um eventual processo de regionalização". ao mundo das empresas Norte do no país, Nuno de Sousa Pereira é da opinião de que as empresas vivem com políticas que não têm em conta as especificidades do tecido produtivo da região, concluindo: "Portugal necessita E reportando-se de políticas que melhorem o ambiente de negócios e promovam o produto potencial, mas essas políticas têm elemen- tos que são comuns a todo o território e outros que terão que ser concebidos para fazer face às potencialidades de de cada região", adianta. e à realida- Porque "quanto mais próximo tiver o centro de decisão dos impactos das medidas, mais cuidada deverá ser a avaliação dos custos e benefícios, a hierarquização mais correcta mais da medida às de prioridades e apropriada a concepção características específicas dos agentes e das regiões afectadas". ELIMINAR GOVERNOS CIVIS Apesar de ser "muitas dúvidas" em matéria de regionalização, o professor da Faculdade de Economia do Porto (FEP), João Loureiro, acredita que se alguma coisa há a fazer em termos de organização administrativa do país "não é, segu- blemas estruturais, ramente, aumentar o número de níveis de governo, mas, antes, racionalizar a or- internacionalmente ganização vigente". E racionalizar o modelo actual passa por "eliminar estruturas como os governos civis e proceder a concentração de freguesias e, eventualmente, de municípios", frisa. João Loureiro significa que, "nalguns casos, de que são exemplo a burocracia, Para o economista regionalização a carga fiscal e a despesa pública, os problemas se poderiam agravar". Além de que acredita que o actual centralismo de âmbito nacional "será reproduzido e multiplicado pelo número de regiões a criar". Mas apesar de Portugal ter "vários pro- sobejamente identifi- cados: uma economia pouco competitiva e estagnada, taxas de desemprego crescentes, elevado e crescente endividamento do Estado e do sector privado, desperdídio na despesa pública, carga fiscal que começa a ser asfixiante, popelação cada vez mais envelhecida e distribuída regionalmente de forma muito heterogénea, elevada burocracia, um sistema de justiça que não funciona, legislação em grande quantidade mas de fraca qualidade, um sistema de ensino que não prepara para o mercado de trabalho, desordenamento do território, etc", João Loureiro não se deixa convencer pelas vantagens da regionalização. Pois acredita que as desvantagens são gritantes e "haverá várias soluções seguramente melhores do que a regionalização".