A construção VPS Função e Representação COMPLETO - início

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE LETRAS
MESTRADO
PAULA VITAL DA CONCEIÇÃO
A CONSTRUÇÃO VPS NA PROPAGANDA DE RUA DE NITERÓI – FUNÇÃO E
REPRESENTAÇÃO
NITERÓI
2006
PAULA VITAL DA CONCEIÇÃO
A CONSTRUÇÃO VPS NA PROPAGANDA DE RUA DE NITERÓI – FUNÇÃO E
REPRESENTAÇÃO
Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Letras da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre. Área de
Concentração: Estudos da Linguagem/Língua
Portuguesa.
Orientadora: Profª Drª MARIANGELA RIOS DE OLIVEIRA
Niterói
2006
PAULA VITAL DA CONCEIÇÃO
A CONSTRUÇÃO VPS NA PROPAGANDA DE RUA DE NITERÓI – FUNÇÃO E
REPRESENTAÇÃO
Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Letras da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre. Área de
Concentração: Estudos da Linguagem/Língua
Portuguesa.
Aprovada em setembro de 2006
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª Mariangela Rios de Oliveira (UFF) - Orientadora
Profª. Drª. Maria Jussara Abraçado de Almeida (UFF)
Profª. Drª. Violeta Virginia Rodrigues (UFRJ)
Prof. Dr. Sebastião Josué Votre (UFF/UFRJ) (suplente)
Profª. Drª. Maria Maura Cezario (UFRJ) (suplente)
Niterói
2006
AGRADECIMENTOS
À Mariangela Rios de Oliveira – minha orientadora,
profissional competente, estimulante e compreensiva.
À minha família, principalmente a Ricardo Vieira de
Matos, meu esposo, pela presença segura e pelo apoio.
RESUMO
No momento atual, os estudos da linguagem vêm enfatizando o tratamento das
relações entre gramática e discurso. De acordo com essa tendência, com base no
funcionalismo lingüístico norte-americano, na linha de Givón, Thompson, Closs-Traugott,
Hopper, entre outros, este trabalho objetiva levantar e analisar a motivação da estrutura
gramatical do português denominada, tradicionalmente, voz passiva sintética (VPS) - forma
disponível no sistema gramatical para representar um processo mencionando o paciente e
desfocando o agente -, utilizada para divulgação de produtos e serviços nas ruas do centro de
Niterói. Trata-se de uma construção simples, previsível, cuja disposição/ordenação mais
natural, ou menos marcada, possui configuração VERBO + SE + SN, sendo atribuído ao
verbo status de tópico; através dele é revelada a atividade meio ou fim desempenhada pela
pessoa, física ou jurídica. Tal estrutura atende aos propósitos comunicativos da comunidade
lingüística e provavelmente sinaliza para uma potencial mudança na regra de articulação da
VPS, como também ratifica que as estruturas sintáticas “refletem” de algum modo a forma e a
organização das estruturas semântico-cognitivas subjacentes. No entanto, faltava um estudo
que fosse além da observação e análise da estrutura em si mesma ou em seu contexto de uso
distante do usuário. Objetivou-se, então, levar em conta o modo de produção desses textos, as
crenças, a formação de seus produtores, o atingimento ou não de seu objetivo final. Para tanto,
além da coleta do material (anexo), foram feitas entrevistas com os usuários (comerciantes e
cartazistas) dessa estrutura e com seus receptores (transeuntes, clientes), visando acrescer
informações no sentido de corroborar ou modificar os estudos iniciais. Os resultados desse
contato mostraram indícios de que a VPS sofre um processo de rotinização que a tem tornado
uma construção ritualizada, convencionalizada, representativa da propaganda de rua, portanto,
fazendo parte do imaginário coletivo daqueles informantes. Em resumo, constatou-se que, se
determinada estrutura gramatical é empregada recorrentemente em/para determinada situação
comunicativa, isso se deve ao(s) significado(s) que ela articula. Ao mesmo tempo, a repetição
de seu emprego é que, histórica e socialmente, cria e consolida seu significado.
Palavras-chave: Morfossintaxe; Voz passiva sintética; Gramática e discurso; Funcionalismo.
ABSTRACT
At the current moment, the studies of the language emphasize the relations between
grammar and discourse. According to this tendency, based on the North American linguistic
functionalism, represented by Givón, Thompson, Closs-Traugott, Hopper, among others, this
work aims to collect and analyze the motivation of the grammatical structure of the
Portuguese language, traditionally named as synthetical passive voice (VPS) – which is
available in the grammatical system to represent a process where the patient is mentioned and
the agent is faded. This structure is used to advertise products and services on the streets of
Niterói, downtown. It is a simple, expected construction, whose more natural grammar
structure disposition, or a less marked one, has the configuration of VERB + SE + SN, having
the verb the topic status attribution. The purpose or means of the action is shown through the
verb and performed by a physical or juridical person. Such structure meets the needs of
communicative purposes of the linguistics community and probably signals for a potential
change in the articulation rule of VPS, as well as it confirms that the syntactic structures
“reflect” somehow the form and the organization of the underlying semantic-cognitive
structures. However, it lacked a farther study of observing and analyzing this structure in
itself or in its context of use, keeping a distance from the user. This study aims, therefore,
taking into account the way these texts are produced, the general beliefs, their producers'
background, the accomplishment or not of their final objective. Besides collecting the data
(attachment), interviews with the users of this grammar structure were done, as well as with
its receivers (customers), in order to add information to corroborate or modify the previous
studies. The results of this survey showed some indications that VPS suffers a routinely
process that has turned it into a ritualized and conventionalized construction, representative of
the street advertising, therefore, making part of the collective imaginary of these informers. In
summary, it was verified that, if a grammatical structure is frequently used in certain
communicative situation, that is due to the(s) meaning(s) that it articulates. At the same time,
the repetition of its use is what, historical and socially, creates and consolidates its meaning.
Key-words: Morfosyntax; Synthetical passive voice; Grammar and discourse; Functionalism.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
8
1. “VOZ PASSIVA SINTÉTICA”: DA CONCEITUAÇÃO TRADICIONAL À
REANÁLISE
13
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
20
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
35
4. ANÁLISE DA VPS
44
5. OUTRAS OCORRÊNCIAS
68
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
74
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
82
ANEXO I – A
QUESTIONÁRIOS DOS USUÁRIOS DE VPS
ANEXO I – B
QUESTIONÁRIOS DOS USUÁRIOS DE N
ANEXO I – C
QUESTIONÁRIOS DOS USUÁRIOS DE VPPP
ANEXO II
ENTREVISTA COM OS RECEPTORES DE VPS E DAS OUTRAS
OCORRÊNCIAS
ANEXO III
REGISTROS DE VPS
ANEXO IV
REGISTROS DE N
ANEXO V
REGISTROS DE VPPP
INTRODUÇÃO
Com base no reconhecimento da importância de se abordar a gramática em termos de
seus contextos naturais de uso, surge e se organiza, no final dos anos 70, o funcionalismo
lingüístico norte-americano, na linha de Givón, Thompson, Closs-Traugott, Hopper, entre
outros, na configuração do contexto teórico em que se insere a presente investigação.
Conforme essa concepção, a função da linguagem como ferramenta da comunicação
humana é a motivação central para os padrões gramaticais, o estudo da gramática1 implica
tomar o discurso2 como dado primário, bem como relacionar explicitamente a estrutura da
gramática à estrutura do discurso. Parte-se, assim, do pressuposto de que a gramática e a
interação social se correlacionam: a gramática é recurso para estabelecer interação social e, ao
mesmo tempo, é vulnerável a essa mesma interação.
Fundamentado nesses pressupostos e, assim, considerando a correlação natural entre
forma e função, o presente trabalho visa a estudar a estrutura gramatical do português
denominada, tradicionalmente, voz passiva sintética (VPS) – forma disponível no sistema
gramatical para representar um processo mencionando o paciente e omitindo, ou melhor,
desfocando o agente –, empregada em placas e cartazes para oferta de produtos e serviços.
Neste estudo, pretende-se correlacionar suas propriedades funcionais a seu emprego na
propaganda3 de produtos e serviços encontrada nas ruas do centro do município de Niterói.
Para tanto, além da coleta do material, foram feitas entrevistas com os usuários –
comerciantes ou “cartazistas” – dessa estrutura, assim como com seus leitores/receptores
1 e 2
Martelotta et al. (1996, p. 48) definem gramática como “um conjunto de regularidades decorrentes de
pressões cognitivas e, sobretudo, de pressões de uso” e discurso como “o uso potencial da língua, ou seja, como
as estratégias criativas utilizadas pelo falante para organizar funcionalmente seu texto para um determinado
ouvinte e em uma determinada situação de comunicação”.
3
Em Sandmann (2002, p. 10), é dito se tratar de um termo bem abrangente em português, já que pode ser usado
tanto para a venda de produtos ou serviços (publicidade), quanto para a propagação de idéias.
9
transeuntes e consumidores dos produtos ou usuários dos serviços oferecidos.
Vale ressaltar que o tratamento tradicional dado a essa estrutura, como se vê no
capítulo “VOZ PASSIVA SINTÉTICA”: DA CONCEITUAÇÃO TRADICIONAL À
REANÁLISE (1), de uma maneira geral, causa grandes transtornos à sua apreensão, pois,
além de sugerir a existência de sinonímia entre a VPS e a estrutura denominada,
tradicionalmente, voz passiva analítica (VPA), em sua descrição, desconsidera como o
usuário do português a utiliza em seus contextos efetivos de realização. Um dos transtornos
referidos estaria, principalmente, na ênfase dada pela tradição gramatical à obrigatoriedade da
concordância do verbo com o “suposto” sujeito paciente. Tal concordância, aliás, tem-se
tornado mais e mais rara, inclusive entre falantes cultos, mesmo em registros mais tensos, de
modo que sua insistência contribui para acentuar a distância entre o português “realizado” e o
“idealizado”.
Admitindo-se, então, a abordagem tradicional, que desconsidera os aspectos
semântico-pragmáticos, privilegiando os aspectos puramente formais, parte-se, na presente
pesquisa, para a demonstração do modo como os participantes da situação comunicativa
empregam a VPS e que representações têm desse uso.
O presente trabalho, portanto, objetiva analisar o significado da ocorrência de VPS que
serve ao propósito de divulgar a oferta de produtos e serviços encontrada nas ruas do centro
de Niterói. Nesse sentido, buscamos lançar luz, de posse do aparato teórico da lingüística
funcional e da noção de representação social (explicitados no capítulo 2 – PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS), sobre os aspectos pragmáticos e cognitivos da forma, conforme empregada. O
viés pragmático nos auxiliará haja vista, no seu ponto central, segundo Givón (1989),
repousar a noção de contexto, sendo sua maior característica considerar que as categorias não
são completamente discretas, mas podem exibir matizes e gradações.
O interesse por esse assunto surgiu com a prática pedagógica, com a dificuldade na
apresentação do conteúdo da VPS aos alunos, em virtude, principalmente, da grande
similaridade entre a forma e o uso dessa estrutura e o da estrutura de sujeito indeterminado.
Ademais, a maior parte dos exemplos dispostos nos compêndios escolares é constituída de
mensagens ‘virtuais’ para oferta de produtos e serviços, nas quais figuram verbo e SN no
plural, raramente encontrados no dia-a-dia, nas ruas, no trato comercial efetivo, como em
“Alugam-se casas na praia”, “Aceitam-se encomendas para festas” (VIEIRA e
FIGUEIREDO, 2003); “Consertam-se bicicletas” (NICOLA e TERRA, 2003); “Vendem-se
casas” (CHANOSKI-GUSSO e FINAU, 2002); “Retificam-se motores” (FARACO e
MOURA, 2001).
10
A motivação para o desenvolvimento deste trabalho teve origem no curso de
graduação em Letras, mais especificamente no sétimo período, no qual se realizou um
trabalho final em que foram coletados e observados alguns usos peculiares do português na
linguagem de propaganda das ruas da cidade do Rio de Janeiro (CONCEIÇÃO, 2000). No
entanto, somente durante o curso Aspectos funcionais da morfossintaxe portuguesa, já no
Mestrado, ministrado pela Profª Mariangela Rios de Oliveira, chegou-se ao embasamento
funcionalista para a análise do uso que se faz de determinada forma lingüística.
Na monografia final desse curso, realizou-se um estudo de verificação dos
subprincípios de iconicidade inerentes à estrutura da VPS empregada nas placas de ruas do
Rio de Janeiro para a oferta de produtos e serviços (CONCEIÇÃO, 2004). Os resultados
mostraram que se trata de uma estrutura simples, previsível (verbo singular + se + SN plural),
cuja disposição/ordenação atende aos propósitos comunicativos da comunidade lingüística e
provavelmente sinaliza para uma potencial mudança na regra de articulação da VPS. Os
resultados dessa incursão preliminar ratificaram que “As estruturas sintáticas não devem ser
muito diferentes, na forma e na organização, das estruturas semântico-cognitivas
subjacentes.” (FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 34).
Faltava-nos, entretanto, um estudo que fosse além da observação e análise da estrutura
em si mesma, isto é, que, além das questões de ordem formal, levasse em conta o modo de
produção desses textos, as crenças, a formação de seus produtores, o atingimento ou não de
seu objetivo comunicativo. Com esse propósito, procedemos a uma pesquisa de campo, cuja
preparação e execução estão dispostas no capítulo 3, denominado PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS.
Observar-se-á, ainda no capítulo supra, que, durante a pesquisa de campo,
encontramos algumas dificuldades tanto no que diz respeito ao registro do material para a
composição do corpus, quanto no que tange à abordage m para a realização da entrevista.
Essas complicações se deram porque o local, onde se encontram os registros e os
entrevistados, é conturbado e barulhento, muito próximo das ruas, do tráfego de pedestres e de
veículos. Além disso, constatamos que outras ocorrências são utilizadas com o mesmo
propósito da VPS.
Ademais, inicialmente, sentimos dificuldade diante da maior parte das respostas
fornecidas à primeira pergunta da entrevista (vide ANEXO I - A, questão 3.1), em virtude de
a mesma estar centrada no próprio informante e em sua atividade comercial. Para chegarmos à
interpretação apresentada em uma de nossas hipóteses, precisamos nos deter a essas respostas
a fim de analisá- las cuidadosamente.
11
Desta forma, chegamos à hipótese central deste trabalho, desenvolvida no capítulo de
análise (4): se determinada estrutura gramatical é empregada recorrentemente em/para
determinada situação comunicativa, isso se deve ao(s) significado(s) que tal estrutura permite
articular, em nosso caso, para o atingimento de propósito bem evidente – a venda de
produto/oferta de serviço em local público. Ao mesmo tempo, a repetição de seu emprego é
que, histórica e socialmente, origina e estabiliza o significado da estrutura, assim, tornando-a
usual, ou seja, gramatical. Desse modo, verificamos que a estrutura de VPS, no contexto em
que a analisamos, passou a fazer parte do imaginário coletivo (conforme Moscovici, 2005)
daqueles informantes. Compreendemos inclusive que a parte inicial e mais amalgamada da
estrutura –
verbo+se –
passou
a
funcionar
como
uma
construção
ritualizada,
convencionalizada, representativa da propaganda de rua.
Defendemos, então, o seguinte: o que antes era considerado icônico, tornou-se
arbitrário, por meio de um processo de convencionalização; desgastou-se pelo uso, passou a
figurar na mente das pessoas como uma estrutura única, sedimentada, própria para o
atendimento daquele objetivo/efeito, perdendo-se a memória de sua motivação, natureza,
elaboração e disposição.
A fim de viabilizar a análise e comprovação dessa hipótese, que emergiu após o estudo
da interação exercida com os comerciantes, cartazistas e clientes reais e potenciais, buscamos
identificar que noção compreenderia questões como as suscitadas acima: ritualização,
convencionalização, coletividade (social). Assim, durante a pesquisa, começamos a trabalhar
com o conceito, atualmente considerado fenômeno, das representações sociais.
Esse conceito proveio da psicologia social, ciência que reúne os estudos psicológicos
(individualizantes) aos sociológicos. Ele trabalha sob o viés coletivo, ao qual seu fundador
(Serge Moscovici) prefere chamar social, embora se refira em Moscovici (ibid.) à
impossibilidade de manter qualquer distinção entre “social” e “coletivo”. Conforme Guareschi
e Jovchelovitch (1994), “a teoria das representações sociais de Moscovici [...] é uma forma
sociológica de psicologia social [...]” (p. 33).
Ademais, junto à hipótese supramencionada, figura uma outra: observa-se que a
estrutura VPS possui organização simples, reduzida, parecendo sugerir o desfocamento do
participante agente, como se houvesse uma indeterminação do sujeito tanto semântica
[sentido vago: alguém (pouco importa quem especificamente) faz/realiza algo] quanto
sintática (forma similar à do sujeito indeterminado). Para sua testagem, recorremos aos
pressupostos teóricos do funcionalismo lingüístico e à observação da experiência dos usuários
culminante numa reanálise da estrutura.
12
No capítulo 5, reservamos breves considerações a respeito das ocorrências de
nominalização e de verbo na 1ª pessoa do plural, encontradas articulando também o domínio
funcional da VPS. Verificamos que a seleção de tais ocorrências corresponde a um processo
dinâmico, no qual, das três estruturas referidas, a VPS caracteriza-se como a mais regular e
freqüente, isto é, a forma não- marcada em relação às duas outras. Por outro lado, as duas
outras, estruturas variantes, que competem com a VPS nesse domínio funcional, seriam
formas mais marcadas, mais esporádicas e complexas em relação àquela.
Na última parte do trabalho, retomam-se sucintamente os aspectos desenvolvidos nos
capítulos de análise, concernentes aos objetivos e hipóteses aqui expostos. Essa parte se
encontra subdividida a fim de facilitar a produção e a recepção do texto. Nela inserimos
inclusive nossa visão acerca das limitações do trabalho, das contribuições que dele emergiram
e da necessidade de ampliação do estudo através de pesquisas futuras.
1. “VOZ PASSIVA SINTÉTICA”: DA CONCEITUAÇÃO TRADICIONAL À
REANÁLISE
O presente capítulo visa apresentar algumas considerações sobre a definição sintáticosemântica da estrutura em foco neste trabalho, por intermédio de uma breve revisão crítica
dos estudos normativos sobre a voz passiva sintética no português do Brasil e,
contrastivamente a eles, da compreensão da ocorrência de reanálise da estrutura por parte dos
seus usuários (senso funcional).
A voz passiva sintética (VPS) é definida pela ocorrência do clítico se unido a verbos
transitivos diretos aos quais aparece posposto um sintagma nominal (SN) – com valor
semântico de paciente da ação verbal – que seria, naturalmente, considerado o objeto direto
desses verbos. Entretanto, a visão tradicional, nesses casos, postula, em face da carência de
um termo com valor de sujeito/agente, a existência de uma variedade de voz passiva com o
SN paciente preenchendo a função de sujeito.
O tema em questão é tratado em compêndios de orientação tradicional de forma não
autônoma, ou seja, sua estrutura sempre é apresentada “equivalendo” a outra estrutura
denominada, tradicionalmente, voz passiva analítica (VPA) – frase (1b). Enfatiza-se essa
equivalência de modo generalizado, sem considerar os caracteres semânticos e os contextos
de uso da VPS – frase (1a), e insiste-se na necessidade da concordância verbal com o suposto
sujeito:
(1a) Alugam-se lojas (VPS).
(1b) Lojas são alugadas (VPA).
Hawad (2002, p. 24) assinala que a falta de consistência desse tipo de análise tem sido
assinalada por muitos estudiosos e que:
14
[...] é necessário reconhecer que ela obscurece, por um lado, as diferenças
sintático-semânticas entre as duas configurações ditas “voz passiva” e, por
outro lado, as semelhanças entre a “voz passiva sintética” e a construção em
que o clítico se ocorre com verbos transitivos indiretos ou intransitivos –
chamada “sujeito indeterminado”.
Conforme se verifica em numerosos compêndios e gramáticas de viés conservador,
cujas explicações são apresentadas sob a ótica puramente formal, estruturas com verbos que
não sejam transitivos diretos acrescidos do pronome se – como em ‘vive-se bem aqui’ (de
verbo intransitivo) ou em ‘precisa-se de vendedores’ (de verbo transitivo indireto) – são
compreendidas como de sujeito indeterminado, funcionado o se como índice de
indeterminação do sujeito. Já no que diz respeito às estruturas de voz passiva sintética, sua
definição é disposta com base na de voz ativa. Observemos a definição de Kury (2003, p. 35)
acerca do assunto:
Voz passiva pronominal (ou sintética).
50. Quando, numa oração na voz ativa com verbo transitivo direto, o agente
(sujeito) é indeterminado, e o paciente (objeto direto) é um ser inanimado,
incapaz de praticar a ação expressa pelo verbo, nossa língua admite, além da
voz passiva composta, com auxiliar, outra construção, sintética, em que à
forma do verbo na voz ativa se acrescenta, para indicar passividade, o
pronome se.
Compare-se:
1. Voz ativa: “Construíram muitos edifícios” (sujeito indeterminado; verbo
construir, transitivo direto, na voz ativa; objeto direto, paciente: muitos
edifícios.)
[...]
3. Voz passiva com pronome se: “Construíram-se muitos edifícios” (sujeito
paciente: muitos edifícios; verbo construir na voz passiva pronominal:
construíram-se; não se declara o agente.)
Acerca do tema e mais especificamente da partícula se, exporemos uma das restrições
de Jucá Filho ao anteprojeto da Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) (1958), que diz
respeito à “voz passiva”. O autor (ibidem) sustenta que a partícula se, tratada como
indeterminadora de sujeito, não pode ser limitada a essa possibilidade sintática. Ele considera
que sua função de indeterminadora de complemento da passiva é a mais usual. Nesse sentido,
Jucá Filho (ibid.) ressalta que o pronome se, deixando de ser reflexivo ou recíproco, adquiriu
em português a possibilidade de indeterminar uma das integrações do verbo (p. 112-113):
15
Se o verbo tem três integrações4 , tocado pelo condão da partícula se, passa a
ter duas:
Fulano deu conselhos aos meninos;
Deram-se conselhos aos meninos.
Se tem duas integrações, contenta-se com uma:
Fulano aluga casas;
Alugam-se casas.
Se tem uma integração, fica sem nenhuma:
Fulano dorme melhor aqui;
Dorme-se melhor aqui.
Fulano precisa de auxiliares;
Precisa-se de auxiliares.
Fulano é pai desde ontem;
É-se pai desde ontem.
Nos dois primeiros casos, a partícula não indetermina sujeito: indetermina
complemento da passiva. Nos outros é que indetermina sujeito.
(...)
Se compararmos a construção portuguesa com a castelhana:
Alugam-se casas;
Se alquilan casas por mí,
patenteia -se-nos o valor indeterminativo daquela que praticamos. Aliás,
ainda no século XVI era possível dizer:
Alugam-se casas por mim.
Mas o que não podemos hoje expressar em tais frases é o comple mento da
passiva. [numeração nossa]
A respeito do raciocínio exposto na citação, encontramos em Hawad (2002, p. 34) as
seguintes ponderações:
Nesse fragmento, a descrição inicial do valor do se como indeterminador de
uma das “integrações” do verbo é adequada [...]. Porém, a fundamentação
apresentada para interpretar o se como “indeterminador de complemento da
passiva”, baseada em argumento de natureza histórico-comparativa, não
pode servir, naturalmente, para justificar a adequação de tal análise ao
português contemporâneo. O autor não apresenta justificativa plausível para
a diferença de análise entre os dois primeiros casos exemplificados (com os
verbos dar e alugar), de um lado, e os demais (com dormir, precisar e ser), de
outro. A afirmação final – “o que não podemos hoje expressar em tais frases
é o complemento da passiva” – seria igualmente aplicável ao sujeito. Além
disso, o próprio argumento histórico é incoerente. Afinal, se no exemplo
ilustrativo do uso do século XVI o clítico se coocorre com o “complemento
da passiva”, é porque não é essa a “integração” do verbo que está sendo
indeterminada.
Desta forma, suscita-nos que, nas ocorrências de VPS objeto deste estudo, o clítico se,
4
Conforme Bechara (1999, p. 414), “São integráveis aquelas funções sintáticas que podem ser substituídas por
pronome pessoal adverbal átono [...]. No português, são integráveis os complementos direto e indireto [...].
Assim, não podem ser integráveis o complemento relativo cuja expressão que o substitui está representada por
sintagma prepositivo seguido de pronome ele, ela, eles, elas ou isso [...]”.
16
desfocador do sujeito, aliado ao sintagma verbal, aciona no entendimento dos participantes da
construção/idéia de VPS a imagem/noção do sujeito humano (eu/ nós/ alguém) ou
experienciado como tópico local (dêitico, com acepção de aqui/ lá/ neste estabelecimento).
Vale observar que, do ponto de vista semântico e pragmático, o se não indetermina o sujeito,
apenas desvia seu foco para a ação.
Said Ali (1957, p. 104) afirma que o paralelismo entre as construções com se é tão
perfeito, que empregar análises diferentes, conforme o verbo seja ou não transitivo direto,
seria utilizar dois pesos e duas medidas. Nesse sentido, Hawad (ibid., p. 24) cita a obra de
Leitão (1995, p. 150-151) como exemplo de incoerência na distinção entre a noção de VPS e
a de sujeito indeterminado. A frase (2a) ilustra a VPS, enquanto a frase (2b) ilustra a
indeterminação do sujeito:
(2) a. Amam-se poucas pessoas neste mundo.
b. Ama-se a poucas pessoas neste mundo.
Hawad (ibidem) verifica que a distinção formal entre as estruturas acima, baseada na
transitividade do verbo, não tem correspondência do ponto de vista semântico, indo de
encontro ao que parece sugerir a nomenclatura tradicional, e se revela ilógica em virtude de o
verbo de (2b) ser tradicionalmente considerado transitivo direto (sendo a preposição opcional,
empregada expressivamente, formando o chamado “objeto direto preposicionado”) e, por
conseguinte, (2b) deveria ser um exemplo de voz passiva sintética, o que acabaria gerando
outra discrepância: atribuição da função de sujeito a um termo preposicionado.
Outra incongruência acarretada pela consideração da suposta sinonímia entre VPS e
VPA diz respeito à exigência artificial da correta concordância, em VPS, entre verbo e SN
“sujeito”. Sobre esse assunto, seguem os comentários do mestre Said Ali (1957, p. 100-101);
ao que é chamado por ele de “voz reflexiva”, entenda-se VPS e, de “voz passiva”, VPA:
tem-se dito que a nossa forma reflexiva se identifica com a voz passiva.
Apesar das restrições que todos concedem, que são forçados a conceder,
tenho a afirmação por leviana, a começar pelos exemplos banais com que a
esteiam. Aluga-se esta casa e esta casa é alugada exprimem dois
pensamentos, diferentes na forma e no sentido. Há um meio muito simples
de verificar isto. Coloque-se na frente de um prédio um escrito com a
primeira das frases, e na frente de outro ponha-se o escrito contendo os
dizeres esta casa é alugada. Os pretendentes sem dúvida encaminham-se
unicamente para uma das casas, convencidos de que a outra já está tomada.
O anúncio desta parecerá supérfluo, interessando apenas aos supostos
17
moradores, que talvez queiram significar não serem eles os proprietários. Se
o dono do prédio completar, no sentido hipergramatical, a sua tabuleta deste
modo: esta casa é alugada por alguém, não se perceberá a necessidade da
declaração e os transeuntes desconfiarão da sanidade mental de quem tal
escrito expõe ao público.
Ainda em Said Ali (ibid.) se encontra uma análise da construção com o clítico se,
articulando argumentos sincrônicos e diacrônicos para demonstrar que não se tem voz passiva
na estrutura objeto deste trabalho. Da leitura desse texto, cuja primeira edição é de 1908,
pode-se inferir que a discussão é antiga em nossa tradição gramatical, e que a principal
motivação para a postulação de uma “voz passiva sintética” por alguns gramáticos teria sido o
incômodo causado pela inexistência de um termo que pudesse assumir a função de sujeito
nessa estrutura. É o que também se constata no capítulo referente aos verbos impessoais, no
mesmo livro:
As dificuldades na análise destes casos [a) os verbos impessoais que
exprimem fenômenos da natureza; b) as orações impessoais em que se
emprega o verbo haver; c) as orações em que para não mencionar o agente
empregamos o verbo acompanhado do reflexivo se] nascem entre nós não
tanto dos fatos em si; resultam antes do estarmos sempre propensos a
subordinar e amoldar todos os fatos gramaticais a certas doutrinas
tradicionais estabelecidas a priori. Em vez de aceitarmos os fenômenos
lingüísticos tais quais se apresentam, andamos geralmente a procurar fora da
linguagem um termo reclamado por um princípio apriorístico. Fantasiamos
possibilidades, socorremo-nos de sujeitos imaginários, fingimos a sua
existência, ou então, sentindo-nos incapazes de analisar uma frase
diretamente, substituímo-la por outra, lingüisticamente diversa, e analisamos
a segunda. Em suma, não analisamos: sofismamos a análise. (p. 78)
Sendo assim, de posse de uma visão mais híbrida, ancorada não só na relação entre
aspectos formais e semânticos da linguagem, mas muito mais no ‘leque’ funcional que
compreende a consideração do contexto de uso de determinada forma; do conhecimento, da
experiência do usuário dessa forma, ou seja, das questões sociais subjacentes no (re)arranjo
gramatical realizado por ele, verificou-se que a VPS – que serve a divulgar produtos e
serviços nos centros comerciais abertos – é ‘lida’ por seu usuário (expositor/receptor) com
configuração diversa da preconizada pela gramática.
O usuário não percebe/decodifica o SN posposto ao verbo(+se) como sujeito, uma vez
que a localização desse termo é protopicamente no início de sentenças. Além disso, o sentido
paciente atribuído a ele, notado somente no momento em que se procede ao desdobramento,
prescrito pela norma, da VPS em VPA, não é alcançado. Isso se dá em virtude de tal
18
conceituação ser imposta, logo, complexa, artificial, que, embora não seja validada pelos
usuários da língua, continua sendo perpetuada pela tradição.
Deste modo, o que é enigmaticamente classificado como sujeito é reanalisado pelo
usuário como objeto, afinal, para o comerciante/cartazista/cliente, uma ação (verbo anteposto)
será desenvolvida/aplicada sobre aquele objeto gramatical, que é físico, concreto, que ali,
naquele ambiente, é modificado/transformado. Nesse caso, não há com o que o verbo
‘concordar’, construções do tipo ‘consertam-se relógios’, ‘fazem-se chaves’, praticamente só
ilustram as páginas das gramáticas e dos livros didáticos. Sobre tais construções (assim como
as de verbo no singular), vejamos o que diz Nascentes5 (1959 apud SCHERRE, 2005, p. 80) na consideração de que não correspondem à passiva sintética, e sim a estruturas ativas de
sujeito indeterminado:
Nas frases de sujeito indeterminado indicado pela partícula se, nas quais haja
objeto direto no plural, o verbo por atração concorda com o objeto direto.
Ex.: Vendem-se casas.
Tais frases são de sentido ativo e não passivo. A idé ia é que alguém, que não
se sabe quem seja, vende casas e não que casas sejam vendidas por alguém.
A prova é que na linguagem vulgar o verbo vai para o singular.
Em resumo, o tratamento tradicionalmente dado à “voz passiva sintética”, baseado na
suposta sinonímia entre a estrutura frasal assim designada e a voz passiva propriamente dita
(VPA), assim como a desconsideração da afinidade sintático-semântica entre as estruturas de
VPS e as de sujeito indeterminado com o clítico se nos remete para o problema (constatado
em PERINI, 2002) da distinção pouco nítida entre os níveis de análise formal e semântica da
gramática tradicional. A concepção da dita gramática ignora o processo de reanálise elaborado
pelo usuário da língua, embora tal processo não tenha ocorrido recentemente, haja vista a
constatação em antigas discussões acerca do tema, em publicações nada recentes. Além disso,
a reanálise efetuada não é constatada apenas em determinada região ou país, vide citação
abaixo:
Já na língua corrente, quer em Portugal, quer no Brasil, a tendência,
combatida pela disciplina gramatical e o ensino escolar, é outra. O padrão
espontâneo é de um verbo fixado no singular, para designar uma atividade
sem ponto específico de partida, ou sujeito, mas com um ponto de chegada,
ou objeto: já se escreveu muitas cartas, vê-se ao logo nuvens ameaçadoras,
etc. (CÂMARA JR.6 , 1976 apud SCHERRE, 2005, p. 81).
5
6
Nascentes, A. O idioma nacional. São Paulo: Nacional, 1938, p. 261.
Câmara Jr., J. Mattoso História e estrutura da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Padrão, 1976, p. 174.
19
As breves considerações feitas neste capítulo são fundamentais para a análise que
objetiva este trabalho. Vale ressaltar que não há aqui a preocupação em se estudar alguma
implicação específica – como concordância, argumentos, o papel do clítico se – advinda do
tratamento tradicional dado à VPS propriamente dita. Este estudo se atém à linguagem de
propaganda empregada nas ruas para a oferta de produtos e serviços que, não- marcadamente,
é exposta por meio dessa estrutura, e para a qual adotaremos a seguinte referência: VPS, haja
vista, apesar de nosso estudo partir do uso para a norma, a necessidade de se estabelecer um
ponto de partida, neste caso, a nomenclatura empregada pela tradição gramatical.
Encerramos este capítulo com uma citação de Said Ali (1970), prólogo da obra
intitulada Meios de expressão e alterações semânticas: “Os princípios de lógica em que
assenta o edifício gramatical não bastam para a manifestação de certas subtilezas do
pensamento. O espírito recorre, sempre que precisa, a expedientes mais práticos e difíceis de
explicar pelos processos tradicionais”.
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Para a análise a que nos propomos, faremos uso de duas correntes harmônicas de
estudo, uma propriamente lingüística e outra de viés mais holístico voltada para questões
concernentes a grupos sociais, a senso comum, à coletividade. No que tange à primeira,
utilizar-se-ão os princípios, conceitos e ferramentas do funciona lismo lingüístico de linha
norte-americana explicitados neste capítulo. Já no que diz respeito aos temas sociais
subjacentes à díade usuário(s)/estrutura – uma vez que ambos selecionam/são selecionados
num ambiente plural, em meio à coletividade –, aproveitar- nos-emos da noção,
desenvolvimento e status do fenômeno da psicologia social denominado representações
sociais, descrito no subcapítulo 2.2.
Vale ressaltar que não é nossa pretensão realizar uma descrição completa, exaustiva,
desse fenômeno, tampouco do campo ao qual pertence. Sendo assim, serão expostos
sintetizadamente dados e relações pertinentes ao fenômeno das representações sociais
fundamentais à análise. Destacamos também que, apesar de este trabalho se situar no âmbito
da lingüística – ciência da linguagem –, em virtude de a estrutura de VPS estar sendo estudada
em contato com o grupo (coletividade) que a emprega, sentimos necessidade de ir além de sua
abordagem estritamente lingüística. No decorrer desta pesquisa, poderá ser constatado que na
verdade os pressupostos teóricos tanto de uma teoria quanto de outra se entrecruzam. A esse
respeito, observem- se as palavras de Moscovici (2005, p. 226), psicólogo social criador do
fenômeno sobredito: “[...] o estudo dos fenômenos lingüísticos exige mais e mais o estudo do
conhecimento comum e, conseqüentemente, de suas representações”.
Esclarecemos que nos parágrafos supra temos dado lugar de destaque (maior
quantidade de extensão linear) ao fenômeno ‘da outra disciplina’, por se tratar do ‘menos
conhecido’, do elemento novo. Desse modo, ilustrando um dos subprincípios de iconicidade
disposto mais adiante, subprincípio da quantidade, que estabelece o seguinte: “quanto maior a
21
quantidade de informação, maior a quantidade de forma, de tal modo que a estrutura de uma
construção gramatical indica a estrutura do conceito que ela expressa”. (FURTADO DA
CUNHA ET AL., 2003, p.32).
2.1. FUNCIONALISMO LINGÜÍSTICO
Neste subcapítulo, são sintetizados os princípios da abordagem funcional, tomados
como fundamentos teóricos da perspectiva lingüística na presente pesquisa. São apresentadas,
em primeiro lugar, as linhas gerais da estrutura e funcionamento da linguagem segundo essa
perspectiva. Em seguida, nas seções de 2.1.1. a 2.1.4, expõe-se a conceituação das
propriedades fundamentais do modelo.
A abordagem funcionalista da linguagem se baseia no princípio de língua como
instrumento de comunicação, cujas estruturas devem ser estudadas, compreendidas e descritas
por meio de uma análise global em que se levem em consideração não só os elementos
básicos do processo de comunicação, tais como: os usuários (emissor/receptor), o efeito
produzido, o canal utilizado, a modalidade (fala/escrita); como também fatores relacionados
com a situação comunicativa, como: o contexto específico em que se insere determinado uso
(aspecto pragmático) e questões de previsibilidade de uso(s), de freqüência de certa forma no
imaginário coletivo (aspectos cognitivos). Conforme pontuado por Furtado da Cunha et al.
(ibid., p. 23), “a sintaxe não é autônoma, mas subordinada a mecanismos semânticos que
nossa mente processa durante a produção lingüística em determinados contextos de uso”.
Sobre a visão da linguagem e sua estrutura do ponto de vista funcionalista, observe-se
o resumo encontrado na obra acima mencionada (p. 29):
O funcionalismo lingüístico contemporâneo difere das abordagens
formalistas – estruturalismo e gerativismo – primeiro por conceber a
linguagem como um instrumento de interação social e segundo porque seu
interesse de investigação lingüística vai além da estrutura gramatical,
buscando no contexto discursivo a motivação para os fatos da língua. A
abordagem funcionalista procura explicar as regularidades observadas no
uso interativo da língua analisando as condições discursivas em que se
verifica esse uso. Os domínios da sintaxe, da semântica e da pragmática são
relacionados e interdependentes. Ao lado da descrição sintática, cabe
investigar as circunstâncias discursivas que envolvem as estruturas
lingüísticas e seus contextos específicos de uso. Segundo a hipótese
22
funcionalista, a estrutura gramatical depende do uso que se faz da língua, ou
seja, a estrutura é motivada pela situação comunicativa. Nesse sentido, a
estrutura é uma variável dependente, pois os usos da língua, ao longo do
tempo, é que dão forma ao sistema.
Vale ressaltar que a noção de gramática para essa corrente lingüística compreende,
conforme destaca Neves (1994, p. 112), “uma teoria geral da organização gramatical de
línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global de interação social”. Nessa
mesma obra, a autora destaca que Mackenzie (1992) afirma que “a gramática funcional tem
como hipótese fundamental a existência de uma relação não arbitrária entre a
instrumentalidade do uso da língua (o funcional) e a sistematicidade da estrutura da língua (a
gramática)” e que “[...] há uma tradição coerente da gramática funcional ligando
explicitamente construções lingüísticas a constelações pragmáticas” (p. 112-113).
Pode-se afirmar, então, que “o ponto central do enfoque funcionalista é o fato de ser a
estrutura da gramática explicada como resultado de funções de outras esferas, especialmente
os níveis cognitivos e comunicativos” (MACEDO, 1998, p. 75). Sendo assim, sentimos a
necessidade de analisar a estrutura da VPS, divulgadora/comunicadora da negociação de
produtos e prestação de serviços, dentro de seu contexto de uso, buscando, a princípio, a
emergência de uma relação natural, não-arbitrária entre sua estrutura “física” e seu
significado, sua expressão, seu potencial comunicativo.
Para isso, utilizamos traços e princípios – alguns herdados da lingüística estrutural da
Escola de Praga – desenvolvidos por autores representativos do funcionalismo lingüístico,
como: Talmy Givón, Paul Hopper, Sandra Thompson, Charles Li. São dois os princípios
fundamentais da abordagem funcionalista: o princípio da iconicidade e o princípio da
marcação. Além destes, lançaremos mão do critério de transitividade defendido por Hopper
& Thompson (1980) e do conceito de gramaticalização, processo de fixação dos fatos da
língua que de casuísticos passam a regulares por conta da repetição do uso.
2.1.1. Iconicidade
Esse princípio é definido como a correlação natural entre forma e função, entre o
código lingüístico e seu conteúdo (designatum). É sabido que desde a Antigüidade estuda-se
23
“a relação entre a língua e as coisas que ela exprime” (CÂMARA JR., 1986, p.17), sendo esse
estudo retomado por Saussure no início do século XX. Em virtude do surgimento de
numerosas críticas aos que consideravam arbitrária (não-natural) tal relação, teorias foram
atenuadas; estudos foram desenvolvidos (tanto no âmbito filosófico, psicológico, como no
lingüístico) e, desse modo, novas correntes lingüísticas foram surgindo, como a funcionalista,
que defende o caráter icônico da linguagem humana. Nesse caso, “a estrutura lingüística
revela as propriedades da conceitualização humana do mundo ou as propriedades da mente
humana”. (FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 30).
Acerca do desenvolvimento do estudo em torno do signo lingüístico, da existência de
arbitrariedade (visão estruturalista) ou motivação na relação das partes que o compõem ou na
relação nome-designação (visão funcionalista), destacamos as idéias do filósofo Peirce.
Segundo ele, “a sintaxe das línguas naturais não é totalmente arbitrária, e sim isomórfica ao
seu designatum mental” (ibid., p. 30). No entanto, até se alcançar o equilíbrio no
reconhecimento da coexistência na linguagem de princípios icônicos e princípios simbólicos,
estudiosos mais radicais surgiram postulando total correlação natural entre forma e função.
Vale observar que, para a análise a que nos propomos realizar, consideramos a versão mais
atenuada do princípio de iconicidade. Nela, esse princípio manifesta-se em três subprincípios,
apresentados a seguir, que se relacionam à quantidade de informação, ao grau de aderência
dos itens expressos e à ordenação linear dos elementos.
O primeiro subprincípio de iconicidade, nomeado subprincípio da quantidade,
sustenta que “quanto maior a quantidade de informação, maior a quantidade de forma, de tal
modo que a estrutura de uma construção gramatical indica a estrutura do conceito que ela
expressa”. (ibid., p. 32). Desta maneira, a quantidade de forma está diretamente relacionada à
quantidade de informação e a seu peso, sua complexidade; de tal modo que para enunciados
simples e previsíveis, conforme o analisado neste trabalho, “gasta-se pouco” para exprimi- los.
O segundo subprincípio de iconicidade, denominado subprincípio da integração,
contempla que os “conceitos que estão mais integrados funcional, conceptual ou
cognitivamente também se manifestam com maior integração morfossintática [...]”
(FURTADO DA CUNHA, 2000, p. 67), ou seja, a disposição em que se encontram os itens
num enunciado configura a sua disposição na mente do usuário, seu “arranjo” lingüístico
reflete seu pensamento imerso num determinado contexto e com um propósito específico.
No que tange ao terceiro e último subprincípio, da ordenação linear, postula-se “que a
informação mais importante tende a ocupar o primeiro lugar da cadeia sintática, de modo que
24
a ordem dos elementos no enunciado revela a sua ordem de importância para o falante”.
(FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 32). Sendo assim, os constituintes mais
relevantes são tematizados, ou seja, apresentados enfaticamente, de acordo com a ordem de
escritura do português, à esquerda da sentença, na primeira parte do enunciado.
2.1.2. Marcação
Esse princípio, cujo desenvolvimento remonta ao estruturalismo, mais precisamente à
Escola de Praga, embora se intitule marcação, se organiza com base num contraste binário
possibilitado pela consideração de sua “ausência”, ou seja, a não-marcação. Nesse sentido,
uma estrutura, um tipo de frase ou um dado fenômeno “x” pode ser marcada(o) em relação a
uma estrutura, um tipo de frase ou um dado fenômeno “y” correspondente [não- marcada(o)]
num contexto “w”. Para a distinção entre categorias marcadas e categorias não- marcadas, há
três critérios principais conforme consta em Furtado da Cunha et al. (ibid., p. 34):
a) complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser mais complexa
(ou maior) que a estrutura não-marcada correspondente;
b) distribuição de freqüência: a estrutura marcada tende a ser menos
freqüente do que a estrutura não-marcada correspondente;
c) complexidade cognitiva: a estrutura marcada tende a ser cognitivamente
mais complexa do que a estrutura não-marcada correspondente. Incluemse, aqui, fatores como esforço mental, demanda de atenção e tempo de
processamento.
Tornam-se necessários alguns breves esclarecimentos acerca dos três critérios. A
respeito do critério “a”, ele dá conta do ‘tamanho’ (quantidade de extensão linear) da forma
lingüística, de seu peso. Por exemplo, vejam-se sentenças afirmativas e sentenças negativas,
as negativas possuem pelo menos um item a mais que as afirmativas, ou seja, são mais
pesadas, complexas em relação às afirmativas. No que tange ao item “b”, sua descrição é
transparente, considera-se a freqüência de uso de determinada forma em relação a outra, p.ex.,
cf. Givón (1989), cláusulas-tipo ativas (mais freqüentes) X cláusulas-tipo passivas (menos
freqüentes), obviamente para tal afirmação há de se considerar o contexto, o tipo de texto.
Finalizando, o terceiro critério somente pode ser mensurado a partir da análise e aplicação dos
critérios anteriores, “a” e “b”, isto é, a complexidade estrutural tem relação com a freqüência
25
de uso da estrutura e ambas têm influência nas questões de esforço mental, demanda de
atenção e tempo de processamento.
No que diz respeito ao binarismo característico desse princípio, neste trabalho,
estaremos atentos para o que muitos autores já demonstraram: esse dualismo não dá conta de
diversos fatos da língua. Haja vista a existência de estruturas – como as estruturas negativas
apresentadas em Furtado da Cunha et al. (ibid.) – que não se opõem binariamente, mas se
distribuem num contínuo, de modo escalar, exibindo diferentes graus de marcação quanto à
freqüência de uso, à complexidade estrutural ou à complexidade cognitiva.
2.1.3. Gramaticalização
Faz-se necessário nesta introdução procedermos à conceituação e caracterização desse
fenômeno. Para tanto, adotamos as palavras de Furtado da Cunha et al. (ibidem, p. 49-50):
Esse fenômeno está associado ao processo de regularização do uso da língua.
Ou seja, relacionam-se à variação e à mudança lingüísticas. Esses processos
manifestam o aspecto não-estático da gramática, demonstrando que as
línguas estão em constante mudança em conseqüência da incessante criação
de novas expressões e de novos arranjos na ordenação vocabular. A
compreensão é a de que, do ponto de vista de sua evolução, a gramática está
num contínuo fazer-se, o que nos permite falar de uma relativa instabilidade
da estrutura lingüística. É sob esse aspecto que se deve a Hopper (1987) a
noção de “gramática emergente”, no sentido de que a gramática de uma
língua natural nunca está completa. Do ponto de vista sincrônico, entende-se
por gramática o conjunto de regularidades decorrentes de pressões cognitivas
e, sobretudo, de pressões de uso. [...] na trajetória do processo de
regularização do uso da língua, tudo começa sem regularidade, exatamente
por estar no seu começo, mas se regulariza com o uso, com a repetição, que
passa a exercer uma pressão tal que faz com o que no começo era casuístico
se fixe e se converta em norma, entrando na gramática (gramaticalização).
Vale dizer que o termo “gramática” no funcionalismo lingüístico se refere à
regularidade, à sitematização, à ritualização, além de ser parcialmente motivada e instável.
Essa descrição da gramática se relaciona com a dimensão social. Os usos gramaticalizados
dizem respeito ao conhecimento partilhado (referente ao conhecimento de mundo que as
pessoas têm); o que todos usam pode ser compreendido como gramatical, funcional. Já o
termo “discurso” se refere “às estratégias criativas utilizadas pelo falante para organizar
funcionalmente seu texto para um determinado ouvinte em uma determinada situação
26
comunicativa”. (ibid., p. 50). Entre discurso e gramática tem-se um círculo; para a realização
do discurso, utiliza-se a gramática e para sistematizar a gramática, parte-se do discurso.
Um ponto interessante a ser focado diz respeito à freqüência de uso, e conseqüente
desgaste das formas lingüísticas. Acerca do assunto, vejamos as considerações encontradas
em Furtado da Cunha et al. (1999, p. 90-92):
Se considerarmos que a hipótese básica do funcionalismo é que sobretudo o
uso da língua molda a gramática, a repetição ou freqüência de ocorrência de
um item ou construção é o mecanismo através do qual esse processo de
modelagem da língua ocorre (cf. Givón, 1979; Du Bois, 1985; Hopper,
1987; Hopper & Thompson, 1993). [...] Na literatura são arrolados fatores
como saliência perceptual, conteúdo semântico e freqüência de uso da forma
candidata à gramaticalização. Assim, do conjunto de fenômenos
correlacionados que motiva a gramaticalização, e portanto, a regularização e
fixação, a freqüência é considerada como um dos mais relevantes. Quanto
mais freqüente a forma, mais gramaticalizada ela é. [...] Nesse sentido, a
gramaticalização é entendida como um modo de rotinização da língua.
Quando uma construção deixa de ser um meio inovador de reforçar um
aspecto do discurso e se transforma em uma estratégia comum, previsível, a
freqüência com que ela ocorre indica que ela passou a ser considerada pela
comunidade lingüística como gramatical. [...] Ao estudar as conseqüências,
na sintaxe, da freqüência de ocorrência de uma forma, Bybee & Thompson
(1997) ressaltam o efeito da redução e o efeito da conservação. À primeira
vista, esses dois efeitos são incompatíveis, já que parecem condicionar
resultados opostos: a alta freqüência de uma forma promove a mudança, ao
mesmo tempo em que torna a forma resistente à mudança. Contudo, esses
dois efeitos se dão em estágios diferentes na vida de uma construção e
envolvem dois tipos de mudança de natureza muito diferente.
No que tange ao efeito da redução, em seu viés sintático, segundo os autores acima
citados, seqüências de alta freqüência de uso são processadas como uma fatia única, o que
resulta na perda de sua estrutura interna, como exemplo consta ‘xovê’ (deixa eu ver).
Ademais, “construções que são mais repetidas perdem seu valor expressivo, o que, por sua
vez, permite que elas ocorram com maior freqüência, tendo como conseqüência o
desbotamento semântico posterior, gerando um efeito de espiral”. (ibid., p. 92).
Ainda na mesma obra, além dos parâmetros relativos à freqüência e adequação
semântica das formas que mais se inclinam à regularização ou sistematização, contribui na
determinação das estruturas gramaticais o princípio de iconicidade (2.1.1). Quanto à questão
da freqüência, na obra, propaga-se que “a alta recursividade de uma estrutura nas variadas
manifestações discursivas faz com que tenda a aumentar a probabilidade dessa estrutura se
regularizar lingüisticamente”. (ibid., p. 95). Nesse caso, construções/itens repetidos em certos
27
ambientes textuais motivam determinada padronização de uso, num processo típico de estágio
inicial de gramaticalização. Segundo Oliveira (ibid., p. 97):
Estruturas lingüísticas altamente repetidas funcionam como estratégicas
automáticas, à semelhança das demais atividades de produção humana. Em
conseqüência desse automatismo, tais estratégias tornam-se cada vez mais
eficientes na interação, deixando de representar apenas uma das possíveis
alternativas de comunicação e passando a constituir a estrutura gramatical
consagrada pela comunidade lingüística.
Falta-nos verificar o segundo efeito de freqüência na sintaxe – efeito de conservação.
Segundo ele, a retomada freqüente de uma forma faz com que sua representação seja cada vez
mais fixada. Uma das conseqüências mais visíveis do efeito de conservação das estruturas
estaria nos casos de irregularidade, comprovadores da retenção pela repetição. O fato de uma
expressão se encontrar fortemente vinculada conceptual e formalmente, na representação e
fixação de uma organização semântico-sintática, indica tratar-se de um processo de
gramaticalização em pleno curso, desencadeado pela alta recursividade, pela contínua
reiteração por parte dos usuários de determinado arranjo estrutural.
A respeito dos processos de variação e mudança, observemos um resumo da
integração de ambos, visando a uma junção de perspectivas (GORSKI ET AL., 2003, p. 108):
Os estudos de gramaticalização têm por objeto o percurso de mudança de
uma forma (a variação aparece como pano de fundo), ao passo que os
estudos de variação têm por objeto a coexistência de formas com um mesmo
significado7 (cuja variação pode ser resolvida pela mudança). O que as
diferencia é o ponto focal: história de uma forma ou coexistência e
concorrência de formas [...]. Tal fato, entretanto, parece não representar um
empecilho para uma abordagem integrada dos fenômenos lingüísticos. [sem
numeração de nota no original].
Nessa obra (p. 109), consta ser plausível o duplo enfoque teórico, uma vez que ambas
as abordagens levam em consideração a língua em uso, cuja natureza heterogênea abriga a
variação e a mudança. Além disso, tanto a variação como a mudança têm relação com a
quantificação estatística, especialmente com a freqüência de uso.
Pode-se falar em variação a partir do momento em que a relação função/forma ocorre
7
No entanto, há motivação. As formas estão ‘circunscritas’ num mesmo feixe de significado, mas possuem
matizes de significação, de percepção, ou seja, há motivação para cada uma delas.
28
conforme ilustração disposta a seguir:
Forma’
Função
Forma’’
Forma’’’
Sendo assim, essas formas passam a competir pelo uso, mas seguindo padrões de
motivação distintos ou específicos. Exemplificaremos o exposto com o domínio funcional
‘primeira pessoa do plural / sentido indefinido’; para sua representação, encontram-se
algumas formas como nós, a gente, “geral” (gíria). Observa-se, portanto, que, se isso ocorre
na língua, é porque existe contexto motivador para cada uma das formas. Esse caso elucida
um dos princípios mais importantes de gramaticalização, propostos por Hopper8 (1991 apud
FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 57), denominado camadas, que diz respeito ao
fato de diferentes formas lexicais codificarem uma mesma categoria de um domínio
funcional.
Juntamente a esse princípio nos será útil o denominado especialização, que
corresponde ao estreitamento de escolhas sofridas pelas construções gramaticais.
Considerando o aspecto envolvido no exemplo acima, equivaleria à seguinte dinâmica: a
construção “a gente” (pronome), utilizada na linguagem informal, não mais se revela como
uma seleção/escolha opcional; trata-se de um mecanismo automático, involuntário. Segundo
Hopper e Traugott (1993), a especialização é manifestada por preferências textuais,
condicionadas por tipos semânticos, contextos sociolingüísticos, gêneros discursivos, entre
outros fatores. Motivações cognitivas podem estar subjacentes às especializações sofridas por
um dado item. Uma dessas motivações é representada pelo princípio de marcação. Com base
nos critérios desse princípio, é possível distribuir as variantes que integram um mesmo
domínio funcional em uma escala de menos a mais marcada.
2.1.4. Transitividade
Trata-se de uma propriedade funcional que, para a gramática tradicional, refere-se
8
HOPPER, Paul. On some principles of grammaticization. In: TRAUGOTT, Elizabeth Closs; HEINE, Bernd
(eds.) Approaches to grammaticalization. Amsterdã: John Benjamins, 1991, vol. 1.
29
basicamente a um item, o verbo. No entanto, de posse de uma visão mais ampla, atenta à
‘dinamicidade’ da língua e de suas construções, foi formulado o critério da transitividade por
Hopper e Thompson9 (1980 apud FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 37) levando-se
em consideração toda a sentença. Além disso, sua concepção de transitividade é escalar,
envolvendo um complexo de dez traços sintático-semânticos, expostos abaixo, tratados pelos
autores de modo binário, ou seja, em cada item analisado consta, cf. tabela, duas
possibilidades de interpretação (p.ex. 3. Aspecto do verbo: perfectivo ou não-perfectivo).
Acerca da aferição de natureza escalar, vale dizer que uma oração é considerada altamente
transitiva quando, em sua análise, todos os traços forem marcados positivamente.
Transitividade
alta
1. Participantes
dois ou mais
2. Cinese
ação
3. Aspecto do verbo
perfectivo
4. Punctualidade do verbo
punctual
5. Intencionalidade do sujeito
intencional
6. Polaridade da oração
afirmativa
7. Modalidade da oração
modo realis
8. Agentividade do sujeito
agentivo
9. Afetamento do objeto
afetado
10. Individuação do objeto
individuado
(FURTADO DA CUNHA ET AL., ibid., p. 37)
Transitividade
baixa
um
não-ação
não-perfectivo
não-punctual
não-intencional
negativa
modo irrealis
não-agentivo
não-afetado
não-individuado
No que tange ao primeiro traço da tabela, estabelecemos que o presente trabalho
considerará como participante todo termo argumental10 , isto é, serão participantes, além dos
complementos prototípicos (objeto direto, objeto indireto, complemento relativo), os
complementos, circunstanciais, que se relacionam a verbos locativos e de deslocamento,
como ir, chegar, morar. A título de exemplo, observemos a seguinte frase: Mônica foi à
Bahia. Nela, há dois participantes: Mônica, que contrai a função de sujeito e à Bahia, cuja
função é de complemento circunstanciador de lugar.
Os traços relacionados ao verbo da oração são três: cinese, aspecto e punctualidade.
No que concerne ao primeiro deles, observa-se no verbo da sentença a presença ou a ausência
9
HOPPER, Paul; THOMPSON, Sandra. Transitivity in grammar and discourse. Language, 56 (2): 251-299,
1980.
10
Segundo Bechara (1999, p. 412), “um termo argumental o é por motivação das características sintáticas e
semânticas da relação predicativa, e não apenas pelo conteúdo designado. Assim, uma noção de lugar como no
Brasil pode funcionar como argumental ou complemento na oração (1), e como não-argumental na oração (2):
(1) Ele mora no Brasil. / (2) Ele trabalha no Brasil.”
30
de movimento/ação; o verbo ir, p. ex., em sua acepção prototípica, ou seja, básica, é de ação.
Quanto ao aspecto do verbo, diz-se perfectivo para os verbos no pretérito perfeito e no
pretérito mais-que-perfeito; não-perfectivo, para os demais. Já quanto à sua punctualidade, é
punctual o verbo que exprime uma ação acabada, como: pular, bater, chutar. Sendo, então,
não-punctual verbo cujo sentido seja abstrato, processual (em curso), p. ex.: treinar, amar, ter.
Em relação ao sujeito, existem três traços, ao primeiro deles (participantes) já foi
reservado um parágrafo, no entanto, para os dois restantes, intencionalidade e agentividade,
acreditamos serem dispensáveis explicações devido à transparente nomenclatura. Sendo
assim, passamos a tecer considerações sobre os traços referentes à oração, são eles: polaridade
e modalidade. O primeiro deles diz respeito ao status afirmativo ou negativo da oração e o
segundo, ao modo realis, ou seja, modo indicativo, ou irrealis, mais relacionado ao modo
subjuntivo ou aos sentidos de probabilidade, hipótese, dúvida.
Finalizando, mencionamos os traços reservados à análise do objeto: afetamento e
individuação. Este último diz respeito à sua caracterização, especificação, definição. Sendo
assim, se o objeto da oração é singular e definido, diz-se que é individuado, do contrário, é
não- individuado. Passando para o primeiro traço, entenda-se afetamento no sentido de
modificação (transformação), isto é, um participante realiza uma ação cuja conseqüência é a
modificação do objeto, veja-se a oração Mônica mordeu a maçã; nela, o participante realizou
uma ação afetando/modificando o objeto, a maça – singular e definido, ou seja, individuado.
Hopper e Thompson associam o conceito de transitividade à função dircursivocomunicativa, ou seja, a transitividade oracional é relacionada a uma função pragmática.
Conforme Furtado da Cunha et al. (2003, p. 38), “o maior ou menor grau de transitividade de
uma sentença reflete a maneira como o fa lante estrutura o seu discurso para atingir seus
propósitos comunicativos”. A seleção e organização da(s) sentença(s) refletem os objetivos e
necessidades do usuário no processo interacional.
2.2. FENÔMENO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Durante o desenvolvimento do trabalho – de posse de uma maior quantidade de dados,
de entrevistas com comerciantes e cartazistas usuários da estrutura e inclusive com seus
clientes reais ou potenciais –, suscitou-nos, a partir da análise e interpretação dos
questionários, a necessidade de leitura e pesquisa acerca de uma disciplina ou campo de
31
estudo que desse conta de questões tais como ritualização, simbolismo, representatividade no
âmbito discursivo (comunicacional) e circunscritos na coletividade, no social.
Numa incursão a fim de atender a esse propósito, verificamos, no campo da psicologia
social, um estudo interessante sobre representações sociais cuja aplicação acreditamos ser
produtiva para o desenvolvimento e compreensão da estrutura analisada. Observe-se uma
citação do autor que introduziu o referido conceito, Moscovici (2005, p. 10):
As representações são entidades quase tangíveis. Elas circulam, se
entrecruzam e se cristalizam continuamente, através duma palavra, dum
gesto, ou duma reunião, em nosso mundo cotidia no. Elas impregnam a
maioria de nossas relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou
consumimos e as comunicações que estabelecemos [...].
Na obra de Moscovici (ibid.), Gerard Duveen, na parte introdutória, situa-nos em
relação ao autor e à origem e formação das representações sociais. Esse conceito se originou
na Europa com a publicação feita por Moscovici (1961, com uma segunda edição, bastante
revisada, em 1976) de seu estudo La Psychanalyse: Son Image et Son Public. Moscovici, no
que tange aos objetivos e ao escopo da psicologia social, em que se inserem as representações
sociais, relaciona-se à corrente do pensamento sociopsicológico, isto é, leva em consideração
em seus estudos de fenômenos sociais conceitos psicológicos, bem como sociológicos;
considera a disciplina como uma categoria mista.
Acerca dos fenômenos sociais que nos permitem identificar de maneira concreta as
representações e trabalhar sobre elas, podemos afirmar que são as conversações11 , dentro das
quais se elaboram os saberes populares e o senso comum, que melhor atendem à finalidade.
Ressalte-se que não só elas expressam as representações sociais, no entanto, consta em
Moscovici (ibid.) que a linguagem desempenha um papel significativo no que tange a esse
estudo. Muitos estudiosos, inclusive lingüistas, como Humboldt e Chomsky, são mencionados
em Guareschi e Jovchelovitch (1994, p. 41) como contribuintes da teoria das representações
sociais.
O papel e a influência da comunicação no processo da representação social ilustram a
maneira como as representações se tornam senso comum (conhecimento partilhado,
entrelaçado com nossa linguagem). Elas entram para o mundo comum e cotidiano em que nós
habitamos e circulam na mídia que lemos e olhamos. Em síntese, as representações
sustentadas pelas influências sociais da comunicação constituem as realidades de nossas vidas
11
Discurso.
32
cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as associações com as quais nós
nos ligamos uns aos outros. De acordo com Moscovici (ibid., p. 51):
Em longo prazo, a conversação (os discursos) cria nós de estabilidade e
recorrência, uma base comum de significância entre seus praticantes. As
regras dessa arte mantêm todo um complexo de ambigüidades e convenções,
sem o qual a vida social não poderia existir. Elas capacitam as pessoas a
compartilharem um estoque implícito de imagens e de idéias que são
consideradas certas e mutuamente aceitas. O pensar é feito em voz alta. Ele
se torna uma atividade ruidosa, pública, que satisfaz a necessidade de
comunicação e com isso mantém e consolida o grupo [...].
Uma noção importante que compõe questões relativas às representações sociais diz
respeito à legitimação dos conhecimentos12 e das crenças13 cujos aspectos estão relacionados
à necessidade de determinado grupo ou subgrupo social “se destacar” estabelecendo uma
unidade de poder, valores e idéias, assim legitimando, autenticando suas crenças e valores. Na
tentativa de regulação do conhecimento e da crença, emergem as representações sociais.
Segundo Moscovici (ibid., p. 17) “[...] O fenômeno das representações sociais pode, neste
sentido, ser visto como a forma como a vida coletiva se adaptou a condições descentradas de
legitimação. [...] o senso comum foi uma fonte importante de surgimento de novas formas de
conhecimento e crença no mundo moderno [...]”.
Acerca do “objetivo” das representações sociais, observemos a seguinte citação
encontrada em Moscovici (ibid., p. 20):
Moscovici argumenta que “o propósito de todas as representações é tornar
algo não-familiar, ou a própria não-familiaridade, familiar” (cf. capítulo 1).
A familiarização é sempre um processo construtivo de ancoragem14 e
objetivação15 (cf. capítulo 1), através do qual o não-familiar passa a ocupar o
lugar dentro do nosso mundo familiar. [...]. As representações sociais
emergem, não apenas como um modo de compreender um objeto particular,
mas também como uma forma em que o sujeito (indivíduo ou grupo) adquire
uma capacidade de definição, uma função de identidade, que é uma das
maneiras como as representações expressam um valor simbólico [...]. Nas
12 e 13
Ambos são conceitos opostos que formam um par, como razão e fé. “Se é verdade que o senso comum é
uma forma de conhecimento, ao mesmo tempo ele se mostra contendo numerosas crenças. Como podemos
reconhecê-las? O simples fato de que algumas proposições são assumidas como dadas e por isso se acredita
nelas, é um indicador”. (Moscovici, ibid., p. 344).
14
Ancoragem, ancorar é classificar e dar nome a alguma coisa. “Coisas que não são clas sificadas e que não
possuem nome são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras” (ibid., p. 61).
15
Objetivação, “objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma idéia, ou ser impreciso; é reproduzir um
conceito em uma imagem” (ibid., p. 71). Desse modo, o que era não-familiar torna-se real. A representação
realiza.
33
palavras de Denise Jodelet [...] a representação é uma “forma de
conhecimento prático [savoir] conectando um sujeito a um objeto” (Jodelet,
1989: 43) e ela continua dizendo que “quantificar esse conhecimento como
‘prático’, refere-se à experiência a partir da qual ele é produzido, aos
referenciais e condições em que ele é produzido e, sobretudo, ao fato de que
a representação é empregada para agir no mundo e nos outros” (Jodelet,
1989: 43-44). [sem numeração de nota no original].
Esse conhecimento, conforme se observa em Moscovici (ibid., p.9), “é sempre
produzido através da interação e comunicação e sua expressão está sempre ligada aos
interesses humanos que estão nele implicados”. Assim, ele se manifesta a partir do momento
em que as pessoas se cruzam e trocam experiência, manifesta-se no mundo onde as
necessidades, propósitos e interesses humanos encontram expressão, “é produto de um grupo
de pessoas que se encontram em circunstâncias específicas, nas quais elas estão engajadas em
projetos definidos” (p.9).
No que concerne à origem, formação e status das representações sociais, veja-se a
citação abaixo:
[...] o status dos fenômenos da representação social é o de um status
simbólico: estabelecendo um vínculo, construindo uma imagem, evocando,
[...] partilhando um significado através de algumas proposições
transmissíveis e, no melhor dos casos, sintetizando em um clichê que se
torna um emblema. (ibid., p. 216)
Segundo Moscovici (ibid., p. 46), as representações sociais possuem duas faces, que
são interdependentes, “como duas faces de uma folha de papel”: a face icônica e a face
simbólica. Ele afirma que “a representação iguala toda imagem a uma idéia e toda idéia a uma
imagem”. O que corresponderia à seguinte mecânica: a co-ocorrência de dois processos de
compreensão/conhecimento acerca de uma palavra, p.ex., no momento em que é dita, lida ou
‘discutida’. A essa palavra são feitas associações de acordo com a experiência da pessoa, dela
se depreendem conceitos, idéias, personagens (da história, real ou fictícia; de um determinado
campo de estudo; etc.); enquanto também aparecerá a respeito dela um tipo definido,
facilmente imaginável, caracterizado por certos traços.
Resumindo, as representações sociais têm como finalidade primeira e fundamental
tornar a comunicação, dentro de um grupo, relativamente não-problemática, assim, reduzindo
o “vago” (denominação dada por Peirce; ibid., p. 208). Estabelecendo, pois, uma relação de
familiaridade entre os indivíduos daquele grupo, fazendo parte de seu imaginário coletivo,
34
tornando determinadas idéias, expressões repetitivas para/em aquele contexto, assim,
ritualizando-as. Nesse sentido, é possível observar a correlação existente entre a definição de
representação social e o conceito de gramática no funcionalismo lingüístico. Primeiramente
pelo fato de se basearem na interação social para a formulação de suas teorias. Ademais,
ambas as concepções são explicadas como resultado de funções de outras esferas,
especialmente os níveis cognitivos e comunicativos. Desse modo, nas duas teorias, está clara
a noção de convenção social, de ritualização, como se a linguagem fosse um tipo de
representação; sendo, então, a estrutura de VPS16 um exemplo do rito, da representação
lingüística e, portanto, social.
16
Cf. subcapítulos de análise 4.1, 4.2 e 4.3.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Consideramos que a perspectiva teórica adotada no presente trabalho permite-nos lidar
de modo mais eficiente com os aspectos semântico-pragmáticos e cognitivos da estrutura
comunicacional mais freqüente para a oferta de produtos e serviços encontrada no centro do
município de Niterói. Sendo assim, caracterizar essa estrutura, com base no aparato teórico da
lingüística funcional, possibilita- nos buscar motivações para sua ocorrência no texto de
propaganda de rua. Além disso, por ser a abordagem da língua adotada pelo funcionalismo de
feição transdisciplinar, uma vez que são incorporadas à sua teoria variáveis da sociolingüística
laboviana, outras da psicologia cognitiva, da psicolingüística, da semântica, da sintaxe
tradicional; despertou- nos aliar a estrutura coletada à reflexão/experiência dos seus usuários,
ao porquê de, num conjunto de opções para o que se pretende expressar, se selecionar uma, a
VPS.
Para tanto, estabeleceu-se um contato com os usuários17 da construção VPS através de
uma breve entrevista para o preenchimento de um questionário, disposto no ANEXO I – A.
Da análise do teor das respostas emergiu a hipótese central deste trabalho, constante na
INTRODUÇÃO e explicitada na parte referente à análise (capítulo 4). Posteriormente,
ampliamos esse contato, buscando informações dos usuários das outras formas encontradas
codificando a mesma categoria de domínio funcional da VPS, e dos receptores18 dessas
ocorrências.
Para esta pesquisa, entrevistamos sessenta pessoas entre usuários e receptores das
ocorrências coletadas, conforme anexos I (A, B e C) e II. No ANEXO I – A, constam os
questioná rios
17
18
dos
informantes
usuários
da
VPS;
no
ANEXO
comerciantes/prestadores de serviço e cartazistas.
transeuntes, comerciantes reais ou potenciais; aquele que lê/percebe a estrutura.
I
–
B,
estão
36
questão e resposta dos usuários das ocorrências de nominalização e, no I – C, consta a
interação com os usuários da estrutura de verbo na 1ª pessoa do plural. Do ANEXO II faz
parte a entrevista realizada com os receptores dessas ocorrências.
Neste trabalho, parte-se de um corpus escrito, cujas formas lingüísticas – VPS – são
produzidas com antecedência, haja vista o cuidado na apresentação e disposição estética da
maioria das placas. Não obstante esse fato, não há o mesmo cuidado no que diz respeito à
norma padrão; os usuários da VPS, de um modo geral, independente do grau de escolarização
e mesmo em modalidade escrita, conforme constatação de pesquisas já realizadas sobre o
tema, empregam-na diferentemente do que a gramática tradicional preconiza. Por esse
motivo, desconsiderou-se, no momento da análise, o grau de escolaridade do produtor da
mensagem.
Neste capítulo, são expostos os seguintes procedimentos adotados para a pesquisa de
campo; antes, durante e após a mesma: a preparação do questionário; o surgimento de
problemas e dificuldades; a abordagem e o perfil dos informantes; a composição do corpus,
suas características. Em seguida, seguem os procedimentos empregados na análise, assim
como sua distribuição organizacional.
3.1. PESQUISA DE CAMPO
3.1.1. Elaboração do questionário
Para o objetivo deste trabalho, elaborou-se um questionário, constante já com as
respectivas respostas no ANEXO I – A, muito breve, a fim de não desestimular o informante,
que está em seu ambiente de trabalho, muitas vezes ocupado atendendo seus clientes. Esse
questionário possui três partes: a primeira contém informações sobre o local; a segunda, sobre
o informante e, na terceira parte, foram inseridas três perguntas visando à estrutura de VPS
empregada na placa (ou congênere) do estabelecimento comercial do entrevistado. No que diz
respeito à sua aplicação, achamos mais prático e adequado anotar as respostas fornecidas em
vez de gravá- las em face de os informantes se encontrarem em local público – vias urbanas ou
estabelecimentos comerciais abertos, sem restrição de público –, ou seja, ambientes
conturbados e barulhentos.
37
Num segundo momento, após a constatação da existência de outras ocorrências
divulgadoras da venda de produtos e oferta de serviços, tratamos de estabelecer contato
também com esses usuários. No entanto, como o foco do nosso trabalho recai sobre a
estrutura de VPS, ativemo-nos a uma única questão, à primeira pergunta do questionário
dirigido aos usuários de VPS: por que você resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para
fazer sua propaganda? No sentido de facilitar nossa comunicação e chamar a atenção do
informante comerciante para as diferentes propagandas, muitas vezes nos víamos obrigados a
reformular tal pergunta: por que você usou essa frase e não esta, ‘conserta-se peças’?
(sempre ilustrada com paridade à do estabelecimento) – as perguntas assim como as respostas
constam nos anexos I – B e I – C.
Ademais, contatamos os interessados reais e potenciais nos produtos/serviços
ofertados, a eles eram mostradas as três ocorrências coletadas: VPS, nominalização e estrutura
de tópico verbo na primeira pessoa do plural. Esses informantes deveriam selecionar uma no
caso hipotético de terem de divulgar a comercialização de produto(s) ou a prestação de
serviço(s). Tal interação encontra-se exposta no ANEXO II.
Desse modo, utilizamos para a análise vinte questionários de VPS, seis informações
advindas de cartazistas, dez questionários de nominalização, quatro questionários de verbo na
primeira pessoa do plural e vinte entrevistas com os receptores das ocorrências cole tadas.
3.1.1.1. “Pseudo” Dificuldade na questão central
Em relação à questão central: por que você escolheu essa frase (ou esses dizeres) para
fazer sua propaganda?, que compõe a primeira parte da pergunta 3.1, para os entrevistados
pareceu um tanto complexa de tão óbvia, haja vista responderem com uma outra pergunta:
“como assim?” e, tão logo a completarmos: buscou em alguma gramática ou manual de
propaganda, alguém a sugeriu ou a viu escrita em algum lugar?, responderem rapidamente:
“ora...da minha cabeça”, “do que eu faço”, “do meu trabalho”.
Destaque-se que, num primeiro momento, a conceituação dos informantes centrada
neles próprios pareceu-nos um problema para a análise, pois, a princípio, só conseguíamos
interpretá- la como puramente egocêntrica, pois, para nós, mostravam-se conscientes de que,
embora não possuíssem alto grau de escolaridade, eram capazes de formular suas propagandas
tão satisfatoriamente que se faziam entender por seus clientes. A partir de investigação mais
38
detida, observando e comparando essas respostas, pensamos que esse tipo de retorno poderia
nos levar a outros indícios, conforme expostos na parte inicial deste trabalho, e que
corresponde à nossa hipótese.
3.1.2. A abordagem
No que tange à abordagem dos pequenos comerciant es e prestadores de serviço, fez-se
necessário, devido a experiências anteriores de registro de cartazes/placas/tabuletas, que nós
nos apresentássemos tal como estudantes (prototípicos), roupas simples, mochila nas costas,
declaração da instituição nas mãos, para não que não fôssemos confundidos com algum
representante de órgão fiscalizador. Antes de procedermos às perguntas, nós nos
apresentamos, expondo algumas informações acerca do trabalho e da instituição, sem
mencionarmos o objetivo, de que muitos desconfiavam se tratar de mais uma “caça aos
erros”, provavelmente, por analogia a trabalhos desse tipo solicitados por muitos docentes aos
alunos do ensino fundamental e médio.
3.1.3. O perfil dos informantes e dos estabelecimentos
Acerca dos informantes usuários, todos são pequenos comerciantes e prestadores de
serviço cujos pontos são antigos e sem nenhuma benfeitoria. No entanto, todos possuem
cartazes aparentemente não- improvisados, preparados com antecedência, acusando uma
preocupação estética, que posteriormente será comentada.
Notou-se, durante a pesquisa de campo, que aqueles que somente vendem um produto
específico, ou seja, não prestando serviços relativos àquele produto, não utilizam a estrutura
de VPS, tampouco as demais coletadas, de nominalização e de verbo na primeira pessoa do
plural, exceto no caso de o objeto da venda, e extensivamente do aluguel, ser “sala(s)”,
“loja(s)”, “casa(s)”, em que se verifica o uso da VPS. Vale dizer, então, que, em
estabelecimentos especializados na venda de determinado produto, p. ex., lojas de roupas, de
brinquedos, de produtos por R$ 1,99, etc., não foram encontrados registros de VPS como
meio de propaganda, talvez, pelo fato de já divulgarem seus produtos, através do nome da
39
loja, constante no letreiro, ou, visivelmente, através dos próprios produtos dispostos na
vitrine.
Já a respeito dos informantes receptores, possuem perfil muito variado. Uma vez que
os estabelecimentos oferecem serviços muito peculiares, dificilmente encontrados em
shoppings; pessoas de classes sociais variadas, mesmo que indiretamente através de terceiros,
procuram os produtos ou serviços dispostos nesses lugares.
3.1.4. Corpus
Buscamos compor um corpus com ocorrências de VPS, utilizadas com o fim de
divulgação de produtos e serviços, registradas no centro do município de Niterói. Nessa
composição, também foram incluídas outras duas ocorrências, uma de estrutura de
nominalização e outra contendo verbo na primeira pessoa do plural, empregadas com o
mesmo propósito, mas com contexto motivador próprio conforme verificamos na interação
com seus usuários e receptores.
Interessou-nos constituir esse tipo de corpus por considerarmos, tal como Ferdinand
Brunot (PINTO, 1996, p.10), abaixo, tais escritos relevantes, pois fazem parte de uma
atividade comunicativa, social, comercial. E por que não cultural19 ? Já que se pode dizer, com
base em nossos trabalhos anteriores, que onde há pequenos comerciantes e prestadores de
serviço, há também o emprego da estrutura de VPS:
A cada dia aparecem, aos milhares, nos jornais, indicações de todo tipo,
aparecem nas ruas, em tabuletas, por toda parte. Não se deve acreditar que se
trata de uma forma inferior de linguagem; essas indicações desempenham,
na vida, um grande papel e exercem uma sensível influência no
desenvolvimento da língua. (...) contribuem fortemente para as mudanças do
léxico (...) não deixam de atuar sobre a sintaxe (...).
Apesar de o corpus ser constituído de linguagem de propaganda, não apresenta as
características citadas por Sandmann (2002, p.12) como a “persuasão”, o “convencimento”, o
“levar à ação por meio da palavra”. Conforme o autor, a linguagem de propaganda se
19
Complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações (...) transmitidos
coletivamente, e típicos de uma sociedade. (Ferreira, 1993).
40
distingue “(...) pela criatividade, pela busca de recursos expressivos que chamem a atenção do
leitor (...) nem que para isso se infrinjam as normas da linguagem padrão (...)”.
Em relação a essas características, vale ressaltar que, quanto à infração à norma
padrão, com base nas respostas dos informantes, não há essa consciência e, no que diz
respeito à criatividade, aos recursos expressivos, destacamos a uniformidade no que tange à
organização estética das placas e cartazes registrados. Em sua maior parte, enfatiza-se –
através de algum efeito criativo, como a alternância de cores, o efeito sublinhado – o
composto verbo+se.
Se por um lado não se verificam fortemente as características básicas da linguagem de
propaganda as quais, em geral, são visualmente constatadas em anúncios variados de contexto
diverso do da VPS, por outro, fazem-se presentes alguns de seus recursos, como a
simplicidade estrutural e a topicalização, explicitados no momento da análise. Isso,
provavelmente, se deve ao fato de existir, no contexto dos centros comerciais abertos (de rua),
uma forma peculiar de propaganda, constituída de uma linguagem muito própria, composta de
uma estrutura pronta, cristalizada, que supre todo e qualquer recurso ou efeito descritos como
inerentes à linguagem de propaganda.
Resumindo, para o estudo proposto, fez-se necessário um trabalho de campo pelas ruas
do centro de Niterói, possibilitando a composição de um corpus próprio, composto de
linguagem de propaganda, registrado em fotografias dispostas nos anexos de III a V.
Ademais, no decorrer desse trabalho, de composição, deparamo-nos com algumas
dificuldades não antevistas, expostas a seguir.
3.1.4.1. Dificuldades na composição
A respeito da busca a essas estruturas, experimentamos certa dificuldade, haja vista a
localização eleita para a coleta das ocorrências, o centro do município de Niterói, com grande
fluxo de pessoas. Além disso, deparamo-nos com outras ocorrências distintas das de VPS
usadas nas ofertas de produtos e serviços. Neste último caso, embora o foco do trabalho seja a
forma lingüística VPS, procuramos registrar todos os usos significativos encontrados. Em
virtude da primeira complicação mencionada aliada à falta de recurso digital, um dos registros
fotográficos (nº 9 – ANEXO III: aluga-se lojas) se apresenta falho. Alguns outros, afastados,
distantes. Ainda que seja possível lê-los, faremos constar aqui suas ocorrências: registro 8
41
(ANEXO III): consertos e colocação de fechaduras aberturas carros cofres portas cópias de
chaves mult lock... amola-se tesouras alicates facas serrotes etc.; registro 26 (ANEXO IV):
consertos maqu. fotográficas flashes binóculos; registro nº 27 (ANEXO IV) – desfocado:
afiação de serras. Afora esses, há dois registros que não constam nos anexos em
conseqüência de terem apresentado defeito durante a revelação: Conserta-se bolsas e
calçados e Vendas e Consertos de Roupas, encontrados na Rua da Conceição, 101, slj. 34 e
slj. 31, respectivamente.
3.1.4.2. Ocorrências
No decorrer da coleta da ‘estrutura- foco’, foram encontradas difundindo a oferta de
produtos e serviços nas ruas do centro de Niterói ocorrências de nominalização e de verbo na
1ª pessoa do plural. Deste modo, procedemos à coleta dos três tipos de ocorrência
independentemente da proposta inicial pairar apenas sobre a construção de VPS. No intuito de
facilitar a referência a esses dados principalmente durante a análise, doravante
denominaremos N a ocorrência de nominalização e VPPP a ocorrência de verbo na primeira
pessoa do plural.
Após o registro das formas mencionadas, buscamos catalogá- las organizando-as da
seguinte forma: em três grupos, o grupo I contendo os registros de VPS (ANEXO III); no
grupo II, incluem-se os registros de nominalização (ANEXO IV) e, fazendo parte do grupo
III, estão os registros de verbo na 1ª pessoa do plural (ANEXO V). No que diz respeito à
localização dos registros, no próprio questionário, constam as ruas ou avenidas em que
estão/estavam expostos.
Verificamos que, mesmo com a existência de propagandas híbridas, ou seja, contendo,
num mesmo cartaz ou mesmo estabelecimento, mais de um tipo de ocorrência (cf. , p. ex.,
registros 8, 14, 15, 16, 19 e 20 – ANEXO III), a estrutura de VPS tem lugar de destaque nas
ruas. Até mesmo em virtude de as respostas dos entrevistados apontarem para essa direção.
Além disso, fazemos constar que, pela alta recursividade à estrutura de VPS, suscitou-nos a
falta de necessidade no que tange à coleta de maior quantidade de ocorrências.
Vale destacar que quase não foram vistas, pelo local onde foi realizada a coleta,
estruturas com verbo na primeira pessoa do plural desempenhando a função já referida. Por
esse motivo, separamos do grupo II (N) dois registros nos quais consta a ocorrência de VPPP
42
junto a ocorrências de N. Inclusive a visualização da ocorrência de VPPP (fabricamos
alianças), no registro 28 (ANEXO V), está prejudicada. Ademais, assinalamos que não
constam nos anexos dois registros escritos (ou seja, não fotografados) das ocorrências de
VPPP: Lavamos e tingimos Carpetes Tapetes Cortinas Estofados Edredons Cobertas Roupas
em geral – encontrado na Rua da Conceição, 169 – e Compramos filmes – Rua Coronel
Gomes Machado, 62.
3.2. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
No intuito de esclarecer quanto aos aspectos semântico-pragmáticos e cognitivos da
estrutura de VPS, representativa da propaganda de produtos e serviços ofertados nas ruas do
centro de Niterói, partiu-se para uma análise de cunho funcionalista, munida dos seguintes
conceitos (cuja descrição consta no capítulo 2) desenvolvidos por essa corrente lingüística:
iconicidade, marcação e transitividade. Vale ressaltar que o fenômeno da gramaticalização
foi reservado à análise disposta no capítulo OUTRAS OCORRÊNCIAS (5) e no subcapítulo
ASPECTOS FUNCIONAIS E REPRESENTACIONAIS DA VPS (4.3). E que, quanto aos
parâmetros de transitividade, por vezes, foram utilizados na análise de maneira diversa da
preconizada por seus autores devido às características do ‘texto’ componente do corpus:
atípico, de propaga nda, disposto nas ruas.
Vale destacar que a análise foi realizada por amostragem, tendo em vista o caráter
recursivo da estrutura e do serviço ou produto oferecidos. O procedimento adotado para a
análise, levou em consideração, a hipótese fundamental deste trabalho, constante na seção
introdutória, buscando-se inferir o(s) significado(s) que estaria(m) em jogo no caso em
questão e, portanto, as motivações que possivelmente se encontrariam subjacentes à opção
dos usuários pela forma VPS. Para tanto, recorremo- nos não só do aparato do funcionalismo
lingüístico, como também do fenômeno das representações sociais (cf. subcapítulo 2.2). Tal
processo foi desenvolvido e explicitado nos subcapítulos 4.1 a 4.3. Além disso, observamos a
similaridade entre a forma e a funcionalidade da VPS e a forma e a funcionalidade da
construção de sujeito indeterminado com o pronome se.
A análise da VPS (capítulo 4) foi dividida em três subcapítulos: ASPECTOS
FUNCIONAIS DA VPS (4.1); ASPECTOS REPRESENTACIONAIS DA VPS (4.2) E
ASPECTOS FUNCIONAIS E REPRESENTACIONAIS DA VPS (4.3). Ficando reservado ao
43
capítulo OUTRAS OCORRÊNCIAS (5), a análise breve das formas N e VPPP. Assinalamos
que a tripartição no exame dos dados referentes à VPS é um procedimento analítico que não
deve levar a perder de vista o fato de que os três tipos de análise se correlacionam. Essa
divisão, portanto, foi realizada apenas com vistas à organização dos critérios de análise e de
seus indícios ou resultados.
4. ANÁLISE DA VPS
4.1. ASPECTOS FUNCIONAIS
Com vistas a lançar luz sobre os aspectos semântico-pragmáticos – que se relacionam
ao modo como o falante organiza seu texto e, conseqüentemente, ao significado que assim se
articula – e cognitivos – ligados à suposição geral de que “a estrutura lingüística revela as
propriedades da conceitualização humana do mundo ou as propriedades da mente humana”
(FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 30) – da estrutura de VPS representativa da
propaganda de produtos e serviços ofertados nas ruas do centro de Niterói, partiu-se, neste
subcapítulo, para uma análise de cunho funcionalista.
Sob esse viés, a estrutura de VPS parece refletir de algum modo a função por ela
desempenhada, a estrutura da experiência daqueles usuários e seus propósitos comunicativos.
Nesse sentido, para a explicitação do caráter icônico da forma lingüística VPS, observemos as
seguintes frases (ANEXO III):
Amola-se alicates facas tesouras
Troca-se pulseiras pinos e baterias de relógios
Afia-se facas tesouras alicates espátulas de unha
No que tange ao conjunto das partes dessas construções, compreendendo o seu
“tamanho” (extensão); a incorporação e o arranjo dos seus itens; suas propriedades e
parâmetros sintático-semânticos, analisaremos o primeiro atributo mencionado, condizente
com a quantidade de extensão linear da estrutura. Para tanto, também levaremos em
consideração a quantidade de participantes da construção, correspondente ao primeiro
45
parâmetro do conceito de transitividade, desenvolvido por Hopper e Thompson (1980),
conforme consta em Furtado da Cunha et al. (ibid., p. 37).
Constata-se, nas frases transcritas, que o usuário da língua – considerando, nesse caso,
o próprio sujeito “comerciante” e o profissional responsável pelos dizeres veiculados em
tabuletas, painéis ou congêneres – seleciona a estrutura, tradicionalmente tratada como VPS,
para registrar sua mensagem, pois capta a necessidade de imprimir a ela caráter sintético e
prático, que a torne capaz de ser apreendida de passagem por um possível interessado nas
mercadorias e serviços oferecidos.
Nessas ocorrências, o sujeito expresso raramente aparece. Segundo Pinto (1996), o
próprio caráter do texto recomenda sua indefinição, de forma que é bastante rara a freqüência
de estruturas com o sujeito implícito na desinência verbal, como em Amolamos/afiamos facas
tesouras... ou Trocamos pulseiras pinos... O sujeito, para o usuário da língua, sendo
obviamente aquele que anuncia, pode ser dispensado no texto, “desfocado” na mensagem.
Dessa forma, torna-se irrelevante a questão da concordância verbal, sendo, por conseguinte, o
verbo encontrado no singular com sintagma nominal (SN) plural posposto.
O comum, portanto, é reduzir-se ao essencial, o verbo e seu argumento, nesse caso,
objeto direto. Assim, a visão tradicional que postula um SN sujeito paciente com base na
sinonímia entre VPS e VPA, tornando a apreensão da estrutura complexa e arbitrária, é
desconsiderada pelo usuário. Ele economiza nos recursos gramaticais por ser sua idéia
(mensagem) simples, coerentemente, expressa por uma construção simples, objetiva e direta.
Além disso, trata-se de um "pensamento/estrutura" esperado, já que faz parte da consciência
coletiva como representante desse tipo de linguagem (de propaganda), no contexto das ruas,
logo, sendo expresso com “mecanismo morfológico gramatical menos complexo”
(FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003, p. 32). Manifesta-se, assim, o subprincípio icônico
da quantidade, que diz respeito à correlação entre a quantidade de material lingüístico de
codificação e a estrutura do conceito expresso por esse material.
Vale destacar a questão do clítico se. Qual o propósito de seu emprego na ‘estruturaobjeto’ deste trabalho? O usuário não estaria "descomplexizando" de fato se optasse por
omiti- lo, já que do mesmo modo a construção não seria sentida como passiva, mas como de
sujeito indeterminado, nos termos citados por Pinto (1996): X (sujeito não mencionado) +
verbo na 3ª pessoa do singular + OD (exs. transfere o ponto, vende apartamentos)? Ambas as
formas contêm a mesma idéia básica: de indeterminação ou, melhor dizendo, de
desfocamento do sujeito. No entanto, não é o que se verifica nas ruas, haja vista a alta
recorrência à forma de VPS e a ausência de registros tais como os do exemplo anterior. O que
46
se constatou como resposta às questões levantadas no questionário aplicado foi a presença de
ocorrências de nominalização, que não possuem o se: consertos e colocação de fechaduras.
Isso se deve sem dúvida à existência de motivações na seleção de uma ou outra forma para o
desempenho de determinada(o) função/propósito. E, com base nas entrevistas, observamos
que os comerciantes, cartazistas e clientes, quando refletem sobre divulgação de produtos e
serviços oferecidos por pequenos estabelecimentos situados nas ruas, a forma lingüística
primeiramente selecionada é a de VPS.
Nessa construção, o se representa semântica e pragmaticamente o desfocamento do
sujeito com traço "+ humano" (representado por um ente humano) (IKEDA, 1980, p. 115). A
construção verbo+se ativa na mente das pessoas a idéia/imagem da realização de ação, ou
melhor, de alguém que faz alguma coisa, embora o indivíduo que desempenha o processo
compreendido no verbo apareça num segundo plano, posto que a ordenação da estrutura com
verbo à esquerda (primeira informação codificada) faz recair o foco na ação e, posteriormente,
nos objetos que sofrem essa ação.
Sendo assim, em nossa análise, estão presentes na estrutura, de acordo com a função
que essa desempenha, dois participantes (traço de transitividade). Além do SN interpretado
pelo usuário como objeto; pragmaticamente, o sujeito também se faz presente através da
construção verbo+se. A partir do momento que as pessoas vêem/lêem essa construção,
codificam que alguém amola, troca, afia, ou seja, seria como se o usuário, ao entrar em
contato com a VPS, já a “lesse” em termos mais amplos, no entendimento de que um
“sujeito”, irrelevante ou pressuposto para a situação comunicativa, vai praticar uma ação que
recairá num determinado objeto, que será modificado/transformado/consertado/melhorado ao
término da atividade. Conseqüentemente junto a isso emergem os parâmetros de
intencionalidade e agentividade do sujeito. Ambos os traços compõem o cenário no qual está
inserida a VPS, uma vez que o sujeito semântico-pragmático corresponde ao sujeito real,
humano, que propositalmente desenvolve uma determinada ação, declarada no sintagma
verbal, sobre um objeto. Comprovando essas propriedades, o sujeito inclusive procede à
divulgação dessa atividade, por ele mesmo ou através de terceiros.
Desse modo, verifica-se que não consideramos meramente a quantidade de itens
visíveis da estrutura, mas o conjunto da estrutura no que diz respeito à sua funcionalidade, à
forma cognitivamente mais simples e esperada em determinado contexto de uso.
No que concerne à integração dos itens constituintes da estrutura analisada, observa-se
que a disposição mais natural, ou menos marcada, dos conteúdos da VPS em placas e cartazes
para oferta de produtos e serviços é VERBO + SE + SN. Nota-se, pela distribuição estética da
47
VPS, a formação de um bloco de idéias, a partir da integração dos conteúdos verbo e clítico se
[ex. (amola-se)], através do qual se dá ênfase ao processo, à oferta, à atividade da pessoa
física ou jurídica. Posteriormente, procedendo-se à disposição do objeto, na maior parte das
vezes, abaixo do ‘bloco’ mencionado: (amola-se) alicates, conforme se verifica nas
mensagens ‘transcritas’ do ANEXO III:
A F I A - S E
« FACAS
CONSERTA-SE:
INSTRUMENTOS
« TESOURAS
MUSICAIS &
« ALICATES
APARELHOS
ELETRÔNICOS...
« ESPÁTULAS
de UNHA
registro 3
registro 11
Vê-se nas mensagens acima que a construção verbo+se é desvinculada da lista de
palavras denotativas de objetos plurais ou compostos, que são afiados e consertados,
respectivamente. Isso se dá através de recursos – bastante freqüentes no tipo de texto estudado
– como: o emprego de cores diferentes, a utilização do efeito sublinhado, o uso de letras de
tamanhos diversos e, embora menos freqüente, o auxílio de sinal de pontuação (cf. registro
11). Nesse caso, a ruptura semântico-sintática estabelecida por esses recursos, que configura
traço caracterizador de complexidade estrutural e cognitiva, coincide com o parâmetro de
maior visibilidade e saliência perceptual para a aferição da marcação: a freqüência. Esse fato
corrobora o ‘arranjo’ dos itens realizado pelos usuários e decodificado pelos leitores da
mensagem. Confirma a noção simplista do usuário em relação à forma lingüística VPS e,
portanto, a falta de coerência, por parte da tradição gramatical, no que diz respeito à exigência
de concordância do verbo com o SN classificado como sujeito. Uma vez que, nesse caso, o
objeto apresenta integração sintático-semântica menor que o sujeito.
Assim, a análise ratifica a impossibilidade de se codificar/decodificar a estrutura
analisada a partir de outra estrutura (VPA) de disposição diversa da de VPS. Haja vista que,
se desconsideramos a proximidade dos conteúdos de uma construção tal como
organizada/selecionada pelo usuário em determinado contexto de uso, estamos violando o
subprincípio da integração, que prevê que a proximidade dos conteúdos no âmbito cognitivo
48
será retratada no nível da codificação morfossintática. Assim, imprimir-se- ia à construção
uma outra sintaxe, com conteúdo semântico e propósito diversos.
O usuário certamente no momento em que anuncia seu serviço com a mensagem Afiase alicates não deve estar querendo dizer que "Alicates são afiados", mas apenas que ali se
oferece tal serviço. Ou, conforme nossa interpretação que se aproxima da dos autores (como
IKEDA, 1980) que tratam VPS como alternativa para a indeterminação do sujeito, de modo
genérico, equiparando essa construção a outras formas léxico- gramaticais, como o sujeito
representado por alguém, ou ainda por nós, você ou eles, empregados em sentido geral: "a
gente afia alicates", "nós afiamos alicates".
Por essa disposição dos conteúdos da VPS, pode-se inferir por que é cada vez mais
rara a concordância, em contextos diversos, entre o verbo e o SN, tradicionalmente, analisado
como sujeito paciente. Os elementos estão numa integração tal, que a “leitura” cognitiva
realizada, e defendida por muitos estudiosos, considera o SN, posposto ao verbo, objeto
direto. Isso ocorre também pelo fato de o SN em questão ser afetado pelo sintagma verbal
(SV). Este, por apresentar, com base em sua significação (amolar, p. ex.), o traço cinético
positivo (de ação), afeta o SN de traço não-humano que o segue (alicates, p. ex.), isto é, o
sintagma nominal é modificado, alterado pelo verbo. Sendo assim, conforme se verifica na
própria nomenclatura do nono traço de transitividade: afetamento do objeto, não faz sentido o
item fixado após o SV ser analisado como sujeito.
Ressaltemos que a afetação do objeto se dá mesmo com o verbo se apresentando nãopunctual, ou seja, não sendo um representante de um evento com terminalidade definida. Essa
não-punctualidade se configura não só pela sua acepção processual – uma vez que verbos
como amolar, consertar, afiar, carregam com eles ações que se estendem por um tempo (em
curso) –; como também por denotar tempo presente habitual – tempo esse que se caracteriza
como não-perfectivo, segundo o parâmetro aspecto do verbo, por não expressar uma situação
completa. Deste modo, nossa leitura dos parâmetros de transitividade, conforme exposto nos
procedimentos de aná lise, não se realiza de modo excludente, muitas vezes compreendemos a
noção de um traço invadindo a noção/fronteira de outro traço. Acreditamos, assim, que os
verbos supracitados são não-punctuais inclusive em observação ao aspecto, terceiro traço de
transitividade, pois, nesse caso, indica a repetição de uma situação e sua extensão por
determinado período de tempo, ainda que este seja curto. Entretanto, essa noção não é
transmitida somente pelo verbo, ela é inferida do contexto.
Um outro traço que diz respeito ao verbo é denominado modalidade da oração, que
compreende o modo realis ou irrealis, que significa dizer ‘modo não relacionado aos
49
significados de probabilidade, hipótese ou dúvida’ e modo relacionado a esses significados,
respectivamente. A oração estrutura analisada pertence ao modo realis embora o verbo esteja
num tempo presente não-prototípico, cuja ação pode não ser realizada naquele exato
momento, mas que, em nossa interpretação, não significa corresponder à ação incerta, relativa
aos sentidos supra.
Retomando a posição da análise tradicional que desconsidera o SN posposto ao verbo
como objeto, veja-se a interpretação de Sousa da Silveira (1972, p. 219):
Ora, entre as construções em que o sujeito vem posposto ao predicado, as
mais comuns são as de verbo na voz passiva sob a forma reflexa: daí o
encontrarem-se alguns exemplos de verbo no singular e sujeito no plural,
quando a voz passiva está feita com o pronome se.
Observemos, no entanto, que a flexão de número do verbo haver impessoal, que
também não se constrói com um substantivo à esquerda, ocorre com freqüência no português
do Brasil, contrariando a prescrição tradicional (p. ex. houveram problemas, haverão
dificuldades). Deste modo, defendemos a tese de que a não-concordância verbal no caso da
“voz passiva sintética” provavelmente se deve menos à ausência de um substantivo à
esquerda, e mais à identificação sintático-semântica que os usuários da língua fazem entre
essa forma e a de indeterminação do sujeito, o que acarreta que o SN posposto não é, de fato,
interpretado por eles como sujeito.
Além disso, em observação à ordenação dos componentes da VPS, e ao último
subprincípio de iconicidade que postula que a informação mais importante tende a ocupar o
primeiro lugar da cadeia sintática, notou-se que, não só no contexto de propaganda das ruas,
mas também no dos compêndios e manuais acerca do assunto, o verbo ocupa, com
considerável freqüência, o primeiro lugar da cadeia sintática. No contexto por nós estudado, o
verbo ganha status de tópico, por ser o conteúdo “motriz” da estrutura; como dissemos
anteriormente, trata-se de um verbo de ação, a partir dele se revela/releva a atividade meio ou
fim desempenhada pela pessoa, física ou jurídica.
A ênfase dada ao SV se estende ao clítico, uma vez que ambos se encontram
integrados. Dessa maneira, tanto o emissor quanto o receptor da mensagem chegam, pelo
núcleo verbal (SV+se), ao(s) complemento(s) (objetos), os quais são, em muitos casos,
inferíveis pelo tópico e pelo local em que a mensagem está afixada. A título de ilustração,
observemos as construções do tipo afia-se, amola-se, coloca-se, conserta-se e troca-se
fixadas na entrada dos estabelecimentos. Os complementos, embora se apresentem
50
destacados, às vezes em prejuízo visual (cor clara, letra menor) em relação ao verbo, são
facilmente inferíveis pelo receptor, em virtude de três razões coincidentes ou não: a
freqüência da estrutura no dia-a-dia; as informações visuais fornecidas pelo local (p. ex.
coloca-se/troca-se em estabelecimentos com relógios ou jóias nas vitrines/bancadas ou, mais
salientemente, em barracas de camelôs, depreendem-se como objetos peças componentes de
relógios: pinos, pulseiras, baterias); a acepção seletiva do verbo (ex. amola-se/afia-se, dos
quais coerentemente serão inferidos objetos cortantes). Ainda acerca do constituinte que
ocupa a posição de objeto, observamos que possui aspecto não- individuado e, não definido,
haja vista constar num texto de propaganda, sendo nesse caso não- marcada a idéia de que
alguém amola alicates (em geral).
No que diz respeito às construções aluga-se (ou vende-se), seus complementos
freqüentemente são restringidos pelo senso comum a casas, salas, apartamentos e lojas, mais
raramente carros. Já no que tange às construções fura-se e compra-se, a primeira é bastante
rara, enquanto a segunda é encontrada com objetos ouro ou jóias, em placas dispostas nas
ruas, distantes dos seus estabelecimentos (salas comerciais).
Um outro ponto importante diz respeito ao fato de a língua portuguesa ser classificada
tipologicamente como de ordenação SVO (sujeito- verbo-objeto), ou seja, a posição natural,
não- marcada, do sujeito é anteposto ao verbo; já, quanto à ordenação linear da VPS, a posição
menos marcada do SN é após o verbo, dado extremamente importante ao se pretender atribuir
a função de sujeito a esse SN.
A esse respeito Hawad (2002) assinala que em compêndios contemporâneos de
orientação tradicional (BECHARA, 1999; CUNHA E CINTRA, 1985; GAMA KURY, 1986;
ROCHA LIMA, 1980; LEITÃO, 1995; RIBEIRO 1993), em todas as frases fornecidas como
exemplos de “voz passiva sintética”, o SN analisado como sujeito ocorre posposto ao verbo.
O último dos compêndios citados chega a apresentar esquematicamente a ordem “verbo
transitivo direto + pronome apassivador se + sujeito” como característica da “voz passiva
pronominal” (RIBEIRO, ibid., p. 177). E que mesmo em Neves (2000), obra de orientação
funcionalista, todos os exemplos desse tipo de construção apresentam o “sujeito” em
posposição ao verbo.
Isso permite questionar a atribuição da função de sujeito a tal SN, considerando-se que
a anteposição ao verbo é a posição não- marcada (ou mais básica) para o sujeito em português.
A questão da ordem nessas estruturas é assim comentada por Said Ali (1957, p. 94-95):
51
(...) a posposição de um substantivo sujeito, obrigatória ou pelo menos usual,
em oração principal que não é nem interrogativa, nem exclamativa, nem
imperativa, nem intercalada, é uma impossibilidade no domínio das línguas
românicas (...) E se primitivamente o substantivo foi de fato o sujeito, como
parece ter sido junto a verbos transitivos, também nessa época andava
necessariamente anteposto ao predicado; mas desde o dia em que a sua
posição se fixou depois do verbo, fixou-se também a sua função de objeto.
É importante salientar, também, que a atribuição da função de sujeito ao SN em causa
não condiz com a freqüência cada vez menor com que falantes brasileiros – mesmo cultos, e
mesmo em registros mais tensos e na modalidade escrita – empregam a concordância verbal
conforme tradicionalmente prescrita no caso da “voz passiva sintética”. Esse fato pode ser
ilustrado através de algumas das ocorrências registradas por Hawad (2002, p. 27) e por nós.
(numeração mantida do original e seqüenciada):
(4) “Para que se dá aulas de uma língua para seus falantes?” ou, transferindo para o
nosso caso específico, “Para que se dá aulas de Português a falantes nativos de
Português?”. (Luiz C. Travaglia, em seu livro Gramática e Interação, p.17) – Hawad
(2002).
(5) Considerou-se válidas as provas decorrentes de escuta telefônica. (Documento
emitido pelo Poder Judiciário, referente ao caso da empresa Lunus, de Jorge Murad, e
exibido pelo Jornal Nacional em 15/3/02) – Hawad (2002).
(6) Veja-se os discursos de posse. (Jornal do Brasil, 3/1/99) – Hawad (2002).
(7) O amor é crítico. Não se conta mentiras. (Jornal O Globo, 30/07/2004).
(8) (...) os investimentos em andamento permitirão que se alcance os 100% em 2006
ou 2007. (Jornal O Globo, 03/08/2004).
(9) (...) Renato Nalini, da Academia Paulista de Letras, soube discernir nas narrativas
uma categoria muito preciosa: o gosto com que se lê essas histórias. (Jornal do Brasil,
27/07/2004).
Dessa forma, podemos perceber que a apresentação dos conteúdos da VPS, não só no
que diz respeito a seu emprego em placas e cartazes para oferta de produtos e serviços, revela
a sua ordem de importância para o usuário, obedecendo à ordem lógica de prioridade no fluxo
‘informacional’, com base nos elementos inscritos no processo comunicativo tais como:
situação, mensagem (seu propósito), a quem se destina, tipo de canal. E se reflete na
disposiç ão/ordenação básica dos elementos da frase portuguesa, resultando numa análise
“psicológica” de configuração “sujeito indeterminado”, verbo + se (PIS – partícula de
52
indeterminação do sujeito, em nosso caso, desfocador de sujeito) + complemento, que vai de
encontro à prescrição, acarretando em nosso contexto a ocorrência quase unânime da forma
verbo singular + se + SN plural e, em outras situações, como em textos jornalísticos, trabalhos
acadêmicos, redações, entre outros, a coocorrência das formas verbo singular + se + SN plural
e verbo plural + se + SN plural.
Resumindo, efetuamos a análise da estrutura em seu contexto de uso combinada com
os registros e depoimentos de seus usuários e receptores. Para tanto, detivemo-nos nas idéias
que emergiram dessa interação. Os usuários comerciantes ao responderem às questões – por
que haviam escolhido essa frase (ou esses dizeres) para fazerem sua propaganda? Se haviam
buscado a mensagem em alguma gramática ou manual de propaganda, se a haviam visto
escrita em algum lugar, ou se tinha sido sugerida por alguém? –, confirmaram aspectos
simbólicos da relação VPS – propaganda de rua. O mesmo ocorreu a partir da interação com
alguns cartazistas e clientes. Ambos os grupos apontaram, conforme consta nos questionários
anexos, a VPS como estrutura mais representativa para o objetivo de divulgação de produtos e
serviços.
Verificando a qualidade das respostas de alguns comerciantes à questão mencionada –
“ora...da minha cabeça”, “do que eu faço”, “do meu trabalho”. “é isso que eu faço”, “porque
faço isso há muito tempo”, “todo mundo faz assim, é só olhar por aí”, “porque a loja é antiga,
tem tradição”, “é comum a gente fazer dessa forma” –, notamos que a estrutura é
cognitivamente simples, esperada, já ritualizada no atingimento do objetivo em questão. Sua
grande freqüência na comunidade lingüística é motivada por um conjunto de fatores icônicos
e simbólicos.
Suscita- nos, no entanto, a existência de indícios de que uma mudança pode estar
ocasionando a sobreposição de aspectos simbólicos a icônicos. Essa indicação se dá em
virtude do teor das informações fornecidas pelos usuários e receptores da VPS e da
constatação de que os temas “voz passiva sintética” e clítico se vêm sendo discutidos há
algum tempo, conforme consulta realizada em alguns livros e trabalhos antigos. Os exemplos
encontrados nesses compêndios de “voz passiva” com configuração verbo singular – se – SN
plural nos leva a crer que a funcionalidade da VPS, tal como constatada na presente pesquisa,
vem de longa data. Vejam-se alguns desses exemplos retirados de [1] Mello (1926, p. 41; 49)
e de [2] Coelho (1918, p. 7; 46). Em ambas as obras, é questionado o entendimento normativo
que considera tais construções sendo “voz passiva sintética” e, portanto, erradas.
53
(1) Vende-se flores, Compra-se joias usadas, Aluga-se cavallos, Concerta-se
machinas [...] come-se boas iguarias, bebe-se finos licores, fuma-se
magnificos charutos [...] afina-se pianos; [...]; aluga-se casas.
(2) Compra-se libras; Vende-se casas; Ferra-se cavallos.
Acreditamos que nessa suposta mudança diversos fatores estejam envolvidos. Além da
questão temporal, há a perspectiva cultural, fator importante para os quesitos do conceito de
marcação. De acordo com Givón (1995), é a realidade cultural de poder e controle social que
faz com que determinada forma seja não- marcada em relação a outra, ou mais ou menos
marcada em relação às demais.
Deste modo, a antiga recorrência à forma tem ajudado a torná- la usual, gramatical.
Com o aumento da freqüência de uso, essa construção tendeu a sofrer desgaste funcional
acarretando sua sistematização, seu caráter convencional, conforme exposto no capítulo
seguinte. Vejamos abaixo algumas considerações destacadas por Votre e Oliveira (2001,
p.132) acerca desse processo, de regularização (gramaticalização) dos fatos da língua.
De acordo com o paradigma de gramaticalização (Martelotta et alii, 1996;
Givón, 1995; Heine et alii, 1991) à medida que ocorre a generalização de um
determinado uso lingüístico, há tendência de que o mesmo passe do âmbito
do discurso, em que há liberdade de escolha, para o nível da gramática, em
que se verifica sua fixação, diminuindo ou mesmo cessando a possibilidade
de variação com outra(s) forma(s). Nessa trajetória unidirecional, do léxico à
gramática, da referência concreta à abstrata, da eventualidade à
sistematização, as mudanças não são absolutas nem pré-determinadas. A
gramaticalização é um critério geral de mudança, um continuum, um
processo histórico articulado em níveis não restritivos.
Acerca do conceito de transitividade de cunho funcional, em virtude do tipo de texto
utilizado, do seu modo de organização discursiva; os parâmetros que contribuem para a
ordenação de sentenças numa escala de transitividade se realizam de maneira diversa da
desenvo lvida por Hopper e Thompson20 (1980 apud FURTADO DA CUNHA ET AL., 2003).
Nesse sentido, a alta transitividade verbal constatada na compreensão de sete traços positivos
se estabeleceu com base nos vieses semântico, pragmático e cognitivo. Com base nisso, pôdese constatar que a sentença de VPS compõe um evento causal específico, ou seja, um evento
em que um agente animado intencionalmente causa uma mudança física e perceptível de
estado em um objeto. E que, num tipo de texto mais típico (narrativo, p. ex.), é considerado o
20
HOPPER, Paul; THOMPSON, Sandra. Transitivity in grammar and discourse. Language, 56 (2): 251-299,
1980.
54
evento que a criança percebe e codifica gramaticalmente mais cedo. Em nosso caso, quem os
codifica “mais cedo” são os usuários que compõem o grupo social em foco, cada qual no
desempenho de seu papel (vendedor/prestador do produto/serviço; interessado no
produto/serviço; “fabricante” do canal interagente: a propaganda).
Destacamos que os traços contidos na oração que a fizeram ocupar um lugar de
destaque (“ponto sete”) na escala de transitividade são: a existência de dois participantes,
sendo que a presença de um deles (sujeito) se dá apenas no plano da conceitualização dos
envolvidos no processo discursivo. Desta forma, interpretando o participante sujeito, ele é
intencional e agentivo, uma vez que representa o comerciante que, com o intuito de realizar a
ação declarada no processo, procede à sua publicação. Além disso, a oração contém verbo de
ação (traço cinese positivo) – amolar, consertar, colocar; é afirmativa – haja vista a falta de
nexo na divulgação do que não se faz –, realis, ou seja, não configura ação hipotética, aquele
que expõe a oração, certamente, desempenha a ação ilustrada no verbo. Finalizando, a oração
contém objeto afetado, isto é, modificado pelo processo verbal, o objeto é transformado pela
ação do sujeito. Além de ser individuado, de caráter geral, uma vez que não é usual o
prestador de um serviço selecionar o objeto sobre o qual irá realizar a atividade.
Assim, a VPS divulgadora da comercialização de produtos e da prestação de serviços é
caracterizada como uma estrutura habitual, previsível (verbo singular + se + SN plural), na
qual o usuário se identifica quando diz que a “tirou” do seu trabalho, do que faz normalmente.
Constando, portanto, claramente o objeto e tacitamente o prestador/’oferecedor’ do
serviço/produto, este figurando na primeira parte da estrutura (verbo+se). Nesse caso, a VPS
pode ser representada da seguinte forma: AÇÃO à OBJETOS AFETADOS POR ESSA
AÇÃO.
4.2. ASPECTOS REPRESENTACIONAIS
A estrutura de VPS utilizada para o propósito estudado neste trabalho configura uma
representação social. Isso pôde ser constatado através do contato estabelecido com os usuários
e receptores da construção supra, bem como com os usuários e receptores das outras duas
ocorrências, de nominalização e de tópico verbo na 1ª pessoa do plural, encontradas no
mesmo campo semântico da VPS.
55
Nesse sentido, verificou-se que a estrutura parece perder seu caráter icônico se
constituindo em uma expressão bimembre simbólica [(verbo+se) /
complemento(s)],
tornando-se
inviável a identificação de seus constituintes, uma vez que passou a funcionar como uma
construção ritualizada, convencionalizada, que representa a propaganda das ruas, fazendo
parte do imaginário coletivo daqueles informantes.
Ressaltamos que a análise do ato da representação por Jodelet21 (apud GUARESCHI E
JOVCHELOVITCH, 1994, p. 76) delimita alguns atributos que vêm a ser fundamentais na
construção e compreensão das representações sociais:
Essas características são o aspecto referencial da representação, quer dizer, o
fato de que elas sempre são a referência de alguém para alguma coisa; seu
caráter imaginativo e construtivo, que a faz autônoma e criativa e finalmente
sua natureza social, o fato de que “os elementos que estruturam a
representação advêm de uma cultura comum e estes elementos são aqueles
da linguagem”.
As representações sociais, conforme consta em Moscovici (2005), são entidades quase
tangíveis, que se propagam, entrecruzam-se e se cristalizam continuamente, através duma
palavra, dum gesto, ou duma reunião; impregnando, assim, a maioria de nossas relações,
principalmente, as comunicações que estabelecemos. O referido autor aponta para a
impossibilidade de nos comunicarmos sem que partilhemos determinadas representações
sociais; assim como para a importância da comunicação no processo de difusão e penetração
de uma representação no campo social. Desse modo, o discurso22 , do qual se inferem os
saberes populares e o senso comum, configura a forma mais básica de representação, haja
vista seu caráter espontâneo e corrente, através do qual uma gama de valores e crenças são
propagados e selecionados como usuais, válidos em dada coletividade.
No grupo social envolvido na comercialização de produtos e na prestação de serviços
cujos estabelecimentos estão instalados nas ruas do centro do município de Niterói, o discurso
saliente, perceptível e, por conseguinte, recorrente consiste na construção verbo singular – se
– sintagma nominal plural. Nas entrevistas realizadas, de acordo com as respostas cujo teor é
centrado nos próprios informantes e no seu ofício, há a crença de que “assim o é porque assim
21
Jodelet, D. “Les Représentations Sociales: Phénoménes, Concept et Theorie”. In S. MOSCOVICI (ed.)
Psychologie Social. Paris: Press Universitaire de France, 1984, p. 365.
22
Compreendendo-o não só como as estratégias criativas utilizadas pelos falantes para organizar seu “texto” em
função do ouvinte e da situação de comunicação, como também o formato em que repousam as modalidades oral
ou escrita de uma construção/idéia.
56
sempre foi”, a proposta de fazê- los pensar a respeito do que fazem, do que expõem, para eles
é inócua, incompreendida já que o que fazem é o que expõem e vice- versa, numa noção quase
tautológica. Isso ocorre provavelmente porque as representações de certa forma, conforme
Moscovici (ibid.), dependem da memória, de sua solidez para impedir que modificações
súbitas ocorram no seu âmbito. Assim, todos ou se repetem ou se ‘fixam’ próximos da
estrutura de VPS (Conserta-se jóias/Conserto de jóias/Consertamos jóias, p.ex.), portanto,
nada ousado surge. E a questão da não consciência sobre esse dado configura o elemento
legitimador do caráter fossilizado da estrutura e, conseqüentemente, de sua representação, que
por sua vez garante a estabilidade de ambas.
Desse modo, a estrutura VPS vem se constituindo um clichê da propaganda de rua,
com características próprias, que não correspondem às propriedades típicas da linguagem de
propaganda, como a persuasão e a criatividade. Esta última fundamental nos dias de hoje para
convencer o interessado a realizar o serviço ou comprar o produto neste e não em outro
estabelecimento. No que tange aos recursos expressivos, sua utilização pode ser considerada
básica haja vista não fugirem a um padrão que parece também compor a representação em
questão. O efeito estético, não-criativo por ser uniforme, se restringe, em geral, a destacar o
composto verbo+se – através da alternância de cores, do efeito sublinhado, da mudança das
letras empregadas – dos objetos da ação pospostos ao verbo.
É notada, pois, a ocorrência de, no contexto dos centros comerciais abertos (de rua),
uma forma peculiar de divulgação, que da propaganda típica he rdou apenas dois recursos, a
simplicidade estrutural e a topicalização, tendo em vista ser constituída de uma linguagem
muito própria, composta de uma estrutura pronta, cristalizada, que supre os recursos e efeitos
preconizados nos manuais de propaganda. Moscovici (ibid., p. 216) afirma que:
[...] o status do fenômeno das representações sociais é o de um status
simbólico: estabelecendo um vínculo, construindo uma imagem, evocando,
[...] partilhando um significado através de algumas proposições
transmissíveis e, no melhor dos casos, sintetizando em um clichê que se
torna um emblema.
Sandmann (2002, p. 20), acerca dos tipos de signos encontrados na linguagem de
propaganda, faz menção à relação triádica de que trata Peirce: o objeto ou referente, o signo
ou representante e o sujeito ou interpretante. Dependendo do modo como se estabelece essa
relação entre signo e referente, constituem-se três tipos de signos: símbolo, ícone e índice; os
dois primeiros, segundo Moscovici (2005), fazem parte das representações sociais.
57
O principal objetivo das representações sociais é tornar a comunicação, dentro de um
grupo, relativamente não-problemática, estreitando as relações; sendo assim, a VPS passa a
ser emblemática para seu grupo, que, por conseguinte, passa a utilizá- la mais e mais, não
fugindo, desse modo, do essencial. Não se arriscando em termos de divulgação, fica mais fácil
para as pessoas que circulam naquele ambiente, ao visualizarem a mensagem, fazerem
associações como: “ação: alguém a realiza / ‘transforma’ objetos”; pequenos e médios
comerciantes/prestadores de produtos/serviços; estabelecimentos simples, desprovidos de
benfeitorias; centros comerciais abertos sem muita infra-estrutura; entre outras. Além do
vínculo entre a construção VPS e os sentidos que articula, fato que ilustra uma das faces das
representações, a face icônica; ocorre de modo interdependente a manifestação de sua face
simbólica, relativa ao(s) tipo(s) definido(s), evidenciado(s) por certos traços e características
facilmente imagináveis, como: verbo+se, propaganda representativa de determinadas relações
comerciais e de serviços; rotinização do seu uso; componente do cotidiano das ruas; serviços
em geral simples.
As faces icônica e simbólica das representações figuram em nosso cotidiano e
circulam através das imagens e idéias compartilhadas e concebidas como certas e aceitas por
todos. Elas constituem a realidade e servem como o principal mecanismo para o
estabelecimento das associações com as quais as pessoas se ligam umas as outras. Dessa
maneira, a partir de um pensamento comum que compreende determinado propósito, o grupo
e conseqüentemente a representação se mantêm, legitimam-se, isto é, a partir do momento em
que o discurso do grupo se destaca estabelecendo uma unidade de idéia sobre determinado
‘assunto’, ocorre a legitimação, a autenticação do conhecimento e da crença desse grupo. Na
tentativa de regulação de ambos, emergem as representações sociais. Seria como dizer que
num conjunto de vastas formas de propaganda e de numerosas frases para compô- la, uma é
percebida pelo grupo como a mais adequada para a situação, para o propósito comunicativo
em questão, configurando, portanto, uma representação social.
Representações sociais só podem ser formadas a partir da comunhão de idéias, crenças
e conhecimentos de um grupo de indivíduos. Isso não implica dizer que é num conjunto de
individualidades que as representações emergem, mas sim que esse grupo, constituído de
indivíduos que – embora sejam diferentes e pensem de modo ímpar em muitos momentos ou
acerca de determinados assuntos – pensam de modo comum quando estão inseridos num
grupo, produzindo conjuntamente. Por esse motivo, o grupo se denomina coletividade e dá
vida a essas representações. Nosso objeto de pesquisa – a VPS, portanto, constitui um tipo de
representação, de legitimação de determinada coletividade.
58
Sendo assim, representações não são criadas por um indivíduo isoladamente e, a partir
do momento em que são criadas, adquirem vida própria, circulam, encontram-se; umas, por
vezes, são perpetuadas; enquanto outras desaparecem. Observem-se abaixo as considerações
de Moscovici (2005, p. 208) a esse respeito:
[...] as representações [...] são formadas através de influências recíprocas,
através de negociações implícitas no curso das conversações, onde as
pessoas se orientam para modelos simbólicos, imagens e valores
compartilhados específicos. Nesse processo, as pessoas adquirem um
repertório comum de interpretações e explicações, regras e procedimentos
que podem ser aplicados à vida cotidiana [...].
O grupo, através do processo mencionado na citação anterior, dá início à utilização de
uma construção/idéia – ilustração do processo de objetivação23 – que passa a ser aceita pelo
grupo propriamente dito e reconhecida pelas pessoas que estão nele circunscritas, ou seja, no
caso em questão, transeuntes, clientes reais ou potenciais. Assim, a rotinização do uso
‘alimenta’ o ciclo da recorrência, isto é, quanto mais a construção/idéia é empregada, mais é
vista, difundida e, assim, empregada, constituindo a construção/idéia o paradigma para o
propósito em questão.
Nas entrevistas que realizamos como parte da presente pesquisa, essa dinâmica foi
constatada nas respostas dos clientes, pessoas que circulavam no ambiente onde se afixavam
as propagandas. Independentemente da idade ou grau de escolaridade desses informantes, foi
apontada a construção de VPS como alternativa preferencial para se divulgar a venda de
produtos e a oferta de serviços típicos aos expostos nos registros anexos.
Pôde-se, portanto, verificar que o grupo aparenta ser homogêneo no que tange à
identificação da VPS como estrutura mais saliente, simples e freqüente para o atingimento do
objetivo mencionado. Apesar de outras construções, componentes de um capítulo deste
trabalho, também figurarem no imaginário do grupo entrevistado, a construção de VPS é
considerada a mais antiga, haja vista um dos informantes vincular o emprego da estrutura à
tradição do estabelecimento, ao fato de a loja, o ponto ser antiga(o), conhecida(o) e,
conseqüentemente, transmitir solidez e credibilidade aos interessados em seus produtos e
serviços. Assim, observam-se não só a questão da legitimação de conhecimentos e crenças,
como também as propriedades do convencionalismo e da prescrição (imposição) inerent es às
23
Objetivação, “objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma idéia, ou ser impreciso; é reproduzir um
conceito em uma imagem” (MOSCOVICI, ibid., p. 71).
59
representações sociais.
A validade, a autenticidade, da construção de VPS é estabelecida no momento em que
os entrevistados afirmam que a estrutura é a mais usada e encontrada no propósito de
divulgação ora estudado. Alguns comerciantes, inclusive, mantiveram a estrutura utilizada
pelo proprietário anterior do estabelecimento uma vez que a me sma atende ao fim pretendido.
Já no que concerne à primeira propriedade citada, pode-se afirmar que as representações
convencionam os objetos, pessoas, acontecimentos, ou situações que encontram. Conforme
Moscovici (ibid., p. 34), “Elas lhe dão uma forma definitiva, as localizam em uma
determinada categoria e gradualmente as colocam como um modelo de um determinado tipo”.
Significa dizer que é deflagrado um dos processos que geram as representações sociais:
ancoragem, que classifica, nomeia, aproxima as coisas (a princípio distantes, estranhas) das
pessoas, de um grupo. Vale destacar que “toda representação social desempenha diferentes
tipos de funções, algumas cognitivas – ancorando significados, estabilizando ou
desestabilizando as situações evocadas [...]”. (MOSCOVICI, ibid., p. 218).
Além disso, o caráter prescritivo das representações diz respeito ao fato de elas se
estabelecerem entre nós com uma força que, segundo o autor, pode ser compreendida como
uma espécie de fusão de uma estrutura que existe antes mesmo que o indivíduo ou grupo
comece a pensar com uma tradição que determina o que deve ser pensado e, assim, difundido,
empregado. Em nosso caso, um novo comerciante da região pesquisada, interessado em
realizar atividades congêneres às desempenhadas pelos comerciantes já estabelecidos e
contatados nesta pesquisa, antes de proceder à divulgação de seus serviços, observará o modo
como a maioria procede nesse sentido.
Em resumo, constatamos, a partir da interação com os usuários e leitores da
construção de VPS, que a representação social emerge “não só como um modo de
compreender um objeto particular, mas também como uma forma em que o sujeito (indivíduo
ou grupo) adquire uma capacidade de definição, uma função de identidade, que é uma das
maneiras como as representações expressam um valor simbólico [...]” (MOSCOVICI, ibid., p.
20-21). Junto a isso, consta em Guareschi e Jovchelovitch (1994, p. 74) que “Símbolos
pressupõem a capacidade de evocar presença apesar da ausência, já que sua característica
fundamental é que eles significam uma outra coisa. Nesse sentido, eles criam o objeto
representado, construindo uma nova realidade para a realidade que já está lá”. O resultado
mais importante da reconstrução de abstrações em realidades é que elas se tornam separadas
das subjetividades do grupo, das contingências de suas interações e, conseqüentemente,
atravessam períodos, momentos, e adquirem, portanto, permanência e estabilidade. Assim, a
60
estrutura mais freqüente verbo singular – se – sintagma nominal plural não corresponde à
realidade
da
“voz
passiva”
postulada
pela
visão
gramatical
tradicional.
O
comerciante/prestador de serviço parece tomar conhecimento da ‘realidade’ normativa da
estrutura somente quando, muito raramente, um transeunte ou cliente se dirige a ele com o
intuito de alertá-lo sobre o ‘mau uso’ do português. Em geral, sua observação se atém à
questão da concordância do verbo sem mais explicações acerca da estrutura.
Os usuários recorrem, portanto, a essa construção/idéia tornando-a cada vez mais
recursiva, pois ela configura o reconhecimento de uma realidade compartilhada. Trata-se de
um reconhecimento criativo que leva a um envolvimento com os outros e com o objeto que é
o mundo, o ambiente do grupo. O conhecimento de uns ao se mesclar com o de outros cria
continuamente a experiência que constitui a realidade de todos, incluindo os leitores,
receptores da construção/idéia, os quais auxiliam no processo de validação e perpetuação da
representação. Além disso, todo o grupo colabora para sua propagação que, nesse curso,
encontra outras representações pelas quais pode ser atraída ou repelida, dando oportunidade à
formação de novas representações, enquanto velhas representações desaparecem ou, durante
algum tempo, convivem com as recém-criadas. Isso se dá em virtude de a representação ser
empregada para operar no mundo – nesse caso, dinâmico, cujas novidades e mudanças se
processam em ritmo acelerado – e nos outros.
4.3. ASPECTOS FUNCIONAIS E REPRESENTACIONAIS
Para a análise da estrutura de VPS encontrada nas ruas do centro do município de
Niterói com o intuito de divulgação da venda de produtos e prestação de serviços, valemo- nos
dos pressupostos teóricos de duas correntes afins. Uma de cunho lingüístico, denominada
funcionalismo, a outra de viés sociológico, que compreende o fenômeno das representações
sociais.
Vale destacar que a afinidade de ambas pode ser notada primordialmente pelo fato de
que o funcionalismo lingüístico compreende a linguagem como um instrumento de interação
social, constituindo o foco da investigação lingüística uma busca que vai além da estrutura
gramatical, procurando no contexto discursivo a motivação para os fenômenos da língua.
Desse modo, estabelece estreita relação com o fenômeno das representações sociais, uma vez
que representação e comunicação caminham na mesma direção, uma condiciona a outra.
61
Através da comunicação, as pessoas e os grupos concebem de uma realidade física idéias e
imagens. Nesse sentido, a essência das representações sociais é simbólica; para um sistema ter
essa natureza deve ser cultural e social e a linguagem é, pois, o protótipo.
A questão do canal através do qual tanto fatos da língua quanto representações se
propagam também é de suma importância na comparação de ambas as teorias. O discurso –
definido pelos funcionalistas como “o uso potencial da língua, ou seja, como as estratégias
criativas utilizadas pelo falante para organizar funcionalmente seu texto para um determinado
ouvinte e em uma determinada situação de comunicação” (MARTELOTTA ET AL., 1996, p.
48) – dá vida às representações, viabilizando sua difusão e, conseqüentemente, sua aceitação
através da sua recorrência.
Além do discurso, faz-se necessário tecer considerações acerca da gramática, que do
ponto de vista funcional compreende, conforme destaca Neves (1994, p. 112), “uma teoria
geral da organização gramatical de línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria
global de interação social”. Nesse sentido, as teorias mencionadas também estão em sintonia,
já que, no que concerne às representações sociais, na obra de Moscovici (2005, p. 76-77),
encontramos considerações acerca de conteúdos gramaticais, em que as regularidades
decorrentes da interação social, de pressões de uso, são tratadas como objetivação da
gramática:
Mas é apenas o acaso que não pode responder pelo uso extensivo que nós
fazemos das particularidades da gramática, nem pode explicar sua eficiência.
Isso pode ser feito de uma maneira melhor, através da tentativa de objetivar
a própria gramática, o que é conseguido muito simplesmente colocando
substantivos – que, por definição, se referem a substâncias, a seres – em
lugar de adjetivos, advérbios, etc. Desse modo, atributos ou relações são
transformadas em coisas. [...]
Nessas circunstâncias, a linguagem é como um espelho que pode separar a
aparência da realidade, separar o que é visto do que realmente existe [...] Os
nomes, pois, que inventamos e criamos para dar forma abstrata a substâncias
ou fenômenos complexos, tornam-se a substância ou o fenômeno e é isso
que nós nunca paramos de fazer. Toda verdade auto-evidente, toda
taxonomia, toda referência dentro do mundo, representa um conjunto
cristalizado de significâncias e tacitamente aceita nomes; seu silêncio é
precisamente o que garante sua importante função representativa: expressar
primeiro a imagem e depois o conceito, como realidade.
Desse modo, evidencia-se a estreita relação entre as abordagens teóricas selecionadas
para análise da VPS. Compreendemos que uma e outra partem das particularidades dos
elementos componentes do âmbito social, tais como comunicação, coletividade, cultura, para
62
a conceituação de uma estrutura ou idéia. Outro ponto de convergência diz respeito ao fato de
a teoria das representações sociais insistir “no laço profundo entre cognição e comunicação,
entre operações mentais e operações lingüísticas, entre informação e significação”.
(Moscovici, ibid., 220). Sobre essa questão também se encontrou respaldo em Guareschi e
Jovchelovitch (1994, p. 71): “[...] uma representação é mero reflexo do mundo externo na
mente, ou uma marca da mente que se reproduz no mundo externo [...]”.
Em virtude do que foi exposto, buscamos descrever e analisar a regularidade da
construção/idéia VPS observando seu uso interativo, analisando as condições discursivas
desse uso. Apoiando- nos, para tanto, nas orientações de Jodelet24 (1989 apud GUARESCHI E
JOVCHELOVITCH, ibid., p. 121) sobre o modo como as representações sociais devem ser
estudadas: “articulando elementos afetivos, mentais, sociais, integrando a cognição, a
linguagem e a comunicação às relações sociais que afetam as representações sociais e à
realidade material, social e ideativa sobre a qual elas intervêm”.
De posse da visão funcional, que apregoa que os domínios da sintaxe, da semântica e
da pragmática são relacionados e interdependentes e que, junto à descrição sintática, é
fundamental que se investiguem as condições discursivas que envolvem as estruturas
lingüísticas e seus contextos específicos de uso, observamos que a estrutura num primeiro
momento reflete as circunstâncias e propriedades de seu emprego. Verificamos que se trata de
uma estrutura simples, previsível [verbo singular + se + sintagma nominal (SN) plural], cuja
disposição/ordenação atende aos propósitos comunicativos da comunidade lingüística. Desse
modo, constatamos que “as estruturas sintáticas não devem ser muito diferentes, na forma e
na organização, das estruturas semântico-cognitivas subjacentes” (FURTADO DA CUNHA
ET AL., 2003, p. 34).
Observamos, com o auxílio do aparato teórico da lingüística funcional – dos
subprincípios de iconicidade, do conceito de marcação e do critério de transitividade –, que a
estrutura, analisada tradicionalmente como pertencente à “voz passiva”, é selecionada, pela
grande maioria dos comerciantes – cujas atividades já foram devidamente explicitadas – e
cartazistas, em virtude de ser considerada comum, básica para o fim pretendido. Referindo-se
à voz passiva em inglês, Givón (1989, p. 44-45), assim como Thompson (1996, p. 82), afirma
que orações passivas são marcadas em relação a orações ativas, ou seja, se uma oração
passiva é selecionada é porque houve uma razão particular para isso, já que a escolha natural
24
Jodelet, D. Folies et représentations sociales. Paris, Press Universitaire de France, 1989, 41.
63
seria a ativa. Sendo assim, ao analisarmos a estrutura na direção uso à conceituação, e ainda
levando em conta as entrevistas realizadas com os usuários e receptores da construção/idéia,
verificamos que a estrutura não é compreendida/utilizada como “voz passiva”, ela constitui,
na representação dos usuários, uma construção efetivamente ativa.
Inferimos de seu emprego e da compreensão que os usuários têm dele que a mensagem
transmitida possui caráter resumido, eficiente, tornando viável às pessoas que circulam por
entre os estabelecimentos, as ruas, entender/captar rapidamente sua proposta. Sua
funcionalidade dispensa a aparição explícita de sujeito, uma vez que está claro, tanto para o
usuário como para o leitor da estrutura, que o sujeito é aquele que desenvolve a atividade
declarada.
Desse modo, pode-se dizer que esse participante compõe a construção sob o viés
pragmático apenas, ou seja, sua presença é contextual, faz parte da experiência das pessoas
envolvidas no processo de produção e recepção da construção. Este seria um dos principais
motivos para o verbo permanecer no singular, contrariando a prescrição da gramática
normativa. Outra razão para a estrutura ser empregada de forma direta, portando a
configuração verbo – argumento objeto direto (ação à objetos afetados por essa ação), diz
respeito ao traço cinético positivo do sintagma verbal (SV), que extrapola seu campo
semântico afetando o complemento. Isto é, a estrutura possui verbo de ação, que exprime
movimento, realização, cujo sentido corresponde a alguém produzindo/realizando algo que
tem como conseqüência a transformação do objeto. Destarte, usuários e receptores da
estrutura reanalisam como objeto direto o que a gramática insiste em classificar como sujeito.
Consideramos, portanto, a ocorrência de dois participantes na estrutura: sujeito, intencional e
agentivo e objeto, afetado e não- individuado. Este participando completamente da construção,
ou seja, de modo estrutural, semântico e pragmático; aquele, figurando apenas semântica e
pragmaticamente.
Destaque-se a falta de nexo na conceituação do sintagma nominal plural como sujeito
também em face da ‘arrumação’ (disposição/ordenação) realizada pelo usuário e
compreendida pelo receptor. A aparência padrão das estruturas apresenta o SV como tópico e
desvinculado dele, através do emprego de recursos gráficos ou de pontuação, figura uma lista
contendo palavras indicadoras de objetos. O desligamento visual entre SV e SN se traduz em
menor integração semântico-sintática entre os termos, fato que vem fortalecer a classificação
de objeto do SN posposto ao verbo. Ademais, as propriedades funcionais da estrutura assim
como a representação social subjacente a ela vêm acarretando a constituição de um clichê da
publicidade do comércio de produtos e da prestação de serviços, com características
64
peculiares, distintas das listadas em compêndios de orientação de propaganda e marketing.
Tal fato pode ser constatado não só na estrutura propriamente dita (SV singular + se + SN
plural), em seus recursos de codificação morfossintática; como também nos recursos gráficos,
estéticos e de pontuação supracitados.
A ênfase dada ao verbo, à ação, observada pela disposição temática dispensada a ele,
reflete, segundo Culicover25 (1988 apud MOSCOVICI, ibid., p. 227), nossa representação
mental da construção/idéia. O autor afirma que “As relações temáticas estão fundamentadas
nos elementos que constituem nossas representações mentais dos acontecimentos. [...] há uma
correspondência entre nossa representação mental dos acontecimentos e o sentido das frases
empregadas para expressá- los”.
Dessa forma, torna-se inviável proceder ao mecanismo de identificação da estrutura
preceituado pela norma gramatical, que na tarefa de explicitação da estrutura faz menção a
outra, denominada voz passiva analítica (VPA). Mais uma vez nos suscita a noção de que os
usuários e os receptores da mensagem a empregam, lêem- na, como uma estrutura de voz
ativa. Ou seja, a leitura/análise da VPS não está sujeita a leitura/análise de nenhuma outra
estrutura. A proximidade dos conteúdos dessa construção tal como organizada/selecionada
pelo usuário, em determinado contexto de uso, reflete a representação mental que se tem dela.
Pode-se dizer que os conceitos que estão mais integrados funcional, conceptual ou
cognitivamente também se manifestam com maior integração morfossintática, uma vez que
são colocados mais próximos no nível da codificação.
Vale ressaltar que a questão da voz ativa em foco encontra-se fora do eixo padrão
prescrito pela gramática tradicional, que apresenta o agente ocupando o papel de
sujeito/tópico da oração. Não há, nesse caso, nenhum resquício das considerações de Givón
(1995, p. 45) acerca do reflexo no discurso da orientação antropocêntrica da cultura humana
em posicionar o agente à esquerda da estrutura, uma vez que, na VPS, ele se encontra em
plano secundário, enfatizando-se o processo, a ação, a atividade desempenhada.
O caráter não-prototípico (supracitado) da voz ativa na concepção normativa, no
entanto, não encontra respaldo na concepção funcional uma vez que os parâmetros de
transitividade da VPS se coadunam com algumas das características, citadas em Givón (ibid.,
p. 45), concernentes ao status não-marcado da oração ativa: um agente/causa saliente; um
paciente/efeito saliente; verbo de ação, de aspecto perfectivo; oração realis. Podendo, assim, a
oração
25
da
VPS
ser
considerada
de
transitividade
relativamente
Culicover, P. Autonomy, predication and thematic relations. Syntax and Semantics. 1988, 21: 37-60.
alta.
65
No que diz respeito à propriedade convencional da VPS, o clítico se contribui
sobremaneira para o reconhecimento da mensagem e para a divulgação da estrutura em foco.
Segundo Azeredo (2002, p. 174-175) “o pronome reflexo, apresenta uma forte tendência à
cristalização junto a vários verbos, caso em que deixa de haver voz reflexa – um conceito
sintático – e se origina a classe dos verbos pronominais – que é um conceito morfológico:
comportar-se, pronunciar-se, arrepender-se, queixar-se [...]”. Acerca dessa propensão à
consolidação das formas lingüísticas, pode-se afirmar, com base na análise funcionalista e nos
pressupostos das representações sociais, que a parte temática da estrutura de VPS – verbo+se
– cristalizou-se. Em decorrência do uso, ela se tornou arbitrária e convencional, tendo sido
perdida a noção da existência de dois itens distintos na construção. Ao que parece, então,
verbo e clítico formaram um bloco único, formal e ideacional. Sendo assim, a partir do
momento em que se codifica/decodifica ‘conserta-se...’, p. ex., emergem os conceitos
relativos ao verbo e ao agente desfocado que tanto participa do processo verbal quanto o
deflagra.
O desfocamento do agente se dá sob os viéses semântico e pragmático, enquanto sua
indeterminação estrutural gera similaridade entre sua forma e a forma de sujeito
indeterminado, não existindo, assim, um item concreto na construção que corresponda ao
sujeito. Pelo viés funcional e representacional, o sujeito parece “piscar” na mente dos usuários
da estrutura, haja vista suas respostas conterem seus ofícios e eles próprios: “é o que eu faço”,
“faço isso há muito tempo”, “é o meu trabalho”. Enquanto também parece figurar na
compreensão dos receptores da estrutura que ‘alguém faz alguma coisa’, ‘ali realizam uma
atividade’.
O processo de sedimentação de parte da estrutura (verbo+se) talvez não tenha ocorrido
de forma abrupta, mas através de um processo gradual derivacional, que pode ainda estar em
curso. A VPS tal como é articulada fornece sinais de que uma mudança pode estar se
processando no suposto itinerário: iconicidade > arbitrariedade. Dessa dinâmica fazem parte
domínios culturais e cognitivos, uma vez que a realidade de cada grupo social é que direciona
seus usos e representações desses usos. Conforme Givón (1995), questões relativas ao
domínio cultural tornam, p. ex., “adulto” e “masculino” o caso não-marcado em face do
marcado “jovem” e “feminino”. Similarmente, é o que ocorre com os conceitos “animado” e
“inanimado”, segundo o autor, nossa perspectiva cultural egocêntrica como uma espécie
animada faz “animado” ser não- marcado e “inanimado”, o caso marcado.
Esse conhecimento inscrito nas experiências ou acontecimentos sustentados por
indivíduos e partilhados na sociedade nos permite compreender por que a estrutura de VPS é a
66
primeira opção selecionada pelos entrevistados. Porque, para o alcance do objetivo do grupo,
há tempos a estrutura cumpre eficientemente o papel de divulgação de suas atividades. A
questão da ‘antigüidade’ da estrutura faz emergir a representação tradição – credibilidade –
assim, estabilidade (manutenção do uso). Segundo Moscovici (2005, p. 40):
Sempre e em todo lugar, quando nós encontramos pessoas ou coisas e nos
familiarizamos com elas, tais representações estão presentes. A informação
que recebemos, e à qual tentamos dar um significado, está sob seu controle e
não possui outro sentido para nós além do que elas dão a ele.
Para alargar um pouco o referencial, nós podemos afirmar que o que é
importante é a natureza da mudança, através da qual as representações
sociais se tornam capazes de influenciar o comportamento do indivíduo
participante de uma coletividade. É dessa maneira que elas são criadas,
internamente, mentalmente, pois é dessa maneira que o próprio processo
coletivo penetra, como o fator determinante, dentro do pensamento
individual. Tais representações aparecem, pois, para nós, quase como que
objetos materiais [...] pois são o produto de nossas ações e comunicações.
Compreendemos que tanto a estrutura de VPS quanto sua representação podem estar
sofrendo um processo de desgaste em virtude da alta recorrência à construção/idéia. No
âmbito da linguagem, quando um fenômeno passa a ocorrer de forma previsível e estável,
torna possível sua inserção no nível gramatical, em que ocorre sua fixação, processo esse
denominado gramaticalização. No âmbito das representações, segundo Moscovici (ibid., p.
41), “quanto mais sua origem é esquecida e sua natureza convencional é ignorada, mais
fossilizada ela se torna. O que é ideal, gradualmente torna-se materializado. Cessa de ser
efêmero, mutável e mortal e torna-se, em vez disso, duradouro, permanente, quase imortal”.
Acerca do último mecanismo mencionado, suscitou- nos, após o contato com os
informantes da pesquisa, devido à dificuldade de compreensão, ou melhor, de conscientização
do que estava sendo questionado, que a natureza convencional da representação era ignorada.
A representação – embora fosse partilhada por tantos, embora penetrasse, influenciasse,
atingisse satisfatoriamente o objetivo de tornar a comunicação, dentro do grupo, relativamente
não-problemática – não era pensada pelo grupo.
Por essa razão, cremos que estrutura e representação caminham para a regularidade,
fixando-se como um emblema, que ao ser visto/pensado faz saltar imagens, conceitos e
características inerentes à estrutura. Nesse sentido, manifestam-se representações mentais
associadas a pequenos e médios comerciantes e prestadores de serviços; a locais simples,
construções antigas, não-revitalizadas; a centros comerciais abertos sem muita infra-estrutura;
a serviços e estrutura repetitivos, vistos a todo momento nas ruas. Nas palavras de Moscovici
67
(ibid., p. 90): “O que nós criamos, na verdade, é um referencial, uma entidade à qual nós nos
referimos, que é distinta de qualquer outra e corresponde a nossa representação dela. E sua
repetição [...] garante sua autonomia”.
O fato de terem sido encontradas outras duas ocorrências, de nominalização e de verbo
na primeira pessoa do plural, não invalida a representatividade da VPS, uma vez que, embora
elas representem o mesmo domínio funcional, cada uma possui um motivo específico para ser
usada, constatação analisada no capítulo seguinte. Sendo a VPS a ocorrência mais
selecionada, pode ser considerada uma base para as demais ou a mais perceptível e
significativa para o desempenho de determinada função, aparentemente já tendo se
especializado em relação às outras duas ocorrências.
Resumindo, objetivamos analisar o uso da estrutura gramatical VPS, empregada
recursivamente em/para situação comunicativa que compreende a divulgação da venda de
produtos e da oferta de serviços nos centros comerciais abertos, especificamente, no centro do
município de Niterói. Além disso, nosso estudo foi direcionado para a compreensão do
significado que tal estrutura permite realizar com atenção para o fato de que o significado que
a torna recorrente, ao mesmo tempo, ao ser selecionado (repetido) em virtude de sua
adequação, é que, histórica e socialmente, origina e estabiliza o significado da estrutura,
assim, tornando-a usual, ou seja, gramatical. Nesse caso, compreendemos, em relação ao
emprego da VPS, que o caráter icônico da estrutura, em virtude da alta recorrência a ela pelo
grupo, desgastou-a, tornando-a arbitrária, passando a circular naquela comunidade como uma
estrutura única, sedimentada, cuja natureza, elaboração e disposição não podem mais ser
restauradas. Desse modo, configurando um processo de gramaticalização.
5. OUTRAS OCORRÊNCIAS
Durante a constituição do corpus com ocorrências de VPS utilizadas na divulgação da
venda de produtos e da prestação de serviços, foram encontradas desempenhando a mesma
função outras duas ocorrências. A primeira, ordenada dessa forma em face da freqüência,
composta da seguinte estrutura: nome verbal26 – (preposição) – sintagma nominal e
denominada N (nominalização) no capítulo 3. A segunda, bem menos empregada,
denominada VPPP, tem configuração verbo na primeira pessoa do plural – sintagma
nominal. Como exemplo desta citamos COLOCAMOS PINOS PULSEIRAS BATERIAS
(registro 29) e como exemplo de nominalização segue: AFIAÇÃO DE SERRAS (registro 27).
Constatamos, portanto, que as três estruturas estão em uso na comunidade lingüística,
partilhando o mesmo domínio funcional, sendo assim, podemos considerá- las variantes, uma
vez que a variação lingüística “é entendida como formas em competição no plano sincrônico,
formas estas que, por razões imprevisíveis, em algum momento da história da língua, iniciam
ou cessam a concorrência entre si”. (VOTRE E OLIVEIRA, 2001, p. 132). Dessa forma, a
variação é interpretada como um possível estágio do processo de gramaticalização.
Nesse sentido, a seleção de ocorrências comunicativas pelo usuário e apreensão pelo
receptor corresponde a um processo dinâmico, no qual, as alternativas lingüísticas competem
pela articulação de sentidos correspondentes. Verificamos, em capítulos anteriores, que, das
três estruturas referidas, a VPS configura-se como a mais regular e freqüente, a forma nãomarcada em relação às duas outras.
Notamos que, enquanto as ocorrências de N e de VPPP participam de um processo de
seleção, até o momento, secundário, correspondendo a(o) segundo(a) e terceiro(a)
26
nomes que provêm de verbos. “... se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o verbo palavra
primitiva...” (BARRETO, 1982, p. 331).
69
lugares/opções ou, no que tange à representação do domínio funcional mencionado, a VPS
encontra-se num estágio acima, parecendo estar se especializando27 em relação a N e VPPP.
Esse processo de regularização de formas lingüísticas, com o decorrer do tempo, pode
proporcionar às ocorrências distintas das de VPS – fenômeno que já ocorre com essa –
posições mais definidas.
A dinâmica de competição de tais formas é guiada por padrões de motivação distintos
ou específicos sobre os quais teceremos algumas considerações baseadas na análise das
estruturas e da interação estabelecida com seus usuários e receptores. Uma vez que possuem
diferentes nuanças no que tange à significação, à percepção pelo usuário, lançamos luz sobre
a variação, em curso, das formas N e VPPP que aparentemente já sofrem uma espécie de
redução no que concerne às suas escolhas. Fato esse condicionado pelo tipo de texto, contexto
sociolingüístico, efeito objetivado, entre outros fatores.
Visto que a regularização de formas da língua é decorrente de pressões de uso da
comunidade lingüística, utilizaremos os pressupostos da teoria funcionalista, sem perder de
vista os conceitos relativos ao fenômeno das representações sociais. A primeira corrente de
estudo se torna bastante adequada à análise pelo fato de ser propriamente lingüística e se
basear no princípio de língua como instrumento de comunicação. A segunda, em virtude de
seu objeto de estudo ganhar vida, circular, perdurar ou desaparecer através da linguagem, da
comunicação, das interações sociais.
A fim de ilustrar um dos subprincípios de estágio inicial de gramaticalização ou
regularização gramatical, denominado camadas, pertinente à analise das citadas formas,
observemos um dos parágrafos do texto sobre variabilidade e mudança de Votre e Oliveira
(ibid., p. 133):
[...] camadas – representa a alternativa teórica mais adequada para dar conta
dos processos e estados de variabilidade. Segundo tal proposição, as
diferentes camadas de forma coexistem durante períodos indetermináveis,
têm idades distintas, devido à entrada diferenciada no uso lingüístico, e
podem ser complementares, competitivas ou relativamente redundantes.
Neste último caso, configura-se o que a tradição lingüística rotula como
variação.
Antes de expormos nossas impressões acerca do contato estabelecido com os usuários
27
“Especialização: as formas da língua tendem a fixar seu uso nos estágios finais de regularização, reduzindo ou
cessando, então, a possibilidade de variação.” (VOTRE E OLIVEIRA, ib id., p. 132).
70
e receptores das estruturas, torna-se importante assinalar a proximidade nocional entre as
propriedades das representações sociais e o processo de gramaticalização de formas. Para
tanto, vejam-se a seguir as considerações de Moscovici (2005, p. 22) desenvolvidas após sua
afirmação de que a criação coletiva está organizada e estruturada em termos de
representações, e que isso se dá tanto pelas influências comunicativas em ação na sociedade,
como serve para tornar a comunicação possível.
Precisamente devido a essa interconexão, as representações podem também
mudar a estabilidade de sua organização e estrutura. Isso depende da
consistência e constância de tais padrões de comunicação que as mantêm. A
mudança dos interesses humanos pode gerar novas formas de comunicação,
resultando na inovação e na emergência de novas representações.
Representações, nesse sentido, são estruturas que conseguiram uma
estabilidade, através da transformação duma estrutura anterior.
A partir das entrevistas realizadas, durante a análise detida das respostas dos usuários
das estruturas de N à seguinte pergunta “por que você resolveu usar essa frase (ou esses
dizeres) para fazer sua propaganda?”, verificamos, na reiteração reformulada da questão,
procedimento sempre necessário para o alcance por parte dos entrevistados do que estava
sendo questionado: “por que você usou essa frase e não esta, ‘conserta-se peças’?, que os
informantes ao se conscientizarem, ou melhor, ao ativarem o conhecimento compartilhado da
existência e da recursividade da VPS, fazem emergir uma nova representação. O grupo no
momento da abordagem parece se sentir comparado e sua saída é pelo viés da diferença, da
criatividade, do ‘fora do lugar comum’, haja vista o teor de suas respostas: “pra ficar
diferente”, “é mais direta”, “é objetivo, assim fica mais objetivo”, “é uma outra maneira”, “a
gente vê menos essa”.
No que tange às informações fornecidas pelos usuários da forma VPPP, embora
tenham tido o mesmo comportamento do grupo anterior diante da questão apresentada,
verificou-se que o teor de suas respostas corresponde a um misto de impressões. Ao
afirmarem que utilizam tal construção por ser diferente e porque simboliza o que fazem (“nós
fazemos isso...”), transmitem as noções dos usuários tanto de N quanto de VPS,
respectivamente. No entanto, constatamos que, no que diz respeito às impressões similares às
de VPS, esta construção/idéia, conforme já visto, é a preferida para a expressão da
representação ‘profissional-atividade’.
Com base nessas observações e com a ajuda do critério de marcação – conceito
dependente de contexto, que interpreta determinada forma com base em fatores
71
comunicativos, socioculturais, cognitivos –, observamos a distribuição das três estruturas num
contínuo, exibindo diferentes graus de marcação quanto à freqüência de uso, à complexidade
estrutural ou à complexidade cognitiva.
Embora a forma VPPP seja, aparentemente, mais simples, direta do ponto de vista
quantitativo – verbo + complemento [FABRICAMOS ALIANÇAS (registro 28)] – e não
verbo+se+complemento (FABRICA-SE ALIANÇAS), tampouco nome+(de)+complemento
(FABRICAÇÃO DE ALIANÇAS) – e tradicional – voz ativa típica, é a menos freqüente na
tarefa de divulgação da venda de produtos e da prestação de serviços. E justamente essa
carência inviabiliza afirmarmos que sua baixa freqüência, quase extinção, pelo menos nas
principais ruas do centro de Niterói, seja fruto de sua complexidade estrutural e cognitiva,
uma vez que, das quatro ocorrências coletadas, duas apresentam verbo e complemento bem
integrados, como em fabricamos alianças, em que o sintagma verbal não é destacado do seu
complemento objeto, através do emprego de recursos visuais.
Além disso, vale assinalar que a pessoa gramatical em que está o verbo desfaz a
impessoalidade do processo, aproximando clientes e comerciantes e, assim, suscitando o
enfraquecimento da idéia de um estabelecimento sério, regulamentado, comprometido com a
qualidade do produto oferecido ou do serviço prestado.
A construção de nominalização, por sua considerável freqüência nas propagandas ora
estudadas, parece fazer parte de um processo de estreitamento de escolhas representativas do
domínio funcional ‘divulgação de produtos e serviços em centros comerciais abertos’. Acerca
de sua funcionalidade, suscitou-nos que a construção, até pela natureza no nome (verbal),
configure um tipo de encapsulamento28 (THOMPSON, 1996, p. 170), da parte inicial da
estrutura oracional VPS.
Ressaltamos que o conceito de encapsulamento de Thompson diz respeito a padrões
utilizados em textos formais discursivos em que “um significado é introduzido como uma
oração completa, e depois encapsulado em uma nominalização que serve como ponto de
partida da próxima oração”29 . Nossa comparação diz respeito apenas à noção manifestada de
sua descrição. Como se a nominalização, nesse contexto, fizesse menção/referência à
construção de VPS, dando, assim, andamento ao fluxo informacional do texto,
compartilhando construções/idéias, unindo representações. Num mecanismo similar ao
28
O autor afirma que uma função importante da nominalização é o encapsulamento. E que um nome tipicamente
se refere a uma “coisa”, algo que existe. Ao nomear um processo, o escritor pode refletir o fato de ter negociado
e estabelecido o significado da oração centrada no processo.
29
[...]a meaning is brought in as a full clause, and is then encapsulated in a nominalisation which serves as the
starting point for the next clause. (1996, p. 170).
72
descrito a seguir (MOSCOVICI, ibid., p. 203):
As representações do senso comum são, de um modo ou de outro,
“híbridas”. Isso quer dizer que idéias, expressões lingüísticas, explicações de
diferentes origens são agregadas, combinadas e regulamentadas mais ou
menos como ciências diferentes, em uma única ciência híbrida, como
diversos idiomas em uma linguagem crioula.
Em resumo, as variantes tratadas neste trabalho, pelo fato de existirem como forma de
representação de um mesmo propósito, são referentes em competição num estágio do
continuum de gramaticalização. Sendo a variabilidade compreendida como uma das etapas de
mudança por que passam as formas lingüísticas em sua trajetória de regularização ou
convencionalização gramatical, podemos inferir que a VPS se encontra num estágio avançado
desse processo – que tende a fixar as formas diminuindo, ou mesmo cessando a possibilidade
de variação com outra(s) forma(s) – em virtude de seus aspectos simbólicos, de sua natureza
convencional. Vide as seguintes considerações de Furtado da Cunha (1999, p. 91) sobre o
assunto:
[...] a gramaticalização é entendida como um modo de rotinização da língua.
Quando uma construção deixa de ser um meio inovador de reforçar um
aspecto do discurso e se transforma numa estratégia comum, previsível, a
freqüência com que ela ocorre indica que ela passou a ser considerada pela
comunidade lingüística como gramatical.
A forma N, conforme seu grupo de usuários, é empregada visando a uma certa
‘diferenciação’ do grupo da VPS, alegando-se para sua utilização uma saída do lugar comum
no que diz respeito à propaga nda de rua. Como retratado em capítulos anteriores, existe uma
estrutura clichê da propaganda de produtos e serviços que pode deixar de ser emblemática a
qualquer momento, passando a ser usual alguma outra estrutura já empregada no propósito em
questão, como, por exemplo, a N. O mesmo pode acontecer com a forma de VPPP, sua atual
baixa freqüência pode não corresponder a de ontem, tampouco, futuramente, resultar na sua
extinção. No entanto, a estrutura de VPPP parece contribuir “às avessas” para a dinâmica de
redução da margem de variabilidade. Pois, se não é empregada, não é vista, difundida; caindo,
assim, em desuso.
Sendo assim, verificamos que não só os meios de expressão lingüística variam dentro
de uma comunidade, mas também e, ao mesmo tempo em virtude disso, os conteúdos e
73
sentidos representados. Do mesmo modo como as camadas competem num mesmo campo
semântico, em momentos variados de sua trajetória, segundo alternativas funcionais ou
estilísticas à disposição dos usuários, os estímulos representacionais são selecionados de uma
grande variedade de estímulos possíveis. Além disso, se o critério de marcação é um
continuum, sugerimos uma escala de marcação para essas construções, sendo a VPS nãomarcada, N relativamente marcada e VPPP marcada, ou seja, sugerimos o estabelecimento da
seguinte hierarquia que ordena essas ocorrências: VPS > N > VPPP. Sobre isso, destacamos
que, em termos estritamente gramaticais, a VPS seria marcada em relação à voz ativa, mas,
conforme destaca Givón (1995), por ser um princípio contextualmente dependente, na
propaganda de rua de Niterói, contexto da pesquisa, ela passa a ser a forma não-marcarda.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1. RESUMO DO ESTUDO
O estudo realizado caracterizou a VPS como configuração básica de significado
funcional e representacional na divulgação de produtos e serviços no centro de Niterói.
Conforme se viu no subcapítulo 4.1, há uma relação natural, não-arbitrária entre a estrutura
“física” da VPS e seu significado, sua expressão, seu potencial comunicativo. O caráter
simples e previsível com que os comerciantes fazem uso da estrutura é refletido na alta
freqüência com que é encontrada no centro de Niterói. Além disso, o modo de organização
dos termos lingüísticos nos cartazes e tabuletas registrados reproduz de modo respectivo a
proximidade dos conteúdos do ponto de vista cognitivo e a importância dada pelo usuário ao
processo (atividade) e, conseqüentemente, à construção verbo+se.
Verificamos, com base nas suas propriedades funcionais, que a VPS não corresponde à
“voz passiva” conforme consta em sua sigla – utilizada neste trabalho com o intuito de
facilitar a referência à construção analisada, uma vez que não pretendemos propor
nomenclatura mais adequada. Bastou que observássemos não só a manifestação no seu uso
dos subprincípios de iconicidade, como também dos parâmetros de transitividade.
Principalmente aqueles que dizem respeito ao sujeito, ao sintagma verbal e ao complemento
objeto direto. De posse de uma visão holística dos traços de transitividade, analisamos a
oração que compõe a ocorrência de VPS como sendo de transitividade relativamente alta
(ponto sete), resultado caracterizador de evento causal prototípico, no qual um agente
animado intencionalmente causa uma mudança física e perceptível de estado em um objeto.
Desse modo, procuramos ampliar a compreensão da estrutura em relação a sua concepção
pela tradição gramatical.
75
Ademais, a partir do contato estabelecido com comerciantes usuários da VPS, visando
buscar dessa interação motivações para o emprego da referida estrutura, constatamos que,
além dos aspectos icônicos, há a presença de aspectos simbólicos em seu uso. Dessa maneira,
procuramos interpretar tal simbologia com base no conceito de representação social, cuja
compreensão de gramática e discurso está em conformidade com a da teoria funcional, haja
vista o uso extensivo que se faz das particularidades da gramática e a eficiência desse uso
serem tratados como objetivação da gramática, conforme explicitado no subcapítulo 4.3.
Sendo assim, conforme disposto no subcapítulo 4.2, observamos que a VPS funciona
como uma construção ritualizada, convencionalizada, componente do imaginário coletivo do
grupo. Seu status simbólico estabelece o vínculo entre usuários e constrói/evoca imagens
relacionadas com a acepção da forma advinda do modo como é empregada e dos elementos
que sobrevêm da mensagem, como: tipo de usuário, local, divulgação; o próprio caráter
emblemático da construção “verbo+se”. A estrutura, portanto, vem se constituindo num clichê
da propaganda de rua, com características próprias, ou seja, distintas das características da
propaganda prototípica.
Após a realização da análise da VPS em separado, no subcapítulo 4.3 procedemos à
correlação das análises, que nos possibilitou constatar tanto a afinidade entre as teorias citadas
como otimizar o processo de investigação da forma. Nesse sentido, suscitou-nos que o
processo de sedimentação da parte da estrutura (verbo+se) – na qual o sujeito pragmático se
manifesta – assim como da construção inteira provavelmente não ocorreu de forma abrupta. O
funcionamento atual da VPS configura indício de que houve, ao longo do tempo, um processo
de ritualização.
Além disso, concluímos que a VPS – ‘percebida’ contendo configuração de sujeito
indeterminado – e sua representação estão sofrendo um processo de desgaste em virtude da
alta recorrência à sua construção/idéia. Ambas caminhando para a regularização, fixando-se
como um emblema, que ao ser visto/pensado faz saltar imagens, conceitos e características
inerentes à estrutura, como a compreensão ao vê- la/lê-la de que ‘alguém faz alguma coisa’,
‘ali realizam determina atividade’.
Foram reservadas para o capítulo 5 considerações sobre as ocorrências de
nominalização e de verbo na primeira pessoa do plural. Verificamos a respeito dessas formas
que, pelo fato de competirem pelo uso num mesmo domínio funcional, tornam-se camadas
concorrentes configurando, assim, um processo de variabilidade, que, em algum momento,
por alguma razão imprevisível, pode cessar.
76
Numa observação comparativa e baseada nos resultados das análises dos subcapítulos
precedentes, notamos que a VPS configura a forma mais rotinizada, ou seja, regularizada em
relação à N e à VPPP. A forma N também possui destaque no que tange à freqüência de uso
suscitando ter seu grupo a noção de que ao empregá- la está recorrendo à criatividade. Já a
forma VPPP quase não foi encontrada, indicando que a mesma passa longe de ser considerada
pela comunidade lingüística como usual (gramatical).
6.2. RESULTADOS
A abordagem utilizada, no estudo do emprego da VPS pela comunidade lingüística
caracterizada ao longo do trabalho, possibilitada pela afinidade teórica do funcionalismo
lingüístico com um conceito de base sociológica, resultou numa análise que desvelou
pormenores e sutilezas aparentemente intangíveis de questões tais como pragmática,
semântica e, principalmente, cognição.
Esse tipo de análise aliado ao contato com os usuários e receptores das formas
lingüísticas coletadas, VPS, N e VPPP, levou-nos à verificação de critérios de motivação
explícita empregada para a seleção de uma estrutura e não outra. A alegação apresentada para
a escolha da VPS se coadunou com sua freqüência nas ruas e o (re)arranjo de seus itens por
parte dos usuários. Com vistas à comparação da VPS, objeto desta pesquisa, com a “voz
passiva sintética” da gramática tradicional, verificamos, pelas características e propriedades
dos constituintes da estrutura conforme empregados pelo usuário e compreendidos pelo
receptor, algumas incoerências.
Dentre elas, a primeira se fez sentir no momento em que um informante de nível
superior se mostrou confuso ao tentar explicar que a estrutura, através da qual ele divulgaria
uma hipotética venda de apartamentos, não correspondia a nenhuma das três ocorrências
apresentadas a ele, uma vez que o verbo da terceira ocorrência (vende-se apartamentos)
deveria estar no plural.
A base dos contra-sensos normativos diz respeito ao fato de o usuário, mesmo aquele
altamente escola rizado, não mais perceber o que deve concordar com o quê, haja vista
reanalisar o sujeito, exigido pela norma, como objeto. Isso se dá inclusive, em nosso caso,
devido à acepção do verbo anteposto ao complemento e seus parâmetros funcionais.
77
A orientação tradicional, que mistura inadvertidamente os conceitos formal e
semântico (conforme observado em PERINI, 2002) na explicitação de conteúdos, insiste na
justificativa tautológica de que estruturas do tipo conserta-se relógios estão erradas visto
serem passivas, e o termo que determina a concordância (relógios) ser sujeito passivo da
sentença, pois é considerada correspondente a ‘relógios são consertados’ (VPA). Essa
explicação não confere com a freqüência cada vez menor com que os usuários empregam o
verbo no plural.
Ademais, a “voz passiva sintética” que faz da parte do universo das pessoas em geral,
inclusive dos estudantes – que se vêem confusos diante da noção tal como fixada em sala de
aula – corresponde a mensagens de rua divulgadoras da venda de produtos e da oferta de
serviços que, conforme este estudo, apresenta configuração básica verbo singular + se +
sintagma nominal (complemento) plural.
A partir dessa formação e das motivações e representações inferidas do contato com os
usuários, concluímos que a construção/idéia VPS assimila-se à construção/idéia da noção
gramatical sujeito indeterminado uma vez que carrega o conhecimento de que alguém (pessoa
física ou jurídica) afia, aluga, amola, conserta, troca, entre outras atividades, alguma “coisa”.
Nesse caso, a tradução literal da estrutura não se realiza, ela se comporta como uma expressão
idiomática, ou seja, funciona como uma unidade, como uma frase feita, portando uma acepção
simbólica, visual, representacional.
Portanto, a atual distinção feita pela gramática tradicional do português entre “voz
passiva sintética” e “sujeito indeterminado” – fruto da exigência de que todas as frases
tenham sujeito, em conformidade com os princípios da “análise lógica”; aliada à primazia
conferida a argumentos históricos (a construção com se foi, no passado, uma realização da
voz passiva) – não é realizada pelo usuário da VPS.
A situação particular da estrutura coloca questões relevantes para a teoria funcional,
alicerçada em obras representativas de língua inglesa e portuguesa. Assim, p. ex., verificamos
a existência, na VPS, de parte dos atributos relacionados por Givón (1995, p. 45) ao status
não- marcado da oração ativa – um agente/causa saliente; um paciente/efeito saliente; verbo de
ação; oração realis. Vale destacar que desses atributos depreendem- se outros fazendo com
que a oração contenha sete traços de transitividade. Dessa forma, pelo critério semânticopragmático, a VPS corresponde à voz ativa prototípica.
Além disso, uma vez que a repetição ou freqüência de um item ou construção acarreta
seu desgaste funcional e conseqüente abstração, a freqüência de uso da VPS tem contribuído
no sentido de torná- la gramatical. Fato que tem acarretado à forma um resultado
78
compreendido, por Bybee & Thompson30 (1997 apud FURTADO DA CUNHA ET AL.,
1999, p. 91), como o efeito de conservação: “a alta freqüência de uma forma [...] torna a
forma resistente à mudança”.
Observamos, para a reprodução do campo semântico-pragmático “divulgação própria,
nas ruas, de atividades comerciais e de serviços”, a utilização de mais duas ocorrências, afora
a VPS, denominadas N e VPPP, que, na dinâmica de competição de uso, até o momento,
‘perdem’ para a VPS. Isso ocorre muito provavelmente em virtude da ‘remotabilidade’ do
emprego da mais representativa delas, haja vista exemplos mencionados em antigos trabalhos
dessa natureza, e da perpetuação das mensagens por comerciantes que ao adquirirem o
‘ponto’ mantêm a estrutura.
A VPS e as inferências manifestadas da particularidade do seu emprego, além de
constituírem representações sociais do grupo que efetivamente faz uso da construção, figura
no imaginário dos demais grupos funcionando como uma espécie de interface entre eles e
suas representações. Sendo assim, suscita- nos que as idéias e imagens que eme rgem do uso da
VPS constituem a representação básica de onde as outras representações, correspondentes aos
usuários de N e de VPPP, derivaram.
O estudo realizado sugere, enfim, que a estrutura de VPS, no ambiente onde fora
coletada, configura oração de vo z ativa, de sujeito pragmático, desfocado – pois se o tratamos
como indeterminado estaremos ignorando seu contexto de uso. Além disso, o foco é
direcionado para o processo verbal, que aparece como ponto de partida da mensagem. O SN
posposto ao verbo é comp reendido como complemento objeto da estrutura por conta de sua
baixa integração ao verbo, de sua posição na oração e das características semânticas e
discursivo-comunicativas do SV. Essa concepção da VPS, principalmente na análise do ‘item’
verbo+se, aliada às representações do grupo, inferidas da interação com o mesmo, suscitounos que o caráter icônico da estrutura, em virtude da sua alta freqüência, desgastou-a,
tornando-a arbitrária. Assim, verificamos a existência de indícios de que a VPS se tornou
consagrada pelo uso numa hipotética trajetória derivacional iconicidade > convencionalidade.
Ademais, constatamos que a VPS, além de poder ser representada como AÇÃO à OBJETOS
AFETADOS POR ESSA AÇÃO, caracteriza-se como a forma não- marcada em relação às
demais formas brevemente analisadas. Sendo a forma N relativamente marcada e a VPPP,
marcada, em relação à VPS.
30
FURTADO DA CUNHA , Maria Angélica; OLIVEIRA, Mariangela Rios de; VOTRE, Sebastião. A interação
sincronia/diacronia no estudo da sintaxe. Delta, São Paulo: PUC/SP, v. 15, n. 1, p. 91, 1999.
79
6.3. LIMITAÇÕES
Acreditamos que as limitações do trabalho são de natureza quantitativa. Análises
quantitativas mais formais, com tratamento estatístico adequado, seriam úteis como
complementação do estudo, ajudando a estabelecer certos pontos com maior segurança. Por
exemplo, o fato de que a VPS ocorre com freqüência muito mais elevada que as demais
ocorrências. Os registros efetuados não chegam a apresentar comprovação concreta de que tal
fato não seria apenas uma particularidade incidental do local eleito para a coleta.
Ressaltamos que a escolha do local visou a uma certa coerência com a localização
geográfica (Niterói) da instituição de ensino UFF. Além disso, conforme verificado
previamente, os estabelecimentos nos quais tais estruturas são fixadas se encontram em
quantidade considerável apenas no bairro Centro.
Essas limitações quantitativas se devem à opção por uma análise qualitativa,
detalhada, das ocorrências em contexto. Para esse propósito, coletamos quantidade pequena
de amostras até em razão do caráter recorrente das estruturas (exceto VPPP) e dos serviços
transmitidos por elas. Sendo assim, talvez, em virtude do que foi exposto, a generalidade e o
alcance das conclusões devam ser relativizados.
6.4. CONTRIBUIÇÕES
A contribuição teórica mais geral do presente trabalho é a exploração de possibilidades
de abordagem do português nas perspectivas funcional e representacional. Embora a segunda
não configure uma teoria lingüística, seu viés holístico se harmoniza com a proposta do
funcionalismo lingüístico, o qual apresenta uma concepção geral e abrangente da natureza e
do funcionamento da linguagem.
O desenvolvimento da pesquisa no que tange ao exame funcional foi baseado nos
estudos norte-americanos, na linha de Givón, Thompson, Closs-Traugott, Hopper, entre
outros. Para a utilização, neste trabalho, dos conceitos e parâmetros desenvolvidos por esses
autores, fez-se necessário procedermos às devidas adaptações, tratadas no subcapítulo 4.1, em
função da língua (portuguesa e não inglesa) e do tipo peculiar de texto estudado (de
propaganda).
80
O
enfoque
funcional- representacional
permitiu
levantar
aspectos
sociais
e
comunicativos de uma questão que vem sendo, com freqüência, alvo do interesse de
estudiosos do português: o significado e a descrição da construção com o clítico se, e suas
relações com a voz passiva. A contribuição teórica mais importante é a proposta de uma
correlação entre a descrição semântico-pragmática da estrutura e as representações sociais
inerentes à essa descrição.
Tal enfoque se mostrou adequado visto compreender a linguagem como uma atividade
sociocultural, observando as estruturas da língua como categorias não-discretas, uma vez que
servem a funções cognitivas e comunicativas. Nesse sentido, tornou possível lançar luz sobre
as propriedades semânticas, pragmáticas e cognitivas da estrutura de VPS. Além disso, sua
adequação se confirmou pela possibilidade de abranger as formas N e VPPP, variantes do
mesmo domínio funcional da VPS. Portanto, a contribuição se estendeu ao estudo das formas
de propagação da venda de produtos e da oferta de serviços.
O trabalho abre também a possibilidade de respaldar teoricamente estudos sobre
questões relativas ao ensino/aprendizagem e funcionamento da estrutura gramatical em foco.
Isso vem contribuir para o conhecimento dos “compêndios gramaticais existentes”: normativo
e funcional, cooperando para o conhecimento dos registros em língua portuguesa e,
conseqüentemente, para a ampliação da compreensão sobre as relações entre gramática e
discurso.
Face ao exposto, tratamos da realidade social e cultural dos usuários, que faz com que
a VPS seja não-marcada em relação às demais ocorrências, descrevendo aspectos icônicos e
simbólicos da propaganda. Ademais, enfatizamos a necessidade de se considerar a forma tal
como o usuário, o grupo (a comunidade lingüística, ‘social’) a compreende e emprega, ou
seja, diferentemente de como o assunto é tratado nos manuais e livros didáticos, cujo foco se
fixa na forma dos elementos e não na sua funcionalidade. Essa dinâmica, normativa, distante
da realização efetiva dos fatos da língua, só contribui para tornar a configuração ‘imposta’,
SV plural + se + SN plural, ilegítima.
6.5. PESQUISAS FUTURAS
A ampliação do estudo seria necessária para verificar se os significados e funções
observados para VPS são os mesmos em outros lugares ou regiões. Embora tenhamos
81
constatado – através da realização de trabalho final apresentado numa das disciplinas cursadas
no Mestrado – que a estrutura de fato é significativa e apresenta caracteres icônicos
relevantes, tais como os dispostos no subcapítulo 4.1, a dilatação do corpus viabilizaria
também a elaboração de análise quantitativa mais segura.
Junto a isso, seria interessante aprofundar os estudos do efeito da conservação da
forma de VPS, de acordo com o tratamento dado a ele por Bybee & Thompson [1997 apud
FURTADO DA CUNHA ET AL., 1999, p. 91 – cf. nota anterior (26)], que sinalizam para a
questão de a alta freqüência de uma forma torná- la resistente à mudança. Para tanto, poder-seiam consultar registros remotos dos centros comerciais do município de Niterói ou anúncios
de jornais antigos, procedendo à interação entre sincronia e diacronia, numa abordagem
pancrônica, processo fundamental na compreensão do fenômeno de gramaticalização. Desse
modo, aprofundar-se- iam também as relações entre a VPS e as demais ocorrências (N e
VPPP) ou outras que possam ter servido à divulgação de produtos e serviços nas ruas.
Além disso, um desdobramento de nossa pesquisa que pode ser bastante útil na tarefa
de ensino e aprendizagem diz respeito à inferência de inexistência de “voz passiva sintética”
no português contemporâneo, assim como acontece em inglês, suscitando ser uma noção
universal, passível de estudo tipológico. Acerca do assunto, Said Ali (1957, p. 98) observa
que o português não realizou “o progresso das línguas irmãs” (francês, espanhol e italiano),
que não aplicam a concordância verbal nas construções com o clítico se.
Em síntese, os desenvolvimentos citados nos dois primeiros parágrafos representariam
um desejável e necessário aprofundamento da investigação dos porquês e dos modos como as
relações ocorrem ou ocorreram na perspectiva funcional-representacional da VPS. Já acerca
dos estudos tipológicos, esses poderiam auxiliar na alteração da terminologia tradicional ou na
reformulação conservadora da descrição da estrutura, numa contribuição para o ensino da
língua materna.
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Rio de Janeiro. 2002.
HOPPER, Paul; TRAUGOTT, Elizabeth Closs. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge
University Press, 1993.
IKEDA, Sumiko Nishitani. A Função do “se”. Cadernos da PUC/SP, n. 5, p. 111-147, 1980.
JUCÁ FILHO, Cândido. 32 Restrições ao anteprojeto de simplificação e unificação da
nomenclatura gramatical brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1958.
KURY, Adriano da Gama. Novas lições de análise sintática. São Paulo: Ática, 2003.
LEITÃO, Luiz Ricardo (org.) Gramática crítica. Rio de Janeiro: JOBRAN / COOAUTOR,
1995.
MACEDO, Alzira Verthein Tavares de. Funcionalismo. Revista Veredas. Juiz de Fora, n. 2,
p. 73-88, 1998.
MARTELOTTA, Mário Eduardo; VOTRE, Sebastião Josué; CEZARIO, Maria Maura (orgs.).
Gramaticalização no Português do Brasil. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
MELLO, Pedro de. O pronome “se” indefinido. Piracicaba: Offs. Graphs. do <<Jornal de
Piracicaba>>, 1926.
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 3ed.
Petrópolis: Vozes, 2005.
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______. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP, 2000.
______. Uma visão geral da gramática funcional. ALFA: Revista de Lingüística. São Paulo,
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PERINI, Mário A. Para uma nova gramática do português. São Paulo: Ática, 1985.
PINTO, Edith Pimentel. O português popular escrito. São Paulo: Contexto, 1996.
REGO, Lana M. Rodrigues. O Funcionalismo e a Formação do Aluno de Letras: Revisitando
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RIBEIRO, Manoel Pinto. Gramática aplicada da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
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ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1997.
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Melhoramentos, (s/ data).
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______. Meios de expressão e alterações semânticas. 3 ed. Rio de Janeiro: FGV, 1970.
SANDMANN, Antônio José. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 2002.
SCHERRE, Maria Marta Pereira. Doa-se lindos filhotes de poodle – variação lingüística,
mídia e preconceito. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
SOUSA DA SILVEIRA. Lições de português. 6 ed. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1960.
TERRA, Ernani; NICOLA, José de. Gramática, literatura e produção de textos para o ensino
médio. São Paulo: Scipione, 2003.
THOMPSON, Geoff. Introducing functional grammar. London: Arnold, 1996.
VIEIRA, Maria das Graças; FIGUEIREDO, Regina. Ler, entender, criar. São Paulo: Àtica,
2003.
VOTRE, Sebastião Josué; OLIVEIRA, Mariangela Rios de. Continuidade, variabilidade e
mudança na língua portuguesa. Cadernos de Letras da UFF, n. 21, p. 121-145, 2001.
ANEXO I – A
QUESTIONÁRIOS DOS USUÁRIOS DE VPS
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 01
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 01: AMOLA-SE ALICATES FACAS TESOURAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Visconde do Rio Branco, nº 399 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Júnior.
Faixa etária: (X) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio (cursando).
Observações: empregado. Disse que o dono do estabelecimento dificilmente
aparece.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Quem fez a placa foi o dono anterior. O dono atual deixou do jeito que encontrou.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Sim. Um cliente, professor de português, me disse que os dizeres estavam
errados, mas eu não quis falar nada para o dono, ele podia achar que aquilo era
idéia minha.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 02
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 02: TROCA-SE PULSEIRAS PINOS E BATERIAS DE RELÓGIOS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Visconde do Rio Branco, em frente ao nº 403 / Centro.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Antônio.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
(X) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: tinha de trabalhar, parou de estudar muito cedo.
Observações: camelô.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. O pintor que fez, eu só passei mais ou menos como eu queria. Mas é igual aos
outros que têm por aí.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 03
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 03: AFIA -SE FACAS TESOURAS ALICATES ESPÁTULAS DE UNHA
Registro nº 04: AFIAM-SE TESOURAS ALICATES DE UNHA ESPÁTULAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Ernani Cardoso, nº 359 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Jorge.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 8ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Da primeira vez, só passei a idéia para o rapaz que faz o cartaz. Da segunda vez,
mudei a placa de dentro (registro 4), porque um professor sempre passava por aqui
e dizia que estava errado.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim. As duas atendem, mesmo quando a outra placa estava errada.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Sim, esse professor. Só ele.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 04
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 05: COLOCA-SE PINOS PULSEIRAS E BATERIAS DE RELÓGIOS /
AMOLA-SE ALICATES E TESOURAS NA HORA
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Doutor Borba, nº 17 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Jorge.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Tirei da minha cabeça.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram a lgum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 05
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 06: CONSERTA-SE MÁQUINAS FOTOGRÁFICAS E FLASHES
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Almirante Teffé, nº 563, sl. 3 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Paulina.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Não tirei de lugar nenhum, eu que criei com o pouco de conhecimento que tenho
de português.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 06
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 07: FURA-SE ORELHAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Visconde do Rio Branco, nº 233 – loja 160 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Solange.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Tem quatro anos que eu e meu marido pegamos o ponto e já havia uma faixa
com essa frase, meu marido só mandou passar da faixa para essa placa.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 07
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 08: AMOLA-SE TESOURAS ALICATES FACAS SERROTES ETC
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Aurelino Leal, nº 52 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: José.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
(X) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 6ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Tirei da minha profissão, do que faço há anos.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 08
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 09: ALUGA-SE LOJAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Visconde do Rio Branco, nº 233 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Pedro.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: superior completo.
Observações: contato feito via telefone.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Mandei fazer, mas não a escrevi, são todas iguais, nem notei que estava errado.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 09
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 10: AMOLA-SE ALICATE E TESOURA
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua São João, nº 95 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Claudeci.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 4ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Foi o pintor José que escolheu.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 10
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 11: CONSERTA-SE: INSTRUMENTOS MUSICAIS & APARELHOS
ELETRÔNICOS: VIOLÕES, GUITARRAS, CONTRA-BAIXOS, TECLADOS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: R. Barão do Amazonas, nº 435/101 / Centro.
Observações: contato feito por telefone.
2. Sobre o informante:
Nome: Luciana.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio completo.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Porque é mais comum. A loja é muito antiga, tem tradição.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim, inclusive está no jornal da mesma forma e todos ligam.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 11
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 12: COMPRA-SE OURO, JÓIAS ANTIGAS E MODERNAS ANTIGUIDADES
E PRATARIA EM GERAL RELÓGIOS ROLEX PATEK E OUTROS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av Ernani Amaral Peixoto, nº 48 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Renata.
Faixa etária: (X) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Porque é isso que nós fazemos.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 12
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 13: AMOLA-SE ALICATES TESOURAS FACAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Ernani do Amaral Peixoto, nº 37 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Bebeto.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino fundamental.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Não. É o que eu faço.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 13
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 14: COLOCA-SE NA HORA PINOS PULSEIRAS BATERIAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Ernani do Amaral Peixoto. Obs. na segunda transversal.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Ilário.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 4ª série.
Observações: camelô.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Tirei da minha mente.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 14
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 15: COLOCA-SE PINOS, PULSEIRA BATERIAS ORIGINAIS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: R. São Pedro, em frente ao nº 35 / Centro.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Maurício.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: superior incompleto.
Observações: camelô.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Eu mesmo criei, eu gosto porque fica mais correto.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 15
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 16: TROCA-SE PINOS PULSEIRAS BATERI
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: R. Almirante Tefé, em frente ao nº 563.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Robson.
Faixa etária: (X) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino fundamental.
Observações: camelô.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Da cabeça.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 16
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 17: COLOCA-SE PINOS PULSEIRAS BATERIAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: R. Almirante Tefé, em frente ao nº 565.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Severino.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: até a 3ª série.
Observações: camelô.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Foi o rapaz que fez. Ele faz de muita gente aqui. O nome dele é José.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 17
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 18: AMOLA-SE ALICATES DE CUTÍCULA – MÁQUINAS DE CORTAR
CABELOS – TESOURAS – FACAS – SERROTES – DISCOS DE SERRAS E ETC.
CONSERTA-SE PANELAS DE PRESSÃO – FERROS DE PASSAR E ETC.
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: R. São Pedro, nº 80.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Maria de Fátima.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Foi o cartazista que fez, tem em todo lugar, é comum.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 18
Data da Coleta: 03/03/2005
Registro nº 19: AMOLA-SE ALICATES TESOURAS FACAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: R. São João, nº 11 – loja 8 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Rogério.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Tirei da minha cabeça, de ver por aí.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 19
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 20: COLOCA-SE PULSEIRAS BATERIAS PINOS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Av. Ernani do Amaral Peixoto. Obs. na segunda transversal.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Cláudio.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 4ª série.
Observações: camelô.
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Todos aqui fazem assim. Pode ver que é tudo igual.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/anúncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 20
Data da Coleta: 07/03/2005
Registro nº 21: CONSERTA-SE BOLSAS E CALÇADOS (sem foto)
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua da Conceição, nº 101, slj. 34.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Leandro.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? (Viu em alguma gramática ou manual de propaganda ou a viu escrita
em algum lugar?)
R. Acho mais direto assim, fica melhor para entender. Já tenho essa placa há muito
tempo.
3.2. Você acha que ela atende ao objetivo da loja?
R. Sim.
3.3. Alguém (um transeunte/um cliente/etc.) já teve a atenção voltada para sua
tabuleta/a núncio/frase, ou seja, já teceram algum comentário sobre ela (ele)? Qual?
R. Não.
Entrevista com os usuários cartazistas:
Embora esses usuários não utilizem em suas placas e tabuletas apenas a
construção de VPS, todos afirmaram que tal ocorrência é a mais comum, mais
empregada para o propósito em questão.
Cartazistas entrevistados:
Nome: José.
Contato: 2722-0352 / 2717-6542.
Faixa etária: 50-60.
Escolaridade: 6ª série.
Obs. Tem 36 de profissão.
Nome: Carlos.
Contato: 2630-2016 / 9751-7864.
Faixa etária: 50-60.
Escolaridade: 8ª série.
Obs. Há 40 anos produz cartazes e congêneres.
Fez questão de mencionar que sabe que “o certo é o verbo no plural, mas não utiliza
porque as pessoas podem não entender”. No entanto, não soube explicar por que o
verbo deveria estar no plural.
Nome: Leandro.
Contato: 2613-0120 / 9742-9098.
Faixa etária: 30-40.
Escolaridade: ensino médio.
Embora reconheça a VPS como a construção mais usada na divulgação de produtos
e serviços, acha a N mais objetiva.
Nome: Bebeto.
Contato: 2621-6515.
Escolaridade: 7ª série.
Faixa etária: 40-50.
Nome: Wagner.
Contato: Rua São João, 147.
Escolaridade: 6ª série.
Faixa etária: 40-50.
Nome: Luís.
Contato: e/f à Rua Visconde do Rio Branco, 399.
Escolaridade: 5ª série.
Faixa etária: 50-60.
ANEXO I – B
QUESTIONÁRIOS DOS USUÁRIOS DE N
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 01
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro nº 23: CONSERTOS E VENDA DE PEÇAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua da Conceição, s/n / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Denise.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘conserta -se e vende-se
peças’?
R. Para ficar diferente, a gente vê muito dessa (conserta-se), assim acho que fica
diferente .
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 02
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro nº 24: CONFECÇÃO DE CHAVES
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Visconde de Sepetiba, nº 173 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: João.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino fundamental.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘confecciona-se chaves’?
R. Achei mais prático assim, a gente vê menos essa, é mais objetiva.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 03
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro nº 25: VENDA – CONSERTO – COLOCAÇÃO FECHADURAS – TRANCAS –
CADEADOS ...
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Barão do Amazonas, nº 439 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Gilda.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘vende-se, conserta -se,
coloca-se...’?
R. É uma outra maneira. Para mim, essa (a do estabelecimento) é mais fácil, direta.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 04
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro nº 26: CONSERTOS MAQU. FOTOGRAFICAS – FLASHES – BINÓCULOS...
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Aurelino Leal, nº 46 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Roberto.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘conserta-se maqu.
fotográficas...’?
R. Sei lá, achei que ficava diferente, chama mais atenção nesse caso do tipo de
trabalho que a gente faz.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 05
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro nº 27: AFIAÇÃO DE SERRAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua São João, nº 193 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Max.
Faixa etária: (X) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘afia-se serras’?
R. É praticamente a mesma coisa, né? Acho que fica melhor assim, fica diferente.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 06
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro sem foto: VENDAS E CONSERTOS DE ROUPAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua da Conceição, nº 101 - slj. 31 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Elizângela
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘ve nde-se e conserta-se
roupas’?
R. Talvez porque a gente já está aqui e o vende-se e conserta -se está distante.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 07
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro 8 do anexo III que também contém nominalização: CONSERTOS E
COLOCAÇÃO DE FECHADURAS...
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Aurelino Leal, nº 52 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: José.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
(X) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 6ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘conserta -se ...coloca-se’
conforme fez em amola -se...?
R. Aqui eu quis mudar um pouco, o que mais a gente vê é dessas como eu usei,
amola-se, acho que para não ficar tudo igual, misturei.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / S ubárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 08
Data da Coleta: 11/08/2005
Registro sem foto: COLOCAÇÃO DE DIVISÓRIAS, FORROS EM PVC, PERSIANAS,
PORTAS SANFONADAS, CARPETES E TAPETES
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Aurelino Leal, nº 58 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Mariano.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
(X) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 8ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘coloca-se...’?
R. Essa (a do estabelecimento) é diferente, fica bem objetivo. O serviço fica mais
visível.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 09
Data da Coleta: 12/08/2005
Registro sem foto: ALUGUEL DE FERRAMENTAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Visconde de Sepetiba, nº 188 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Ronaldo.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 8ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘aluga-se...’?
R. Essa placa é bem antiga. Acho que a pessoa que fez quis fazer algo diferente, o
que a gente vê mais é aluga-se, né?
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 10
Data da Coleta: 12/08/2005
Registro sem foto: CONSERTOS DE TV, SOM, INSTRUMENTOS MUSICAIS E
INFORMÁTICA
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Visconde de Sepetiba, s/n / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Mauro.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘conserta-se...’?
R. Gosto mais de anunciar assim, é mais simples. Embora a gente veja muito desse
tipo (conserta-se), acho que chama mais atenção a minha, talvez por ser diferente.
ANEXO I – C
QUESTIONÁRIOS DOS USUÁRIOS DE VPPP
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 01
Data da Coleta: 12/08/2005
Registro nº 28: FABRICAMOS ALIANÇAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua da Conceição, nº 101 – lj. 25 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Luís.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
(X) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino médio incompleto.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘fabrica-se...’?
R. Acho que tem a ver com o que fazemos, é diferente dessa, entre as outras frases
da placa, essa é a que diz melhor o que fazemos.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 02
Data da Coleta: 12/08/2005
Registro nº 29: COLOCAMOS PINOS PULSEIRAS BATERIAS
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Almirante Tefé, e/f ao nº 553 / Centro.
Observações: comércio informal.
2. Sobre o informante:
Nome: Carlos.
Faixa etária: ( ) 20-30
(X) 30-40
( ) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: 5ª série.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘coloca-se...’?
R. Para ficar diferente.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 03
Data da Coleta: 12/08/2005
Registro sem foto: LAVAMOS E TINGIMOS CARPETES TAPETES CORTINAS
ESTOFADOS EDREDONS COBERTAS ROUPAS EM GERAL
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua da Conceição, nº 169 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Modesto.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
( ) 40-50
(X) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino fundamental.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘lava-se, tinge-se...’?
R. Fica mais objetivo. E tem mais uma coisa, é isso que nós fazemos aqui.
Universidade Federal Fluminense
Curso: Mestrado / Área: Letras / Subárea: Estudos Lingüísticos
Aluna: Paula Vital / Orientadora: Profª Mariangela Rios de Oliveira
Questionário nº 04
Data da Coleta: 12/08/2005
Registro sem foto: COMPRAMOS FILMES
1. Sobre o local:
Cidade: Niterói.
Endereço / Bairro: Rua Coronel Gomes Machado, nº 62 / Centro.
Observações: ________________________________________________________
2. Sobre o informante:
Nome: Maria.
Faixa etária: ( ) 20-30
( ) 30-40
(X) 40-50
( ) 50-60
( ) 60-70
Escolaridade: ensino fundamental.
Observações: ________________________________________________________
3. Sobre a estrutura (VPS):
3.1. Por que resolveu usar essa frase (ou esses dizeres) para fazer sua
propaganda? Por que você usou essa frase e não esta: ‘compra-se...’?
R. Porque é exatamente o que a gente fa z, assim está mais direta a frase, é mais
direta que compra-se filmes.
ANEXO II
ENTREVISTA COM OS RECEPTORES DE VPS E
DAS OUTRAS OCORRÊNCIAS
Entrevista feita com os receptores das ocorrências coletadas: VPS, N e VPPP.
Proposta: aos informantes eram mostradas as três ocorrências coletadas: VPS,
nominalização e estrutura de tópico verbo na primeira pessoa do plural. Eles deveriam
selecionar uma no caso hipotético de terem de divulgar a comercialização de produto(s) ou a
prestação de serviço(s) mencionada na frase. Além das respostas dispostas abaixo, foi
perguntado ao grupo qual das três ocorrências era a mais comum, mais vista; a grande maioria
dos informantes respondeu ser a VPS.
Informante 1
Nome: Luísa.
Escolaridade: ensino médio.
Faixa etária: 20-30.
( ) alugamos salas
( ) aluguel de salas
(X) aluga-se salas
Por quê? Porque acho mais fácil, mais vista.
Informante 2
Nome: Guilherme.
Escolaridade: nível superior.
Faixa etária: 20-30.
( ) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
( ) vende-se apartamentos
Obs. Optou pela terceira, mas corrigida, ou seja, com verbo no plural, no entanto, não soube
explicar por que o verbo tem de estar no plural.
Informante 3
Nome: Regina.
Escolarid ade: ensino médio.
Faixa etária: 40-50.
( ) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
(X) vende-se apartamentos
Por quê? Acho que faz mais sentido.
Informante 4
Nome: João.
Escolaridade: ensino fundamental.
Faixa etária: 60-70.
( ) consertamos roupas
(X) conserto de roupas
( ) conserta-se roupas
Por quê? É mais direto, mais sugestivo, mas essa (a última) é mais vista por aí.
Informante 5
Nome: Hélio.
Escolaridade: 8ª série.
Faixa etária: 40-50.
( ) consertamos roupas
( ) conserto de roupas
(X) conserta-se roupas
Por quê? Acho que é a melhor para divulgar.
Informante 6
Nome: Paulo.
Escolaridade: ensino médio.
Faixa etária: 40-50.
(X) afiamos alicates
( ) afiação de alicates
( ) afia-se alicates
Por quê? Porque assim a pessoa chega ali e sabe que todos ali vão fazer aquilo.
Informante 7
Nome: Sílvio.
Escolaridade: 7ª série.
Faixa etária: 40-50.
( ) consertamos relógios
(X) conserto de relógios
( ) conserta-se relógios
Por quê? Na minha opinião é a mais correta.
Informante 8
Nome: Geraldo.
Escolaridade: ensino fundamental.
Faixa etária: 30-40.
(X) consertamos roupas
( ) conserto de roupas
( ) conserta-se roupas
Por quê? Porque nós estamos trabalhando consertando roupas.
Informante 9
Nome: Mariana.
Escolaridade: ensino médio (cursando).
Faixa etária: 15-20.
( ) consertamos roupas
( ) conserto de roupas
(X) conserta-se roupas
Por quê? Sei lá, gostei mais dessa.
Informante 10
Nome: Lúcia.
Escolaridade: ensino médio (cursando).
Faixa etária: 15-20.
( ) consertamos roupas
( ) conserto de roupas
(X) conserta-se roupas
Por quê? Acho que é comum, mais objetiva.
Informante 11
Nome: Marco.
Escolaridade: 8ª série.
Faixa etária: 20-30.
( ) alugamos salas
( ) aluguel de salas
(X) aluga-se salas
Por quê? Não sei, talvez seja mais atual, mais chamativa para o que está sendo feito.
Informante 12
Nome: Cristiane.
Escolaridade: nível superior incompleto.
Faixa etária: 20-30.
(X) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
( ) vende-se apartamentos
Por quê? Mais de uma pessoa vende, no caso de um comércio, não sendo só uma pessoa.
Informante 13
Nome: Taiane.
Escolaridade: ensino médio (cursando).
Faixa etária: 15-20.
( ) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
(X) vende-se apartamentos
Por quê? A gente vê por aí, tem uma igual ali...
Informante 14
Nome: Maurício
Escolaridade: ensino fundamental.
Faixa etária: 30-40.
( ) consertamos relógios
(X) conserto de relógios
( ) conserta-se relógios
Por quê? Porque são vários relógios, não sei...
Informante 15
Nome: Júlio.
Escolaridade: ensino médio.
Faixa etária: 20-30.
( ) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
(X) vende-se apartamentos
Por quê? Não sei explicar direito, eu vejo assim nas ruas.
Informante 16
Nome: Margarida.
Escolaridade: ensino fundamental.
Faixa etária: 30-40.
( ) vendemos apartamentos
(X) venda de apartamentos
( ) vende-se apartamentos
Por quê? É mais correto, tem a entonação.
Informante 17
Nome: Marcos.
Escolaridade: ensino médio.
Faixa etária: 20-30.
( ) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
(X) vende-se apartamentos
Por quê? Acho que ajuda na divulgação, as três são boas.
Informante 18
Nome: Teresinha.
Escolaridade: nível superior.
Faixa etária: 40-50.
( ) vendemos apartamentos
( ) venda de apartamentos
(X) vende-se apartamentos
Por quê? É mais comum.
Informante 19
Nome: Roberta.
Escolaridade: ensino médio.
Faixa etária: 20-30.
( ) consertamos relógios
( ) conserto de relógios
(X) conserta-se relógios
Por quê? Eu sabia isso em português, esqueci. É a que está correta?
Informante 20
Nome: José.
Escolaridade: ensino fundamental.
Faixa etária: 30-40.
( ) consertamos roupas
(X) conserto de roupas
( ) conserta-se roupas
Por quê? Porque achei boa, parece boa essa aí.
ANEXO III
REGISTROS DE VPS
ANEXO IV
REGISTROS DE N
ANEXO V
REGISTROS DE VPPP
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